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TRABALHO A SER ENTREGUE DIA 22/10/2020 NA PLATAFORMA TEAMS E POR E-MAIL ACIMA
INDÚSTRIA DE O&G
ESTUDO DIRIGIDO
PARTE 1
O que há de comum entre Rússia, Canadá, China, Estados Unidos da América, Brasil,
Austrália e Índia? Eles formam o grupo dos países-baleia, aqueles que possuem as maiores
extensões territoriais do mundo. Nesta segunda década do século 21, são desse grupo as
duas maiores economias (EUA e China), as duas superpotências militares (EUA e Rússia) e
uma terceira em ascensão (China). Três deles estão entre as dez maiores economias (Índia,
Brasil e Canadá) e dois muito próximos disso (Austrália e Rússia).
3Afinal, a Rússia ainda hoje padece de fraca ocupação das imensas extensões de terras da
Sibéria e das estepes do Extremo-Oriente na direção do Ártico, da China e do Pacífico, e isso
apesar dos inúmeros programas da ex-URSS voltados para essas regiões. A China, por seu
turno, está firmemente empenhada em superar suas gritantes disparidades regionais
investindo pesadamente na alocação de infraestruturas voltadas para a integração e a
modernização das suas regiões remotas, sobretudo aquelas dos desertos e das estepes em
direção à Mongólia, à Rússia e à Ásia Central. No caso do Brasil, o país tem despendido
energia nesse aspecto do seu desenvolvimento, desde os anos 1960 pelo menos,
especialmente no que se refere à Amazônia (mais da metade do território nacional),
mediante políticas territoriais inspiradas em estratégia focada, ao mesmo tempo, em
objetivos de ocupação, proteção, integração e desenvolvimento.
4Apesar dessa dupla face do poder do território e seus recursos - potencialidades e desafios
- na evolução dos estados-nações, reafirmamos nossa posição nesse debate que defende e
enfatiza que no mundo contemporâneo ele mantém-se como valor universal para os povos
de todo o mundo (Costa, 1992, 2005 e 2015).
5Ele é primordial porque, em primeiro lugar, mantém-se como o suporte material do Estado
e da nação. Também pela sua qualidade de inscrever a experiência humana e exprimi-la no
âmbito das dimensões imateriais que lhe são intrínsecas e o revalorizam, sendo uma
endógena no plano da cultura (identidade e valores nacionais) e outra no plano político-
estratégico, isto é, o poder e sua projeção nacional e internacional.
9Atuam também vetores de outra natureza que são determinantes para o atual dinamismo
do mercado internacional em torno desses ativos. Empreendimentos de setores
fundamentais como as explorações de petróleo, gás e de minerais metálicos e não metálicos,
bem como a indústria de bens de produção e a agricultura moderna, podem hoje contar com
as vantagens de toda ordem propiciadas pelas redes mundiais de fluxos (de informações,
bens, pessoas e capitais) em todas as escalas. Têm a seu favor ainda os formidáveis avanços
da ciência e da tecnologia que viabilizam a descoberta, o inventário e a exploração rentável
das reservas de matérias-primas e produtos primários em geral, incorporando novas regiões
produtoras ao circuito mundial de produção. É esse novo ambiente tecnológico e econômico
internacional que tem permitido aos estados nacionais e aos empreendedores privados dos
países que dispõem de grandes reservas de recursos naturais em seus territórios soberanos,
a oportunidade de alargar e intensificar como nunca atividades de prospecção e de
exploração voltadas para seu abastecimento interno e, sobretudo, para o comércio exterior.
11Em um exercício de cenário mais abrangente sobre o significado geopolítico dos territórios
neste mundo do Século 21 ou da nova Ordem Mundial, pode-se avaliar a disponibilidade de
recursos naturais e as respectivas capacidades tecnológicas e industriais dos países para
explorá-los e agregar-lhes valor, tomando-os como fatores de peso no complexo mosaico
de potencialidades e vulnerabilidades que configuram as evoluções da balança de poder ou
a geometria do poder no interior do grupo das grandes e médias potências.
12Desse ponto de vista, é indiscutível a primazia dos EUA, posto que baixíssimo seu nível de
vulnerabilidade graças às suas virtualidades territoriais como a configuração de Ilha-
Continente, reservas abundantes e elevada capacidade de produção envolvendo todos os
recursos naturais estratégicos, incluindo o petróleo (é o maior produtor ao lado da Rússia em
2018). Ademais, dispõe de grandes extensões de terras agricultáveis e de avançado padrão
tecnológico no setor e, ao lado do Brasil, é líder mundial na produção de grãos. Ademais,
essa posição de superpotência econômica e militar não está assentada exclusivamente
nesses atributos do seu território e recursos, como sabemos. Na sua evolução desde a
independência, ressalta o amálgama formado pela configuração territorial e geopolítica, a
base material e, especialmente, os formidáveis avanços que alcançou em ciência e tecnologia
(são suas oito das 10 melhores universidades do mundo) e em atividades de Pesquisa &
Desenvolvimento que são realizadas especialmente no âmbito das empresas privadas.
13Essa é a força que impulsiona o progresso material do país, irrigando sua abrangente
estrutura produtiva com ganhos crescentes de produtividade e competitividade,
principalmente na agricultura de grande escala, nos serviços sofisticados e na indústria de
ponta, aí incluído seu poderoso complexo industrial-militar que opera em sua maioria
com tecnologias duais. Em síntese, superpotência de projeção global que atua de fato como
império na atual ordem mundial, manejando de forma combinada a diplomacia, a atuação
das grandes empresas multinacionais ou globais e o complexo financeiro e,
sistematicamente, o uso da dissuasão ou da guerra valendo-se do seu incontrastável poder
militar (quase a metade do total mundial de gastos militares em 2018).
14A Rússia é grande potência militar e conta com formidáveis reservas de recursos naturais
estratégicos e elevada capacidade de produção nessa área, em especial o gás e o petróleo,
dos quais o país é o maior produtor e grande exportador mundial. Comparativamente ao seu
rival ocidental, tem acentuada vulnerabilidade decorrente da baixa disponibilidade de terras
agricultáveis e graves deficiências tecnológicas na produção agrícola e, como característica
geral, padece de limitações decorrentes de uma economia pouco diversificada, pois não
dispõe de estrutura industrial de bens duráveis e não duráveis ou de serviços sofisticados e é
altamente dependente da produção e exportação de gás e petróleo.
15Apesar desses fatores limitadores do seu progresso material, é preciso atentar para os
notáveis avanços do país nos últimos quinze anos que se expressa na modernização da
estrutura produtiva como um todo. Essa recuperação conta, sobretudo, com os elevados
padrões de educação da sua população e a tradicional capacidade de pesquisa & inovação
tecnológica, produção e exportação de seu pujante complexo industrial-militar. Como
resultado desses avanços, o país também tem sido capaz de retomar a força e características
típicas de grande potência em sua projeção externa e, nesse particular aspecto, frise-se que
essa sua revigorada ação internacional não está limitada à escala do seu tradicional entorno
regional estratégico, posto que tem demonstrado apetite e disposição para a ampliar esse
horizonte. Enfim, assiste-se nos tempos em curso ao notável processo de retomada da
grande potência euroasiática a que denominamos em estudo recente de reerguimento da
Rússia (Costa, 2015).
19Destaque-se que essa liderança internacional tem sido obtida justamente naqueles setores
em que o país soube promover a exploração dessas riquezas mediante enorme esforço
concentrado em ciência e tecnologia e em pesquisa & desenvolvimento. São as suas
destacadas conquistas em biotecnologia tropical que alavancaram e hoje sustentam os
elevados padrões de produtividade nesses segmentos e eles se devem, sobretudo, ao
desempenho durante pelo menos quatro décadas com os bons resultados obtidos em
extensa rede nacional de instituições de pesquisas liderada pela Embrapa.
20Graças a essa estratégia, o país dispõe hoje da mais avançada agricultura tropical do
mundo e é o segundo maior produtor e exportador de grãos, o primeiro de carnes e o maior
produtor de etanol de cana de açúcar para uso automotivo. Como será visto mais de perto
em seguida, também tem sido graças aos pesados investimentos da Petrobrás em pesquisa
& desenvolvimento nas três últimas décadas, especialmente nas tecnologias de exploração
em águas profundas da Plataforma Continental que o país tem conquistado posição de
destaque na prospecção e exploração de petróleo e gás, estando praticamente toda ela
concentrada nos campos de produção offshore e especialmente, nos últimos anos, nas
imensas reservas do Pré-Sal.
21Ocorre, porém, que justamente essa característica essencial do seu desenvolvimento, que
o qualifica como o único país-baleia e potência média em que o progresso material encontra-
se hoje fortemente ancorado no controle e uso do território e sua base de recursos naturais,
é a que embute também seu mais importante front de riscos e ameaças. Sua principal
vulnerabilidade é a Defesa Nacional, decorrente da baixa capacidade operacional das forças
armadas que se deve, sobretudo, à insuficiência de recursos e à inexistência ou
obsolescência dos sistemas de vigilância e monitoramento e do equipamento militar. São
carências que comprometem a defesa da soberania do país como um todo e especialmente
em regiões estratégicas, como as fronteiras terrestres, a Amazônia e o Atlântico Sul,
conforme enfatizado na Estratégia Nacional de Defesa.
24No Brasil, dois estudos importantes da geografia nos oferecem uma concepção teórica
abrangente em geopolítica sobre a questão ambiental global, o primeiro examinando-a na
dinâmica atual das relações internacionais (Ribeiro, 2008) e outro destacando a importância
da Amazônia (Becker, 2009). Quanto à geopolítica da energia e do petróleo, as formidáveis
conquistas da Petrobrás na exploração e produção nos antigos campos offshore e,
principalmente, nos novos campos do Pré-Sal e a rápida ascensão do país como um dos
grandes produtores de petróleo e gás, despertou a atenção internacional e grande interesse
da comunidade acadêmica nacional sobre os impactos dessas mudanças. Dentre os diversos
estudos, também é de geógrafos a mais importante contribuição nesse debate, apresentada
em alentada coletânea de textos nos quais são expostas abordagens das antigas e novas
geopolíticas em diferentes contextos nacionais e internacionais, tendo o petróleo e seus
impactos territoriais (principalmente no Rio de Janeiro) como tema principal (Monié e
Binsztok, 2012).
25Na área dos estudos das relações internacionais também tem sido examinado o modo pelo
qual as correntes teóricas como o realismo clássico e o liberalismo podem inspirar as
diferentes posições nesse debate e a geopolítica imperialista dos EUA na questão do petróleo
(Fuser, 2008). A abordagem geopolítica sobre a importância do petróleo para a inserção
internacional do Brasil, foi igualmente objeto de estudos (Delgado, 2010). Finalmente, essa
perspectiva está ressaltada nos trabalhos que examinaram de perto as relações entre a
exploração e produção de petróleo e os desafios da projeção externa brasileira no Atlântico
Sul, com ênfase nas questões de Segurança e Defesa (Costa, 2012; Monteiro, 2016 e
Oliveira et al, 2016).
28Ao mesmo tempo, a empresa expandiu suas tradicionais atividades com novas refinarias,
terminais, redes de dutos, logística de transporte marítimo e distribuição, principalmente.
Também diversificou sua atuação, como por exemplo, nos estratégicos segmentos da
petroquímica e da bioenergia, além de posicionar-se no topo de extensa e robusta cadeia
produtiva industrial formada por empresas de diversos segmentos, aí destacadas a química
de base, metal mecânica, naval e de máquinas e equipamentos em geral. O resultado desse
percurso é que, diversamente do que muitos supõem, quando foram descobertos os campos
do Pré-Sal em 2007, a Petrobrás já era a primeira empresa do país e a sexta maior
petrolífera do mundo.
29Nesse sentido, o início da exploração e produção das reservas do Pré-Sal nas águas
ultraprofundas da Plataforma Continental (800 Km de extensão abrangendo as Bacias de
Campos e de Santos, do Espírito Santos a Santa Catarina) é evento que deve ser examinado
para além do seu significado convencional, isto é, não somente como fator de crescimento
do volume total de produção, mas especialmente pelo seu conteúdo estratégico e
geopolítico. Primeiro, porque se trata de prospecção e exploração de imensas reservas de
petróleo e gás de alta qualidade e situadas nos limites da ZEE - Zona Econômica Exclusiva,
águas jurisdicionais brasileiras reconhecidas pela ONU mediante a aplicação dos dispositivos
da Convenção sobre o Direito do Mar. Esse alargamento da projeção marítima do país foi o
resultado, sobretudo, da eficiente engenharia institucional que foi capaz de articular os
esforços do Itamaraty, da Marinha, da Petrobrás e de suas respectivas redes de apoio para
atuar simultaneamente e de forma cooperada no front interno no nível operacional e
no front externo na diplomacia. No nosso trabalho sobre a atual projeção do Brasil no
Atlântico Sul, destacamos justamente o conteúdo geopolítico dessa conquista do país:
30“Da perspectiva da estratégia nacional que está calcada, ao mesmo tempo, nos preceitos
normativos e consuetudinários do direito internacional e no realismo político, essa passagem
da projeção continental para a marítima foi o resultado da exitosa política externa do país
que nas últimas décadas perseguiu a todo custo objetivos que visaram assegurar direitos e
interesses no espaço marítimo do entorno regional estratégico, isto é, o Atlântico Sul. Essa
conquista envolveu movimentos decisivos em duas frentes principais. No front externo,
intensa movimentação diplomática junto a ONU e especificamente no âmbito da Convenção
sobre o Direito do Mar (1982) e, em seguida, com a sua ratificação em 1994.
No front interno, o esforço de pesquisa envolvendo o Programa de Avaliação do Potencial
Sustentável dos Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva Brasileira (REVIZEE) e o Plano
de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC), ambos liderados pela
Marinha, apoiados diretamente pela Petrobras e com a participação de instituições nacionais
de pesquisas oceanográficas. Essa articulação envolvendo o Itamaraty, a Marinha e
instituições de pesquisas foi responsável por duas conquistas que permitiram ao país
consolidar seus direitos e o consequente domínio legal no Atlântico Sul. Primeiro, a soberania
plena no Mar Territorial (12 milhas) e a soberania de fato na Zona Econômica Exclusiva (200
milhas). Segundo, a apresentação em 2004 à Comissão de Limites da Plataforma Continental
(CLPC) da ONU da proposta dos limites exteriores da nossa Plataforma nos casos em que ela
se estende para além da ZEE. Atualmente, o país prepara nova submissão à CLPC com vistas
a atender à solicitação de esclarecimentos envolvendo aspectos residuais dessa
reivindicação. É esse o novo espaço territorial brasileiro, abrangendo aproximadamente 4,5
milhões de Km² e batizado pela Marinha de Amazônia Azul” (Costa, 2012, p. 12-13).
31Mais adiante, o texto destaca o papel da Petrobrás nos avanços conquistados em ciência e
tecnologia e em Pesquisa & Desenvolvimento:
34Nesse sentido, o desafio da exploração do Pré-Sal, na extensa área marítima que vai do
Espírito Santo a Santa Catarina, pode ultrapassar todos os limites até então imaginados no
âmbito das tecnologias convencionais empregadas nesse setor. Afinal, trata-se agora de
exploração em profundidades de até dois mil metros de massa líquida e podendo alcançar
cinco mil metros de rochas no leito marinho, e isso em campos que, em alguns casos, estão
localizados nos limites da Zona Econômica Exclusiva, ou seja, a cerca de 350 km da costa.
Agrandir Original (png, 1,3M)
35Por último, deve-se levar em conta que além dos recursos que investe no seu aparato
próprio de pesquisas, a Petrobras, por força de dispositivo legal, aplica anualmente em
projetos de Ciência & Tecnologia de instituições nacionais 1,0% do valor correspondente a
sua produção de petróleo nos poços em fase de exploração. Com isso, a empresa fornece
parte dos recursos disponíveis no sistema nacional de C&T através do Fundo Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e, ao mesmo tempo, sustenta a operação
de extensa rede de pesquisas envolvendo praticamente todas as universidades do país
(especialmente as públicas). “Desse modo, a empresa vem atuando nos últimos anos, na
prática, como importante agência de fomento em ciência e tecnologia no país”. (Costa, 2012,
p. 15).
37“Ao incorporar a Engenharia Básica às atividades de pesquisa mudou sua conexão com as
áreas operacionais, estabelecendo-se a atividade de empacotamento, que consiste na
transferência do conjunto de conhecimentos tecnológicos, em termos de desenhos,
especificações, instruções de construção, montagens e operacionalização, ou seja,
representa a organização dos conhecimentos científicos e tecnológicos que vêm à montante,
permitindo estabelecer a conexão com a produção. O processo permite, portanto,
transformar os conhecimentos do centro de pesquisas em valor. Pode-se interpretar a
Engenharia Básica como a atividade responsável pelas primeiras fases dos grandes
empreendimentos. Ao ser incorporada ao CENPES, a Engenharia Básica transformou o centro
de pesquisas em Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Engenharia (PD&E), passando a
promover vínculos entre os pesquisadores e os projetistas dos equipamentos, facilitando a
aplicação de inovações nos projetos” (Morais, 2013, p. 63).
1 Essas parcerias envolviam arranjos específicos como o Projeto de Implementação Tecnológica (TIP)
e (...)
2 Em 1986 as reservas totais de petróleo eram de 3.6 bilhões de barris e a empresa produzia pouco
mai (...)
41Desse modo, formou-se a partir daí uma original e complexa correlação de fatores
estruturais na trajetória de exploração e produção de petróleo do país e da Petrobrás que
perdura até hoje. Premida pelas circunstâncias, a empresa lançou-se à batalha pelo
acelerado aumento da produção e o fez em ambiente exploratório sabidamente desafiador. À
medida que avançava das águas rasas para as profundas e ultraprofundas e cresciam os
volumes produzidos – de meados dos anos 1970 a meados de 2000 –aumentavam seus
investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento, em parcerias e em encomendas e aquisições
de suprimentos no mercado interno. Sob esse aspecto, as três etapas do PROCAP liderado
pelo CENPES (cada uma delas correspondendo a 1.000 metros de profundidade) e suas
sucessivas conquistas tecnológicas próprias e em consórcio com as redes de pesquisas
ilustram adequadamente essa correspondência ou correlação. Ao mesmo tempo, essa corrida
contra o tempo em busca da autossuficiência também compeliu a empresa a ampliar suas
encomendas e compras internacionais, especialmente no segmento de máquinas e
equipamentos de maior sofisticação tecnológica (em alguns casos sondas e plataformas
inteiras), como visto, completando-se desse modo seu perfil empresarial e modelo de
negócios predominantes.
42Além disso, pode-se conjecturar que a combinação desse ambiente de pressão econômica
e a nova conjuntura política do país de meados dos anos 1990 favoreceu o fortalecimento da
proposta de Governo que defendia a quebra do monopólio estatal do petróleo e, por
conseguinte da Petrobrás, e estimularia o Congresso a aprovar a Emenda Constitucional nº 5
em 1995 e em seguida o Projeto de Lei 9.478 em 1997 (a Lei do Petróleo). Por esses
dispositivos, abriram-se às empresas privadas nacionais e estrangeiras as atividades de
exploração e produção de petróleo e gás, mediante sistema de concessões e partilha que
deveria ser coordenado pela Agência Nacional do Petróleo, nas quais se procurou preservar a
participação obrigatória da Petrobrás sob a forma de consórcio.
43Sob esse aspecto, há relativo consenso entre os analistas da área de que o fim do
monopólio estatal favoreceu a Petrobrás e a produção nacional de petróleo, sobretudo
porque, de um lado, a empresa teria sido estimulada a aperfeiçoar seus sistemas de gestão e
operação a fim de enfrentar em seu próprio país a dura competição nesse setor e, de outro,
porque poderia capacitar-se para atuar com desenvoltura e protagonismo nas parcerias
(consórcios e joint ventures) com as petroleiras e parapetroleiras líderes do mercado
internacional, contribuindo assim para a descoberta dos campos do Pré-Sal (Morais, 2013).
Outro fator favorável desencadeado pela mudança teria sido o reforço à atuação
internacional da empresa, visto que nos anos seguintes ela ampliou consideravelmente seus
investimentos no exterior, com destaque para os países da América do Sul, incluindo a
aquisição da petroleira argentina Perez Companc em 2002 (Barros, 2013).
3 Em 2007 a Petrobrás utilizou pela primeira vez no Campo de Roncador, localizado a 1.800 m de
profun (...)
45“A operação de vendas das ações da Petrobras foi lançada em 24 de setembro de 2010,
na presença do presidente da República, na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São
Paulo (BM&F Bovespa). O setor estatal entrou com o Tesouro, o BNDES e o Fundo Soberano
do Brasil (FSB). Houve emissão de lote suplementar ainda em outubro. A soma total da
operação foi de R$ 120,48 bilhões, maior emissão mundial, que colocou a Petrobras como a
quinta maior empresa do mundo em valor de mercado. Foram R$ 120,25 bilhões obtidos
com a capitalização e, com isso, o total das ações pulou de 8.774 bilhões para 13.044
bilhões, sendo estas compostas por 7.442 bilhões de ações ordinárias e por 5.602 de ações
preferenciais. O setor estatal comprou cerca de R$ 80 bilhões, o equivalente a 66,5% das
ações vendidas. Com isso, houve de fato um expressivo aumento da participação estatal,
que pulou de 39,8% para 48,3%, enquanto a parcela detida pelos estrangeiros recuou de
37,4% para 31,8%” (Barros et al., 2013, p. 40).
5 Conforme divulgado pela imprensa em 2012, a estimativa da empresa era de que esses
investimentos al (...)
6 Segundo estudo organizado pelo IPEA, os novos níveis de exigência de conteúdo local e o plano de
in (...)
47Com o notável reforço de caixa propiciado pela bem sucedida operação de capitalização, a
conquista da autossuficiência em petróleo, as descobertas do Pré-Sal e o deliberado apoio
governamental aos seus projetos, a Petrobrás deu início ao mais ambicioso plano de
investimentos em toda a sua história e provavelmente o de maior porte dentre todas as
petroleiras do mundo na época5. No front da produção ou no upstream, os investimentos de
maior vulto foram principalmente os destinados à aquisição de plataformas flutuantes,
especialmente as do tipo FPSO (produz, armazena e distribui petróleo) que custam mais de
US$ 1 bilhão a unidade, além de equipamentos conexos, serviços tecnológicos e navios-
tanques requeridos para fazer frente às dispendiosas operações no Pré-Sal 6.
49No final de 2012 o valor de mercado da Petrobrás era de quase R$ 300 bilhões e o valor
patrimonial em torno de US$ 310 bilhões, posicionando-a no primeiro lugar das empresas
nacionais e como a 10ª maior empresa do mundo. E é nessa revigorada condição que a
empresa se lança à exploração comercial do Pré-Sal, cujas reservas totais podem ultrapassar
30 bilhões de barris e com previsão de produção anual em 2020 estimada em 6 milhões de
barris/dia. Em suma, perspectivas de notável performance que propiciam ao país alcançar a
autossuficiência e, especialmente, assumir no curto prazo posição de exportador mundial de
petróleo. Conforme os planos traçados pela empresa, a operação comercial teve início em
2013, mas problemas como a desaceleração no ritmo de investimentos sob os efeitos da
crise internacional e da forte recessão econômica do país (redução de 25% no período 2015-
2019), a violenta queda dos preços internacionais do petróleo (60% desde o início de 2014
ao final de 2015) e a deflagração da Operação Lava Lato em 2014, além do atraso na
entrega de plataformas e equipamentos, afetaram a execução do cronograma e o alcance
das metas de produção.
7 Essa queda de 21.6% do total de reservas de 2015 em relação a 2014 foi um dos impactos
negativos da (...)
8 Em 2015 o Brasil exportou quase 270 milhões de barris de petróleo, volume que representa
aumento de (...)
51O início da exploração dos campos do Pré-Sal também coincide com a fase da maior
expansão internacional da empresa, cuja presença se estende por quase vinte países em
todos os continentes, nos quais ela tem atuado em explorações conjuntas de petróleo e gás,
refino e distribuição. As parcerias tradicionais encontram-se na América do Sul, como são os
casos da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Mais
recentemente, expandiu-se para a África, como Angola, Gabão, Nigéria e Tanzânia. Opera ou
tem agências de representação também no México, EUA, China, Japão, Singapura, Reino
Unido e Holanda.
52Na América do Sul, essa expansão está alinhada à estratégia de inserção internacional do
Brasil que, desde os anos 1990, confere prioridade ao seu entorno regional e está
consubstanciada no seu papel de liderança exercido no processo de integração da região
como um todo (MERCOSUL e UNASUL), bem como no fortalecimento dos laços de
cooperação bilateral nas suas relações de vizinhança. Nesse aspecto, a petroleira brasileira
soma-se aos papéis desempenhados pelas suas congêneres da Venezuela (PDVSA) e da
Argentina (YPF) que contribuem, ao mesmo tempo, para o adensamento das relações
fronteiriças e da infraestrutura energética regional e o posicionamento desses países e da
América do Sul como polos mundiais emergentes na exploração e produção de petróleo e gás
(Egler, C. G. e Mattos, M. C. L., 2012).
53No Continente Africano, além dos tradicionais laços de amizade com Angola que
favoreceram a atuação da petroleira, a expansão recente para os demais países corresponde
à atual estratégia externa do país de estender sua presença no Atlântico Sul e em direção a
um Continente que tem demonstrado disposição para ampliar a cooperação. Deve ser
observado, entretanto, que nessas investidas recentes a empresa tem enfrentado forte
concorrência das petroleiras americanas e europeias que têm ali atuação consolidada desde
o final dos anos 1950 e, nos anos recentes, da acelerada expansão das petroleiras chinesas
em praticamente todos os países produtores da África Subsaariana.
55Numa breve ilustração do poder de impacto desses quadros, no período de 2000 a 2016 a
cotação do barril de petróleo que era de aproximadamente US$ 35, caiu a US$ 20 em 2001
após os atentados de 11 de setembro, recuperou-se com a invasão do Iraque em 2003 e a
partir daí iniciou a vertiginosa curva ascendente que culminou em US$ 140 em 2008. Este foi
um período de forte expansão da economia mundial, com índices de crescimento anual em
torno de 5%, processo em grande parte impulsionado pela ascensão dos emergentes e
particularmente da China (taxas superiores a 15% a.a.) e o aquecimento da demanda de
todas as commodities e em especial do petróleo. Em julho de 2007 os pilares dessa euforia
econômica são abalados pela explosão da crise do chamado subprime no hardcore do
mercado financeiro norte-americano que se irradiou para a economia mundial como um todo
e provocou, dentre outros desastres, a queda brusca das cotações do petróleo que chega a
US$ 40 em 2009. Na sequência, nova e curta oscilação para cima com os efeitos da chamada
Primavera Árabe que atingem quase todos os países da África do Norte (Tunísia, Argélia,
Egito e Líbia) e mantêm as cotações do produto em torno de US$ 100 até 2014.
56Esse foi o ano da virada para baixo com a violenta queda dos preços em que as cotações
variaram de US$ 22 (pico de baixa em janeiro de 2016) a US$ 50 (cotação média em 2017).
Em 2018 ocorre uma oscilação para cima no primeiro semestre (chegando a US$ 80), mas
que é seguida por nova queda no final do ano (US$ 50). Ainda que esse comportamento
possa refletir a influência da lenta recuperação da economia mundial, agravada pela
desaceleração da China em particular, o grave quadro da atual crise mundial do petróleo tem
sido atribuído pela maioria dos especialistas a causas menos típicas e episódicas como as
que caracterizaram o turbulento percurso dos últimos quinze anos. Desta feita, identificam
no cenário do mercado internacional de petróleo nítidos indicadores de que estamos no
momento diante de crise de outra natureza, isto é, sistêmica e estrutural, que combina
poderosos vetores de escala global atuando ao mesmo tempo na produção e consumo ou na
oferta e demanda.
Agrandir Original (png, 24k)
57No lado da oferta, os estudos sobre as perspectivas e cenários de curto, médio e longo
prazos do mercado mundial apontam para uma crise de superprodução
ou oversupply (Scenarios - World Energy Council, 2016; Outlook OPEC, 2016 e Outlook BP,
2017). Há consenso nesses estudos de que a mais importante dentre as causas do atual
quadro mundial de oferta abundante é o forte impacto da recente adição dos quase cinco
milhões de barris/dia produzidos pelos EUA nas suas extrações de óleo e gás de xisto
(shale). Além do mais, houve nos últimos anos aumento significativo da produção do grupo
de países non-OPEC – com destaque para o Brasil - que já responde por mais da metade da
oferta mundial. Ainda nesse grupo, destaque-se o ingresso adicional proveniente de antigos
e novos países produtores da África (Nigéria, Angola, Quênia, Uganda, Tanzânia e
Moçambique) e que respondem por cerca de 30% da oferta total de petróleo proveniente de
novas descobertas nos últimos cinco anos (IEA/Africa Energy Outlook, 2014). Finalmente,
EUA e Canadá continuam expandindo sua produção e existe forte preocupação com o
possível impacto do reingresso do Iran nesse mercado com a sua produção de mais de
quatro milhões de barris/dia.
58Pelo lado da demanda, além da persistência dos efeitos da recessão econômica mundial,
já apontado, há fortes evidências de que vetores de outra natureza estão atuando para
agravar o atual quadro de retração da demanda bem como para arrefecer o otimismo nos
estudos de cenários de longo prazo (2035 ou 2040). O mais importante deles é aquele
relacionado aos impactos da agenda ambiental global sobre o mercado mundial das fontes
não renováveis de energia e em especial os combustíveis fósseis (destaque para o petróleo),
um elemento de peso e sempre presente nos estudos de tendências dos últimos anos e que
tem sido registrado pela literatura internacional como environmental concerns.
59Esses estudos têm indicado, por exemplo, que a poluição atmosférica das grandes cidades
provocada, sobretudo, pela emissão veicular, deixou de ser o grande vilão dos impactos
ambientais e seu lugar tem sido ocupado pelo fenômeno do efeito estufa de escala
planetária, causado pela emissão de CO²e os seus impactos nas mudanças climáticas
globais. As diversas Conferências da Convenção sobre as Mudanças Climáticas e
especialmente a última, a de Paris em 2015 (COP 21), estabeleceram limites específicos para
a redução dessas emissões, o que implica esforços focados em novas tecnologias envolvendo
ganhos de maior eficiência energética, redução do uso de combustíveis fósseis e
investimentos em fontes alternativas, isso é, uma transição de larga escala para uma era de
energia limpa.
9 A Volvo, hoje controlada por um grupo chinês, acaba de anunciar que a partir de 2019 não
produzirá (...)
60Nesse cenário, seja como estratégia para fazer frente aos choques de preços do petróleo,
como em 1973 e 1979, ou enquanto alternativas de suprimentos de fontes de energia ou,
ainda, por deliberada política inspirada pela causa ambiental mundial, ou a combinação das
três, o fato é que diversos países e empresas estão investindo pesadamente em fontes
renováveis e sustentáveis de energia. São os casos do Brasil, líder mundial na produção de
etanol automotivo e energia hidrelétrica e da União Europeia, China, EUA e Brasil que têm
apostado na energia solar e eólica. Finalmente, há outros vetores que têm atuado
globalmente para frear a histórica curva ascendente da demanda de petróleo, em especial no
setor da mobilidade urbana. Os estudos de cenários preveem que a produção mundial de
automóveis para uso individual ainda crescerá até 2035, em especial nos países emergentes
da Ásia e da África. Ressaltam, entretanto, que o rumo das tendências em curso indica forte
retração nessa modalidade de transporte na Europa, Japão e Coréia do Sul e, sobretudo, nas
metrópoles e megalópoles em geral e, além disso, estimam que por volta de 35% dessa
nova frota será movida por biocombustíveis e eletricidade 9.
62A atual conjuntura, entretanto, é de grave crise no Brasil e, como assinalado, não se
resume à recessão econômica ou aos baixos preços do petróleo, envolvendo quadro de
instabilidade política com mudanças de governo e, por conseguinte, alterações de natureza
institucional e legal que têm afetado esse e outros setores.
63Alvo principal da Operação Lava Jato, a turbulência que engolfou a Petrobrás desde o
início de 2014 a atingiu como um todo e seus reflexos na empresa e na cadeia produtiva que
lidera são de diversas ordens, abrangendo mudanças de natureza institucional, na gestão
corporativa e na política de negócios. São inúmeros os procedimentos investigatórios e
processos judiciais no país (e também no exterior) que têm como alvo as práticas de
corrupção da sua alta direção em conluio com dirigentes do governo, políticos e partidos de
amplo espectro ideológico e atuando em todas as esferas da empresa. Trata-se de
abrangente devassa nas entranhas desse sistema criminoso que tem resultado em prisões,
delações premiadas e medidas conexas que visam à punição dos responsáveis e o
ressarcimento dos cofres da empresa pelas elevadas perdas por ela sofridas. O quadro é
grave, carreia duras consequências e tem sido inescapável que recaiam sobre a empresa, a
cadeia produtiva do petróleo e o país os ônus dos incalculáveis prejuízos que demandarão
longo e penoso esforço de recuperação, porque eles não são materiais (econômicos e
financeiros) tão somente, mas também imateriais ou intangíveis (credibilidade e prestígio
nacional e internacional).
64Os primeiros e mais fortes impactos da tempestade que se abateu sobre a empresa foram
a queda vertiginosa dos preços das suas ações na Bolsa de Valores, a drástica redução do
seu valor total de mercado e o rebaixamento do seu grau de investimento pelas agências
internacionais de rating. Do ponto de vista econômico-financeiro, a queda da rentabilidade
associada ao alto nível de endividamento para fazer face à sua ambiciosa carteira de
investimentos (chegou a US$ 380 bilhões em 2016) impôs-lhe, além de prejuízos em seus
balanços nos três anos de 2014 a 2016, a adoção de complexa estratégia de recuperação.
Esta envolve severo plano focado na retração de investimentos e em cortes de gastos e que
se traduz na interrupção, desaceleração ou cancelamento de diversos projetos e
empreendimentos (no mar e em terra) e na adoção de abrangente processo de downsizing.
11 Além da antiga presença da empresa no estado que conta com quatro refinarias e o maior terminal
mar (...)
12 A decisão dessas empresas de implantar laboratórios de P&D no polo tecnológico da Ilha do
Fundão no (...)
13 Apesar do atual quadro de crise, a Petrobrás tem mantido seus aportes de recursos em Pesquisa &
Des (...)
77“Mas se no campo das pesquisas e da diplomacia o país tem avançado a passos largos, é
flagrante sua fragilidade no segundo pilar da sua estratégia de projeção no mundo e no
Atlântico Sul em particular, isto é, o campo específico dos assuntos de Segurança & Defesa e
da capacidade operacional das forças armadas para exercer o poder de dissuasão. A
Estratégia Nacional de Defesa do país, aprovada em 2008 explicita as prioridades (a
Amazônia, as fronteiras terrestres e o Atlântico Sul), faz um amplo diagnóstico dos principais
problemas envolvendo as três forças e recomenda expressamente medidas de curto e médio
prazo para superá-los. Nelas estão enfatizadas as carências e limitações dos meios materiais
de defesa e as demandas por investimentos destinados, sobretudo, ao esforço concentrado
visando o reaparelhamento das forças armadas.
78Como é natural, ações de Segurança & Defesa no Atlântico Sul são incumbências que se
encontram prioritariamente sob a responsabilidade da Marinha brasileira. No referido
documento essa força lista seus objetivos estratégicos e táticos nessa área: “(a) defesa
proativa das plataformas petrolíferas; (b) defesa proativa das instalações navais e
portuárias, dos arquipélagos e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras; (c)
prontidão para responder a qualquer ameaça, por Estado ou por forças não convencionais ou
criminosas, às vias marítimas de comércio; (d) capacidade de participar de operações
internacionais de paz, fora do território e das águas jurisdicionais brasileiras, sob a égide das
Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região”. Os representantes e especialistas
da área são unânimes no diagnóstico de que a Marinha está longe de possuir os meios para
assegurar, ao mesmo tempo, sua presença efetiva com prioridade para as águas
jurisdicionais – mas não apenas nelas – e ações de vigilância e monitoramento permanente e
de larga escala. Em suma, dispor de capacidade militar suficiente para a dissuasão de
potenciais ameaças e no limite, para repelir ataques de forças inimigas, o que requer meios
adequados quanto à quantidade e à sofisticação tecnológica, isto é, navios de combate,
navios-patrulha, aviação de ataque embarcada, rede de vigilância incluindo satélite próprio,
logística que pressupõe o apoio de marinha mercante e, especialmente, frota de submarinos,
neste caso com prioridade para os de propulsão nuclear. Além dos vultosos investimentos
envolvidos, há o desafio de procurar promover esse reaparelhamento com o mínimo de
dependência do equipamento importado, ou seja, priorizando atividades de Pesquisa &
Desenvolvimento e a produção final no país ou, no máximo, procurar fazê-lo em regime
de joint-venture, com transferência de tecnologia, como é o caso do atual programa de
produção de submarinos convencionais e um de propulsão nuclear em parceria com a
França” (Costa, 2012, pp 20-21).
Considerações Finais
79Sob o ponto de vista de concepções clássicas de geopolítica e teorias do desenvolvimento,
o mais valioso e estratégico patrimônio nacional construído nessa trajetória exitosa de
exploração e produção de petróleo e gás é aquele formado pelo inventário das imensas
reservas situadas na Plataforma Continental e o crescimento da sua produção total nas duas
últimas décadas, avanços que além de viabilizar a autossuficiência, posicionam o país no
mercado internacional como importante produtor e exportador.
80Ao passo em que se reconhece essas conquistas, é preciso considerar que diante das
aceleradas mudanças atuais, não devemos extrapolar em demasia seu real significado como,
por exemplo, ao reiterar a antiga correlação entre petróleo e poder nacional, como se o
presente e os cenários de futuro das nações em geral e particularmente do Brasil estivessem
inexoravelmente atrelados à agitada movimentação da indústria do petróleo e sua singular
geopolítica. Além de tender ao reducionismo, esse tipo de abordagem tem mais de um
século e envelheceu, ainda que a mídia internacional e alguns analistas persistam nela,
provavelmente estimulados pelas evidências de que esse recurso ainda sustenta a economia
de um pequeno grupo de países e é objeto de disputas e conflitos de diversas escalas e
intensidades.
83Daí porque do ponto de vista da abordagem aqui adotada que enfatiza o conteúdo
propriamente estratégico do desenvolvimento nacional, o patrimônio representado pela
Petrobrás e a cadeia produtiva tecnológica e industrial por ela liderada é tão ou mais
importante que aquele das reservas de petróleo e gás. São indissociáveis, portanto, e é por
isso que devem ser valorizadas e defendidas.
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Araújo, B.C. A Petrobrás e o setor de Bens de Capital no Brasil: Uma análise Microeconômica
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Universidades e Centros de Pesquisa. In Impactos tecnológicos das parcerias da Petrobrás
com Universidades, centros de pesquisa e firmas brasileiras, Brasília, IPEA, 2013.
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Notes
2 Em 1986 as reservas totais de petróleo eram de 3.6 bilhões de barris e a empresa produzia
pouco mais de 500 mil barris/dia, aproximadamente 1/3 do consumo do país.
3 Em 2007 a Petrobrás utilizou pela primeira vez no Campo de Roncador, localizado a 1.800 m de
profundidade na Bacia de Campos, a gigantesca plataforma semissubmersível P-52 com
capacidade de produção de 180.00 barris/dia (Morais, 2013).
4
Além da forte expansão dos investimentos na América do Sul, a empresa ampliou a sua atuação
nos EUA (Golfo do México) competindo ali com as petroleiras norte-americanas e inglesas na
exploração em águas ultraprofundas, como é o caso da produção que iniciou a partir da sua
descoberta do Campo de Cascade, em 2002, com 2.500 metros de profundidade, estabelecendo
ali um recorde mundial na instalação e operação da FPSO, plataforma flutuante de produção
(Morais, 2013).
5 Conforme divulgado pela imprensa em 2012, a estimativa da empresa era de que esses
investimentos alcançariam o montante de R$ 226 bilhões até 2018.
6 Segundo estudo organizado pelo IPEA, os novos níveis de exigência de conteúdo local e o plano
de investimentos da Petrobrás no Pré-Sal impactaram fortemente a produção doméstica esses
setores:
7 Essa queda de 21.6% do total de reservas de 2015 em relação a 2014 foi um dos impactos
negativos da acentuada queda dos preços internacionais do petróleo no período visto que os
elevados custos de exploração de determinados campos não são cobertos pelo preço final do
produto (ANP – Anuário Estatístico, 2016).
8 Em 2015 o Brasil exportou quase 270 milhões de barris de petróleo, volume que representa
aumento de 42% em relação a 2014, sendo quase a metade disso para Ásia-Pacífico,
principalmente a China (ANP – Anuário Estatístico, 2016).
9 A Volvo, hoje controlada por um grupo chinês, acaba de anunciar que a partir de 2019 não
produzirá mais nenhum veículo movido exclusivamente por motor à combustão, isto é, toda sua
produção será composta por híbridos e elétricos.
10 Segundo informações da empresa, com as recentes ampliações das suas instalações na Ilha do
Fundão, o CENPES passou a contar com mais de 300 mil m² de área construída e em 2017 ela
alcançou o número de 2.000 patentes depositadas no país e no exterior (Petrobrás, Fatos e Dados,
set/2015).
11 Além da antiga presença da empresa no estado que conta com quatro refinarias e o maior
terminal marítimo e capacidade de tancagem de petróleo do país em São Sebastião, esses novos
investimentos abrangem, além daqueles direcionados a Santos, a ampliação das instalações da
Unidade de Tratamento de Gás Monteiro Lobato, em Caraguatatuba, com capacidade de
processamento de 20 milhões de m³/dia. Além disso, com a entrada em operação dos novos
campos do Pré-Sal, o município de Ilhabela (“município produtor”) teve expressivo aumento no
recebimento de royalties, passando de R$ 12.5 milhões em 2014 para R$ 113.5 milhões em 2015,
um valor que a situa como o 4º maior beneficiário dentre todos os municípios brasileiros (ANP,
Anuário Estatístico, 2016).
12 A decisão dessas empresas de implantar laboratórios de P&D no polo tecnológico da Ilha do
Fundão no Rio de Janeiro, além de permitir-lhe a proximidade de um cliente internacional
relevante como a Petrobrás, pode também ser motivada por estratégia de “captura” dos
conhecimentos que têm sido gerados pelo CENPES e a COPPE (IPEA, 2013), especialmente
aqueles relacionados às tecnologias de exploração e produção em águas profundas e
ultraprofundas (Ruas, 2011).
13 Apesar do atual quadro de crise, a Petrobrás tem mantido seus aportes de recursos em
Pesquisa & Desenvolvimento na média de US$ 1.1 bilhão/ano. No período 2012-2014 eles
totalizaram US$ 3.4 bilhões, valores que credenciam a empresa como uma das maiores
investidoras do mundo em P&D na área da energia. Além do CENPES, esses recursos foram
destinados a parcerias com cerca de 100 instituições de pesquisas brasileiras e 32 estrangeiras
(Petrobrás, Fatos e Dados, set/2015).
14 Além de diversos textos sobre o assunto publicados na sua Revista Brasileira de Estudos de
Defesa, o tema geral do VIII Encontro Nacional da ABED em 2014 foi o Atlântico Sul e os
principais trabalhos ali apresentados foram reunidos em coletânea e publicados em 2016: Winand,
E.C.A. et al. Defesa e Segurança do Atlântico Sul. São Cristóvão, Editora UFS – ABED, 2016.
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Crédit
Fonte: Oil Change international, 2019
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Référence électronique
Wanderley Messias da Costa, « A Petrobrás e a indústria de petróleo no Brasil: geopolítica e
estratégia nacional de desenvolvimento », Confins [En ligne], 39 | 2019, mis en ligne le 31 mars
2019, consulté le 12 octobre 2020. URL : http://journals.openedition.org/confins/17645 ; DOI :
https://doi.org/10.4000/confins.17645
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Auteur
Paru dans Confins, 25 | 2015
Paru dans Confins, 22 | 2014
Paru dans Confins, 7 | 2009
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Droits d’auteur
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