SÍNTESE DO TEXTO: “AS DIFICULDADES NO ENSINO DE FÍSICA PARA
ALUNOS SURDOS”
O texto em análise é um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para a obtenção do
título de graduação em licenciatura em física da Universidade Federal de Santa Catarina, produzido por Eliana Rautenberg, em 2017. Ele é dividido em cinco partes principais: 1) Introdução; 2) Capítulo 1: As necessidades educativas especiais, surdos e a garantia de inclusão; 3) Capítulo 2: Metodologia de pesquisa; 4) Capítulo 3: Explicitando a base de dados e o tratamento dos resultados; e 5) Conclusão; além de partes auxiliares (resumo, sumário, referências, etc.) Na introdução, a autora explicita os objetivos da dissertação a partir de sua experiência nas aulas da disciplina de Libras, especificamente para o ensino da Física. A dificuldade em expressar conceitos inerentes à essa ciência exata trouxe diversas dúvidas para a autora. E a primeira conclusão obtida por ela é que a disciplina que cursava era insuficiente para sanar tais questionamentos. Com isso, Rautenberg buscou a orientação da professora doutora Sônia Maria Silva Correa de Souza Cruz. A partir daí, com intuito de elaborar uma pesquisa que levantasse as grandes dificuldades que os professores encaram ao ensinar física para alunos surdos, a autora começou a desenvolver este texto que se tornou seu trabalho de conclusão. Ainda na introdução, Rautenberg demarca os seus objetivos, sendo o principal a elaboração de um material de apoio para alunos do curso de licenciatura em Física que ajude a enfrentar as dificuldades na obtenção do conhecimento em Libras. Tal material também tem como público-alvo professores que lecionem em turmas com alunos surdos. O material consiste no levantamento estatístico dos obstáculos durante o processo de ensino/aprendizagem de alunos surdos, em Física; na criação de uma coletânea de sugestões que trabalham justamente esse processo; na abrangência que essas propostas podem alcançar; e numa avaliação das disciplinas de Libras que são ofertadas nos cursos de Física. A autora se aprofunda nos conceitos ligados à necessidade de inclusão para justificar ainda mais a necessidade de criar esse material, citando, já no primeiro capítulo (parte 2 do trabalho), o histórico legislativo sobre os direitos de inclusão, principalmente dos surdos. Demonstra que a lei é morosa e não é efetiva para fazer o que é preciso para diminuir o vácuo existente. Houve avanços, mas o caminho ainda é longo e trabalhoso. Para demonstrar isso, a autora, com um trabalho muito bem referenciado, discorre sobre diferentes entendimentos da surdez, com ênfase na inclusão social/educacional. Continuando, Rautenberg, de forma concisa, coerente e clara, indica qual foi a metodologia de busca de material, da análise dos mesmos, levando em conta os elementos citados anteriormente (inclusão, ensino, legislação e dificuldades). O total de trabalhos encontrados e analisados foi de 56. A primeira observação feita foi a falta de material especializado no tocante ao ensino de Física para surdos, com muito poucos que se aprofundem de forma satisfatória. A autora afirma que já existe uma dificuldade natural no ensino de Física para os alunos em geral, por causa da quantidade de detalhes e conceitos ligados à área. E isso se torna muito mais difícil quando se tem alunos surdos nas turmas, justamente pelo complicado ato de transformar esses conceitos em sinais claros para eles. Todos os dados apresentados e dissecados culminaram nas definições da quarta parte do trabalho (capítulo 3). No ensino bilíngue a língua oral (Língua Portuguesa) e a língua de sinais (LIBRAS) são ensinadas com o objetivo de se complementarem. Dessa forma, o aluno tem acesso aos conteúdos e educação de qualidade, permitindo uma potencialização de sua aprendizagem. Na educação bilíngue a LIBRAS é utilizada para a aprendizagem dos conteúdos e a Língua Portuguesa permite o acesso à informação na sua forma escrita, como segunda língua. Entretanto, o ensino bilíngue ainda se mostra frágil e não contempla todos os alunos, pois nem todos os surdos quando iniciam seus estudos são alfabetizados nas duas línguas e desse modo trazem consigo apenas os sinais que aprendem fora do meio escolar. Isso implica na dificuldade de interpretação de todo o material didático apresentado na forma escrita, além da expressão de suas ideias por esse meio. Portanto, desenvolver um material adotando um enfoque bilíngue ao ensino de ciências, apresentando modelos qualitativos em LIBRAS, com tradução para o Português oral e usando o Português escrito como segunda língua nas atividades, tendo uma abordagem pedagógica visual onde se representam conceitos de forma diagramática, contribuem para aumentar a compreensão de fenômenos. Expandir essas abordagens são modos de enquadrar as necessidades dos surdos bem como as necessidades dos ouvintes. A Universidade é a instituição responsável por formar professores para trabalhar com as necessidades educacionais especiais. Contudo, as práticas que ainda são adotadas nos cursos para formação de professores não consideram a complexidade do trabalho quando se trata de alunos com necessidades educativas especiais e turmas inclusivas. De maneira geral os currículos dos cursos de licenciatura quase não apresentam disciplinas que preparem os docentes para que trabalhem com estudantes com necessidades educativas especiais. Além disso, outra barreira que impede um ensino de qualidade está relacionada aos professores de ciências com grandes dificuldades em lidar com a construção de conceitos científicos para esses grupos e geram exclusão e distanciamentos dos alunos surdos nessas aulas. Para conseguir contornar essa dificuldade presente em sala de aula é necessária a análise do currículo acadêmico dos cursos de formação de professores e dos intérpretes, considerando os espaços e práticas profissionais. Nas escolas brasileiras os alunos surdos estudam em salas comuns e são alvos de métodos pedagógicos que visam à linguagem oral em aulas expositivas. Entretanto, segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, a escola precisa organizar sua proposta pedagógica de modo a proporcionar aos alunos surdos formas de aprendizado que utilizem outros meios de linguagem. O ensino de Física para surdos em várias escolas ainda se processa através de uma dimensão tecnicista e instrumental, reforçando a dicotomia entre teoria e prática, predominando a fragmentação do conhecimento por existir uma grande barreira de comunicação que ainda não foi totalmente contornada. É necessária a adaptação das atividades desenvolvidas à situação de não-oralidade, onde se enfatiza a utilização da linguagem científica em diversos contextos, o que pressupõe dar espaço para a expressão dos alunos em LIBRAS. A maior parte dos materiais didáticos utilizados no sistema educacional brasileiro requer o domínio da língua portuguesa, nas modalidades escrita e falada. No caso de alunos surdos, o canal visual é sua principal fonte de informações, logo, os recursos visuais são elementos fundamentais para uma prática pedagógica que respeite as condições de aprendizagem desses alunos. Um fator concreto que dificulta o processo do ensino de Física encontrado nos livros didáticos é a abordagem que eles apresentam: fazem explanações com bases em experiências vividas, que nem sempre uma pessoa surda consegue inferir. Em vista disso, o uso de recursos visuais, como projeção de imagens, animações, fragmentos de vídeos, simulações e ‘softwares’, em contraposição à oralidade e à escrita na Língua Portuguesa se mostra adequado às especificidades de aprendizagem dos alunos surdos. Desenvolver atividades nas quais todos os alunos são desafiados a resolverem problemas pautados em imagens e ações figuradas que representam fenômenos do cotidiano relacionadas com a Física é uma das estratégias que consegue estimular mais os estudantes, assim como fazer uso de materiais ricos em ilustrações e traduzido para LIBRAS, desencadeando maior produção de ideias criativas e melhor comunicação. A língua de sinais é um sistema linguístico que permite a expressão de qualquer conceito, de qualquer ideia, pensamento ou sentimento. A língua de sinais não é a forma sinalizada da Língua Portuguesa, ela é uma nova língua que tem sua própria gramática, semântica, sintaxe e morfologia, assim como as outras línguas, e é uma importante ferramenta na assimilação dos significados e estruturação do pensamento para os surdos. Com o processo de inclusão, pretende-se que o surdo receba um ensino adequado à sua diferença linguística e um acesso ao conhecimento de mesmo nível que seus colegas, pois não se pode esperar que ele aprenda um conteúdo transmitido numa língua que ele não domina e restringe a uma educação de qualidade questionável. Verificamos que os surdos inseridos nos sistemas de ensino nacionais ainda não têm acesso a todos os conceitos de Física tratados no ensino médio, devido à falta de sinais e materiais adequados para suas necessidades. Essa falta de termos linguísticos adequados ao ensino de Física pode dificultar a aprendizagem, pois interfere na construção de conceitos científicos. A ausência de sinais prejudica a compreensão do conteúdo ministrado, por não ser possível expressar determinados conceitos. Ainda há a falta e relação entre percepções empíricas dos fenômenos e modelos semânticos da linguagem empregada pelos discentes, que mostram a necessidade das buscas por possibilidades comunicativas sobre os conceitos com discentes deficientes auditivos, estabelecendo um processo comunicativo sem o qual o ensino de Física não ocorre de forma significativa. Ao que se relaciona a criação de sinais facilitadores ao ensino de Física deve ser assumida a condição básica em que a criação de sinais, mesmo que provisórios, está condicionada a um processo que tenha participação do surdo, do professor especialista na área de conhecimento e do especialista em educação de surdos. Ter um surdo presente no processo de criação dos sinais traz a compreensão do significado de uma palavra e o conceito que ela veicula antecede o processo de criação. Esse é um grande desafio na inclusão, pois no ensino de ciências são focados conceitos abstratos e a cultura dos surdos se baseia na realidade, sendo sempre necessária a consideração desse fato no planejamento de ensino. É necessário o incentivo de ações que favoreçam a criação de sinais dos termos utilizados nas áreas das ciências, dando ao deficiente auditivo o acesso ao conhecimento científico e melhorem as estratégias docentes e recursos didáticos, para possibilitar ao aluno surdo o envolvimento no processo de ensino e aprendizagem do conteúdo, resultando na melhoria da qualidade de ensino a todos. Existem palavras na Língua Portuguesa que têm significado variante acordo com o contexto. Considerando Libras é importante perceber como essas variações de significado podem interferir na aprendizagem. Usar sinônimos é uma forma de superar obstáculos linguísticos, porém é de suma importância que as estratégias de ensino favoreçam os alunos surdos de manifestar suas dificuldades de compreensão. De acordo com o decreto número 5.626/05, o aluno surdo tem o direito de ter um intérprete que o acompanhe de modo a auxiliar a comunicação do professor durante as aulas com este. Uma série de dificuldades será encontrada caso o professor e o intérprete não trabalhem em sincronismo. Para que a atuação do intérprete em escolas inclusivas seja realmente eficaz é necessária uma formação específica para que este tenha conhecimento de como interpretar termos específicos de cada disciplina. A realidade atual é que o aluno surdo fica deslocado do restante da turma. Isso parece decorrer da distância entre intérprete e professor e entre professor e aluno e ainda, pelas relações sociais, visto que os indivíduos que convivem no ambiente não utilizam a mesma forma de linguagem. Isso mostra a importância de o intérprete incentivar interações de todos os sujeitos com o aluno surdo. Outro aspecto importante a se considerar é que o aluno surdo é visual, portanto, atividades que vão além da oralidade são um meio facilitador. Por muito tempo os alunos surdos deveriam ser aprovados para poder frequentar escolas regulares, ou seja, precisam se adaptar para conviver com os demais. A educação inclusiva é compreendida como um sistema educacional no qual todos os alunos frequentam o mesmo ambiente, no entanto, deve-se entender que isso não significa que os alunos surdos são como os demais. Para que ocorra a inclusão do aluno surdo, todos os membros do ambiente devem participar desta, ou seja, é preciso proporcionar todo um conjunto de ações para que haja condições de que o aluno surdo se desenvolva e faça parte do todo como os demais. O trabalho desta síntese evidenciou a necessidade de uma maior produção de pesquisas voltadas para a inclusão e produção de conteúdos em Libras para a disciplina de Física e também da necessidade de formação de professores para trabalhar em conjunto com os intérpretes de modo a favorecer um ambiente mais inclusivo possível.
Se eu Ensinar Assim, o que será que o meu Aluno Aprende?: Estudo dos Efeitos de Duas Estratégias de Ensino na Aprendizagem de Língua Estrangeira (Italiano)