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Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio

Denilson Albino Souto da Silva – Turma de Direito Manhã –


Matr. 32002645

RESUMO CRÍTICO DO LIVRO “A REVOLUÇÃO DOS BICHOS”


DE GEORGE ORWELL.

Resumo apresentado conforme exigências da


disciplina Filosofia do Direito, ministrada pelo
Prof. Marcelo Cavalcante.

RIO DE JANEIRO

2020
INTRODUÇÃO:
A obra de George Orwell, “A Revolução dos Bichos”, inicialmente rejeitada
de ser publicada em boa parte da Europa, foi escrita em meados de 1943 e sua
publicação ocorreu em 17 de agosto de 1945, na Inglaterra, eclodindo na Europa
na época da Segunda Guerra Mundial. Suas referências políticas são óbvias em
relação ao contexto da época. Orwell utilizou-se do gênero textual fábula,
compondo textos onde os personagens são animais que apresentavam
características humanas, como falas, ações em grupo, discursos e costumes
moralizantes. A forma literária se divide em narrativa e conclusão levando como
pano de fundo um viés político de dominação e manipulação, no intuito de sugerir
uma verdade ou uma reflexão de ordem moral. (SILVA, 2006 op cit SANTOS,
2020).  
O autor, que foi combatente na guerra civil espanhola e conheceu de perto
o exército soviético de Stalin, constrói uma narrativa pela qual pode-se verificar
uma crítica ao sistema comunista de governo e uma denúncia contra a traição do
líder soviético. Pois, os princípios da revolução implantados na Rússia foram
sendo vilipendiados no decorrer do tempo, principalmente na ditadura stalinista. A
Obra expõe o quanto era utópico o ideal de “igualdade” que tanto os animais
buscavam, e que, no entanto, lhes seria impossível por causa da sedução de um
grupo em dominar aos demais como seus subordinados e não por serem seus
camaradas. (SANTOS, 2020).  
Essa obra desenhou uma sociedade utópica que fora almejada por um
grupo a partir da difusão das ideias de uma mente revolucionária, que mesmo
depois de sua morte, reverberaram nas mentes de seus companheiros da Granja.
Todavia, o ideal foi conduzido de tal forma que a tirania e vileza humana
incorporada nos antes porcos-dominados e martirizados, os levaram a um regime
totalitário ditado e reeditado segundo os interesses dos agora porcos-
dominadores. Para tanto, os porcos utilizaram-se do saber referentes a direitos
positivados e da linguagem de modo bastante persuasivo para controlar e
subordinar os demais animais. (ORWEL op cit PROCÓPIO, 2015, p.1)
Por conseguinte, o texto evidencia como a linguagem pode ser utilizada
como um instrumento de persuasão das massas, fenômeno que fora estudado
pela escola sociológica de Frankfurt (SANTOS, 2020). E como uma boa
argumentação usada por um líder astuto, se perfaz como legitimadora das
atrocidades e barbáries deferidas pelo mesmo aos demais, impondo desta forma
novos parâmetros de justiça por meio da positivação das leis.
Entre essas semelhanças do conto e da realidade histórica de seu autor,
está a forma de divisão do poder constituinte que aparece no enredo de forma
explícita, iniciando com o Poder Originário e desenvolvendo-se para o poder
reformador afim de beneficiar os ideais de um determinado grupo: os porcos. 

RESUMO CRÍTICO DA NARRATIVA


O primeiro capítulo, apresenta o porco Major (tipificando Karl Max e Lenin
ao mesmo tempo: ideias e ordens) aglutinando os bichos e levando-os a se
convencerem da importância de se rebelarem contra os maus tratos, matanças e
roubo da liberdade deles pelos humanos, conforme comentário de Procópio na
apresentação da obra (ORWELL op cit PROCÓPIO, texto de preparação , 2015).
Morre o revolucionário idealista, mas os animais incentivados pelos seus
discursos e liderados pelos porcos, tendo à frente o engenhoso Bola de Neve
(representando a Trotsky) e o destemido Napoleão (Stálin), planejam e executam
a expulsão do Sr. Jones, o dono da Granja do Solar, de tal forma que tomam o
controle daquela fazenda dando-lhe o nome de Granja dos Bichos. Napoleão,
pega a recém-nascida ninhada dos cães e os leva para serem treinados
secretamente. (ORWELL, 2015, p.23)
Nos capítulos seguintes, outros fazendeiros ficaram amedrontados com a
possibilidade dessa onda atingirem suas propriedades. Juntam-se com o Sr.
Jones para retomarem a Granja do Sol, porém são derrotados e humilhados pelos
animais na disputa depois conhecida como Batalha do Estábulo. Um dos porcos
chamado Napoleão almejando ser o único líder no comando articula-se contra
Bola de Neve, e por ter formado sua guarda pessoal de cães bem treinados, o
expulsa e se coloca como o único com status de líder da revolução.
Outro porco chamado Garganta, manipulador das palavras, passa a
construir narrativas que enaltecem Napoleão e denegrem Bola de neve. A partir
de então, passa-se a questionar os 7 mandamentos e a reformula-los adequando-
os aos desejos de Napoleão e de outros porcos, colocando-os acima dos demais
animais. As articulações argumentativas de Garganta manipulam as consciências
de cada um a ponto de não mais se afligirem de ver comportamentos de
verossimilhança com os humanos, bem como de perceberem o quanto a manada
de porcos que se multiplicava e engordava às custas de seus esforços e
sacrifícios.
O capítulo 6, narra como foi feito a construção do moinho de vento. Nesse
capítulo se revela a hostilidade de Napoleão, ao mês o tempo que seus anseios
de aumentar seu poder, pois o moinho daria condições de se comercializar com
outras granjas. Os animais se mostraram contrários por causa do que fora
combinado na confecção dos 7 mandamentos em relação a liberdade dos animais
frente aos humanos. As galinhas fazem revolta por causa da exigência que
deveriam dispor de mais ovos para comercialização. Fazem greve, mas não vão
adiante pois não puderam suportar a punição do corte de suas rações.
Os capítulos 7 e 8 revelam o quanto um ditador pode ser obstinadamente
terrível. Em uma única reunião Napoleão mata por meio de seus cães vários
animais, antes seus camaradas. Acusados de serem traidores da revolução, por
direta ou indiretamente ajudarem a sabotar a granja em conluio com o imaginário
Bola de Neve, que Garganta acusava como o mentor de tais infortúnios.
O capítulo 9 demonstra que os porcos cada vez mais se aproximavam em
comportamentos e vilania aos humanos. Eles agora mandam como se fossem
donos. A granja passa por crise no dinheiro e a ração dos animais diminuem, o
trabalho aumenta e os porcos engordam mais ainda. A Granja é proclamada
como república e Napoleão como seu presidente. Passados vários anos, a Granja
está mais organizada, mas o tratamento dado aos outros animais piorou a ponto
de ser proporcionalmente mais cruel do que fora no tempo do antigo proprietário
Sr. Jones.
Os últimos capítulos mostram o escândalo dos porcos se humanizarem e
de forma acintosa se colocarem como se fossem os donos dos outros animais.
Decretando como deveriam morrer; colocando-lhes valor, e tratando-os no poder
da chibata. Em sequência, o conto termina com os amimais da fazenda
estupefatos ao perceberem que os porcos promoveram uma festa onde os
convidados eram outros fazendeiros com suas esposas. Tal festa veio a se tornar
uma confusão, onde não mais se podia distinguir o que era homem do que era
porco em meio a briga que travavam entre si.

CONCLUSÃO COM ANÁLISE CRÍTICA


Aqui vale ressaltar o que se pode aproveitar ao se fazer uma análise
comparativa com o saber jurídico. A confecção dos 7 mandamentos que
estabeleceram a filosofia do “animalismo” como princípio do direito de cada
animal da Granja.
A reunião dos bichos e sua resolução faz referência a algo semelhante ao
poder constituinte originário. Cria-se por meio dos 7 mandamentos uma
constituição com suas cláusulas pétreas. Nessa esteira, percebe-se que com a
mudança objetiva do poder por meio de um golpe armado (a atitude usurpadora
de Napoleão, tirando o comando do pleno da assembleia que era presidida por
Bola de Neve, com o fim de o tornar ditador), observa-se a deturpação da
revolução e a utilização dos discursos para manipular as massas e assim
promover uma “legalização” das ações. Esse expediente conduziu a uma
reformulação lenta e gradual das causas pétreas pelos legisladores
(representados por Garganta) que ao mexerem apenas um pouco no texto,
conseguiram mudar completamente o seu sentido (SANTOS, 2020).
O endosso do Direito às atitudes de Napoleão, baseava-se numa farsa
manipulada por Garganta e aplicada como regra geral. Diante disso, faz-se
notório que a política influenciada por idealismos, se conduzida de forma a
perpetuar um grupo no poder, pode produzir muitas aberrações, mesmo que
concebida por viés considerado democrático. Daí a importância da propagação do
saber. Tudo iniciou quando Bola de Neve se apropriou dos livros do Sr. Jones e
de todos seus escritos, inclusive de suas receitas de família. E isso, fez grande
diferença na história da revolução dos bichos. A maneira como esse
conhecimento foi manipulado revela a intenção política da perpetuação no poder
de alguns grupos sociais.
Tais observações, fazem com que se analise criticamente o papel dos
profissionais do Direito, bem como a suas atuações no campo político. Tais
percepções em relação ao conto “A Revolução dos Bichos” parecem reforçar a
importância de se ter uma constituição rígida, aos moldes da Constituição Federal
de 1988, que não se permite modificar “nem um til e nem um jota” sem que
primeiro passe por duas vezes dois quintos das duas casas legislativas, Senado
Federal e Assembleia Legislativa Federal, justamente para que a sociedade,
especialmente em seu setor jurídico, se manifeste diante de qualquer deturpação
da legislação republicana vigente.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SANTOS, Victoria Luana. L.A.A. A Revolução dos Bichos: a linguagem, “justiça”,


a positivação das leis e o papel do direito em um Estado Democrático.
Conteúdo Jurídico, 2020. Disponível em:
https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/54509/a-revoluo-
dos-bichos-a-linguagem-justia-a-positivao-das-leis-e-o-papel-do-direito-
em-um-estado-democrtico. Acesso em 01-02-2020.

ORWELL, George – PROCÓPIO, Cornélio. A Revolução dos Bichos. PR: UENP,


2015.

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