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Aula 4 27/09

Crime impossível/ quase crime - Art. 17, CP


“Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.”
Também conhecido por tentativa inidônea, impossível, inútil, inadequada ou quase crime, é
a tentativa não punível, porque o agente se vale de meios absolutamente ineficazes ou
volta-se contra objetos absolutamente impróprios, tornando impossível a consumação do
crime
Natureza Jurídica – Trata-se de causa de afastamento da tipicidade (CAT), pois não se
concebe a ideia de se praticar uma conduta que JAMAIS chegaria a um resultado
criminoso.

Hipóteses:
1.ineficácia absoluta do meio (Delito impossível por ineficácia absoluta do meio) – o
meio empregado ou instrumento utilizado jamais levariam a prática de uma conduta
criminosa. Exemplo: água com açúcar para matar alguém, falsificação grosseira de nota.
OBS: a ineficácia relativa leva a tentativa. Exemplo: água com açúcar para diabéticos.

2.absoluta impropriedade do objeto (Delito impossível por impropriedade absoluta do


objeto material) – o objeto sobre o qual recai a conduta criminosa é absolutamente
impróprio não gerando qualquer resultado criminoso. Exemplo: tomar substância abortiva se
não estiver grávida, tentar furtar “quem não tem absolutamente nada para perder”.

OBS: A relativa impropriedade do objeto leva a tentativa. Exemplo: Ladrão tenta enfiar a
mão no bolso direito de alguém para furtar, mas o dinheiro está no bolso esquerdo.

OBS2: O código penal adotou a teoria temperada para crime impossível, que é aquela que
somente haverá crime impossível se as causas forem absolutas.

OBS3: O crime putativo por obra de agente provocador. Nesta situação, alguém, vítima
ou terceiro, provoca o sujeito a cometer um crime, mas ao mesmo tempo toma providências
para que este não seja consumado. Este tipo também é bastante conhecido pelo nome de
“flagrante preparado”, pois, como o nome já sugere, é o caso clássico de preparação de
flagrante por parte de agente (detetive, policial, etc.)

Conflito aparente de normas

O conflito aparente de normas penais ocorre quando há duas ou mais normas


incriminadoras tipificando o mesmo fato, porém, apenas uma norma é aplicada à hipótese.
Daí podem ser tirados alguns elementos para a existência desse conflito: unidade do fato;
pluralidade de normas; aparente aplicação de todas essas normas ao mesmo fato; e
efetiva aplicação de apenas uma delas.

Para solucionar esse aparente conflito temos que estudar quatro princípios. Vejamos:

1 Princípio da Especialidade – é o que ocorre quando o mesmo fato é enquadrável em


uma norma geral e uma norma especial. Neste princípio não se procura saber se o fato é
mais ou menos grave, mas se ele é mais específico. Exemplo: Homicídio e Infanticídio.
2 Princípio da Subsidiariedade – há aplicação deste princípio quando várias normas
protegem o mesmo bem jurídico em fases distintas, de forma que a presença de um tipo
penal mais grave afasta a punição de um tipo subsidiário menos grave. É o que o prof.
Nelson Hungria chamava de soldado reserva. Exemplo: Estupro (mais grave) e o tipo
subsidiário constrangimento legal (menos grave).

3 Princípio da consunção – é aquele que absorve os comportamentos realizados. Pode se


manifestar nas seguintes hipóteses:
3.1 Crime progressivo: é aquele em que o agente para atingir o resultado mais grave
passa necessariamente pelo resultado menos grave. Só responde pelo resultado mais
grave. Exemplo: Para se chegar a um homicídio através de pauladas, o sujeito pratica
várias lesões.
3.2 Progressão criminosa: ocorre quando o agente inicia a realização de uma conduta que
constitui crime menos grave, porém dentro do mesmo “iter criminis” resolve praticar uma
ação mais grave. Só responde pelo resultado mais grave.

OBS: Ante facto impunível – ocorre quando o agente para realizar uma conduta
posterior em regra mais grave realiza uma primeira conduta como meio necessário e
frequente para realização do crime mais grave. Exemplo: Porte ilegal de arma para
prática do homicídio.

OBS2: Post facto impunível – ocorre quando um ato posterior menos grave é
praticado contra o mesmo bem jurídico, mas sem causar nova ofensa. Exemplo:
Furto de um celular e posterior destruição.

OBS3: Súmula 17 do STJ: "QUANDO O FALSO SE EXAURE NO ESTELIONATO,


SEM MAIS POTENCIALIDADE LESIVA, E POR ESTE ABSORVIDO."

3.3 Crime Complexo – é aquele que o tipo penal protege mais de um bem jurídico.
Exemplo: Latrocínio (vida e patrimônio). Extorsão mediante sequestro (liberdade e
patrimônio).
4 Princípio da Alternatividade – é o que ocorre nos denominados crimes mistos
alternativos, de conteúdo variado que são aqueles em que a realização de mais de uma
conduta, no mesmo contexto fático, configura crime único. Exemplo: Induzimento ao
suicídio.

Art. 18, CP

Diz-se o crime:
Crime doloso

I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;

Tipo Doloso

Dolo é a consciência e vontade de realizar os elementos constitutivos do tipo penal. Assim


temos dois elementos essenciais:
A. Consciência
B. Vontade

Teorias quanto ao dolo

A. Teoria da vontade – dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir um resultado


penalmente relevante. (primeira parte, I, Art.18 CP) “I - doloso, quando o agente
quis o resultado”

B. Teoria do assentimento (consentimento) – dolo é o consentimento de um resultado


com aceitação dos riscos em produzi-lo. (segunda parte, I, Art. 18 CP) “ou assumiu
o risco de produzi-lo.”

C. Teoria da representação – dolo é a vontade de realizar a conduta criminosa,


prevendo a possibilidade do resultado sem desejá-lo.

Espécies de dolo

A. Dolo direto – quando o agente quer o resultado penalmente relevante.

B. Dolo indireto – divide-se em:

B.1 Dolo alternativo – ocorre quando o agente quer um ou outro resultado.

B.2 Dolo eventual – ocorre quando o agente prevê o resultado e assume o risco em
produzi-lo

OBS: Diferença entre Dolo Eventual e Culpa Consciente

Dolo eventual e culpa consciente


Há uma previsão do resultado em ambos os institutos. No dolo eventual, há uma previsão
do resultado, mas ele assume o risco (o agente pouco se importa com o que vai acontecer –
vou lá e vou fazer). Já na culpa consciente há uma previsão do resultado, mas o agente
acredita sinceramente que o resultado não vai acontecer devido às suas habilidades. Em
ambos os casos, deve ser analisado o caso concreto para se saber o que se passou na
cabeça do agente no momento da conduta para descobrir se é um caso de dolo eventual ou
de culpa consciente. Como não é possível entrar na cabeça do agente, devem ser
analisadas as condutas ou as circunstâncias que rodeiam o fato para que se chegue à
conclusão do que o agente fez.

Crime Culposo – Art. 18, II, CP

“Diz-se crime:

Crime culposo

II - Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia.

Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato
previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Agravação pelo resultado.”

O crime culposo tem-se conceituado na doutrina como a conduta voluntária (ação ou


omissão) que produz resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente
previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado.

São assim elementos do crime culposo:

1. A conduta
2. A inobservância do dever de cuidado objetivo
3. O resultado lesivo involuntário;
4. A previsibilidade;
5. A tipicidade.

OBS1: A culpa não está descrita nem especificada, mas apenas prevista genericamente no
tipo penal. Isso se deve a absoluta impossibilidade de o legislador antever todas as formas
culposas. Assim pode se dizer que os crimes culposos têm um tipo aberto, uma vez que a
conduta não é descrita em lei, mas sim o seu resultado.

OBS2: A regra é que os crimes sejam dolosos, a culpa constitui exceção.

OBS3: Em matéria de crime culposo não se admite a compensação de culpas, o que é


permitido é a concorrência de culpas, onde os agentes são ao mesmo tempo sujeitos ativos
e passivos na mesma relação de infração penal.

Formas de manifestação de culpas

A culpa se manifesta pela inobservância de um dever objetivo de cuidado que se traduz em:
A. Imprudência: é um fazer, um agir, é uma prática de uma atividade perigosa.
B. Negligência: é um não fazer, um não agir, é a ausência de precaução.
C. Imperícia: é a falta de aptidão para exercício de arte, ofício ou profissão. Pressupõe
a uma qualidade ou habilitação legal.

Espécies de Culpa

A. Culpa consciente: é aquela em que o sujeito prevê o resultado, mas acredita


sinceramente que ele não ocorrerá.
B. Culpa inconsciente: é aquela que o sujeito não prevê o resultado, embora
previsível.
C. Culpa própria é a culpa autêntica: É aquela que decorre da inobservância de um
dever objetivo de cuidado, que se traduz em: Negligência, imprudência e imperícia.
D. Culpa Imprópria: é aquela que na essência é dolosa, mas em razão do erro permite
a punição a título de culpa.

OBS1:Previsibilidade objetiva: trata-se de uma perspicácia comum, normal dos homens


de prever o resultado.
OBS2: Previsibilidade subjetiva: é a capacidade do agente no caso concreto de prever o
resultado em razão de condições a ele inerente.
OBS3: Resultado Involuntário: o crime culposo não admite tentativa, pois o resultado não
é querido ou desejado pelo agente. Não podemos esquecer da chamada culpa imprópria.
(Pois na essência ela é dolosa).

Pesquisa -> 6 espécies de Dolo (estude)

Fonte: Curso de Direito Penal, Parte Geral, Volume I (Rogério Greco)

Espécies de Dolo

O dolo é dividido em Direto e Indireto

Direto é quando o agente quer, efetivamente, cometer a conduta descrita no tipo penal.
Nesta espécie, o agente pratica sua conduta dirigido à produção do resultado pretendido
inicialmente.
Exemplo: Eu quero matar minha sogra, saco minha arma, disparo contra ela que morre.
Minha conduta, foi direta, dirigida a causar a morte da minha sogra.

O Dolo Direto pode ser classificado em Dolo Direto de Primeiro Grau e Dolo Direto de
Segundo Grau

De acordo com o Cezar Roberto Bittencourt (Criminalista e Prof. de DP) “o dolo direto em
relação ao fim proposto e aos meios escolhidos é classificado como de primeiro grau, e em
relação aos efeitos colaterais, representado como necessários, é classificado como de
segundo grau”.

Exemplo1: Eu quero matar minha cunhada, adquiro uma arma, meio tido como necessário
e suficiente para obter sucesso no meu plano criminoso. Espero por ela na garagem do
prédio no horário que ela costuma chegar do trabalho, efetuo disparo, causando sua morte.
Meu dolo é direto, dirigido a produzir o resultado morte, previsto no Art. 121, CP “Matar
alguém:” Além disso pode ser entendido como primeiro grau, não havia possibilidade de
ocorrência de qualquer efeito colateral ou concomitante.
Exemplo2: Eu quero matar minha sogra e minha cunhada. Elas compraram um pacote para
a Disney. Sei o dia e a hora que vão viajar, sei o voo e a cia aérea. Eu coloco uma bomba
no avião a fim de que ele exploda e elas morram. O dolo referente a minha sogra e cunhada
é considerado de primeiro grau pois minha conduta tinha como finalidade a morte delas.
Com relação as demais pessoas, eu nem conhecia e nem mesmo sabia o número exato de
passageiros. Mas o meio utilizado por mim teria como resultado a morte de todos como
certa. Havia certeza com relação aos efeitos concomitantes, faz com que o dolo seja tido
como direto. Contudo, será classificado como de segundo grau, pois a primeira finalidade
não era causar a morte de todos os passageiros. A morte foi querida por mim e foi
consequência necessária do meio que escolhi.

O Dolo Indireto pode ser dividido em Alternativo e Eventual.

Quando a alternatividade do dolo disser respeito ao resultado, fala-se de alternatividade


objetiva; quando a alternatividade se referir à pessoa contra o agente dirige sua conduta, a
alternatividade será subjetiva.
Dolo Indireto Alternativo: É quando o agente quer um ou outro resultado. Tendo como
base o resultado, podemos citar como exemplo o agente que efetua disparos contra a
vítima, querendo feri-la ou matá-la. Quando ele direciona sua conduta a fim de causar
lesões ou a morte de outra pessoa, não se importa com a ocorrência de um ou outro
resultado.

Dolo Indireto Eventual: Quando o agente, embora não querendo diretamente praticar a
infração penal, não se abstém de agir e, com isso, assume o risco de produzir o resultado
que por ele já havia sido previsto e aceito. Muñoz Conde, autor espanhol, ainda neste
sentido tem o seguinte entendimento: “No dolo eventual, o sujeito representa o resultado
como de produção provável e, embora não queira produzi-lo, continua agindo e admitindo a
sua eventual produção. O sujeito não quer o resultado, mas conta com ele, admite sua
produção, assume o risco etc.”

Dolo Geral (Hipótese se erro sucessivo)

Fala-se de dolo geral, quando o autor acredita haver consumado o delito quando na
realidade o resultado somente se produz por uma ação posterior, com a qual buscava
encobrir o fato.
Exemplo: Após deferir golpes de facas na minha sogra, acreditando que ela está morta,
jogo seu corpo num rio para me “desfazer” do corpo, só que na verdade ela veio a falecer
com o afogamento.

Existe uma discussão que entende que o agente deveria responder apenas pela tentativa,
mas rejeitando esta conclusão, o autor alemão Welzel, se posiciona no sentido que o
agente atuava com dolo geral, que acompanhava sua ação em todos os instantes, até a
efetivação do resultado desejado desde o início. Desta forma, se o agente atuou com dolo
de matar ao efetuar os golpes na vítima, deverá responder por homicídio doloso, mesmo
que o resultado morte venha de outro modo.

Dolo Genérico (4) e Dolo Específico (5)


Quando prevalecia a Teoria natural da ação, dizia que Dolo Genérico era aquele que, no
tipo penal não havia indicação da finalidade da conduta do agente. Dolo Específico, era
aquele que no tipo penal, podia ser identificado, o especial fim de agir.

Exemplo1: No Art. 121, CP “Matar alguém:”, não há, segundo adeptos desta distinção,
indicação alguma da finalidade do agente, razão pela qual, se identificava ali o Dolo
Genérico.

Exemplo2: No Art. 159, CP “Sequestrar pessoa, para obter para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:”, na sua redação encontramos
expressões que indicam a finalidade da conduta, logo, existia um dolo específico.
Contudo, adotada a Teoria Finalista da ação, podemos dizer que todo tipo penal há uma
finalidade que difere um do outro, embora não seja tão evidente, trazendo expressões delas
indicativas. Na referida teoria, a ação é o exercício de uma atividade final, ou seja, toda
conduta é finalisticamente dirigida à produção de um resultado qualquer, não importando se
a intenção do agente é mais ou menos evidenciada no tipo penal.

Ausência de Dolo em virtude de erro de tipo (6)

Como já sabemos o dolo em seu conceito, é a vontade livre e consciente de praticar a


infração penal. O erro, numa concepção ampla, é a falsa percepção da realidade. Aquele
que incorre em erro imagina uma situação diferente daquela que realmente existe. Segundo
Zaffaroni (Jurista e Magistrado Argentino), Erro de tipo “é o fenômeno que determina a
ausência de dolo quando, havendo uma tipicidade objetiva, falta ou é falso o conhecimento
dos elementos requeridos pelo tipo objetivo”.

Exemplo: Convidei minha sogra para caçar na Floresta Amazônica. Em um certo momento
ela se perde de mim. Ambas estamos armadas. Chamo por ela que não responde, meus
gritos fazem com que os animais comecem a se movimentar, começo a ouvir um animal
correndo, me escondo atrás de uma árvore e aponto a arma para a direção do barulho, de
repente vejo uma sombra atrás de uma outra árvore, com medo disparo e na verdade era
minha sogra que também ouvia o animal e estava escondida em silêncio com medo do
animal vir na nossa direção.
A minha vontade não era dirigida a matar minha sogra e sim me defender de um suposto
animal que pudesse me atacar. Não existia consciência de que estava atingindo minha
sogra. Desta forma, a consequência natural do erro de tipo é de, sempre, afastar o dolo do
agente, permitindo, contudo, a sua punição pela prática de um crime culposo, se houver
previsão legal, conforme determina o caput do Art. 20 do CP. “O erro, sobre elemento
constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo,
se previsto em lei”.

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