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AS CONTRIBUIÇÕES DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA PARA EFETIVAÇÃO DA

INTEGRALIDADE NOS SERVIÇOS DO SUS

Tamires Medeiros Dos Santos (UNIFSA)


Iracilda Alves Braga (UNIFSA)

RESUMO: O presente estudo tem por finalidade analisar a


Estratégia Saúde da Família (ESF) como possibilidade de
efetivação da Integralidade nos serviços do Sistema Único de
Saúde (SUS). Este trabalho é de caráter bibliográfico e possui
abordagem qualitativa. Para construir tal estudo fez-se
necessário o uso de um referencial teórico-metodológico, a
saber: Aguiar (2011); Brasil (1997; 2002; 2005; 2011; 2012;
2014); Cohn (2009); Starfield (2002). Da analise, conclui-se
que a Integralidade, analisada sob a égide da Estratégia Saúde
da Família, proporciona “novas possibilidades” de efetivação no
cuidado e nas práticas de saúde nos Serviços do SUS.

PALAVRAS-CHAVE: SUS. Atenção Básica. Estratégia Saúde


da Família. Integralidade.

ABSTRACT: The purpose of this study is to analyze the Family


Health Strategy (ESF) as a feasibility of Integrality in the Unified
Health System (SUS). This work has a bibliographic character
and has a qualitative approach. To build such a study, it was
necessary to use a theoretical-methodological framework,
namely: Aguiar (2011); Brazil (1997, 2002, 2005, 2011, 2012,
2014); Cohn (2009); Starfield (2002). From the analysis, it is
concluded that the Integrality, analyzed under the Family Health
Strategy, provides "new possibilities" for effective care and
health practices in SUS Services.

KEYWORDS: SUS.Primary Care.Family Health


Strategy.Completeness.

1 INTRODUÇÃO

Este estudo tem como objetivo analisar a Estratégia Saúde da Família como
efetivação da Integralidade nos serviços do SUS, construída a partir de material já
elaborado, desenvolvido principalmente de livros e artigos científicos.
Deste modo, para melhor compreensão acerca do problema, o estudo foi dividido em
duas partes: 1) tem-se como objetivo a abordagem da Integralidade enquanto princípio do
SUS e, 2) refere-se ao estudo da Atenção Básica de Saúde como nível primário na saúde,
considerada a porta de entrada dos serviços do SUS e, dentro da mesma, o
desenvolvimento da Estratégia Saúde da Família, sua implementação, seus avanços e
desafios para efetivação do direito à saúde no Brasil.

2 A INTEGRALIDADE COMO PRINCÍPIO DO SUS

Em 1987, o Movimento de Reforma Sanitária (MRS) conseguiu interferir nas


resoluções da Assembléia Nacional Constituinte, inscrevendo um capítulo exclusivo
referente à saúde na Constituição Federal (CF) de 1988, instituindo o Sistema Único de
Saúde (SUS), que definia como uma nova formulação política e organizacional, reordenando
os serviços e ações de saúde. Com vistas a esclarecer tal afirmativa, Sarreta (2009, p.103)
diz que:

O processo de implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) e de seus


princípios organizacionais tem remodelado o padrão histórico de intervenção pública
no campo sanitário, com repercussões significativas nos modelos de gestão e nos
processos de trabalho em saúde.

A nova Constituição declarou a saúde como direito universal, não condicionada à


contribuição, como vem explicitando o Art.196 da mesma, consolidada como direito de todos
e dever do Estado, garantida através de políticas públicas e econômicas, visando também à
diminuição dos riscos de doenças e o acesso universal e igualitário a todos.
Por conseguinte, tem-se a lei 8.080, de 1990, conhecida como Lei Orgânica da Saúde
(LOS), categórica ao estabelecer, no seu art.2°, o dever do Estado de promover condições
indispensáveis a seu pleno exercício, por meio de Políticas Públicas sobre as condições de
promoção, proteção e recuperação da Saúde, e encaminhar, conforme a lei, as ações, a
organização e o funcionamento dos serviços de saúde. Neste sentido:

O SUS foi criado para oferecer atendimento igualitário, cuidar e promover a saúde
de toda a população. O sistema constitui um projeto social único que se materializa
por meio de ações de promoção, prevenção e assistência à saúde dos brasileiros
(BRASIL, 2000, p.6).

Dessa forma, o SUS tem como meta tornar-se um sistema de promoção da equidade
no atendimento às necessidades de saúde da população, oferecendo serviços com
qualidade, adequando-se às necessidades, independentemente da renda econômica do
cidadão. Para tal, prioriza as ações preventivas e populariza as informações, para que a
população conheça seus direitos e os riscos à sua saúde, o controle da ocorrência de
doenças, seu aumento e propagação.
Nesse sentido, o SUS tem como princípios doutrinários: universalidade, equidade e
integralidade da atenção à saúde da população brasileira, garantidos como direitos de forma
igualitária e integral pelo Estado. Sendo assim, faz-se necessário o entendimento de cada
princípio, para uma melhor compreensão de que um depende do outro para sua efetivação.
Desta forma:

Universalidade é a garantia de atenção à saúde por parte do sistema, a todo e


qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a
todos os serviços públicos de saúde, assim como àqueles contratados pelo poder
público. Saúde é direito de cidadania e dever do Governo: municipal, estadual e
federal (BRASIL, 2000, p.4).

Deste modo, a cobertura das ações de saúde é garantida a todos e o atendimento


define por seu alcance o conjunto de pessoas que se propõe a atingir, como desdobramento
da igualdade formal, sendo responsabilidade do Governo nas suas três esferas. O segundo
princípio se refere à equidade, que significa:

Assegurar ações e serviços de todos os níveis, de acordo com a complexidade que


cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras.
Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades,
até o limite do que o sistema puder oferecer para todos (BRASIL, 2000, p.4).

No que diz respeito a esse princípio, o mesmo é responsável por assegurar a


disponibilidade de serviços de saúde, priorizando aqueles que têm maior necessidade, seja
em uma situação de risco, de condições de vida e saúde. Por fim, o terceiro princípio é o da
integralidade:

É o reconhecimento, na prática, dos serviços de que cada pessoa é um todo


indivisível e integrante de uma comunidade; as ações de promoção, proteção e
recuperação da saúde formam também um todo indivisível e não podem ser
compartimentalizadas; as unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus
de complexidade, formam também um todo indivisível, configurando um sistema
capaz de prestar assistência integral (BRASIL, 2000, p.4).

Deste modo, é um conjunto de ações e serviços preventivos, tanto no nível individual


como no coletivo, conforme a exigência de cada caso em todos os níveis de complexidade
do sistema. Considera-se que a integralidade na saúde tem duas dimensões, como afirma
Carvalho:

Dimensão Horizontal se refere à ação de saúde em todos os campos, o que exige a


organização de todos os níveis de atenção, articulando-se à referência e à contra
referência entre os serviços de pequena, média e alta complexidade, de forma
efetiva e resoluta.
Dimensão Vertical, que inclui a visão que se tem do ser humano como um todo,
único e indivisível, o que extrapola uma atenção fundamentada apenas no aspecto
biológico. (2005, p.40):

Deste modo, a assistência integral não se limita e nem se completa em um único


nível de complexidade do sistema, por isso, a lei definiu a integralidade da assistência para
satisfazer as necessidades individuais e coletivas dentro do sistema de saúde.
Assim, a integralidade é entendida como atenção integral, possibilitando o
envolvimento de todos os recursos possíveis para se realizar a produção do cuidado de
forma horizontal, por meio da equipe multiprofissional que compõe a rede básica de saúde.
Portanto, a integralidade vem, desde o começo dos processos de trabalho na saúde,
operando através das diretrizes do acolhimento e vinculação dos usuários, sendo de
responsabilidade da equipe o cuidado dos mesmos.
Nesse sentido, este princípio se constitui por três conjuntos principais de sentidos: as
práticas, a organização dos serviços e as políticas de saúde, sendo que essa última é
responsável direta por desenvolver ações preventivas e assistência, a fim de atender a
população que se encontra doente ou não, sem descuidar dos seus desejos e direitos
(MATTOS, 2003).
Dentro da organização dos serviços e práticas de saúde, o princípio da integralidade
busca a consonância entre as ações que servem para prevenir e aquelas que recuperam a
saúde. Nesse sentido, Costa afirma:

Os serviços devem, ainda, estar organizados para realizar uma apreensão ampliada
das necessidades da população sob sua responsabilidade. Nesse sentido, a
Integralidade pressupõe um modo de organizar o processo de trabalho no serviço de
saúde, que se caracteriza pela busca contínua da ampliação do horizonte de
percepção das necessidades de saúde de um grupo populacional para além daquilo
que é expresso nas demandas ao serviço de saúde. Nesses termos, integralidade
pressupõe conceito de cuidado em saúde, que considera a relação assimétrica entre
sujeitos, em que o profissional deve praticar o reconhecimento do outro como
alguém diferente de si e com necessidades não redutíveis ao conhecimento que
instrumentaliza o profissional de saúde. (2004, p.10)

Assim, é necessária uma sensibilidade por parte dos profissionais, no sentido de


contribuir para que a integralidade seja efetivada, valorizando as relações construídas
cotidianamente, pois se torna indispensável, já que a mesma propõe um maior vínculo e
fortalecimento das relações entre profissionais e usuários, considerando as necessidades do
indivíduo naquele momento, da mesma forma que a população deve entender as limitações
que o profissional tem, pois esse vai além de um processo de trabalho bem organizado.
O maior desafio encontrado pelo setor saúde se encontra em romper com a lógica de
um serviço precário, de intervenções fragmentadas para trabalhar sobre a ótica da
integralidade, tendo suas práticas de saúde condicionadas por uma visão macro, uma leitura
ampliada da realidade dos indivíduos, garantindo atendimento de acordo com a
individualidade.
Assim, pensar a integralidade nos espaços de saúde, principalmente naqueles
atrelados simplesmente à cura, requer uma modificação nas suas práticas, que vai além de
se utilizar equipamentos de alta qualidade, como garantia de serviços de qualidade. Dessa
forma, a integralidade proposta como princípio do SUS busca oferecer serviços de
qualidade, de forma integral e universal, no sentido de contribuir para a melhoria da saúde
da população, e não somente oferecer serviços de cura para aquele mau momento de
saúde, busca principalmente um cuidado integral.

3 A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA COMO POLITICA DE ATENÇÃO BÁSICA E SEU


PAPEL NA PROMOÇÃO, PREVENÇÃO E RECUPERAÇÃO DA SAÚDE.

O marco da saúde internacional e nacional se deu através da Conferência


Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em Alma-Ata (URSS), em 1978,
que ressaltou a importância da Atenção Básica (AB) como meio para se atingir a promoção
da saúde a toda a população.
A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), no Brasil, tem seu início através da
Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, resultado da experiência acumulada pelos
inúmeros profissionais envolvidos no desenvolvimento e consolidação do Sistema Único de
Saúde (SUS). Assim, a Atenção Básica surge como meio de descentralização da saúde,
levando esse atendimento para o local mais próximo da população. Nesse sentido:

Ela deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e
centro de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. Por isso, é
fundamental que ela se oriente pelos princípios da universalidade, da acessibilidade,
do vínculo, da continuidade, do cuidado, da integralidade, da atenção, da
responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social (BRASIL,
2012, p.9).

A Atenção Básica (AB) tem como característica marcante o desenvolvimento de


ações, em nível individual e coletivo, que abarcam os princípios pregados pelo SUS, com o
intuito de desenvolver serviços de atenção integral que tragam mudanças nas situações que
agravam a saúde do indivíduo.
Nessa perspectiva, a Atenção Básica é uma das ações prioritárias do Ministério da
Saúde (MS), já que é considerado um suporte do SUS. Percebe-se que existe uma
preocupação em relação à mesma, não só no discurso das pessoas que são responsáveis
pelos serviços de saúde, como também na elaboração desta política, como forma de
solucionar os agravos na saúde (BRASIL, 2014).
A Rede de Atenção à Saúde (RAS), determinada pela Atenção Básica, tende a ser
mais resolutiva e equitativa, pois esse espaço é porta de entrada para os cuidados em
saúde. Quando esses de fato são integrados e contribuem para que as ações aconteçam de
acordo com as necessidades da população, coordenando o cuidado e atendendo as suas
necessidades de saúde (BRASIL, 2012).
Levando em consideração a dinamicidade das necessidades da população, as
políticas públicas devem organizar-se para responder a essas demandas. Nesse sentido, a
AB precisa avançar no que diz respeito ao seu formato organizativo e a sua dinâmica de
funcionamento, no sentindo de ampliar as ações no cuidado à população.
Na perspectiva de ampliação dos serviços e da capacidade de dar respostas aos
problemas, encontra-se a necessidade de eixos que contribuam para o desenvolvimento das
ações em saúde, de forma a atender os princípios estabelecidos pelo SUS. Assim, o
Ministério da Saúde instituiu os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF).
Nesse contexto, o NASF se integra como um mecanismo estratégico para se
alcançar a qualidade da Atenção Básica, uma vez que tem a intenção de expandir as ações
dessa, por meio da associação de saberes, e também a ampliação da capacidade de
resolutividade clínica das equipes. Sobre isso, ressalta-se:

O NASF é uma equipe com profissionais de diferentes áreas de conhecimento e


atua com os profissionais das equipes de Saúde da Família, compartilhando e
apoiando as práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade das equipes de
AB. Tal composição deve ser definida pelos próprios gestores municipais e as
equipes de AB, mediante critérios de prioridades identificadas a partir das
necessidades locais e da disponibilidade de profissionais de cada uma das
diferentes ocupações (BRASIL, 2014, p.11).

Assim, o NASF tem o seu processo de trabalho focado no território de sua


responsabilidade, tendo em sua estrutura, como prioridade, o atendimento compartilhado e
de forma interdisciplinar. Conta ainda com capacitações, troca de saberes e
responsabilidade mútua, ocasionando em experiência a todos os profissionais envolvidos.
Reforçando tal afirmativa, observa-se que:

O NASF se constitui em retaguarda especializada para as equipes de Atenção


Básica/Saúde da Família, atuando no lócus da própria AB, o mesmo desenvolve
trabalho compartilhado e colaborativo em pelo menos duas dimensões: clínico-
assistencial e técnico-pedagógica. A primeira produz ou incide sobre a ação clínica
direta com os usuários; e a segunda produz ação de apoio educativo com e para as
equipes. Além disso, o apoio e a atuação do NASF também podem se dá por meio
de ações que envolvem coletivos, tais como ações sobre os riscos e
vulnerabilidades populacionais ou mesmo em relação ao processo de trabalho
coletivo de uma equipe. Essas dimensões podem e devem se misturar em diversos
momentos, guiando-se de forma coerente pelo que cada momento, situação ou
equipe requer. Isso significa poder atuar tomando como objeto os aspectos sociais,
subjetivos e biológicos dos sujeitos e coletivos de um território, direta ou
indiretamente. Às ações desenvolvidas pelo NASF têm, então, via de regra, dois
principais públicos-alvo: as equipes de referência apoiadas (ESF e AB para
populações específicas – Consultórios na Rua, equipes ribeirinhas e fluviais) e
diretamente os usuários do Sistema Único de Saúde. O NASF, portanto, faz parte da
Atenção Básica, mas não se constitui como um serviço com espaço físico
independente (BRASIL, 2014, p.18).
Sendo assim, o NASF é um apoio especializado na Atenção Básica, onde o mesmo
recebe demandas que foram discutidas e compartilhadas com as equipes que o apoiam.
Deve fornecer suporte às situações programadas e as imprevistas, a fim de chegar a um
cuidado continuado, próximo à população e na intenção de chegar à integralidade dos
serviços.
Para instrumentalização da política no Brasil, recorre-se a uma estratégia de âmbito
nacional que é a Estratégia Saúde da Família (ESF), segundo os preceitos do Sistema
Único de Saúde.
A ESF elege como ponto central o estabelecimento de vínculos e a criação de laços
de compromisso e de corresponsabilidade entre os profissionais de saúde e a população.
Essa perspectiva faz com que a família passe a ser o objeto precípuo de atenção, entendida
a partir do ambiente onde vive. Mais que uma delimitação geográfica, é nesse espaço que
se constroem as relações intra e extrafamiliares e onde se desenvolve a luta pela melhoria
das condições de vida, permitindo, ainda, uma compreensão ampliada do processo saúde-
doença e, portanto, da necessidade de intervenções de maior impacto e significação social
(BRASIL, 1997). Assim, afirma-se:

Outro equívoco que merece negativa é a identificação do ESF como um sistema de


saúde pobre para os pobres, com utilização de baixa tecnologia. Tal assertiva não
procede, pois a Estratégia deve ser entendida como modelo substitutivo da rede
básica tradicional de cobertura universal, porém assumindo o desafio do princípio da
e reconhecido como uma prática que requer alta complexidade tecnológica nos
campos do conhecimento e do desenvolvimento de habilidades e de mudanças de
atitudes (BRASIL, 1997, p.10).

Apesar de alguns críticos enxergarem na Estratégia Saúde da Família uma vertente


centralizadora do ponto de vista da sua concepção e de sua forma de implantação, não se
pode desconsiderar o avançado estágio de descentralização da saúde, dado que o poder
local não é obrigado a adotá-lo como estratégia de organização de serviços. Todavia, o
Ministério da Saúde tem procurado criar vários mecanismos indutores, através de incentivos
financeiros, a fim de que os municípios passem a assumi-la como uma prioridade no
conjunto de suas responsabilidades na área da saúde (COHN, 2009). Desta forma:

A Estratégia Saúde da Família surge revestida de certo grau de consenso e assume


caráter nacional, configura-se como um projeto a ser implantado em um país de
grande extensão, onde coexistem uma enorme heterogeneidade e uma forte
desigualdade entre suas unidades autônomas, trata-se de uma realidade nacional
em que a maioria dos seus entes locais encontra dificuldades para organizar e gerir
programas próprios, sendo necessário compartilhar responsabilidades e atribuições
entre as distintas esferas do governo (COHN, 2009, p.26).
Com base no que foi mencionado, a Estratégia Saúde da Família tem proporcionado
a ampliação do acesso à Atenção Básica pela população, mesmo acontecendo de forma
mais lenta nas grandes capitais, devido se ter uma maior dificuldade de encontrar a
população em casa, devido as suas rotinas. No entanto, vê-se o avanço, no país como um
todo, para sua efetiva implementação, mesmo sabendo que o acesso de todos aos serviços
de saúde não é uma tarefa fácil. Deste modo:

Tendo em vista o que foi citado, percebe-se a magnitude que envolve a Estratégia
Saúde da Família e, consequentemente, sua enorme contribuição para a população
por ela coberta, tornando-se, assim, uma proposta que só tem a trazer aspectos
positivos para o município que a tenha implementado. Porém, a partir do momento
que o município decida pela sua implantação, esse deve estar ciente de suas
obrigações como gestor da saúde e, provavelmente, estar disposto a cumpri-las.
(PAULINO,2008,p.17)

Assim, a Equipe Saúde da Família (ESF) assume o desafio da atenção continuada,


resolutiva e pautada pelos princípios da promoção da saúde, em que a ação intersetorial era
considerada essencial para a melhoria dos indicadores de saúde e de qualidade de vida da
população acompanhada. Ao ESF foi, então, atribuída a função de desenvolver ações
básicas, no primeiro nível de atenção à saúde, mas se propondo uma tarefa maior do que a
simples extensão de cobertura e ampliação do acesso.
Na ESF, vale destacar a importância do trabalho do Agente Comunitário de Saúde
(ACS), pois é através dele que se tem um maior e primeiro contato com a população, já que
o mesmo tem como uma das suas principais atribuições o mapeamento da sua microárea, e
o detalhamento, através dos cadastros das famílias, as especificidades de cada indivíduo
que compõe a família.
Os Agentes Comunitários de Saúde têm como função a mediação das necessidades
da população e a carência que existe no serviço público; assim, reconhece-se a importância
do ACS para consolidação da ESF na potencialização do compromisso entre os serviços de
saúde, os profissionais e a população.
Pode-se observar que a ESF tem representado, no contexto do SUS, uma
possibilidade de acesso da população à Atenção Básica, e vem sendo implantada no país
como todo, com ritmos distintos. No entanto, nas grandes áreas urbanas se encontra uma
série de dificuldades para a sua efetiva implantação, causando um impacto na cobertura
populacional. Dentre as dificuldades enfrentadas pelos municípios metropolitanos,
destacam-se aquelas relacionadas aos recursos humanos, ao financiamento e às condições
estruturais para a sua implantação (COHN, 2009). Sobre isso, afirma Aguiar que:
Os desafios que se impõem têm a dimensão da heterogeneidade brasileira com
suas diferentes realidades, que vão desde a força de trabalho para a Saúde da
Família e a gama de exigências sobre esses profissionais à efetivação da
integralidade em suas dimensões. (2011, p.129)

Assim, a Saúde da Família, estratégia priorizada pelo Ministério da Saúde a fim de


organizar a Atenção Básica, tem como principal desafio promover a reorientação das
práticas e ações de saúde de forma integral e contínua, levando-as para mais perto da
família e, com isso, melhorar a qualidade de vida dos brasileiros. A mesma incorpora e
reafirma os princípios básicos do SUS, que são universalização, descentralização,
integralidade e participação da comunidade, mediante o cadastramento e a vinculação dos
usuários (MILANI; YAMAGISHI, 2006).
Diante disso, pode-se afirmar que para a efetivação da saúde precisa ver o usuário
como um todo, não apenas quando o mesmo está doente, dando resolubilidade, levando em
conta as condições que a localidade e a unidade de saúde têm a oferecer aos profissionais
e usuários, a interligação entre os sistemas de saúde facilita a qualidade e eficácia do
serviço oferecido. Nesse sentido, afirma Matos:

A integralidade da saúde pode assumir diferentes sentidos: primeiro relacionado à


busca e do serviço, em compreender o conjunto de necessidade de ações e serviços
de saúde, que um usuário apresenta; segundo relacionados à organização dos
serviços e práticas de saúde, voltado à articulação entre assistência e práticas de
saúde pública, tendo na disciplina de epidemiologia o apoio para apreender
necessidades de saúde da população; e terceiro relativo à definição de políticas,
representando respostas governamentais a problemas de saúde específicos. (2009,
p. 45)

Compreende-se que a Estratégia Saúde da Família se mostra como uma estratégia


assistencial que procura estabelecer um novo padrão de atenção à saúde, voltado para a
saúde da família como um todo, levando em conta todos os aspectos do seu espaço de
vida.
Assim, a Estratégia deve ser avaliada no que diz respeito ao enfoque às pessoas e à
população, e não na doença; tem que se ter uma visão mais ampla e ver além das doenças
específicas que acometem aquele indivíduo, tendo a oportunidade de institucionalizar suas
ações na gestão e, assim, fortalecer sua capacidade de atender as demandas no âmbito do
SUS. No caso da Estratégia Saúde da Família, é imprescindível o aprimoramento do
processo de avaliação e monitoramento, pois o mesmo tem o objetivo de identificar os
acertos e erros do processo de desenvolvimento da Estratégia. Diante disso:

A Estratégia Saúde da Família requer expansão em ritmo compatível ao desafio de


garantir ampla cobertura à população usuária do Sistema Único de Saúde, em
especial às populações que estão submetidas a maior vulnerabilidade social nas
grandes cidades. Todavia, mais que uma ampliação de cobertura, a ESF precisa
traduzir-se em oportunidade de conferir qualidade na atenção básica ofertada à
população como condição para sua sustentabilidade. Para isso, é necessário um
adequado processo de implantação de forma que possibilite a real substituição de
práticas tradicionais dos serviços de atenção básica e contribua efetivamente para
melhorar os indicadores de saúde e de qualidade de vida da população assistida.
Isso exige que a expansão da Estratégia mantenha coerência com os seus
princípios e diretrizes essenciais e seja acompanhada de adequada incorporação
tecnológica (BRASIL, 2002, p.14).

Analisando o percurso feito para a efetivação do direito no âmbito da saúde, uns dos
avanços significantes a ser avaliado, tanto no que tange à efetividade de suas ações quanto
à verdadeira contribuição no contexto social, é a Estratégia Saúde da Família que, como foi
dito anteriormente, visa a ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com o
propósito de levar a saúde para mais perto da população.
Nesse sentido, a ESF vem para reorientar o modelo assistencial da Atenção Básica,
no intuito de prestar às famílias assistência integral, contínua e resolutiva, a fim de atender
as necessidades de saúde da população, intervindo sobre os fatores de risco aos quais a
população está exposta (COSTA; CARBONE, 2004).
Diante do papel assumido pela ESF em possibilitar o acesso de todos ao serviço de
saúde, sabe-se que isso não acontece de forma fácil; entretanto, a estratégia vem efetivar
os princípios do SUS, de forma a oferecer ações acessíveis e humanizadas, sendo de
responsabilidade da gestão do SUS investir em melhorias nos serviços, para promover
saúde, diminuindo riscos de doenças, morbidade, mortalidade, para garantir maior
efetividade e eficiência, sendo essa sua maior contribuição para a população que usufrui
desses serviços. Sousa destaca que:

A estratégia de trabalho do ESF propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos
serviços de saúde, bem como para sua relação com a comunidade e entre os
diversos níveis de complexidade assistencial. Assume o compromisso de prestar
assistência universal, integral, equânime, contínua e, acima de tudo, resolutiva à
população na unidade de saúde e no domicilio, sempre de acordo com suas reais
necessidades, identificando os fatores de riscos aos quais ela está exposta, e nele
intervindo de forma apropriada. (2008, p.50)

De acordo com o autor, analisa-se que a estratégia visa a um conceito mais amplo
de atenção Básica, dirigindo-se para um sistema de saúde integrado, que se volta para a
qualidade de vida das pessoas e do seu ambiente, propondo uma prática ética, humana e
ligada à efetivação da cidadania.
Desta forma, é necessário que a ESF tenha sua base firmada no fortalecimento da
atenção à saúde, trazendo uma visão de que não somente quem está doente é que
necessita de tratamento, mas vê a família como um todo, tanto no seu domicílio como na
comunidade em geral.
Entretanto, o maior desafio da ESF consiste em manter um equilíbrio no cotidiano do
funcionamento da Unidade Básica de Saúde, a fim de assegurar a integralidade da
assistência. Deve-se, também, rever como está se desenvolvendo o processo de trabalho
das equipes, no intuito de promover e garantir o aumento do acesso da população a esses
serviços.
Pois dentro da ESF, as ações devem estar interligadas, o que implica que sejam
compatíveis com a realização de atividades programadas com os grupos específicos, como
os hipertensos, diabéticos, crianças, idosos, entre outros; e não somente ações das
demandas espontâneas, sendo mais um desafio à estratégia, já que as ações no modelo
antigo eram baseadas na demanda espontânea (BRASIL, 2005).

4 CONCLUSÃO

A Estratégia Saúde da Família é uma ação preventiva, mostra para a população que
a prática de serviços humanizados em seus territórios traz mais resultado em relação às
condições de saúde da família, desde os recém-nascidos aos idosos, dos sadios aos
doentes, de forma contínua e integral.
Deste modo, a Integralidade, enquanto princípio do SUS tem papel fundamental nas
práticas realizadas pela Estratégia, pois a mesma vai contribuir para que os serviços de
saúde aconteçam na sua forma mais integral, dando resolutividade aos anseios da
população.
Diante disso, conclui-se que a Integralidade, considerada um indicador do que se
deseja dos sistemas de saúde, junto com a Estratégia Saúde da Família, proporciona um
“leque de possibilidades” do cuidado nas práticas de saúde, apresentando duas vertentes
importantes dentro do SUS, no que tange à qualidade dos serviços e satisfação dos
usuários, e no que objetiva a ESF, no sentido de atender as famílias de forma integral em
suas necessidades como um todo.

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