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Encargos sociais e salários

Os encargos sociais são obrigações trabalhistas que as empresas precisam pagar mensal ou
anualmente, excluindo os salários.

Salário é a remuneração básica de um trabalhador, aquela que faz jus pelo trabalho
desempenhado para um terceiro, geralmente uma empresa ou uma organização, de acordo
com regras legais previamente combinadas ou contratadas.
Os encargos sociais básicos são custos da mão de obra que a empresa utiliza, compostos
pelas incidências sociais geradas. As principais incidências sociais básicas atuais são as
que devem ser pagas ao INSS, ao FGTS, e as que incidem sobre o pagamento mensal
(FGTS normal) e sobre a rescisão, conforme cada caso.

Temos ainda as incidências sociais trabalhistas: repouso semanal remunerado (RSR), 13º
salário pago anualmente e provisões de férias, que devem ser pagas por ocasião das férias
do trabalhador. Essas incidências serão explicadas junto com os cálculos variáveis da
folha de pagamento.

Lembramos que, assim como ocorre com muitos tipos de tributos, os encargos sociais, de
um modo geral, estão sujeitos a alterações.

Em 2019, os valores, as alíquotas e as contribuições de INSS para segurado


empregado, empregado doméstico, e trabalhador avulso são:

Segurados empregados, empregado doméstico e trabalhador avulso que receberem


remuneração de valor igual ou menor que R$ 1.659,38 terão encargos sociais
correspondentes a 8% de sua remuneração;

Segurados empregados, empregado doméstico e trabalhador avulso, que receberem


remuneração de valor entre R$ 1.659,39 e R$ 2.765,66, terão encargos sociais
correspondentes a 9% de sua remuneração;

Segurados empregados, empregado doméstico e trabalhador avulso que receberem


remuneração de valor entre R$ 2.765,67 e R$ 5.531,31, terão encargos sociais
correspondentes a 11% de sua remuneração;
No caso de empregado de empresa, esses valores são descontados sobre o salário ou
conjunto de remunerações a que fez jus no mês e que foram recolhidos pela empresa
empregadora. Já para contribuintes individuais e facultativos, os valores e alíquotas para o
INSS são os seguintes:

Os que não dão direito a contar no tempo de cálculo da Aposentadoria por Tempo de
Contribuição:

Valor de salário de contribuição R$ 937,00 = alíquota de 5%, valor de R$ 46,85.

Valor de salário de contribuição R$ 937,00 = alíquota de 11%, valor de R$ 103,07.

O que dá direito a contar no tempo de cálculo da Aposentadoria por Tempo de


Contribuição:

Entre R$ 937,00 e R$ 5.531,31 de salário de contribuição = alíquota de 20%, valor entre


R$ 187,40 (para o salário mínimo) e R$ 1.106,26 (para o teto)

Quanto às alíquotas que a empresa tem que pagar/recolher/depositar de encargos sociais,

temos os seguintes encargos sociais básicos sobre o total da folha de pagamento.


Relacionaremos esses encargos sociais por partes, uma vez que o tratamento de cada parte

é diferente da outra. Veremos, então, primeiro os encargos sociais da 1ª parte, devidamente

identificada, em seguida os encargos sociais da 2ª parte, também devidamente


identificada, e finalmente os encargos sociais da 3ª parte, devidamente identificada.
// Encargos Sociais – 1ª parte:

INSS (Contribuição à Previdência Social):

Empresas não optantes pelo Simples Nacional = alíquota de 20% sobre o total das
remunerações pagas no mês aos segurados empregados

FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) = 8%;


Salário-educação = 2,5%;

SESI/SESC = 1,5%;

SENAI/SENAC = 1%;

SEBRAE = 0,6%;

INCRA = 0,2%;

RAT (Risco de Acidente de Trabalho, variando conforme o grau de risco, 1%, 2%,
3%) = 2%.

Isso perfaz um percentual total de 35,80% de encargos sociais básicos (1ª parte).

ESTIMAÇÃO E CONTABILIZAÇÃO DA
FOLHA DE PAGAMENTO
Além desses encargos sociais básicos, ainda temos outros. Eles são decorrentes da
incidência dos encargos já vistos, aqueles básicos, sobre a folha de pagamento ou de
eventos trabalhistas, conforme os dias trabalhados ou produtivos (dias úteis). São eles
os encargos sociais da 2ª parte:

// Encargos Sociais – 2ª parte:

Repouso Semanal Remunerado (RSR): supondo que um ano que tenha 52 domingos e
12 feriados, e um trabalhador que tenha gozado 25 dias de férias no ano (365 - 52 - 12 - 25
= 276 dias trabalhados), calcula-se:

52 domingos + 12 feriados =

64 dias/276 dias úteis =

0,2319, ou seja,
23,19% (0,2319 x 100)

Férias: foram considerados 25 dias para compensar a existência de 5 domingos nos dias
de férias, já considerados no RSR:

25 dias/276 dias úteis = 0,0905 = 9,05%

1/3 sobre férias:

30 dias/276 dias úteis= 0,1086/3 = 0,0363 = 3,63%

(Total das férias = 9,05% + 3,62% = 12,67%)

Feriados (oficiais):

12 dias/276 dias úteis = 0,0434 = 4,34%

13º salário:

30 dias de trabalho = 30 dias/276 dias úteis =

0,1086 = 10,86%

Aviso prévio indenizado:


30 dias/276 dias úteis =

0,1086 = 10,86%

Licença-paternidade: ocorre o nascimento de 1,5 filhos por ano por trabalhador,


conforme o Supremo Tribunal Federal (2007, item 2.3.5): “De acordo com o IBGE,
nascem filhos de 1,5% dos trabalhadores no período de um ano. Dessa forma a provisão
para este item corresponde a: ((5/30)/12) x 0,015 x 100 = 0,02%”

5 dias x 0,015 x 100 = 0,02%

Auxílio-doença e acidentes de trabalho: a empresa arca com a remuneração dos


primeiros 15 dias de afastamento e o INSS arca com a remuneração a partir do 16º dia de
afastamento nesses casos. As provisões são as seguintes:

De acordo com o Supremos Tribunal Federal (2007, item 2.3.4):

Levando-se em conta dados estatísticos divulgados pelo IBGE, em média, cada trabalhador
tem cinco faltas justificadas anuais, motivadas por algum tipo de doença; a provisão para
atender esse item corresponde a: (5/30)/12) x 100 =1,39%.

Ainda de acordo com o Supremo Tribunal Federal (2007, item 2.3.7):

De acordo com os números mais recentes apresentados pelo Ministério da Previdência de


Assistência Social, baseados em informações prestadas pelos empregadores, por meio da
GFIP, 0,78% dos empregados se acidentam no ano. Assim, a provisão corresponde a:
(15/30)/12) x 0,0078 x 100 = 0,03%.

Isso perfaz um percentual total de 63,36% de encargos sociais decorrentes sobre


remunerações/folha de pagamento e sobre eventos (2ª parte), que também são custos da
empresa, considerando – como recomenda a contabilidade – atitude conservadora.

Essa atitude conservadora pode ser entendida quando vemos que não podemos ter
certezas, podendo apenas supor que em um ano possa ocorrer, por exemplo, essa média
tanto para casos de demissão quanto de licença-paternidade, bem como para auxílios-
doença e acidentes de trabalho.

Sobre o percentual de 63,36% da 2ª parte de encargos pagos de forma direta na folha de


pagamento ao empregado da empresa, ainda ocorre um percentual de incidência dos
percentuais da 1ª parte, conforme os dias trabalhados pelo empregado. Dessa forma, para
as empresas não optantes pelo Simples Nacional, ocorre o seguinte cálculo:

Total de encargos da 1ª parte x Total de encargos da 2ª parte =

0,3580 x 0,6336 = 0,2268 x 100 = 22,683%

// Encargos Sociais – 3ª parte:

Ainda temos que considerar uma 3ª parte, que diz respeito à multa rescisória de 40% sobre
o saldo de direito que a empresa já depositou ou tenha que depositar em conta do FGTS
correspondente ao período trabalhado na empresa, a que o trabalhador fará jus nos casos
previstos na legislação.

Um desses casos previstos pela legislação é o da demissão por iniciativa da empresa, por
exemplo. Deve ser acrescido um adicional de 10% nesses casos, conforme a Lei
Complementar n. 110/01.
Conforme o Supremo Tribunal Federal (2007, item 2.4.4), o cálculo sobre a provisão que
cabe a empresa é o seguinte:

Multa FGTS – Rescisão sem Justa Causa – A Lei Complementar nº 110, de 29 de junho de
2001, determina multa de 50%, mas volta o depósito para 8,0%. Considerando que 10% dos
empregados pedem contas, essa penalidade recai sobre os 90% remanescentes. Dessa
forma, a provisão corresponde a: 8,0 x 0,5 x 0,9 = 3,6%.

Total dos encargos sociais das empresas não optantes pelo Simples Nacional:

(Incidências da 1ª parte sobre a 2ª parte) + (Totais da 1ª parte + Totais da 2ª parte) + (3ª


parte) = (22,85%) + (35,80% + 63,36%) + (3,6%) = 22,85% + 99,16% + 3,6% = 125,61%

// Contabilização da folha de pagamento

Como a contabilidade considera o regime de competência, a contabilização do salário e


remunerações de um mês de um empregado, mesmo que possam ser pagas no quinto dia
útil do mês seguinte, devem ser contabilizados no mês de sua competência, ou seja, no
mês a que se referem, no qual o trabalho do empregado que está sendo pago tenha sido
efetuado.

Da mesma forma, no caso de pagamento e gozo de férias, mesmo que seja exercido em
um dado mês ou período de um ano, sua contabilização (apropriação) deve ser mensal,
uma vez que as férias correspondem ao período de um ano trabalho, mês a mês.

O mesmo critério (apropriação mensal) também deve ser adotado para contabilização,
mensal do 13º salário, bem como de descontos como Imposto sobre a Renda Retidos na
Fonte (IRRF), INSS, vale-transporte, se houver para aquele empregado, Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e outros descontos ou pagamentos semelhantes.
Se, excepcionalmente, uma empresa não fizer essas provisões (apropriações) referidas,

elas serão apropriadas como custo ou despesa, quando realizar seu efetivo pagamento.

Na classificação contábil, bem como nas análises de custos e resultados, as remunerações

de salários e os encargos sobre os mesmos incidentes do pessoal das áreas administrativa


(e serviços internos) e comercial são considerados despesas operacionais, isto é, de apoio.
Já os salários e encargos sobre os mesmos incidentes do pessoal das áreas de produção e

de serviços-fim – também chamados de serviços-objeto – da empresa, destinados

diretamente ao mercado/clientes da mesma, são considerados como custos de produção.

O plano de contas de uma empresa deve apresentar contas que contemplem as

movimentações de valores da folha de pagamentos dos empregados.

Nos exemplos adiante, de preparação de contabilização de provisão de


Folha de Pagamento, temos os seguintes dados básicos de discriminação das
verbas, de descontos, de contribuição previdenciária e FGTS e de apropriação dos

encargos salariais da folha de pagamento:


Fonte: Registro Contábil. Acesso em: 17 jan. 2019. (Adaptado).

As movimentações e outros demonstrativos são gerados com base na Folha de


Pagamentos. Dentre os demonstrativos temos os do INSS e do FGTS, e podemos ter
alguns outros conforme opções administrativas complementares da empresa.

A contabilização de movimentações da Folha de Pagamento e de encargos sociais


apresenta muitas situações. Vamos apresentar algumas delas:

Na movimentação pela provisão no mês de competência do valor da Folha de Pagamento,


quanto aos salários a serem pagos no valor de R$ 100.000,00, temos os seguintes
lançamentos básicos:

D – Folha de Pagamento (Conta de Resultado - Despesa c/ Pessoal) ... R$ 100.000,00


C – Salários a Pagar (Passivo Circulante) ............................................. R$ 100.000,00

Por ocasião do pagamento dos salários dessa folha de pagamento no 5º dia útil do mês
seguinte, teremos os seguintes lançamentos básicos:

D – Salários a Pagar (Passivo Circulante) ............................................. R$ 100.000,00

C – Banco Conta Movimento ................................................................ R$ 100.000,00

Na movimentação de pagamento de adiantamento de um salário no valor de, por exemplo,


R$ 10.000,00, com IRRF no valor de R$ 1.880,64 referente ao mês de janeiro, teremos os
seguintes lançamentos básicos:

D – Adiantamento de Salários (Ativo Circulante) .................................... R$ 10.000,00

C – IRRF a Recolher (Passivo Circulante) ................................................. R$ 1.880,64

C – Banco Conta Movimento (Ativo Circulante) ........................................ R$ 8.119,36

E a movimentação do pagamento do IRRF retido na fonte sobre o adiantamento será


contabilizado com o seguinte lançamento:

D – IRRF a Recolher (Passivo Circulante) ................................................. R$ 1.880,64

C – Banco Conta Movimento .................................................................... R$ 1.880,64


ADIANTAMENTO DE CLIENTES E
FORNECEDORES

Quando queremos obter melhor organização e planejamento, procuramos diminuir


pendências e necessidades de controles que sejam mais intensos, ou em maior número ou
frequência, bem como diminuir os riscos e os custos que isso provoca.

Isso significa poder fazer mais e melhor. Quando não se acumula muita coisa, nada precisa
ser feito de forma atropelada e descontrolada.

Na gestão de tempo, isso significa não focar apenas no curto prazo, no mais urgente.
Embora seja crítico, não podemos substituir a necessidade de também focar no que seja
importante, no que exige ser feito em maior tempo e no que, geralmente, agrega e acumula
mais valor: o fluxo de médio e longo prazo. Essa abordagem nem sempre lembrada é
decisiva para a gestão patrimonial contábil das empresas.
Outra abordagem que também colabora para melhor planejamento e obtenção de
vantagens quanto ao uso do tempo como recurso e quanto a obter maior liquidez e
disponibilidade de curto prazo é o adiantamento de pagamento obtido de clientes, ou seja,
o pagamento antecipado que a empresa recebe do cliente antes de efetivar a entrega do
produto ou serviço.

Uma terceira abordagem é o adiantamento de pagamento a fornecedores em troca de


descontos obtidos, ou o sinal para encomendar melhor e com mais garantias de produtos
e/ou serviços de fornecedores, e outras formas que possam resultar em melhores
resultados financeiros em determinado prazo.

Como vemos, temos dois tipos de adiantamentos nesse caso: um obtido de clientes, e
outro concedido a fornecedores, com tipos distintos de benefícios que podemos obter.

Os motivos que podem levar a isso podem ser de natureza comercial ou financeira,
geralmente com benefícios diferentes, mas de certa forma de mútuo interesse entre
clientes e fornecedores, ou seja, entre uma empresa e seu cliente ou fornecedor.

// Adiantamento de clientes

São adiantamentos pagos por cliente à empresa, geralmente antes da entrega das
mercadorias serem entregues pela empresa ou mesmo antes do vencimento fixado para
pagamento da venda feita pela empresa ao cliente.

Um cliente pode adiantar encomendas e seus pagamentos para a empresa, por produtos ou
serviços que ainda serão efetuados, visando revenda, prestações de serviços, parcerias
diversas, campanhas conjuntas etc.
No caso de venda de mercadoria a um cliente por R$ 100.000,00, que fez um
adiantamento à empresa fabricante pela encomenda da mesma no valor de R$ 20.000,00, a
contabilização de um adiantamento de cliente é efetuada da seguinte forma básica:

Contabilização do Adiantamento:

D – Bancos Conta Movimento (Ativo Circulante) .................................... R$ 20.000,00

C – Adiantamento de Clientes (Passivo Circulante) ............................... R$ 20.000,00

Contabilização da Venda e Entrega da Mercadoria (NF emitida na entrega):

D – Clientes (ou seja, a receber de Clientes) (Ativo Circulante) ............. R$ 100.000,00

C – Receita de Vendas (Conta de Resultado – Receita) ....................... R$ 100.000,00

Não podem ser esquecidos os lançamentos correspondentes seguintes decorrentes, cujos


valores dos dados para efetuar precisam ser consultados (como, por exemplo, Valor do
Estoque da Mercadoria, ou mesmo o CMV etc.):

D – CMV (Conta de Resultado – Despesa)

C – Estoque de Mercadorias (Ativo Circulante)

D – Impostos sobre Vendas (Conta de Resultado – Despesa-ICMS, PIS, COFINS)


C – Impostos a Pagar (Passivo Circulante – ICMS, PIS, COFINS)

Contabilização da Baixa do Adiantamento:

D – Adiantamento de Clientes (Passivo Circulante) ............................... R$ 20.000,00

C – Clientes (Ativo Circulante) .................................................................. R$ 20.000,00

Contabilização do Saldo do Cliente:

D – Bancos Conta Movimento (Ativo Circulante) .................................... R$ 80.000,00

C – Clientes (Ativo Circulante) .................................................................. R$ 80.000,00

// Adiantamento a fornecedores

Adiantamentos a fornecedores permitem antecipar monetariamente uma dada aquisição,


possibilitando o recebimento da mercadoria que a empresa pagou de forma antecipada.

Geralmente esse adiantamento serve como um sinal, garantindo melhor providência da


empresa fornecedora em atender o pedido de compra feito pela empresa.

Um simples Recibo de Pagamento especificando o histórico desse adiantamento ao


fornecedor basta para contabilizar essa transação para fins de lançamento e direitos.
Não podemos confundir adiantamento a fornecedores, que é um ativo e é direito a exercer,
já que se trata de pagamento antecipado por recebimento futuro de mercadoria (portanto,
mercadoria ainda não recebida), com adiantamento de fornecedores, quando se trata de
obrigação (passivo) por adiantamento de recebimento de mercadoria entregue pelo
fornecedor (entregue antes pelo fornecedor à empresa antes de a mercadoria ser paga). A
Nota Fiscal correspondente deverá ser emitida e acompanhar a mercadoria por ocasião de
seu envio e entrega futuramente.

A contabilização do adiantamento ao fornecedor é bem simples:

Exemplo: adiantamento de R$ 40.000,00 por uma mercadoria de mesmo valor:

Pelo adiantamento do pagamento:

D – Adiantamento a Fornecedores (Ativo) ............................................. R$ 40.000,00

C – Banco Conta Movimento .................................................................. R$ 40.000,00

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