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br Artigos de Pesquisa
ISSN 2179-7994

Prevenção quaternária e práticas integrativas e complementares (II):


aproximação contextual
Quaternary prevention and integrative and complementary practices (II):contextual approach
Prevención cuaternaria y prácticas integradoras y complementarias (II): enfoque contextual
Charles Dalcanale Tesser1 , Armando Henrique Norman1
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis, SC

Resumo
Introdução: A prevenção quaternária (P4) pode envolver o uso de práticas integrativas e
complementares em saúde (PICS), que progressivamente têm sido ofertadas na atenção primária à
saúde (APS). Objetivo: Discutir aspectos contextuais do cuidado na APS que facilitam o exercício de
PICS como prática de P4. Métodos: Ensaio em perspectiva hermenêutica, que envolve compreender
a literatura selecionada (‘reconstrução’) e dialogar com as práticas atuais da P4 (‘integração’), para
ampliar seus horizontes. Resultados e discussão: Vários fatores dificultam o uso de PICS como
P4 na APS. Um deles é a evocação da medicina baseada em evidências (MBE) como avaliadora
da eficácia das PICS. Todavia, cinco conjuntos de argumentos contextuais facilitam esse uso: (1)
Uma abordagem crítica da MBE frente à P4 e às PICS; (2) A compreensão da colonização das PICS
pela biomedicina; (3) A segurança contextual derivada da longitudinalidade do cuidado na APS; (4)
A influência do espectro de gravidade clínica dos usuários na APS na consideração da eficácia; e
(5) As limitações inerentes à MBE associadas ao conhecimento de outras racionalidades médicas
e PICS pelos profissionais podem enriquecer a prática da P4. Para isso, as PICS - especialmente
em racionalidades médicas vitalistas - deveriam ser contextualizadas e alinhadas com os valores
e preferências dos usuários. Conclusão: Uma gama de PICS e evidências científicas compõem
diversas fontes de conhecimento na APS que podem contribuir para a P4 na tomada de decisão
clínica. As PICS como estratégia de P4 são possíveis, justificadas e deveriam ser estimuladas tendo
em vista a complexidade do cuidado no contexto da APS, principalmente no espectro de baixa a
média gravidade clínica.
Palavras-chave: Prevenção Quaternária; Terapias Complementares; Atenção Primária à Saúde;
Medicina de Família e Comunidade; Programa de Estímulos e Incentivos.

Autor correspondente:
Charles Dalcanale Tesser.
E-mail: charles.tesser@ufsc.br
Fonte de financiamento:
CNPq / Bolsa produtividade (Proc.
303999/2018-7).
Parecer CEP:
não se aplica
Procedência:
não encomendado.
Avaliação por pares:
Como citar: Tesser CD, Norman AH. Prevenção quaternária e práticas integrativas e externa.
complementares (II): aproximação contextual. Rev Bras Med Fam Comunidade. 2021;16(43):2566. Recebido em: 10/06/2020.
https://doi.org/10.5712/rbmfc16(43)2566 Aprovado em: 17/02/2021.

Rev Bras Med Fam Comunidade. Rio de Janeiro, 2021 Jan-Dez; 16(43):2566 1
Prevenção quaternária e práticas integrativas e complementares

Abstract
Introduction: Quaternary prevention (P4) may involve the use of integrative, complementary and alternative medicine (I&CAM), which have been progressively
offered in primary health care (PHC). Objective: To discuss contextual aspects of PHC care that facilitate I&CAM as a P4 practice. Methods: Hermeneutic
perspective essay, which involves the understanding of selected literature (‘reconstruction’) and a dialogue with the current practices of P4 (‘integration’) to
broaden its horizons. Results and discussion: Several factors hinder the use of I&CAM as P4 in PHC. One of them is the evocation of evidence-based
medicine (EBM) as an evaluator of the effectiveness of I&CAM. However, five sets of contextual arguments facilitate the use of I&CAM in PHC: (1) Critical
approach by EBM to P4 and I&CAM; (2) Understanding I&CAM colonisation by biomedicine; (3) Contextual security derived from the longitudinality of care in
PHC; (4) Patients’ clinical severity spectrum in PHC and effectiveness; and (5) The limitations inherent to EBM associated with health professionals’ knowledge
on I&CAM and other medical rationalities can enrich and contribute to P4 practice. For this, I&CAM - especially in vitalistic medical rationalities - should be
contextualised and aligned with patients’ values and preferences. Conclusion: A range of I&CAM and scientific evidence compose several sources of
knowledge in PHC that can contribute to P4 in clinical decision-making. The I&CAM as P4 strategy is possible, justified, and should be stimulated in view of
the complexity of care in the context of PHC, especially in spectrum of low to medium clinical severity.
Keywords: Quaternary Prevention; Complementary Therapies; Primary Health Care; Family Practice; Program for Incentives and Benefits.
Resumen
Introducción: La prevención cuaternaria (P4) puede implicar el uso de prácticas integrales y complementarias de salud (PICS), que se han ofrecido
progresivamente en la atención primaria de salud (APS). Objetivo: Discutir aspectos contextuales de la atención de APS que facilitan el ejercicio de PICS como
práctica de P4. Métodos: Ensayo en una perspectiva hermenéutica, que implica comprender la literatura seleccionada (“reconstrucción”) y dialogar con las
prácticas actuales de P4 (“integración”), para ampliar sus horizontes. Resultados y discusión: Varios factores dificultan el uso de PICS como P4 en APS. Una es
la evocación de la medicina basada en la evidencia (MBE) como evaluador de la efectividad de PICS. Sin embargo, cinco conjuntos de argumentos contextuales
facilitan este uso: (1) Un enfoque crítico de MBE para P4 y PICS; (2) La comprensión de la colonización de las PICS por la biomedicina; (3) Seguridad contextual
derivada de la longitudinalidad de la atención en APS; (4) La influencia del espectro de severidad clínica de los usuarios en APS al considerar la efectividad;
y (5) Las limitaciones inherentes a la MBE asociadas con el conocimiento de los profesionales de salud sobre PICS y otras racionalidades médicas pueden
enriquecer y contribuir a la práctica de P4. Para esto, las PICS - especialmente en racionalidades médicas vitalistas - deberían ser contextualizadas y alineadas
con los valores y preferencias de los pacientes. Conclusión: Una variedad de PICS y evidencia científica componen varias fuentes de conocimiento en la APS
que pueden contribuir para la P4 en la toma de decisiones clínicas. Las PICS como estrategia de P4 son posibles, justificadas y deberían ser estimuladas en
vista de la complejidad de la atención en el contexto de la APS, especialmente en el espectro de baja a media gravedad clínica.
Palabras clave: Prevención Cuaternaria; Terapias Complementarias; Atención Primaria de Salud; Medicina Familiar y Comunitaria; Programa de
Estímulos e Incentivos.

Introdução
Prevenção quaternária (P4) é a ação de identificar pacientes em risco de sobremedicalização, para protegê-
los de novas invasões médicas e sugerir-lhe intervenções eticamente aceitáveis1. Na atenção primária à saúde
(APS), a P4 geralmente é operacionalizada por meio da utilização crítica, competente e judiciosa dos recursos
diagnósticos e terapêuticos biomédicos associados com uma abordagem clínica holística e centrada no usuário.
As práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) são saberes/técnicas e produtos para
cuidado à saúde-doença que não pertencem à mainstream medicine2. Elas incluem sistemas médicos
complexos, ou racionalidades médicas3 (RM) e outras práticas complementares (PCs), que vem se inserindo
nos serviços da APS2. No Brasil, desde 2006, algumas PICS vem sendo estimuladas no SUS4 e atualmente
sua diversidade aumentou para 29 modalidades, com a maior parte da sua oferta ocorrendo na APS5.
Várias PICS têm potencial de serem utilizadas como prática de P4, ao estimularem o autocuidado,
contribuírem na redução de excessos da biomedicina e consequente sobremedicalização do sofrimento
humano. Elas permitem enriquecer a observação assistida e trazem saberes de outras RM para interpretação/
ação em relação aos adoecimentos. Com isso, podem ampliar eticamente as alternativas e os diálogos
sobre os planos terapêuticos, otimizando o centramento do cuidado no usuário e o estímulo à autocura6.
Porém, a utilização de PICS como P4 na APS brasileira enfrenta dificuldades contextuais diversas.
Há incertezas sobre a eficácia de muitas PICS. Elas raramente são ensinadas nos cursos de graduação,
gerando relativo desconhecimento das PICS pelos profissionais. Há carência de regulamentação das

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formações e de habilitação para o exercício de muitas PICS7. Também é comum haver sobrecarga dos
profissionais, devido ao subdimensionamento da APS no país. Além disso, as PICS concorrem com a
necessidade de melhoria da qualidade do cuidado convencional da APS, agravado pela escassez de
médicos de família e comunidade (MFCs)8. Todavia, outros fatores contextuais facilitam a utilização de
PICS na APS. Eles devem ser considerados na construção de uma compreensão da interface entre P4 e
PICS, pois contribuem para atenuar fatores dificultadores.
O objetivo deste artigo é discutir aspectos do contexto da APS que facilitam o exercício de PICS como
prática de P4. Esse tema é raramente desenvolvido na literatura sobre P4 e este ensaio visa contribuir
para suprir esta lacuna. Trata-se de um ensaio com perspectiva hermenêutica, cuja metodologia envolve:
(1) Compreender o sentido da literatura selecionada (‘reconstrução’’); e (2) Dialogar com as práticas atuais
da P4 (‘integração’), abrindo horizontes de possibilidade9. Devido a ênfase prática da P4, focamos na
integração. O texto está estruturado em tópicos apresentados sem ordem de relevância.

P4 e a eficácia dos cuidados com PICS

Os profissionais de saúde procuram ofertar tratamentos com eficácia relevante. Por isso, não basta as
PICS serem pouco iatrogênicas ou menos medicalizantes. Para serem utilizadas como P4, elas devem ter
também eficácia suficiente. A medicina baseada em evidências (MBE) tem orientado a avaliação das PICS.
Para vários problemas de alta prevalêcia e relevância na APS, há evidências de benefícios significativos de
algumas PICS. Por exemplo, para dor lombar crônica existem efeitos benéficos do yoga, acupuntura, osteopatia,
hipnose, tai chi chuan, massagens terapêuticas e terapia de exercícios10. Há evidências convergentes e positivas
de segurança11 e eficácia do tratamento complementar com auriculoterapia para problemas osteomusculares
(incluindo lombalgia)12 e dores13, insônia14,15, sintomas mentais comuns (ansiedade16) e situações crônicas
(obesidade17,18,19). Há cada vez mais revisões e metanálises para muitas PCs e práticas de RM vitalistas, como
yoga20, tai chi chuan, meditação etc. Há PICS com maior acúmulo de evidências favoráveis, como por exemplo,
mindfulness21,22. A cada PICS considerada há que se revisar cuidadosamente a literatura científica.
É quase regra que a qualidade das evidências sobre eficácia de PICS seja considerada baixa, embora muitas
vezes elas sejam positivas e convergentes. Por exemplo, a primeira avaliação das revisões sobre acupuntura
para ansiedade incluiu 10 revisões publicadas entre 2007 e 2018. Os resultados são convergentes e positivos e
“a qualidade metodológica da maioria das revisões incluídas e a qualidade das evidências eram baixas”23 (p.252).
A MBE é a certificadora cientíica atual da eficácia, inclusive das PICS. Entretanto, para isso é necessário
saber avaliar as evidências e ter competência em PICS, sobretudo no caso de RM (ver adiante ). Essas duas
competências raramente andam juntas, o que complica a situação. Existem também preconceitos e manipulações
grosseiras das evidências. Dois exemplos sobre homeopatia e acupuntura ilustram esses problemas.
Sobre a homeopatia, há ignorância ou negação das evidências científicas24. Isso gera preconceitos,
perpetuados pela sua ausência nos cursos de medicina, com um “falso jargão repetidamente evocado
que diz não existirem evidências científicas que embasem o tratamento homeopático”25 (pp.1393-4). É
possível traduzir parte dos saberes homeopáticos em linguagem biomédica26. Até 2017 (desde 1991),
havia sete grandes revisões sistemáticas com metanálises e seis delas foram favoráveis à homeopatia27.

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A única revisão desfavorável28 foi publicada no Lancet em 2005 e teve repercussão mundial, com editoral
declarando o fim da homeopatia29. Logo vieram à tona sérios problemas metodológicos que mostraram que
os oito ensaios metanalisados não eram representativos da homeopatia27,30,31. Apenas 16% dos ensaios
selecionados inicialmente na revisão - e nenhum dos oito metanalisados -representavam a metodologia
homeopática de individualização do tratamento32. Isso indica forte desprezo pelos aspectos cognitivos e
metodológicos da RM homeopática.
Houve manipulação espúria na diretriz clínica para dor lombar do The National Institute for Health
and Care Excellence (NICE)33,34 de 2016 e 2018. A acupuntura mostrava-se eficaz em ensaios clínicos35
e revisões36,37. Mas em vez de comparar sua eficácia com o tratamento farmacológico, placebo ou não-
tratamento, o NICE primeiro comparou acupuntura com acupuntura falsa (sham), exigindo uma diferença
minimamente importante (MID)38 entre ambas. A Figura 1 mostra que a acupuntura seguida de sham são
mais eficazes que medicação convencional e placebo.

Figura 1. Evidências sobre acupuntura na dor lombar e na diretriz do NICE*


Legenda: *NICE: The National Institute for Health and Care Excellence
Fonte: lado esquerdo: material didático gentilmente cedido por Dr. Ari O.O. Moré, baseado em Cummings 35
e MacPherson 34. Lado direito: destaque do
infográfico de Bernstein et al. 38.

Porém, a diferença pequena entre acupuntura e sham (frente ao critério de MID adotado) eliminou
a acupuntura (lado direito da Figura 1) da diretriz, que é considerada de alta qualidade39. O padrão de
MID foi aplicado de forma desigual e inconsistente, rigidamente na acupuntura e vagamente para outras
intervenções34. A partir das evidências, essa eliminação não é justificável.
A crise da MBE envolve o reconhecimento da manipulação dos ensaios clinicos e metanálises
vinculados a interesses escusos (indústrias das biotecnologias)40. Veja-se o uso das estatinas em prevenção
primária: insignificante clinicamente, repleto de danos obscuros e importantes e de conflitos de interesses.
Tal uso foi aceito pelas instituições e médicos via MBE41.

Colonização das PICS pela biomedicina via MBE

Na institucionalização de várias PICS existe a imposição de padrões teórico-metodológicos


biomédicos42,43, desqualificando e desvalorizando os saberes das PICS44, especialmente das RM vitalistas.

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No entanto, razões epistemológicas apoiam a abertura da mentalidade para estudo e experimentação de


outras RM e PCs. Na MBE impera um positivismo quase ingênuo, como se as evidências equivalessem
a fatos objetivos do mundo. A visão positivista não é considerada um relato abrangente da investigação
científica há quatro décadas45, mas isso não teve impacto na biomedicina e na MBE.
Uma primeira crítica ao positivismo é que a observação é carregada de teoria, crenças, valores e
suposições básicas. Mesmo em experiências controladas não existe uma percepção objetiva da natureza
das coisas. As obras de Kuhn46 e de outros filósofos mostraram essa complexidade. Uma segunda crítica
veio da tese de Duhem-Quine47, que afirma que as teorias científicas são subdeterminadas pelos dados. As
escolhas teóricas não são determinadas exclusivamente pela ‘evidência’. Qualquer conjunto de evidências
pode apoiar numerosas, até contraditórias, teorias. A eleição de uma teoria demanda adoção de critérios
extra-empíricos, sujeitos aos preconceitos, interesses e agendas de pesquisadores e financiadores. A
ocultação sistemática desses elementos extra-empíricos da literatura científica facilita a utilização das
evidências como instrumento político: interesses específicos são obscurecidos pelo discurso aparentemente
neutro. Posteriormente, epistemólogos feministas mostraram as premissas androcêntricas subjacentes ao
pensamento e práticas científicas48.
A situação é complexa e requer atenção especial à abordagem biomédica das PICS, sobretudo das
RM vitalistas. Após constatada sua grande e crescente procura pelas populações ocidentais, mudou-
se a perspectiva, considerando-as complementares. Depois veio a atual onda de integração (medicina
integrativa). Porém, chama a atenção a forma autoritária e corporativista com que várias PICS têm sido
tratadas via MBE, descrita e interpretada como ‘colonialismo’: um processo de controle político e apropriação
violenta41,42,49-53, que produz injustiça cognitiva54. Quando não é exitosa a apropriação, que adapta/
transforma parte de uma PICS, ocorre sua desqualificação sumária ou eliminação. Santos55 considera isso
‘epistemicídio’: um desperdício de experiências/saberes desenvolvidos pelas sociedades e culturas. Este é
um argumento a favor de PICS como estratégia de P4 na APS, ao abrir alternativas éticas e culturalmente
apropriadas no cuidado clínico. Já exemplificamos acima a desqualifiicação dos saberes homeopáticos
na MBE. Quanto à acupuntura, mais incorporada/colonizada, há defensores da eliminação dos saberes
tradicionais chineses, devendo sua prática se basear apenas na biociência56.

A segurança contextual da longitudinalidade na APS

A expertise biomédica dos profissionais e o contexto dos cuidados longitudinais da APS funcionam
como mecanismos de segurança para as pessoas que são tratadas com PICS. Ela contribui para contornar as
dificuldades de regulamentação e padronização da formação e habilitação em PICS, tanto RM como PCs57.
A longitudinalidade e o acesso permitem apreciação de PICS usadas na APS sob a lente do cuidado integral
(incluindo a biomedicina) e centrado na pessoa. Isso é relevante por que calibra a eficácia da intervenção com
PICS e contorna o problema do grau de aprofundamento profissional dos praticantes na APS brasileira - visto que
são geralmente híbridos: provedores de cuidados convencionais e com PICS (embora vários obtenham plena
qualificação em alguma PICS). A maior parte dos praticantes de PICS na APS são profissionais da Estratégia
Saúde da Família (ESF) e dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF)58.
O contexto institucional da APS também oferece proteção. PICS constituem um mercado crescente,
cujas regras podem desviar seu exercício para direções medicalizantes59. A APS, sendo serviços de saúde
públicos, protege relativamente os seus profissionais dessas forças de mercado59,60.

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Por fim, outra razão a reforçar a segurança contextual da APS foi descrita por Raaphorst e Houtman61.
Entrevistando MFCs holandeses praticantes de PICS, observaram que, mesmo preferindo PICS, os profissionais
usavam a biomedicina por razões pragmáticas – em situações agudas ou com risco de vida, para responder
à demanda por tratamento biomédico e obedecer a regulamentos e protocolos oficiais. O contexto da APS e a
dominância social/institucional biomédica impõem uma domesticação mútua de PICS e biomedicina.

O espectro de gravidade clínica no contexto da APS

Na APS há um espectro de severidade dos adoecimentos, que vão de raros quadros muito graves
a uma miríade de quadros leves de pouca ou nenhuma gravidade. Estes últimos são comumente tratados
com fármacos sintomáticos, iatrogênicos e medicalizantes, e essa situação é um importante facilitador da
utilização de PICS como P4 (Figura 2).

Figura 2. Espectro de gravidade das situações clínicas na APS


Fonte: elaboração dos autores, baseados em Norman e Tesser 60

A grande maioria dos usuários tem risco clínico baixo ou médio, predominando o baixo (elipse da
Figura 2)60. São ricos em sintomas, vários pouco enquadráveis na nosologia biomédica ou “medicamente
inexplicáveis”. Nesses casos há grande potencial de uso de PICS desde que: (a) a PICS empregada seja
conhecida suficientemente pelo terapeuta; (b) esteja amparada na avaliação de gravidade; (c) a adequação
terapêutica seja suficientemente problematizada pelo profissional; (d) a prática seja culturalmente aceita
em decisão compartilhada com o usuário; e (e) ‘inexistam’ evidências científicas de boa qualidade que não
recomendem PICS por questões de segurança do paciente e eficácia da intervenção. Embora para várias PICS
não haja conclusões robustas devido à baixa qualidade ou falta dos ensaios clínicos, isso não deve obstruir
o uso. Ausência de evidência não significa evidência de ausência de eficácia. Entretanto, existem revisões
sistemáticas de boa qualidade apoiando o uso de várias PICS, que são pouco estudadas e incorporadas nas
graduações, programas de residência e manuais clínicos. Além disso, a abordagem singularizada de RM
vitalistas é dificilmente contemplada nas metodologias dos estudos da MBE (ver adiante).
Esses critérios contextuais construídos pessoa a pessoa e PICS a PICS fornecem um ambiente
especialmente favorável às PICS e coerente com a P4: pode haver redução de danos e de sobremedicalização no
baixo/moderado risco ao se oferecer intervenções que respeitem a fisiologia e/ou estimulem forças de autocura6.

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Atenção primária à saúde: PICS, MBE, preferências e valores em contexto

Analogamente aos tratamentos biomédicos, na maioria das situações de baixo/médio risco, o uso da
MBE deve ocorrer de modo relativizado. A MBE deve ser considerada quando ela indicar não haver eficácia
com presença de iatrogenia. Todavia, a MBE não abarca a complexidade do cuidado personalizado, mesmo
o convencional62, e ainda mais o realizado na APS. Ela exclui as peculiaridades individuais e sintomáticas,
as multimorbidades comuns, os idosos etc. Adicionalmente, quadros clínicos mistos e sintomas não
enquadráveis são geralmente excluídos dos ensaios clínicos. Esses são os pacientes reais e complexos
da APS60. Assim, a empiria e expertise dos profissionais e pacientes na utilização das PICS, bem como
seus valores, concepções e sua percepção sobre os resultados são muito relevantes. A diferença é que
a segurança de várias PICS desponta como vantagem nesse cenário, reforçando a possibilidade de sua
associação estratégica com a P4.
Além disso, a eficácia do cuidado convencional no baixo/médio risco muitas vezes é pequena,
pouco ou não superior ao placebo. Comumente essa eficácia é apenas sintomática, com efeitos adversos
consideráveis, e nem sempre o paciente está ávido apenas por supressão sintomática química, se houver
outras alternativas. Nesses casos, várias PICS podem ser utilizadas como estratégia de P4, desde que
conhecidas, seguras e compatíveis com preferências, crenças e valores dos pacientes e profissionais60,61.
Contudo, é compreensível que esta abordagem cause uma certa estranheza devido a hegemonia da cultura
biomédica, especialmente no momento atual.
As PICS englobam o que está fora da mainstream medicine e isso pode conduzir ao entendimento
de que todos os tratamentos, inclusive os farmacológicos, sem evidências de eficácia estão incluídos nelas
e na discussão aqui realizada. Apesar de isso ser um nonsense, comentamos alguns pontos pertinentes.
Há imprecisão nos critérios técnicos de inclusão de técnicas ou práticas no conjunto das PICS. Não há
consenso sobre o que pode ou deve ser considerado PICS. Trata-se de um conceito guarda-chuva que exige
cautela; mesmo a lista oficial do SUS com 29 PICS é questionável. Parece-nos que uma diretriz geral pode
ajudar na avaliação caso a caso: elas são geralmente técnicas e produtos provenientes de uso popular e/ou
desenvolvidos por curadores em várias sociedades, externos ao ambiente científico. Isso não é o caso, por
exemplo, dos fármacos utilizados no “kit para tratamento precoce” do covid-19, defendidos inclusive no meio
médico e suas entidades de classe63. Tais fármacos (e outros em geral) ‘pertencem’ à RM biomédica e devem
ser avaliados via MBE64, o ambiente ‘natural’ de sua testagem e validação, de um ponto de vista epistemológico,
sociocultural e ético. Da mesma forma, a ozonioterapia (da lista ministerial de PICS) é mais próxima do tratamento
com câmara hiperbárica do que das PICS, e deveria talvez ser incluída na biomedicina.
PCs que não envolvem grande expertise para diagnose e terapêutica, cuja elaboração/estruturação
epistemológica não é robusta e cuja aplicação não é singuralizada podem ser mais facilmente testadas.
Sendo a lógica de aplicação relativamente semelhante à da biomédica (usar ‘Y’ para tratar a doença/
sintoma ‘X’), tais PCs devem ser balizadas pela MBE, com os cuidados mencionados.
PICS sofisticadas epistemologicamente, como RM vitalistas, que incluem cosmologias e doutrinas
elaboradas, diagnose sistemática e terapêuticas coerentes envolvendo intervenções complexas,
geralmente com alto grau de individualização terapêutica3, são difíceis de testar pela MBE. As evidências
a seu respeito são mais comuns para práticas isoladas utilizadas para doenças/sintomas (apropriação
colonialista biomédica de terapêutica ‘estrangeira’). Isso tem pouco a ver com a eficácia de RM vitalistas e

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sua abordagem terapêutica, geralmente singularizada para cada paciente. Por isso, avaliações de outras
RM via MBE são raras.
A MBE baseia-se na observação da ocorrência repetida da conexão causa-efeito, detectada
estatisticamente: a mesma causa aplicada no mesmo/semelhante contexto gera o mesmo efeito. Um
tratamento “Y” atuando em muitos pacientes com doença/síndrome/sintoma “X” gera repetidamente uma
melhora (efeito). Isso dificulta a avaliação de relações causa-efeito mais complexas, singularizadas e/ou
exclusivas, que só ocorrem em um paciente62. Em tratamentos singularizados (casos das RM vitalistas),
as condições de reprodutibilidade e comparabilidade somem ou mudam drasticamente: não há mesmo
tratamento nem mesma situação repetidos. Passa a haver outra configuração: pessoas adoecidas são
avaliadas (segundo uma RM) e recebem tratamento personalizado (diferente para cada doente), que pode
mudar no tempo. Adaptações metodológicas vêm sendo desenvolvidas na MBE levando isso em conta,
modificando os ensaios clínicos para ficarem mais pragmáticos65 e potentes para avaliação de intervenções
complexas, comuns em PICS66.
Entretanto, o grosso da MBE atual tende à postura colonialista acima mencionada, havendo
relativamente poucos estudos que respeitam os saberes e métodos das RM vitalistas. Quando esse respeito
ocorre, os resultados parecem tender a detecção positiva de eficácia nessas RM, a exemplo da homeopatia
(embora a maioria das revisões sistemáticas violem esse ‘respeito’ nos seus critérios de inclusão)27 e da
medicina tradicional chinesa67. Doutra parte, métodos de investigação qualitativos são possíveis, mas têm
sido sistematicamente subvalorizados62.
Por fim, as diferenças cosmológicas, doutrinárias e terapêuticas entre RM distintas quando
confrontadas demandam decisões clínicas contextualizadas e singularizadas. A abordagem biomédica
oferece como terapêutica principal, geralmente, fármacos padronizados por doenças/sintomas. Os
pacientes e profissionais conhecedores de PCs/RM vitalistas podem preferir abordagens mais holísticas
e personalizadas. O cuidado longitudinal, o acesso facilitado e a expertise biomédica dos profissionais na
APS, além de protetores, desempenham um papel de mediação nos conflitos paradigmáticos quanto à
terapêutica. Por exemplo, no caso de uma amigdalite em um jovem de 30 anos, a decisão compartilhada
entre médico praticante de homeopatia e paciente sobre o tratamento (antibiótico vs remédio homeopático)
deve levar em consideração riscos e benefícios e a construção de uma rede de segurança. Se houver RM
vitalistas e outras PCs na APS, aumentam as opções terapêuticas eticamente aceitáveis, os diálogos e as
decisões compartilhadas68, o que pode contribuir para redução de danos e da sobremedicalização (P4).
O uso de PICS como P4 na APS requer aprendizado sobre algumas delas. Iniciativas ainda pequenas
de formação introdutória em PICS estão sendo produzidas no SUS, com resultados promissores. Um
curso semipresencial de auriculoterapia ofertado a profissionais da APS brasileira capacitou quase 10000
profissionais. Pesquisa após dois anos do início das edições do curso, via questionário digital enviado a
5703 profissionais, respondido por 2982 deles (52%), constatou que ¾ dos egressos referiram praticar
auriculoterapia após o curso, com resultados clínicos percebidos e aceitação dos usuários bons ou ótimos
em mais de 90% das respostas69,70; e com um aumento de 10,4 vezes na prática de auriculoterapia na
APS de 2017 a 2019 creditado ao curso71. Um curso introdutório de acupuntura vem sendo ofertado aos
médicos da APS e residentes de MFC de Florianópolis-SC desde 201172, com ampla inserção desta prática
na APS, hoje ofertada em 82% dos Centros de Saúde municipais73.

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Embora a inserção de PICS nas graduções, residências e especializações das universidades


públicas seja pequena, vários profissionais têm procurado formação em PICS por conta própria, o que faz
com que eles sejam os protagonistas da lenta expansão das PICS na APS brasileira58.

Considerações finais
Os argumentos acima confrontam a defesa de um suposto monopólio da MBE sobre a legitimação
de todas as PICS e sobre a P4, até porque esta última é anterior àquela74. Tendo desenvolvido seu saber/
prática e angariado sua legitimidade social atual, a biomedicina parece incontornável, especialmente para
situações de alta gravidade. Porém, tais situações são raras na APS e nas demais situações várias PCs/RM
conhecidas podem, conforme discutido, diversificar o cuidado e a prática da P4.
A P4 requer um olhar crítico sobre a biomedicina/MBE e sobre as PICS. Assim, a abordagem da
P4 deve ser aplicada à MBE ao mesmo tempo em que se beneficia dela74. A complexidade da P4 requer
um ajuste constante da compatibilidade e adequação de diversos saberes simultaneamente: aplicar a
MBE para avaliar PICS, aplicar P4 à MBE e utilizar PICS como estratégia de P4, contornando limitações
da biomedicina e da MBE, conforme as situações, opções e preferências de profissionais e usuários.
Muitos profissionais atribuem grande parte da sua responsabilidade epistemológica na elaboração
diagnóstica e terapêutica à MBE e seus algoritmos. Entretanto, essa não é a melhor prática para a excelência
dos cuidados na APS75. A complexidade do cuidado clínico na APS deve ser informada, quando possível, pela
MBE, porém não deve se limitar à ela. Isso vale também para a prática da P4, à qual se pode associar PICS. A
responsabilidade epistemológica deve ser centrada nos profissionais, em parceria com os usuários, estes sendo
o centro do cuidado76 e da P4. “A ciência [a MBE] é apenas uma forma de conhecimento ... ao lado de uma ampla
gama de outras fontes de saber [inclusive várias PICS] para uma boa tomada de decisão clínica”76 (p.985). Os
fatores contextuais abordados indicam grande potencial para a utilização de PICS como P4 na APS. Esse uso
deve ser debatido, experimentado e investigado empiricamente.

Contribuição dos autores


Concepção e redação da primeira versão: CDT. Revisão crítica, interpretação e redação de versões
sucessivas até a versão final: CDT e AHN.

Conflitos de interesse
Este trabalho não envolve nenhum conflito de interesse

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