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R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 23, p. 139-154, 2013.

O que sabemos dos grupos construtores de sambaquis? Breve revisão da


arqueologia da costa sudeste do Brasil, dos primeiros sambaquis até a
chegada da cerâmica Jê

Ximena S. Villagran*

VILLAGRAN, X.S. O que sabemos dos grupos construtores de sambaquis? Breve revisão
da arqueologia da costa sudeste do Brasil, dos primeiros sambaquis até a chegada da
cerâmica Jê. R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 23, p. 139-154, 2013.

Resumo: Desde a década de 1990 até o ano de 2012, mais de cento e


cinquenta trabalhos foram produzidos sobre a pré-história do litoral sudeste
do Brasil. A grande maioria dos trabalhos refere-se aos sítios sambaquis, outra
porção aos denominados “acampamentos litorâneos”, com e sem cerâmica, que
caracterizam a pré-história mais recente do litoral. Dentro de tão vasto volume
de trabalhos, quanto sabemos atualmente sobre a evolução da ocupação huma-
na da costa e as características dos grupos que lá habitaram antes da migração
massiva dos Guaranis? Este trabalho pretende sintetizar as informações mais
relevantes produzidas nos últimos vinte anos sobre a pré-história do litoral
sudeste e aventar novas hipóteses para discutir velhas questões referentes ao
povoamento da costa e à “desaparição” dos grupos construtores sambaquis.

Palavras-chaves: Arqueologia costeira; Povoamento da costa; Acampamen-


tos litorâneos; Cerâmica Taquara/Itararé.

Introdução principalmente estudos de dieta e novas aborda-


gens metodológicas, assim como datações que

N os últimos vinte anos numerosas


pesquisas abordaram a arqueologia
da costa sudeste do Brasil, com especial ênfase
recuam na antiguidade da ocupação litorânea até
o inicio do Holoceno. Desde a década de 1990
até o ano de 2012, cerca de cento e cinquenta
nos sítios sambaquis. Os trabalhos referem-se trabalhos foram produzidos sobre arqueologia,
a resultados de análises em sítios específicos, bioantropologia e geoarqueologia de sambaquis
e sítios costeiros com cerâmica Jê. Esse número
inclui artigos científicos, teses e dissertações
defendidas no Brasil e no exterior, assim como
artigos de revisão sobre projetos de pesquisa.
(*) Universidade de São Paulo – Instituto de Geociências Porém, o número pode subestimar a verdadeira
<villagran@usp.br>
Eberhard Karls Universität Tübingen - Institut für Natturwis-
produção científica sobre o tema, já que poten-
senchaftliche Archäeologie cialmente existem trabalhos de formatura e ar-

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sambaquis até a chegada da cerâmica Jê
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tigos publicados em revistas locais que também Janeiro (baía de Guanabara e Região dos Lagos).
contribuem à enorme produção relacionada No entanto, numerosos sambaquis também
com a pré-história da costa sudeste. se encontram nos estados de Paraná e Espírito
O fato de contar com tão vasta quantidade Santo, por exemplo, onde as pesquisas foram
de trabalhos e pesquisas aporta, por um lado, menos abundantes.
à produção de conhecimento sobre as culturas Atualmente, propõe-se que teriam existido
litorâneas, mas pode, por outro, gerar uma nu- dois blocos maiores, embora não exclusivos, de
vem de informações dispersas de difícil articula- desenvolvimento da cultura sambaquieira: 1)
ção na construção do passado. Portanto, cabe Rio de Janeiro, onde os sítios são de mediano
perguntar, com tanta produção associada a uma porte (até 5 m de altura), com associação entre
única temática, quanto se sabe, de fato, sobre áreas de habitação e locais de sepultamento
as culturas litorâneas do Brasil, sua antiguidade (Gaspar, 1991; Barbosa, 2001, 2007); 2) Santa
e sua evolução ao longo do Holoceno? Quanto Catarina, onde os sítios são frequentemente
se sabe sobre o grupo humano por trás dos monumentais (mais de 5 m de altura), com
volumosos e conspícuos sambaquis que captura- maior quantidade de sepultamentos humanos e
ram a atenção de amadores e cientistas desde o presença de zoólitos (Fish et al., 2000; Gaspar et
século XIX? Quanto se sabe sobre a desaparição al., 2008; Gaspar, 1998).
destes grupos do registro arqueológico? Alguns autores propõem que estas duas
A proposta deste trabalho é revisar e sinte- áreas corresponderiam a dois prováveis eixos,
tizar os conhecimentos produzidos por dezenas norte e sul, respectivamente, de povoamento
de pesquisadores nos últimos vinte anos sobre do litoral brasileiro desde o interior. O local de
as características da ocupação humana da costa origem desta leva migratória estaria localizado
sudeste do Brasil. A tentativa é de sintetizar entre o norte do Estado de Paraná e sul de São
as informações sobre cronologia, padrão de Paulo, segundo Neves (1988), ou entre o norte
assentamento, dieta e cotidiano e avançar na do Estado de Santa Catarina e o sul do Paraná,
discussão sobre o povoamento do litoral e a segundo Oliveira (2000). Porém, os sambaquis
desaparição dos sítios associado às tradicionais antigos, do início do Holoceno, não se encon-
culturas da costa. O contexto cronológico vai tram no litoral paranaense, onde a data mais
dos sambaquis mais antigos até o momento recuada alcança os 6500 anos AP (Garcia 1979
em que se detecta a presença de cerâmica Jê no em Brochier, 2009), mas sim nos estados de
litoral sudeste. São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. No
Não se pretende com esta revisão esgotar as entanto, deve-se lembrar de que apesar de terem
possibilidades interpretativas que derivam do sido prospectados mais de 300 sambaquis no
volumoso conjunto de pesquisas realizadas nos litoral do Paraná, somente 13 possuem datação
últimos vinte anos sobre o tema. Este compên- (Brochier 2009).
dio aspira a agrupar os dados e referências bi- Os sambaquis mais antigos correspondem,
bliográficas a modo de ordenar as informações e respectivamente, aos sítios Cambriu Grande, da-
estabelecer vínculos entre novas análises, novos tado em ca. 7.800 anos cal. AP (Calippo, 2004),
resultados e velhas discussões. e o sambaqui do Algodão, datado em ca. 8.700
anos cal. AP (Lima et al., 2002). No estado de
Santa Catarina, o sambaqui mais antigo, o sítio
Os primeiros sambaquis e a ocupação Caipora, está localizado a aproximadamente 20
da costa km da atual linha de costa e foi datado em ca.
7400 anos cal. AP (Giannini et al., 2010).
Os registros sobre ocupação sambaquieira Sambaquis mais antigos ainda se encon-
são mais numerosos nos estados de Santa Cata- tram em áreas interioranas associadas a con-
rina (região de Laguna, Florianópolis e Joinvil- textos fluviais no estado de São Paulo. O sítio
le), Paraná (baías de Paranaguá e Guaratuba), Capelinha, de pouco mais de 10.000 anos cal.
São Paulo (Cananeia-Iguape e Santos) e Rio de AP é o sambaqui fluvial mais antigo do vale

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do rio Ribeira de Iguape (Neves et al., 2005). seguido os vales fluviais que cortam a serra do
A existência de sambaquis fluviais datados do Mar e atuam como portais naturais que facili-
início do Holoceno levou à tentadora possi- tam o deslocamento entre a costa e o interior
bilidade de acreditar que os grupos litorâneos (Lima, 1999; Lima & Lopez Mazz, 1999). Uma
derivam geográfica e culturalmente de pioneiros hipótese semelhante foi proposta por Calippo
coletores de moluscos vindos do interior. No (2010), que também defende a relação entre
entanto, nos últimos vinte anos o estudo da re- sambaquis fluviais e litorâneos do Estado de
lação entre sambaquis costeiros e fluviais, desde São Paulo, com uma possível origem comum
diversas abordagens, coloca as duas realidades vinculada à ocupação dos paleovales fluviais e
como potencialmente derivadas do mesmo gru- paleoplanícies litorâneas do Pleistoceno, como
po e/ou cultura. Esse grupo teria habitado, no também proposto por Barreto (1988). Essa
final do Plesitoceno, a plataforma continental relação original teria desembocado, ao longo do
hoje submersa. tempo, em uma diferenciação entre os grupos
que permaneceram no ambiente fluvial e os que
A relação com os sambaquis fluviais se especializaram no ambiente litorâneo.

As evidências arqueológicas e bioantropoló- A rota litorânea


gicas indicam que os grupos sambaquieiros do
litoral atlântico formam uma entidade indepen- Os sítios concheiros, a exemplo dos
dente, que não guardaria relação evolutiva, gené- sambaquis brasileiros, estão entre as manifesta-
tica nem cultural, com os grupos que atualmente ções mais antigas de ocupações litorâneas com
ocupam o planalto. Os sambaquieiros, sim, estão economias marítimas nas Américas. No litoral
vinculados com as populações ribeirinhas que pacífico do Canadá, Estados Unidos e Peru exis-
exploraram igualmente moluscos terrestres, no tem concheiros a céu aberto e em caverna com
começo do Holoceno. Os grupos associados idades máximas de até 12.000 anos AP (Can-
à formação dos sambaquis fluviais do vale do non, 2000; Sandweiss, 2003; Erlandson et al.,
Ribeira de Iguape, apesar de subsistirem de 2007). No entanto, as evidências de economias
espécies faunísticas e vegetais da Mata Atlântica marítimas antecedem estas ocupações em até
e não litorâneas (ver Alves, 2008 e Plens, 2007), dois mil anos. Tal é o caso do sítio Monte Ver-
apresentam afinidade biológica (Neves and de, na costa sul do Chile, datado em ca. 14.500
Okumura, 2005; Bartolomucci, 2006; Okumura, anos cal. AP (Dillehay, 1999) e do sítio Huaca
2007) e cultural com os grupos costeiros. Outros Prieta, na costa norte do Peru, datado em ca.
trabalhos bioantropológicos mostram diferenças 14.200 anos cal. AP (Dillehay et al., 2012).
entre os indivíduos sepultados nos sambaquis As evidências de ocupações costeiras
fluviais de São Paulo e aqueles enterrados em anteriores ao início do Holoceno são usadas
sambaquis costeiros desse estado e de Santa para reforçar a hipótese de uma via litorânea
Catarina (Filippini, 2004; Filippini and Eggers, de chegada de grupos humanos às Américas
2005). No entanto, nestes trabalhos não se durante o Pleistoceno (entre 20 e 15 kA) através
discutem as causas da diferenciação e inclusive da borda do Pacífico (Fladmark, 1979; Dixon,
se menciona a possibilidade das diferenças serem 2001; Erlandson, 2001; Mandryk et al., 2001;
produto do isolamento geográfico de populações Erlandson et al., 2007; Fagundes et al., 2008).
de origem semelhante. Dados geológicos e biológicos mostram que
A relação entre sambaquis litorâneos e a costa oeste da América do Norte era propí-
fluviais é frequentemente explicada como resul- cia para sustentar o deslocamento de grupos
tado de intrusões sazonais dos grupos litorâneos humanos desde, pelo menos, 16.000 anos cal.
até o interior. Lima (1999) coloca a ocupação AP (Dixon, 2013). Alguns autores propõem que,
do Vale do Ribeira como resultado de intrusões uma vez na América do Sul, a migração costeira
oportunistas de grupos eficientemente adap- teria seguido uma rota atlântica e outra pacífica
tados à vida no litoral. Essas intrusões teriam de colonização, com ingresso ao interior do con-

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tinente pelos vales fluviais que desembocavam durante o Pleistoceno e Holoceno. A relação en-
no oceano (Dixon, 2001; Hubbe et al., 2011; tre a dinâmica costeira e a potencial localização
Miotti & Salemme, 2004; Miotti, 2003; Neves de sambaquis antigos é explicada graficamente
et al., 2003). por Calippo (2010), que propõe um modelo
Da suposta rota atlântica, as ocupações de paleolinhas de costa com áreas possíveis de
litorâneas mais antigas do Brasil podem ser localização de sítios costeiros datados de finais
remanentes. Nesse sentido, as pesquisas sobre do Pleistoceno.
sambaquis na plataforma continental submersa
(ver Calippo 2010), ou sobre sítios soterrados
por depósitos holocênicos (ver Brochier 2009), Os sambaquieiros como sistema cultural
podem ainda trazer ocorrências mais antigas
que corroborem, ou refutem, os modelos de A associação entre área de moradia, descar-
dispersão existentes. te de alimentos e sepultamentos humanos em
Vários indícios já apontam a possível exis- sambaquis, definidos como espaços multifun-
tência de uma antiga via de chegada e ocupação cionais (Gaspar, 1991), levou a considerar aos
da costa brasileira, de origem exclusivamente sambaquieiros como único sistema ou unidade
litorânea, como, por exemplo: 1) a falta de cultural de grande expansão ao longo da costa
relações genéticas entre indivíduos do interior brasileira, embora com desenvolvimentos
e litoral (ver Okumura 2007); 2) as diferenças regionais específicos (Gaspar, 1991, 1998, 2000;
na cultura material dos grupos do interior e dos Tenório, 2004). Inclusive a cultura material dos
grupos litorâneos que, por sua vez, apresentam grupos sambaquieiros permanece constante ao
cultura lítica de características semelhantes ao longo da faixa costeira, caracterizada, em termos
longo de toda a franja costeira (DeBlasis et al., gerais, por tecnologia lítica e óssea polida (De-
1998; Tenório, 2004); 3) e o vinculo genético e Blasis et al., 1998; Tenório, 2004).
cultural entre os grupos litorâneos e aqueles que No entanto, as diferenças morfológicas,
ocuparam um dos corredores mais importantes composicionais e inclusive artefatuais, observa-
de comunicação entre o planalto e litoral (os das por trás da aparente homogeneidade dos
sambaquis fluviais do vale do Ribeira de Iguape) sambaquis, também foram propostas como
(ver Calippo 2010; Lima, 1999; Lima & Lopez evidência de uma multiplicidade de sistemas
Mazz, 1999; Okumura 2007). Somado a isso, a socioculturais que se expandiram ao longo da
lacuna de datas recuadas para o estado do Para- costa (Lima, 1991, 1999). Nesse sentido, estudos
ná (suposta via de entrada do interior à costa), bioantropológicos mostram a homogeneidade
apesar de ser potencialmente uma ausência genética entre os indivíduos sepultados em sam-
metodológica, como mencionado antes, indire- baquis, com existência de microdiferenciações
tamente sustenta uma via litorânea de migração. regionais na costa (Neves, 1988; Mendonça de
O povoamento de América do Sul ainda Souza, 1995; Okumura, 2007). Também estudos
é objeto de controvérsia. Ainda não há provas isotópicos, realizados em sambaquieiros do lito-
suficientes que afirmem movimentos desde o ral paulista, identificaram microdiferenciações,
interior do continente até a costa ou vice-versa; explicadas como produto do desenvolvimento
assim como não há consenso quanto à quan- local de grupos que habitaram a plataforma
tidade de fluxos migratórios que existiram da continental hoje submersa (Calippo, 2010). Isso
Ásia até as Américas (Dillehay, 2009). Assim, sugere que tanto unidade quanto desenvolvi-
a maneira de hipótese pode-se pensar que a mentos locais podem expressar a realidade bio-
ocupação da costa brasileira possa estar rela- lógica e cultural da ocupação costeira associada
cionada com uma potencial rota atlântica de à formação dos sambaquis.
colonização da América do Sul (ver Hubbe et As pesquisas de tipo sistêmico-funcionais
al., 2011; Neves et al., 2003; Rothhammer & realizadas em sambaquis (ver Villagran, 2010)
Dillehay, 2009). Os seus remanentes estariam produziram informações de base que permiti-
hoje submersos devido ao aumento do NRM ram caracterizar os grupos costeiros quanto ao

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seu padrão de assentamento, função dos sítios, relacionados com as atividades cotidianas dos
subsistência e organização social. O assentamen- grupos costeiros. Estudos bioantropológicos
to teria sido preferencial em franjas do litoral confirmaram a prática de pesca e mergulho
que incluíram a formação de estuários, baías e através de marcadores osteológicos específicos,
sistemas de lagunas costeiras durante sua evolu- tanto em homens quanto em mulheres (Neves,
ção no Holoceno (Gaspar, 1991; Figuti, 1993; 1988; Mendonça de Souza, 1995; Rodrigues-
DeBlasis et al., 1998; Lima, 1999; Lima and -Carvalho, 2003; Okumura and Eggers, 2005;
Lopez Mazz, 1999; Fish et al., 2000; Amâncio Petronilho, 2005), junto com evidências de
and Dominguez, 2003; Perreti, 2009; Calip- sedentarismo e alta densidade populacional
po, 2010). A distribuição dos sítios formaria (Mendonça de Souza, 1995; Neves and Wesolo-
grupamentos ao redor dos grandes corpos de wski, 2002; Okumura and Eggers, 2005).
água, fonte dos recursos alimentícios (Gaspar, Quanto aos padrões de residência, Hubbe
1991; Kneip, 2004; Barbosa, 2007). A ocupação et al. (2009) corroboraram a proposta de Neves
dos sambaquis teria sido contínua, sem táticas (1998) da existência de um padrão de residência
sazonais de mobilidade, com sítios que serviam matrilocal entre os sambaquieiros. Os autores
de local de residência contínua e outros que baseiam sua conclusão em uma amostragem
eram ocupados como acampamento temporário extensa que inclui tanto sambaquis, como sítios
(De Masi, 1999, 2001). com cerâmica Taquara/Itararé nos estados de
Apesar do volume de moluscos acumulados Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
nos sambaquis, os peixes seriam a principal Por último, os trabalhos de influência
fonte de proteína para estas populações (Bandei- pós-moderna na arqueologia de sambaquis,
ra, 1992; Figuti & Klokler, 1996; Figuti, 1992, que apontam a aspectos simbólicos do ritual
1993; Klokler, 2001, 2008; De Masi, 1999, funerário associado à formação de alguns sítios,
2001), com consumo complementar de espécies mostram a relação dos ambientes costeiros e
vegetais (Boyadjian 2007; Scheel-Ybert et al. seus recursos no ritual funerário e simbolismo
2003, 2009a; Wesolowski 2000; Wesolowski et dos grupos litorâneos (Gaspar, 2000, 2004;
al. 2007) e consumo ocasional de mamíferos Gaspar et al., 2007; Klokler, 2008). Dentre estes
marinhos (focas, golfinhos e baleias) (Castilho, trabalhos, destaca-se uma nova linha de pesqui-
2005; Castilho & Simões-Lopes, 2008; Klokler, sa que se refere a estudos de gênero. O estudo
2008; Prous, 1992). Os conjuntos artefatuais pioneiro foi realizado por Escórcio & Gaspar
recuperados em sambaquis, como arpões e (2010) a partir da análise do mobiliário funerá-
redes de pesca, confirmam a dependência dos rio em homens e mulheres sepultados em sam-
recursos aquáticos (Prous, 1992; Tiburtius, baquis do litoral do Rio de Janeiro. As autoras
1996; DeBlasis et al., 1998). indicam a ausência de divisões rígidas entre os
A existência de embarcações para desloca- gêneros e grande variabilidade nas frequências
mento e pesca foi proposta por Gaspar (1991) e de tipos artefatuais associados a cada gênero.
inferida de maneira indireta em vários traba- Nesse sentido, cabe ressaltar as altas ocorrências
lhos posteriores. As inferências baseiam-se na de lesões ósseas observadas em mulheres enterra-
existência de sambaquis em ilhas, paleoilhas das no sambaqui Zé Espinho, litoral do Rio de
hoje ancorados à terra firme por tômbolos, Janeiro, interpretada como indicador de violên-
ou em morros testemunho do embasamento cia doméstica ou sequestro (Rodrigues-Carvalho
cristalino que antigamente se achavam em meio et al., 2009).
a grandes corpos de água atualmente assoreados Essas informações permitem definir os
(Amenomori, 2005; Calippo, 2010; Giannini et grupos sambaquieiros como culturas marítimas,
al., 2010; Nishida, 2001; Prous, 1992; Tenorio, como estabelecido por Calippo (2010) a partir
2003). das propostas de Muckelroy (1978), Adams
Outra vertente de estudos, que inclui aos (2002) e Diegues (2004). A relação dos samba-
trabalhos especializados sobre componentes quieiros com as fontes de recursos aquáticos
particulares dos sítios, permitiu refinar aspectos (mar, lagunas, estuários) iria além da exploração

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dos seus componentes bióticos para subsistência arquitetura é o sítio Jabuticabeira 2, localizado
do grupo. A exploração dos ambientes litorâne- no litoral sul de Santa Catarina. Composto por
os comportaria uma visão específica do mundo, duas camadas estratificadas de espessura métrica
desenvolvida a partir do vínculo e da “apro- (conchífera na base e ictiológica no topo), este
priação” não exclusivamente econômica, mas sambaqui ofereceu as seguintes informações e
também política, social e simbólica do meio interpretações: 1) a construção do sítio seguiu
físico e suas particularidades. um padrão de levantamento de pequenos mon-
tículos funerários, que se superpõem no tempo
A formação dos sambaquis e no espaço (DeBlasis et al., 1998; Fish et al.,
2000; Karl, 2000; Klokler, 2001, 2008; Benda-
Desde o abandono do debate inicial sobre zzoli, 2007; Nishida, 2007); 2) os sepultamentos
o caráter antrópico ou natural dos sambaquis, a humanos eram acompanhados por resíduos de
intencionalidade na formação dos sítios tornou- festins celebrados em honra aos mortos (Klokler
-se essencial nas explicações sobre a formação 2001, 2008); 3) a queima de materiais vegetais e
dos sítios. Na década de 1990, vários autores faunísticos, de espécies vegetais e animais dispo-
postularam que os sambaquis podem ser consi- níveis nas proximidades do sítio, foi uma prática
derados como artefatos, por terem sido delibe- recorrente (Bianchini, 2008; Klokler, 2008;
radamente construídos a partir da acumulação Nishida, 2007; Villagran, 2008; Villagran et al.,
humana de conchas (Gaspar, 1991; Gaspar and 2009, 2010) e algumas espécies vegetais podem
DeBlasis, 1992; Afonso and DeBlasis, 1994; ter sido queimadas graças a suas características
Figuti and Klokler, 1996). aromáticas, vinculadas com atividades rituais no
Atualmente considera-se que as conchas sambaqui (Bianchini et al., 2007); 4) os mate-
que constituem a matriz dos sambaquis teriam riais que compõem tanto a camada conchífera
sido utilizadas, na sua maioria, como elemento como a ictiológica representam uma somatória
construtivo que outorga volume às estruturas, de episódios de queima, acumulação e descarte
utilizadas tanto como local de habitação quanto de resíduos alimentares para a construção dos
como de deposição dos mortos (Afonso & montículos, através de um processo que expres-
DeBlasis, 1994; Figuti & Klokler, 1996; Gas- sa a ritualização dos elementos descartados em
par, 1991, 2004; Gaspar et al., 1994; Gaspar & contexto doméstico ou cerimonial (Villagran,
DeBlasis, 1992; Klokler, 2001, 2008). Inclusive 2008, 2010; Villagran et al., 2009; Villagran et
a escolha dos locais de coleta das conchas nem al., 2009a; Villagran et al., 2010). Nesse sentido,
sempre estaria associada à proximidade do a ausência de áreas de habitação claramente
recurso, senão a preferências culturalmente identificáveis no sambaqui ou nas imediações
determinadas (Calippo, 2010). pode estar vinculada ao hábito retrabalhamen-
Diversas hipóteses e modelos foram propos- to de resíduos para posterior deposição no
tos para explicar o processo de construção dos sambaqui (Villagran 2008, 2010; Villagran et al.
sambaquis. Em todos os modelos predomina a 2009a, 2009b).
visão dicotômica centro versus periferia, como Em termos gerais pode-se dizer que os
estrutura subjacente à ordenação do espaço modelos propostos para a formação dos sítios
nos sítios. Áreas centrais de habitação, carac- derivam do tipo de intervenção e análise realiza-
terizadas por grandes estruturas de combustão da em cada caso. Sítios onde houve escavações
ou pisos de argila, estariam rodeadas ou seriam amplas costumam fornecer informações mais
imediatas ao local de deposição e acumula- detalhadas sobre a sua função; enquanto sítios
ção de resíduos cotidianos, fato caracterizado como Jabuticabeira 2, onde as análises se ba-
também pela maior frequência de resíduos de seiam em amostragens nos perfis estratigráficos,
lascamento (Gaspar and DeBlasis, 1992; Bryan, permitem observar a espacialidade e tempora-
1993; Tenório et al., 2008). lidade dos padrões construtivos, assim como a
O sambaqui com informações mais de- continuidade ou mudança de comportamento
talhadas sobre o seu processo de formação e na atividade construtora.

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Os “acampamentos conchíferos/ litorâneos” mesma linha interpretativa, a nova estratégia de


subsistência indicaria a transformação dos cole-
As evidências de ocupação humana pré- tores de moluscos em grupos mais sedentários,
-histórica no litoral sul e sudeste do Brasil não com economia de pesca e organização de tipo
se restringem aos sambaquis. Existe outro tipo tribal (Lima, 1999).
de sítio na costa, denominado de “acampamen- No entanto, estudos zooarqueológicos
to litorâneo” e formado por acumulações rasas (Bandeira, 1992; Figuti, 1992; Nishida, 2001,
(de menos de 1 m de altura) e superfície variável 2007) e isotópicos (De Masi 1999, 2001) de-
(de 200 até 2000 m2) de sedimentos finos, monstraram que a pesca foi a atividade econô-
frequentemente referidos como “terra preta”, mica principal tanto em sambaquis como em
ossos de peixe e escasso, senão nulo, conteúdo acampamentos litorâneos, e o consumo de peixe
de conchas de moluscos. a fonte básica de proteína entre todos os grupos
Os acampamentos conchíferos ou litorâne- costeiros.
os, também referidos na literatura mais antiga A diferença na distribuição geográfica entre
como paradero, sítio paleoetnográfico, sítios sambaquis, associados aos sistemas lagunares, e
rasos, ou sambaquis sujos, podem acontecer seja os acampamentos, frequentemente localizados
como sítio isolado, seja superposto a sambaquis em praias de mar aberto, pode resultar de um
(Lima 1999; Prous 1992). Esse tipo de depó- viés de observação e/ou preservação; isto é, a
sito encontra-se desde o Rio de Janeiro até o baixa visibilidade dos sítios superficiais e sua
Rio Grande do Sul. No Rio de Janeiro foram suscetibilidade ao preenchimento sedimentar
associados à tradição Itaipu (Dias, 1976; Men- característico das porções do litoral brasileiro
donça de Souza, 1991), esquema classificatório submetidas ao efeito das variações do NRM
atualmente em desuso (Gaspar 1991). no Holoceno (Brochier, 2009; Giannini et al.,
Em São Paulo encontram-se nas ilhas e 2010). Isso se vincula com a cronologia dos
apresentam associação entre área de moradia sítios, já que a idade máxima dos acampamen-
e sepultamento dos mortos (Nishida, 2001; tos, em torno aos 2600 anos AP (Schmitz et al.,
Amenomori, 2005). No Paraná, as informa- 1992; Schmitz and Bittencourt, 1996; Nishida,
ções são escassas e incluem uma menção no 2001; Barbosa, 2007), é sempre posterior à
trabalho de Bigarella (1950). Em Santa Catari- máxima transgressão holocênica.
na os acampamentos litorâneos são abundan- Estudos craniométricos mostraram afinida-
tes, especialmente na Ilha de Santa Catarina de genética entre os indivíduos sepultados nos
e no litoral norte do estado. Apresentam acampamentos das ilhas paulistas e nos samba-
vastas áreas habitacionais, com estruturas de quis do litoral continental do estado, mesmo
combustão (rodeadas de seixos), buracos de padrão observado entre acampamentos na ilha
estaca, pisos de argila compactada, “fornos de Santa Catarina e sambaquis continentais
polinésios” e artefatual lítico e ósseo. Grandes (Okumura, 2007). No Estado de São Paulo,
concentrações de sepultamentos humanos são a afinidade biológica teria se transformado,
igualmente comuns (Beck, 1971, 1972; Rohr, com o tempo, em estratégias de subsistência
1984; Prous, 1992). diferenciadas para ocupações em sambaquis e
Por serem compostos primordialmente de acampamentos (ver Calippo 2010). A associação
restos de peixe, os acampamentos litorâneos entre áreas de moradia, descarte de alimentos
foram tradicionalmente interpretados como e enterramento dos mortos que se observa em
produto de uma mudança na dieta das popula- sambaquis e acampamentos litorâneos, junto
ções costeiras. Essa mudança teria envolvido a com a similaridade nas indústrias líticas, ósseas
substituição da coleta de moluscos pelo desen- e malacológicas e afinidade biológica nos indi-
volvimento de pesca especializada, motivada por víduos sepultados em ambos os tipos de sítio,
câmbios ambientais e/ou superexploração dos sugere que sambaquis e acampamentos teriam
bancos de moluscos (Lima, 1991, 1999; Schmitz sido produzidos por uma mesma população e
et al., 1993; Mendonça de Souza, 1995). Na que se tratava de realidades coetâneas.

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O que sabemos dos grupos construtores de sambaquis? Breve revisão da arqueologia da costa sudeste do Brasil, dos primeiros
sambaquis até a chegada da cerâmica Jê
R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 23, p. 139-154, 2013.

Por que desapareceram? Por exemplo, indústria lítica típica do planalto foi
achada em sítios costeiros, assim como zoólitos
Os processos que conduziram ao fim da também foram achados em sítios do planalto
cultura sambaquieira compreendem uma combi- (Silva et al., 1990; Prous, 1992). Grânulos de
nação de fatores ambientais e culturais. Entre os amido de araucária também foram achados no
fatores ambientais propõem-se: o impacto que teve cálculo dentário de indivíduos sepultados em
nos bancos de moluscos a mudança na salinidade sambaquis (Wesolowski et al., 2007). No Rio de
dos corpos de águas devido às flutuações do nível Janeiro, fragmentos de cerâmica Una (também
relativo do mar no Holoceno (Barbosa, 2007; associada ao tronco Macro-Jê) foram recuperados
Calippo, 2010; Gaspar et al., 2008; Hurt, 1974); e em sambaquis em níveis de até 3600 anos AP
a predação antrópica dos moluscos, que teria pro- (Crancio and Kneip, 1994; Kneip, 1994).
vocado a completa exaustão deste recurso (Lima No próximo tópico, se discutirão os estudos
1999). Os fatores culturais referem-se à migração mais recentes realizados em sítios mistos do
até o litoral dos grupos ceramistas do tronco lin- Estado de Santa Catarina e como as evidências
guístico Jê, vindos do planalto há aproximadamen- assinalam a necessidade de formular novas
te 1500-1000 anos atrás, o que teria provocado a explicações para a influência Jê no litoral.
completa desestabilização do sistema sociocultural
dos sambaquieiros e posto fim ao projeto de acumu- Os sítios “mistos” ou sítios costeiros com
lação social de conchas (Beck, 1972; Gaspar, 1991; cerâmica
Schmitz et al., 1993; Lima, 1999; Barbosa, 2007;
DeBlasis et al., 2007; Gaspar et al., 2007, 2008) Os sítios mistos aparecem em maior número
de modo aparentemente violento e conflituoso no Estado de Santa Catarina, apesar de também
(Lessa, 2005; Lessa & Scherer, 2008). existirem nos estados de Paraná e Rio Grande do
A influência dos grupos Jê no litoral obser- Sul, embora em menor frequência de aparição.
va-se claramente na existência de sítios costei- Esses sítios foram tradicionalmente associados à
ros com cerâmica Taquara/Itararé, definidos chegada dos grupos ceramistas que, uma vez na
aqui como “sítios mistos”. Esses sítios podem costa, teriam adotado estratégias de captação de
aparecer isolados ou nos estratos superiores recursos que incluíam a pesca e coleta de molus-
dos sambaquis (Schmitz et al., 1993; DeBlasis cos (Silva et al., 1990; Schmitz et al., 1993; Sch-
et al., 1998; Lima, 1999; Gaspar et al., 2008). mitz, 1996, 1999; Bandeira, 1999; Fossari, 2004).
A cerâmica Taquara/Itararé caracteriza os A interpretação baseia-se na diferença morfológi-
grupos Jê meridionais, que teriam chegado ao ca e composicional entre sítios mistos e samba-
sul do Brasil, desde o planalto central brasileiro, quis, junto com a presença de cerâmica e maior
há pelo menos 3000 anos (Brochado, 1984; diversidade na indústria óssea que se observa em
Urban, 1992; Noelli, 2000). Os sítios mistos são alguns sítios mistos. No entanto, estudos recentes
frequentemente datados entre 1500 e 500 AP e sugerem um panorama algo distinto.
têm a particularidade de apresentar, juntamente Wesolowski (2000), a partir de análise de
com cerâmica Taquara/Itararé, ritual funerário marcadores osteológicos, observa padrão típico de
e conteúdo faunístico e artefatual semelhantes grupos caçadores-coletores tanto em indivíduos
aos da cultura sambaquieira. Exemplo disso são: sepultados em sambaquis como em sítios mistos
a camada superficial dos sambaquis Enseada I e do litoral norte de Santa Catarina. Existiria
Forte Marechal Luz; e os sítios Praia das Laran- uma continuidade na dieta dos habitantes da
jeiras II, Tapera, Base Aérea e Armação do Sul costa, sem adoção da horticultura quando da
(Beck, 1972; Schmitz et al., 1992, 1993). chegada da tecnologia cerâmica. Isso leva a auto-
Esses sítios representam a intensificação do ra a construir duas hipóteses: 1) que os grupos
contato entre planalto e litoral, já que evidências que ocuparam os sítios mistos não guardariam
de intercâmbio material entre as duas regiões, relação com os grupos do planalto; 2) que os
sem intercâmbio genético (ver Okumura, 2007), grupos do planalto, horticultores, abandonaram
existem desde antes da aparição dos sítios mistos. esta prática ao chegar ao litoral.

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Ximena S. Villagran

Análises craniométricas realizadas por Oku- Domínio e miscigenação


mura (2007) reafirmam o proposto por Neves
(1988) sobre a afinidade genética entre indiví- Existem duas diferenças maiores entre
duos sepultados em sítios mistos e sambaquis sambaquis e sítios mistos: a primeira refere-se
da Ilha de Santa Catarina. Os mesmos estudos ao padrão de residência pós-marital observado
mostram semelhanças entre séries ceramistas e em cada tipo de sítio; a segunda, às marcas de
sambaquis (não ceramistas) do litoral norte e violência detectadas nos indivíduos enterrados
sul do estado. Já no litoral norte e sul de Santa em sítios mistos.
Catarina, a continuidade genética não é tão Hubbe et al. (2009) identificaram que, em
clara (Okumura 2007). vários sítios mistos, entre os quais se incluem
As análises isotópicas realizadas por Bastos o da Tapera e Forte Marechal Luz, discuti-
(2009) e Bastos et al. (2011) em indivíduos se- dos anteriormente, o padrão de residência é
pultados nos níveis pré-cerâmicos e cerâmicos patrilocal, em oposição ao padrão matrilocal
do sambaqui Forte Marechal Luz (Ilha de São observado em sambaquis. O novo padrão de
Francisco do Sul, SC) indicaram predomínio residência pode ser interpretado como resultado
de indivíduos autóctones em ambos os níveis. da chegada de novas populações. No entanto,
Do conjunto de 32 indivíduos analisados, entre os Jê meridionais do período histórico
unicamente três não eram locais e provêm (Xokleng e Kaigang) menciona-se padrão de
do interior, dois estavam enterrados no nível residência matrilocal (Urban 1978) e também
cerâmico do sambaqui, e um no nível pré- bilateral (Santos, 1973), este último relacionado
-cerâmico. Estas análises também mostraram à reestruturação, produto das pressões exercidas
leves mudanças no padrão alimentar dos indi- pela sociedade nacional, como salienta Santos
víduos enterrados no nível cerâmico do sítio, (1973). Portanto, Jê e sambaquieiros podem
que os autores interpretam como resultado de ter possuído o mesmo padrão de residência e
maior deslocamento até o interior em busca de a mudança observada em tempos tardios, uma
recursos. resposta às pressões externas associadas com o
No sítio misto praia da Tapera (Ilha de aumento da influência Jê no litoral.
Santa Catarina), frequentemente associado a Em indivíduos sepultados em sítios mistos
grupos Itararé (Silva et al. 1990; Fossari 2004; de Santa Catarina detecta-se um aumento nas
Schmitz et al. 1993), estudos sobre marcadores marcas de violência (Lessa 2005; Lessa & Sche-
de estresse realizados por Scherer et al. (2006) rer 2008). No entanto, outros estudos mostram
indicam a prática de atividades vinculadas que os indivíduos sepultados em sítios mistos
à captação de recursos marinhos (natação, apresentam as mesmas marcas osteológicas de
remo, arremesso de redes, etc.). Esses mesmos atividade e a mesma dieta que os ocupantes dos
indicadores foram amplamente identificados sambaquis (Wesolowski, 2000; Scherer et al.,
entre sambaquieiros de Santa Catarina e Rio 2006; Okumura, 2007; Bastos, 2009).
de Janeiro (ver Mendonça de Souza 1995; A mudança observada no padrão de
Rodrigues-Carvalho 2003). residência e o aumento da violência seria mais
As evidências anteriores parecem indicar significativa que a adoção da cerâmica, já que
continuidade entre os indivíduos sepultados em influi em vários aspectos da organização social
sambaquis e sítios mistos e apontam a confir- e política. Isso significa que, apesar de predo-
mar a primeira das hipóteses propostas por minar a continuidade genética e cultural entre
Wesolowski (2000). Assim como observado para ocupações cerâmicas no litoral e sambaquis, a
os acampamentos litorâneos sem cerâmica, os influência interiorana há 1500-1000 anos foi
sítios mistos teriam sido produzidos pela mesma mais complexa que a simples transmissão de
população costeira e não necessariamente por uma inovação tecnológica como a cerâmica. Tal
migrantes ceramistas do interior que velozmen- influência teria envolvido mudanças radicas na
te desenvolveram uma vida marítima, como já organização social, com intercâmbio de indiví-
mencionado por Prous (1992). duos, assim como aumento na violência inter e

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O que sabemos dos grupos construtores de sambaquis? Breve revisão da arqueologia da costa sudeste do Brasil, dos primeiros
sambaquis até a chegada da cerâmica Jê
R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 23, p. 139-154, 2013.

intragrupal (como mostrado por Lessa, 2005, e dos sambaquis do litoral sudeste para sistematizar
Lessa & Scherer, 2008). as informações e contribuir à formação de um pa-
Aqui se propõe que o crescimento popula- norama unificado sobre a pré-história do litoral.
cional e o poderio alcançado pelas populações Como mencionado na introdução, este trabalho
do planalto, há 1500 anos, provocou a intensi- não pretende que o panorama unificado seja
ficação nas redes de interação entre planalto e único ou exclusivo na explicação da pré-história
litoral (ver Prous 1992). O novo domínio dos do litoral sudeste. Este trabalho, de natureza es-
Jê sobre os sambaquieiros, que provocou uma sencialmente bibliográfica, expõe os mais recentes
intensa reestruturação e transformação do sis- avanços das pesquisas na região com breves dis-
tema sociocultural das comunidades litorâneas cussões sobre temas chave refrentes a povoamento
(ver Gaspar et al. 2007), pode inclusive ser uma da costa, relação dos sambaquis com outros sítios
resposta à pressão exercida pelos Guaranis so- costeiros e abandono do projeto construtivo em
bre as populações interioranas (ver Noelli 1999, conchas. As hipóteses levantadas refletem a visão
2004). Assim, seriam estes indivíduos miscige- da autora sobre os fenômenos discutidos e não
nados no último milênio, sob o domínio da necessariamente a conclusão final de discussões
influência interiorana, os que encontraram que ainda estão longe de ser esgotadas.
os guaranis na costa, e não os descendentes
de uma suposta leva migratória de grupos do
planalto que se adaptaram rapidamente à vida Agradecimentos
litorânea há 1500-1000 anos.
Agradeço o apoio financeiro da FAPESP
(processo 08/51264-0) e do CNPq (processo
Conclusões 142532/2008-8). À Prof. Maria Dulce Gaspar
(MN/UFRJ) pela leitura crítica da revisão biblio-
O objetivo deste trabalho foi agrupar os re- gráfica aqui apresentada e ao Prof. Paulo C.F.
sultados da produção científica sobre arqueologia Giannini (IGc/USP) pela revisão gramatical.

VILLAGRAN, X.S.What do we know about the sambaqui builders? Short review of the
archaelogy of the southeastern coast of Brazil, from the first sambaquis to the arrival
of Jê pottery. R. Museu Arq. Etn., São Paulo, n. 23, p. 139-154, 2013.

Abstract: From 1990 to the year of 2012 more than a hundred and fifty
papers were written on the prehistory of the southeast coast of Brazil. Most of
these works refer to the sambaqui (shell mound) sites, while another portion to
the so called “coastal campsites”, with or without ceramics, that characterize the
recent prehistory of the coast. Within such a wide volume of work, how much
do we actually know about the evolution of the human occupation of the coast
and the characteristics of the groups that there inhabited before the massive mi-
gration of the Guarani groups? This paper aims to synthesize the most relevant
information produced in the last twenty years on the prehistory of the southeast
coast and to suggest new hypothesis on old questions related with the peopling
of the coast and the “disappearance” of the sambaqui builders.

Key-words:: Coastal archaeology; Peopling of the coast; Coastal campsites;


Taquara/Itararé pottery.

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Ximena S. Villagran

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