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Narrativas Gráficas

Material Teórico
A Tipografia como Ferramenta Narrativa

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Elisa Jorge Quartim Barbosa
Prof. Me. Christian David Rizzato Petrini

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
A Tipografia como
Ferramenta Narrativa

• Introdução;
• A Tipografia no Cinema;
• A Tipografia na Poesia Visual;
• A Tipografia na Comunicação;
• A Tipografia na Música;
• Formas de Tipografia em Movimento.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Estudar como a tipografia, em diferentes áreas, pode ser considerada uma ferramenta
narrativa que contribui para o entendimento da informação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de
aprendizagem.
UNIDADE A Tipografia como Ferramenta Narrativa

Introdução
Como vimos anteriormente, o livro é uma ferramenta narrativa, uma vez que ele
conta uma história no decorrer de todas as suas páginas. Para contar essa história,
no interior desse livro, o designer gráfico faz uso da tipografia.
A escolha de uma determinada fonte tem o intuito de facilitar a leitura, ou seja,
fazer com que o leitor consiga ler mais páginas, sem se cansar. Com isso, mesmo
que de maneira indireta, a escolha de uma família tipográfica já contribui com a
narrativa, já que ela facilita a leitura. Contudo, as letras aplicadas nas páginas de
um livro não representam a única forma de encontrarmos a tipografia relacionada
a uma narrativa gráfica.
Nesta unidade, iremos estudar algumas outras formas de narrativas que usam a
tipografia de uma maneira mais lúdica, tudo para contribuir com a assimilação da
informação. Ou seja, a tipografia, além de ser uma ferramenta textual e da narrati-
va linear, quando conta com a aplicação de uma cor, de uma textura e até mesmo
de um movimento ou, quando aplicada dentro de um contexto específico, pode
ser um poderoso agente na narrativa de uma história. O significado do texto muda
conforme a sua composição ou pela interação entre letras e palavras.
A aplicação da tipografia como ferramenta narrativa pode ser encontrada no
cinema e em produções audiovisuais, além de ser um tipo de experimentação poé-
tica que está presente em vários momentos da cultura. Pode ser vista, por exemplo,
nas experimentações de cineastas que manipularam a película do filme inserindo
movimentos e efeitos no texto, e também pode ser encontrada nas artes plásticas,
através da poesia eletrônica, na televisão e na publicidade.
Segundo Matt Woolman (2005),
[...] tipos e letras em movimento têm sua mais visível aplicação nos títulos
de filmes e programas de televisão, como um meio de estabelecer um con-
texto. [...] que vão além da narrativa passiva para englobar narração ativa,
incluindo poesia cinética, documentário emocional e interação lúdica. Com
histórias interativas, o designer produz as condições e estrutura para a his-
tória em si, mas é o usuário (ou leitor) que realmente cria – e muitas vezes
se torna parte – a narrativa.

Em outras palavras, em diferentes áreas, iremos ver como a tipografia, de uma


maneira mais criativa, pode contribuir com uma melhor assimilação da informação.
Começaremos pelo cinema.

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A Tipografia no Cinema
Quando pensamos na aplicação da tipografia em uma produção cinematográ-
fica, podemos destacar duas aplicações principais: nos créditos iniciais e nos
créditos finais.

Nos créditos finais de um filme, quando são apresentados todos os indivíduos


envolvidos na produção, a tipografia é um tanto quanto conservadora, ou seja, o
texto é diagramado quase como num livro, com a diferença que, nos créditos finais
de um filme, esse conteúdo é linear e desliza pela tela.

A aplicação da tipografia nos créditos iniciais é a mais interessante entre as duas.


É aqui que podemos entender a tipografia como um agente que já contribui com a
narrativa da produção.

Através da manipulação, montagem e colagem da película, as letras que compu-


nham o título de abertura de um filme, quando animadas, têm como característica
a intenção de inserir o telespectador na história desde a abertura, ou seja, começa
a contar a história do filme desde seu letreiro de apresentação através de letras com
transições e efeitos, fruto da manipulação da película.

No início, o cinema usou a técnica de reprodução quadro a quadro, ou seja, vá-


rios quadros estáticos, diferentes um dos outros, eram apresentados em sequência,
dando a noção do movimento ou de uma transformação temporal. Essa técnica de
animação dá a impressão de uma transformação temporal e permanece até hoje
em softwares de animação ou de edição.

A técnica de animação quadro a quadro se transferiu para a tipografia através


dos cartões-título de abertura dos filmes, principalmente de terror. Esses cartões-
-título eram inseridos na película original do filme para apresentar o nome daquela
produção e estabelecer desde o crédito de abertura, a premissa e o ambiente do
filme, como vimos anteriormente, intensificando a experiência do telespectador a
partir do início da projeção.

Um exemplo disso é a abertura do filme The Thing From Another World


(1951) de Christian Nyby e Howard Hawks, na qual um pano de fundo escuro
literalmente queima, revelando vibrantes raios de luz que surgem das letras que
compõem o título do filme, nesse caso, inserindo o público em um ambiente de
suspense (BELLANTONI; WOOLMAN, 1999, p. 7).

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UNIDADE A Tipografia como Ferramenta Narrativa

Figura 1 – Abertura do filme ‘The Thing From Another World’ (1951)


Fonte: Acervo do Conteudista
Explor

Filme ‘The Thing From Another World’ (1951). Disponível em: https://youtu.be/mAWqJpRFLwE

Portanto, quando pensamos nos primórdios da tipografia como parte da narra-


tiva de um filme, nos créditos iniciais, podemos perceber que houve uma evolução.
No início, os textos em filmes eram estáticos, básicos e limitados. Através de super-
fícies bidimensionais, diálogos, títulos, créditos e informações importantes eram es-
critos ou pintados à mão (BELLANTONI; WOOLMAN, 1999, p. 7). Num primeiro
momento, o texto era sobreposto ao filme tomando toda a tela com um fundo preto;
posteriormente, passou a ser uma sequência da produção, ocupando alguns quadros
da película, ainda com seu fundo preto, passando a interagir com a imagem do filme
como fundo aproximadamente na década de 1920.

Figura 2

Como mencionamos no início desta unidade, a tipografia também encontrou


lugar como ferramenta narrativa na poesia visual, uma forma de poesia eletrônica
que ganhou grande representatividade com a criação do computador.

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A Tipografia na Poesia Visual
Como vimos, a tipografia em movimento é muito utilizada no cinema, tanto nos
créditos iniciais, como nos créditos finais. Contudo, Woolman (2005, p. 75), tam-
bém relata a presença das letras dinâmicas, na poesia cinética.

Com a disseminação dos computadores, os artistas desenvolveram uma forma


de poesia que tem o movimento como característica principal, que contribui com
seu contexto.

Não precisamos ir muito longe para encontrarmos exemplos de poesia visual.


No Brasil, a tipografia em movimento foi aplicada por alguns artistas que desenvol-
veram uma nova forma de poesia que, como vimos, fez uso das letras dinâmicas
para criar diferentes formatos de concepção e exibição, a poesia visual. Através
das letras em movimento, esses artistas brasileiros deram outra dimensionalidade
para seus poemas.

Conforme já mencionamos, no início do cinema, a tipografia cinética dependeu


de intervenções manuais dos autores através de colagens e manipulações na pelí-
cula e que a animação trouxe grandes inovações para a tipografia em movimento,
assim como a tecnologia eletrônica.

Tipografia Cinética: (em inglês: Kinetic typography) é o nome técnico de “texto em movimento”.
Explor

Essa técnica de animação é empregada para expressar ideias usando o texto em movimento.

O computador facilitou e permitiu novos caminhos para os artistas, entretanto,


de acordo com Panerari (2010, p. 3-4), antes de usar o computador como amplifi-
cador das ideias, ele foi visto apenas como uma ferramenta para digitação e trans-
crição da poesia, trazendo apenas o benefício tecnológico do que antes era feito
manualmente. A poesia visual ainda dependia de uma intervenção manual com
ampliações, reduções, cópias, desenhos e colagens. Porém, a preocupação com a
estética visual foi o estopim para a descoberta da poesia eletrônica, que trazia um
caráter interativo e uma visualidade muito mais expressiva do que a bidimensiona-
lidade do formato escrito.

A poesia visual é resultado da combinação entre a poesia falada e os elementos


visuais e analisa a disposição dos elementos gráficos e verbais, diferenciando-se da
poesia convencional pela utilização dos espaços em branco e pela forma como o
verso se distribui pela linha do poema, pela pontuação usada e pela diversidade de
tipos possíveis.

Panerari (2010, p. 3-4) descreve que, com o surgimento e com o uso de equi-
pamentos eletrônicos e digitais na produção de poesias, os poetas ampliaram seus
horizontes, adicionando tridimensionalidade e movimento aos poemas, trazendo
um ganho significativo em suas obras. Foi o Movimento de Arte Concreta brasileira

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UNIDADE A Tipografia como Ferramenta Narrativa

(através do Grupo Noigandres, composto por Augusto de Campos, Décio Pignatari


e Haroldo de Campos) o responsável pelas primeiras experiências da poesia visual
com recursos eletrônicos e novos formatos como, por exemplo, Poema-Bomba
(1983-1997), de Augusto de Campos.

Figura 3 – ‘Poema-Bomba’ (1983-1997), de Augusto de Campos


Fonte: Acervo do Conteudista
Explor

‘Poema-Bomba’ Augusto de Campos (1983-1997). Disponível em: https://youtu.be/h3gzuQ-3R94

A poesia visual se torna poesia eletrônica através do uso do computador, tra-


zendo, além da diversidade de tipos, o movimento. Essas palavras em movimento
interagem com a palavra poética e passam e ser elementos criadores de contexto,
que dialogam com imagens mentais dos leitores das poesias, gerando diversas e
diferentes percepções de significado.

A Tipografia na Comunicação
A tipografia cinética não obedeceu a uma evolução em que deixou de ser apli-
cada em um segmento para ser aplicada em outro, ou seja, ela se disseminou por
diferentes áreas, sendo que a anterior influenciou a seguinte, e assim sucessiva-
mente. As letras em movimento são amplamente utilizadas em diferentes áreas da
comunicação, como, por exemplo, em comerciais publicitários ou em reporta-
gens jornalísticas.

É na comunicação, mais precisamente, na publicidade e no jornalismo, que


Bellantoni e Woolman encontram espaço para exemplificar ainda mais a tipogra-
fia cinética. Para eles (1999, p. 79), na comunicação, a tipografia em movimento
ganha um poder muito grande para transmitir uma mensagem. O poder de per-
suasão da tipografia cinética também pode influenciar o consumidor a escolher
por um determinado produto, com as letras assumindo qualidades poéticas que
carregam informações.

Transmitir uma informação é, de fato, uma função desempenhada pela tipogra-


fia cinética, uma vez que ela é uma narrativa visual que transmite uma mensagem
de maneira animada. Essa funcionalidade se confunde com uma prática muito

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difundida atualmente no mundo corporativo, tanto por sua proposta quanto por
seu nome, o storytelling. Um formato de apresentação de campanhas e projetos de
agências de publicidade e estúdios para seus clientes, ou mesmo de apresentações
pessoais em entrevistas de emprego e comerciais de TV.

Na publicidade e no jornalismo, a tipografia em movimento é uma ferramenta


bastante utilizada, em ações de lançamento de campanhas. A tipografia é usada
como uma maneira didática de apresentar longos textos, além de fixar de maneira
mais atraente e lúdica uma informação que seria tediosa se transmitida através
de um texto estático. No geral, é comum ver as letras dinâmicas sendo utilizadas
para transmitir uma informação nas maiores emissoras de televisão do país. Um
exemplo do poder comunicacional das letras em movimento é o vídeo The Social
Media Revolution 2015, que mostra através dos caracteres animados as estatísti-
cas e números da força das mídias sociais no mundo atual.

Figura 4 – Vídeo ‘The Social Media Revolution 2015’


Fonte: Acervo do Conteudista
Explor

‘The Social Media Revolution 2015’. Disponível em: https://youtu.be/GsdcFOiTYxw

A Tipografia na Música
No universo da música, mais especificamente nos videoclipes, a tipografia em
movimento é um recurso muito utilizado, principalmente nos últimos anos. Muitos
clipes teaser são lançados previamente à divulgação do clipe oficial, onde a imagem
original do videoclipe é substituída por um vídeo produzido com letras em movi-
mento, ou seja, com as palavras acompanhando a pronúncia do áudio da música,
são os chamados lyric videos. No YouTube, por exemplo, o canal Vevo adota essa
prática como campanha de lançamento das músicas de seus artistas, através de um
clipe composto em tipografia cinética em que as palavras surgem acompanhando
o canto da música com o intuito de ajudar o fã a cantar e decorar a letra da canção.
O próprio canal Vevo lançou, para a América Latina, a música ‘Ese tipo soy yo’,
versão em espanhol de ‘Esse cara sou eu’, de Roberto Carlos.

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UNIDADE A Tipografia como Ferramenta Narrativa

Teaser: termo da língua inglesa utilizado na publicidade e no marketing para se referir a uma
Explor

peça ou ação publicitária lançada antes da campanha principal, para “provocar” o consumidor.

Figura 5 – Clipe teaser ‘Ese tipo soy yo’


Fonte: Acervo do Conteudista

Roberto Carlos – ‘Ese tipo soy yo (Esse cara sou eu) (Lyric)’
Explor

Disponível em: https://youtu.be/G0DUVB7_P3A

Essa é uma estratégia que o próprio canal Vevo usa para lançamentos de músicas
em seu maior mercado, os Estados Unidos. Na versão norte-americana do canal, essa
prática é mais regular, usando o clipe prévio como parte da estratégia de lançamento
dos artistas, como, por exemplo, a música ‘Timber’, dos cantores Ke$ha e Pitbull.

Figura 6 – Clipe teaser ‘Timber’


Fonte: Acervo do Conteudista
Explor

Pitbull – ‘Timber (Lyric Video) ft. Ke$Ha’. Disponível em: https://youtu.be/EQzXwcZS-FU

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Portanto, seja no cinema, na poesia visual, na comunicação ou na música, a
tipografia em movimento é uma realidade, no mundo ou em território nacional.
Bellantoni e Woolman (1999, p. 9) descrevem que o uso da tipografia dinâmica não
tem limites. As letras podem explodir, girar, flutuar ou se transformar. A tipografia
já foi uma forma meramente transparente de apresentar letras e palavras, mas
atualmente se transformou em uma forma de arte onde a legibilidade não é mais a
única preocupação. As palavras se tornaram imagens que dão suporte à mensagem
em meios como a televisão e o cinema.

Contudo, existe uma diferença conceitual entre os exemplos que mencionamos


aqui, no cinema, na poesia visual e na comunicação, para os exemplos menciona-
dos quando falamos sobre a tipografia em movimento na música.

Quando pensamos em um texto dinâmico aplicado em uma peça audiovisual,


logo temos em mente o texto como um elemento visual que funciona em conjunto
e/ou como complemento a outros elementos gráficos. A tipografia cinética, como o
próprio nome diz, é um tipo de experimentação que une as letras e o movimento.
Em geral, o processo de criação ocorre através da animação de letras e palavras.

No cinema, na poesia visual e na comunicação, os exemplos têm as letras anima-


das, porém, não têm nenhuma relação com o som. Ou seja, o som não é importante
para a animação das letras. Na música, a tipografia em movimento tem uma relação
direta com o som, ou seja, ela tem uma característica diferente das demais formas de
tipografia em movimento que vimos até aqui. O som ganha forma através da anima-
ção das palavras para descrever uma narrativa. É o que veremos a seguir.

Formas de Tipografia em Movimento


Se existe diferença entre os exemplos citados no cinema, na poesia visual e na
comunicação, para os da música, que é a relação com o som, o que podemos notar
em comum quanto aos exemplos que mencionamos anteriormente é o movimento
aplicado à tipografia, ou seja, a transformação temporal que as letras sofrem.

Esse é o tema da pesquisa de Barbara Brownie, professora da University of


Hertfordshire, no Reino Unido. Brownie dedicou boa tarde de sua vida acadêmica,
ao estudo dos tipos em movimento, ou melhor, nas transformações temporais apli-
cadas à tipografia.

Em sua pesquisa, presente no site The History of Kinetic Typography


(2015), Brownie definiu uma hierarquia de aplicações da tipografia em movimento.
Ela começa definindo a categoria macro que envolve todo movimento relacionado
com a tipografia como Tipografia Temporal. Um termo que descreve todo projeto
em que a tipografia é apresentado numa tela, ou seja, produzido para um meio de
comunicação linear baseado em tempo, como as produções audiovisuais quadro a
quadro que comentamos anteriormente. Dentro da categoria Tipografia Temporal,
Brownie propõe uma nova divisão: Apresentação em Série, que caracteriza apenas

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UNIDADE A Tipografia como Ferramenta Narrativa

o aparecimento linear das letras, ou seja, as letras estão paradas em uma mesma
posição na tela, porém, o movimento sugerido está na linearidade e na sucessão
em que cada letra surge uma após a outra. Podemos citar como exemplo o efeito
de surgimento estático das letras individualmente num vídeo tutorial de preenchi-
mento de um formulário. A outra divisão da categoria Tipografia Temporal é o que
Brownie chama de Tipografia Cinética, de acordo com o que vimos, toda letra e
palavra que tenha movimento, deslocamento, transformação e efeito. A Tipografia
Cinética, por sua vez, também é dividida em duas categorias: a Tipografia Fluida,
onde a morfologia da letra, ou seja, a forma física da letra pode ser alterada; e Tipo
em Movimento, em que toda a composição tipográfica se movimenta pela tela.
Por fim, ainda de acordo com Brownie, a categoria Tipo em Movimento também
pode apresentar duas variações: a primeira é Tipografia Rolante, onde o texto se
desloca, de maneira randômica, como, por exemplo, em um painel eletrônico, que
apresenta uma linha de texto contínua que rola pelo painel; e Layout Dinâmico,
quando além de apresentar um movimento e uma transformação temporal, cada
letra e palavra se relaciona entre si e com o fundo (2018, p. 50).

Tendo em mente a hierarquia de Brownie, podemos entender que é reducionista


chamarmos de tipografia cinética toda composição tipográfica que tenha algum
tipo de transformação ou movimento aplicado, uma vez que existem diversas outras
categorias para classificar os diferentes tipos de transformações temporais aplica-
das às letras.

Tipografia Cinética é, inclusive, apenas uma das categorias definidas por Barbara
Brownie, que está inserida dentro de Tipografia Temporal, e que dá origem a diver-
sas outras categorias, como mencionamos há pouco.

Um erro comumente ligado ao tempo na tipografia cinética está na relação ao


termo lyric videos. É muito comum encontrar apenas lyric videos como sinônimo
de tipografia cinética. O erro também se fundamenta na hierarquia de Barbara
Brownie. Como vimos, existem diferentes categorias para classificar as possibili-
dades de movimentos aplicados à tipografia. Chamar os lyric videos de tipografia
cinética é um erro que restringe suas possibilidades e que não representa a carac-
terística principal da tipografia cinética quando relacionada com o som.

Como também já mencionamos anteriormente, os exemplos de tipografia em


movimento aplicada à música têm como característica a relação com o som. Nos lyric
videos, por exemplo, sempre que a letra da música é cantada, as exatas palavras que
o cantor pronunciou são ilustradas na tela do vídeo, com algum tipo de movimento
ou transformação temporal.
É o som que define qual o contexto da transformação temporal, do movimento
e a ordem cronológica dos elementos tipográficos na tela.

Por isso, para corrigir o erro de relacionar de maneira absoluta todos os lyric
videos como tipografia cinética, e também para manter as demais categorias pro-
postas pela professora Barbara Brownie, o professor Christian Petrini propôs uma
nova categoria ao organograma da Tipografia Temporal criada por Brownie, para

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classificar as formas de tipografia em movimento que têm relação direta com o
som, a Legenda Cinética.

A Legenda Cinética é uma forma de Layout Dinâmico, que tem relação direta
com o som. É uma tradução visual, com letras em movimento, de um discurso so-
noro. Ou seja, quando um som, o áudio de um filme, uma música, peça de teatro,
palestra, discurso ou qualquer outra produção com som pode ter sua imagem ori-
ginal eliminada por completo para receber uma nova imagem composta por tipos
em movimento, ou pode ter seu visual construído com textos dinâmicos, sendo
essa sua primeira tradução visual, é uma Legenda Cinética. Independente de ser na
música ou não, se tiver relação com o som, é Legenda Cinética.

O que importa para a Legenda Cinética é o som já editado, manipulado e finali-


zado para que esse áudio seja o fio condutor da narrativa e determine o surgimento,
o efeito e a transição que cada palavra irá sofrer. Este áudio, uma vez finalizado,
não pode ser alterado, pois qualquer mudança compromete o sincronismo ente
texto e som da produção.

Diferentemente das legendas convencionais, estáticas, no canto inferior de uma


tela, a Legenda Cinética é mais lúdica e mais animada, contribui com o entendi-
mento da informação e pode complementar as imagens da produção ou substi-
tuir na totalidade o visual dessa produção. Podemos dizer que a Legenda Cinética
funciona como uma legenda animada para o áudio, incluindo todos os ruídos que
estiverem presentes no som e não somente para as falas dos atores ou cantores.

Portanto, denominamos Legenda Cinética essa tipografia em movimento que


compõe o conteúdo textual de uma produção. Um tipo específico de tipografia di-
nâmica que traduz de maneira sincronizada e cronológica cada palavra que consta
no áudio, gerando uma imagem animada.

De acordo com Petrini (2018, p. 55):


Uma maneira clara de diferenciar a Legenda Cinética de outras formas
de tipografia em movimento é exatamente a presença do discurso verbal
oral. Quando existe uma narração que é traduzida de forma sincronizada
através de letras em movimento, trata-se de Legenda Cinética. Quando
há apenas a aplicação de movimento às letras, falamos de tipografia ci-
nética, em movimento, dinâmica etc. A Legenda Cinética é uma trans-
formação da legenda que traduz o discurso sonoro, porém com letras
que ganham transições, efeitos, cores, movimento, ou seja, as palavras
ganham expressividade. As palavras substituem os atores já que toda a
imagem original da produção é substituída ou criada. São as letras que
passam a encenar e a transmitir a narrativa ao lado do som.

Na noite de 8 de junho de 2014, o programa Fantástico, da Rede Globo de Te-


levisão, apresentou uma reportagem sobre uma garotinha de 5 anos de idade que,
inocentemente, cantava o hino nacional brasileiro de uma maneira, no mínimo, di-
ferente. A menina pronunciava palavras que não existiam – como “sacranesa”, “in-
comba”, “daicasada”, “repubante” etc. – mas que na cabeça dela faziam sentido para

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UNIDADE A Tipografia como Ferramenta Narrativa

acompanhar a melodia do hino brasileiro. Para traduzir a forma que a pequena garota
cantava o hino, o programa produziu um vídeo em Legenda Cinética (Figura 7) que
apresentava na tela, as palavras com movimento, ilustrando o que a garota cantava.

Figura 7 – Legenda Cinética no Fantástico


Fonte: Acervo do Conteudista

Menina de 5 anos Cantando o Hino Nacional Fantástico 08/06/2014.


Explor

Disponível em: https://youtu.be/JQ6mUjp7hZk

Com isso, voltando à hierarquia da Tipografia Temporal de Barbara Brownie que


citamos anteriormente, somada à definição e à explicação do que chamamos de
Legenda Cinética, podemos posicionar esta vertente da tipografia em movimento
abaixo da categoria Layout Dinâmico de Brownie, desde que essa composição em
movimento traduza através da escrita o conteúdo do áudio de maneira sincronizada.

Figura 8 – Diagrama hierárquico da Tipografia Temporal de


Barbara Brownie (2015) com acréscimo da Legenda Cinética
Fonte: PETRINI, 2018, p. 56

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Como vimos, a Legenda Cinética é muito usada em lyric vídeos, mas também
pode ser vista em vinhetas de programas de TV brasileira, em comerciais publi-
citários, como ilustração visual dinâmica de um trecho de uma reportagem jorna-
lística ou mesmo, como ferramenta de marketing para apresentação de projetos.
Como vimos, o que define essa forma de tipografia em movimento é a relação com
o som.

De acordo com o que estudamos no decorrer desta unidade, a tipografia em mo-


vimento, em suas diferentes classificações e características, é uma ferramenta visual
muito viável e muito funcional como complemento de uma narrativa, ou sendo ela
mesma o agente principal da narrativa. É uma forma de utilização das letras muito
mais elaborada, em que toda a construção visual é produzida com letras e palavras
animadas, com movimentos, transições, efeitos e preenchimentos que contribuem
com a mensagem. O mais importante é usar a tipografia como ferramenta comuni-
cacional, explorando os avanços tecnológicos, independentemente da área.

Assista à videoaula desta unidade. Lá, são mostrados exemplos que irão complementar seus
Explor

estudos e seus conhecimentos!

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UNIDADE A Tipografia como Ferramenta Narrativa

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
Christian Petrini
http://bit.ly/2NC7bRb
Art of the Title
http://bit.ly/2FYJ5tE

 Livros
Motion Design – Moving Graphics for Television, Music Video, Cinema, and Digital Interfaces
WOOLMAN, M. Motion Design: Moving Graphics for Television, Music Video,
Cinema, and Digital Interfaces. Switzerland: RotoVision, 2004.

 Vídeos
A Brief History of Title Design
ALBINSON, I. A Brief History of Title Design. Video apresentação para a competição
SXSW “Excellence in Title Design”.
http://bit.ly/32ax4e3

 Leitura
Fluid Characters in Temporal Typography
Fusion Journal.
http://bit.ly/2xwxIV5

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Referências
BELLANTONI, J; WOOLMAN, M. Type in Motion. London: Thames &
Hudson, 1999.

PANERARI. R. Poesia Eletrônica: a interação entre formatos artísticos para


divulgação da poesia na internet. 2010. Disponível em <http://www.webartigos.
com/artigos/poesia-eletronica-a-interacao-entre-formatos-artisticos-para-
divulgacao-da-poesia-na-internet/107015/print>. Acesso em: 6/7/13.

PETRINI, C. D. R. Legenda cinética: tipografia em movimento e traduções


narrativas. São Paulo: Gênio criador, 2018. 234 p. Disponível em: <http://
biblioteca.unicid.edu.br:8080/pergamumweb/vinculos/000031/00003172.pdf>.
Acesso em: 25/05/2019.

WOOLMAN, M. Type in Motion 2. New York: Thames & Hudson, 2005.

Sites Visitados
Pitbull – Timber (Lyric Video) ft. Ke$Ha. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=EQzXwcZS-FU>. Acesso em: 19/5/14.

Roberto Carlos – Ese Tipo Soy Yo (Esse Cara Sou Eu) (Lyric). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=G0DUVB7_P3A>. Acesso em: 13/8/14.

The history of kinetic typography. Disponível em: <http://kinetictypography.


dreshfield.com>. Acesso em: 28/5/15.

The social media revolution 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=GsdcFOiTYxw>. Acesso em: 14/8/14.

The thing from another world (1951). Disponível em: <http://www.youtube.


com/watch?v=mAWqJpRFLwE>. Acesso em: 20/5/14.

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