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Espirais da linguagem de Exu:

por uma filosofia do Òkòtó*


ALEXANDRE DE OLIVEIRA FERNANDES**

RESUMO: Posiciono-me no presente texto em relação à ambiguidade e a fluidez dos sentidos e


possibilito narrativas divergentes acerca da filosofia da linguagem, acrescentando ao cabedal
disponível, uma filosofia exuriana, o mais distante possível da literatura dos colonizadores.
Distanciar-se não quer dizer, contudo, apartar-se em definitivo, o que seria de todo improdutivo
e utópico, mas promover uma filosofia da encruzilhada, uma encruzilhamento das filosofias,
observando atenta e criticamente o que se passa por estes caminhos, considerando aproximações
e distanciamentos, mediações discursivas, enquadramentos e posturas. Tratar de uma filosofia
exuriana implica marcar no rótulo de maior status do humanismo ocidental, um lugar de poder
que reivindica o direito à alteridade e não se interessa pela estrutura ou pela ontologia
interpretativa do significado positivo, mas amplia infinitamente o quadro de significações, numa
proposta que gira como o Òkòtó, caracol, um dos símbolos de Exu.
Palavras-chave: Filosofia exuriana; Òkòtó; Exu.
Spirals of the language of Exu: for a philosophy of Òkòtó
ABSTRACT: I position myself in the present text in relation to the ambiguity and fluidity of
sense to allow divergent narratives concerning the philosophy of language by adding an exurian
philosophy, farest enough from the colonizer literature. To distance oneself does not mean,
however, to definitively depart, which would be unproductive and utopian altogether. Instead it
promotes a crossroad philosophy, a crossroads of philosophies, carefully and critically
observing what is going through these paths, taking approximations and distances, discursive
mediations, frameworks and postures into account. To deal with an exurian philosophy implies
to mark a place of power in the major status of Western humanism. Such place of power claims
the right to otherness and is not interested for the structure or interpretive ontology of positive
meaning, but infinitely widens the framework of meanings in a proposal which spins like
Òkòtó, snail, one of the symbols of Exu.
Key words: Exurian Philosophy; Òkòtó; Exu.

*
Texto ampliado e com alterações, anteriormente apresentado no VI SELL – Seminário de Estudos
Linguísticos e Literários – Uneb/Brumado. Trata-se de estudo desenvolvido durante Pós-doutorado no
"Programa de Pós-Graduação do Mestrado Profissional em História da África, da Diáspora e dos Povos
Indígenas" do Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia,
supervisionado pelo professor Doutor Emanoel Roque Soares.

**
ALEXANDRE DE OLIVEIRA FERNANDES é Doutor em Ciência da Literatura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Professor permanente no Programa de Pós-Graduação
em Relações Étnicas e Contemporaneidade (PPGREC/UESB/Jequié) e no Programa de Pós-Graduação
em Ensino e Educação das Relações Étnico-Raciais da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

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Oyá. (Foto: Adeloyá Magnoni)

Agradeço à Universidade do Estado da O título escolhido para esta mesa foi


Bahia – UNEB, pelo convite para “Letras sem margens: Diálogos
participar desta mesa de debates, (im)possíveis”, um convite à poesia, à
mediada pelo prof. Dr. Baktalaia de Lis polissemia e ao desapego às regras e
Andrade Leal e dividida com as normativas que, por vezes dificultam a
professoras Dras. Maria Aparecida agência criativa e empobrecem o
Pacheco Gusmão (UESB) e Zoraide pensamento. Colocar em suspenso as
Portela da Silva Cunha (UFSB), durante margens das letras é ação que exonera a
o VI SELL – Seminário de Estudos ordem do discurso. Sem margens, as
Linguísticos e Literários. letras podem se ocupar daquilo que lhes
interessa, incluindo-se aí os discursos
marginalizados.

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Estamos diante de um convite poderoso contrário, é espiralado, a rodopiar e
que diz: vem, dialogue sem margens e disseminar sentidos; (ii) falamos e
sobre questões (im)possíveis, o que é escrevemos para não morrer, ou seja,
importante em tempos de pensamentos para nos esquivar da morte, ali onde
rasos e cooptação dos discursos. salta a vida que, no entanto, vacila nos
Contudo, o convite não deixa de colocar abismos da morte.
margens, porque “Letras sem margens” Uma série de problemas acompanham
não quer dizer que não haja margem estas premissas: quem “pode”
alguma, senão que há as margens do conversar, pensar, ler, escrever? Sobre o
sem margem. Suspostamente sem que se pode falar e escrever? Quem
margens, devemos dialogar sobre algo, pode falar nessa conversa e sob que
qual seja: os (im)possíveis. ordens? Há coisas que não podem ou
Guardadas as proporções e a ordem do não devam ser ditas? Pode Exu na
discurso, esta mesa de diálogos, poderia Academia? Pode uma filosofia exuriana
fazer significar qualquer coisa, o que na Academia? Tem lugar na Academia
não significa produzir uma conversa uma filosofia afrodiaspórica ou o
qualquer ou um pensamento sobre uma espaço será constantemente tomado pela
coisa qualquer. E não estou certo se servidão euro-estadunidense? Quem se
“uma” em “uma conversa qualquer” é responsabilizou por distribuir o direito
artigo indefinido ou numeral, o que já de falar e com que direito (legal, moral,
daria algo a pensar, sabendo-se que justo e legítimo)? Quando “eu”
“algo” é pronome vacilante, por um converso com vocês, quem em mim
lado, e por outro, pretende com sua fala? O sujeito que representa – “eu
indefinição apreender “algo”. Nem o penso” – ou o sujeito representado – “eu
pensamento, nem o jogo de sou”? Quando digo “eu sou”, quem em
significantes – que lança sentido de um mim me representa? Quando pergunto
significante a outro significante – é “quem sou”, quem é o representado
capaz de apreender integralmente o que senão este outro que já não sou mais eu?
quer que seja, por isso, sempre ficamos Para René Descartes, “Penso, logo sou”;
com “algo” que se nos escapa, deriva e para Sigmund Freud, “Penso, onde não
transforma. sou”; para Jacques Lacan, “Gozo, logo
Um olhar cuidadoso sobre o título desta sou” e para os Estudos Queer segundo
mesa percebe que os dois pontos nos conta a filósofa Márcia Tiburi:
utilizados para delimitar o tema, não “Meu cu, logo existo”1. Ora, seja a
delimitam nada porque os diálogos Razão, o Inconsciente, o Desejo ou
acabarão por se restringir, mesmo o Cu, fato é que conversar é um
paradoxalmente, àquilo que é múltiplo e dom da linguagem contra a morte,
vacilante: “diálogos (im)possíveis” exatamente ali mesmo onde algo já se
grafados com um “s” disseminante. deixa morrer, porque sempre se morre e
Trata-se de um convite para uma a cada movimento se evoca ainda mais
conversa aporética, emparedada por a morte e, paradoxalmente, produz-se a
margens sem margens. Sobre elas vida. Não uma vida ideal e atrelada a
conversaremos e como se sabe, conto de fadas, mas uma vida-
conversar é dar voltas no pensamento, encruzilhada, agonística e forte, que
exatamente o que farei aqui, acolhendo
duas premissas: (i) o pensamento não é 1
Cf.
movimento dicotômico e asséptico, ao https://www.youtube.com/watch?v=6LNZRphd
KgE.

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ignora toda a transcendência e a como ridículos e impotentes. As
assepsia da autenticidade, da verdade, “bombas culturais” disparam desespero,
da origem. desencanto, baixa autoestima e desejo
Conversar, ocupando-nos de uma de morte coletiva, enquanto o discurso
subversão, contrariando a colonização, manietado pelo capital é o de que a
ou seja, atentos à descolonização única saída para os problemas africanos
ideológica não significa que devamos é ainda mais capitalismo.
desprezar ou negligenciar a “tradição” e Posiciono o presente texto contrário às
o “ocidente”, mas que é preciso colocar armadilhas da episteme euro-USA-
em análise e evocar outras pautas, centrada e sua violência que, desde os
incluindo-se aí aqueles que desejem padres e viajantes do século XV,
posicionar-se com o cu, como um ensinam ao continente negro a negar-se
analquismo2, com vistas a abalar toda e a se ferir. O presente texto se coaduna
uma teoria machista e misógina, com a ambiguidade e a fluidez da
burguesa e patriarcal, racista e linguagem e, por outro lado, possibilita
eurocentrada, problematizando os narrativas divergentes acerca da
papéis estáticos legados historicamente filosofia da linguagem acrescentando ao
a homens e mulheres, brancos e negros. cabedal disponível, uma filosofia
O escritor queniano, Ngũgĩ wa exuriana, o mais distante possível da
Thiong’o, professor universitário e literatura dos colonizadores.
dramaturgo, que escreveu obras em Distanciar-se não quer dizer, contudo,
língua inglesa e que posteriormente tem apartar-se em definitivo, o que seria de
escrito em língua gĩkũyũ, tem um livro todo improdutivo e utópico, mas
de ensaios importante acerca da promover uma filosofia da
descolonização das mentalidades. Em encruzilhada, uma encruzilhamento das
“Descolonizar la mente: La política filosofias, observando atenta e
linguística de la literatura africana”, criticamente o que se passa por estes
(2015), nos convoca ao combate contra caminhos, considerando aproximações e
forças imperialistas, as quais não distanciamentos, mediações discursivas,
agridem aos estados nacionais enquadramentos e posturas.
africanos, apenas com a violência das A questão não é de língua apenas ou de
multinacionais, com a hipoteca das buscar uma essência acerca de quem
terras ao Fundo Monetário Internacional sou – até porque esta não existe por si –,
– FMI –, com a lei e a polícia mas de formação de mentalidades e
sequestradas por uma burguesia branca, formas de ser e estar no mundo contra
mas sim, por meio do que chamou de hegemônicas, cabendo a uma conversa
“bomba cultural”. que se pretende “sem margens”, romper
A “bomba cultural” aniquila a crença de com as margens da representação
um povo em si mesmo, sua língua, seu advindas da “escola colonial”
entorno, suas tradições de luta, o que (APPIAH, 1997, p. 87) que tem
leva os povos agredidos a, por meio de colaborado por séculos para manter a
uma mentalidade adestrada, querer hegemonia europeia.
identificar-se com o opressor, suposto La rarificación de lxs cuerpxs, lo
signo de salvação e de bondade, ao cuir, amerita ser leído desde la
passo que são levados a se perceberem manera en que se construyeron
colonialmente lxs cuerpxs otrxs:
2
Cf. https://www.joterismo.com/ rarificadxs-exotizadxs-bestializadxs

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por la mirada blanca. No quiero especulativas”, “falatórios”, além de
apelar a la razón en este texto, sino arte de ação, funk. Irreverente, Katrina
a las fuerzas emocionales que nos ama rebolar e com seus muitos
mueven. Recuerdo a Audre Lorde, gingados, faz rodopiar como Exu, todo
quien decía en su texto la hermana o sentido ocidental e religioso colocado
extranjera: “Los padres blancos nos
sobre as energias negras que sentem
dijeron “Pienso, existo”. La madre
Negra que todas llevamos dentro, la (“Siento, luego puedo ser libre”) para se
poeta, nos susurra en nuestros libertar das violências (neo)coloniais
sueños: “Siento, luego puedo ser que insistem em se manifestar e
libre”. Y esos susurros y esa madre estender suas agressões
que nos susurra, en mi caso, viene epistemológicas.
con toda la fuerza de la
cosmopolítica Yoruba y la energía
Tratar de uma filosofia exuriana implica
de los Orishas que estuvieron marcar no rótulo de maior status do
rodeando mi socialización. Esas humanismo ocidental, um lugar negro
oralidades ancestrales que ayudaron de poder – até porque “Exu é negro. Um
a construir mi cuerpx no binarix, poderoso e imenso Orixá negro4”
esas narrativas cosmológicas que se (CAPUTO, 2009) –, que reivindica o
enfrentaban a los relatos de la razón direito à alteridade, assim como o
colonial sobre nuestrxs cuerpxs y direito a que outros sujeitos com suas
que bajan como susurros de la voz histórias, e não os mesmos de sempre,
Oxumaré y se mueven en la sejam tratados como capazes de pensar
encrucijada de caminos de Exu, en
profundamente acerca das questões da
la picardía y la perversión del
Elegguá, con la temporalidad
humanidade. Se Mombaça se interessa
erótica sexo-genérica de Adodi y por repensar o queer, “desde la manera
envuelta en esa forma de amar- en que se construyeron colonialmente
relacionarnos: la oshunalidad. Para lxs cuerpxs otrxs”, a mim interessa
mí, esto se traduce en afectividades repensar a episteme tradicional e como
no binarias, no dimórficas, cuerpxs esta constrói subjetividades a produzir
imaginados que nunca leyeron a consciências ajustadas a interesses
Judith Butler y al canon blanco- excludentes, capitalistas e ego-
hegemónico Queer, pero quizás estadunidense-centrandos.
bailaron Vogue con lxs negrxs de
París is Burning y dialogaron con O convite transgressivo de Katrina
deidades incaicas que inspiraron a acolhe as emoções que nos movem. E
Giuseppe Campuzano y su Museo tem toda a razão (que não exclui a
Travesti del Perú (MOMBAÇA, emoção). Não desprezo então, que por
2018) 3. um lado, a “filosofia negra” deva ser
A poderosa Jota Mombaça, artista, rejeitada porque está atrelada aos
ensaísta, ativista cuir, também pressupostos racistas da filosofia branca
conhecida como Monstra Errática e MC (APPIAH, 1997, p. 132), por outro lado,
Katrina, bicha não binária do Nordeste defendo a importância identitária de se
brasileiro, integra os Estudos Queer e a apresentar outro pensamento, negro,
religiosidade negra aos interesses fortemente negro, positivamente negro,
decoloniais, sob ótica cuir e decolonial.
Produz o que chama de “falas 4
Cf. Artigo assinado por Stela Guedes Caputo
em O Globo, “Exu não pode?”, de 23/11/2009.
3
Cf. https://www.joterismo.com/single- Disponível em:
post/2018/01/28/No-soy-queer-soy-negrx-mis- http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2009/11/2
orishas-no-leyeron-a-J-Butler 3/exu-nao-pode-914886323.asp.

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advindo “con toda la fuerza de la auxiliar na acolhida infinita de um
cosmopolítica Yoruba y la energía de pensamento “sem margens”, um
los Orishas”, cujas oralidades ancestrais pensamento-risco, qual seja, o dos
constrangem a assertividade da razão diálogos (im)possíveis.
finalística ocidental, para que em Ao fazer uso da palavra cavamos na
momento posterior, nenhuma linguagem o infinito que nos permite a
denominação seja necessária. Por vida. Por outro lado, o espaço
enquanto, elas o são como questões de diferencial “entre” vida e morte ao ser
representação e ordem da linguagem friccionado produz um “entre-lugar”,
decolonizadora insurgentes contra “al nem lá, nem cá. Deste “entre-lugar”
canon blanco-hegemónico”. salta uma faísca, um lampejo, um
Há uma indiscutível significação farfalhar de vida que, no entanto, nunca
política na presença de Exu nos cultos se aparta da morte, mas que privilegia a
afro-brasileiros, nos candomblés e continuidade da vida. Ora, falamos para
terreiros de umbanda espalhados por não morrer, o que não significa que não
esse imenso território. Primeiro porque se morre quando se fala, mas que, ao
os terreiros não se alinham com trazer à tona a palavra, empurramos e
religiões hegemônicas, ascéticas disseminamos a morte num ato que
puritanas, conversionistas e potencializa a vida.
missionárias, segundo porque estão O que estou produzindo é mais uma
assentados sob o falo de Exu, encruzilhada, uma fissura, uma
responsável por fertilizar a vida.
borradura com seus possíveis
Deus nagô, conhecido como Odara, o ligamentos, entretecidos (im)possíveis e
bondoso, tem como um de seus signos, potentes, para uma filosofia da
o Òkòtó, um pião que apoiado na ponta linguagem exuriana, próxima de uma
do cone rola em espiral até se converter arqueologia dos saberes e relações de
numa circunferência aberta para o poder, acompanhada da desconstrução e
infinito (SANTOS, 1986, p. 60). da disseminação dos sentidos, não
Segundo os textos míticos nagôs, sem reduzida às questões de formalização-
Exu não há comunicação. Em uma interpretação.
palavra – que nunca é apenas única Tal filosofia exuriana não se interessa
senão rastros e borraduras (im)possíveis pela estrutura ou pela ontologia
– Exu é “palavra” que comunica e interpretativa do significado positivo
posterga a morte, porque permite à cujo lema é “explicação, previsão e
narrativa o relato do relato, articulando controle”, mas amplia infinitamente o
a vida. Símbolo de um processo de quadro de significações, numa proposta
crescimento, Exu conduz o pensamento que gira como o Òkòtó em torno de
à vertigem, marcando no discurso da paradoxos, aporias, metáforas e
metafísica os limites de sua traduções da linguagem, sabendo que só
conceituação. há metáforas e interpretações de
Michel Foucault (1963, p. 44) se interpretações com as quais lidar. Trata-
apropriou do personagem mítico se de um pensamento agonístico e
Odisseu e dos infortúnios enviados vibrante, segundo o qual, por um lado,
pelos deuses para pensar a linguagem nossas vidas são flamejantes de sentido,
infinita, de minha parte, convoco Exu, por outro lado, esse incêndio não tem
deus ambivalente e ambíguo, significação diretamente comunicável,
responsável pela comunicação para me

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apesar de constantemente produzirmos conscientes, que os negros estão
sentidos. despertos! (GATES JR., 2014, p.
78).
Quem de nós tem condições de conter o
poder que se nos obriga a transportar Esta invocação aos orixás, a Olorum e a
mensagens mesmo que estas não Exu fora feita diversas vezes na tribuna
cheguem por completo ao seu destino? do Senado da República por Abdias do
Nem Exu é capaz de sair desta porque Nascimento que falava aos deuses
está condenado ao transporte de iorubás, que os invocava e certamente
mensagens e a atender os chamados e colocava os senhores senadores, quase
apelos da comunicação. Trata-se de uma todos brancos (e são quase todos
dupla lei paradoxal em que o sentido brancos), em estado de horror diante da
“acontece”: nem Exu consegue presença de um homem negro, sempre a
transferir, traduzir, transportar as mostrar aos pretos e aos brancos pobres,
mensagens sem que algo vaze, se como é que pretos e mesmo os quase
disperse, rompa por outras veredas, no brancos de tão pobres, são tratados no
entanto, o sentido sempre ocorre mesmo Brasil. Abdias bradava “ao deus da
que o sentido não faça qualquer sentido. interpretação, um pouco como Hermes
da mitologia grega” (GATES JR, 2014,
O sentido é um acontecimento da ordem p. 78) por justiça e igualdade.
da necessidade e da impossibilidade de
transporte de sentidos, restando lidar Deus do diálogo, conversa
com a instituição, a polissemia, a estranhamente até com o bispo Edir
intertextualidade de textos a textos, Macedo ou Silas Malafaia, ou seja, não
mitos, discursos, legendas, contos, se nega a nada. Manipulador da palavra
lendas, notas de rodapé, hiperlinks e copulativa, da palavra-poder, palavra
disseminações flutuantes que produzem que fecunda, é representado tanto por
sentidos cotidianamente e sem margens. uma cabaça quanto por um falo ereto,
conteúdo e continente, parte e todo,
A fim de que Exu se manifeste e princípio do masculino e do feminino a
(re)estabeleça a harmonia, favorecendo possibilitar a criação, a vida e a morte.
a vida, durante os rituais para os orixás, Exu é o axé, seu veículo e seu produto,
o hálito e o som emanados da boca das a lidar com relações de ganho e perda,
zeladoras dos cultos sagrados, o evocam restituição e movimentos, ação e reação.
e o saúdam: Exu, mopé ô! Exu, mopé ô!
Exu, mopé ô!, o que significa “Exu, te Não à toa, no Culto se diz: “Ó nse ebo,
chamo três vezes como se fosse uma”, ó un tèsu mo, ó sì n´fé ki ebo náà dá?”,
sendo vetado ao deus fálico negar-se a ou seja, “Você está fazendo ebó sem dar
responder e a se posicionar, inclusive, nada para Exu e quer ser bem
na luta contra o racismo ainda presente sucedido?” (SÀLÁMÌ, RIBEIRO, 2011,
no Brasil, colocando na boca de um p. 20). Ora, no processo de linguagem
senador as palavras adequadas. que evoca à vida é possível qualquer
expressão sem reinstituir algo à morte?
Eu invoco os orixás. Invoco
Olorum! Invoco Exu! Que Exu me É (im)possível dialogar sem atender à
conceda o dom da palavra! Que me restituição. No processo de produção de
dê as palavras certas para censurar sentidos, inevitavelmente, algo se
esses racistas que estão no poder há ganha, algo se perde. Desde Georges
cinco séculos! As palavras certas Bataille (2013) pelo menos, sabemos
para dizer ao Brasil, para dizer ao haver um movimento erótico-sagrado,
mundo que os negros estão de arrasto e distanciamento, de jogo e

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restituição, sacrifício e gozo, no acesso imagem duplicada – espacializada e
à vida que é uma festa em face daquilo infinita – caminhando para a morte e
que chamou “dispêndios improdutivos”. mesmo assim, espiralando
Ele considerava que no movimento da continuidades infinitas concretizadas
vida sempre se perde e se ganha algo, em signos visíveis e indeléveis, como
por isso, afirmava a necessidade de espelhos dentro de espelhos,
transgredir os interditos contra a multiplicando-se ao infinito e para
imobilidade da vida, ato que nos sempre, significando algo para alguém
tornava humanos. ou alguma coisa, como se lidássemos
A parte/perda legada a Exu no ebó é o com uma Babel de sentidos, um
que, nos terreiros incita e encoraja à carnaval babelístico.
transgressão que favorece a vida. Este Lidar com a aporia, a resposta vacilante,
movimento erótico-transgressivo que o beco sem saída do sentido, implica em
põe em jogo a dissolução das formas que a Babel de sentido é composta de
constituídas, não se resume a uma descontinuidades da linguagem,
síntese hegeliana – tese, antítese, síntese descontinuidade do real,
–, mas na possibilidade de ao entrar em descontinuidades e intercorrências dos
contato com uma “pequena morte” – sentidos. Daí que todo diálogo – mesmo
metáfora para o transe, o êxtase, a troca, aquele que se supõe conexo e coerente –
o rito religioso, o sentido sensualmente é “desde já” (im)possível.
produzido e eroticamente manipulado – Lutar com palavras é um absurdo
despossuir-se, abrir-se para aquilo que
porque a cadeia de significantes remete
me desfaz no Outro e me torna Outro- constantemente significantes-sentidos –
que-já-nunca-não-mais-será-aquele. alguns tão sentidos que são recalcados e
A restituição promove a vida e toma precisam de (psico)análises –, sem
lugar importante no sistema de intervalos, sem pena, sob
linguagem contra a morte, fazendo com entrecruzamentos, cortes e intervalos.
que esta recue indefinidamente e dê Não quero dizer com isso, que os cortes
espaço a uma sobrevida. A sobrevida e intervalos na produção de sentido
nem é a vida, nem a morte, mas uma sejam indesejáveis. É exatamente o
sobrevida que persiste como a vida. A contrário, para que haja sentido, “algo”
morte, metáfora para o aniquilamento, intervalar deve ocorrer, provocando
para o completo desaparecimento do desequilíbrios e caos que fazem o
sentido, faria morrer o sentido se sentido ter sentido.
houvesse na linguagem algo No culto aos orixás quem é o
efetivamente transparente e verdadeiro, responsável por evocar o (des)equilíbrio
um sentido metafisico indiscutível a ser para que haja alteração, mudança e
transportado. vida? Ora se não é o fuzarqueiro,
Estaria ferida de morte a vida na menino danado, deus da (des)ordem do
linguagem, se fosse possível o universo, Exu, a nos lembrar que todo
transporte de sentido em sua discurso é “desde já” fissurado.
integralidade, de modo infalível e Nenhum discurso pode advogar ser
unívoco. Mas, ao menor passo, o pleno, transparente, organizado a ponto
sentido se desdobra e uma sobrevida – de evitar sua opacidade e confusões.
“entre” vida e morte – tem lugar. A vida Todo discurso é um sem garantias de
posterga a morte porque outra que “algo” remetido chegará a contento
linguagem sempre já se mostra como

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a seu destino, porque a linguagem é conta algo sobre a impossibilidade de
desde sempre uma Babel. univocidade e apreensão dos sentidos, o
Babel reporta-se à Torre de Babel em que empurra a tradução para a
que, “Ba quer dizer pai, nas línguas fidelidade na infidelidade.
orientais, e Bel significa Deus; Babel Alison Entrekin traduziu além de
significa a cidade de Deus, a cidade “Cidade de Deus”, outro livro de Daniel
santa” (VOLTAIRE, 2008, p. 109). No Lins (2012), “Desde que o samba é
texto bíblico, Babel será destruída por samba” e, em ensaio intitulado “Sotaque
Javé que espalhou os humanos por toda de Exu”, problematizou a tradução e a
a superfície da terra. Nós, brasileiros, recepção: “que sotaque tem um exu,
demos o nome de “Cidade de Deus”, a meu deus do céu?”. Traduziu Lins,
um bairro da Zona Oeste do Rio de “numa espécie de inglês britânico-
Janeiro, uma espécie de Babel tentando-ser-neutro”, algo que como se
brasileira, representada em filme sabe: “definitivamente não existe”.
dirigido por Fernando Meirelles (2002), Produziu o seu “sotaque de Exu”, cuja
tendo o cineasta partido de livro intenção não era uma cópia em outra
homônimo de Paulo Lins (1997). língua do falar de exu, mas permitir-se
Traduzido para diversas línguas dentre na tradução à felicidade da confusão
elas, o inglês, o livro “Cidade de Deus” babelística: “não é que tive a felicidade
provocou uma pequena babel em torno de topar com Exu?”.
de sua tradução: deveria atender o Um trecho de três parágrafos de “Desde
inglês britânico ou o americano? A que o samba é samba” tomou-lhe dois
tradutora, que é australiana, se dias inteiros. Intrigada com a tradução
questionou: para evitar que exu soasse jamaicano,
Como é que se traduz um livro tão consultou amigos “gringos para colher
brasileiro, escrito num registro tão impressões sobre o sotaque do exu”.
coloquial, salpicado por gírias, um Refez a gramática, pelo menos uma que
quase-dialeto do português carioca não fosse nem americana, nem
dos anos 60, 70 e 80, para qualquer australiana, nem nada: “tinha que ter
outra língua, quanto mais para duas sotaque de exu e só”. Vejamos com o
(porque embora não sejam línguas que se deparou Entrekin?
diferentes, o inglês britânico e o
inglês americano têm feições Seu Tranca-Ruas desceu saravando
bastante diferentes)?5 todo o mundo que ali se encontrava.
Primeiro, falou com as pessoas que
Babel é metáfora para os problemas da estavam com a saúde física abalada.
tradução, a saber: (i) a tradução é uma Em seguida, deu consulta para a
dívida impossível de se quitar, a qual, cachopada com problemas
mesmo assim, nos lançamos; (ii) a emociais, falou com o pessoal
tradução da tradução rompe com desempregado, e, por fim, atendeu
qualquer possibilidade de se pensar em os pais das crianças com
dificuldade de aprendizado escolar
um texto “original”; (iv) a tradução nos
e aqueles que estavam embaraçados
no trabalho. Somente quando ia
5
Referencio-me em um ensaio assinado por embora chamou Brancura, cruzou
Alison Entrekin, tradutora literária australiana peito com o malandro. Sorriu e
radicada no Brasil. Para o inglês traduziu o livro disse:
Cidade de Deus, do Paulo Lins. Cf.
– Esse fio tá muito formosado, esse.
http://www.revistapessoa.com/2014/11/sotaque-
de-exu/ É assim que eu faço gostador dos

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fios da terra. Quando os fio tão Para o Culto aos Orixás, não há
fazendo coisa errada, fazendo muito linguagem sem Exu, é ele-mesmo-a-
beberico, fazendo trapaça de jogo linguagem, a comunicação, o canal, a
de chapinha, esse, eu fico triste produção, a iteração e a diferença que
porque atrapalha tudo, baixa o dissemina os sentidos; bem como, é o
padrão vibratório. Tá entendendo,
responsável por fazer com que as
esse? Você largou essa vida, então
vou ajudar suncê. Vai seguindo a energias se encontrem e encontrem o
sua intuição que eu vou tá dentro da equilíbrio necessário à existência.
intuição de suncê... Que eu sou Energia negra que manipula o
pensamento... Tá entendendo, esse? (in)compreensível, deus do diálogo
E é você que tem que querer, a entre o orun e o aiyê – céu e terra –,
vontade tem que ser sua. Pensa em fértil em paradoxos e ironias,
mim que eu te mando energia mensageiro responsável por carregar o
positiva. Tem um perna de calça ebó, ou seja, demandar, levar a cabo a
que vai te ajudar te mandando pra Vida, Exu é aquele que anima – no
outro perna de calça que vai te sentido de gerar animus –, que dá alma,
ajudar mais ainda. É só suncê não
pulsão, desejo, inclusive para este texto,
ficar plantado em porta de
botequim, não usar de que não é algo mais do que um ebó de
malandragem com ninguém que eu minhas palavras, um certo sotaque de
vou tá sempre ao seu lado. O fio tá Exu.
muito formosado! (LINS, 2012, p. Exu, aquele que vai e volta e dá voltas
32).
no pensamento, espiralado e à moda de
A tradução – sempre babelística –, é uma conversa como esta, com seus
incapaz de acessar a totalidade de Exu, movimentos e voltas no pensamento,
não importa se nas telas do cinema ou lega a existência e o acontecimento. E
nas páginas de um livro. De que Exu se que bom que o seja assim, porque um
trata então? Com que voz e sotaque? corpo sem Exu é um corpo em coma.
Ora, seu sotaque é um duplo, uma Nem o bispo da Igreja Universal do
espécie de discurso duplo, que aponta Reino de Deus, Edir Macedo, pode fugir
para uma visada que não é “a” verdade dessa. Como se sabe, ele precisa de Exu
do sotaque de Exu, mas que empurra para viver. Se Macedo come e está vivo
Exu para além de sua morte e, deste é porque Exu está em seu corpo, pois,
modo, pouco importa com qual sotaque, ora, aquilo que não tem Exu, não tem
lega-lhe a vida. vida, afirma o povo dos terreiros e, cada
Entrekin pode ficar aliviada. O dono do um tem seu Exu, seu animus.
ardil das línguas que é Exu pouco se Exu do Lodo: [Rosnando]
importa. Nem o Exu traduzido por Edir Macedo: Então, quem é você?
Entrekin é o de Lins, tampouco o Exu Exu do Lodo: Eu…
filmado por Fernando Meirelles é “fiel” Edir Macedo: Quem é você?
ao exu de “Cidade de Deus”, porque são Exu do Lodo: Eu já vivi muito
tempo com ele...
muitos e dados ao diálogo disseminante.
Edir Macedo: Quanto?
Pode estar tranquila porque a única Exu do Lodo: Voltei outra vez
fidelidade possível a Exu é ser fiel na Edir Macedo: Qual é o seu nome?
infidelidade, fiel a mais de um, gerando Exu do Lodo: [Rosnando] Exu do
um sotaque “qualquer”, porque Lodo [Rosnando]
enquanto linguagem, sempre vacila e
dá-se a muitas conexões.

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Edir Macedo: Quem é que faz ele certos momentos percebo que o Exu de
ser usuário de maconha? De co… Macedo está confuso, dando respostas
de drogas? truncadas. Ele parece não pensar senão
Exu do Lodo: Zé Pilintra... sob a marca behaviorista do estímulo-
[Rosnando] resposta.
Edir Macedo: Ah é o Zé Pilintra?
Exu do Lodo: [Rosnando]Tem Chego a desconfiar de que exu (não)
mais dois esteja lá. Pelo sim, pelo não, se o
Edir Macedo: Vamos mostrar para comparo ao Exu de Marcos Alvito,
o Brasil e o mundo, quem é o professor do departamento de História
responsável pelas pessoas viciadas da Universidade Federal Fluminense,
nas drogas: cocaína, heroína,
que por sua vez traduziu Exu a partir de
maconha, LSD, êxtase né isso?
Mais o quê? Crack, e todo o
sua leitura de Pierre Verger, um
inferno. Olha ai pessoal, você que etnólogo francês, tem-se que:
está assistindo pela IURD TV, esse Exu representa um canal de
é espirito causador dos vícios, ele é comunicação, o princípio da
o responsável pelo seu filho que mobilidade. Por isto, o candomblé
gasta o seu dinheiro, que gasta a sempre é aberto com invocações a
própria vida nos vícios, esse é o esta divindade. (...) aprendemos
responsável que faz as pessoas com Pierre Verger que entre os fon,
serem viciadas e roubarem, Exu-Elegbara é chamado de Legba
matarem, fazerem tudo que não e “é representado por um montículo
presta! de terra em forma de homem
Ajudante: Roubam até a própria acocorado, ornado com um falo de
mãe! tamanho respeitável”. Tanto
Edir Macedo: Até a própria mãe… Hermes quanto Exu são marcados
Ajudante: Roubam o pai, roubam a pela ambiguidade, pelo
família… comportamento às vezes traiçoeiro
Edir Macedo: E até matam… e, com o perdão da palavra,
Ajudante: Exatamente! malandro: logo após o seu
Edir Macedo: [Pega o possuído nascimento Hermes já aprontou a
pelo pescoço] Os demônios que primeira, roubando gado do seu
estão na casa dele também, na meio-irmão Apolo [...]. Sempre de
família dele, toda a legião que está chapéu, de andar leve, esperto e
no caminho dele também… toda a músico, é difícil não aproximar
legião de víci… do espírito dos Hermes dos malandros cariocas do
vícios, chega aqui agora! Vai início desse século7.
chegando… Vai chegando,
desgraçado! Desgraçado! Eu quero Tratemos sempre de envio e reenvio de
todos aqui! Todos eles aqui! Todos, mensagens, porque Alvito lê Verger e
todos, todos, todos6! compara Exu a Hermes, enquanto Edir
Macedo marca exu pela violência:
Há algo estranho com os exus de
“espirito causador dos vícios”;
Macedo. É como se tivessem algo
“responsável pelo seu filho que gasta o
entalado na garganta. Macedo
seu dinheiro”; “responsável que faz as
representa e intima seu exu quando
pessoas serem viciadas e roubarem,
deveria deixá-lo falar, dar voltas no
matarem, fazerem tudo que não presta”.
pensamento, conversar, pensar. Em

6 7
Cf. Cf.
https://www.youtube.com/watch?v=6hldLMFk http://www.opandeiro.net/livros/artigos/2001_gr
wCo. egos_macumbeiros.pdf.

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O exu de Macedo é um exu de Curitiba 44): “Escrever para não morrer, como
levado a depor coercitivamente: “chega dizia Blanchot, ou talvez mesmo falar
aqui agora! Vai chegando… Vai para não morrer é uma tarefa, sem
chegando, desgraçado! Desgraçado!”. duvida tão antiga quanto a fala”.
Está atrelado ao ego imenso de seu
criador, guloso, que quer tudo pra si e
não aceita menos que isso: “Eu quero Referências
todos aqui! Todos eles aqui! Todos, ALVITO, Marcos. “Eram os gregos
todos, todos, todos”. Ora, Macedo macumbeiros?”. Disponível em:
www.opandeiro.net/livros/artigos/2001_gregos_
nunca se distanciou de exu, personagem macumbeiros.pdf.
frequente em seus jornais e canal de
televisão. Sagrado e malandro, sempre APPIAH, Kwame Anthony. Na casa de meu
pai: a África na filosofia da cultura. Tradução:
dá o ar da graça. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Contraponto,
Suponho que Macedo tenha certa 1997.
fixação, um recalque e uma paixão por FOUCAULT, Michel. A linguagem ao infinito.
exu com seu “falo de tamanho Telquel. n.15, outono de 1963.
respeitável”. É de domínio público que GATES JR., Henry Louis. Os negros na
o religioso o convoca, este responde e América Latina. Tradução: Donaldson M.
conversa posando para as câmeras que Garschagen. São Paulo: Companhia das Letras,
2014.
transportam mensagens via satélite. Exu
está nas ondas da Igreja, é wi-fi. LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Cia
Macedo como anfitrião o convida, mas das Letras, 1997.
depois o expulsa exu, para em outro ______. Desde que o samba é samba. São
momento chamá-lo novamente, ao que, Paulo: Planeta, 2012.
exu não se faz de rogado e novamente SÀLÁMÌ, Sikiru King, RIBEIRO, Ronilda
se coloca pronto e em movimento. Iyakemi. Exu e a Ordem do Universo. São
Paulo: Oduduwa, 2011.
Exu, não é bobo nem nada, é malandro,
SANTOS, Juana. Elbein. Os Nagô e a morte:
sabe que deve atender Macedo para Pàdê, Àsèsè e o culto Égun na Bahia.
postergar a morte por meio da Petrópolis: Vozes, 1986.
linguagem. Sua morte e a de Macedo
Thiong’o, Ng ˜ug˜ı wa. Descolonizar la mente.
devem ser derivadas por meio da Prólogo e tradução: Marta Sofía López. Penguin
linguagem. Todavia e espero que Random House Grupo Editorial, Barcelona,
estejamos de acordo, Macedo com o 2015.
tempo passará, já Exu, passarinho. VOLTAIRE, François Mariet Arouet de.
Traduzido em línguas tantas, pouco se Dicionário Filosófico. Tradução: Ciro Mioranza
importando se rosnando ou não, falando e Antônio Geraldo da Silva. São Paulo: Escala,
com o sotaque da rainha mãe, em 2008.
francês, iorubá ou carioquês, posando Referências videográficas
para as câmeras de Edir Macedo ou CIDADE DE DEUS. Fernando Meirelles. O2,
Fernando Meirelles, de minha parte, 2002.
aproximo-me bem mais de Entrekin:
não é que tive a felicidade de topar com
Exu, esse malandro que deve ter Recebido em 2018-06-04
Publicado em 2018-08-07
assoprado essa para Foucault (1963, p.

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