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Bruno Caio Rodrigues – IT301004X

Letícia Vieira Savazi – IT3009998


Luiz Antonio Setti de Almeida Filho – IT3009947

LM1F4 – Professora Greice Pinheiro de Almeida

SÍNTESE DO TEXTO: “AS DIFICULDADES NO ENSINO DE FÍSICA PARA


ALUNOS SURDOS”

O texto em análise é um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para a obtenção do


título de graduação em licenciatura em física da Universidade Federal de Santa Catarina,
produzido por Eliana Rautenberg, em 2017. Ele é dividido em cinco partes principais: 1)
Introdução; 2) Capítulo 1: As necessidades educativas especiais, surdos e a garantia de inclusão;
3) Capítulo 2: Metodologia de pesquisa; 4) Capítulo 3: Explicitando a base de dados e o
tratamento dos resultados; e 5) Conclusão; além de partes auxiliares (resumo, sumário,
referências, etc.)
Na introdução, a autora explicita os objetivos da dissertação a partir de sua experiência
nas aulas da disciplina de Libras, especificamente para o ensino da Física. A dificuldade em
expressar conceitos inerentes à essa ciência exata trouxe diversas dúvidas para a autora. E a
primeira conclusão obtida por ela é que a disciplina que cursava era insuficiente para sanar tais
questionamentos. Com isso, Rautenberg buscou a orientação da professora doutora Sônia Maria
Silva Correa de Souza Cruz. A partir daí, com intuito de elaborar uma pesquisa que levantasse
as grandes dificuldades que os professores encaram ao ensinar física para alunos surdos, a
autora começou a desenvolver este texto que se tornou seu trabalho de conclusão.
Ainda na introdução, Rautenberg demarca os seus objetivos, sendo o principal a
elaboração de um material de apoio para alunos do curso de licenciatura em Física que ajude a
enfrentar as dificuldades na obtenção do conhecimento em Libras. Tal material também tem
como público-alvo professores que lecionem em turmas com alunos surdos.
O material consiste no levantamento estatístico dos obstáculos durante o processo de
ensino/aprendizagem de alunos surdos, em Física; na criação de uma coletânea de sugestões
que trabalham justamente esse processo; na abrangência que essas propostas podem alcançar;
e numa avaliação das disciplinas de Libras que são ofertadas nos cursos de Física.
A autora se aprofunda nos conceitos ligados à necessidade de inclusão para justificar
ainda mais a necessidade de criar esse material, citando, já no primeiro capítulo (parte 2 do
trabalho), o histórico legislativo sobre os direitos de inclusão, principalmente dos surdos.
Demonstra que a lei é morosa e não é efetiva para fazer o que é preciso para diminuir o vácuo
existente. Houve avanços, mas o caminho ainda é longo e trabalhoso. Para demonstrar isso, a
autora, com um trabalho muito bem referenciado, discorre sobre diferentes entendimentos da
surdez, com ênfase na inclusão social/educacional.
Continuando, Rautenberg, de forma concisa, coerente e clara, indica qual foi a
metodologia de busca de material, da análise dos mesmos, levando em conta os elementos
citados anteriormente (inclusão, ensino, legislação e dificuldades). O total de trabalhos
encontrados e analisados foi de 56. A primeira observação feita foi a falta de material
especializado no tocante ao ensino de Física para surdos, com muito poucos que se aprofundem
de forma satisfatória. A autora afirma que já existe uma dificuldade natural no ensino de Física
para os alunos em geral, por causa da quantidade de detalhes e conceitos ligados à área. E isso
se torna muito mais difícil quando se tem alunos surdos nas turmas, justamente pelo complicado
ato de transformar esses conceitos em sinais claros para eles.
Todos os dados apresentados e dissecados culminaram nas definições da quarta parte do
trabalho (capítulo 3). No ensino bilíngue a língua oral (Língua Portuguesa) e a língua de sinais
(LIBRAS) são ensinadas com o objetivo de se complementarem. Dessa forma, o aluno tem
acesso aos conteúdos e educação de qualidade, permitindo uma potencialização de sua
aprendizagem. Na educação bilíngue a LIBRAS é utilizada para a aprendizagem dos conteúdos
e a Língua Portuguesa permite o acesso à informação na sua forma escrita, como segunda
língua.
Entretanto, o ensino bilíngue ainda se mostra frágil e não contempla todos os alunos,
pois nem todos os surdos quando iniciam seus estudos são alfabetizados nas duas línguas e
desse modo trazem consigo apenas os sinais que aprendem fora do meio escolar. Isso implica
na dificuldade de interpretação de todo o material didático apresentado na forma escrita, além
da expressão de suas ideias por esse meio.
Portanto, desenvolver um material adotando um enfoque bilíngue ao ensino de ciências,
apresentando modelos qualitativos em LIBRAS, com tradução para o Português oral e usando
o Português escrito como segunda língua nas atividades, tendo uma abordagem pedagógica
visual onde se representam conceitos de forma diagramática, contribuem para aumentar a
compreensão de fenômenos. Expandir essas abordagens são modos de enquadrar as
necessidades dos surdos bem como as necessidades dos ouvintes.
A Universidade é a instituição responsável por formar professores para trabalhar com
as necessidades educacionais especiais. Contudo, as práticas que ainda são adotadas nos cursos
para formação de professores não consideram a complexidade do trabalho quando se trata de
alunos com necessidades educativas especiais e turmas inclusivas. De maneira geral os
currículos dos cursos de licenciatura quase não apresentam disciplinas que preparem os
docentes para que trabalhem com estudantes com necessidades educativas especiais.
Além disso, outra barreira que impede um ensino de qualidade está relacionada aos
professores de ciências com grandes dificuldades em lidar com a construção de conceitos
científicos para esses grupos e geram exclusão e distanciamentos dos alunos surdos nessas
aulas. Para conseguir contornar essa dificuldade presente em sala de aula é necessária a análise
do currículo acadêmico dos cursos de formação de professores e dos intérpretes, considerando
os espaços e práticas profissionais.
Nas escolas brasileiras os alunos surdos estudam em salas comuns e são alvos de
métodos pedagógicos que visam à linguagem oral em aulas expositivas. Entretanto, segundo as
Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, a escola precisa organizar
sua proposta pedagógica de modo a proporcionar aos alunos surdos formas de aprendizado que
utilizem outros meios de linguagem.
O ensino de Física para surdos em várias escolas ainda se processa através de uma
dimensão tecnicista e instrumental, reforçando a dicotomia entre teoria e prática, predominando
a fragmentação do conhecimento por existir uma grande barreira de comunicação que ainda
não foi totalmente contornada. É necessária a adaptação das atividades desenvolvidas à situação
de não-oralidade, onde se enfatiza a utilização da linguagem científica em diversos contextos,
o que pressupõe dar espaço para a expressão dos alunos em LIBRAS.
A maior parte dos materiais didáticos utilizados no sistema educacional brasileiro requer
o domínio da língua portuguesa, nas modalidades escrita e falada. No caso de alunos surdos, o
canal visual é sua principal fonte de informações, logo, os recursos visuais são elementos
fundamentais para uma prática pedagógica que respeite as condições de aprendizagem desses
alunos. Um fator concreto que dificulta o processo do ensino de Física encontrado nos livros
didáticos é a abordagem que eles apresentam: fazem explanações com bases em experiências
vividas, que nem sempre uma pessoa surda consegue inferir.
Em vista disso, o uso de recursos visuais, como projeção de imagens, animações,
fragmentos de vídeos, simulações e ‘softwares’, em contraposição à oralidade e à escrita na
Língua Portuguesa se mostra adequado às especificidades de aprendizagem dos alunos surdos.
Desenvolver atividades nas quais todos os alunos são desafiados a resolverem problemas
pautados em imagens e ações figuradas que representam fenômenos do cotidiano relacionadas
com a Física é uma das estratégias que consegue estimular mais os estudantes, assim como
fazer uso de materiais ricos em ilustrações e traduzido para LIBRAS, desencadeando maior
produção de ideias criativas e melhor comunicação.
A língua de sinais é um sistema linguístico que permite a expressão de qualquer
conceito, de qualquer ideia, pensamento ou sentimento. A língua de sinais não é a forma
sinalizada da Língua Portuguesa, ela é uma nova língua que tem sua própria gramática,
semântica, sintaxe e morfologia, assim como as outras línguas, e é uma importante ferramenta
na assimilação dos significados e estruturação do pensamento para os surdos.
Com o processo de inclusão, pretende-se que o surdo receba um ensino adequado à sua
diferença linguística e um acesso ao conhecimento de mesmo nível que seus colegas, pois não
se pode esperar que ele aprenda um conteúdo transmitido numa língua que ele não domina e
restringe a uma educação de qualidade questionável.
Verificamos que os surdos inseridos nos sistemas de ensino nacionais ainda não têm
acesso a todos os conceitos de Física tratados no ensino médio, devido à falta de sinais e
materiais adequados para suas necessidades. Essa falta de termos linguísticos adequados ao
ensino de Física pode dificultar a aprendizagem, pois interfere na construção de conceitos
científicos. A ausência de sinais prejudica a compreensão do conteúdo ministrado, por não ser
possível expressar determinados conceitos.
Ainda há a falta e relação entre percepções empíricas dos fenômenos e modelos
semânticos da linguagem empregada pelos discentes, que mostram a necessidade das buscas
por possibilidades comunicativas sobre os conceitos com discentes deficientes auditivos,
estabelecendo um processo comunicativo sem o qual o ensino de Física não ocorre de forma
significativa.
Ao que se relaciona a criação de sinais facilitadores ao ensino de Física deve ser
assumida a condição básica em que a criação de sinais, mesmo que provisórios, está
condicionada a um processo que tenha participação do surdo, do professor especialista na área
de conhecimento e do especialista em educação de surdos. Ter um surdo presente no processo
de criação dos sinais traz a compreensão do significado de uma palavra e o conceito que ela
veicula antecede o processo de criação. Esse é um grande desafio na inclusão, pois no ensino
de ciências são focados conceitos abstratos e a cultura dos surdos se baseia na realidade, sendo
sempre necessária a consideração desse fato no planejamento de ensino.
É necessário o incentivo de ações que favoreçam a criação de sinais dos termos
utilizados nas áreas das ciências, dando ao deficiente auditivo o acesso ao conhecimento
científico e melhorem as estratégias docentes e recursos didáticos, para possibilitar ao aluno
surdo o envolvimento no processo de ensino e aprendizagem do conteúdo, resultando na
melhoria da qualidade de ensino a todos.
Existem palavras na Língua Portuguesa que têm significado variante acordo com o
contexto. Considerando Libras é importante perceber como essas variações de significado
podem interferir na aprendizagem. Usar sinônimos é uma forma de superar obstáculos
linguísticos, porém é de suma importância que as estratégias de ensino favoreçam os alunos
surdos de manifestar suas dificuldades de compreensão.
De acordo com o decreto número 5.626/05, o aluno surdo tem o direito de ter um
intérprete que o acompanhe de modo a auxiliar a comunicação do professor durante as aulas
com este. Uma série de dificuldades será encontrada caso o professor e o intérprete não
trabalhem em sincronismo. Para que a atuação do intérprete em escolas inclusivas seja
realmente eficaz é necessária uma formação específica para que este tenha conhecimento de
como interpretar termos específicos de cada disciplina.
A realidade atual é que o aluno surdo fica deslocado do restante da turma. Isso parece
decorrer da distância entre intérprete e professor e entre professor e aluno e ainda, pelas relações
sociais, visto que os indivíduos que convivem no ambiente não utilizam a mesma forma de
linguagem. Isso mostra a importância de o intérprete incentivar interações de todos os sujeitos
com o aluno surdo. Outro aspecto importante a se considerar é que o aluno surdo é visual,
portanto, atividades que vão além da oralidade são um meio facilitador.
Por muito tempo os alunos surdos deveriam ser aprovados para poder frequentar escolas
regulares, ou seja, precisam se adaptar para conviver com os demais. A educação inclusiva é
compreendida como um sistema educacional no qual todos os alunos frequentam o mesmo
ambiente, no entanto, deve-se entender que isso não significa que os alunos surdos são como
os demais. Para que ocorra a inclusão do aluno surdo, todos os membros do ambiente devem
participar desta, ou seja, é preciso proporcionar todo um conjunto de ações para que haja
condições de que o aluno surdo se desenvolva e faça parte do todo como os demais.
O trabalho desta síntese evidenciou a necessidade de uma maior produção de pesquisas
voltadas para a inclusão e produção de conteúdos em Libras para a disciplina de Física e
também da necessidade de formação de professores para trabalhar em conjunto com os
intérpretes de modo a favorecer um ambiente mais inclusivo possível.

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