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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE ______ - PARANÁ.


___________, devidamente qualificado nos autos, por seus procuradores infra-
assinados, com escritó rio profissional localizado na Rua ___________, nos autos da
Açã o Penal nº _____, promovida pela Justiça Pú blica, onde foi condenado como
incurso na prá tica do crime tipificado no art. 155, § 4º, incisos I e IV, do CP, e art.
1º, Lei n. 2.252/54, inconformado com a sentença de fls..., dos autos, vem à
presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 600, do Có digo de
Processo Penal, apresentar
RAZÕES DE APELAÇÃO
as quais constam na minuta anexa, para que apó s o cumprimento das formalidades
legais, sejam as mesmas remetidas com os autos para o Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná .
Termos em que,
pede deferimento.
__________, 10 de março de 2016.
__________
Advogado
OAB/PR nº
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
Apelante: _________
Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
Origem: VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ________.
Autos nº: ________
Eméritos julgadores:
O apelante foi denunciado pela prá tica dos crimes tipificados no artigo 155, § 4º,
incisos I e IV, do Có digo Penal, e no artigo 1º, da lei nº 2.252/54, combinado com os
arts. 29 e 69, ambos do CP.
A denú ncia foi recebida, no dia 15 de fevereiro de 2003, acolhendo a imputaçã o
feita pelo Ministério Pú blico e aplicando, erroneamente como se demonstrará
adiante, o rito sumá rio, limitando o nú mero de testemunhas para o má ximo de 05.
Apó s a apresentaçã o de resposta à acusaçã o, o magistrado determinou a realizaçã o
de audiência de instruçã o e julgamento. Nã o permitiu, contudo, a oitiva de uma
testemunha arrolada na defesa prévia, tendo em vista que o Sr. Oficial de Justiça
certificou nã o ter encontrada a mesma no endereço indicado pela parte.
Encerrada a instruçã o probató ria, e apresentadas as alegaçõ es finais, o apelante foi
condenado na r. Sentença pela prá tica do art. 155, § 4º, incisos I e IV, do CP, em 3
anos de reclusã o, cumulada com 15 dias-multa, no valor de 1/30 do salá rio mínimo
cada dia; e no art. 1º, da lei nº 2.252/54, em 1 ano e 6 meses de reclusã o, cumulada
com 15 dias-multa, no valor de 1/30 do salá rio mínimo cada dia. Sustentou ainda o
d. Magistrado que as penas privativas de liberdade deveriam ser cumpridas em
regime semiaberto, pelo fato de a soma das penas ultrapassarem 4 anos e serem os
delitos apenados com reclusã o.
Todavia, deve ser reformada a r. Sentença apelada, em conformidade com o
exposto nos itens a seguir.
PRELIMINARMENTE:
1. da prescrição da pena máxima em abstrato:
Verifica-se, preliminarmente, que o crime pelo qual está sendo acusado o apelante
tem como pena má xima cominada 8 anos (art. 155, § 4º, incisos I e IV, CP – furto
qualificado), e chega-se, portanto, com base no que estabelece o art. 109, III, do CP,
ao lapso prescricional de 12 anos.
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
[...]
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
[...]
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art.
110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime,
verificando-se:
(...)
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;

O ú ltimo marco interruptivo do prazo prescricional ocorreu em 15 de fevereiro de


2003, data do recebimento da denú ncia. Desde entã o, passaram-se mais de 12 anos
e nã o havia sido proferida a sentença condenató ria.
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

Nesse sentido, seguem excertos do entendimento da jurisprudência pá tria:


[...] LAPSO TEMPORAL. OCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE ESTATAL. 1. É pacífico nesta Corte que o crime previsto no art. 95, alínea d, da Lei n.º
8.212/91, [...] com pena máxima em abstrato de 5 (cinco) anos, o que acarreta prazo prescricional de
12 (doze) anos, conforme disposto no art. 109, inciso III, do Código Penal, que restou transcorrido no
caso desde o último março interruptivo da prescrição. [...] (STJ - EDcl nos EDcl no REsp: 686564 SC
2004/0104290-6, Relator: Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 23/02/2010, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 22/03/2010).
PENAL E PROCESSUAL PENAL. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA PELA
PENA IN ABSTRATO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. - A prescrição, para os crimes cuja pena seja de no
máximo 8 (oito) anos, é de 12 (doze) anos, nos termos do art. 109, III, do CP, [...] - Tendo em vista que
transcorrido mais de 12 anos entre o recebimento da denúncia e o julgamento no Tribunal, operou-se
a prescrição da pretensão punitiva in abstrato, o que acarreta na decretação da extinção da
punibilidade. - Julgado prejudicado o exame da apelação. Súmula TFR nº 241. (TRF-2 - ACR: 2228
1999.02.01.056624-0, Relator: Desembargador Federal ALEXANDRE LIBONATI DE ABREU, Data de
Julgamento: 06/04/2005, PRIMEIRA TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU - Data:
19/04/2005 - Página: 181).

Diante disso, considerando o interregno prazo prescricional de 12 anos, requer


preliminarmente a extinçã o da punibilidade com base na prescriçã o da pretensã o
punitiva do Estado.
2. DA prescrição retroativa:
Caso nã o acolhida a preliminar acima aduzida, passa-se a aná lise da prescriçã o
retroativa. A qual, para o seu cá lculo, utiliza a pena aplicada em concreto, com o
trâ nsito em julgado para a acusaçã o, levando-se em conta os prazos anteriores ao
da sentença.
Ressalta-se que com o advento da Lei nº 12.234/2010, houve a vedaçã o, na nova
redaçã o do artigo 110, § 1º, do Có digo Penal, da prescriçã o que tenha por termo
inicial data anterior à da denú ncia ou da queixa.
Ou seja, proibiu-se, tã o somente, a prescriçã o retroativa pré-processual. Aquela
que poderia ser alegada pela demora na fase investigativa policial, contada da data
do fato até o recebimento da peça acusató ria, veja-se sua nova redaçã o:
Art. 110. A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena
aplicada e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o
condenado é reincidente.
§ 1º. A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou
depois de improvido seu recurso, regula- se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese,
ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

Acerca do assunto, segue o entendimento jurisprudencial:


APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO CULPOSO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA PELA PENA IN
CONCRETO NA MODALIDADE RETROATIVA. OCORRÊNCIA ENTRE A DATA DO FATO E DO
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. ART. 387, IV, CPP. DECOTE. INEXISTÊNCIA DE REQUERIMENTO E CONTRADITÓRIO. RECURSO
PROVIDO. 1. Declara-se extinta a punibilidade quando decorrido está o lapso prescricional entre a
data do fato e do recebimento da denúncia. [...]. 4. Recurso conhecido e provido. [...] (TJ-CE - APL:
00000231120138060207 CE 0000023-11.2013.8.06.0207, Relator: MARIA EDNA MARTINS, 1ª Câmara
Criminal, Data de Publicação: 19/02/2016)
APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME PATRIMONIAL (ART. 155, § 4º, INC. I, C/C ART. 14, INC. II, AMBOS DO
CÓDIGO PENAL) [...] PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA NA MODALIDADE RETROATIVA
VERIFICADA COM BASE NA PENA COMINADA EM CONCRETO - SUPERAÇÃO DO LAPSO PRESCRIBENTE
VERIFICADO ENTRE A DATA DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA E A PUBLICAÇÃO DA SENTENÇA -
INEXISTÊNCIA DE QUALQUER CAUSA INTERRUPTIVA OU SUSPENSIVA DA PRESCRIÇÃO - EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE (ARTS. 107, IV, 109, III E 110, § 1º E 115, TODOS DO CP)- DECLARAÇÃO DE OFÍCIO -
EXAME DO MÉRITO RECURSAL PREJUDICADO. Tendo em vista ser a prescrição matéria de ordem pública,
esta pode ser declarada, de ofício, se constatada pelo órgão julgador. Transcorrido tempo superior ao
previsto no Código Penal, entre o recebimento da denúncia até publicação da sentença, em não
havendo qualquer interrupção ou suspensão do prazo prescricional, impõe-se o reconhecimento da
ocorrência da prescrição da pretensão punitiva do Estado, na modalidade retroativa. (TJ-PR - ACR:
6713499 PR 0671349-9, Relator: Antônio Martelozzo, Data de Julgamento: 12/05/2011, 4ª Câmara
Criminal, Data de Publicação: DJ: 640).
No presente caso, o suposto crime fora praticado no ano de 2000, com recebimento
da denú ncia em 2003, e sentença penal condenató ria, com pena de 4 anos e 6
meses, já transitada em julgado para a acusaçã o, em 2016.
Portanto, com fundamento no artigo 109, III, do CP, requer o reconhecimento da
prescriçã o retroativa pelo decurso do prazo de mais de 12 (doze) anos contados do
trâ nsito em julgado da sentença condenató ria e do recebimento da denú ncia.
3. da inadequação do rito:
A garantia constitucional do 'devido processo legal' compreende também o tipo
legal de procedimento, especialmente para garantir o direito de defesa.
As formalidades neste campo estã o intimamente ligadas à s garantias
constitucionais do processo penal. Por isso mesmo, a infraçã o à s normas que
regulam a reconstruçã o histó rica do fato imputado, incluindo-se aí o procedimento
legal, deve ser sancionada, em princípio, com a nulidade.
O tipo de procedimento é, aliá s, tratado na doutrina como um pressuposto de
validade da relaçã o processual. Pois a relaçã o processual nã o se forma,
validamente, sem um tipo legal de procedimento.
No processo penal brasileiro, os procedimentos padrõ es levam em consideraçã o a
pena cominada abstratamente. Assim, o procedimento ordiná rio é o adequado
para os crimes punidos com pena acima de 4 (quatro) anos; e o procedimento
sumá rio é típico para os crimes punidos com pena má xima inferior a 4 (quatro)
anos. Nesse sentido dispõ e o artigo 394, § 1º, I do CPP:
Art. 394 CPP. O procedimento será comum ou especial.
§ 1º O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo:
I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4
(quatro) anos de pena privativa de liberdade;
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro)
anos de pena privativa de liberdade;

Portanto, requer o apelante seja declarada a nulidade do ato processual,


preservando, porém, a prova testemunhal, tendo em vista que o erro de
procedimento contamina apenas os atos que nã o possam ser aproveitados (art.
250 do CPC, aplicá vel por analogia).
4. DA NECESSIDADE DA INTIMAÇÃO DA TESTEMUNHA ARROLADA:
Observa-se ainda, que apó s a apresentaçã o da resposta a acusaçã o o d. Magistrado
nã o permitiu a oitiva de uma testemunha arrolada previamente pela defesa.
De acordo com a previsã o do artigo 564, III, h, do Có digo de Processo Penal, in
verbis, ocorre nulidade se houver falta de intimaçã o das testemunhas arroladas:
Art. 564 CPP. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos:
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes:
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela
lei;

Ainda nesse sentido:


APELAÇÃO CRIMINAL. NULIDADE ABSOLUTA POR FALTA DE INTIMAÇÃO DE TESTEMUNHA ARROLADA
PELA DEFESA. AUSÊNCIA DE INDEFERIMENTO, SUBSTITUIÇÃO OU DISPENSA. CERCEAMENTO DE DEFESA.
APELO CONCEDIDO. I - Tratando-se de falta de intimação de testemunha previamente requerida pela
parte, sem qualquer motivação, dá-se provimento ao recurso para anular o processo a partir de tal
ato. Vício que ofende o princípio constitucional do devido processo legal e da ampla defesa. II -
Recurso conhecido e provido parcialmente à unanimidade. (TJ-MA - APR: 259932001 MA, Relator:
NELMA SARNEY COSTA, Data de Julgamento: 01/04/2002, BURITI).

No caso em comento, ocorre que tal testemunha objetivava comprovar fatos


importantes e imprescindíveis para o deslinde do processo. Como por exemplo,
que os acusados nã o quebraram a janela do carro, tendo em vista que já estava
danificada há semanas, devido a um sinistro que envolvera o citado veículo.
Tem-se, desta forma, comprovada a nulidade pela falta de intimaçã o da referida
testemunha.
MÉ RITO:
5. da AUSÊNCIA DAS QUALIFICADORAS E DA DESQUALIFICAÇÃO PARA FURTO
SIMPLES:
Caso restem ultrapassadas as preliminares supra arguidas, o que nã o se espera,
pelo princípio da eventualidade, passa a aná lise de mérito.
5.1. DO DESTRUIMENTO DE OBSTÁCULO:
Prevê o art. 155, § 4º, inciso I, do CP que:
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
[...]
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

Ainda, sobre a importâ ncia da realizaçã o de prova pericial, dispõ em os artigos 158,
167 e 171 do CPP, in verbis:
Art. 158 CPP. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Art. 167 CPP. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Art. 171 CPP. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa,
ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos,
por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.

Dessa forma, para a caracterizaçã o da qualificadora em questã o, segundo a


doutrina, deve haver dano concreto do obstá culo, o qual deveria ser comprovado
através de um laudo pericial.
Ressalta-se ainda, que nã o foi juntado aos autos, o Auto de Levantamento de Local
de Delito, documento que comprovaria a devida destruiçã o do obstá culo.
Veja-se o entendimento jurisprudencial:
APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO QUALIFICADO - TENTATIVA - ARTIGO 155, § 4º, INC. IV, C/C ARTIGO 14,
INC. II, DO CP – [...] PERGUNTAS FORMULADAS POR ESCRITO - PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA
RESPEITADO - QUALIFICADORA PELO ROMPIMENTO OU DESTRUIÇÃO DE OBSTÁCULO NÃO
COMPROVADA - DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO SIMPLES E RESPECTIVO REDIMENSIONAMENTO DA
PENA - SENTENÇA REFORMADA NESTE PONTO [...] (TJ-PR - ACR: 4800982 PR 0480098-2, Relator: Edvino
Bochnia, Data de Julgamento: 03/09/2009, 3ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 230)
APELAÇÃO CRIME. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. IMPRESCINDIBILIDADE DE
PERÍCIA. AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA. [...]. (TJ-PR - APL: 13692772 PR 1369277-2 (Acórdão),
Relator: Luiz Taro Oyama, Data de Julgamento: 12/11/2015, 4ª Câmara Criminal, Data de Publicação:
DJ: 1708 11/12/2015).

Nã o havendo, portanto, provas do emprego de destruimento de obstá culo, o que


macula a correta materialidade da qualificadora, requer a desqualificaçã o para o
crime de furto simples (art. 155, caput, do Có digo Penal).
5.2. DO CONCURSO DE PESSOAS:
Manifesta-se também o apelante pelo afastamento da qualificadora do concurso de
pessoas diante da falta de vínculo subjetivo entre o recorrente e o outro acusado.
Já que o pró prio adolescente A. B. C declara desconhecer a pessoa do apelante.
Nelson Hungria elucida a questã o, quando enfatiza ser “[...] indispensá vel que haja
uma consciente combinaçã o de vontades na açã o criminosa, para caracterizar a
causa especial de aumento de pena”[1].
Nessa perspectiva, veja-se:
APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO QUALIFICADO [...] A AUSÊNCIA DE DOLO DE UM DOS RÉUS
DESCARACTERIZA O LIAME SUBJETIVO, INDISPENSÁVEL PARA A CONFIGURAÇÃO DO CONCURSO DE
PESSOAS E PARA CONDENAÇÃO PELO CRIME DE FURTO QUALIFICADO. ASSIM, O DELITO DE FURTO
QUALIFICADO PELO CONCURSO DE PESSOAS (ART. 155, § 2º, IV, CP) DEVE SER DESQUALIFICADO PARA
O DELITO DE FURTO SIMPLES (ART. 155, CAPUT, CP). - RECURSO PROVIDO, SEM EXTENSÃO DOS SEUS
EFEITOS AO CORRÉU NÃO APELANTE. (TJ-MG - APR: 10427120005470001 MG, Relator: Alberto Deodato
Neto, Data de Julgamento: 15/04/2014, Câmaras Criminais / 1ª CÂMARA CRIMINAL, Data de
Publicação: 25/04/2014).

Por conseguinte, pugna pela descaracterizaçã o da qualificadora de concurso de


pessoas, e consequentemente a desqualificaçã o para o crime de furto simples (art.
155, caput, do Có digo Penal).
6. Corrupção de Menores:
O apelante foi condenado pela prá tica do crime previsto no art. 1º da Lei n.
2.252/54, que assim dispõ e:
Art. 1º Constitui crime, punido com a pena de reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa de Cr$
1.000,00 (mil cruzeiros) a Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros), corromper ou facilitar a corrupção de pessoa
menor de 18 (dezoito) anos, com ela praticando, infração penal ou induzindo-a a praticá-la.

Ressalta-se que a referida Lei foi revogada pela Lei n. 12.015/2009, que alterou a
redaçã o do art. 244-B da Lei 8.069/90, in verbis:
Art. 5º A Lei nº8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescida do seguinte artigo:
“Art. 244-B.Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando
infração penal ou induzindo-o a praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos”.
Porém, impende observar que o apelante nã o participou da conduta delitiva, ou
seja, nã o presenciou o cometimento de qualquer conduta, seja ativa ou
passivamente.
Pois, denota-se dos autos que, nã o há indícios e muito menos provas que
caracterizem o crime em questã o. Ao contrá rio, o pró prio menor em seu
depoimento afirma desconhecer a pessoa do apelante. Restando comprovado,
portanto, que nã o houve qualquer tipo de facilitaçã o ou corrupçã o do menor.
Nesse sentido, veja-se um excerto do entendimento jurisprudencial pá trio:
APELAÇÃO CRIMINAL - CORRUPÇÃO DE MENORES - CRIME NÃO CARACTERIZADO - AUSÊNCIA DE
PROVA DA CORRUPÇÃO OU DA FACILITAÇÃO DA CORRUPÇÃO DO MENOR - ABSOLVIÇÃO QUE SE
IMPÕE – [...]. Para que se caracterize o delito de corrupção de menores, não basta a simples prática do
crime em companhia de menor inimputável, sendo imprescindível que haja prova da atuação concreta
do acusado no sentido de quebrar a resistência do jovem ou adolescente, para corrompê-lo ou
facilitar-lhe a corrupção, sem o que a infração penal não se configura. [...] (TJ-MG - APR:
10433110047241001 MG, Relator: Paulo Cézar Dias, Data de Julgamento: 22/01/2013, Câmaras
Criminais Isoladas / 3ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 29/01/2013).

Por conseguinte, diante da ausência de provas do crime de corrupçã o de menores,


a absolviçã o é medida que se impõ e.
7. DA suspensão condicional do processo:
Sendo as teses anteriores acatadas, o apelante faz jus, conforme prevê o art. 383, §
1º do CPP, o art. 89 da Lei 9.099/91, e também a Sú mula 337 do STJ, in verbis, à
suspensã o condicional do processo.
Art. 155 CP - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 383 CPP. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-
lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
§ 1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão
condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei.
Súmula 333 STJ. É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na
procedência parcial da pretensão punitiva.

Nesse sentido:
APELAÇÃO - FURTO SIMPLES [...] - OBSERVÂNCIA DO ARTIGO 383, DO CPP E DO ENUNCIADO DE
SÚMULA 337, DO STJ - NECESSIDADE - REMESSA DOS AUTOS À INSTÂNCIA DE ORIGEM - RECURSO
PROVIDO PARCIALMENTE. – [...] - Condenado o acusado em segunda instância por crime menos grave
do que imputado na denúncia, nos termos do art. 383, do CPP, observa-se a possibilidade de
suspensão condicional do processo, se preenchidos os requisitos legais (súmula 337, do STJ), o que
enseja o retorno dos autos à Comarca de origem a fim de se oportunizar ao Ministério Público a
possibilidade de oferecimento da proposta inerente, não havendo que se falar, neste momento, em
fixação de pena. - Recurso provido parcialmente. (TJ-MG - APR: 10074130003903001 MG, Relator:
Agostinho Gomes de Azevedo, Data de Julgamento: 22/05/2014, Câmaras Criminais / 7ª CÂMARA
CRIMINAL, Data de Publicação: 30/05/2014).
[...] ART. 383, § 1º. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA DENÚNCIA. LEI 9.099/95. ART. 89. SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO. SÚMULA 337 - STJ. Denúncia que atribuiu a prática de mais de um crime,
mas a sentença de parcial procedência condenou por apenas um, com pena mínima de um ano. Excesso
de acusação. Incidência da Súmula 337 do Superior Tribunal de Justiça, e do art. 383, § 1º, do Código
de Processo Penal. Em caso de desclassificação, ou em caso de concurso de crimes, sendo o
remanescente com pena mínimo igual ou inferior a um ano, antes da condenação deve ser examinada
a possibilidade da suspensão condicional do processo. Sentença desconstituída, em parte. APELO
PARCIALMENTE PROVIDO. POR MAIORIA. (TJ-RS - ACR: 70060296076 RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel,
Data de Julgamento: 16/10/2014, Quarta Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
27/10/2014).

Portanto, requer, havendo a desclassificaçã o do crime, na qual a nova definiçã o


permite a suspensã o, que haja a remessa dos autos para o juízo de primeiro grau,
afim de que, com a devida intimaçã o do representante do Ministério Pú blico,
ofereça a suspensã o condicional do processo ao apelante.
DOS PEDIDOS:
PELO EXPOSTO, requer o apelante seja reformada a decisã o para:
a.) preliminarmente, seja reconhecida a extinçã o da punibilidade com base na
prescriçã o da pretensã o punitiva do Estado, nos termos do art. 107, IV, ou do art.
109. Inciso III, ambos do CP;
b.) reconhecer a prescriçã o retroativa pelo decurso do prazo, nos termos do artigo
109, III do CP;
c.) declarar a nulidade do ato processual, preservando, porém, a prova
testemunhal, tendo em vista a inadequaçã o do rito;
d.) declarar a nulidade, pela falta de intimaçã o da testemunha previamente
arrolada, com base no art. 564, III, h, do CPP;
e.) caso sejam as preliminares improvidas (o que nã o se acredita), no mérito seja
reformada a sentença para reconhecer a nã o configuraçã o do destruimento de
obstá culo e do concurso de pessoas, e consequentemente desclassificar a conduta
típica para furto simples;
f.) absolver o apelante, considerando os argumentos carreados e a absoluta falta de
provas para a caracterizaçã o do crime de corrupçã o de menores;
g.) que com a desclassificaçã o do tipo penal, remeta os autos ao juízo de primeiro
grau, com o objetivo de se possibilitar o oferecimento da suspensã o condicional do
processo.
Termos em que,
pede deferimento.
______, 10 de março de 2016.
__________
Advogado
OAB/PR nº
[1] Comentá rios ao có digo Penal, 1ª Ed., vol. VII, p. 44. O insigne Des. Hoeppner
Dutra, por seu turno, acrescenta que nã o se compreende a majorativa sem a
aquiescência dos co-participantes” O Furto e o Roubo, 1955, p. 244.

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