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16/10/2020

Elementos políticos do governo Costa e Silva: Tem a necessidade de promover a legitimação do regime
militar pelo êxito econômico – tarefa atribuída ao Delfim Neto que articulou os instrumentos suficientes
para cumprir esse objetivo (diagnóstico coerente de inflação de custos, capacidade ociosa que destrava
os instrumentos da demanda agregada etc.

68 é um ano difícil, das tensões sociais. A despeito de já estar em uma Ditadura (desde Castello Branco
modificando constituição para perpetuação do poder, presidencialismo por colegiado etc), 1968 foi um
ano de tensão social. A política de arrocho salarial levou ao surgimento de novas greves (em MG, os
metalúrgicos fizeram a primeira greve desde 64; Movimento estudantil também se reestabelece nesse
ano, episódio que acontece na UFRJ no Restaurante em torno a faculdade de Direito no Centro, com
grande repercussão policial que resulta em morte e desencadeia grandes manifestações, como a
passeata dos 100 mil, que se espalham em outros municípios, estados, Brasília e a Igreja Católica, que
inicialmente apoiou o Golpe em João Goulart, começa a combater a Doutrina de Segurança Nacional
que vinha amparando a repressão estatal). As tensões culminam no fechamento do Regime. Em agosto
de 68, Deputado denuncia prática da tortura, repressão e provoca Forças Armadas sugerindo que
crianças deixem de assistir o 07/09 e que as esposas façam boicote sexual. Ministros militares exigem
fim da imunidade militar de Marcio Moreira Alves, cuja câmara rejeita o pedido de suspensão, com
votos do ARENA (Partido Governista). Em 13/12/1968, uma reunião de Costa e Silva com seus Ministros
promulgam o AI-5 (Fechamento do Congresso, Cassação de 37 mandatos do Arena e 51 do MDB,
Aposenta Ministros do STF e regulariza a Censura). Na reunião em que o texto do AI-5 foi apresentado
aos Ministros, o vice-presidente, um civil, Pedro Aleixo, sugeriu Estado de Sítio. Aleixo afirmou na
reunião que a suspensão das garantias do AI-5, o que sobra seria Ditadura, com vários ministros
igualmente reconhecendo. Apenas Aleixo se opôs. Os demais ministros entendiam que a Ditadura era
necessária.

Costa e Silva ainda tenta apresentar nova Constituição em 1969, que reabriria o Congresso para sua
aprovação, porém ele adoece em 1969. Costa e Silva sofreu um AVC (acidente vascular cerebral), em
agosto de 1969 e não se recupera. Ministros militares tentaram esconder da população, aguardando
alguma melhora, mas quando o diagnóstico dos médicos apontam para um não-retorno, de acordo com
a Constituição, o vice deveria assumir (Pedro Aleixo). Ministros militares vetam Pedro Aleixo, por ser
além de civil, contra a assinatura do AI-5. A posse de Aleixo foi impedida pelo AI-12 (entre 12/68 e 08/69
houveram outros AI). 3 Ministros militares governam o Brasil enquanto procedem uma Consulta aos
Oficiais das 3 forças para escolher o sucessor de Costa e Silva para um novo mandato presidencial.

Emilio Garrastazu Médici é o escolhido em eleição extemporânea e assume em 30/10/1969. Médici


assume a presidência prometendo a continuidade do governo Costa e Silva, alinhado ao segmento
“linha dura” das Forças Armadas. (os moderados são chamados Castelitas – Castello branco a essa altura
já falecido). Skidmore caracteriza Médici como um presidente que se mostrava “acima dos governos
políticos” com “critérios técnicos”, muito embora, teria que fazer acomodações políticas. Ele toma posse
nessa circunstância de aceleramento econômico (9% a.a.), mantendo Delfim Neto na Fazenda, fazendo
poucas alterações na área econômica, mas substitui Planejamento nomeando João Paulo dos Reis
Velloso – que será o mais longevo dos ministros de Planejamento pois permanecerá no cargo pelo
governo Geisel.

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I Plano Nacional do Desenvolvimento

Já a atualização do PED, que era de Costa e Silva. O PED tinha objetivos ambiciosos: Brasil entre os
países desenvolvidos em 1 geração, PIB elevado com empregos, duplicar a renda per capita até 1980,
inflação em 10% a.a. (por volta de 19% na época). O Plano estabelecia a consolidação da infra
econômica e algumas indústrias básicas, investimentos em P e D, linhas telefônicas, transportes, energia
elétrica, nuclear, pesquisa mineral e espacial e avanços das comunicações.

Grandes obras de Engenharia que se tornam marcantes: Rodovia Transamazônica e Cuiabá-Santarém e a


Ponte Rio-Niterói. Nesse período as grandes empresas de engenharia se capacitam para desempenhar
grandes projetos.

Delfim explicitará no primeiro PND o Modelo agrícola-exportador. ISI (industrialização por substituição
de importações) teria gerado uma indústria ineficiente e dependendo de esquemas de proteção; Propõe
um modelo multissetorial, com metas de crescimento industrial de 10 a 12% aa, e agropecuária de 8 a
10% a.a. e PIB de 8 a 10% aa; Expansão do mercado interno pela geração de empregos na agropecuária
– isso é uma grande retórica, o Brasil não tem a capacidade de incorporar mão de obra disponível, ainda
mais com um aumento da mecanização da agropecuária, e expansão das exportações agropecuárias.
Um setor que não recebe grande atenção desde o pós-guerra, embora, note-se que esse modelo não
alterou o modelo da estrutura fundiária brasileira, acomodando desde os anos 30 os interesses do setor,
embora não fosse protagonista das estratégias de desenvolvimento.

A ideia de chamar um modelo agrícola-exportador, não coloca a industrialização em segundo plano. A


ideia é trazer a agropecuária para dentro do modelo. Agrícola-exportador é diferente de
agroexportador, agroexportador é economia dependente de um grande produto e que depende mt do
cenário interno, aqui é diferente, um modelo que incorpora a agropecuária. (Delfim compreende que
precisamos aumentar as exportações, e pq não o agronegócio? As importações estavam aumentando
também, com crescimento acelerado). Sempre que enfrentamos crises, recorremos a exportação de
agropecuários. (comentário em off).

Como será a política macroeconômica em Médici? Manutenção e aprimoramento dos aspectos mais
gerais da política macro do governo Costa e Silva. Os resultados que vieram de Costa e Silva eram
importantes: crescimento econômico, inflação em queda, etc.

Política fiscal: Tendência para expansão de gastos, isenções e desonerações (agora para tratores,
máquinas agrícolas, fertilizantes), expansão da arrecadação de impostos (desempenho econômico) e
redução do déficit público.

Elemento da política fiscal, que se articula com a política financeira, criação de arrecadação que será
destinada a grandes projetos em curso, em 1970 (diagnóstico implícito), os elementos da reforma
financeira de Castello Branco estão ainda carentes de resultados (ao menos dos resultados pretendidos
inicialmente, em particular, o mercado de capitais se dinamizou, mas continuou no CURTO PRAZO – sem
gerar como resultado aquilo previsto inicialmente, articular mecanismos de financiamento de longo
prazo, este que continua muito dependente de agências públicas como Bancos Estatais – crédito
bancário e de bancos públicos. Esses mecanismos novos são articulados pela captação em poupança por
medidas compulsórias. Criação do PIS: Fundo constituído a partir de contribuições recolhidas sobre o
faturamento mensal de empresas privadas, em contas individuais -> CEF; PASEP: Similar, mas para os
servidores públicos (BB), captação de poupança compulsória, à semelhança do FGTS (sacar o principal
em situação específica: casamento, casa própria, aposentadoria, etc. – o trabalhador complementa sua
renda anualmente, estamos falando de uma economia com salários arrochados – pequena alteração
introduzida por Costa e Silva, que passou a pagar um resíduo inflacionário, o que estancou um pouco
elementos de arrocho). Todo ano o trabalhador poderia sacar os juros dessas contas ou sacar o valor
integral em casos específicos. Pq esses recursos são compulsórios, entende-se que houve aumento de
carga tributária, porém Governo Médici acomoda essa expansão através de desonerações – assim,
estamos aumentando um gasto público em certo aspecto. P/ que o PIS-PASEP se remunerem, CEF e BB
capitaliza esses recursos para financiar grandes projetos sob sua responsabilidade. PIS e PASEP são
novos recursos, CEF e BB precisam remunerá-los, e jogam spread (ao conceder empréstimos),
remuneram os fundos e auferem resultados financeiros.

O que acontece aqui? Delfim reconhece que a Reforma Financeira de Castello Branco não logrou êxito
esperado no sentido de articular mecanismos de financiamento de LP por meio do mercado de capitais,
mas, por outro lado, entende-se que, a economia em crescimento acelerado, precisa de articular novas
fontes de articulação de longo prazo.

Outro elemento que se articula com a política fiscal/financeira, a Lei Complementar número 12 que
transfere para o Conselho Monetário Nacional- CMN – a prerrogativa de tomar decisões sobre as
operações de rolagem da dívida pública, incluindo encargos, bem como as demais operações de crédito
destinadas a equilibrar a execução orçamentária. A dívida pública, que antes era matéria do Congresso,
deixou de existir.

Na prática, o Orçamento Geral da União tirou do Congresso o poder de exercer qualquer controle sob o
orçamento, a ocorrência de déficits seria financiada por emissão de dívida, sem nenhum controle. O
estado autoritário centralizou a dívida pública. Delfim terá a seu dispor um instrumento absolutamente
poderoso, sem nenhum controle: o Orçamento Monetário. Ele executa parte dos gastos pelo Orçamento
Monetário, o Congresso só legisla no Orçamento fiscal, mas não no Monetário – CMN – que são os
limites de financiamento de cada um dos bancos federais – o BB ainda o mais poderoso de todos – que
tinha a prerrogativa de acomodar reservas a taxas bancárias muito baixas. Delfim consegue escapar
qualquer possibilidade de controle do congresso sobre o orçamento monetário.

Política monetária: Segue costa e silva, teto para taxas de juros de algumas operações, política de salário
mínimo (VER SLIDE DEPOIS). A taxa de câmbio está entre 64-74 desvalorizando abaixo da inflação (mas
acredita-se que pode ter indicio de taxa de câmbio real supervalorizando nesse período).

Política de combate à inflação: Governo aprimora políticas de Costa e Silva, com política de controle de
reajustes de preços com caráter compulsório – o CONEP vira CIP (Comitê Interministerial de Preços). A
Política de controle de preços é agora reforçada, pela importância que terá na desaceleração da inflação
no período.

Setor externo: Mercado de euromoedas -> inovações financeiras permitem aos bancos com atuação
internacional expandir a oferta de recursos. Aumento da liquidez internacional. Crescimento econômico
mundial permitia aumento de quantidades e preços das exportações, melhoria dos termos de troca,
afrouxamento da restrição externa. A partir de 1970 cresce o endividamento externo de forma
expressiva. Esse período, em que se coincide com o milagre, um novo ciclo de endividamento está em
curso. Esse ciclo acontece concomitante ao processo de crescimento econômico mundial que permitiu
aumentar as quantidades das nossas exportações (melhoria dos termos de troca). Momento
absolutamente ímpar de momento de melhora na conta capital e equilíbrio da BP. Cresce a demanda
pelos produtos nacionais, e passamos a dispor de recursos mais baratos nos mercados financeiros
internacionais. Do ponto de vista da estratégia de crescimento econômico, as condições externas nos
permitem afrouxar as restrições.

Isso é importante por fazer parte do que caracterizamos como “milagre econômico”. Faz uma referência
ao crescimento acelerado no pós-guerra observado em algumas economias, mas que, no nosso caso,
claro, também acelerado, (média 11% a.a. – imagina quem tá vivendo esse período e dentro do mercado
de trabalho, está vivendo muita prosperidade – mas muita gente também ficou de fora do milagre – mas
quem ficou dentro, percebeu a economia pujante). Crescimento com inflação em queda e sem crise
cambial! Nossa história de crescimento sempre esbarra na restrição externa, que mts vezes nos leva a
tomar medidas de desvalorização cambial e/ou medidas para restringir o crescimento interno para
restringir importações. É milagre não apenas pelas taxas de crescimento, mas por sua compatibilidade
com redução inflacionária e melhoria das restrições externas. As políticas internas explicam muita coisa
– um diagnóstico de inflação de custos par destravar políticas fiscais e monetária para destravar
demanda interna e criar condições para uma demanda interna pujante com empresários que investem
para crescimento da demanda interna orientando investimentos públicos, em grandes obras, o BNH
maduro, grandes obras, etc., a construção civil tá bombando, contratando. A construção civil tem
sempre a capacidade de gerar muitos empregos, mesmo as grandes com grande capitalização também
conseguem empregar muito.

(Inflação com melhor resultado de 67-74, volta a acelerar no final da década de 70). Déficit público
zerado em 1973, déficit virou superávit, mas lembre-se que muitos gastos públicos estão sendo
realizados em orçamentos monetários. Carga tributária também cresce, assim como o crédito. Temos
ainda déficits em transações correntes, mas que são financiados perfeitamente pelo ingresso de capitais
na conta financeira.

Tem um elemento que tem a ver com o endividamento externo. Crescimento com endividamento? A
natureza do endividamento externo decorre mais das condições externas que internas, refletindo uma
inserção externa passiva. No plano interno: Instituições financeiras públicas expandiram sua capacidade
de financiamento; Financiamento das importações respondeu por uma parcela muito pequena do
endividamento externo (25%), maior parte do déficit de transações correntes tem natureza financeira
(déficit conta de rendas).

Uma das interpretações do debate da natureza dessa endividamento externo é o seguinte: O


crescimento impõe o endividamento. Não são apenas alguns eventos simultâneos, alguns economistas
entendem que o endividamento externo financiou o crescimento econômico brasileiro durante o
“milagre”. Essa ideia pressupõe algum tipo de insuficiência na estrutura financeira doméstica que leva a
esse endividamento, por exemplo, a lacuna dos mercados de capitais na sua incapacidade de prover
recursos a longo prazo. Diante dessa incapacidade, uma hipótese é que isso promove uma fuga em
direção ao financiamento externo. Para que essa hipótese seja aceita, as instituições publicas precisam
ter expandido sua capacidade de financiamento de LP, nós recorremos a essa solução através das
poupanças compulsórias. O BNDE expandiu sua capacidade de recursos – nasceu para financiar a
infraestrutura em 52, e aqui em 60 e 70 já financia a indústria e o setor privado. O BB também financia
com recursos, a construção civil acessa recursos do FGTS, a caixa financia através do PASEP, etc. Esses
esquemas FORAM bem articulados, então todo o endividamento externo não é tão bem explicado na
ausência de canais internos.

Outra hipótese é que precisamos recorrer ao financiamento externo para financiar parte do milagre
referente a gastos com moeda estrangeira, e isso aparecia nas importações. O financiamento de
importações foi uma parte pequena (25%), as importações crescem, mas as exportações também,
então, as importações são acomodadas pelas exportações. E tem também o déficit em conta de rendas,
não totalmente associado a expansão econômica.

A hipótese mais “plausível”, é que a natureza do nosso endividamento decorreu mais das condições
externas do que internas (inserção externa passiva – endividamento atrelado à liquidez internacional).
Nesse momento, até o choque do petróleo, ainda em Médici, o ciclo de endividamento externo é
essencialmente privado (não exclusivamente) – a maior parte do crescimento da dívida externa é de
origem privada – bancos privados com agentes privados, ainda que tenham empresas estatais e
governos envolvidos). As condições externas estão atraentes e taxas de câmbio estão estabilizadas (o
risco cambial está afastado).

Um outro elemento que reforça a hipótese das condições externas é o crescimento das reservas
internacionais (reservas é liquidez em moeda nacional não utilizada), assim, não posso afirmar que o
financiamento externo está financiando o crescimento. Pq se não estaria usando esse dinheiro externo
para importações ou pagamento de dívidas. Se acumulo reservas, existe um influxo de capitais externos
(investimento direto externo e endividamento externo – são, nessa época, a principal fonte), boa parte
em dívida, que está ficando ocioso.

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