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SOCORRO

PARA A FAMÍLIA
O que fazer quando a ameaça
está dentro de casa?

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P4 OP 43519 Quebrando o Silêncio
Designer Editor(a) Coor. Ped. C. Q. R. F.
Acontece que esse triste cenário não S
2
vai mudar se poucas pessoas se interes-
EDITORIAL
sarem por essa causa. É preciso haver a

LAR PROTEGIDO
consciência de que somos corresponsáveis

4
pelo bem-estar de quem está perto de nós,
sobretudo, de nossa família. E é fazendo a
lição de casa que iniciamos um processo de
transformação, pois a família é a base da
sociedade. O lar é o primeiro e mais impor-

6
tante espaço de socialização dos fi lhos. É
ali que eles aprendem, por meio do diálogo
e da formação de um vínculo de confiança,
a desenvolver habilidades para viver em

12
sociedade como adultos que respeitam o
próximo.
Vale lembrar ainda que outros atores
sociais são importantes para a formação

19
desses cidadãos: as instituições educacio-
nais e religiosas, por exemplo. Por isso,
quando família, escola e igreja se unem em
POR MARLI PEYERL torno do mesmo propósito, aumentam as

P
chances de algo positivo acontecer.
or causa da pandemia que tem Diante deste momento sensível que
afetado nosso planeta, o dis- estamos vivendo, a revista Quebrando o
tanciamento social precisou ser
adotado como principal estraté-
Silêncio de 2021 resgata e republica uma
versão atualizada de artigos utilizados nas 14 S
MUITA GENTE gia de redução da transmissão últimas cinco edições do projeto. O ponto D
do novo coronavírus. Um dos efeitos em comum desses materiais é a proteção m
TEM REFLETIDO
colaterais dessa medida foi a maior da família. Num contexto em que muita d
SOBRE A PRÓPRIA incidência de problemas emocionais, gente tem refl etido sobre a própria sobre-
SOBREVIVÊNCIA, como medo, ansiedade e estresse, que vivência, seja devido à ameaça do vírus ou
MAS NÃO
PODEMOS NOS
já afl igiam a sociedade de maneira
geral, mas que têm se tornado mais
por causa do impacto econômico, social e
político da pandemia, não podemos nos 20 F
intensos em muitas famílias. esquecer daqueles que estão em situação de C
ESQUECER Infelizmente, esses efeitos emocio- maior vulnerabilidade. Ajudar a proteger a
DAQUELES nais não foram o único desdobra- crianças, adolescentes, mulheres e idosos o
mento da crise sanitária atual. As contra a violência doméstica tem sido o c
QUE ESTÃO estatísticas nos revelam outra pan- objetivo dessa campanha da Igreja Adven- d
Fotos: ©Mediteraneo | Adobe Stock e Gustavo Leighton/DSA

EM SITUAÇÃO demia, mais silenciosa ou silenciada, tista do Sétimo Dia há quase 20 anos. Mas
é verdade, mas que precisa ser igual- para que isso aconteça, precisamos que
DE MAIOR mente enfrentada. Falo da violência outras mãos se juntem
VULNERABILIDADE praticada em casa contra grupos vul- às nossas. Podemos con-
neráveis, como crianças, mulheres e tar com as suas?
idosos. Esse drama social se agravou
em função do confi namento, pois MARLI PEYERL é educadora e
colocou agressores e vítimas para coordenadora da campanha Ed
Pr
conviver por mais tempo debaixo do Quebrando o Silêncio na De

mesmo teto. América do Sul Fo

2 QUEBRANDO O SILÊNCIO
ão SUMÁRIO 8 ASSUNTO DE FAMÍLIA
Dez atitudes que podem fazer

2 EDITORIAL
s-
diferença na sua convivência em casa
a
eis

4 Psicóloga
ós,
a CUIDAR DOS MAIS FRÁGEIS
de alerta para sinais de violência
da contra os idosos
r-

6 ATIVE SEU ALARME


É
go
a,
Saiba identificar o abuso sexual infantil
m

12 CASAMENTO RENOVADO
o

es
Livro apresenta soluções para lares em crise
ão

19 Uma
o-
o, AMOR OU TERROR?
m história que mudou quando o silêncio
as foi quebrado
ue

24 TUDO SOFRE, TUDO SUPORTA


o
ma
as 14 SEJA HOMEM Não caia na ilusão da
to Descubra o codependência emocional
ão modelo bíblico
ta de masculinidade
e-
ou
le
os 20 FÉ NA PREVENÇÃO 16 NOVA CHANCE
de Como a religião Depois de tentar
er ajuda a proteger suicídio, ela
os os jovens do encontrou na
o consumo de família e em Deus
n- drogas força para vencer
Fotos: ©Mediteraneo | Adobe Stock e Gustavo Leighton/DSA

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Casa Publicadora Brasileira Diretor-geral: José Carlos de Lima


Sinais dos Tempos é Marca Registrada no
Edição Especial • 2021 Diretor financeiro: Uilson Garcia Instituto Nacional de Propriedade Industrial.
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Editores: Anne Seixas, Jefferson Paradello e Wendel Lima Caixa Postal 34; CEP 18270-970 – Tatuí, SP Redator-chefe: Marcos De Benedicto
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Gerente de produção: Reisner Martins periódico sem autorização por escrito da editora.
Designer: Alexandre Rocha Site: cpb.com.br
Foto da capa: William de Moraes Atendimento ao cliente: sac@cpb.com.br Gerente de vendas: João Vicente Pereyra Tiragem: 213.189 exemplares 20038/43519

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CUIDAR DOS MAIS FRÁGEIS


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evido à pandemia do novo como um pedido de socorro, sublinha a pr
coronavírus, pessoas de todo psicóloga Vivian Araújo. Há quase dez pr
o mundo viram seu direito de anos, ela tem voltado seu olhar para ap
NEGLIGÊNCIA ir e vir limitado para conter a velhice e o envelhecimento, quando pr
E VIOLÊNCIA a propagação da doença. iniciou o mestrado em gerontologia social ag
No entanto, a longa permanência na Pontifícia Universidade Católica de pe
PSICOLÓGICA SÃO em casa intensificou um drama São Paulo (PUC-SP). Nesta entrevista, ela G
OS PRINCIPAIS vivido por mulheres, crianças e reforça a atenção e o cuidado que devem um
TIPOS DE ABUSO idosos: a violência doméstica. Em ser dispensados para acabar com o ciclo de po
2017, um relatório divulgado pela violência a esse grupo que, em 2050, deve um
CONTRA OS Organização Mundial de Saúde representar 2 bilhões de pessoas em todo co
IDOSOS (OMS) já havia revelado que um em o mundo. ve
cada seis idosos ao redor do globo id
sofria algum tipo de agressão. O que caracteriza a violência contra po
Com 60 anos ou mais – e muitas uma pessoa idosa? de
vezes dependentes de seus agressores –, Um idoso pode sofrer vários tipos de fa
Foto: Dianny Aguilar

eles nem sempre traduzem em violência. Estamos mais acostumados a po


palavras a dor que experimentam, pensar em agressão física; porém, a mais têm
mas há sinais que podem ser vistos comum é a negligência, e a segunda é a de

4 QUEBRANDO O SILÊNCIO
violência psicológica. A OMS define violência Por que acaba sendo difícil denunciar?
psicológica da seguinte forma: “Um ato único Por vários motivos. Primeiramente, a falta de
ou repetido, ou falta de ação apropriada, informação. Muitos idosos não sabem que o
ocorrendo em qualquer relacionamento onde que estão passando é violência. Outros motivos
exista uma expectativa de confiança, que cause são a vergonha e a culpa pela educação provida
danos ou sofrimento a uma pessoa idosa.” por eles; questões culturais, que fazem o idoso
se sentir incapaz e sem direito de escolha; além
De que maneira a pandemia evidenciou esse da dependência afetiva e dos cuidados que
problema? recebem.
No início da pandemia houve um aumento
de atitudes discriminatórias e preconceituosas Quais são os principais sinais de que um
à pessoa idosa. Depois, a crise econômica idoso é vítima de violência?
decorrente dessa situação desencadeou Cortes, manchas escuras, queimaduras,
ou agravou um aumento nos casos de feridas não tratadas, membros quebrados
abuso financeiro contra os mais velhos. ou acidentados e diminuição de capacidade
A dependência de familiares e cuidadores cognitiva e física. Já os sinais da negligência
durante esse período resultou em mais são desidratação e/ou desnutrição, descuido
tensões e conflitos. Já na dimensão individual com a higiene pessoal, geladeira vazia e
ocorreu a elevação dos níveis de estresse e alimentos estragados; medicamentos por tomar
ansiedade devido ao medo de adoecer. A ou inexistentes; sonolência constante (pode
sobrecarga dos cuidadores, que acumularam ser sinal do uso excessivo de remédios), além
as responsabilidades com a casa, com as de consultas médicas esquecidas e/ou não
crianças, além do trabalho remoto e das marcadas. Já a violência psicológica pode ser
tensões decorrentes da perda de emprego observada quando o idoso parece temer seus
ou rendimentos, são parte desse quadro de cuidadores (não os quer “chatear”), passa a
aumento da vulnerabilidade. ter medo de coisas que antes não tinha, não
quer ficar sozinho, implora que a pessoa que
Quais fatores levam a esse crime? está com ele não vá embora depois de uma
Os resultados de pesquisas indicam que as visita habitual, não responde ou dá explicações
principais motivações para as pessoas que evasivas sobre seu estado ou algo que lhe tenha
praticaram algum tipo de violência contra acontecido.
a pessoa idosa são o consumo de álcool,
proximidade física, dependência financeira do Como garantir mais proteção a eles?
al agressor em relação ao idoso e relacionamento Precisamos informar as pessoas. Se tivermos
permeado de violência entre ambos. sorte, viveremos muito, e se vivermos muito,
a Geralmente, a violência é cometida por seremos idosos. Se conseguirmos entender o
um familiar. Apesar de injustificável, isso que acontece com a população dessa faixa
de pode acontecer por ele estar passando por etária, daremos condições de uma vida
ve um momento difícil e por não saber lidar melhor aos idosos de hoje e aos que serão
o com o idoso. A agressão é causada, muitas idosos no futuro. Pensando nos fatores
vezes, pela exaustão e pelo estresse. Alguns relacionais, é preciso buscar formas não
idosos agredidos sentem vergonha e culpa, violentas para a resolução de conflitos. Como
pois acreditam que a violência seja resultado parte da violência é causada muitas vezes
de falhas na educação que ofereceram aos pela exaustão dos cuidadores, é importante
familiares que cuidam deles. Portanto, dividir as tarefas domésticas para que não
Foto: Dianny Aguilar

por entender equivocadamente que eles sobrecarreguem uma única pessoa. Também é
s têm responsabilidade nisso, acabam não preciso pedir ajuda e denunciar as situações de
denunciando o agressor. violência sofridas.

QUEBRANDO O SILÊNCIO 5

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GUIA

Ative seu alarme


1 Saiba com quem a criança está e o que
eles fazem enquanto estão juntos.
O MEDO PODE LEVAR UMA CRIANÇA
A SOFRER CALADA DENTRO DE CASA.
SAIBA IDENTIFICAR SE ELA É VÍTIMA
DE ABUSO SEXUAL

PA B L O CA N A L I S

P
ode ser que a infância, uma das fases
mais belas da vida, esteja sendo roubada
pela violência sexual cometida con-
tra alguma criança que você conhece.
Trata-se de uma situação complexa de
identificar: há vítimas que falam, demons-
tram ou tentam dizer, de alguma forma, o que 2 Desconfi e se a criança repentinamente não
quer estar perto de alguém conhecido.
vivenciam. Outras, no entanto, se calam diante
do medo das consequências que podem se tor-
nar reais caso seu sofrimento seja exposto.
O abuso sexual infantil é um fator de risco
que pode levar à depressão, ansiedade, pânico,
isolamento social ou transtorno da perso-
nalidade. Por isso, é preciso ter um diálogo
aberto com as crianças, prestar atenção em
suas necessidades e no que sinalizam, e estar
pronto para agir rapidamente, sempre com
amor e cuidado.

PABLO CANALIS é psiquiatra com especialização em Medicina


da Família 3 repentina
Observe se ela apresenta uma mudança
Ilustrações: Paulo Vieira

de comportamento, sem causa


aparente, como irritação e choro.

6 QUEBRANDO O SILÊNCIO
8 Não se desespere. Com o tratamento 7 Se o abuso for confirmado, denuncie o agressor
para o poder público e mantenha a criança longe
psicológico adequado, a vítima tem muitas do alcance dele.
ue chances de superar o trauma.

6 Marque uma consulta com um psicólogo


infantil. Pode ser que a criança esteja com
medo de lhe contar o que está vivendo.
9 Ame, proteja, escute e se coloque
ao lado da criança.

4 Perceba se a criança se isola, se alimenta de maneira 5 Nunca desconsidere o que ela compartilha com
você, ainda que por meio de desenhos.
diferente, tem pesadelos, passa a urinar e defecar na
cama à noite e evita se aproximar de outras pessoas. QUEBRANDO O SILÊNCIO 7

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S O C I E DA D E

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Família
Assunto de
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SE VOCÊ ACHA QUE AS


FAMÍLIAS PARECEM FELIZES
APENAS NOS COMERCIAIS
DE MARGARINA, LEIA ISTO

S U E L I DE OL I V E I R A

Cenas da vida real:

S
entada diante do conselheiro conjugal, ela conta: “Eu não nasci
Foto: © Syda Productions / Adobe Stok

numa família feliz, sabe? Por isso, quando eu me casei com ele,
estava procurando por isso.” Essa fala é parte de um lamento.
A mulher desabafa porque acaba de saber que o esposo a traiu.
Ela chora. Na sala ao lado está o marido, abatido, falando a todo instante
que não sabe como deixou as coisas chegarem a esse ponto, que está
arrependido, que gostaria de voltar no passado e fazer tudo certo...

8 QUEBRANDO O SILÊNCIO
A notícia de jornal é chocante! A porta se abre e o pai entra. as minhas possibilidades e todas
Uma menina de 12 anos é espan- Parece bravo, fala besteira e anda tro- as minhas dificuldades. Dentro
cada pelos colegas da escola em que peçando nas próprias pernas. Com as da minha relação familiar, eu me
estuda. O rosto fica todo machu- calças molhadas, ele entra cheirando apresento com tudo aquilo que eu
cado e sangrando. Infelizmente, o a urina e pinga. Tenta bater na mãe e posso desenvolver, mas ao mesmo
que mais choca não é isso; é que, nas crianças. Dessa vez, não conse- tempo também apresento meu lado
entre os agressores, estava seu pró- gue, de tão bêbado que está. Mesmo mais perverso, muitas vezes. Expo-
prio irmão, dois anos mais velho. assim, o caçula chora. Ele não gosta nho minhas maiores fragilidades,
de ver o pai nessa condição! minhas maiores dificuldades, inclu-
A mãe, que é empregada domés- sive as minhas patologias. Em famí-
tica, chega ao trabalho com a filha Durante as últimas décadas, lia, a gente se sente à vontade para
de quatro anos. A menina não vimos vários comerciais de marga- ser o melhor e o pior, para colocar
estava matriculada em nenhuma rinas na TV que retratavam famí- à mostra o lado ruim que temos.
creche. Ela ficava em casa com lias lindas, sorridentes e felizes; com Na escola, no trabalho, eu tenho
dois irmãos mais velhos. Agora, casais que se olhavam com carinho relações momentâneas, parciais.
não pode mais ficar com eles, por- e andavam de mãos dadas. Apesar Em família, as relações são plenas.
que um deles foi surpreendido de essa magia ser possível – porque É por isso que, em família, pode
tentando abusar sexualmente da é possível ter uma família feliz –, o acontecer atitudes nobres, como
garotinha. que a sociedade atual tem produzido cuidado, carinho e acolhimento
é um grande número de lares infelizes. mas, ao mesmo tempo, podem acon-
O casal se deita para dormir, Segundo Vinícius Farani, psi- tecer grandes tragédias, como crimes
mas escuta um barulho que inco- cólogo e doutor em Família na passionais e abandono de filhos”.
moda sempre. Na casa ao lado, Sociedade Contemporânea pela O núcleo familiar deveria ser o
geminada, mora outro casal. ­Universidade Católica de Salva- ambiente de maior proteção para
Todos os fins de semana é a dor, é dentro da família que esta- a pessoa, mas é difícil ver a família
mesma coisa: brigam, quebram mos na nossa totalidade, ou seja, como um porto ou local seguro se
objetos, gritam, xingam um ao ninguém é parcial em casa. Em seus membros só conversam gritando
outro. Isso só tem fim quando a família, destaca o especialista, “eu uns com os outros, comunicam-se
polícia chega. sou um sujeito pleno, com todas com ironia ou rebaixando um ao

ES

– =
O
confusão,
família regras caos,
bagunça
Foto: © Syda Productions / Adobe Stok

+ =
regras crescimento
família muito individual
rígidas sufocado

QUEBRANDO O SILÊNCIO 9

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outro, não respeitando a opinião uma mensagem e um receptor. Para significa ser conivente com os erros. no
alheia, e cada um se p ­ reocupando que a comunicação seja eficaz, emis- Quem erra deve ser responsabili- be
mais consigo mesmo do que com os sor e receptor devem se revezar em zado e arcar com as ­consequências da
demais familiares. sua função. Um fala, outro escuta; de suas escolhas, mas, a despeito pa
Onde está o problema? Com cer- outro fala, um escuta. Infelizmente, disso, as pessoas que cometem
teza, não está na vontade. Todos esta é uma frase comum: “Você falhas precisam saber que alguém se 6.
querem pertencer a uma família nunca ouve uma palavra do que preocupa com elas, que também MO
feliz, da qual seja agradável parti- eu digo!” A conversa em família são amadas.
cipar. O que é preciso então para é importante para aproximar as cu
se ter bons e satisfatórios relacio- pessoas e para identificar e resol- 4. HÁ BOM HUMOR E MOMENTOS DE pa
namentos familiares? ver problemas. Procurem tirar os LAZER JUNTOS do
Dolores Curran, autora de livros olhos da tela do celular para dia- Famílias felizes sabem como lidar ve
e consultora para assuntos relacio- logar; e isso não deve ser feito ape- com o humor sem ferir as pessoas. cid
nados à família e à educação de nas quando precisam discutir desa- Permitem-se momentos de descontra- mo
filhos, admite que muitos lares têm fios, mas também em momentos ção. E, ao mesmo tempo, caso alguma re
problemas, mas ela nos incentiva a ­descontraídos. brincadeira saia da medida, mago- em
olhar para o lado positivo da vida ando alguém, é justo dizer: “Desculpe, ou
familiar. Refletindo sobre uma pes- 2. EXISTE APOIO MÚTUO não pensei que isso pudesse entriste- far
quisa realizada com 500 pessoas Para se ter uma família saudável é cer você.” Outra coisa importante é én
que estudam as relações familiares, necessário que seus membros traba- passar tempo juntos. É constrangedor o
Curran chegou à conclusão de que lhem juntos para o bem do todo. Um constatar que os integrantes de muitas ta
as famílias bem ajustadas apresen- bom relacionamento entre os pais dá famílias não se conhecem direito. Por so
tam dez características em comum. segurança e estabilidade aos filhos. isso, é importante planejar viagens e se
A valorização e o respeito entre os momentos de lazer em família. Essas er
1. PRATICAM A COMUNICAÇÃO E A membros da família trazem mais oportunidades são como sementes de da
ESCUTA amor e satisfação para o lar. Por boas memórias, principalmente para
Não apenas no relacionamento isso, comemore as promoções no as crianças. 7.
familiar, mas também em outros, trabalho ou as notas altas na escola; GE
como o de trabalho e entre amigos, arrume a cama sem ser solicitado; 5. AS RESPONSABILIDADES DO LAR
a comunicação é muito importante. ajude a lavar a louça ou o carro SÃO COMPARTILHADAS ca
Comunicar implica ter um emissor, voluntariamente. Essas pequenas Para que a família tenha harmo- se
ações são fáceis de serem nia e todos possam desfrutar de qu
executadas e ajudam momentos de descanso e lazer, cada a
a melhorar o ambiente membro deve saber que precisa con- m
em casa. tribuir com algum trabalho a fim de va
manter a ordem no ambiente fami- de
3. EXERCITAM O RESPEITO liar. Ainda que uma criança não os
Todo ser humano tem possa receber grandes responsabi- re
seu valor e é digno do lidades, ela tem condições de orga-
nosso respeito. Pode ser nizar seu espaço, os brinquedos, 8.
difícil praticar isso em o quarto. Disposição em ajudar é
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tempos de intolerância e preferível à perfeição. Por isso, não ta


individualismo. Porém, se incomode se as tarefas não forem me
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em família, é necessário executadas impecavelmente no iní- mo


nutrir um estilo de vida cio; elas deverão melhorar com o m
que leve em conta os tempo. Cada membro da família de
direitos dos outros. De deve ser incentivado a ser respon- Po
maneira nenhuma isso sável mesmo nas pequenas coisas: lia

10 QUEBRANDO O SILÊNCIO
os. nos gastos, no cuidado com o lar, no
li- bem-estar mútuo. Isso também aju-
as dará os mais novos a se prepararem
to para a vida adulta.
m
se 6. HÁ INTERESSE NA FORMAÇÃO
m MORAL DOS FILHOS
Em qualquer lugar do mundo ou
cultura, a família desempenha um
papel essencial na orientação moral
do indivíduo. Por isso, é indiscutí-
ar vel sua influência na formação do
as. cidadão. É na família que aprende-
ra- mos que o mundo é um ambiente de
ma recompensas e punições com base
o- em nosso comportamento. Ignorar mesma fé, ela tende a lidar melhor pode optar por outro caminho, cons-
pe, ou aprovar os erros dos filhos não com os períodos de crise. truindo uma rede de apoio. Afinal de
te- fará deles adultos responsáveis, pois contas, é no ambiente familiar que a
eé é na família que a criança aprende 9. HÁ INCENTIVO PARA A AUTONOMIA gente pode aprender a lidar com nos-
or o que é viver em sociedade. Para Os pais devem ter responsabi- sas dificuldades e fragilidades huma-
as tanto, a criança deve ser ensinada, lidade total pelos filhos pequenos nas. O importante é reconhecer o
or sobretudo por meio do exemplo de mas, conforme eles crescem, os filhos problema em seu início, quando é
se seus pais, a diferenciar o certo do devem ser motivados a ser autonô- mais fácil tratá-lo. Por isso, é neces-
as errado, de acordo com os valores mos, assumindo a direção da pró- sário estar atento a indícios de abuso,
de daquela família. pria vida. Para muitos pais, é dolo- maus-tratos, violência, dificuldades
ra roso permitir que, em determinado de aprendizado, tentativas de suicídio
7. OS LAÇOS AFETIVOS ENTRE AS momento, os filhos passem a decidir e de assassinato, comportamento de
GERAÇÕES SÃO FORTES por conta própria. A esperança deles risco na adolescência, dependência
As tradições familiares são é que os filhos tenham interiorizado de álcool e outras drogas. E, iden-
capazes de unir o passado, o pre- os valores que lhes foram ensinados. tificado o problema, deve-se buscar
o- sente e o futuro. Comemorações ajuda imediatamente.
de que reúnem a família e promovem 10. HÁ ESPAÇO PARA ADMITIR DIFI-
da a interação de seus membros são CULDADES E BUSCAR AJUDA Para que as relações familia-
n- muito importantes e devem ser Mesmo as famílias que acreditam res sejam saudáveis, é necessário
de valorizadas. O respeito pelo outro na felicidade e decidem c­ onstruí-la que haja, sobretudo, boa vontade
mi- deve ser visto tanto no trato com passam por problemas. A grande e disposição. Você quer uma famí-
ão os idosos quanto no lidar com os questão é como lidam com esses lia feliz e bem estruturada? O que
bi- recém-nascidos. desafios. Se for algo pequeno, tal- está fazendo para tornar isso uma
a- vez possa ser resolvido rapidamente. realidade? Saiba que essa mudança
os, 8. VALORIZAM A RELIGIÃO Mas há crises que só encontram começa por você. Se cada um fizer o
ré A fé é um aspecto muito impor- solução se forem intermediadas seu melhor para atender às necessi-
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ão tante no núcleo familiar. Quando os por profissionais. Muitas famílias dades da família, mostrando consi-
em membros da família não têm os mes- não resolvem seus problemas, con- deração por aqueles que estão mais
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ní- mos interesses nem compartilham as formam-se com a ideia de que as próximos, então será mais fácil ven-
o mesmas crenças, é mais fácil surgir coisas são assim mesmo e acabam cer as adversidades que surgirem.
ia desavenças por questões religiosas. acumulando questões que ficam em
n- Por outro lado, quando uma famí- aberto. Esse acúmulo pode ter con- SUELI FERREIRA DE OLIVEIRA é jornalista, educa-
as: lia é bem ajustada e compartilha a sequências sérias. Porém, a família dora e editora de revistas

QUEBRANDO O SILÊNCIO 11

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D I CA D E L E I T U R A

Casamento renovado
Livro apresenta soluções para lares em crise

GUILHERME SILVA

E
nquanto alguns casamentos Aconselhamento Psicológico e cursa
terminam, espalhando feri- o doutorado em Psicopedagogia. Nos
das emocionais entre cônju- Estados Unidos, eles apresentam o
ges e filhos, outros continuam, programa de TV Real Family Talk
como se marido e mulher insis- (hopetv.org/realfamilytalk), no Hope A versão digital da obra, acompanhada de uma
tissem em morar numa área de risco, Channel, e são colunistas da revista revista infantil, está disponível em
esperanca.com.br/livros
prestes a desabar. Diante de tantos Message (messagemagazine.com).
casais infelizes e pessoas machucadas Com o livro Esperança Para a
por relacionamentos abusivos, existe Família, Willie e Elaine desejam com-
alguma esperança para os casamen- partilhar experiências pessoais e de superar os padrões reativos de diá-
tos, além de um fim doloroso ou o outros casais que renovaram o amor logo para exercer uma forma de
prolongamento melancólico de um e o respeito em meio às situações difí- comunicação misericordiosa. Os
sofrimento suportável? ceis. De acordo com a Bíblia, as tur- autores afirmam que, diante de qual-
Embora a vida real não se encaixe bulências familiares acompanham a quer ofensa feita por um dos cônju-
em fórmulas prontas e soluções de humanidade desde que o primeiro ges, o outro sempre terá a oportuni-
consultório, Willie e Elaine Oliver casal se desentendeu (Gênesis 3). dade de parar, pensar e escolher a
acreditam que toda família tem jeito. resposta certa: “Aquela que acalmará
Essa é a mensagem principal que os o problema, em vez de jogar lenha na
autores apresentam no livro Espe-
EM VEZ DE fogueira” (p. 51).
rança Para a Família, lançado em BUSCAR UM NOVO Embora a comunicação seja
2019 pelas editoras da Igreja Adven- RELACIONAMENTO, importante, para se sustentar o casa-
tista do Sétimo Dia no Brasil e na mento é preciso algo mais do que pa-
Argentina. A obra teve uma tiragem
MUITAS VEZES É lavras. Por isso, eles destacam que
de mais de 22 milhões de exemplares POSSÍVEL RENOVAR marido e mulher devem ser leais ao
em português e espanhol, e foi distri- O PRÓPRIO plano divino de construir uma união

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buída gratuitamente em oito países da exclusiva de respeito e fidelidade
América do Sul.
CASAMENTO (p. 31). Quando esses elementos
O otimismo dos autores não é inge- fundamentais faltam e a violên-
nuidade de um casal imaturo. Na ver- Porém, assim como o Criador apon- cia e o abuso se repetem, o perdão
dade, é resultado de mais de 30 anos tou o caminho da restauração naquele cristão não significa a obrigação de
de uma união marcada por desafios momento, Ele continua fazendo isso uma convivência tóxica. Porém, nos
e realizações, entre eles a educação por meio de Sua Palavra. Esse é o ali- demais casos e na maioria das vezes,
de dois filhos. Além da experiência de cerce sobre o qual os autores susten- Willie e Elaine acreditam que é pos-
vida, o casal soma muitas horas tam as orientações práticas ao longo sível superar as crises da vida a dois.
de estudo dedicadas ao tema. Willie é do livro. Por isso, entendem que a solução não
graduado em Teologia, com mestrado Um dos pontos que se destacam é buscar um novo relacionamento,
em Aconselhamento Pastoral e douto- é a necessidade de aprimoramento mas renovar o próprio casamento.
rado em Sociologia da Família. Elaine na comunicação. Conforme Willie
é educadora com mestrado na área de e Elaine, marido e mulher precisam GUILHERME SILVA é pastor, jornalista e editor de livros cp
Pe
12 QUEBRANDO O SILÊNCIO
Manuais práticos para ajudar você
a potencializar as emoções positivas
e controlar os sentimentos negativos

iá-
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NA BÍBLIA, A VERDADEIRA MASCULINIDADE NÃO IGU

TEM QUE VER COM ABUSO DAS MULHERES, ela


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MAS COM A DISPOSIÇÃO DE PROTEGER A vr

FAMÍLIA E SE SACRIFICAR POR ELA
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VANESSA MEIRA E ISAAC MALHEIROS ser
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úcia estava infeliz. Seu compa- num passado que parecia tão distante, se enforcaria e a filha do casal a cul-
nheiro, sempre exigente e ciu- havia acariciado seus cabelos, prome- paria para sempre pela perda do pai. ma
mento, tornava-se cada vez mais tendo-lhe uma vida feliz. Lúcia é um personagem fictício, àe
agressivo. Com a chegada da A agressão deixou marcas. Hema- com base nas reportagens que lemos po
filha do casal, ela imaginou que tomas que tiveram que ser justifica- para escrever este texto. A história vid
o coração dele se abrandaria, demons- dos como um tombo inventado para dela ilustra a de muitos religiosos tac
trando assim mais amor e dedicação proteger o marido. Em casa, o esposo que fazem uma leitura equivocada m
à família. Mas isso não aconteceu. usava até a Bíblia para defender as da Bíblia, e que acabam se silenciando m
A rotina de humilhação se intensi- agressões, dizendo que a mulher deve em relação à violência ou mesmo jus- de
ficou, até o dia em que ele, extrema- ser submissa ao homem. Lúcia quis tificando a agressão. fem
mente contrariado porque a mulher ir embora com a filha. Planejou isso Segundo a Bíblia, o casamento é ign
havia se levantado muito cedo para muitas vezes, mas temia a reação dele. algo para ser “honrado” e “respei- pr
atender o telefone, gritou: “Quem era Na igreja, os amigos a aconselha- tado” (Hebreus 13:4). Biblicamente, ra
ao telefone? Por que você se levan- vam a suportar aquela “cruz” e a pre- ser homem significa assumir uma pos- da
Ilustração: Marta Irokawa

tou rapidamente?” Foi inútil Lúcia ter servar o casamento, pois essa seria tura de sacrifício em relação à própria sid
dito que a mãe dela estava na linha. a vontade de Deus. Certo dia, numa família, pois foi isso que Jesus fez pela va
Enfurecido, o marido ergueu a mão discussão, ela ameaçou sair de casa. O igreja (Efésios 5:25, 29). Logo, a sub- ho
contra ela, a mesma que muitas vezes, marido disse que, se ela fizesse isso, ele missão feminina da qual esse texto fala as

14 QUEBRANDO O SILÊNCIO
é de uma mulher que é amada por seu MASCULINIDADE DE VERDADE DEUS TAMBÉM CHORA
marido como Cristo amou Seu povo. O “domínio” masculino que sur-
Portanto, a violência representa o giu após o pecado (Gênesis 3:16-19) Embora a Bíblia algumas vezes
oposto do que a Bíblia descreve como tem sido frequentemente deturpado. use imagens femininas para descre-
a postura masculina ideal. Geral- No contexto do Gênesis, a liderança ver atributos divinos (Deuterôno-
mente, os que praticam esse tipo de masculina no casamento não deve- mio 32:18; Provérbios 8:22-31; Isaías
ato enxergam na mulher uma pro- ria ser tirânica, pois o termo “gover- 42:14, 15; Lucas 15:8-10 e Mateus
priedade do homem, alguém inca- nar” (mashal, em hebraico) indica um 23:37), Deus Se revela nas Escrituras
paz e inferior. O fato é que todos nós governo amoroso como o de Deus utilizando predominantemente figu-
somos propriedade de Deus, com (Salmos 22:28; 66:7), com proteção e ras masculinas (rei, juiz, pai, marido).
valor intrínseco (1 Coríntios 6:19, 20). carinho (Isaías 40:10, 11; 1 Coríntios E apesar de essas imagens comu-
Por isso, a orientação bíblica é que, no 11:3; Efésios 5:23). Trata-se de uma nicarem Sua força e poder, elas tam-
casamento, haja submissão mútua e liderança que deve ser considerada bém apontam para Sua misericór-
voluntária (Cantares 6:3). não um privilégio superior, mas uma dia. Ele é descrito como cheio de
responsabilidade de proteger e cuidar compaixão pelos Seus frágeis filhos
ÃO IGUAIS E DIFERENTES (ver o quadro ao lado “Deus também (Êxodo 34:6 e 7, Mateus 20:34 e
Ao criar a mulher, Deus disse que chora”). Lucas 7:13) e um refúgio em Quem
S, ela seria uma “auxiliadora idônea” Na Bíblia, existe até um verbo grego se pode encontrar proteção e segu-
para o homem (Gênesis 2:18). A pala- para “agir como um homem” (andri- rança (Salmos 18:1 e 2; 27:5; 46:1;
RA vra “auxiliadora” (‘ezer, em hebraico) zomai): “Portai-vos varonilmente!” 125:2).
não tem o sentido de alguém inferior, (1 Coríntios 16:13, ARA). E o con- Portanto, esses textos deixam claro
LA
pois é usada muitas vezes na Bíblia em texto dessa ordem não inclui agredir que Deus tem um caráter irrepreen-
relação a Deus como “Auxiliador” do nem humilhar o cônjuge, mas agir com sível e que não pode ser culpado por
OS ser humano (Salmos 33:20; 70:5). Já a amor (v. 14). Portanto, nas Escrituras há nenhum tipo de violência. Igualmente,
palavra “idônea” (neged, em hebraico) uma expectativa básica sobre o compor- nenhum tipo de violência pode ser jus-
transmite a ideia de estar diante de tamento masculino, que nada tem que tificado pelo mau uso de Sua Palavra.
alguém, incluindo a oposição ao outro. ver com aversão ou ódio às mulheres. Deus chora com as vítimas e deseja
Portanto, a mulher é uma auxiliadora As últimas palavras de Davi a seu libertá-las de sua condição!
que socorre, complementa e, quando filho Salomão foram “seja homem!”
é preciso, também adverte o homem. (1 Reis 2:2). Esse é um excelente Queremos pensar que, numa
ul- A ordem divina é para que o conselho para os homens de hoje. manhã fria, Lúcia entregou seu medo
ai. marido trate a mulher “dando honra Se seguíssemos a Bíblia, nos países e sua angústia nas mãos de Deus, e
io, à esposa, por ser a parte mais frágil e professamente cristãos, a mídia seria pediu coragem. Fez as malas, amarrou
os por ser coerdeira da mesma graça da marcada por manchetes que falariam os cabelos da filha, sorriu para ela e
ria vida” (1 Pedro 3:7). Esse texto des- de homens que se sacrificaram por orou pedindo que Deus restaurasse
os taca a igualdade e a diferença entre suas famílias e não que abusaram sua capacidade de ser ‘ezer (auxilia-
da marido e mulher: a esposa é a parte de suas companheiras. dora). Entendeu que, na Bíblia, não
do mais frágil (diferença), mas é coer- Queremos imaginar que a Lúcia, há espaço para justificar nenhum tipo
us- deira (igualdade). A fragilidade física nossa personagem fictícia, entendeu de abuso contra a mulher. Silencio-
feminina é uma verdade bíblica, e esses conceitos. Compreendeu que, samente, ela mostrou para sua filha
oé ignorar isso não contribui para a numa situação de humilhação como a que a força da mulher está em Deus.
ei- proteção da mulher – somos natu- que descrevemos, ela não tem condições Então, denunciou para as autoridades
te, ralmente diferentes. Porém, a fragili- de ser plenamente o que Deus planejou a violência que vinha sofrendo, segu-
os- dade não é inferioridade, mas precio- para ela. Tomara que ela acredite que rou nas mãos da criança, pegou sua
Ilustração: Marta Irokawa

ria sidade, como uma joia ou cerâmica Deus pode nos salvar de situações de pequena mala e partiu.
ela valiosa que precisa ser protegida, os violência (2 Samuel 22:3; Salmo 22:20),
b- homens devem honrar as mulheres, do medo (Hebreus 2:15) e da própria VANESSA MEIRA é educadora e teóloga;
ala assumindo os riscos dessa proteção. morte (Salmos 6:4, 5; 56:13; 68:19, 20). e ISAAC MALHEIROS é pastor e teólogo

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TESTEMUNHO

N
uma das piores crises de depres- Pensamentos de morte me perseguiam. naquela condição, me tranquei no
são, recebi alta da perícia e Eu não vivia. Apenas existia. banheiro do meu local de traba-
tive que retornar ao trabalho, No trabalho, era exposta a uma lho. Ouvi uma amiga me chamar
embora os sinais da doença situação de confl ito e assédio, em pedindo que eu abrisse a porta, pois
ainda me acompanhassem. que me sentia muito humilhada. ela sabia que meu estado emocional
Tomando muitas medicações, eu Numa tarde de fevereiro de 2015, era grave. Pulei do terceiro andar do
tentava viver normalmente, mas era ouvi de uma assistente social que edifício e não vi mais nada. Não sei
impossível. A falta de concentração, de eu não poderia atuar naquele setor, como foi. Não vi a altura, não per-
energia, alterações no apetite e no sono pois embora tivesse aptidão para o cebi o risco, não vi a queda, só vol-
me fizeram emagrecer muito. Os dias cargo, não me queriam lá. Senti-me tei a mim quando já estava no chão
eram cinzas. Nada me motivava. Dor, um nada, desrespeitada, rejeitada! sendo socorrida, com uma dor terrí-
angústia e solidão eram minhas com- Naquele dia, meu esposo iria me vel por causa das múltiplas faturas.
panhias e, com elas, uma sensação de buscar. Eu chorava muito e, com Também senti naquele momento
vazio, de culpa e falta de perspectiva. vergonha de que alguém me visse a dor emocional, pois me lembrei da

Eliane (ao centro)


com sua filha, Ra
íssa (à direita), a ne
ta, Luísa, e demais fam
iliares

NOVA CHANCE
DA DEPRESSÃO À TENTATIVA DE SUICÍDIO, ENCONTREI NA FAMÍLIA E EM
DEUS A FORÇA QUE PRECISAVA PARA VENCER
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E L I A N E BA R ROS

16 QUEBRANDO O SILÊNCIO
minha filha: Raíssa. Tive uma sensação de que a em muitos momentos. Não quero ser apenas uma
no morte era certa e disse ao meu esposo: “Peça à triste lembrança na memória da minha família.
a- Raíssa que me perdoe.” Então ele perguntou: “Por
ar que você fez isso? Peça perdão a Deus.” E hoje OUTRA PERSPECTIVA
ois vejo que essa frase foi uma grande prova de amor. Ter perdido os movimentos e precisar de ajuda
nal Naquele momento a maior preocupação dele era para as atividades básicas tem me ensinado a agra-
do apenas com a minha salvação eterna. Ele sabia que decer pelas coisas mais simples, a reconhecer que
sei eu poderia morrer em poucos minutos. o que é mais importante na vida não se compra e
er- que não importa o que pensam de mim ou façam
ol- LUTA PARA VIVER contra mim. O que importa mesmo é minha rea-
ão Foi então que uma luta pela minha vida come- ção diante das situações. Hoje sei que sou amada
rí- çou a ser travada, já que meu estado era grave. por Deus e pela minha família, que cuidou de mim
as. Tive momentos de lucidez e confusão mental sem me julgar. Foi toda essa dedicação deles que
to durante vários dias. Internada na UTI, eu estava me deu forças para lutar pela vida.
da com hemorragia interna, rupturas nos pés, braços, Viver não é fácil, e quando somos atacados por
costelas, vértebras da coluna e no quadril. Passei doenças mentais, a luta fica mais dura ainda, pois
por várias cirurgias e transfusões de sangue. Tive a batalha é contra um inimigo invisível. Há muito
inúmeras complicações, como trombose e derrame preconceito e falta de informação sobre essas enfer-
na pleura, membrana que recobre o pulmão. midades emocionais, a ponto de ser um grande tabu
Fiquei acamada, perdi o movimento das pernas falar sobre suicídio, ainda que a cada ano cerca de
e usei fraldas descartáveis. Permaneci na cadeira de 800 mil pessoas tirem a própria vida em todo o
rodas durante meses. Foi um longo processo mundo. Na verdade, é muito penoso para a famí-
de reabilitação para recuperar minha mobilidade. lia que perdeu alguém tocar no assunto, ou quem
Naquela situação, voltar a andar era um sonho. sobreviveu encarar o julgamento da sociedade.
Para tanto, passei por mais oito cirurgias e inter- Em meio a toda essa dor, começamos nas mídias
nações. Cheguei a ficar isolada por 26 dias. Por sociais o movimento #todoscontradepressao, pois
causa da ação de bactérias multirresistentes, eu percebi que as perguntas das pessoas sobre minha
não podia tocar em ninguém. experiência de sobrevivência não eram mera curio-
Perdi uma parte do calcâneo, osso de apoio do sidade, nem tinham a intenção de me constranger.
calcanhar, e precisei de 60 sessões hiperbáricas, A questão é que muitos se identificavam com os
modalidade terapêutica com base em pressão e oxi- sentimentos e as circunstâncias que me levaram
genação, para ajudar a cicatrizar fraturas. Con- a tomar a atitude desesperada que tive.
vivi com muitas pessoas lutando pela vida, tendo Por isso, decidi abrir minha “caixa preta”, a fim de
seus corpos mutilados pelas amputações. Tudo foi me dedicar à missão de ajudar quem está sofrendo.
aprendizado. Ainda estou em recuperação. Hoje, Seguimos juntos nesse movimento em favor da vida,
seis anos e meio depois, meu pé ainda necessita acreditando que é necessário pedir, aceitar e oferecer
de cuidado e não consigo realizar nenhuma tarefa ajuda quando identificamos sintomas das doenças
em casa. Cada atividade precisa ser planejada. Por mentais. Precisamos estar atentos a isso.
exemplo, ficar sentada ou em pé me causa dores Em 2020, Deus me presenteou com minha pri-
constantes e limitantes. meira e, até aqui, única neta: a Luísa. Ser avó é
Foto: © ipopba | Fotolia / Taty Torres Fotografia

Contudo, tenho aprendido a ser grata a Deus em celebrar a vida diariamente e isso tem me ajudado
cada conquista. Foi um choque ter estado de cara a ressignificar minhas dores. Sou grata por estar
com a morte e correr o risco de não mais ver minha viva e por testemunhar pequenos grandes mila-
família. Naquele dia do incidente percebi o que gres. Hoje eu poderia ser apenas uma saudade,
realmente é importante. Percebi que o que acontece mas Deus me deu uma nova chance, e aqui estou
comigo interfere na vida daqueles que me amam, com minha família.
e não quero vê-los sofrer, seja por culpa, vergonha
ou preconceito. Percebi que quero estar com eles ELIANE BARROS é funcionária pública em Paulínia (SP)

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Ainda é possível encarar as


lutas e batalhas diárias a partir
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de outras perspectivas
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DENÚNCIA

Amor ou terror?
UMA HISTÓRIA DE AGRESSÃO QUE MUDOU
AOS POUCOS,
CARLA FOI
QUANDO O SILÊNCIO FOI QUEBRADO
RECONSTRUINDO
ANNE SEIXAS SUA AUTOESTIMA E
JUNTANDO FORÇAS
PARA PROCURAR O
PODER PÚBLICO

mais um dedo em mim”, frisou. Ele se


assustou e respondeu que o Deus dela
era poderoso. De fato, daquele dia em
diante, as agressões nunca mais ocor-
reram. Quem passou a sofrer a violên-
cia foram os móveis e objetos da casa.

“A
Gradativamente, Carla foi recons-
s agressões começaram no impediu as agressões. Em um dos epi- truindo sua autoestima e juntando
primeiro dia em que fui sódios, ela conseguiu fugir para a casa forças para procurar o poder público.
morar com ele”, lamenta dos vizinhos, mas decidiu voltar. O medo de ser morta a impedia de
Carla (pseudônimo). Sua Esse padrão se repetiu por dez fazer uma denúncia formal, até que
história é semelhante a anos e romper os laços se tornou cada ela decidiu ir a uma instituição espe-
milhares de outras. Aos 28 anos, ela vez mais complexo. Com dois filhos, cializada em violência doméstica na
tinha a expectativa de formar uma o medo, somado à ideia de que as cidade vizinha. Em dois meses, o
família como a dos seus pais, com res- crianças precisavam do pai por perto, divórcio estava assinado e o agres-
peito e amor. E durante o período de a impedia de sair daquela situação. sor havia saído de casa.
namoro e noivado, não teve motivos O que lhe dava forças era a mensagem Quatro anos depois, ela reencontrou
para acreditar que o escolhido para que encontrava na Igreja Adventista do um namorado da juventude. Eles se
ser seu marido não cumpriria essa Sétimo Dia. casaram e hoje vivem longe do local em
expectativa. “Numa tarde, durante o projeto que ela experimentou o terror. Carla
Mas um dia, ele determinou: “Ou Quebrando o Silêncio, o palestrante decidiu quebrar o silêncio. E você?
você vai embora comigo ou eu aban- contou uma história que parecia ser Desde 2002, o projeto Quebrando
dono você.” Àquela altura, o relacio- a minha. Pensei que alguém tivesse o Silêncio produz conteúdos como esta
namento já configurava o que, para contado pra ele”, relembra. O relato, revista e mobiliza milhares de voluntá-
um cristão, seria um casamento con- no entanto, terminava em morte. Foi rios para auxiliar vítimas de violência
sumado. Por esse motivo e por temer então que Carla percebeu que “preci- doméstica. Ao longo de quase 20 anos,
que ninguém mais se interessasse por sava tomar uma atitude”. essa campanha tem sido realizada com
ela, Carla cedeu à pressão. Decidiu contar para sua família o objetivo de restaurar a autoestima
Foi ali que o “inferno” começou. tudo o que acontecia. Depois de muita de quem sofre e mostrar que sempre
Apesar de todo o sofrimento, exis- oração e apoio de outras mulheres existe uma saída.
Foto: ©sdecoret

tia amor, materializado no primeiro da igreja, ela confrontou o marido.


filho. Mas nem o fato de estar grávida “A partir de hoje, você não encosta ANNE SEIXAS é jornalista

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PESQUISA

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CIENTISTA EXPLICA DE QUE ou
MODO A RELIGIÃO AJUDA A fam
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PREVENIR O CONSUMO DE
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DROGAS E A RECUPERAR OS éo
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doutora Zila van der Meer estudos e experiência que ela concedeu e menores índices de consumo de Q
­Sanchez é uma referência bra- esta entrevista sobre um assunto que drogas, mas poucos trabalhos que mo
sileira quando o assunto é pre- preocupa cada vez mais as famílias. tentassem explicar como acontece rit
venção do consumo de drogas. esse processo ou por que a fé é um do
Com graduação em Farmácia- Por que você pesquisou no fator importante na prevenção ao A
Bioquímica pela Universidade de São doutorado sobre prevenção e uso de drogas. Por isso, optei por rel
Paulo, ela cursou mestrado e douto- religião? uma metodologia qualitativa, com neo
rado em Psicobiologia na Universidade Na época, havia muita divulgação base na observação da atuação de Ap
Federal de São Paulo (Unifesp), insti- na mídia sobre o trabalho religiosos e em entrevistas com 120 ens
tuição na qual leciona para o curso dos religiosos, especialmente pessoas, no Brasil e na Espanha, que ent
de Medicina e coordena a pós-gradu- neopentecostais, na recuperação procuraram auxílio desses religiosos. pa
ação em Saúde Coletiva. Zila também de dependentes químicos. Era Os estudos quantitativos são mais tor
é autora de mais de 110 artigos cientí- possível observar que os usuários indicados quando você entende bem soc
ficos indexados, editora associada de que buscavam o serviço público de um fenômeno. Não era o caso do Os
revistas acadêmicas internacionais e saúde geralmente não continuavam meu objeto de estudo. Eu precisava fé q
consultora da ONU. o tratamento e reclamavam da ouvir a história das pessoas. ent
O principal interesse dessa pesqui- demora no agendamento de Co
sadora é entender quais fatores favore- uma consulta; enquanto os que Quais foram suas conclusões? (pe
cem o consumo de psicotrópicos entre procuravam os grupos religiosos Quem procura ajuda para deixar inc
adolescentes e jovens adultos. Sua tese permaneciam e até se tornavam as drogas em grupos religiosos não exp
de doutorado, defendida há 15 anos, adeptos daquela religião. A diferença faz isso por uma questão de fé, mas po
revelou que a principal contribuição parecia estar no atendimento e por desespero. Geralmente, quem ap
Foto: Christian Bienemann

dos grupos religiosos na recupera- no interesse pelo dependente. pede socorro está no fundo do poço com
ção dos dependentes químicos está Tínhamos também muitos estudos e quase não tem consciência de tudo mi
em seu modo de acolher e acompa- acadêmicos quantitativos mostrando o que envolve fazer parte daquela os
nhar os usuários. É com base em seus a relação entre a prática religiosa organização. Algumas pessoas con

20 QUEBRANDO O SILÊNCIO
recorrem às igrejas porque se grupos. Já os espíritas salientam que os procura e os encaminhem
frustraram com outros tratamentos o auxílio espiritual não dispensa o para os serviços públicos voltados
UE ou por causa da insistência de tratamento médico. Para eles, passes para dependentes químicos,
A familiares que disseram que aquilo espirituais, a busca por reforma como os Centros de Atenção
funciona. Portanto, o que faz interior e a prática da caridade são Psicossocial Álcool e Drogas
DE
diferença no primeiro momento fatores importantes nesse processo. (CAPS AD), no caso do Brasil.
OS é o acolhimento. Num segundo Meu estudo e outras pesquisas Outro ponto importante é que
OS momento, quando elas têm acesso às internacionais têm mostrado os grupos religiosos busquem
informações e experiências daquela que a confissão religiosa não é capacitação técnica para oferecer
religião, é que desenvolvem a fé. o fator mais importante, e sim a um atendimento mais completo,
A Muitos dos entrevistados disseram convivência numa comunidade acolhedor e menos traumático para
que foram recebidos como se religiosa. Em resumo, o o usuário. Por exemplo, um curso
fossem a pessoa mais importante do tratamento que leva em conta a de extensão universitária, gratuito
mundo. Por isso, nessa fase inicial, espiritualidade do dependente e remoto nessa área é oferecido
a frequência aos grupos é intensa, funciona da seguinte maneira: ele pela Unifesp (supera.org.br).
cerca de quatro a cinco vezes por é acolhido pelos religiosos e recebe
semana. E mesmo quando existe um suporte social por causa da Por que entre os fatores de
recaída, o que é comum, o grupo coesão do grupo; ouve exemplos proteção contra o vício, uma
costuma estender a mão e ajudar de sucesso e começa e se consolar família ajustada aparece em
na recuperação. O processo é lento, com a possibilidade de poder primeiro lugar, antes mesmo da
mas é consistente. reconstruir a própria vida. É então religião?
que se desenvolve a abstinência e a Porque a família é algo concreto.
Qual elemento religioso se recuperação do indivíduo. É o ambiente diário em que o
mostra eficaz na prevenção: o jovem aprende valores, modelos de
rito, a vivência comunitária ou a Você vê problema em socialização e a amar e ser amado.
doutrina? alguém buscar um tratamento A influência da família é mais
Analisei três grupos exclusivamente espiritual? importante do que a da religião
religiosos: evangélicos (maioria Particularmente, sou contra. porque, via de regra, é a família
neopentecostal), católicos e espíritas. Se existem recursos científicos que ensina ou não uma religião
Apesar de ­possuírem motivações e disponíveis que podem diminuir para os filhos. Até crescerem e
0 ensinos distintos, o que é comum o sofrimento do dependente elaborarem as próprias convicções,
ue entre eles é a intenção de colaborar químico, principalmente na fase as crianças seguem a religião dos
os. para que o dependente químico se do tratamento com as crises de pais. Porém, vale destacar também
torne abstêmio e tenha seu convívio abstinência, por que não utilizá-los? que as famílias religiosas tendem
m social restaurado. Creio que não é preciso escolher a ser mais equilibradas. Os pais
Os evangélicos enfatizam que é a entre um e outro. O tratamento são mais atenciosos com os filhos,
a fé que cura e que o usuário precisa médico e o auxílio espiritual são menos violentos e o consumo de
entregar o problema dele para Jesus. complementares, e a eficácia desse drogas nesses lares é evitado.
Costumam se reunir em células processo é maior quando os dois
(pequenos grupos), ler a Bíblia, são utilizados juntos. É isso que a Existe esperança para os
incentivar a ajuda mútua e recorrer à literatura acadêmica tem mostrado. dependentes químicos e suas
o expulsão de demônios. Os católicos, famílias?
s por sua vez, utilizam grupos de Como as organizações religiosas Sem dúvida. Já existem recursos
apoio mútuo e recursos terapêuticos podem ser mais assertivas nessa científicos e religiosos para ajudar
Foto: Christian Bienemann

o como a confissão e a participação na intervenção? essas pessoas na sua recuperação.


do missa e na eucaristia. Eles atribuem Penso que, basicamente, de duas O tratamento é longo, lento e exige
o sucesso do tratamento a algo maneiras. É importante que os persistência do usuário e de seus
concreto: o auxílio de pessoas ou líderes religiosos atendam quem familiares. Mas é possível.

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A arte
É possível viver em harmonia
apesar das diferenças?

Neste livro, o doutor em Psicologia


e terapeuta de família Mario Pereyra
constrói não apenas um retrato da
vida conjugal, mas também aponta
caminhos para superar as dificuldades
do casamento e viver o propósito
divino estabelecido para o casal. Você
descobrirá como aplicar fórmulas
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simples e práticas para a felicidade no


amor e na família.

cp
Pess
de amar
Um pacto a três

Esta obra é uma bela e profunda


reflexão sobre Deus, amor e casamento.
Com sensibilidade artística e refinado
conhecimento linguístico, esses três
elementos são expostos a partir da
perspectiva bíblica. Sem abrir mão
de leveza e poesia, o autor transmite
importantes lições para a vida a dois,
em família e na sociedade.

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Tudo sofre, t

Ilustração: Kaleb

24 QUEBRANDO O SILÊNCIO
e, tudo suporta
A FRASE É BÍBLICA E
SE REFERE AO AMOR,
MAS USADA FORA DO
Para ficar bem claro, podemos defi nir a
CONTEXTO PODE ACABAR dependência e a codependência como um
REFORÇANDO UM processo de mão dupla: o dependente desen-
volve uma ligação incontrolável pelo seu
TRANSTORNO EMOCIONAL:
objeto de desejo e o codependente estabe-
A CODEPENDÊNCIA lece uma relação de sujeição ao dependente.
Um reforça o comportamento inadequado do
ROSANA ALVES outro, criando um relacionamento doentio.
A necessidade desenfreada de estar com o
outro, como única forma de ser feliz, resulta

E
em relacionamentos não saudáveis, marcados
stá na Bíblia: primeira carta do apóstolo por culpa e sofrimento. O parceiro se torna o
Paulo aos Coríntios, capítulo 13 e versículo centro da vida do dependente e todas as áreas
sete. Porém, quando lemos essa frase, popu- da existência são impactadas por causa disso.
larizada em poemas e canções, não podemos Estar com o outro, fazê-lo feliz, torna-
confundir amor saudável com dependência se uma necessidade e não um prazer. E é
de vínculo afetivo. nesse contexto que o codependente permite
Há quem diga que um pouco de ciúme não faz abusos, pois tem medo de perder o parceiro.
mal. É o tipo de gente que gostaria que seu par O senso de posse, o ciúme doentio e o desejo
romântico cometesse alguma loucura em nome do de exclusividade são também características
amor. Porém, quando sentimentos como ciúme, frequentes na dependência de vínculo. Por
loucura e possessão surgem, eles costumam ser isso, se o relacionamento não traz alegria,
destrutivos. Aparecem camuflados de cuidado e mas constante sofrimento e tristeza, é pre-
amor incondicional, mas, aos poucos, se revelam ciso prestar atenção.
extremamente danosos. A percepção distorcida pode chegar a
tal ponto que o dependente não consegue
DEPENDÊNCIA DOENTIA imaginar sua vida sem seu objeto de desejo.
A dependência de vínculo ou codependência é Esse tipo de idolatria pelo outro pode aca-
um transtorno emocional caracterizado pela falta bar levando a uma tragédia. Fico pensando
de habilidade de manter relacionamentos saudá- em quantas garotas não estão sendo iludidas
veis, o que gera muita insatisfação e desconforto. por rapazes sedutores e perigosos. E quan-
Quem sofre disso acredita que a própria felicidade tos garotos estão entrando em verdadeiras
depende exclusivamente do outro e, por isso, age prisões emocionais. Vale lembrar que crimes
muitas vezes sem reflexão e bom senso. O codepen- passionais não fazem parte apenas do enredo
Ilustração: Kaleb

dente, por sua vez, acredita ser o responsável pela de filmes, novelas e seriados, mas das esta-
alegria ou tristeza do dependente. tísticas da vida real.

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Creio que ficou claro até aqui o conhecida por compartilhar sua história de superação de um
quão distinto é o amor verdadeiro casamento conturbado. Vamos aos “sintomas”:
da dependência de vínculo. O autos- 1. Considerar-se responsável pelos sentimentos, pensamentos,
sacrifício do amor gera crescimento, escolhas e até pelo destino do outro.
satisfação, respeito e confidenciali- 2. Sentir ansiedade, pena e culpa quando a outra pessoa tem
dade. Ele não sufoca, não provoca um problema.
escândalos e não rouba a alegria de 3. Ser compelido, quase forçado, a ajudar aquela pessoa,
viver. É sereno e refrigera a alma. mesmo quando não é solicitado.
4. Ter raiva quando seu auxílio não é eficiente.
AVALIE SEU RELACIONAMENTO 5. Culpar outras pessoas pela forma negativa como se enxerga
Relações tumultuadas eviden- e se sente.
ciam falta de maturidade de um dos
pares ou do casal. É essa imaturi- ROMPENDO COM O PERIGO
dade que faz a pessoa se posicionar Veja que é possível haver codependência em outros relaciona-
no centro absoluto do relaciona- mentos que não sejam uma relação amorosa entre um homem e
mento ou colocar o outro nesse lugar uma mulher. Portanto, seja qual for o tipo de relacionamento, se
que não pertence a nenhum dos perceber que os prejuízos e desgastes são grandes, é necessário
dois. Supervalorizar-se ou idolatrar pensar no término dele. Nem sempre é fácil colocar um ponto
o compaheiro são manifestações de fi nal nisso, mas é possível. Veja como proceder:
infantilidade. 1. Termine definitivamente. Postergar ou se desligar aos pou-
Por isso, quero ajudar você a iden- cos não funciona.
tificar se está num relacionamento 2. Mantenha distância. O contato possibilita chantagens e
destrutivo e lhe orientar a sair dele. tentativas de reatar o relacionamento.
Atente para os seguintes sinais: chan- 3. Peça ajuda. Amigos e até a polícia podem ajudar em casos
tagem emocional, desprezo pelo seu de ameaça.
sentimento, brigas para impedir que 4. Não se culpe. Você não é a única pessoa responsável pela
você conviva com outras pessoas, felicidade do outro.
manifestação exagerada/descontro- 5. Procure um especialista. Caso sinta necessidade, consulte
lada das emoções, comportamento um psicólogo ou terapeuta familiar.
que se alterna entre a postura de
vítima e dominador, ameaças quando Para você ver que não está só, já existem grupos de apoio
se fala no fim do relacionamento e mútuo que oferecem um programa de recuperação para codepen-
violência física e/ou verbal. dência, nos moldes dos Alcoólicos Anônimos. Esses ambientes
Relacionamentos assim geram físicos ou virtuais são espaços para compartilhar experiências
desconforto e dúvidas em quem está e procurar identificar e organizar os próprios sentimentos. No
sendo emocionalmente abusado. E Brasil, por exemplo, o codabrasil.org.br é um desses serviços
acabam levando o codependente a gratuitos, mas existem outros em vários países. Vale ressaltar
não se sentir mais à vontade para que a frequência a esses grupos não substitui o atendimento psi-
expressar seus sentimentos ao par- cológico quando necessário; e que, apesar de o método desses
ceiro e, às vezes, até se isolar do con- serviços contemplar a espiritualidade, isso não implica conver-
vívio de familiares e amigos. Nessas são a determinada tradição religiosa.
relações abusivas, é comum se ouvir Termino lembrando que os relacionamentos existem para pro-
a frase “você é meu ou minha”. porcionar bem-estar, crescimento mútuo e proteção. Se o seu não
No livro Codependência Nunca tem sido assim, é preciso avaliar e repensar sua continuidade,
Mais (Best Seller, 2013), a jornalista evitando danos maiores. Torço por sua felicidade!
e escritora norte-americana Melody
Beattie apresenta algumas caracte- ROSANA ALVES é pós-doutora em Neurociências pela Escola Paulista de Medicina (Brasil) e pela
rísticas do codependente. Ela ficou Universidade Marshall (EUA). Ela é presidente do Neurogenesis Institute, sediado na Flórida c
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