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PESQUISADORES CONVIDADOS
Sylvia Ficher e Pedro P. Palazzo
PROJETO CULTURAL
Leonardo Góis / Curadoria
PRODUÇÃO EXECUTIVA
Rafaella Rezende / Três Produz
PROJETO GRÁFICO
Danilo Fleury / Coarquitetos
GESTÃO DE MÍDIAS
Michelle de Fátima / Mica Design & Cultura
ASSISTÊNCIA DE PESQUISA
Taiza Naves
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Rogério Cursino Guimarães
ASSESSORIA DE IMPRENSA
Objeto Sim
maíra oliveira guimarães
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
ISBN 978-65-00-13970-9
20-52133 CDD-700.981
Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal
Índices para catálogo sistemático:
HISTÓRIAS ANEXAS13
Pioneiros e estrangeiros numa capital sem moradias14
O edifício antes do museu23
Fontes32
Inconclusões113
Sylvia Ficher
Apenas sessenta anos, tão nova, e Niemeyer em Brasília. É nele que, a partir
Brasília já tem estórias insuspeitadas de 1960, irá fazer presença o personagem
para contar. Estórias pouco conhecidas, central da estória, ainda simples coad-
e que despertam nossa curiosidade. É juvante. Trata-se de um restaurante,
quase uma saga em quatro atos que Maíra integrando o conjunto de edificações, a
Oliveira Guimarães nos oferece para maioria delas já desaparecidas, que se
revelar os percalços inscritos nas paredes fizeram necessárias para complementar
de um modesto prédio que abriga – ou o prestigioso Brasília Palace Hotel, outra
tenta abrigar – um museu de arte. obra prematura do arquiteto carioca. Boa
ocasião para se assistir às carências coti-
Abrindo a trama, entra em cena o debate dianas daquela que não passava de um
em torno da necessidade de um museu esboço de cidade, quando são retratadas
de arte para a nova Capital Federal, insti- as contingências e precariedades que
tuição da qual Lucio Costa não havia se enfrentavam seus moradores e visitantes.
esquecido na sintética concepção de seu
plano piloto. Debate que já se colocava Tentando alcançar seu destino, é esse
desde antes da inauguração da cidade mesmo prédio que, perdida a sua função
em abril de 1960. Tanto assim que não original e depois de ter abrigado uma
foi mero acaso que sete meses antes, variedade de usos, passa a protagonista
em setembro de 1959, aqui se realizava o em 1985. Para sediar o almejado Museu
Congresso Internacional Extraordinário de Arte de Brasília e receber o importante
de Críticos de Arte, do qual participam patrimônio amealhado pelo Governo do
alguns dos mais destacados historiadores, Distrito Federal. Mas o enredo não se
teóricos e arquitetos da época. desenrola a contento, há empecilhos
de toda ordem para adaptá-lo à nobre
A próxima cena ocorre em território de finalidade. Como os embates tão corri-
alto valor simbólico nas proximidades do queiros em ambiente artístico, ou a acir-
recém-concluído Palácio da Alvorada, rada polêmica que cercou a sua criação,
primeira obra monumental de Oscar ou as dificuldades para caracterizar qual
1
o perfil de seu acervo. Apesar do abre e
fecha nesse acidentado percurso, mesmo
assim o MAB pôde receber exposições de
envergadura então inédita na cidade.
2 3
UMA CAPITAL NACIONAL
SEM UM MUSEU NACIONAL
Discuti, discordai à vontade. Sois críticos, a insatisfação é vosso clima. Mas
de uma coisa estou certo – e a vossa presença aqui é testemunha disto –
com Brasília se comprova o que vem ocorrendo em vários setores das nossas
atividades; já não exportamos apenas café, açúcar, cacau – damos também
um pouco de comer à cultura universal.
5
tivesse sido concretizado, tal museu seria
exatamente o tipo de instituição impor-
tante almejada por Valerie Fraser (2003).
2. Participantes do
Congresso Internacional de
A sugestão acolhida por Niemeyer,
Críticos de Arte em visita
entretanto, seria bem mais simples, a
às obras de Brasília, 1959.
de “um museu para um homem comum”.
Flávio D’Aquino, crítico de arte e um dos
primeiros arquitetos contratados pela
3. Mário Pedrosa no
Novacap, recomendou em carta enviada
Congresso Internacional
a Lucio Costa que a instituição fosse
de Críticos de Arte em
“acolhedora, sem falsa monumentalidade
Brasília, 1959.
ou demasiada severidade”. Ao contrário
de Mário Pedrosa, defendeu que um
6 MAÍR A OLIVEIR A GUIMAR ÃES Uma capital nacional sem um museu nacional 7
O edifício constituía-se em um pequeno
pavilhão elevado de planta quadrada,
conectado por meio de uma passarela a
um volume menor, no térreo, destinado
ao acesso principal, à administração e à
sala de leitura. O plano de necessidades
era simples como havia sido sugerido por
D’Aquino: cerca de mil metros quadrados
seriam destinados a espaços expositivos e
pouco menos de trezentos designados à
reserva técnica, localizada no pavimento
Flávio D’Aquino apresentou, então, de arte. Pertinente notar o alerta feito 5. Perspectiva da fachada
semienterrado, imediatamente abaixo
concepções gerais que iam de pleno por ele quanto à necessidade de coesão do projeto para o primeiro
do salão de exposições. Supõe-se que o
acordo com o Setor Cultural original- na definição do tipo de acervo: “Só em MAB, 1959.
6. Corte e fachada posterior projeto não tenha sido construído devido
mente proposto por Lucio Costa. Ao casos excepcionais aceitar-se-ia a doação
do projeto para o primeiro a uma priorização de investimentos nas
caracterizar a Esplanada dos Ministérios de obras de arte, a fim de impedir-se a
MAB, 1959. obras do Teatro Nacional, o vizinho
no Relatório do Plano Piloto, Costa (1957) criação de um acervo não previamente
monumental assinado por Niemeyer.
sugeriu que fosse implantado, entre a selecionado” (D’AQUINO, s/d).
Rodoviária e o Ministério da Educação,
Curiosamente, o bloco principal do
“um setor cultural tratado a maneira de Assim definido o programa, o projeto
museu apresentava características
parque para melhor ambientação dos do museu foi delegado ao arquiteto
compositivas bem parecidas com o
museus, da biblioteca, do planetário, e futebolista Otávio Sérgio Morais, à
restaurante do Anexo do Brasília Palace
das academias dos institutos, etc”. Tal época também a serviço da Novacap.
Hotel, também projetado em 1959.
localização tinha também um motivo Os projetos arquitetônicos e estruturais
Além de ambos se valerem de plantas
estratégico de aproximar esse parque à foram elaborados entre dezembro de
quadradas e possuirem um pavimento
Universidade de Brasília, que, a princípio, 1959 e janeiro de 1960. Nesse período,
em subsolo, os projetos apresentam uma
tinha sido localizada por Lucio Costa bem Niemeyer enviou cartas a Lucio Costa
das fachadas quase idênticas, com jane-
perto da Esplanada dos Ministérios. pedindo a definição exata da localização
lões de esquadrias de design intercalado.
do “museu do Flávio” e exprimindo a
Tais semelhanças, diga-se de passagem,
Quanto às obras do acervo para o Museu, intenção de construí-lo imediatamente
confundiram um pouco a pesquisadora.
Flávio D̀ Aquino defendeu que a aquisição (apud SÁ, 2014). Um ano depois do início
De qualquer jeito, o projeto do primeiro
deveria ser feita de maneira gradual, do processo, o projeto seria publicado na
MAB foi abandonado e seria justo o prédio
buscando montar um acervo eclético revista Módulo acompanhado por croquis
do restaurante, lá perto do Palácio da
com produções de jovens artistas nacio- e uma pequena planta de situação que 7. Corte e fachada lateral
Alvorada, que de fato abrigaria um Museu
nais e internacionais, cujos preços ainda localizava o museu na Esplanada dos do Restaurante do Anexo
de Arte de Brasília algumas décadas
fossem acessíveis. Para ele, o museu Ministérios, bem próximo ao Teatro do Hotel de Turismo, 1959.
depois.
deveria possuir poucas, mas boas obras Nacional (D’AQUINO, 1960).
8 MAÍR A OLIVEIR A GUIMAR ÃES Uma capital nacional sem um museu nacional 9
Fontes
O Setor de Hotéis e Turismo Norte tem que moravam nos Anexos do Brasília
uma história bastante peculiar, já que foi Palace Hotel.
o primeiro núcleo pioneiro de Brasília
construído dentro do que hoje conhe- Mas esse protagonismo foi, em poucas
cemos como Plano Piloto. Tenhamos décadas, sendo substituído pelo aban-
em conta que as localizações do Palácio dono. De um modo geral, foram muitos
da Alvorada e do Brasília Palace Hotel os desvios e os incidentes históricos que
foram determinadas antes mesmo que marcaram o território e suas arquite-
Lucio Costa concebesse as formas do turas, em especial, o pequeno prédio do
traçado da cidade. A partir de junho de restaurante do Anexo. Construído em
1958, quando as obras dessas edificações meio aos preparativos da inauguração da
foram concluídas, a área passou a ser o cidade, o edifício foi rapidamente subuti-
principal ponto de estadia e de entrete- lizado, passando a abrigar usos diversos,
nimento das várias autoridades políticas tais como boate, clube e casa de shows,
e intelectuais que visitavam Brasília, sem antes que, em 1985, fosse convertido no
contar na movimentação de candangos Museu de Arte de Brasília. Algumas das
que frequentavam a Churrascaria do circunstâncias que ditaram essas histó-
Lago, a Concha Acústica e, claro, aqueles rias serão narradas a seguir.
12 13
Pioneiros e estrangeiros
numa capital sem moradias
escalão”, uma vez que os apartamentos 2006). Isso sem contar que o Brasília Além dos visitantes, existiam os Yale Rewiew. A poetisa Elizabeth Bishop
do Brasília Palace eram destinados a polí- Palace era a acomodação oficial dos hóspedes. Alguns dias antes da inau- acompanhou o escritor Aldous Huxley
ticos, diplomatas e a visitantes estran- amigos e visitantes do Governo, vários guração, recebi numerosos pedidos, no numa visita à Capital em agosto de 1958,
geiros (MOREIRA, 1988). Por exemplo, em deles convidados estratégicos para a sentido de interceder juntos às auto- poucos dias depois do hotel ser inaugu-
1961, quando Che Guevara visitou Brasília propaganda da cidade. Aliás, uma das ridades da Novacap, para obtenção de rado. A escritora fez um artigo intitulado
a convite de Jânio Quadros, seus vinte e primeiras festividades no Hotel foi a Copa acomodações no Brasília Palace Hotel. A New Capital, Aldous Huxley, and Some
cinco guarda-costas ficaram nos blocos do Mundo de 1958, na qual o Brasil saiu Atendi a algumas solicitações, porque Indians, que pretendia publicar no jornal
do Anexo, ao passo que ele e o restante de vitorioso. Dentre os primeiros convidados não havia, de fato, um só quarto vago, The New Yorker, que acabou recusando o
sua comitiva se hospedaram no Brasília de Kubitschek, por exemplo, tem-se os quer nos hotéis, quer nos 3.900 apar- artigo. Nele, Bishop demonstrou bastante
Palace Hotel (CUNHA, 1961). políticos Alfredo Stroessner, Dwight Eise- tamentos de Brasília. A solução seria familiaridade com o tema, talvez pelo fato
nhower, Fidel Castro e Andrè Malraux, alojar os amigos mais íntimos no de ter sido esposa da arquiteta Lotta de
Falando-se nos hóspedes de prestígio, escritor e então ministro francês, que deu próprio palácio (KUBTISCHEK, 1975). Macedo Soares. Dentre as várias descri-
visitas à Capital haviam se tornado um à cidade o título de Capital da Esperança. ções e críticas que fez ao projeto, brincou
tipo de passeio turístico da elite brasileira Mas, mesmo com a posição privilegiada, a Surpreendentemente, um dos relatos com a falta de corrimão nas escadarias,
e um “must go” para estrangeiros que já elite também teve dificuldades de acomo- mais antigos sobre o Brasília Palace Hotel apontou elevadores insuficientes, frisou
estivessem com viagens marcadas para dação durante a inauguração de Brasília, demorou quase quarenta anos para ser o fato da piscina ser uma das maiores
o Rio de Janeiro ou São Paulo (STORY, como narrado pelo próprio Juscelino: publicado, vindo a público em 1996 no The que já havia visto na vida e, além do mais,
Vejamos a rápida cronologia dos projetos mesões e uma copa, contando com duas
para os Anexos. As pranchas mais antigas fachadas completamente avarandadas.
datam de janeiro de 1958, quando o Assim como proposto no alojamento
Brasília Palace Hotel estava na fase final de funcionários, o restaurante inicial-
de suas obras. A princípio, pretendia-se mente também foi pensado semienter-
construir um anexo exclusivo para a rado. Como a planta era retangular, a
moradia dos funcionários. O programa visual seria a de um longo pavilhão com
elaborado conseguia abrigar cerca de varandas suspensas. Eis aqui a origem de
setenta pessoas, contanto com dormi- projeto de dois elementos essenciais na
tórios, cozinha, refeitório, frigorífico e história do prédio: a varanda e o subsolo.
almoxarifado. Curiosamente, esse aloja-
mento foi proposto em um único pavi- Só mais de um ano depois, a partir de
mento semienterrado, com a cobertura novembro de 1959, que começaram a ser
sobressaindo oitenta centímetros do nível feitas as versões definitivas dos projetos:
do terreno. Da vista externa, poderia se os Anexos seriam compostos por quatro
enxergar só uma laje de concreto e abaixo longos pavilhões térreos e um grande
dela, as janelas de ventilação. Supõe-se restaurante central. Cada bloco de apar-
que essa solução de enterrar o edifício, tamentos abrigava cerca de cinquenta
meio dispendiosa para um programa suítes com varandinhas individuais
simples, tenha sido proposta para que o completamente fechadas com cobogós.
Anexo não impedisse a vista do Lago, ou, Os blocos tinham cerca de cento e vinte
em segunda instância, para que o prédio metros de comprimento por vinte de
em si quase não fosse percebido nas largura, com acessos feitos somente pelas
proximidades do Brasília Palace. laterais extremas.
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Museu de Arte de Brasília. Além da cons- fecharia a visual de uma grande alameda lotes lindeiros ao Brasília Palace Hotel, Sanches (Secult, 2013), José Leme Galvão
trução de shoppings, hotéis e de estabe- entre o Parque e a Concha Acústica e, a desencadeando a separação urbana e (IPHAN, 2013) e Thiago Morais de Andrade
lecimentos comerciais nos arredores, os partir da construção de um novo museu, paisagística entre ele, o Palácio da Alvo- (Novacap, 2017). A grande diferença em
parcelamentos urbanos também previram seria transformado em uma escola de rada e o MAB. Esse último, sufocado relação às propostas elaboradas ante-
a criação de três equipamentos culturais: arte. O lote, entretanto, foi cedido à entre as novas construções, teve o seu riormente se refere, principalmente, à
um Pavilhão de Exposições da Bienal de Fundação Palmares para a criação de um acesso principal alterado e as vistas da estratégia de se escavar os arredores do
Arte, um novo Museu e um Parque Inter- suposto Museu da Igualdade Racial e, ao antiga varanda e dos janelões laterais terreno para liberar o subsolo e trans-
nacional de Esculturas (SEGETH, 1997). que parece, a Secretaria de Cultura ainda bloqueadas. A orla imediatamente vizinha formar a reserva técnica num pavimento
Esse último, coordenado por Evandro tenta reaver a sua posse. ao museu, igualmente, foi toda ocupada semi-interrado. Nos estudos volumé-
Salles enquanto estava Secretário Adjunto com estabelecimentos comerciais, em tricos de José Leme Galvão, tem-se um
de Cultura, seria o primeiro a ser concre- As consequências do Projeto Orla para alguns lotes, inclusive, com construções tratamento paisagístico sinuoso para o
tizado. Em 1997, foram simbolicamente o Setor, entretanto, não poderiam ser acima do gabarito permitido. terreno e a utilização de uma cortina de
transferidas para o local as esculturas mais desastrosas. Nenhum dos três equi- cobogós para disfarçar as aberturas nas
de Franz Weissmann e Enio Iome, ante- pamentos culturais foram executados, Depois de embargado o edifício e de paredes do subsolo, o qual, enfim, será
cedendo a implementação do Parque à parte estacionamentos e uma ampla descartada uma nova destinação de uso, munido de ventilação e de iluminação
e as negociações junto a artistas como pavimentação onde seriam localizadas o museu passou então a ser objeto de natural. A obra foi iniciada em 2014 mas
Richard Serra, Anish Kapoor; Amilcar de as esculturas, hoje subutilizada. De outra projetos mais abrangentes, desenvol- interrompida em 2015 antes do seu
Castro, Tunga, entre outros (MADEIRA, parte, o novo parcelamento urbano lega- vidos a partir da atuação dos arquitetos término, até ser retomada novamente
2013). O edifício do MAB, por sua vez, lizava a construção de apart-hotéis nos Jônatas Nunes (Secult, 2012), Mauro em 2017.
Premiados do 9º Salão
Eli Heil
de Artes Plásticas
Exposição individual de pinturas
Exposição coletiva
14 de abril a 15 de junho de 1985 Praças da Europa: História e
18 de junho a 16 de julho de 1987
atualidade de um espaço público
Brasília, Trilha Aberta
Exposição documental sobre mais
Julio Pomar Exposição documental em homenagem
Pintores paulistas de trinta praças européias
Exposição individual ao aniversário de falecimento
Exposição coletiva de cento e 8 a 31 de maio de 1987
29 de outubro a 9 de novembro de 1986 de Juscelino Kubtscheck
cinquenta obras em pintura, desenho,
21 de agosto a 30 de setembro de 1986
1992
1993 Instalações Infoestética
Exposição coletiva de Aluízio
Artíndia Arcela, Suzete Venturello, Bia
Exposição de cento e cinquenta Luiz Carlos Del Castilho Medeiros e Tania Fraga
objetos etnográficos, promovida e Monica Sartori 11 de março a 3 de abril de 1993
pela Fundação Nacional do Índio Exposição da dupla
8 de julho a 31 de julho de 1992 9 a 28 de fevereiro de 1993
Rubem Valentim, Os Avatar Moraes
Guardadores de Símbolos Exposição individual de
Géneros em exticion: Exposição individual Antônio Carlos Elias, objetos e esculturas
Significados en Peligro 9 a 30 de novembro de 1992 Radices Relictae 6 de abril a 2 de maio de 1993
Exposição documentária promovida Instalação
pela Embaixada do México 9 a 28 de fevereiro de 1993
P. Nica Leonardo Alencar
17 de julho a 30 de julho de 1992
Exposição individual de vinte e Exposição individual de pinturas
oito esculturas em madeira Kyron Grafica XX Aniversário 28 de abril a 29 de maio de 1993
Arte Amazonas 3 a 15 de dezembro de 1992 Exposição coletiva de gravuras
Exposição coletiva de mexicanas, promovida pelo Taller Kyron
vinte e sete artistas 9 a 21 de fevereiro de 1993
André Lafetá, Um dia de chuva
6 a 30 de agosto de 1992
Exposição individual de
pinturas em tecido
3 a 15 de dezembro de 1992
Tomoko Takahashi
Fayga Ostrower
Exposição individual
Exposição individual
S/d
1 de setembro a 8 de outubro de 1995
Criação coletiva
Oficina gratuita aos sábados
5 de março a 6 de novembro de 2005
2007
Diálogos no MAB
Curso de Vera Pugliesi com
participação de Bené Fonteles
18 de agosto a 29 de setembro de 2007
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89
sua vida esteve no lugar onde as coisas
estavam começando a serem feitas, como A vida do arquiteto
é o caso de quando atuou em entidades
como o DUA da Novacap (1958-60), a
primeira versão do Conselho de Arqui-
tetura (1961), o heroico Ceplan da Univer- Primeiros anos Belas Artes de Pernambuco. Foi nessa
sidade de Brasília (1962-66), bem como época da faculdade que ele teve seu
Abel Carnaúba da Costa Accioly nasceu
a extinta Fundação Pró-Memória em primeiro contato com as artes plásticas
em 1936 em Viçosa, Alagoas. Passou sua
Olinda (1983-1990). e com alguns dos muitos amigos que, no
infância em meio às sacas e aos maqui-
futuro, se tornariam artistas, arquitetos
nários da Companhia Agromercantil
O seu principal local de trabalho, no e designers de renome. Alguns desses
Pedro Carnaúba, empresa fundada por
entanto, foi a sua própria residência. Abel participaram e influenciaram diretamente
seu tio-avô e uma das maiores na região
e Darcy mantêm há sessenta anos uma sobre o percurso de vida de Abel, como
no processamento de algodão. Lá, seu pai
oficina de marcenaria onde eles traba- é o caso do designer Aloísio Magalhães e
trabalhava como administrador e guar-
lharam juntos por toda a vida – primeiro do arquiteto Glauco Campello. O último,
dador de livros, nome dado à época para
confeccionando maquetes de arquitetura seu veterano no curso de arquitetura,
os tesoureiros das empresas. Sempre
e depois molduras para artistas. Se, de havia montado um escritório com Jorge
que possível, Abel fazia pequenas ativi-
um lado, o texto exaltará as virtudes de Martins Junior e Artur Lício Pontual e,
dades na marcenaria da fábrica, onde
Abel, de outro não pode deixar de regis- desde cedo, convidaram Abel para cola-
aprendeu a fazer brinquedos para si e
trar a sua enorme modéstia. Ele conserva borar em alguns dos projetos.
para outras crianças. Em 1950, aos seus
a quietude típica da pessoa acostumada
quatorze anos, foi estudar em um colégio
a resolver os pequenos detalhes, sem se A equipe se reunia no Recife, em um
interno na cidade de Garanhuns, Pernam-
gabar do fato de que eles são imprescin- antigo casarão da Rua Amélia, numa
buco. Um de seus orgulhos antigos é o
díveis para a execução das grandes obras. espécie de oficina coletiva intitulada
de ter reativado a pequena biblioteca da
Ateliê 415. Na mesma casa funcionava
escola. Além de buscar doações de livros
também O Gráfico Amador, uma pequena
no Recife, criou um pequeno jornal arte-
editora de livros artesanais fundada por
sanal com desenhos inspirados na revista
Gastão de Holanda, José Laurênio de
Tico-tico e nas ilustrações do cartunista
Melo, Orlando da Costa Ferreira e Aloísio
cearense Luiz Sá.
Magalhães. Aloísio, que veio a se tornar
um dos maiores nomes do design gráfico
A Escola de Belas Artes e da preservação do patrimônio cultural
50. Maquetes feitas por e O Gráfico Amador no Brasil, era o principal organizador e
Abel para o projeto do morador da casa, ocupando o sótão com
Palácio da Justiça, na Em 1953, Abel mudou-se para Recife o seu quarto e ateliê de pintura (LIMA,
Esplanada dos Ministérios. para cursar arquitetura na Escola de 1997). Abel, de tanto frequentar o casarão,
100 MAÍR A OLIVEIR A GUIMAR ÃES A beleza está nos detalhes 101
pesquisa do artista, contando com pé
O ateliê de José Claudio
direito duplo e amplas janelas. À prin-
No início dos anos 70, Abel convenceu o cípio, um mezanino interno dividiria o
amigo e pintor José Claudio a comprar ateliê do restante das áreas privativas da
um terreno vizinho ao seu, no bairro casa, porém, ao longo dos anos, a cons-
Monte de Olinda. Assim como Abel, ele trução sofreu adaptações e as funções
vive e trabalha lá até hoje. Gentilmente, acabaram se integrando.
ele e sua família me receberam para um
café e uma conversa, cujas falas de José Aqui era pra ser só o ateliê e a casa
Claudio serão transcritas a seguir. Ele ia ser construída pra lá. Mas eu não
contou, especialmente, sobre o papel tinha dinheiro e demorou tanto, que
imprescindível de Abel na realização de os meninos casaram e foram embora
sua casa e ateliê. O arquiteto, mais do que e ficou quarto sobrando. Então aqui
convencê-lo a comprar o lote, na verdade, embaixo ficou sendo a casa também. E
chegou a preencher toda a papelada da o depósito de quadro virou a cozinha.
compra para que José Claudio somente
pagasse o carnê. O artista, porém, sem Sabendo das dificuldades financeiras de
perspectivas econômicas de conseguir José Claudio, Abel optou por uma cons-
construir, tentou então vender o terreno. trução lenta e gradual, valendo-se de um
A sabotagem de Abel fez com que não único pedreiro encarregado. Além disso,
“aparecessem” interessados: usou materiais acessíveis e reutilizados,
tais como a escada feita com restos de
Ele resolveu que eu tinha que fazer andaimes, atualmente substituída por
uma casa. Aí apareceu esse terreno, uma em madeira, e o telhado reaprovei-
que ninguém queria... Aí ele comprou tado de uma antiga maternidade. O piso
em meu nome e chegou com um carnê da casa, fabricado por Francisco Bren-
aqui pra eu pagar. Mas era tão barato nand, foi doado pelo ceramista após
que eu paguei. Depois que eu terminei sua visita às obras, a convite de Guita
de pagar, eu disse “eu vou vender esse Abel então projetou e coordenou a cons- 63. Fachada da casa e ateliê Charifker. José Claudio fala sobre a “saga”
terreno. Não vou poder construir casa trução de toda a casa-ateliê para o amigo, de José Cláudio no bairro de Abel:
mesmo...”. Aí coloquei uma placa, falei de início programada em duas etapas. A Monte de Olinda, 2019.
com o corretor... Aí o corretor disse fachada frontal é uma espécie de pavilhão Ele próprio com o resto de tijolo que
que toda vez que ele levava um cliente avarandado, de linhas simples como as 64. Visual interna do ateliê tinha em casa fez um quartinho aqui
lá, a placa tava arrancada e tinha um do projeto do Park Hotel de Lucio Costa, de José Cláudio no bairro e começou a descobrir lugar pra
homem que dizia que o terreno não em Nova Friburgo. O volume principal Monte de Olinda, 2019. comprar coisas baratas. Esse telhado
tava a venda não. Era Abel. foi destinado às áreas de produção e foi de uma maternidade, nunca mais
102 MAÍR A OLIVEIR A GUIMAR ÃES A beleza está nos detalhes 103
existiu uma telha igual a essa (...).
Tudo mais aqui foi comprado assim,
de resto de construção, sabe. Engra-
çado, eu até pensava em escrever
como foi. Sete horas da manhã, todo
dia, ele tava aqui com o pedreiro, um
pedreiro só.
104 MAÍR A OLIVEIR A GUIMAR ÃES A beleza está nos detalhes 105
esconde uma engenhosa estrutura que
O IPHAN e o Pró-Memória
“corrige” esta curva. Pintei os módulos
no meu atelier em Olinda. Subir e Em 1979, o IPHAN foi dividido em dois
descer as peças, enormes e pesadas, órgãos distintos, um responsável pelas
até o estúdio, no primeiro andar, foi funções normativas e outro pelas funções
também uma operação de engenharia executivas do Instituto, sendo eles,
para o “Super-Abel” (CÂMARA apud respectivamente, a Secretaria do Patri-
LEAL, 2005, p. 16). mônio Histórico e Artístico Nacional
(SPHAN) e a Fundação Nacional Pró-Me-
Foi durante a montagem do painel no mória (FNPM). Aloísio Magalhães, amigo
Em 2004, João Câmara convidou nova-
aeroporto dos Guararapes que Abel caiu de Abel desde os tempos do Gráfico
mente Abel para uma segunda cola-
de um andaime e machucou gravemente Amador, foi nomeado o primeiro presi-
boração, ainda maior: a instalação do
o joelho, rendendo-lhe cirurgias, uma dente dos dois órgãos. Durante a sua
grande painel Cinco Continentes, no
cicatriz na perna e um certo desconforto gestão, foram encaminhadas as primeiras
saguão de embargue do Aeroporto Inter-
que enfrenta ainda hoje ao caminhar. inscrições brasileiras à lista do Patri-
nacional dos Guararapes, no Recife.
Delano, artista que também participou mônio Mundial da Unesco, a começar
das instalações do painel, narrou poetica- por Ouro Preto, reconhecida em 1980,
O conjunto de obras homenageia a
mente o episódio da queda de Abel, trans- seguida pelas ruínas de São Miguel das
aviação brasileira através de represen-
crito a seguir. Por coincidência, Delano Missões, em 1981, e por Olinda, em 1982.
tações de Ícaros de diferentes etnias.
faleceu em 2010 após uma queda em casa.
Serviço árduo, a pintura foi composta
Foi no ateliê de Abel que Aloísio desen-
de dez módulos de 3,40m de altura por
Do começo ao fim. Tudo organizado, volveu parte da documentação da candi-
2,0m de largura cada. Além de Abel, na
cronometrado, mentalizado em seus datura do centro histórico de Olinda,
instalação da obra, João Câmara contou
detalhes, nos menores movimentos, na qual constava um belo conjunto de
também com o auxílio dos artistas Delano
pois, sim, o trabalho é pesado (mais onze litogravuras feitas por ele. Aloísio
e José Carlos Viana. O grande desafio
de cinco arrobas, cada módulo). faleceu repentinamente na Itália, em
técnico era instalar o enorme painel malucas. Ele tem construído para 68. Painel e croquis de
Cuidados com acidentes de trabalho 1982, durante a viagem em que apresen-
nas paredes curvas do saguão, sobre as mim chassis e suportes, além da projeto de João Câmara
e de percurso. Dores nas costas, arra- taria o dossiê ao Conselho do Patrimônio
quais Abel bolou uma estrutura em ferro maioria dos objetos que desenvolvo. para o Aeroporto de Recife.
nhões, machucados e fraturas. Teve, Mundial, em Paris. Apesar do ocorrido,
galvanizado para planificar as superfí- Para o painel do Aeroporto, ele criou
sim, que é coisa de trabalho grande toda a documentação chegou ao seu
cies. Em entrevista dada à revista Conti- também a fixação invisível dos Ícaros.
e a maldição do Faraó sempre acon- destino e Olinda foi inserida na lista da
nentes (2005), João Câmara lhe dá muitos Eu quis que eles estivessem suspensos
tece. Abel que o diga. Já na fase da Unesco naquele mesmo ano.
créditos: em ângulo, nascentes da face do
montagem, foi atingido num joelho.
painel, sem amarras, cabos ou hastes
Recuperou-se (DELANO apud LEAL, Em 1983, a convite do arquiteto Vital
Trabalhei, como faço há anos, com que aparecessem. Abel executou os
2005, p. 19). Pessoa de Melo, Abel passou a integrar
Abel Accioly, arquiteto e mestre em suportes, fez a instalação da obra.
o escritório técnico do Pró-Memória
madeira, ferro, alumínio e invenções A parede de fundo é curva. O painel
106 MAÍR A OLIVEIR A GUIMAR ÃES A beleza está nos detalhes 107
em Olinda. Lá, colaborou em diversos dele, Abel aceitou dessa vez coordenar
projetos, principalmente acompanhando a Superintendência Regional do IPHAN
e coordenando equipes terceirizadas em Recife, local onde trabalhou até a sua
em obras de restauro e de renovação de aposentadoria, em 2011.
bens tombados. O primeiro canteiro de
Abel foi o da Igreja da Nossa Senhora do O trabalho na Superintendência Regional
Carmo, uma verdadeira porta de entrada era principalmente de cunho burocrá-
da cidade. A Igreja foi a primeira criada tico e administrativo, incumbências
pela Ordem dos Carmelitas em toda que renderam a ele muita saudade das
a América Latina e fazia parte de um épocas nos canteiros de obra. Dentre os
grande convento construído em 1580, muitos pareceres que emitiu, destaca-se
hoje demolido. O escritório técnico a sua contribuição em 1997 no derradeiro
funcionou na própria Igreja do Carmo por tombamento federal do Pavilhão Luiz
alguns anos, antes de se transferir para Nunes, em Recife. O edifício, construído
o casarão avarandado da Rua do Amparo, em 1937, pode ser considerado o primeiro
onde funciona até hoje. exemplar da arquitetura modernista
brasileira e até então era tombado apenas
Durante o período no Pró-Memória, a nível regional (SILVA, 2012). Sobre o
destaca-se seu empenho na restruturação período, Abel citou também a realização
do teto do Convento de Santa Tereza, do pequeno jornal Memória Viva, produ-
que, sob risco de desabamento, chegou zido e distribuído pelo IPHAN recifense
a ser içado para que os componentes durante o ano de 1997, confirmando a sua
comprometidos fossem substituídos. Abel simpatia pela linha editorial.
69. Darcy no interior da
também participou das restaurações da
Igreja da Nossa Senhora do
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Quando questionado sobre possíveis
Monte, 2019.
Homens Pretos, da Academia Pernam- correções e acréscimos em sua biografia,
bucana de Letras e, por fim, da portada Abel pediu pela inclusão do nome de
70. Abel em frente à
da Igreja da Nossa Senhora do Monte, Galeno, pedreiro encarregado pelas
portada da Igreja da Nossa
vizinha à sua casa, onde ele e Darcy me obras da Igreja do Carmo e do ateliê de
Senhora do Monte, 2019.
levaram pessoalmente. Zé Claudio.
Em 1990, a Fundação Pró-memória tinha volta a ser chamado de IPHAN. Naquele Hoje, aos seus 85 anos, Abel passa dias
sido novamente fundida à Sphan, sob nova mesmo ano, assume a presidência do tranquilos em companhia de sua esposa
denominação de Instituto Brasileiro do órgão o amigo Glauco Campello, o mesmo Darcy e, há pouco, iniciou o projeto de
Patrimônio Cultural (IBPC). O novo título que havia convencido Abel a participar uma casa para o neto, que será construída
durou pouco tempo e em 1994 o Instituto da construção de Brasília. Por insistência na mesma rua que a sua.
108 MAÍR A OLIVEIR A GUIMAR ÃES A beleza está nos detalhes 109
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110 MAÍR A OLIVEIR A GUIMAR ÃES A beleza está nos detalhes 111
Inconclusões
114 115
Em conversa, diferentes arquitetos que como a Vila Planalto, que vem se firmando se conhecer. Repetindo um termo usado contexto, é interessante observar o papel
atuaram na reforma disseram que, mesmo como um polo gastronômico, o Conjunto pelo professor Emerson Dionísio Gomes, que os editais de gestão compartilhada
após a conclusão das obras, o edifício não Fazendinha, que espera por revitalização, o museu sofre de diferentes graus de de equipamentos culturais vêm desem-
será plenamente compatível com um a vizinha e tão silenciosa Concha Acús- desidentidade. Eles partem desde a penhando em vários estados, a exemplo
museu de arte. Assumo que, como narra- tica, além do próprio Palácio da Alvorada, controversa falta de coesão do acervo, do Museu de Arte Moderna do Rio e do
dora e arquiteta, as declarações foram que oferece visitação guiada e gratuita às passando pelo não reconhecimento patri- Museu de Arte Contemporânea da USP.
um tanto frustrantes. Por quê, mesmo quartas-feiras. monial da sede, até o desconhecimento Em Brasília, recentemente vimos esse
após tantas intervenções, não se terá de grande parte da população em relação modelo de gestão frutificar a progra-
resolvido definitivamente os problemas Nesse quesito urbano, muito ainda deverá à própria existência do equipamento. A mação do Espaço Cultural Renato Russo,
de adequabilidade do prédio? Respondo: ser investido para dotar a península do análise desses fatores e a definição das que foi administrado pelo Instituto Bem
Porque o quesito remanescente não pode Setor de Hotéis e Turismo Norte com a estratégias práticas e conceituais de Cultural entre 2018 e o início de 2020,
ser corrigido. O baixíssimo pé-direito beleza paisagística e os equipamentos enfrentamento devem ser o objetivo até o deflagrar da pandemia da Covid-19.
de somente 2,5 metros de altura, tanto comunitários que a sua importância da atuação continuada de uma ampla Ainda teremos esse outro desafio, o de
no subsolo quanto na galeria de exposi- histórica e geográfica exige. Ironica- equipe de profissionais experientes, não conviver com a nova normalidade.
ções, impõe dificuldades de transporte, mente, nem mesmo Lucio Costa conse- só de entusiastas (apesar de que um certo
de manuseio e de exposição de obras de guiu escapar das falácias dos investidores entusiasmo seja fundamental). Nesse A história continua...
arte de grandes formatos. Eis porque a imobiliários, que, desde a implementação
estratégia de embutir um grande portão do Projeto Orla, vem sendo os princi-
na fachada da antiga varanda se mostra pais beneficiados do empreendimento.
muito acertada, mitigando algumas limi- As boas ideias da ação governamental,
tações da infraestrutura pré-existente. entretanto, continuam sendo sucessiva-
mente engavetadas, como ocorrido com
Outro ponto frequentemente citado o projeto para o Parque do Lago (1976), O MAB nasce por iniciativa de uma instituição político-cultural, mas isso não
é a enorme dificuldade de acesso da de Maria Elisa Costa, e com o sonhado quer dizer que tenha que trilhar um caminho conservador. Dos especialistas
população ao Setor de Hotéis e Turismo Parque Internacional de Esculturas (1997), e estudiosos ao escolar dos três ciclos, do cidadão local não-especializado ao
Norte por meio do uso do transporte articulado por Evandro Salles. Recen- turista, todos devem participar para que, do conflito de interesses, se produza
público. Como exemplo de solução para temente, a atual gestão da Secretaria uma coisa viva. Viva não quer dizer perfeita.
este problema, temos a estratégia até de Cultura, representada pelo Secre-
João Evangelista Andrade Filho, Museu de Arte de Brasília – Catálogo de
pouco tempo atrás utilizada pelo Centro tário Bartolomeu Rodrigues, divulgou a
abertura e exposição, 1985.
Cultural Banco do Brasil, também isolado intenção de criação de um grande polo
e muitíssimo visitado, que disponibili- cultural na área. Espera-se, dessa vez,
zava vãs gratuitas a partir da Rodoviária que o projeto não seja mais um grande
do Plano Piloto. Esta providência, se ir e vir interno e que o local possa ser o
adotada, tem o potencial de incluir não objeto de um grande concurso de ideias.
só o MAB no circuito turístico da cidade,
mas também outros pontos de interesse Institucionalmente, o MAB ainda deve
116 117
difícil aceitação do conceito de museu Mesmo assim, Guimarães mostra como
pelo modernismo. Uma “grande nação” o MAB está longe de ser a resolução das
(profetizava Debret, que sequer sonhava contradições artísticas da “cidade moder-
com a existência de Brasília) cuja nova nista”. Na verdade, a própria criação do
capital por pouco não teve um grande museu põe essas contradições continua-
museu: mas teria sido possível esta- mente em evidência: um cenário de arte
belecer esse museu antes que Brasília contemporânea que transgride as tradi-
tomasse consciência da própria história? ções institucionais, mas acaba ele próprio
Os anos entre o incêndio do Brasília institucionalizado no reconhecimento
Palace Hotel (1978), a demolição dos oficial dos Salões; uma cidade planejada
seus anexos e a criação da Secretaria de e dotada de um “setor cultural”, na qual a
Cultura (1985) são justamente o período existência e locação do primeiro museu
em que emerge essa visão retrospectiva acaba decidida de improviso; um restau-
sobre a nova capital: prova disso são os rante projetado segundo uma ideologia
trabalhos do GT–Brasília e os da equipe funcionalista, que acaba sendo conver-
coordenada por Lucio e Maria Elisa Costa, tido aos trancos e barrancos em galeria
culminando no relatório Brasília revisi- de exposições.
tada e na inscrição do conjunto urbanís-
tico como patrimônio mundial. E por que parar com a fundação do MAB?
A sua existência atribulada continua a
118 119
Estamos ainda longe do momento em Pensando bem, a história de um museu
que Brasília terá no seu museu de arte não planejado na capital do “Plano-pilôto”, Agradecimentos
uma instituição consolidada, com um de uma arquitetura funcionalista refun-
edifício-sede reconhecido pelo seu cionalizada, e de um acervo acidental,
Enquanto não tenho espaço suficiente para citar nominalmente todas as pessoas que contribuíram
papel pioneiro na formação da capital. porém curado com amor e dedicação,
com esse trabalho, deixarei registrados alguns breves e profundos agradecimentos, em especial à
A história do MAB, como a história de sinaliza esperança para o futuro cultural
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, onde desenvolvo o doutorado, e
Brasília, é uma obra ainda em construção. de Brasília.
nessas páginas é representada pelos professores Sylvia Ficher e Pedro P. Palazzo; ao Fundo de Apoio
Falta-nos o recuo necessário para cons-
à Cultura do Distrito Federal, sem o qual não seria possível a elaboração, divulgação e impressão
truir uma narrativa ordenada, recuo que
desse livro; aos funcionários da Secretaria de Cultura, que desde o início colaboraram através da
só as gerações futuras vão ter. Mais ainda,
disponibilização dos acervos digitais e físicos da Subsecretaria do Patrimônio Cultural e do Museu de
falta o desfecho de dois trabalhos de
Arte de Brasília; às instituições do Arquivo Público do Distrito Federal e do Instituto Moreira Salles,
consolidação fundamentais: a adequação
que cederam gratuitamente várias imagens importantes para a visualização dessa história; a todos os
do edifício para a sua atual função, nunca
profissionais que atuaram na presente ficha técnica, tornando esse projeto cultural uma realidade;
realizada por inteiro, e a afirmação da
ao paizim, meu eterno crítico e revisor ortográfico, cujos serviços gratuitos permitirão a impressão
identidade institucional do museu e do
de muito mais exemplares desse livro; a todos os gestores, arquitetos, artistas, fotógrafos e antigos
seu acervo; o trabalho institucional será
usuários do prédio do MAB que cederam seus depoimentos, projetos e fotografias; à hospitalidade e
certamente o mais difícil dos dois.
ao carinho de Abel e Darcy Accioly, que desejo revisitar assim que possível; aos colegas e amigos que
compartilharam comigo as suas opiniões, enriquecendo meus pensamentos; à mãezinha e à irmãzinha
Apesar disso, o livro de Guimarães
que tanto torcem pela minha felicidade; e, por fim, também agradeço ao Tempo, esse senhor tão bonito.
aproveitou magistralmente algo que as
gerações futuras nunca poderão ter: a
memória viva daqueles que protago-
nizaram a trajetória do MAB. Resgatou
o próprio arquiteto da edificação, os
Créditos das imagens
usuários do antigo restaurante, aqueles
que trabalharam pela constituição e 1. Sinalização das obras do museu da cidade, na 3. Mário Pedrosa no Congresso Internacional de
exibição do acervo artístico, e aqueles Praça dos Três Poderes, 1959. Críticos de Arte em Brasília, 1959.
que agora se esforçam para restaurar e Fotografia sem autoria especificada. Fotografia sem autoria especificada.
reabrir o museu. Esta pesquisa veio em Arquivo Público do Distrito Federal, Arquivo Público do Distrito Federal,
cima da hora para resgatar a memória NOV-D-4-4-D-4’ (2125), Página 3. NOV-D-4-4-D-2 (3656), Página 6.
pessoal e institucional do MAB, antes que
2. Participantes do Congresso Internacional de 4. Carta de Flávio D’Aquino com sugestões para um
as vozes se calem e que a ligação entre
Críticos de Arte em visita às obras de Brasília, 1959. museu em Brasília, 1959.
os fragmentos documentados — salões,
Fotografia sem autoria especificada. Instituto Antônio Carlos Jobim, Acervo
curadorias, projetos e anedotas — se
Arquivo Público do Distrito Federal, Lucio Costa, IX A 02-01376 L, Página 7.
desmanche no país do futuro e do cons-
NOV-D-4-4-D-2 (3656), Página 4.
tante esquecimento.
120 121
5. Perspectiva da fachada do projeto para o 12. Juscelino Kubitschek e acompanhantes nos 20. Projeto para o Parque do Lago, de Maria Elisa Cidades Satélites, no Palácio do Buriti, de 1978.
primeiro MAB, 1959. salões do Brasília Palace Hotel durante a final da Costa, 1976. Fotografia sem autoria especificada.
Projeto arquitetônico de Otávio Sérgio Moraes. Copa do Mundo, 1958. Projeto urbanístico de Maria Elisa Costa. Arquivo Público do Distrito Federal,
Biblioteca Nacional, TRB02449.0172 Fotografia de Mário Fontenelle. Arquivo Público do Distrito Federal, SCS-IF-11-2-B-1 (024034), Página 39.
ed. 00021 (2), Página 8. Arquivo Público do Distrito Federal, e23a-m3 (5), Página 27.
28. Buate, pintura de Nogueira de Lima premiada
NOV-D-4-4-C-2-2144, Página 18.
6. Corte e fachada posterior do projeto para o 21. Pernambuco do Pandeiro e seus Batuqueiros e no Salão de Artes Plásticas das Cidades Satélites.
primeiro MAB, 1959. 13. Piscina do Brasília Palace Hotel, 1961. as Mulatas de Ouro no Casarão do Samba, década Pintura a óleo de Waldemor Nogueira de Lima.
Projeto arquitetônico de Otávio Sérgio Moraes. Fotografia de Marcel Gautherot. de 70. Museu de Arte de Brasília, Página 39.
Arquivo Público do Distrito Federal, MAB - ARQ Instituto Moreira Salles, 010DFHT19619, Página 19. Fotografia sem autoria especificada.
29. Gravura de Odetto Guersoni adquirida pelo
- 000-0 - 005-02 - 0000000 - 1960, Página 9. Imagem fornecida pela dançarina
14. Veleiros no Lago Paranoá, 1960. GDF na XIII Bienal de SP, em 1978.
Neide Paula. Página 28.
7. Corte e fachada lateral do Restaurante do Anexo Fotografia de Marcel Gautherot. Linoleogravura de Odetto Guersoni
do Hotel de Turismo, 1959. Instituto Moreira Salles, 22. Incêndio no Brasília Palace Hotel, 1978. Fundação Bienal, Página 40.
Projeto arquitetônico de 010DFOG20902, Página 20. Fotografia de Antonio Cruz.
30. Animal-Heráldico, escultura de Liuba Wolf
Abel Carnaúba Accioly. Correio Braziliense, Página 29.
15. Vista aérea de Brasília a partir do Palácio da adquirida pelo GDF na XIII Bienal de SP, em 1978.
Arquivo Público do Distrito Federal,
Alvorada, 1968. 23. Proposta de Lucio Costa para superquadras na Escultura em bronze de Liuba Wolf.
e9-m4 (12), Página 9.
Fotografia sem autoria especificada. Vila Planalto, 1985. Fundação Bienal, Página 40.
8. Vista aérea a partir do centro de Brasília, 1963. Arquivo Público do Distrito Federal, Croquis de Lucio Costa.
31. Fachada lateral e pilotis do MAB em 1985.
Fotografia sem autoria especificada. SCS-GF-7-6-E-1 (3160), Página 21. Terracap, Página 31.
Fotografia de Sérgio Seiffert.
Arquivo Público do Distrito Federal,
17. Fachada avarandada do restaurante do Anexo do 24. Fachada lateral do MAB, junho de 1988. Museu de Arte de Brasília, Página 41.
SCS-DF-7-6-C-11 (240A), Página 11.
Brasília Palace Hotel, 1961. Fotografia sem autoria especificada.
32. Crianças na exposição Brasil Arte Popular Hoje,
9. Vista aérea de Brasília a partir do Palácio da Fotografia de Marcel Gautherot. Arquivo Público do Distrito Federal,
agosto de 1988.
Alvorada, 1957/1958. Acervo Instituto Moreira Salles, SCS-LF-11-2-B-1 (88656), Página 34.
Fotografia de Bita Carneiro.
Fotografia de Mario Fontenelle. 010DFHT23428, Página 22.
25. Hall de acesso do MAB, junho de 1988. Cultura DF, Página 42.
Arquivo Público do Distrito Federal,
18. Arruamentos e curvas de nível dos Anexos do Fotografia sem autoria especificada.
NOV-D-4-4-B-2 (601), Página 12. 33. Crianças visitam exposição no MAB em 1986.
Brasília Palace Hotel, 1959. Arquivo Público do Distrito Federal,
Fotografia sem autoria especificada.
10. Juscelino em frente a um hotel de madeira em Projeto arquitetônico de Abel Carnaúba Accioly. SCS-LF-11-2-B-1 (88655), Página 36.
Museu de Arte de Brasília, Caixa
Brasília, 1957. Arquivo Público do Distrito Federal,
26. Plínio Catanhede e acompanhantes no primeiro 59, Foto nº 2, Página 43.
Fotografia de Jean Manzon. e61a-m5.(5), Página 24.
Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, 1964.
Itaú Cultural, 978-85-7979-060-7, Página 15. 34. Vista interna do MAB na exposição Poetas do
19. Castello Branco na festa de inauguração do Fotografia sem autoria especificada.
espaço e da cor, de 1997.
11. Vista aérea do Brasília Palace Hotel e seus Clube das Forças Armadas, 1972. Arquivo Público do Distrito Federal,
Fotografia sem autoria especificada.
Anexos, 1961. Fotografia sem autoria especificada. SCS-FF-11-2-B-1 (2443), Página 37.
Museu de Arte de Brasília, Caixa
Fotografia de Marcel Gautherot. Arquivo Público do Distrito Federal,
27. Inauguração do I Salão de Artes Plásticas das 46, Maço 16, Página 44.
Instituto Moreira Salles, 010DFOG23429, Página 16. SCS-FF-11-1-E-6, Página 26.
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35. Facto transeunte - MAB, de Gregório Soares, 43. Fachadas do MAB após pintura em azul e 51. Aloísio Magalhães, José Laurênio, Orlando da 58. Abel Accioly, pintura dobrável de Maria
2010. laranja. Costa Ferreira e Abel Accioly no Ateliê 415. Tomaselli, 1985.
Foto-intervenção de Gregório Soares. Fotografia sem autoria especificada. Fotografia sem autoria especificada. Fotografia sem autoria especificada.
Imagem fornecida pelo artista, Página 46. Secretaria de Cultura, Imagem fornecida por Abel Museu de Arte Moderna de São Paulo, Página 99.
20150610083555949, Página 54. Carnaúba Accioly, Página 92.
36. Revolução / Raio-bica-banho-verde-de-manje- 59. Darcy Accioly em frente à oficina de maquete
ricão no Museu, de Maurício Chades, 2019. 44. Vista aérea do Setor de Hotéis e Turismo Norte, 52. Casas geminadas nas quadras 700 da Asa Sul. de sua casa, s/d.
Foto-performance de Maurício Chades. início dos anos 2000. Fotografia sem autoria especificada. Fotografia sem autoria especificada.
Imagem fornecida pelo artista, Página 47. Fotografia sem autoria especificada. Imagem fornecida por Abel Imagem fornecida por Abel Carnaúba
Royal Tulip Brasília Alvorada, Página 55. Carnaúba Accioly, Página 93. Accioly, Página 100.
37. Abandonados, de Sérgio Costa Vincent, 2015.
Sessão fotográfica de Sérgio Costa Vincent. 45. Perspectiva do MAB e estudo paisagístico de 53. Abel Accioly em pé na prancheta à direita, nos 60. Vista interna da casa de Abel e Darcy Accioly,
Imagem fornecida pelo artista, Página 48. José Leme Galvão, 2013. ateliês de projeto da Novacap, 1957/1959. mostrando guarda-pó suspenso, 2019.
Croqui de José Leme Galvão, vulgo Soneca. Fotografia de Marcel Gautherout. Fotografia da autora, Página 101.
38. Encarregados fazem reparos na laje de
Material fornecido pelo arquiteto, Página 56. Imagem fornecida por Abel
cobertura do MAB. 61. Painel de azulejos elaborado por José Cláudio
Carnaúba Accioly, Página 94.
Fotografia sem autoria especificada. 46. Nova fachada posterior do MAB nas etapas no banheiro da casa de Abel e Darcy Accioly em
Museu de Arte de Brasília, Caixa finais da reforma, julho de 2020. 54. Glauco Campello, Athos Bulcão e Abel Accioly 1976.
60, foto nº 2, Página 50. Fotografia da autora, Página 57. na Capela do Palácio da Alvorada, 1957/1959. Fotografia da autora, Página 101.
Fotografia de Marcel Gautherout.
39. Infiltrações visíveis no salão de exposições 47. Vistas internas do salão de exposições do MAB 63. Fachada da casa e ateliê de José Cláudio no
Imagem fornecida por Abel
durante a mostra Artessários, 2006. Fotografia de nas etapas finais das obras de reforma, julho de bairro Monte de Olinda, 2019.
Carnaúba Accioly, Página 95.
Carolina (Barmell) Barbosa de Melo. 2020. Fotografia da autora, Página 102.
Imagem fornecida pela pesquisadora, Página 51. Fotografia da autora, Página 58. 55. Darcy Virgínia Accioly em Brasília.
64. Visual interna do ateliê de José Cláudio no
Fotografia sem autoria especificada.
40. Projeto de reforma do MAB e de modificações 48. Visual interna do MAB com exposição e perfor- bairro Monte de Olinda, 2019.
Imagem fornecida por Abel
das fachadas, s/d. mance, s/d. Fotografia da autora, Página 103.
Carnaúba Accioly, Página 96.
Projeto sem autoria especificada. Fotografia sem autoria especificada.
65. Díptico de Cícero Dias na Casa da Cultura, no
Secretaria de Cultura, Página 53. Museu de Arte de Brasília, Caixa 56. Os pequenos Felipe Campello, Sergio Accioly,
Recife, 2020.
47, Foto nº 26, Página 83. Ivan Accioly e Gabriela Campello na frente de uma
41. Projeto de reforma do MAB e de modificações Fotografia de Thiago Mattos.
casa geminada da W3 Sul.
das fachadas, 2000. 49. Abel e Darcy Accioly em sua casa em Olinda, Imagem cedida pelo fotógrafo, Página 104.
Fotografia sem autoria especificada.
Projeto de Barney Arquitetura. outubro de 2019.
Imagem fornecida por Abel 66. Painel de João Câmara no Panteão da Pátria,
Secretaria de Cultura, Página 53. Fotografia da autora, Página 88.
Carnaúba Accioly, Página 96. em Brasília, 2010.
42. Projeto de pintura das fachadas do MAB em 50. Maquetes feitas por Abel para o projeto do Fotografia de Peninha.
57. Projeto de Abel para chassi de pintura regulável.
azul e laranja, 2001. Palácio da Justiça, na Esplanada dos Ministérios. Wikimedia Commons, Página 105.
Desenho técnico de Abel Carnaúba Accioly.
Projeto arquitetônico de Ana Marques. Maquetes de Abel Carnaúba Accioly.
Material fornecido pelo arquiteto, Página 99. 68. Painel e croquis de projeto de João Câmara
Secretaria de Cultura, Imagens fornecidas pelo arquiteto, Página 90.
para o Aeroporto de Recife.
20150610083555949, Página 53.
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Fotografia sem autoria especificada.
Continente Documento, Página 106.
Distribuição gratuita.
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A vida do edifício do Museu de Arte de Esse livro, realizado com o patrocínio
Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal