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Alunos: Denilson Albino Souto da Silva e Josuel Saturnino da Silva

TRABALHO SOBRE AS AUDIÊNCIAS NO PROCEDIMENTO COMUM


NO PROCESSO DE CONHECIMENTO

PETIÇÃO INICIAL
O procedimento processual tem início com denominada: Petição Inicial. Uma petição inicial
bem redigida e estruturada é um grande passo em direção ao êxito. Mas, em regra, não
aprendemos a redigir bem na faculdade. Pelo contrário, nos adaptamos à forma que cada
professor prefere: mais longa, mais objetiva, mais rebuscada, etc. Porém, no mundo real, não
conseguimos adaptar o texto para cada leitor. Por isso, além de atender aos requisitos legais,
precisamos desenvolver o nosso próprio estilo de escrita, de um modo que seja compreensível a
todos.
A petição inicial é o meio que o advogado vai utilizar para levar a história do cliente ao
juízo. Dessa forma, consiste em um pedido escrito que compõem o primeiro ato para a
elaboração do processo judicial.  é o momento mais importante do processo. Como ato inicial, ela
define o rumo de tudo que vai ocorrer dali para frente: a narrativa, as próximas provas, os
principais documentos, etc.
O importante é que para uma boa e aceitável Petição Inicial deve-se escrever um texto
bem redigido, objetivo e que contenha todas as informações necessárias para o andamento do
processo. Os principais requisitos para uma Petição Inicial constam no Art. 319 do novo CPC:

“A petição inicial indicará:


I – O juízo a que é dirigida
II – Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o
número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio do autor e do réu”.
III – O fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV – O pedido com as suas especificações;
V – O valor da causa;
VII – A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação u de mediação”

Outro requisito muito importante é a prévia demonstração das provas que o autor utilizará
para demonstrar as verdades dos fatos alegados, que podem ser das seguintes naturezas:

 Documental;
 Testemunhal;
 Depoimento pessoal;
 Perícia;
 Entre outros

É na Petição Inicial que se manifesta a vontade de qual instituto se utilizará, se da mediação ou da


conciliação.

AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

A audiência de conciliação é tida pelo ordenamento jurídico como um método de


autocomposição, na qual é proporcionado às partes a solução de conflitos por meio do diálogo.
Assim, garante maior celeridade processual, evitando desgastes com a longa durabilidade de
processos judiciais. 
O Novo Código de Processo Civil introduziu a tentativa de conciliação no início do
processo, viabilizando a solução do conflito e a extinção da demanda sem maiores delongas. É o
momento oportunizado às partes para se conciliarem, concretizado por via de regra, em
concessões recíprocas, de modo a atender o interesse de todos os envolvidos.
O antigo CPC de 1973 não privilegiavam o acordo entre as partes. Com o advento do novo
CPC deu-se início à cultura apoiada por muitos legisladores e doutrinadores, denominada “A
Cultura da Paz”, trazida primeiramente pela Portaria 125 do Conselho Nacional de Justiça, no
ano de 2010. O Novo CPC é, portanto, o fruto dessa cultura. Nesse sentido, em seu artigo 3º,
§3º, é disciplinado que: “A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.” Dessa forma, pode-se afirmar que um
dos principais fundamentos do Novo CPC é a solução de conflitos de forma consensual
Prevista no art. 334 do diploma processualista, a audiência de conciliação é o instrumento
para proporcionar a resolução do conflito de forma célere e que atenda aos interesses das partes
envolvidas na lide antes da apresentação da contestação feita pelo réu.

O CPC/2015 dispõe sobre a audiência de conciliação em seu Artigo 334:

“Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar
de pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima
de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos (vinte) dias de antecedência”.

No Novo CPC, a audiência é realizada antes do início do prazo para apresentação da


contestação. No procedimento ordinário do revogado CPC/1973, a audiência de conciliação
(audiência preliminar) ocorrida após a apresentação de contestação, nos termos do art. 331,
abaixo transcrito:
Art. 335. O réu poderá oferecer contestação, por petição, no prazo de 15 (quinze) dias,
cujo termo inicial será a data:
I – da audiência de conciliação ou de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando
qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição.”

Nas palavras de Cândido Rangel Dinamarco, em seu livro “Instituições de Direito Processual Civil
III”:
A implantação da audiência de conciliação ou de mediação logo no início do procedimento

comum constitui natural projeção de um dos pontos basilares do modelo processual

desenhado pelo Código de Processo Civil, representado pelo incentivo às soluções

consensuais dos conflitos.”

A realização da audiência de conciliação

Importante mencionar ainda a possibilidade de realização de mais de uma sessão


destinada à audiência de conciliação e mediação, como prevê o art. 334, §2º do Novo CPC, não
podendo exceder a dois meses da data de realização da primeira sessão, desde que necessária
à composição das partes. Há também situações em que a audiência de conciliação não será
realizada, conforme o art. 334, §4º do Novo CPC:
§ 4º A audiência não será realizada:
I – se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
II – quando não se admitir a autocomposição.”

Se o autor não tiver interesse na designação da audiência de conciliação, deverá indicar,


na petição inicial, o seu desinteresse na autocomposição. O réu deverá fazê-lo, também por
petição, apresentada com 10 dias de antecedência da data da audiência (art. 334, §5º).
]No caso de litisconsórcio, o desinteresse na realização da audiência deve ser manifestado
por todos os litisconsortes (art. 334, §6º).

Outro ponto relevante no que tange à audiência de conciliação são as consequências pelo não
comparecimento das partes O art. 334, §8º, dispõe que:

“O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é considerado


ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois por cento da
vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da União ou do
Estado.”

Para a realização da audiência de conciliação, as partes deverão estar acompanhadas por seus
advogados ou defensores públicos. É possível também constituir representante, por meio de
procuração específica, com poderes para negociar e transigir (art. 334, §º 9 e 10).
Alcançada a autocomposição, ou seja, caso seja frutífera a audiência de conciliação, será
reduzida a termo e homologada por sentença.
Por outro lado, não sendo obtida a conciliação entre as partes, será iniciado o prazo para
apresentação de contestação pelo réu, e o processo seguirá para saneamento (procedimento
adotado pelo juiz para sanar vícios, irregularidades ou nulidade processuais e preparar o
processo para ser proferida a sentença).
Saneado o processo, caso seja necessário, o juiz irá designar data para a realização da
audiência de instrução e julgamento (conforme art. 357, inciso Vl).

Não obtida a conciliação, as provas orais serão produzidas, na ordem estabelecida pelo art. 361: 

 Pelo perito e os assistentes técnicos, que responderão aos quesitos de esclarecimentos


requeridos no prazo e na forma do Art. 477, caso não respondidos anteriormente por
escrito; 
 Pelo autor e, em seguida, o réu, que prestarão depoimentos pessoais; 
 Pelas testemunhas arroladas pelo autor e pelo réu, que serão inquiridas.

Ao final da instrução, será dada a palavra ao advogado do autor, ao advogado do réu e ao


representante do Ministério Público, se for o caso de sua atuação, pelo prazo sucessivo de 20
minutos, prorrogável por mais 10. Em se tratando de questões complexas, o debate oral poderá
ser substituído por razões finais e escritas, a serem apresentadas pelas partes dentro do prazo
de 15 dias, o que, na maioria dos casos, é o que geralmente ocorre. Findo o debate ou oferecidas
as alegações finais, será proferida sentença na própria audiência ou dentro do prazo de trinta
dias.
Importante esclarecer que a audiência de conciliação, instrução e julgamento poderá ser
adiada pelos seguintes motivos:
 Por convenção das partes; 
 Se não puder comparecer, por motivo justificado, qualquer pessoa que dela deva
necessariamente participar; 
 Por atraso injustificado de seu início em tempo superior a 30 minutos do horário marcado.
APROVEITE!
O processo de execução é fundado na “certeza, exigibilidade e liquidez do título” pelo
credor/exequente, e é o ônus do devedor/executado explicar a obrigação inadimplida.

No processo de execução, conforme Cândido Rangel Dinamarco:

Inexiste a audiência de conciliação ou de mediação, sendo o réu, em qualquer das modalidades


executivas, citado para satisfazer a obrigação (arts. 806, 815 e 829 etc).”

Já no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis , a Lei nº 9099/05 prevê a possibilidade de


realização da audiência de conciliação em fase de execução quando realizada a penhora  (art.
53, §1º). Tal previsão tem como objetivo a solução mais célere e menos “punitiva” ao devedor 

No entanto, como já dito neste artigo, o Novo CPC trouxe à tona a importância da conciliação
como forma de resolução dos conflitos.  Assim, embora não haja previsão no diploma
processualista quanto à designação da audiência de conciliação em processos executivos, não
há qualquer vedação à utilização desse instrumento para tentar colocar fim à demanda,
atendendo aos interesses das partes. 

Audiência de conciliação no direito de família


As ações de família estão previstas nos art. 693 a 699 do Novo CPC, quando se tratar de
procedimentos de natureza contenciosa, e nos art.  731 a 734 do mesmo diploma, quando se
tratar de procedimentos de natureza voluntária. 

Além dos referidos artigos de lei, existem lei específicas, tais como, a Lei de Alimentos (Lei nº.
5.478/68), Lei da Guarda compartilhada (Lei nº. 13.058/2014), dentre outros diplomas. 

A despeito das relações familiares serem, em princípio, indisponíveis, a inovação trazida pelo
Novo CPC, Cultura da Paz, também é aplicada às ações relacionadas ao Direito de família.

O art. 694 dispõe que:

Art. 694. Nas ações de família, todos os esforços serão empreendidos para a solução
consensual da controvérsia, devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas
de conhecimento para a mediação e conciliação.
Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do processo
enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a atendimento multidisciplinar.”

Procedimento da audiência de Conciliação no direito de família

Nas ações de família, diferentemente do que ocorre em outras ações, o réu é citado para
comparecer à audiência sem receber a cópia da petição inicial, como ocorre nas demais ações
cíveis:
Art. 695. Recebida a petição inicial e, se for o caso, tomadas as providências referentes à
tutela provisória, o juiz ordenará a citação do réu para comparecer à audiência de mediação e
conciliação, observado o disposto no art. 694.
§ 1º O mandado de citação conterá apenas os dados necessários à audiência e deverá estar
desacompanhado de cópia da petição inicial, assegurado ao réu o direito de examinar seu
conteúdo a qualquer tempo.”

Isso porque acredita-se que sem a cópia da petição inicial, o réu possa comparecer à audiência
menos “armado”, aumentando a possibilidade de composição entre as partes. 

Nas ações de família é possível, ainda, a realização de audiências de conciliação e mediação em


tantas sessões quantas forem necessárias, sem prejuízo das providências processuais, conforme
o art. 696.

Por fim, na hipótese de as partes não celebrarem acordo, o processo seguirá seu curso sob as
normas do procedimento comum.

Conclusão 

Como pudemos notar, o Novo CPC trouxe ao Direito Processual Civil Brasileiro uma nova
cultura para a solução dos conflitos, pautada na autocomposição e, como consequência,
maior celeridade processual.

Aos advogados e demais operadores do direito, sabedores da morosidade do Poder Judiciário e


dos desgastes causados na grande maioria das demandas judiciais, resta tentar buscar essas
soluções da forma possível à todos os envolvidos, aplicando a nova cultura perpetrada pelo
Legislador. A seguir exemplo de uma jurisprudência

Poder Judiciário da União


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E
DOS TERRITÓRIOS

Órgão 6ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0715992-58.2018.8.07.0001


JOANA DARC CARVALHO e BOCATER, CAMARGO, COSTA E
APELANTE(S) SILVA, RODRIGUES ADVOGADOS ASSOCIADOS
APELADO(S) CERES e JOANA DARC CARVALHO
Relator Desembargador CARLOS RODRIGUES

Acórdão Nº 1174714

EMENTA

APELAÇÃO E APELAÇÃO ADESIVA. PLANO DE BENEFÍCIO DE PREVIDÊNCIA


PRIVADA PATROCINADA. CERES. EMBRAPA. ONTRATO DE TRABALHO.
ALTERAÇÕES NO REGULAMENTO. EXIGÊNCIA DE CESSAÇÃO DO VÍNCULO
EMPREGATÍCIO COM A ENTIDADE PATROCINADORA PARA PERCEBIMENTO DO
BENEFÍCIO DE SUPLEMENTAÇÃO DE APOSENTADORIA. PRECEITO CONTIDO NA
LEI COMPLEMENTAR 108/2001 NÃO COMPARECIMENTO DA AUTORA NA
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. MULTA APLICÁVEL. AFASTADA. APELAÇÃO
ADESIVA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MAJORAÇÃO. INDEVIDA. RECURSO
ADESIVO NÃO PROVIDO.

1. “Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados –


inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas
controladas direta ou indiretamente –, para se tornar elegível a um benefício de prestação
que seja programada e continuada, é necessário que o participante previamente cesse o
vínculo laboral com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei Complementar nº
108/2001, independentemente das disposições estatutárias e regulamentares”. (Recurso
Especial Nº 1.433.544 – SE, sob a sistemática dos recursos repetitivos, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Segunda Seção,julgado em 09/11/2016, DJe 01/12/2016).

2. O Supremo Tribunal Federal de há muito firmou o entendimento de que "não há direito


adquirido a regime jurídico " (RE 227755 AgR / CE e outros), sendo incabível, pois, que a
apelante queira tornar imutável o regime jurídico da previdência complementar a que aderiu,
sob cuja vigência não atingiu os requisitos para a incorporação do direito ao benefício
postulado.

3. A multa prevista no artigo 334, § 8º do CPC/15 pelo não comparecimento injustificado do


autor ou do réu à audiência de conciliação, deve ser interpretada em sintonia com os
princípios da lealdade e da boa-fé processual. Sem que fique demonstrada a intenção da
parte em causar embaraços ao trâmite do processo, a ausência à audiência não se
caracteriza como ato atentatório à dignidade da Justiça, afastando-se a punição.
4. Recurso da autora conhecido e parcialmente provido. Recurso dos patronos da ré conhecido e
desprovido.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 6ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do


Distrito Federal e dos Territórios, CARLOS RODRIGUES - Relator, VERA ANDRIGHI - 1º
Vogal e ESDRAS NEVES - 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador JOSÉ
DIVINO, em proferir a seguinte decisão: RECURSOS CONHECIDOS. PROVIDO
PARCIALMENTE O RECURSO DA AUTORA. DESPROVIDA A APELAÇÃO ADESIVA DOS
PATRONOS DA RÉ. UNÂNIME., de
acordo com a ata do julgamento e notas

taquigráficas. Brasília (DF), 29 de Maio de 2019

Desembargador CARLOS RODRIGUES


Relator

RELATÓRIO

Trata-se de apelação interposta por JOANA DARC CARVALHO (id 8303265) e de


apelação adesiva interposta por BOCATER CAMARGO COSTA E SILVA RODRIGUES
ADVOGADOS
ASSOCIADOS (id 8303289) contra a r. sentença de id 8303251, proferida pelo MM. Juiz
da 7ª Vara Cível de Brasília, nos autos de pretensão de conhecimento, ajuizada por Joana
D´Arc Carvalho (“Autora”) em desfavor de Ceres – Fundação de Seguridade Social
(“Ré”).

Por ocasião do julgamento, o douto juízo a quo julgou improcedentes os pedidos formulados
na inicial e condenou a autora a arcar com o pagamento das despesas processuais.
Ademais condenou a demandante ao pagamento dos honorários advocatícios – fixados em
R$ 3.000,00 (três mil reais); com espeque no art. 85, § 8º, do Código de Processo Civil,
dado o elevado valor da causa.

Em suas razões (fls. 200/214), a autora/apelante requer seja o presente recurso julgado
procedente, reformando-se a sentença para que seja concedida, inaudita altera pars,
tutela de urgência para determinar que se suspenda imediatamente os descontos da
contribuição para a Ceres, inclusive com suspensão dos descontos na folha.

Almeja, ainda, seja a recorrida compelida a habilitar, imediatamente o benefício de


aposentadoria complementar da autora até que seja julgado o mérito da questão. No mérito,
pugna seja declarada pelo controle difuso, a inconstitucionalidade incidental do inciso I, do
Art. 3º, da Lei Complementar nº 108/2001, em razão de ferir o art. 202, § 2º, da CF/88.
Requer também a condenação da recorrida ao pagamento retroativo dos benefícios desde a
elegibilidade da recorrente com acréscimos de correção monetária e juros.

Por fim, busca a condenação da recorrida à devolução das contribuições desde a


elegibilidade, devidamente corrigidas e com juros e que seja a recorrida condenada ao
pagamento de honorários de sucumbências nos termos do art. 85 do CPC, bem como ao
pagamento das custas iniciais e finais.

Comprovante de recolhimento de custas conforme id 8303267 e 8303269.

Contrarrazões da CERES ao apelo da autora (id 8303279), pugnando pelo desprovimento do


apelo da
parte adversa.

Em sua apelação adesiva (id 8303289), a sociedade de advogados BOCATER CAMARGO


COSTA E SILVA RODRIGUES ADVOGADOS ASSOCIADOS, preliminarmente, diz que o
julgado incorre em um pequeno equívoco consistente na mitigação do § 2º, do art. 85, do
Código de Processo Civil, o que deve ser corrigido, pois o magistrado fixou o pagamento
dos honorários advocatícios em R$ 3.000,00 (três mil reais), que equivale a apenas 0,79%
do valor da causa.

Adicionalmente, pugna a Apelante pela majoração dos honorários de sucumbência na fase


recursal, na forma do art. 85, § 11, do mesmo diploma processual.

Comprovante de recolhimento de custas do apelo adesivo, conforme id 8303292.

Transcorreu in albis o prazo para oferecimento de contrarrazões ao recurso adesivo pela


parte autora (id 8303309).

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador CARLOS RODRIGUES - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso principal e da apelação


adesiva.

DA APELAÇÃO PRINCIPAL

Consta da inicial que a autora/apelante foi contratada pela Embrapa em 02.10.1989 e continua
trabalhando desde então na empresa e que não pretende aposentar-se de forma espontânea.
Narra a demandante que, em 01.11.1989, aderiu ao plano de previdência privada fechada
administrado pela ré e, pelas regras vigentes no momento da contratação, passaria a receber o
benefício em 21.10.2014. Conta que a Resolução nº. 30 do Conselho de Curadores e da
Diretoria da Ceres, de 14.12.1996, introduziu uma nova regra para a concessão do
benefício, consistente no prévio desligamento da empresa patrocinadora.

Defende a recorrente que a dita Resolução não exige que os participantes continuem
contribuindo e que as contribuições pagas indevidamente não farão parte do cálculo do
benefício, uma vez que o fundo de reserva matemática já foi constituído em setembro de
2010; de modo que a ré estaria se “locupletando indevidamente”.

Sustenta a apelante que o regulamento do plano impede qualquer alteração que importe
“supressão de direitos”. Além disso, argumenta que a determinação fere o direito
constitucional ao livre exercício do trabalho ou profissão. Fala ainda que a lei exige que se
observe o “direito acumulado” do participante; e que a regra do art. 3º, inciso I, da Lei
Complementar nº. 108/2001 é inconstitucional.

Sem razão a apelante/autora.

Inicialmente, vale abrir um parêntese para esclarecer que não é possível a aplicação das
disposições da Lei nº 8.078/1990 (CDC) às entidades fechadas de previdência privada ,
como é a CERES, pois, na
esteira da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, “o patrimônio da entidade e
respectivos rendimentos revertem-se integralmente na concessão e manutenção do
pagamento de benefícios, prevalecendo o associativismo e o mutualismo, o que afasta o
intuito lucrativo.” (REsp 1.421.951/SE, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/11/2014, DJe de 19/12/2014).

Além disso, conforme a Súmula 563/STJ, “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos previdenciários
celebrados com entidades fechadas”.

Dito isso, cumpre analisar que a recorrente requereu em sede de incidente de controle
difuso de norma constitucional a declaração da inconstitucionalidade do inciso I, do Art. 3º,
da Lei Complementar nº 108/2001, pela suposta violação ao art. 202, § 2º da CF/88.

Cumpre esclarecer que a relação contratual mantida entre a entidade de previdência privada
administradora do plano de benefícios e o participante não se confunde com a relação
trabalhista, mantida entre o participante obreiro e a patrocinadora.

Com efeito, o art. 202, § 2º, da Constituição Federal estabelece que as contribuições do
empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos estatutos, regulamentos
e planos de benefícios das entidades de previdência privada não integram o contrato de
trabalho. Confira-se:

Constituição Federal de 1988.

Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de forma


autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, baseado na
constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei
complementar.

§ 2° As contribuições do empregador, os benefícios e as condições contratuais previstas nos


estatutos, regulamentos e planos de benefícios das entidades de previdência privada não
integram o contrato de trabalho dos participantes, assim como, à exceção dos
benefícios concedidos, não integram a remuneração dos participantes, nos termos da lei.
(grifos nossos).

Portanto, o Regime de Previdência Complementar está previsto no art. 202 da CF e é


regulado pela Lei Complementar 109/01, em substituição à Lei 6.435/77, e pela Lei
Complementar 108/01. Seus princípios basilares são: (1) facultatividade na adesão; (2)
contratualidade; (3) capitalização, com base em cálculos atuariais, ou seja, constituição prévia
de reservas garantidoras dos benefícios contratados.

Dispõe o artigo 1º da Lei Complementar n. 109/2001 que o regime de previdência privada é


baseado na constituição de reservas que garantam o benefício, e consta na exposição de
motivos da Lei Complementar n. 109/2001 que o regime de previdência complementar
funciona basicamente como instrumento de poupança de longo prazo.

A previdência complementar exerce papel de extrema relevância na sociedade brasileira,


transcendendo o mero interesse das partes envolvidas, seja porque permite que milhares de
trabalhadores brasileiros, na inatividade, desfrutem de uma aposentadoria e sobrevivência
dignas.
Não há relação trabalhista entre o beneficiário e o fundo fechado previdenciário pois a

Diante disso, não se verifica a alegada inconstitucionalidade do inciso I, do Art. 3º, da Lei
Complementar nº 108/2001, face ao art. 202, § 2º, da Constituição Federal
Consigna-se que os arts. 1º e 3º, I, da Lei Complementar n. 108/2001 dispõem:

Art. 1º A relação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, inclusive suas
autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas direta ou
indiretamente, enquanto patrocinadores de entidades fechadas de previdência complementar,
e suas respectivas entidades fechadas, a que se referem os §§ 3o, 4o, 5o e 6o do art. 202 da
Constituição Federal, será disciplinada pelo disposto nesta Lei Complementar.

Art. 3º Observado o disposto no artigo anterior, os planos de benefícios das entidades de que
trata esta Lei Complementar atenderão às seguintes regras:

I – carência mínima de sessenta contribuições mensais a plano de benefícios e cessação do


vínculo com o patrocinador, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja
programada e continuada;

Nesse viés, é válida a exigência, prevista em regulamento de entidade fechada de previdência


privada, de cessação do vínculo empregatício entre o participante e o patrocinador como
condição para a percepção do benefício de complementação de aposentadoria, seja ela
programada ou continuada, nos termos do art. 3º, inciso I, da Lei Complementar nº 108/2001,
sendo que, nos casos de alteração do regulamento do plano de benefícios, por força da
referida legislação, apenas os participantes que implementaram os requisitos necessários para
a aposentadoria, antes da mudança do regime jurídico, têm direito de obter os benefícios de
complementação com base nas regras anteriores.

Tal entendimento está em observância com o que foi decidido pelo Superior Tribunal de
Justiça, ao apreciar o Recurso Especial Nº 1.433.544 – SE, de relatoria do Ministro Luís
Felipe Salomão, sob a sistemática dos recursos repetitivos, no qual firmou-se a seguinte
tese no acórdão paradigma:

“Nos planos de benefícios de previdência privada patrocinados pelos entes federados –


inclusive suas autarquias, fundações, sociedades de economia mista e empresas controladas
direta ou indiretamente –, para se tornar elegível a um benefício de prestação que seja
programada e continuada, é necessário que o participante previamente cesse o vínculo laboral
com o patrocinador, sobretudo a partir da vigência da Lei Complementar nº 108/2001,
independentemente das disposições estatutárias e regulamentares”.

Nesse sentido, confira-se o precedente deste e. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e


Territórios:

APELAÇÃO. DIREITO CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. ENTIDADE FECHADA DE


PREVIDÊNCIA PRIVADA. CERES. DESLIGAMENTO DO PLANO DE BENEFÍCIOS, SEM O
ROMPIMENTO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO. NÃO IMPLEMENTAÇÃO DAS
CONDIÇÕES PARA RESGATE. DISPOSIÇÃO INFRALEGAL ORIUNDA DO ÓRGÃO
PÚBLICO REGULADOR. RECURSO
DESPROVIDO. 1. Conforme o disposto no artigo 14, caput e inciso III, da Lei Complementar
número 109/2001, a regulamentação da matéria referente ao resgate das contribuições vertidas
compete ao órgão regulador e fiscalizador, no caso, o Ministério da Previdência Social, por meio
do Conselho Nacional de Previdência Complementar. 2. Através da Resolução número 6/2003,
referido órgão regulador e fiscalizador normatizou o resgate das contribuições vertidas ao plano
pelos participantes, condicionando a devolução à cessação do vínculo empregatício. 3. Dessa
forma, não constitui ilegalidade ou abusividade a previsão de cláusula estatutária que
condiciona o resgate de contribuições vertidas ao plano pelo
participante à cessação do vínculo empregatício, pois se trata de regulamentação
condizente com a normatização da matéria. 4. Recurso conhecido e desprovido.

(Acórdão n.1137490, 07094347020188070001, Relator: EUSTÁQUIO DE CASTRO 8ª Turma


Cível,
Data de Julgamento: 14/11/2018, Publicado no DJE: 20/11/2018. Pág.: Sem Página
Cadastrada.) (grifos nossos).

PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA. EMPREGADO DA


CODEVASF. DESLIGAMENTO DO PLANO DE APOSENTADORIA COMPLEMENTAR.
ENTIDADE FECHADA DE PREVIDÊNCIA PRIVADA. RESGATE DOS VALORES PAGOS.
NECESSIDADE DE CESSAÇÃO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO. INAPLICABILIDADE DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. LC Nº 109/2001 E RESOLUÇÃO CGPC Nº 6/2003.
RECURSO IMPROVIDO.

1. Conforme entendimento do e. Superior Tribunal de Justiça, o Código de Defesa do


Consumidor não é aplicável à relação jurídica mantida entre a entidade fechada de
previdência privada e seus participantes. 1.1. O patrimônio da entidade e respectivos
rendimentos revertem-se integralmente na concessão e manutenção do pagamento de
benefícios, prevalecendo o associativismo e o mutualismo, o que afasta o intuito lucrativo.
1.2. Desse modo, o fundo de pensão não se enquadra no conceito legal de fornecedor,
devendo a Súmula nº 321/STJ ser aplicada somente às entidades abertas de previdência
complementar.

2. Nos termos da LC nº 109/2001 e da Resolução CGPC nº 06/2003, o resgate da


totalidade das contribuições vertidas ao plano pelo participante, descontadas as parcelas do
custeio administrativo, na forma regulamentada, ocorre apenas quando há rompimento do
vínculo contratual com a entidade de previdência privada.

3. "Precedente do STJ: "(...) Essa exigência de extinção do vínculo empregatício com


o patrocinador para o ex-participante de fundo previdenciário solicitar o resgate de
suas contribuições, apesar de rigorosa, é essencial, pois evita-se a desnaturação do
sistema, dado que o objetivo da previdência complementar fechada é a proteção social
de um grupo específico de participantes e não a sua utilização como forma de
investimento, tanto é assim que a atividade da EFPC é sem a finalidade lucrativa,
voltada unicamente para a gestão de recursos para fazer frente à suplementação de
benefícios futuros contratados. Por isso é que, quando possível, deve ser sempre
estimulada a permanência do participante no plano (fomento à cultura previdenciária), em que
pese a natureza da previdência privada ser facultativa. (...) Assim, não fere a razoabilidade
nem há como ser reputada ilícita ou abusiva a cláusula estatutária, baseada em instrumento
normativo de órgão governamental, que prevê a rescisão do vínculo laboral com o
patrocinador como condição para o
ex-participante de plano de previdência privada fechada fazer jus ao resgate da reserva de
poupança. (...)" (REsp 1518525/SE, Ministro Ricardo Villas Boas Cueva, julgado em
19/05/2015).

4. Enfim. "Ao se inscrever voluntariamente no plano de previdência em questão, o autor


não se comprometeu exclusivamente com a entidade, mas também com todos os demais
participantes, uma vez que o objetivo é fomentar e manter um fundo de complementação de
aposentadorias que atende beneficiários atuais e futuros. A fundação tem o dever de gerir os
benefícios, não obtendo lucros desta atividade. Não se assemelha, pois, a fundo de
investimento, consórcio, etc, nos quais o desligamento do participante impõe a restituição
imediata dos valores pagos". (Juíza de Direito Thais Araujo Correia).

5. Recurso improvido.

(Acórdão n.942765, 20150110822695APC, Relator: JOÃO EGMONT 2ª TURMA CÍVEL, Data de


Julgamento: 18/05/2016, Publicado no DJE: 24/05/2016. Pág.: 247/257) (grifos nossos).

Ademais, é bom lembrar que o Supremo Tribunal Federal de há muito firmou o entendimento de
que
"não há direito adquirido a regime jurídico " (RE 227755 AgR / CE e outros), sendo incabível,
pois, que a apelante queira tornar imutável o regime jurídico da previdência complementar a
que aderiu, sob cuja vigência não atingiu os requisitos para a incorporação do direito ao
benefício postulado.

Sendo assim, não há se falar em qualquer lesão a ato jurídico perfeito, pois todo plano de
previdência privada deve ser estruturado com o objetivo de constituir reservas que possam,
efetivamente, assegurar os benefícios contratados em um período de longo prazo.

Dessarte, "[o]s regulamentos dos planos de benefícios evidentemente podem ser revistos, em
caso de apuração de déficit ou superávit, decorrentes de projeção atuarial que no decorrer da
relação contratual não se confirme, pois, no regime fechado de previdência privada, há um
mutualismo, com explícita submissão ao regime de capitalização". (REsp 1184621/MS, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/4/2014, DJe 9/5/2014).

Há, portanto, uma preocupação com a sustentabilidade financeira da previdência


complementar, de forma diacrônica e sincrônica com as gerações futuras, o que afasta a tese
de que as arrecadações constituiriam enriquecimento sem causa para a ré.

Entende ainda a apelante que a Lei Complementar nº. 109/2001 não exige o prévio
desligamento do participante para se tornar elegível ao benefício complementar.

Veja-se o que dispõe os artigos 15 e 17 da LC 109/2001:

Art. 15. [...]

Parágrafo único. O direito acumulado corresponde às reservas constituídas pelo


participante ou à reserva matemática, o que lhe for mais favorável. (Grifamos).

Art. 17. As alterações processadas nos regulamentos dos planos aplicam-se a todos os
participantes das entidades fechadas, a partir de sua aprovação pelo órgão regulador e
fiscalizador, observado o direito acumulado de cada participante.

A interpretação dos artigos 15 e 17 da LC 109/2001, deve ocorrer de forma sistemática com a


LC 108/2001 e com os parâmetros constitucionais, não se podendo entender que o “direito
acumulado” signifique “direito adquirido”. Tampouco se deve fazer prevalecer o regulamento
vigente à época da contratação sob uma Lei Complementar superveniente e hierarquicamente
superior, quando a parte ainda não tinha alcançado os requisitos para a concessão da
aposentadoria. Só é considerado direito adquirido do participante a partir da implementação
de todas as condições estabelecidas para elegibilidade consignadas no regulamento do
respectivo plano de benefícios.

Portanto, não há ilegalidade na exigência de cessação do vínculo empregatício do


participante com o patrocinador para a concessão da aposentadoria complementar, não
obstante o plano de benefícios ter sido instituído antes da LC n. 108/2001.

Sobre a aplicação da Multa por não Comparecimento a Audiência de Conciliação

Insurge-se a autora/recorrente contra a parte da sentença que aplicou multa de 1% sobre o


valor da causa, em razão do seu não comparecimento à audiência de conciliação, alegando
que, em sua inicial, declarou explicitamente que em razão da recorrida negar o pleito em via
administrativa, não havia interesse de
sua parte na audiência de conciliação prévia.

O art. 334, “caput” e § 8º, do Código de Processo Civil dispõe o seguinte:

“Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de
improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação
com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20
(vinte) dias de antecedência.

(...)

§ 8 O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é


considerado o ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois
por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da
União ou do Estado.

(...)”

A multa prevista no artigo 334, § 8º do CPC/15 pelo não comparecimento do autor à


audiência de conciliação deve ser aplicada com cautela, sobretudo quando as
circunstâncias demonstram que era improvável que as partes se conciliassem. Se, de
fato, tivessem interesse pela composição, poderiam assim proceder a qualquer tempo,
sem necessidade de intervenção judicial.

No caso em apreço, a autora, em sua inicial, declarou explicitamente que em razão da


recorrida negar o pleito em via administrativa, não havia interesse de sua parte na audiência
de conciliação prévia.

Não obstante a decisão de id 8303112 que designou a data da audiência conste a advertência
de que o não comparecimento resultaria na aplicação de multa, considera-se que a punição
legal não pode ser interpretada sem cotejo com os princípios da lealdade e boa-fé processual.

No caso, não se vislumbra, dentro do contexto apresentado, intenção da parte em causar


embaraços ao trâmite do processo que possa ser considerado como ato atentatório à
dignidade da Justiça.

Nesse sentido, conclui-se que o não comparecimento da parte autora à audiência de


conciliação não pode conduzir, neste caso, à aplicação automática da penalidade legal.

Neste sentido, precedente deste e. Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. CONTRATO DE CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO. CAPITALIZAÇÃO


DE JUROS. LEGALIDADE. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA CUMULADA COM COBRANÇA
DE JUROS E MULTA. INCABÍVEL. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. DEVOLUÇÃO SIMPLES.
NÃO COMPARECIMENTO NA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. MULTA APLICÁVEL. [...]
4. A multa prevista no artigo 334, § 8º do CPC/15 pelo não comparecimento
injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação, deve ser interpretada em
sintonia com os princípios da lealdade e da boa-fé processual. Sem que fique
demonstrada a intenção da parte em causar embaraços ao trâmite do processo, a
ausência à audiência não se caracteriza como ato atentatório à dignidade da Justiça,
afastando-se a punição.

5. Apelação parcialmente conhecida e parcialmente provida. (Acórdão n.1067146, legal


00360195720158070018, Relator: GETÚLIO DE MORAES OLIVEIRA 7ª Turma Cível,
Data de Julgamento: 13/12/2017, Publicado no DJE: 23/01/2018. Pág.: Sem Página
Cadastrada.)
Portanto, neste ponto a sentença merece reparos, para afastar a multa aplicada.

DA APELAÇÃO ADESIVA

Segundo o disposto no § 2º do artigo 85 do CPC, na fixação dos honorários sucumbenciais


deve o Magistrado levar em consideração o grau de zelo do profissional, o lugar da prestação
do serviço, a natureza e a importância da causa, bem como o trabalho realizado pelo
advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

Nada obstante, ainda que referido dispositivo estipule que os honorários sejam fixados entre o
mínimo de 10% e o máximo de 20% sobre o valor da condenação ou valor atualizado da
causa, deve ele ser conjugado com o previsto no §8º do mesmo artigo, segundo o qual “Nas
causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da
causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa,
observando o disposto nos incisos do § 2º”.

Da análise da redação do mencionado dispositivo, constata-se que o legislador pretendeu a


apreciação equitativa do magistrado em hipóteses de proveito econômico extremamente alto
ou baixo, ou inestimável. Até mesmo porque, não seria razoável que a legislação excetuasse
tão somente as hipóteses em que o proveito econômico fosse irrisório, considerando haver
casos em que o proveito econômico almejado é de grande monta, mas o trabalho a ser
desenvolvido pelo advogado mostra-se demasiadamente simples, seja pela própria natureza
do objeto da ação ou pela quantidade de atos processuais que tem de praticar, a não
justificar a fixação dos honorários de sucumbência no mínimo de 10% do valor da causa.

No caso, considerando tratar-se de causa de elevado valor (R$ 380.000,00), com apenas 99
(noventa e nove páginas), com o julgamento antecipado da lide, sem maiores delongas, e
que há outras lides propostas por outros segurados contra a mesma ré, de teor similar, tem-
se que a fixação dos honorários advocatícios no percentual de R$ 3.000,00 (três mil reais)
se mostrou adequado. Não cabe, assim, o argumento de que o valor é ínfimo por
representar 0,79% do valor da causa.

Entendimento diverso implicaria em ofensa aos princípios da vedação do enriquecimento


sem causa, razoabilidade e proporcionalidade, não se olvidando, ainda, que tal situação
ainda poderia tornar, em casos análogos, deveras dificultoso o amplo acesso à justiça.

Assim sendo, a quantia de R$ 3.000,00 (três mil reais) bem remunera o trabalho
realizado pelos advogados e o tempo exigido para seu serviço, considerado o grau de
zelo profissional por eles apresentado, o lugar de prestação do serviço, bem como a
natureza e a importância da causa.

Portanto, inviável a majoração dos honorários advocatícios.

À vista do exposto, conheço do recurso da autora e DOU PARCIAL PROVIMENTO, tão


apenas para
afastar a aplicação da multa prevista no artigo 334, § 8º.

Conheço e NEGO PROVIMENTO à apelação adesiva de BOCATER CAMARGO COSTA E


SILVA RODRIGUES ADVOGADOS ASSOCIADOS.

Mantenho íntegra a sentença em seus demais termos. Deixo de fixar honorários recursais
visto que não houve apresentação de contrarrazões ao recurso adesivo.
É como voto.
A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - 1º Vogal
Com o relator
O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - 2º Vogal
Com o relator
DECISÃO

RECURSOS CONHECIDOS. PROVIDO PARCIALMENTE O RECURSO DA


AUTORA. DESPROVIDA A APELAÇÃO ADESIVA DOS PATRONOS DA RÉ.
UNÂNIME.

Saneamento do Processo no Novo Código de Processo Civil


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Publicado por Raquel Oliveira de Oliveira

há 6 anos

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Não sendo possível resolver o processo com ou sem julgamento do mérito, julgamento parcial
do processo ou julgamento antecipado, passa-se à fase de saneamento e organização do
processo, previsto no art. 357 do NCPC (artigo correlato no Código de 1973 é o art. 331).
Art. 357. Não ocorrendo nenhuma das hipóteses deste Capítulo, deverá o juiz, em decisão de
saneamento e de organização do processo:
I - resolver as questões processuais pendentes, se houver;
II - delimitar as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os
meios de prova admitidos;
III - definir a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373;
IV - delimitar as questões de direito relevantes para a decisão do mérito;

V - designar, se necessário, audiência de instrução e julgamento.

Todas as medidas que o juiz deve tomar para a continuidade do processo. A expressão
"organização do processo" é terminologia nova, e refere-se às providencias necessárias para a
ocorrência da audiência de instrução e julgamento.

A decisão de sanear não se trata de mero despacho saneador, mas decisão que visa o
saneamento e organização do processo.
A primeira das providências é resolver alguma questão incidente. Há várias questões
processuais que merecem atenção do magistrado, principalmente naquelas não peremptórias.
Neste momento é que o juiz deverá resolver todas essas questões.

Após, deverá o juiz delimitar as questões de fato sobre as quais dependerá de prova,
especificando os meios de prova que serão utilizados. O juiz deve definir o que são fatos
controvertidos e quais os meios de prova que o juiz precisaria para formar seu convencimento.

Também cabe ao magistrado, neste momento, definir a distribuição do ônus da prova sobre os
fatos controvertidos; observado o art. 373 do NCPC; podendo, inverter dependendo de cada
caso. Essa prerrogativa é direito novo, não existindo no CPC de 1973.
Vejamos o que diz o art. 373, em cuja referencia foi feita no art. 357, III do NCPC:
Art. 373. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova
de  modo diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à
parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi atribuído.

Cumpre destacar que essa inversão do ônus da prova trazida pela nova legislação foi a
concretização de muitas preocupações da doutrina e da jurisprudência sobre as normas
relativas a este tópico.

Ora, na legislação de 1973 só se pensava em inversão no Direito do Consumidor; agora a lei


criou uma possibilidade mais aberta, adaptada às peculiaridades de cada caso, dando ao
magistrado a possibilidade de definir a distribuição do ônus sob diferentes realidades. Há de se
ter motivação por parte do magistrado.

Outra providência do magistrado no que diz respeito ao saneamento é delimitar as questões de


direito relevantes para decisão do mérito (art. 357, IV do NCPC). Essa possibilidade também
não existia no CPC de 1973.
O saneamento sempre esteve ligado à fixação da matéria de fato; e quem deveria provar esses
fatos; mas o NCPC trouxe uma novidade, que é fixação da matéria de direito que importará e
influenciará o julgamento do mérito.
Enfim, o saneamento é conveniente e fundamental para o juiz otimizar o tempo e avaliar as
questões que mereçam destaque e atenção para o prosseguimento do processo e a ocorrência
da AIJ.

Por fim, depois de tomadas todas essas providências, se for preciso, deverá o magistrado
designar a data da audiência de instrução e julgamento.

Sobre a decisão de saneamento, tem as partes o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar


ajustes, no prazo de cinco dias, conforme determina o § 1º do art. 357 do NCPC:
Art. 357 (...)
§ 1º Realizado o saneamento, as partes têm o direito de pedir esclarecimentos ou solicitar
ajustes, no prazo comum de 5 (cinco) dias, findo o qual a decisão se torna estável.
Tal decisão do magistrado, via de regra, deve ser tomada em gabinete, e posteriormente
publicada para conhecimento das partes. Após findo o prazo para esclarecimentos, a decisão
se torna estável.

O saneamento pode ser realizado pelas próprias partes, em delimitação consensual das
questões de fato e de direito, devendo tal decisão ser levada à apreciação e homologação do
juiz. A partir do momento em que for homologada, vincula as partes e o juiz. É o que diz o
artigo 357, § 2º do NCPC.
Art. 357 (...)
§ 2º As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das
questões de fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula
as partes e o juiz.

De acordo com o princípio da cooperação, as partes podem participar da delimitação


consensual das questões de fato e de direito; e se homologada, vincula as partes e o
magistrado.

Em se tratando de causa complexa (seja por matéria de fato e direito), pode o juiz designar
audiência para que o saneamento seja realizado com a cooperação das partes; que deverão
integrar e esclarecer suas alegações; é o que prevê o art. 357, § 3º do NCPC:
Art. 357 (...)
§ 3º Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou de direito, deverá o juiz
designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes,
oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou esclarecer suas
alegações.

Vale ressaltar que os três primeiros parágrafos do art. 357 do NCPC primam pela cooperação


entre as partes e o magistrado; ressaltando a possibilidade prevista no art. 191 do NCPC, que
trata dos negócios processuais.
Continuando na análise do art. 357, chega-se a questão das testemunhas. Se houver
testemunhas a serem ouvidas, o juiz fixará prazo comum de, no máximo, 15 (quinze) dias para
a apresentação do rol de testemunhas, nos termos do § 4º do art. 357 do NCPC.
Neste ponto, a nova legislação alterou o prazo, pois no art. 407, correlato do CPC de 1973, o
rol de testemunhas era apresentado em 10 dias antes da audiência.
Art. 357 (...)
§ 4º Caso tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum
não superior a 15 (quinze) dias para que as partes apresentem rol de testemunhas.

Se o juiz designar audiência para realizar o saneamento em cooperação com as partes, as


partes deverão levar para a audiência o rol de testemunhas, conforme previsão do art. 357, §
5º do NCPC:
Art. 357 (...)
§ 5º Na hipótese do § 3º, as partes devem levar, para a audiência prevista, o respectivo rol de
testemunhas.

Em relação ao número de testemunhas, estipula a nova legislação que não pode ser superior a
10 (dez), sendo no máximo três para comprovar cada fato, conforme determina o § 6º do
art. 357 do NCPC.
Essa é uma alteração em relação a legislação do CPC de 1973, pois o parágrafo único do
art. 407 do CPC de 1973 falava-se no máximo de 10 testemunhas, mas se a parte
apresentasse mais de três testemunhas para a comprovação de um fato, o juiz poderia
dispensar as demais. Na legislação de 2015 há limite de três testemunhas para a comprovação
de um determinado fato:
Art. 357 (...)
§ 6º O número de testemunhas arroladas não pode ser superior a 10 (dez), sendo 3 (três), no
máximo, para a prova de cada fato.

O juiz poderá limitar o número de testemunhas que julgar conveniente, dependendo da


complexidade da causa, e de cada fato individualmente considerado, conforme estipulação do §
7º do art. 357 do NCPC:
Art. 357 (...)
§ 7º O juiz poderá limitar o número de testemunhas levando em conta a complexidade da
causa e dos fatos individualmente considerados.

Em caso de prova pericial, o juiz deverá observar perito especializado no objeto da perícia e
fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. Se possível, estabelecerá desde logo a data
de sua realização, nos termos do § 8º do art. 357 do NCPC:
Art. 357 (...)
§ 8º Caso tenha sido determinada a produção de prova pericial, o juiz deve observar o disposto
no art. 465 e, se possível, estabelecer, desde logo, calendário para sua realização.

Estipula ainda a nova legislação que as audiências deverão ser marcadas com intervalo de 1
hora entre elas. Norma de organização dos trabalhos.

Art. 357 (...)


§ 9º As pautas deverão ser preparadas com intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre as
audiências.

Obra Consultada:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
Fonte .

http://www.ribeirooliveiraadvogados.jur.adv.br/saneamento-do-processo-no-novo-código-de-
processo-civ...

jurisprudência de audiência de Saneamento

43 - 0000919-65.2021.8.08.0030 - Procedimento Comum Cível


Requerente: WILMA LUCIDIO DE JESUS
Requerido: CRISTAL EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA

Intimo os(as) Drs(as) advogados(as)


Advogado(a): 11994/ES - FABIO FERREIRA
Requerido: CRISTAL EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA
Advogado(a): 28678/ES - ROBERTO CARLOS DE FREITAS
Requerente: WILMA LUCIDIO DE JESUS

Para tomar ciência da decisão:


Vistos, em inspeção.   1.Cuidam os autos de ação declaratória de nulidade de rescisão
contratual cumulada com pedido indenizatório, na qual a parte autora requer, em sede de tutela
de urgência, a suspensão da rescisão do pacto. Relata a parte autora que no dia 01/03/2018
celebrou contrato de promessa de compra e venda com a parte ré para aquisição de um lote de
terras, mediante o pagamento de uma entrada no valor de R$ 2.794,50 tendo se comprometido a
efetuar o pagamento de cento e sessenta parcelas mensais e sucessivas no valor de R$ 637,24.
Aduz a parte autora que por questões financeiras não conseguiu adimplir as mensalidades
devidas com vencimento a partir de 10/07/2020, estando com um saldo devedor no importe de
R$ 5.163,60. Afirma a parte autora que em razão do ser inadimplemento foi notificada
extrajudicialmente pela ré, por meio de carta simples, tendo esta lhe concedido o prazo de dez
dias para renegociação da dívida ou pagamento, o que afronta o previsto em contrato que exige:
constituição em mora por cartório, prazo de quinze dias para quitar o débito e rescisão do
contrato mediante ação declaratória de rescisão contratual. Instada a se manifestar, a parte ré
pugnou pela não concessão da tutela pretendida, afirmando que a parte autora também foi
notificada por cartório e que a previsão contida na cláusula 10.4 quanto a ação declaratória de
rescisão contratual somente se aplica nos casos em que o promitente comprador foi imitido na
posse do imóvel, o que não ocorreu com a parte autora, eis que esta não preencheu os requisitos
necessários para tanto. É o relatório do necessário. Pois bem. O deferimento de tutela de
urgência somente é cabível quando o juiz se convence da existência de elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Esses requisitos, diga-se de passagem, são irremovíveis e devem fluir dos autos para gerar a
certeza de que o provimento invocado está juridicamente resguardado e não cause dano
irreversível àquele contra quem se pede. No caso em comento, pugna a autora a concessão de
tutela de urgência cautelar tendente a suspender a rescisão do contrato celebrado entre as
partes. Em uma análise perfunctória dos autos, própria deste momento processual, tenho que
não restou evidenciado os requisitos necessários para a concessão da tutela de urgência
pleiteada, eis que não vislumbro, neste momento, a existência da probabilidade do direito
vindicado nos autos. Isto porque, consoante se extrai dos autos, é incontroverso que a autora
está desde junho do ano passado inadimplente com suas obrigações perante a parte ré, bem
como que, ao reverso do alegado na inicial, conforme se infere dos documentos juntados pela
parte ré às fls. 75/81, além das notificações extrajudiciais por meio de carta com aviso de
recebimento, a ré também notificou a parte autora por meio do Cartório de Registro de Títulos e
Documentos desta Comarca, restando demonstrado, a priori, que houve a constituição em mora
da autora. Em outra senda, verifico que a cláusula décima do contrato de compra e venda
celebrado entre as partes prevê que a rescisão contratual poderá ocorrer em caso de
inadimplência de três parcelas, sendo que o caso da autora se amolda a hipótese prevista na
cláusula 10.2, a qual apenas indica a instauração de procedimento de rescisão contratual, após a
constituição em mora do devedor, inexistindo qualquer sujeição que esta ocorra por via judicial.
De fato, na cláusula 10.4, há previsão de que a vendedora poderá ajuizar ação declaratória de
rescisão contratual, entretanto, nesta, há a ressalva que esta é para que a vendedora possa
reaver o imóvel objeto do contrato, o que pressupõe, que houve a imissão da posse do
promitente comprador, o que não ocorreu no caso em comento, eis que a autora não cumpriu os
requisitos previstos na cláusula sétima. Nesta senda, estando a autora inadimplente perante a ré,
tendo esta a constituído em mora, bem como por inexistir obrigatoriedade no pacto firmado entre
as partes que a rescisão contratual no caso em apreço seja realizado por via judicial, tenho que
não restou evidenciado, neste momento, a probabilidade do direito vindicado nos autos. Assim,
reputo ausente o requisito da probabilidade do direito quanto ao pleito antecipatório da parte
autora, razão pela qual INDEFIRO a tutela de urgência rogada na exordial. Acrescente-se,
contudo, que o indeferimento das tutelas rogadas não corresponde a um antecipado
posicionamento a respeito da demanda, uma vez que a efetiva apuração do contexto fático e a
consequente aplicação das normas jurídicas pertinentes serão analisadas no momento
processual oportuno, ou seja, após o regular tramite do feito. 2.Em que pese o Código de
Processo Civil, em seu art. 334, determine a realização de audiência de conciliação após o
recebimento da petição inicial, deixo de designar a referida audiência neste momento ante a
inexistência de implementação de centros judiciários de solução consensual de conflitos para
realização do referido ato por conciliadores ou mediadores, haja vista que o CEJUSC desta
Comarca não atende as Varas Cíveis residuais. 3.Considerando que a parte ré já apresentou
contestação, bem como tendo em vista que o momento processual oportuno para designação de
eventual Audiência de Instrução e Julgamento e produção de prova pericial é na decisão de
saneamento e organização do processo (art. 357, incisos II e V, e §§ 4o e 8o, do CPC);
considerando ainda o dever de cooperação para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de
mérito justa e efetiva (art. 6 e art. 139, inciso II, ambos do CPC), intime-se a parte ré para, no
prazo de cinco dias, especificar e justificar as provas que pretende produzir (art. 373, do
CPC), sob pena de ser consideradas como renunciadas, resultando, se for possível, o
julgamento antecipado da lide (art. 355, do CPC). Vale dizer, o requerimento genérico de
provas sem a devida fundamentação será indeferido de plano.  4.Após, intime-se a parte
autora para réplica, no prazo de 15 (quinze) dias; bem ainda, se houver intervenção, abra-se
vista ao nobre Presentante do Ministério Público. Em seguida, remetam-se conclusos para
saneamento ou julgamento conforme o estado do processo. 5.Tendo em vista que o momento
processual oportuno para designação de eventual Audiência de Instrução e Julgamento e
produção de prova pericial é na decisão de saneamento e organização do processo (art. 357,
incisos II e V, e §§ 4o e 8o, do CPC); bem como considerando o dever de cooperação para que
se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva (art. 6 e art. 139, inciso II,
ambos do CPC), advirta-se a parte autora que deverá, em réplica, para especificar e
justificar as provas que pretende produzir (art. 373, do CPC), sob pena
de ser consideradas como renunciadas, resultando, se for possível, o julgamento
antecipado da lide (art. 355, do CPC). Vale dizer, o requerimento genérico de provas  sem a
devida fundamentação será indeferido de plano. 6.Em caso de possível distribuição diversa
do ônus da prova, nos termos do § 1o do art. 373, do CPC, quando do saneamento do processo
(art. 357, do CPC), este juízo renovará a intimação das partes para especificarem e justificarem
provas que pretendem produzir (arts. 9o e 10, do CPC). 7.Caso as partes tenham apresentado
declaração de imposto de renda nos autos para fins de análise de pedido de assistência judiciária
gratuita, ultrapassado o momento processual oportuno para impugnação do referido pleito pela
parte adversa, qual seja, contestação (réu) e réplica (autor), sem que esta tenha realizado
qualquer impugnação, proceda-se à Secretaria com o desentranhamento da declaração de
imposto de renda dos autos, com a consequente renumeração das páginas, devendo tal
documento ser devolvido a parte que o peticionou. 8.Intime-se. Cumpra-se.

Audiência de instrução e julgamento


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Publicado por Eric Serrao

há 5 anos

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Contextualização das audiências no processo civil
O Processo Civil brasileiro prevê uma série de audiências, tanto no Código Processo Civil  como
em leis extravagantes.
Há dois grandes grupos de audiências:

(i) audiência de instrução e julgamento


(ii) audiência preliminar

Na audiência de instrução, como o próprio nome já indica, haverá efetivamente a realização de


atos instrutórios, que terão por objetivo formular a convicção do julgador.

Além dessa audiência, é possível que ocorra outra, anterior à instrução, com objetivos distintos
conforme o procedimento (desde tentativa de conciliação até a apresentação de defesa). Essa
espécie de audiência não recebe um nome específico na legislação – assim, é usualmente
denominada na doutrina como audiência preliminar.

Audiências e princípio da oralidade


O ato processual audiência é muito ligado ao princípio da oralidade (o autor que mais
desenvolveu o tema foi CHIOVENDA).

Por oralidade pode se entender:

(i) modo de realização dos atos do processo, quando verbalmente concretizados;

(ii) em sentido mais amplo, como princípio processual.

Em relação ao primeiro conceito, vale esclarecer que os atos orais são, basicamente, os
realizados em audiência. Como princípio processual, a oralidade estimula a realização dos atos
processuais de forma verbal, de modo a aproximar o juiz das partes e das provas (princípio da
imediatividade), dentre outros aspectos.

A audiência existe para atender ao princípio da oralidade que, em tese, leva a uma maior
aproximação do juiz para com as partes e para com as provas. Essa aproximação leva a uma
visão melhor da causa e, consequentemente, a uma melhor decisão.

Importante ressaltar que nem sempre deve haver audiência de instrução, pois pode ser que não
haja necessidade de produção de prova na audiência (julgamento antecipado do mérito). Não
obstante, os meios de prova que devem ser realizados em audiência são; prova oral (que se
dividem em depoimento pessoal e prova testemunhal) e esclarecimentos periciais. Outra
hipótese que dispensa a realização de audiência é a extinção do processo sem resolução do
mérito.

Momento de realização da audiência, no procedimento comum (CPC/15)


1) inicial

2) audiência de conciliação ou mediação

3) contestação

4) réplica

5) saneamento
6) audiência de instrução

7) alegações finais / memoriais

8) sentença (passível de recurso)

É certo que em muitos procedimentos especiais também existe a audiência de instrução.

Se o juiz iniciar a produção de provas antes do julgamento conforme o estado do processo,


toda atividade probatória pode vir a ser inútil. Isto porque, findas as providências preliminares, o
juiz deverá apreciar se o processo tem condições de prosseguir ou se já é possível sua
conclusão (com a prolação de sentença). Este é o julgamento conforme o estado do processo,
que pode se dar de três formas: (i) extinção do processo sem resolução de mérito (CPC/15,
art. 354); (ii) julgamento antecipado do mérito (CPC/15, art. 355); (iii) julgamento antecipado
parcial do mérito (CPC/15, art. 356); (iv) audiência preliminar e saneamento (CPC/15, art. 357)
Nas hipóteses 1 e 2, já será proferida sentença e, portanto, não haverá necessidade de
realização da audiência de instrução e julgamento.

Trâmite da audiência de instrução (CPC/15, art. 358 e seguintes)


Antes do início, as partes devem ser apregoadas (CPC/15, art. 358). Apregoar é dar o nome
como presente, é informar que está presente. Importante ressaltar que a audiência pode ser
adiada, dentre outros motivos, por atraso injustificado superior a 30 minutos (CPC/15,
art. 362, III) No início da audiência, o juiz tentará a conciliação (CPC/15, art. 359) mesmo que já
tenha havido audiência de conciliação.
A ordem de provas, em audiência, é preferencialmente a seguinte (CPC15, art. 361):
(i) oitiva do perito e dos assistentes técnicos, para esclarecimentos (laudo já terá sido
elaborado previamente); (ii) depoimento pessoal das partes; primeiro do autor, depois do réu (é
proibido, a quem ainda não depôs, assistir ao interrogatório da outra parte.); (iii) oitiva de
testemunhas; primeiro do autor, depois do réu.

Nos termos do artigo 362 do Código de Processo Civil , a audiência pode ser adiada: 1) por
acordo entre as partes 2) se qualquer pessoa que deva participar da audiência não puder
comparecer por motivo justificado 3) por atraso injustificado superior a 30 minutos.
Portanto, a formação de convicção do julgador em audiência (objetivo da instrução e,
especificamente, desta audiência) se dará especialmente em virtude da produção de prova oral
(depoimento pessoal das partes e oitiva de testemunhas), mas também pode ocorrer por meio
de esclarecimentos do perito e pelos debates (além das provas documentais já juntadas aos
autos).

Ao final da audiência, as partes apresentam alegações finais orais (CPC/15, art. 364), ou – se a


causa for complexa - por escrito, em prazo sucessivo de 15, primeiro do autor e depois do réu,
assegurada a vista dos autos, com os memorias já anexados (CPC/15, art. 364, § 2º)
Importante salientar que, se os debates forem realizados de forma oral, é lícito que o juiz profira
a sentença na própria audiência. Ademais, a audiência, em regra, será pública (CPC/15,
art. 368).
Sentença
Contextualização
A sentença é o ápice, a conclusão, o fim do procedimento em 1º grau de jurisdição.

I – procedimento comum
1) inicial

2) audiência de contestação ou mediação

3) contestação

4) réplica

5) saneamento

6) audiência de instrução

7) alegações finais / memoriais

8) sentença (passível de recurso)

Assim, com a sentença o Estado-juiz se manifesta, aplicando a lei ao caso concreto, seja
decidindo o litígio (sentença de mérito / definitiva, resolução do mérito, CPC/15, art. 487), seja
reconhecendo uma falha processual que impede a análise do mérito (sentença terminativa, sem
resolução do mérito, CPC/15, art. 485).
Nos termos do artigo 12 do NCPC, alterado pela lei 13256/16, os juízes e os tribunais
atenderão, preferencialmente, à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou
acórdão. A palavra “preferencialmente”, na realidade, exime o juiz de julgar os processos em
ordem cronológica. Há controvérsia doutrinária em relação à obrigatoriedade de lista prevista
no § 1º desse artigo.
Conceito de sentença
O conceito de sentença original do CPC/73 era claro (e criticado por parte da doutrina, que o
entendia insuficiente): sentença era o “ato que extinguia o processo”. Era criticada porque, na
verdade, a sentença não põe fim ao processo, visto que ainda é possível a interposição de
recurso. Tendo em vista tal conceito pretérito de sentença, a exposição de motivos do CPC/73
afirma: “Se o juiz põe termo ao processo, cabe apelação. Não importa indagar se decidiu ou
não o mérito. A condição do recurso é que tenha havido julgamento final do processo”.
Contudo, com a Lei 11.232/05, houve alteração no conceito de sentença. A última redação do §
1º do art. 162 do CPC afirmava que sentença é “o ato do juiz que implica alguma das situações
previstas no art. 267 ou no art. 269”. Nesse momento, o art. 267 (sentença terminativa) fazia
menção à extinção do processo sem resolução do mérito, sendo que o art. 269 (sentença
definitiva) apenas mencionava a resolução do mérito.
No CPC/15, tem-se o seguinte:
- art. 203, § 1º destaca que sentença (i) salvo as disposições dos procedimentos especiais, (i) é
o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos artigos 485 e 487, (iii) põe fim à
fase cognitiva do procedimento comum, e extingue a execução.

- tanto o artigo 485, quanto o artigo 487 não fazem menção a sentença ou extinção.

§ 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o


pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
§ 2o Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se
enquadre no § 1o.
§ 3o São despachos todos os demais pronunciamentos do juiz praticados no processo, de ofício
ou a requerimento da parte.
§ 4o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de
despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário.
A sentença, quanto ao conteúdo, se divide em dois artigos. O artigo 485 compreende a decisão
sem resolução do mérito. No caso de existir um vicio processual insanável. Tal sentença pode
ser proferida a qualquer tempo. Já o artigo 487 corresponde à decisão com resolução do
mérito.

Visto a confusão trazida pela redação do artigo 203 do CPC/15, principalmente no que se refere


aos termos extingue e põe fim, o mais adequado é adotar o seguinte conceito: sentença
compreende ao ato que aprecia o pedido de maneira final em 1º grau de jurisdição, salvo
esclarecimento mediante embargo de declaração.
Nos termos do artigo 356 (julgamento antecipado parcial de mérito), quando uma decisão
judicial tem mais de um capítulo (cisões em relação aos pedidos e/ou partes), proferindo uma
decisão para cada parte, sendo um capitulo com natureza de sentença e o outro com natureza
de decisão interlocutória, estaremos diante de uma decisão complexa, em que não se pode
interpor um recurso para cada capitulo, pois para cada decisão cabe apenas um recurso. Nesse
caso, a decisão é considerada toda como interlocutória, logo se interpõe agravo e não
apelação. Ou seja, do ponto de vista prático, para decidir que recurso usar, entende-se a
decisão como um todo e não cada capítulo.

Elementos da sentença
A sentença é dividida em (CPC/15, art. 489):
- relatório

- fundamentação

- dispositivo

Importante frisar que o julgamento parcial antecipado do mérito (julgamento de capítulo)


também deve seguir essa divisão.

Em relação à fundamentação da sentença, inova o CPC15 no art 489.

§ 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença
ou acórdão, que:(inclui decisão monocrática)
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação
com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a
conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos
determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte,
sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do
entendimento.
§ 2o No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da
ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e
as premissas fáticas que fundamentam a conclusão.
O dispositivo (ou conclusão) compreende à síntese com as palavras chaves; “julgo procedente”,
“julgo improcedente”, “extingo o processo”, etc. “PRIC” (publique-se, registre-se, intime-se,
cumpra-se)

Vícios da sentença
A sentença deve ser dada conforme o pedido da parte (CPC/15, art. 492), pena de vício (i) se o
juiz conceder além do que foi pedido: julgamento ultra petita; (ii) se o juiz conceder diferente do
que foi pedido: julgamento extra petita; (iii) se o juiz apreciar aquém do que foi pedido,
julgamento infra petita (ou citra).
Modificações da sentença
Momento de prolação
O juiz pode prolatar sua sentença (i) na própria audiência de instrução e julgamento, após os
debates (isso é incomum e é evitado pelos juízes em função da reação das partes); (ii) após a
audiência, se os debates (alegações orais) nela aconteceram (pelo NCPC, art. 366, no prazo de
30 dias); (iii) após os memoriais apresentados (NCPC, arts. 364, § 2º e 366, 30 dias).
Esse prazo é impróprio (não gera consequência para o processo ou para o juiz em caso de
descumprimento, logo dificilmente é cumprido), diferente dos prazos próprios (aqueles
aplicados às partes, que em caso de descumprimento acarreta preclusão que é a perda do
direito de realizar o ato). Prazo contado a partir do termino da audiência ou após a
apresentação dos memoriais por escrito.

Vale salientar, ainda que existe a possibilidade de o juiz prolatar a sentença sem audiência,
esse é o caso do julgamento antecipado do mérito.

Publicação e intimação da sentença


Momentos em que a sentença será publicada: a) Na própria audiência de instrução, já com a
intimação das partes. Aqui a prolação, a publicação e a intimação se dão ao mesmo tempo. É o
ideal, porém menos comum; (b) Em cartório. No caso do processo físico quando o funcionário
do cartório encarta (anexa) a sentença assinada pelo juiz aos autos do processo. Após esse ato
a sentença se torna pública (disponível para consulta) e o cartório fará também a intimação das
partes. No processo eletrônico a decisão estará publicada a partir do momento em que for
possível sua consulta no sistema.

Alteração da sentença pelo próprio juiz


Em regra, uma vez publicada (e, a rigor, antes mesmo da intimação), o juiz não pode alterar
sua sentença. A partir do momento em que a sentença foi publicada em cartório, o juiz não
pode alterá-la, salvo para corrigir erro material, erro de cálculo ou em resposta a embargo de
declaração.

Código de Processo Civil


Art. 494. Publicada a sentença (apenas sentença, a decisão interlocutória pode ser alterada), o
juiz só poderá alterá-la:

I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou erros de


cálculo;
II - por meio de embargos de declaração.

As inexatidões materiais compreendem em erro de nome ou grafia das partes; indicação errada
no número do processo; inserção de trechos / parágrafos estranhos à sentença; soma
equivocada de valores mencionados na decisão; dispositivo que não reflete a fundamentação,
etc.

Juiz só pode reconsiderar a sua sentença até a prolação e antes da publicação (em cartório ou
no sistema digital). Após a publicação, a sentença só pode ser alterada, de oficio, em razão de
erro material. Sem ser de ofício (caso dos erros materiais), a sentença poderá ser alterada em
resposta à provocação das partes nos termos dos artigos 330, 331, 332 e 485, § 7º do CPC/15.
Renato Estevam da Silva contribuiu para este artigo.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ 5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS
ESPECIAIS

Recurso: 0003311-04.2021.8.16.0014
Classe Processual: Recurso Inominado
Cível Assunto Principal: Empréstimo
consignado Recorrente(s):
WALTER SECCI

Recorrido(s): BANCO BMG SA

EMENTA: DECISÃO MONOCRÁTICA. RECURSO INOMINADO. AÇÃO


DE REPETIÇÃO DO INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
PRETENSÃO DE CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. REALIZAÇÃO DE CONTRATO DE CARTÃO
DE CRÉDITO CONSIGNADO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO
VÍCIO DE CONSENTIMENTO. LEGALIDADE DO SAQUE NA
MODALIDADE CONTRATADA. INCIDÊNCIA DA LEI 13.172/2015.
POSSIBILIDADE DE RETENÇÃO DE RMC PREVISTA PELA
INSTRUÇÃO NORMATIVA DO INSS N. 39/2009. ENTENDIMENTO
DOMINANTE ACERCA DO TEMA. DEMANDA
IMPROCEDENTE. SENTENÇA MANTIDA.
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

1. Cabível o julgamento monocrático do recurso, com aplicação analógica da


Súmula nº 568 do STJ, devido ao entendimento unânime na Turma Recursal sobre a questão
devolvida.

2. O presente recurso foi interposto com todos os pressupostos de


admissibilidade, assim, ele deve ser conhecido.
3. O recorrente busca a reforma da sentença que julgou improcedentes os pedidos
iniciais.

4. A partir da análise do termo de adesão firmado entre as partes (mov. 15.2),


conclui-se que o recorrente possuía plena ciência acerca da modalidade contratada, havendo
autorização expressa acerca dos descontos mensais mínimos e da reserva de margem
consignável (autorização própria para a reserva na fl. 8). Portanto, não havendo provas
contrárias, impõe-se afastar qualquer vício de consentimento no caso dos autos.

5. O saque efetuado através da modalidade contratada não é ilegal, porque


previsto pela Lei nº 13.172/2015, que dispõe:

“Art. 1º Os empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, poderão autorizar, de forma irrevogável e
irretratável, o desconto em folha de pagamento ou na sua remuneração disponível dos valores
referentes ao pagamento de empréstimos, financiamentos, cartões de crédito e operações de
arrendamento mercantil concedidos por instituições financeiras e sociedades de arrendamento
mercantil, quando previsto nos respectivos contratos.

§ 1º O desconto mencionado neste artigo também poderá incidir sobre verbas rescisórias
devidas pelo empregador, se assim previsto no respectivo contrato de empréstimo,
financiamento, cartão de crédito ou arrendamento mercantil, até o limite de 35% (trinta e cinco
por cento), sendo 5% (cinco por cento) destinados exclusivamente para:
I - a amortização de despesas contraídas por meio de cartão de crédito; ou II

- a utilização com a finalidade de saque por meio do cartão de crédito.”

5.1. Ainda, a retenção de Reserva de Margem Consignável – RMC é prevista pela


Instrução Normativa do INSS nº 39/2009, desde que autorizada pelo titular do benefício
previdenciário, conforme ocorreu. Esse é o entendimento unânime de todas as juízas
integrantes da presente Turma Recursal:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INEXIGIBILIDADE DO DÉBITO C/C REPETIÇÃO DO


INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CONTRATO BANCÁRIO. EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. RECURSO INOMINADO 1
(RECLAMADO). PLEITO DE REFORMA DA SENTENÇA. POSSIBILIDADE – NULIDADE DO
CONTRATO NÃO VERIFICADA – MODALIDADE CONTRATUAL PREVISTA EM LEI.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO DIREITO DE INFORMAÇÃO E ABUSIVIDADE – ASSINATURA
DO AUTOR NO TERMO DE ADESÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO COM
RESERVA DA MARGEM CONSIGNÁVEL – INFORMAÇÃO EM DESTAQUE NO
DOCUMENTO – AUSÊNCIA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO E DE DEFEITO NO NEGÓCIO
JURÍDICO. FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO
– ÔNUS DA PROVA QUE INCUMBIA AO AUTOR – ENTENDIMENTO DO
ART. 373, INCISO I, DO CPC. CONDENAÇÃO AFASTADA. SENTENÇA
REFORMADA. RECURSO INOMINADO 2 (RECLAMANTE). PLEITO DE
CONDENAÇÃO EM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
INEXISTÊNCIA DE NULIDADE NO CONTRATO – PEDIDOS INICIAIS
IMPROCEDENTES – ANÁLISE DO MÉRITO PREJUDICADA.
CONDENAÇÃO AFASTADA. RECURSO INOMINADO 1
PROVIDO. RECURSO INOMINADO 2 PREJUDICADO. (TJPR - 5ª Turma
Recursal dos Juizados Especiais - 0002809-37.2018.8.16.0025 - Araucária
- Rel.: Juíza Maria Roseli Guiessmann - J. 25.05.2020)

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C RESTITUIÇÃO DE VALORES. CARTÃO DE CRÉDITO
CONSIGNADO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DESCONTO DO
PAGAMENTO MÍNIMO DA FATURA. RESTRIÇÃO DA RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL. CONTRATAÇÃO FIRMADA. SEM PROVA DO
VÍCIO DE CONSENTIMENTO. RECURSO DO AUTOR NÃO PROVIDO.
(TJPR - 5ª Turma Recursal dos
Juizados Especiais - 0000404-29.2019.8.16.0175 - Uraí - Rel.: Juíza
Camila Henning Salmoria - J. 11.05.2020)

RECURSOS INOMINADOS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA


DE DÉBITO C/C RESTITUIÇÃO EM DOBRO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA.
CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO (RMC). ALEGAÇÃO DE DOIS
DESCONTOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DO AUTOR. NÃO
VERIFICADO. MERA RESERVA DA MARGEM. PROVA DO
RECEBIMENTO DE VALORES VIA TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA
ELETRÔNICA. COBRANÇAS DEVIDAS. SENTENÇA REFORMADA
PARA JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO INICIAL. Recurso do autor
conhecido e desprovido. Recurso do banco conhecido e provido. (TJPR
- 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais - 0005205-
15.2019.8.16.0069 - Cianorte - Rel.: Juíza Fernanda de Quadros
Jorgensen Geronasso - J. 18.05.2020).

6. Em conclusão, o recurso inominado interposto deve ser desprovido, ante


fundamentação.

6.1.Condena-se a parte recorrente ao pagamento das custas (Lei Estadual n°


18.413/2014) e dos honorários advocatícios à parte contrária, estes de 20% do valor de
condenação ou, não havendo valor monetário, do valor corrigido da causa (LJE, 55).

6.2. A exigibilidade das verbas de sucumbência sujeita-se ao implemento da


condição prevista no art. 98, § 3°, do Código de Processo Civil, ante a concessão do benefício
da assistência judiciária gratuita, já deferido na origem (mov. 53).
Curitiba, data da assinatura digital.

Manuela Tallão Benke

Juíza relatora

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