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Apocalipse
Daniel Conegero
As sete seções também podem ser organizadas em duas grandes seções, sendo a
primeira entre os capítulos 1 ao 11 (agrupando três seções menores), e a segunda
entre os capítulos 12 ao 22 (agrupando quatro seções menores, e totalizando as
sete seções).
Voltando às sete seções menores, na primeira seção (Os Sete Candeeiros caps. 1-3)
vemos como Cristo se revela através de sua Igreja, e como Ele a conhece
profundamente. Na segunda seção (Os Sete Selos caps. 4-7) vemos a perseguição
clara do mundo contra essa Igreja. Na terceira seção (As Sete Trombetas caps. 8-11)
temos o juízo parcial de Deus, também como resposta às orações da Igreja
perseguida, sendo derramado em forma de aviso contra o mundo perseguidor. E,
finalmente, na quarta seção em questão (caps. 12-14) temos o dragão e seus
aliados atacando a Igreja como reflexo da luta que os olhos não veem, como já
foi citado.
No capítulo 12 vemos que o propósito principal do dragão é destruir o filho da
mulher (Cristo). Por conta disso, a mulher é perseguida por ele, a fim de que o
nascimento do menino fosse evitado. Esse conflito é anunciado ainda no livro de
Gênesis 3:15:
E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua
semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
(Gênesis 3:15)
A “semente” da mulher em Gênesis 3 é o “filho varão” em Apocalipse 12, bem
como a “serpente” é o “dragão” (Ap 12:9). Podemos ver a realidade desse conflito
anunciado no primeiro livro da Bíblia e por todo o Antigo Testamento, com a
tentativa de Satanás em frustrar a promessa inicial de Gênesis.
Além do mais, qual seria a importância prática para os irmãos das sete igrejas da
Ásia menor, que estavam vivendo uma intensa perseguição pelo Império Romano,
uma descrição de Israel ou de Maria como sendo a mulher perseguida no capítulo
12?
Considerando o contexto histórico, não faria muito mais sentido aqueles irmãos
entenderem que a mulher é um símbolo da Igreja? Certamente essa foi a
interpretação daqueles irmãos, que puderam ver a guerra que existe por trás da
perseguição a Igreja de Cristo sofre.
É claro que Maria está incluída como membro que desempenhou um papel
fundamental nesse grupo simbolizado pela mulher, bem como o próprio Israel, a
qual tivera a revelação especial de Deus (Rm 2; 3) e formava a Igreja do Antigo
Testamento, embora claramente não devemos entender que todos os judeus do
Antigo Testamento fizeram parte da Igreja, portanto há uma diferença entre o Israel
étnico e o Israel como Igreja do Antigo Testamento.
Logo, a mulher é um símbolo da única Igreja de Cristo em todos os
tempos. Para uma melhor compreensão, devemos perceber que o capítulo 12
primeiramente enfatiza a Igreja do Antigo Testamento, e após o versículo 13 a
descrição passa a incluir os santos da nova dispensação, enfatizando a Igreja do
Novo Testamento. O versículo 17 deixa isto muito claro ao dizer que o dragão “foi
pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de
Deus e têm o testemunho de Jesus“.
A descrição da mulher
O capítulo 12 faz uma descrição da mulher. Ela está vestida de sol (vers. 1), o que
significa que ela é gloriosa e exaltada, e reflete o brilho da glória de Deus. Ela tem a
lua debaixo de seus pés (vers. 1), isto é, ela exerce domínio pela autoridade
outorgada pelo próprio Cordeiro. Ela tem em sua cabeça uma coroa de doze
estrelas (vers. 1), ou seja, ela é vitoriosa, ela é vencedora.
A mulher está grávida (vers. 2), o que significa que ela tem uma grande missão: dar
a luz a Cristo segundo a carne (Rm 9:5). Aqui é mais uma clara referência a Igreja do
Antigo Testamento, através de um povo especialmente escolhido por Deus pela
qual o Messias viria ao mundo. Esse processo não foi nada fácil. O dragão
perseguiu ferozmente esse povo, essa igreja, essa mulher, mas Deus a guardou, e
na plenitude dos tempos Jesus nasceu.
Por fim, vemos também que a mulher é protegida por Deus (vers. 6, 14). O livro do
Apocalipse mostra essa proteção de forma maravilhosa. Nele, sabemos que a Igreja
é selada (Ap 7:3; 9:4), é medida e separada (Ap 11:1), e no capítulo 12 vemos que
ela recebe asas (vers. 14).
Tudo isto significa que Deus protege pessoalmente o seu povo do poder
perseguidor do dragão e de seus aliados. Durante 1260 dias, que simboliza o
período da Igreja e da pregação do Evangelho, a Igreja estará protegida. Isso não
significa ausência de problemas, ao contrário, significa que nada pode parar o
avanço da pregação da Palavra, de modo que, se for preciso, Deus concede poder
aos seus eleitos para que sejam mortos por amor ao seu nome (Ap 6:9,11; 14:13).
A descrição do dragão
O dragão simboliza Satanás (Ap 20:2), um ser pessoal que possui uma grande
obsessão em atacar o Filho da mulher. Ele possui sete cabeças coroadas, que
simbolizam seu domínio mundial (cf. Lc 11:20-22; At 26:18; Ef 2:2; 6:12; Cl 1:13).
Essas coroas não são coroas de glória e de vitória, mas coroas de pretensa
autoridade, pois ele tenta ser um imitador do Cordeiro. Os dez chifres simbolizam o
seu poder destrutivo. O próprio Jesus disse que o dragão “veio para matar, roubar
e destruir” (Jo 10:10).
Porém algo importante é descrito: Satanás cai. O capítulo 12 mostra que Miguel e
seus anjos lutaram contra o dragão e seus anjos, e o dragão e seus anjos não foram
apenas derrotados, mas também foram expulsos do céu e lançados à terra (vers. 9).
Aqui sabemos que, ao contrário do que muita gente pensa, a morada de Satanás é
a terra. Essa expulsão não se refere a uma queda inicial de Satanás, mas de sua
derrota no tempo da crucificação e ressurreição de Cristo (Jo 12:31; Cl 2:15; Ap
12:12)
Por fim, nos capítulos seguintes do Apocalipse, vemos que conforme o dragão vai
sendo frustrado em seus planos, e vê suas mentiras e fraudes não surtirem efeito
diante da Igreja verdadeira, ele recruta alguns aliados para lhe servirem nessa
missão: a besta que sobre do mar, a besta que sobe da terra e a grande Babilônia.
Mas o dragão, e todos os seus aliados serão derrotados (caps. 17-20).
Para concluir, reconheço que todas as correntes escatológicas possuem suas
dificuldades, isso pelo simples fato de que a segunda vinda de Cristo e a
consumação da presente era ainda não ocorreram. Portanto, embora pessoalmente
eu não concorde com algumas interpretações por não encontrar fundamentação
bíblica suficiente, respeito meus irmãos em Cristo que adotam uma posição
diferente da minha. O melhor de tudo é que juntos temos a esperança de que um
dia iremos compreender todas essas coisas definitivamente ao lado do nosso
Senhor.