Você está na página 1de 13

Ao longo deste material, argumentaremos, através de análises esta-

tísticas e de comportamento humano, se adotar uma postura de buy


and hold diante dos mercados realmente é a melhor escolha que o
investidor pode fazer agora.

Você descobrirá que no mercado existe um momento apropriado para


tudo. Para comprar e para vender. Para ser agressivo e para ser con-
servador.

E, no fim da leitura, terá clareza sobre como distinguir o momento


mais propício para comprar ações para o longo prazo do momento
em que fará mais sentido adotar uma postura tática e observadora,
sempre mirando em retornos consistentes ao longo do tempo.

Segure firme e leia com atenção. Se você tem interesse em identificar


os momentos certos para se tornar um holder, este e-book esclarece-
rá muitas das suas dúvidas e fornecerá pistas que devem ser levadas
em consideração para descobrir quando a estratégia pode não ser a
mais adequada.

2
Primeiramente, é preciso que você compreenda um pouco sobre nos-
sa abordagem original de investimentos, chamada de “Mercado de
Ações em Quatro Dimensões” e também conhecida como M4D. De
forma resumida, o nome surge a partir da natureza da análise dos
sinais do mercado, que é fundamentada por 04 atributos-chave que
apelidamos de dimensões. São elas:

1. VALORAÇÃO: esta dimensão identifica o quão caro ou barato


está o mercado de ações de forma geral, impactando os retornos de
longo prazo.

2. INDICADORES ECONÔMICOS: dita a tendência primária do mer-


cado e sua força - ou seja, se estamos em um bull ou bear market, e
se esse ciclo é sustentável ou se encontra em seus capítulos finais.

3. SENTIMENTO: mede a propensão ao risco dos investidores. É


uma dimensão que ganha mais relevância nos extremos, afinal, traz
sinais de alerta principalmente quando seus indicativos divergem das
outras dimensões. Via de regra, o investidor sempre deve interpretá-
-la de forma contrária aos sinais emitidos: quando o sentimento é de
muita euforia, é um indício de que devemos ser cautelosos; já quando
o sinal é de muito pessimismo, o indício é de que o investidor deve agir
agressivamente nas compras.

4. AÇÃO DOS PREÇOS: é a dimensão que fornece o timing para o


investidor apertar o gatilho, seja para a compra ou para a venda de
ações. As demais dimensões trazem insights mais abrangentes sobre
os sinais do mercado, enquanto a Ação dos Preços (ou Price Action)
serve para fazer o ajuste fino na exposição.

É a valoração que nos traz clareza sobre a visão de longo prazo acer-
ca dos mercados, portanto, ela é a dimensão que analisamos para
identificar os momentos em que utilizar o buy and hold traz os maio-
res benefícios e quando não é a melhor estratégia.

3
EXPLICANDO O MODELO
B E H AV I O R I S TA D E VA L O R A Ç Ã O

A decisão de um investidor final de adquirir


ações ou títulos de dívidas é influenciada por
inúmeras variáveis, tais como a expectativa
sobre a inflação, as taxas de juros dos títulos
de dívida disponíveis, o seu grau de informa-
ção, sua formação escolar, a maneira como
enxerga o futuro, a sua propensão ao risco,
a sua condição financeira, etc., além de seus
vícios cognitivos, que este analista denomina
de demônios mentais, aí incluídas as fantasias,
idiossincrasias, ideologias e emoções.

Como ver-se-á, as estatísticas do modelo são


bastante robustas para o mercado de ações
norte-americano, o maior do planeta, e a
sua eficácia supera a dos complexos mode-
los aprendidos nas faculdades, que pecam em
não levar em conta todas as variáveis decisi-
vas que influenciam os investidores finais, es-
pecialmente os desvios comportamentais irra-
cionais dos investidores.

Dito isso, eis o principal postulado do modelo


de valoração: o nível de valoração do merca-
do é inversamente proporcional ao percentual
alocado em ações no portfólio dos investidores
finais (aqueles que investem diretamente na

4
bolsa, e não através de fundos). Em outras palavras, quando os in-
vestidores detêm uma porcentagem alta de ações em relação ao seu
portfólio total, significa que o mercado acionário está caro, e que seus
retornos nos 10 anos seguintes serão pífios ou, por vezes, até nega-
tivos. Já quando os investidores estão com baixa alocação em ações
em relação ao seu portfólio total, significa que o mercado acionário
está barato, e que os retornos de longo prazo (10 anos) tendem a ser
expressivos.

O modelo proporciona uma razoável noção do risco de manter ações


em seu portfólio pelo emprego da estratégia de comprar e segurar
as ações para o longo prazo. Assim, quando a valoração está barata,
presume-se que a estratégia buy and hold tende a ser vencedora no
longo prazo, e, quando ela está elevada, presume-se que tal estraté-
gia não tende a retornar bons frutos a quem segui-la, sendo conve-
niente que o investidor adote uma postura mais tática e ativa diante
dos mercados.

O S&P500, também conhecido como SPX, é a maior referência mun-


dial como índice de ações, constando nele as 500 maiores empresas
de capital aberto dos Estados Unidos. O SPX é um índice de retorno
nominal, ou seja, não se inclui na evolução dele a reaplicação dos divi-
dendos. Na nossa modelagem de valoração, utilizamos o SPX-RT (Re-
torno Total), ou seja, considerando a reaplicação dos dividendos, pois
ele traz uma visão mais clara do rendimento verdadeiro do mercado
de ações, considerando tanto o ganho de capital quanto o ganho pro-
veniente dos dividendos.

5
A base de dados da QUAD dos percentuais alocados em ações vai
desde 1951 até o fim de 2020. Cada bolinha azul no gráfico é a esta-
tística de um trimestre, trazendo a alocação de ações (eixo horizontal)
e o retorno anualizado nos 10 anos seguintes (eixo vertical):

Figura 1 – Percentual alocado em ações no final de cada trimestre entre 1951 (eixo X) e o trimestre
findo em dezembro de 2010 (início do período decenal que termina em dezembro de 2020) e o cor-
respondente retorno nominal anualizado decenal do SPX-RT (eixo Y) – Fonte: Fed/QUAD.

O ponto representado pelo quadrado amarelo, situado no canto es-


querdo da reta branca, corresponde a uma alocação de 47,6% em ações
nos portfólios em dezembro de 2020 que, segundo o modelo, deverá
apresentar um retorno anualizado de 0,24% ao ano do SPX-RT. Como o
dividendo distribuído em 2020 foi equivalente a 1,6% em relação à mé-
dia trimestral do SPX (sem dividendos) no 4° trimestre de 2020 (3.554
pontos), de acordo com o modelo o rendimento anual do SPX deverá ser
negativo em cerca de -1,3%, ao ano, nos próximos 10 anos. Isso significa
que, ao final de 2030, o SPX estará a níveis mais baixos que atualmente.

Conclui-se que quanto maior a alocação em ações nos portfólios dos


investidores finais em um determinado instante tanto menor tende a ser
o retorno anualizado nos dez anos subsequentes. Percentuais elevados
alocados recentemente em ações nos portfólios dos investidores finais
aumentam as chances de um mercado-urso nos dez anos subsequen-
tes.

6
Há o ditado que reza que uma tendência de alta termina quando aca-
bam os compradores. Exageros à parte, o modelo behaviorista chan-
cela esse ditado popular que, como se vê, contém muita sabedoria.

Na figura 1, a relação linear do modelo foi mostrada em um diagrama


de dispersão. A figura abaixo mostra um outro ângulo pelo qual se
pode visualizar a sua eficácia.

Figura 2 – Percentual alocado em ações (cor verde com percentuais de alocações pela escala à
esquerda) até dezembro de 2020 e correspondentes retornos conhecidos até o período decenal
iniciado em dezembro de 2010 (cor vermelha, com escala invertida) – Fonte: Fed/QUAD.

Obviamente que a curva vermelha para no trimestre encerrado em


dezembro de 2010 porque se desconhece os retornos decenais das
alocações além do referido trimestre. Observa-se que em dezembro
de 2020 o percentual alocado foi de 47,6%, somente inferior ao re-
gistrado no auge da bolha pontocom. Este percentual projeta um re-
torno de aproximadamente 0% ao ano nos próximos 10 anos para o
SPX-RT. Significa que o retorno do mercado de ações americano pela
próxima década será nulo.

7
QUER DIZER QUE O MERCADO
VA I F I C A R 1 0 A N O S PA R A D O ?

Uma vez que se obtém as estatísticas dos per-


centuais de ações nos portfólios dos investi-
dores finais, a trajetória do mercado é caótica.
Invariavelmente, antes de completar o perío-
do decenal, o mercado tende a se distanciar
bastante do previsto pelo modelo para, então,
convergir no final do referido período. Ou seja:
embora o modelo projete os retornos do mer-
cado acionário nos 10 anos seguintes, ele não
diz sobre como será o percurso até lá.

Figura 3 –Projeção de retorno do SPX-RT (linha azul, escala à es-


querda), retorno concretizado do SPX-RT (linha amarela) e respecti-
vos desvios em percentuais anualizados (linha pontilhada vermelha,
escala à direita) entre março de 2000 e março de 2010 (gráfico
da esquerda) e entre março de 2009 a março de 2019 (gráfico da
direita) - Fonte: QUAD.

8
Em março de 2000 (estimativa até março de 2010) teve início um
bear market que se estendeu até o início de 2003. Neste período os
preços da média mensal do SPX-RT (escala à esquerda) orbitaram
em torno da projeção (curva exponencial na cor azul – muito parecida
com uma reta), com desvio na escala à direita.

Durante o bull que teve início em março de 2009 (estimativa até mar-
ço de 2019) o mercado, representado pela média mensal do SPX-RT,
permaneceu sempre acima do modelo. Mais uma vez o mercado con-
vergiu para a previsão, embora esta tenha ficado 10% abaixo. Inte-
ressante observar, neste caso, que em dezembro de 2018 o desvio
chegou a atingir apenas 4%.

9
CLASSIFICAÇÃO DO RISCO
DE LONGO PRAZO

Para determinar a valoração do mercado acio-


nário norte-americano no longo prazo este
analista distribuiu, mediante critério não-cien-
tífico, mas de acordo com sua experiência, em
faixas os percentuais de alocação em ações a
partir da amostra conhecida e as associou à
valoração.

Figura 5 - Faixas de alocação em ações nos portfólios dos inves-


tidores finais e valoração do mercado de ações norte-americano
- Fonte: QUAD.

Como o percentual alocado em ações na últi-


ma estatística (dezembro/2020) foi de 47,6%,
conclui-se que o mercado está em nível de bo-
lha, bem acima do percentual mínimo para ser
considerado muito caro (42%).

10
E S TA M O S N A I M I N Ê N C I A
DE UM COLAPSO?

Muita calma, investidor. Um mercado pode permanecer caro ou ba-


rato por anos, portanto, a valoração do mercado não dá informações
quanto ao timing da inflexão do ciclo do mercado.

É preciso analisar as demais dimensões (fundamentos econômicos,


sentimento e ação dos preços) para ter uma noção precisa sobre o
momento em que o urso (bear market) poderá aparecer.

Mas o fato é que sim, os mercados estão muito caros, e o atual ciclo
de alta (que se iniciou em março de 2009) está muito mais próximo do
fim do que do início. As projeções estatísticas indicam que quem tiver
a postura de simplesmente comprar e segurar, de agora em diante
não auferirá retornos expressivos no longo prazo - a não ser que seu
stock picking (escolha das ações) seja muito superior ao retorno do
mercado, mas essa é uma tarefa árdua, afinal, é a minoria dos profis-
sionais de investimento que consegue bater o S&P500.

Isso não significa que você deva vender suas ações agora – afinal, os
mercados podem seguir subindo por mais tempo que você aguentar fi-
car de fora, e o sentimento de FOMO (Fear of Missing Out, ou, em por-
tuguês, medo de ficar de fora), enquanto permanece a alta das ações
pode te levar a tomar decisões precipitadas. Lembre-se que bolhas
sempre duram mais do que se imagina.

Os membros da QUAD Financial recebem as análises e recomenda-


ções de investimento baseados na abordagem M4D em tempo real,
tendo uma noção precisa do que cada dimensão sinaliza e uma visão

11
apurada sobre cada fase do ciclo do mercado e como se posicionar
diante dela.

Para o leitor que não é membro do #TimeQUAD, o importante é ter


noção da condição atual do mercado para não tomar posições além da
sua propensão ao risco e manter os pés no chão, sabendo que a época
de se obter ganhos robustos facilmente, como foi nos últimos anos,
pode ter ficado para trás.

12
13

Você também pode gostar