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CENTRO UNIVERSITÁRIO U:VERSE

CURSO DE PSICOLOGIA

RELATÓRIO DE ESTÁGIO OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO II

DANIEL ANDRADE GONZAGA

O TRABALHO GESTÁLTICO DE ÉPOCHÉ DIALÓGICA E A RECONSTRUÇÃO


DE ESTILOS DE CONTATO NA ESTRUTURA DO SELF DENTRO DAS
RELAÇÕES FAMILIARES

RIO BRANCO/AC 2021


DANIEL ANDRADE GONZAGA

O TRABALHO GESTÁLTICO DE ÉPOCHÉ DIALÓGICA E A RECONSTRUÇÃO


DE ESTILOS DE CONTATO NA ESTRUTURA DO SELF DENTRO DAS
RELAÇÕES FAMILIARES

Relatório de Estágio Obrigatório II, apresentado


para obtenção parcial do título de Bacharel
em Psicologia pelo Centro Universitário U:Verse.

Orientador (a): Djeane da Silva Santana. CRP


24/01259-AC.

RIO BRANCO/AC
2021
O TRABALHO GESTÁLTICO DE ÉPOCHÉ DIALÓGICA E A RECONSTRUÇÃO
DE ESTILOS DE CONTATO NA ESTRUTURA DO SELF DENTRO DAS
RELAÇÕES FAMILIARES

Relatório de Estágio Supervisionado II apresentado como requisito parcial para obtenção


do Título de Bacharel em Psicologia, do curso de Psicologia, do Centro Universitário
U:Verse, na cidade de Rio Branco/AC.

em 2021, com nota

Prof.(a) Djeane Santana


Orientador(a)

Prof(a).
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Prof(a).
Membro Interno / FAAO
RIO BRANCO – ACR

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho, primeiramente, a


mim, humano que eu posso ser, aprendendo a
viver a paz de espírito. Depois ao meu pai, pelo
amor-entrega que conheci nos seus olhos. À
minha mãe, de cujos lábios ouvi verdades
“inconvenientes”. À simplicidade da vida, que me
pede para abrir mão do controle que eu imaginava
ter. À uma mestra chamada gratidão, quem torna
suficiente tudo que tenho e tudo que sou.
AGRADECIMENTOS

Minha gratidão à minha família pelo apoio,


consideração e compreensão. À minha
supervisora institucional Djeane, por me orientar
no caminho do estágio. À minha supervisora de
campo Larissa, por confiar em minhas
intervenções. Aos meus colegas por caminharem
esse caminho da graduação comigo. Aos meus
pacientes, que escreveram comigo mais um
capítulo dos meus aprendizados profissionais.
“A lagarta nao precisa de um milagre para virar borboleta, ela precisa
de um processo. Nao fuja dos seus”.
(Andrew Amaurick)
6

RESUMO

Este trabalho versou acerca do relato epistemológico e empírico de uma jornada pelo
processo psicoterapeutizador, tendo por respaldo a abordagem da Gestalt-terapia.
Apontamos as experiências e vivências dos fundamentos do atendimento clínico em
psicologia, tais como: acolhimento, escuta qualificada, empatia, coleta de dados e
devolutiva, com o respectivo manejo de intervenções, que se valeram de técnicas e
experimentos gestálticos, à luz do humanismo, existencialismo e fenomenologia. Buscando
articular este acervo epistêmico com os principais conceitos da abordagem gestática: figura
e fundo, aqui e agora, awareness, estilos de contato, fronteira de contato, teoria de campo,
teoria organísmica, teoria do self, experimento e teoria do ciclo de contato. E a partir desse
cenário efetivado nos atendimentos clínicos, notamos que emergiram elementos que
apontaram para a dinâmica reconstrutiva dos estilos de contato, na estrutura do self dentro
do contexto familiar, tendo por interlocutor o trabalho gestáltico de épochê dialógica sob o
amparo da redução fenomenológica. Esse foi o luminar que nos levou didaticamente para
sustentação científica, filosófica e pragmática deste trabalho e norteou nossa visão de
homem durante a psicoterapia.

Palavras-chave: Gestalt-terapia.Self. Estilos de contato. Famíia. Fenomenologia.


ABSTRACT

This work was about the epistemological and empirical report of a journey through
the psychotherapeutic process, supported by the Gestalt-therapy approach. We point
out the experiences and experiences of the fundamentals of clinical care in
psychology, such as: welcoming, qualified listening, empathy, data collection and
feedback, with the respective management of interventions, which used gestalt
techniques and experiments, in the light of humanism, existentialism and
phenomenology. Seeking to articulate this epistemic collection with the main
concepts of the gestational approach: figure and ground, here and now, awareness,
contact styles, contact boundary, field theory, organismic theory, self theory,
experiment and contact cycle theory. And from this scenario implemented in clinical
care, we note that elements emerged that pointed to the reconstructive dynamics of
contact styles, in the structure of the self within the family context, having as
interlocutor the gestalt work of dialogic epoche under the support of
phenomenological reduction. This was the luminary that led us didactically to
scientific, philosophical and pragmatic support of this work and guided our vision of
man during psychotherapy.

Keywords: Gestalt-therapy.Self. Contact Styles. Family. Phenomenology.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ciclo Integrado Dos Sistemas, Níveis E Funções Do


Contato....................85
Figura 2 – O ciclo de Mudança. Fonte: Ribeiro
(2007).................................................96
13

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..........................................................................................14
2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................16
2.1 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA: DEFINIÇÃO E BREVE
CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................16
2.1.1
Definição...................................................................................................1
6
2.1.2 Breve
contextualização...........................................................................17
2.2 COMPREENDENDO A PSICOLOGIA
CLÍNICA........................................20
2.3 GESTALT-TERAPIA: HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO.................................24
2.3.1 Perls: uma história que gerou a Gestalt-
terapia....................................24
2.3.2 Saberes e paradigmas que influenciaram a Gestalt-
terapia.................29
2.4 TEORIAS DE BASE DA GESTALT-
TERAPIA...........................................30
2.4.1 Existencialismo
.......................................................................................31
2.4.2 Humanismo..............................................................................................33
2.4.3 Fenomenologia........................................................................................35
2.5 PRINCIPAIS CONCEITOS TRABALHADOS NA GESTALT-
TERAPIA.................................................................................................
37
2.5.1 Figura e
fundo..........................................................................................38
2.5.2 Aqui e agora.............................................................................................40
2.5.3
Awareness................................................................................................4
2
2.5.4 Estilos de
14

contato....................................................................................43
2.5.5 Fronteira de contato................................................................................45
2.5.6 Teoria de
Campo......................................................................................48
2.5.7 Teoria Organísmica.................................................................................
49
2.5.8 Teoria do Self.......................................................................................... 51
2.5.9 Experimento.............................................................................................55
2.6 RELAÇÃO DIALÓGICA NO PROCESSO
TERAPÊUTICO........................57
2.7 A POSTURA TERAPÊUTICA NA CLÍNICA
GESTÁLTICA........................61
2.8 A COMPREENSÃO DA FENOMENOLOGIA
HUSSERLIANA...................65
2.8.1 Psicologia Fenomenológica.................................................................. 65
2.8.2 Pressupostos da fenomenologia e
époché...........................................73
2.8.3 Conceito de consciência e
intencionalidade.........................................74
2.9 A FORMAÇÃO DO SELF NAS RELAÇÕES
FAMILIARES.............................................................................................76
2.9.1 O conceito de self nas Teorias
Psicológicas.........................................76
2.10 TEORIA DO CICLO DE CONTATO DE JORGE PONCIANO
RIBEIRO....82
2.10.1 Breve introdução à Teoria do Ciclo de
Contato.....................................82
2.10.2 Noção de
contato.....................................................................................83
2.10.3 Self e Teoria do Ciclo de
Contato............................................................84
2.10.4 Fatores de cura: reconstruir o estilo de contato na estrutura do
self.87
2.10.5 O caminho terapêutico-gestáltico no ciclo de
15

contato.........................95
2.10.6 Família: lugar de contato e possibilidade de
reconstução..................99
3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
REALIZADAS....................................102
3.1 ANAMNESE FENOMENOLÓGICA........................................................
102
3.2 ESCUTA PSICOTERAPÊUTICA
QUALIFICADA....................................102
3.3 ACOLHIMENTO.....................................................................................
103
3.4 CONTRATO TERAPÊUTICO..................................................................103
3.5 INTERVENÇÕES CLÍNICAS...................................................................104
3.6 TRANSCRIÇÃO DOS ATENDIMENTOS................................................105
3.7 CASOS CLÍNICOS..................................................................................105
3.7.1 Caso 1: “SOU MUITO SOBRECARREGADA” ....................................105
3.7.1.1 Descrição das ações
desenvolvidas.........................................................105
3.7.1.1.1 Resultados
alcançados............................................................................106
3.7.2 Caso 2: “SOU MUITO ESQUENTADO”
................................................107
3.7.2.1 Descrição das ações
desenvolvidas........................................................107
3.7.2.1.1 Resultados
alcançados............................................................................107
3.7.2 Caso 3: “NÃO TENHO LUGAR NO
MUNDO” ......................................108
3.7.2.1 Descrição das ações
desenvolvidas........................................................108
3.7.2.1.1 Resultados
alcançados............................................................................109
4 RELATO DE INTERVENÇÃO.................................................................110
4.1 CASO 3: “NÃO TENHO LUGAR NO
16

MUNDO”.........................................110
4.1.2 Identificação do caso 3: “Não tenho lugar no
mundo”.......................110
4.1.3 Descrição da Queixa
Principal..............................................................110
4.1.4 História de
Vida......................................................................................110
4.1.5 Postura terapêutica durante os atendimentos...................................112
4.1.6 Descrição dos Atendimentos ..............................................................113
4.1.7 Acerca dos estilos de contato e fatores de cura................................123
4.1.8 Principais atividades realizadas..........................................................124
4.1.9 Movimentação do processo psicoterapêutico...................................125
4.1.10 Finalização.............................................................................................126
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................127
6 REFERÊNCIAS......................................................................................129
17

IDENTIFICAÇÃO DO ESTAGIÁRIO

ESTAGIÁRIO

Nome do Acadêmico: Daniel Andrade Gonzaga


Número de Matrícula: 1700070042
Endereço: Rua Afonso Amoedo, nº 65, bairro Estação Experimental
Área de Estágio: Psicologia Clínica
Sub-área de Estágio: Atendimento Psicoterápico de curta duração
Local de Estágio: Policlínica da Polícia Militar do Estado do Acre

SUPERVISOR

Djeane da Silva Santana - CRP: 0440021/AC

PROGRAMA DE ESTÁGIO

PERÍODO DE ESTÁGIO

360h.

DATA DE INÍCIO E TÉRMINO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO

Início: Abril de 2021. Término: Agosto de 2021.

Matutino: quarta-feira e sexta-feira, das 07h às 13h.


18

1 INTRODUÇÃO

Este relatório tem por finalidade, apresentar o resultado epistemológico e


empírico, obtidos durante a realização do Estágio Supervisionado II, em psicologia
clínica, que ocoreu na Policlínica da Polícia Militar do Estado do Acre, no período
que se estende de abril a setembro de 2021.
A Policlínica da Polícia Militar do Estado do Acre, está localizada na Rua
Omar Sabino, nº 283, no bairro Floresta, na cidade de Rio Branco no Estado do
Acre, tem sua estrutura composta por: uma recepção, duas salas de atendimento
psicológico e uma de atendimento infantil.
A Policlínica da Polícia Militar do Estado do Acre é um órgão público, que foi
criado segundo o decreto nº 153 de 28 de março de 1990 sendo sua instalação
regulamentada de acordo com o Decreto n º 3.392 de 10 de abril de 2001, que se
responsabiliza em planejamento, coordenação, administração e controle de
atividades inerentes a saúde da corporação.
Atende policiais militares da ativa e seus dependentes, militares da reserva ou
reformados, assim como pensionistas e servidores civis. Oferece também serviços
médicos, odontológicos, psicológicos, fisioterapia, assistência social, pequenos
curativos, farmácia entre outros e mantém também convênio em especialidades
como clinicas, laboratórios e hospitais.
Os serviços ofertados são solicitados por telefone ou presencialmente e os
horários de atendimento da Policlínica são de segunda à sexta-feira de 07h às 18h,
aonde são feitos os atendimentos psicológicos e os registrados. É feito um
prontuário para cada cliente/paciente, tendo nele o seu histórico de atendimento,
como triagem, anamnese e ficha de acompanhamento e experimentos realizados,
isto fica guardado em um local sigiloso e ficam arquivados na Policlínica da Polícia
Militar do Estado do Acre
A Policlínica da Polícia Militar do Estado do Acre dispõe de um setor de ação
social, cuja função é coordenar atividades de subsetores da psicologia e do serviço
social, além de organizar e agendar os pacientes dos psicólogos e assistentes
sociais. Sua equipe é composta pelo 2º tenente da PM Marcel e a Gestora Ires
Matos.
O subsetor de psicologia tem a função de promover o bem estar psíquico e a
qualidade de vida do indivíduo, ajudar a facilitar as relações interpessoais e auxiliar
19

o indivíduo a conhecer melhor a si mesmo. As atividades que são desenvolvidas são


atendimento psicológico individual ou grupal, avaliações psicológicas e projetos de
ação em psicologia como por exemplo campanhas de conscientização. No
atendimento psicológico que tem a finalidade de ajudar a trabalhar questões
emocionais, comportamentais e entre outras, tem sua equipe de psicologia formada
pela 2º SGT PM Larissa, 3º SGT PM Neuma e CB PM A. Mendes.
O Serviço de Ação Social/ Psicologia da Policlínica atende as demandas que
chegam ao setor por meio de encaminhamentos via instituição policial militar ou que
aparecem ao conhecimento da equipe por meio de amigos, colegas de trabalho ou
familiares, tais como:
1) Visita domiciliar - objetiva levar apoio psicossocial, orientação, e intervenção
necessária a cada caso.
2) Visita hospitalar - visa acompanhamento do quadro de saúde do paciente, como
a necessidade de possíveis providencias.
3) Assistência religiosa - visa proporcionar conforto espiritual por meio de
esclarecimento/orientação e leitura bíblica.
4) Visita a comunidade terapêutica - quando da existência de usuários do serviço
que estejam em tratamento.
5) Atendimento individual e familiar no serviço de ação social - destina-se a
atender os policiais militares e seus dependentes.
20

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 HISTÓRIA DA PSICOLOGIA: DEFINIÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO

Inicialmente iremos abordar a respeito da definição de psicologia enquanto


conhecimento consolidado pela ciência. Em seguida, faremos uma caminhada pela
história que estruturou essa ciência, desde seus primóridios na Grécia antiga, até os
dias atuais, em que a mesma se subdivide em inúmeras abordagens.

2.1.1 Definição

Ao se falar em psicologia buscando uma definição para a mesma, estamos na


verdade, abordando um vocábulo com multifacetadas acepções. Como nos ensina
kleinman (2015, p. 9) a “psicologia é o estudo dos processos mentais e
comportamentais”. Bock (1999) amplia os horizontes deste entendimento, afirmando
ser o estudo da subjetividade. Essa mesma autora completa afirmado que a
psicologia é “reveladora do mundo de idéias, significados e emoções construído
internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de
sua constituição biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e
comportamentais” (BOCK, 1999, p. 22). Ou seja, refere-se a um conhecimento da
realidade que envolve o ser humano em sua pluridimensionalidade biopsicossocial-
cultural.
A definição acima nos remete à totalidade da experiência humana. Como
infere Bock (1999, p. 23) é o “homem em todas as suas expressões, as visíveis
(comportamentos) e as invisíveis (sentimentos), as singulares (somos o que somos)
e as genéricas (somos todos assim) - o homem-corpo, homem-pensamento,
homem-afeto, homem-ação”. Trata-se portanto, da estrutura que cada pessoa
constitui em si, à medida que se desenvolve e vivencia suas experiências biológcas,
sociais e culturais.
Complementando essa proposta de definição, recorremos ao estudo da raiz
etimológica do vocábulo psicologia. O mesmo está baseado na língua grega. Sendo
composto por 2 elementos: psiquê – para referir-se à alma, e logia, significando
estudo ou ciência. Portanto é o estudo da alma. Alma compreendida neste contexto
como a instância presente no íntmo do humano que lhe dá vida, identidade,
expressividade e dinamismo (VESCHI, 2019). A esse respeito Bock (1999, p. 32-33)
21

testifica:

O próprio termo psicologia vem do grego psyché, que significa alma, e de


logos, que significa razão. Portanto, etimologicamente, psicologia significa
“estudo da alma”. A alma ou espírito era concebida como a parte imaterial
do ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a
irracionalidade, o desejo, a sensação e a percepção.

Assim fica claro para nós que a psicologia se propõe estudar e decifrar
cientificamente o mundo íntimo do ser humano. Ou seja, suas particularidades e
idiossincrasias psíquicas, mentais, emcoionais, bem como a expressividade dessa
intimidade no comportamento.

2.1.2 Breve contextualização

Com as considerações feitas acima, podemos então, orientar nossos


apontamentos para uma breve contextualização da psicologia. Fazendo alusões que
vão desde seus primórdios, com sua pré-história, em berço grego. Passando pela
sua fase pré-científica que ocorreu no século XVIII. Em seguida iremos para o
século XIX, onde se deu sua edificação e maturação como ciência referendada.
Chegando por fim à época atual com várias abordagens. Assim nota-se que a
psicologia possui uma curta história enquanto ciência, porém suas raizes abrangem
tempos longíguos (SCHULTZ; SCHULTZ, 2005).
Quando recuperamos a linha do tempo estatuída pela História 1, podemos
localizar os pródrromos da Psicologia 2na Grécia antiga. Isso se deu pelo fato da
cultura grega erigir o sistema de conhecimento denoominado filosofia. Como ensina
Menezes (2011) filosofia é uma área do conhecimento que busca estudar a
existência humana, bem como o saber, munindo-se para isso da análise racional.
Tem como proposta elucidar temas como: a existência e a mente humana, o saber,
a verdade, os valores morais, a linguagem, as virtudes, a ética. Com a filosofia, o ato
de perscrutar para se obter e construir um saber, se volta para o interior do ser
humano e as perspectivas daí nascentes.
Nesse sentido, corroborando o exposto acima, pode-se afirmar que a filosofia

1
O termo História aqui foi escrita com H (h maiúsculo) por referir-se à história como uma ciência
formal.
2
O verbete Psicologia foi grafado com P (p maiúsculo) indicando a psicologia como ciência
formalizada.
22

na Grécia antiga contou com homens notaveis que “dedicaram-se a compreender o


espírito empreendedor do conquistador grego, ou seja, a Filosofia começou a
especular em torno do homem e da sua interioridade” (BOCK, 1999, p. 32). Ou seja,
o saber passa a ser buscado no âmago da pessoa humana e nao fora dela, como
era praxe nos estudos da época acerca da natureza e seus fenômenos.
Assim sendo, no período compreendido entre o século VII e V a.C, temos os
filósofos conhecidos como pré-socráticos. Estes se propunham a definir a relação do
homem com o mundo por meio da percepção. Temos dessa forma a psicologia em
sua forma mais incipiente e promissora. Promessa essa que eclode em Sócrates no
século V a.C. Silva Junior (2016) e Bock (1999) colocam que; assim a psicologia na
antiguidade clássica ganha consistência e preponderância. Sócrates vai promulgar
na “psicologia” eminente desta época, a estrutura racional do homem. Sendo esta, a
essência que define o humano enquanto humano. Ou seja, seu lado cognitivo,
privado e particular. Especialmente no tocante às virtudes em suas manifestações
sócio-comportamentais.
No trilhar da história, chegamos até Platão, século VI a.C. Seguindo os
passos de Sócrates, o mesmo vai em busca de uma localidade corporificada para a
razão. Sobre isso Bock (1999, p. 33) diz que Platão “procurou definir um ‘lugar’ para
a razão no nosso próprio corpo. Definiu esse lugar como sendo a cabeça, onde se
encontra a alma do homem. A medula seria, portanto, o elemento de ligação da
alma com o corpo”. Platão integra os elementos mais sutis aos mais densos do ser
humano. Afirmamos assim, com pertinência, que na época de Platão, tínhamos uma
“psicologia integrativa”.
Já no século III a.C, surge Aristóteles, postulando que alma e corpo não
podem ser dissociados. Dando continuidade assim à tradiçao platoniana da
“psicologia integrativa”. Ele planeou “as diferenças entre a razão, a percepção e as
sensações. Esse estudo está sistematizado no Da anima, que pode ser considerado
o primeiro tratado em Psicologia” (BOCK, 1999, p. 33).
Prosseguindo na história, temos outro período relevante para a constituição
da psicologia: o advento da Idade Média. Nesta recuada época, torna-se evidente
que os saberes atribuídos à psicologia, vincularam-se ao conhecimento religioso,
uma vez que o poderio nesta época, reinava nas mãos da Igreja Católica. E esta a
seu turno, detinha o monopólio político, econômico e principlament epistêmico, ou
seja, do conhecer/saber. E por conseguinte, monopolizava também o estudo de tudo
23

que se referia ao psiquismo humano (BOCK, 1999). Portanto, os elementos


constitutivos do saber psicológico estavam atrelhados e trancafiados ao fazer
religioso da igreja dominante nesta época.
E a história prossegue em seu rumar, predizendo então o período áureo do
Renascimento. Com este, emerge um processo de valorização do mundo íntimo do
homem, especialmente das dimensões relacionadas com a razão (GODINHO,
2012). Nesta época temos a presença de René Descartes postulando o dualismo
corpo-mente. De acordo com ele, o homem possui uma parte material – o corpo – e
outra parte pensante – alma, espírito ou mente. E esse dualismo formalizado foi o
estopim que permitiu novos estudos e avanços no campo da anatomia bem como da
fisiologia, que são ingredientes fundamentais para as investigações da realidade
psicológica do ser humano (BOCK, 1999). Isto é, a subjetividade aparece, se mostra
e manifesta-se na estrutura biológica. Nos remete à gênese dos primeiros estudos
acerca do porcesso de psicossomatização – da realidade psicológica no corpo físico.
Avançando nos marcos históricos, atingimos a era pós-renascentista, o século
XIX. Neste período marcado por nova ordem econômica (o capitalismo), social e
tecnológica, emerge o clímax para desenvolvimento da ciência. Este panorama
concebe o homem como um ser livre e capaz de construir seu próprio futuro. Vemos
as estruturas dogmáticas da igreja sendo questionadas, bem como a racionalidade
evidenciando-se como possibilidade instrumental imponente na construção do
conhecimento e da verdade. E esta por sua vez, se vê conjugada necessariamente,
a contar com o aval da ciência. O rigor científico de natureza positivista impera
(BOCK, 1999).
E foi no cenário do século XIX, que a psicologia se tornou uma disciplina
avalizada pelas investigações científicas levadas a cabo pela fiisiologia e
neurofisiologia, que por seu turno, já haviam se iniciado na época renascentista.
Investigações estas, que formularam teorias e paradigmas nascentes acerca do
sistema nervoso central (SNC), postulando que: pensamento, percepções e
sentimentalidade humana são produtos desse sistema. Fato marcante desse
momento histórico, é que as ciências, e isto inclui as ciências do homem,
respaldavam-se no modelo mecanicista. A proposta desse modelo era estudar os
fenômenos de natureza humana, social, psicológica, cultural, dentre outros,
primando pelo seu funcionamento, a sua regularidade e o conhecimento de suas
leis. Foi nesse ínterim que a psicologia vai ganhando um “corpo de conhecimento”, e
24

com isso vai conquistando respaldo e respeito, no que mais tarde despontaria em
uma ciência estruturada, isto é, emancipada da filosofia, à qual ainda se encontrava
bastante atrelhada até então (BOCK, 1999).
Com isso, fica evidente que o desenvolvimento de áreas do saber científico
como a fisiologia, a neuroanatomia e neurofisiologia impactaram decisiva e
diretamente a psicologia. Como se verá, no campo da “neurologia, descobre-se que
a doença mental é fruto da ação direta ou indireta de diversos fatores sobre as
células cerebrais” (BOCK, 1999, p. 39). Por sua vez, “a neuroanatomia descobre que
a atividade motora nem sempre está ligada à consciência, por não estar
necessariamente na dependência dos centros cerebrais superiores” (BOCK, 1999, p.
39), e a neurofisiologia culmina nas descobertas da psicofísica, “que estabelece a
relação entre estímulo, percepção e sensação” (BOCK, 1999, p. 39).
E dessa forma, alcançamos o século XX, o qual inicialmente nos apresenta
Wilhelm Wundt, que cria no ano de 1879, na Universidade de Leipzig, na Alemanha,
o primeiro laboratório para realizar experimentos na área de Psicofisiologia. Esse
marco faz a psicologia separar-se da filosofia, tornando-a ciência independente
(ARAÚJO, 2009). E com Wundt “desenvolve-se a concepção do paralelismo
psicofísico, segundo à qual, aos fenômenos mentais correspondem fenômenos
orgânicos” (BOCK, 1999, p. 40).
A partir de Wundt, a psicologia se estrutura como ciência, constituindo então
métodos de investigação e propondo teorias para seu objeto de estudo: o
comportamento, a vida psíquica, a consciência, a subjetividade em seu primor.
Nascem então as primeiras escolas de psicologia, sao elas: o Funcionalismo de
William James, o Estruturalismo de Edward Titchner e o Associacionismo de
Thorndike (BOCK, 1999).
E assim transcorre o século XX, e com ele veremos emergir relevantes
tendências paradigmáticas na psicologia. Emergindo então inúmeras abordagens
desta ciência, para dar conta da intimidade humana, tais como: Psicanálise,
Psicologia Comportamental (Behaviorismo) e Psicologia Humanista Existencial
Fenomenológica (Gestalt-terapia) (BOCK, 1999).

2.2 COMPREENDENDO A PSICOLOGIA CLÍNICA

Vamos discorrer agora acerca da psicologia clínica, tendo por intuito sua
25

compreensão enquanto possibilidade de manejo técnico da ciência psicológica.


Apontaremos para tanto sua definição, seu panorama histórico-cultural que marca a
sua evolução no tempo, sua importância técnica-operacional, incluindo também a
influência advinda do campo da medicina bem como a ética que envolve sua prática.
Ao falarmos da psciologia clínica, estamos nos referindo a uma das áreas de
conhecimento e atuação em psicologia. Sua gênese se encontra fortemente
vinculada ao modelo médico. Haja vista a própria palavra clínica, que em sua
etimologia, embute o sentido de “à beira do leito”. Aludindo dessa forma, ao ato
médico de ir ao encontro do paciente e tratar-lhe a enfermidade (DUTRA, 2004).
A esse respeito, Doron e Parot (1998, p. 144-145) confirmam dizendo que
“originariamente, a atividade clínica (do grego klinê – leito) é a do médico que, à
cabeceira do doente, examina as manifestações da doença para fazer um
diagnóstico, um prognóstico e prescrever um tratamento”. O objetivo era promover
investigação criteriosa e tratamento das enfermidades. Para isso, os médicos se
dirigiam até o leito do paciente para ofertar-lhe tratamento.
Pelos fatos que foram apontados acima, é comum no dia a dia, as pessoas
procurarem pelo psicólogo clínico, da mesma forma que buscam um médico.
Almejando “apresentar o seu sofrimento, problema ou o que quer que seja que
assim se apresente. E, ao final, esperar uma solução rápida e eficaz, que atenda à
cura do seu mal psíquico” (DUTRA, 2004, p. 382).
Frente a essas ponderações feitas, seguindo o veio da história no que tange à
psicologia clínica, Figueiredo (2015) expõe que o termo psicologia clínica foi utilizado
inicialmente por Lighter Witmer no ano de 1896. E o mesmo, procurou com tal
expressão, referir-se aos procedimentos de avaliações que eram empregados com
crianças retardadas e fisicamente deficientes.
Com isso, a psicologia clínica em seu nasciturno no século XIX, contou com
um contexto que primava pela escuta dos excluídos, daquilo que não era visto
socialmente como algo positivo. O foco era centrado nas mazelas e patologias do
ser humano, com o intuito “de avaliar, controlar, normatizar o homem a fim de ajustá-
lo em prol da sociedade, isto é, curar seus sintomas” (TEIXEIRA, 1997, p. 52).
Complementando a assertiva acima, no de ano de 1935, a APA (American
Psychological Association) faz uma declaração afirmando que a psicologia clínica
tem por finalidade
26

definir capacidades e características de comportamento de um indivíduo


através de testes de medição, análise e observação e, integrando esses
resultados e dados recebidos de exames físicos e histórico social, fornecer
sugestões e recomendações, tendo em vista o ajustamento apropriado do
indivíduo (MEJRAS, 2012, p. 168).

Perceber-se então que, à medida que a história prossegue, a psicologia


clínica foi recebendo influência de metodologias relacionadas com a
psicometrização, ou seja a busca por parâmetros de normalidade e anormalidade.
Bem como das padronizações advindas do campo médico. Esse cenário emerge
então no pós Segunda Guerra Mundial, no qual a proposta de psicodiagnóstico
ganha destaque (STUBBE, 1988).
E foi dessa forma que o campo da psicologia clínica veio se fazendo e
ganhando espaço no mundo científico. Ganhou status e se promoveu como uma
área renomada de aplicabilidade do arcabouço teórico-prático da psicologia. Para
isso, entrelaçou seu saber com os paradigmas da medicina, ou seja, a prática de
anamnese, diagnóstico, prescrição e prognóstico. E a partir daí foi se estruturando e
se firmando (MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007).
Com isso, podemos asseverar que emerge a psicologia clínica em sua forma
clássica. Como mostra Teixeira (1997, p. 54) a

concepção clássica de psicologia clínica afirma ser esta uma disciplina que
tem como preocupação o ajustamento psicológico do indivíduo e como
princípios o psicodiagnóstico, a terapia individual ou grupal exercida de
forma autônoma em consultório particular sob o enfoque intra-individual com
ênfase nos processos psicológicos e centrado numa relação dual na qual o
indivíduo é percebido como alguém a-histórico e abstrato.

Nota-se a partir daí, um modo de fazer psicologia totalmente voltado para os


processos psicológicos intrapsíquicos, notadamente os de natureza
psicopatológicos. Com um enfoque marcado decisivamente pelo psicodiagnóstico,
terapia individual ou grupal, efetivada em consultório particular, com o saber nas
mãos do profissional, que visa atender uma clientela financeiramente abastada.
Assim como orientada por uma concepção de homem abstrato e desconectado de
sua conjuntura histórico-social (TEIXEIRA, 1997).
E esse fazer clássico deixou como legado o processo da psicoterapia.
Processo esse como pontua Macedo (1986), trata-se de compreender e intervir nos
problemas do homem, buscando seu bem-estar individual e social.
Aprofundando esse mecanismo do fazer-técnico em psicologia clínica – a
27

psicoterapia – reccorremos ao Conselho Federal de Psicologia, em sua Resolução


N.º 010/00, que diz que psicoterapia

É prática do psicólogo por se constituir, técnica e conceitualmente, um


processo científico de compreensão, análise e intervenção que se realiza
através da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas
psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional,
promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento
de conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000).

Um ponto fundamental no nosso estudo, é compreendermos que o modelo


tradicional de psicologia clínica, atendeu os conceitos e a mentalidade de uma
época. No entanto, com o avançar da contemporaneidade histórica, esse modelo foi
evoluindo a partir de críticas que lhe foram endereçadas. Como nos assegura Souza
(2007, p. 25) as “principais críticas direcionadas ao modelo clássico ou tradicional da
Psicologia clínica vem questionar essa prática centrada em um indivíduo abstrato e
a-histórico”.
Esse cenário foi favorável para emergir e inaugurar um novo conceito de
clínica em psicologia. Uma clínica que se mostra conectada e contextualizada com a
realidade social e histórica do sujeito. Conforme propõe Dutra (2004, p. 382-383) “é
nesta direção que se percebe o crescimento de uma tendência na Psicologia Clínica,
a qual se centraria na ênfase de uma concepção de subjetividade resultante de uma
construção social e histórica”.
Bock (2001, p. 23) ensina que “o mundo psicológico é um mundo em relação
dialética com o mundo social”. Noutras palavras, podemos parodear a autora citada,
afirmando que o mundo psicológico se faz permeado pela interdependência dialética
com a realidade biossociocultural e espiritual.
Com este panorama desenhado, a psicologia clínica aproxima-se
singularmente do sujeito. Acolhendo seu sofrimento subjetivo em sua
multidimensionalidade sistêmica, isto é, de forma biopsicossocial-cultural-espiritual.
Como coloca Dutra (2004, p. 384) “considera o sofrimento como um momento do
sujeito, com sentidos e significações diferentes para cada um, e de acordo com o
seu modo de ser e de viver”.
Continuando sua contribuição acerca da psicologia clínica, Dutra (2004, p.
384) entende que esta
28

representa uma determinada postura diante do outro, entendendo-o como


sujeito que pensa, sente, fala e constrói sentidos que se expressam, se
criam e se modificam nessa relação de subjetividades, num determinado
mundo e num certo momento das suas histórias.

E nessa postura diante do outro, Figueiredo (2015) nos mostra que a clínica
em psicologia é definida pela sua ética. Ética que no âmbito deste trabalho é
definida por Andrade e Morato (2004, p. 346) “como designando posturas
existenciais e/ou concepções de mundo capazes de dar acolhimento, assento ou
morada à alteridade”. Souza (2007, p. 31) diz que a clínica psicológica atual é
“pautada numa ética e não apenas na técnica, essa é a característica principal da
nova Psicologia clínica”. Uma clínica psicológica capaz de acolher a
intimidade/subjetividade da pessoa em toda sua extensão biopsicossocial-cultural-
espiritual.

2.3 GESTALT-TERAPIA: HISTÓRIA E CONSTRUÇÃO

Falaremos neste ponto da pesquisa a respeito da origem e do


desenvolvimento da Gestalt-terapia. Uma abordagem que emergiu como reação à
visão psicanalítica ortodoxa3, e à visão comportamentalista4do ser humano, bem
como contribui para a estruturação e consolidação da Terceira Força em Psicologia 5.
Com esse intento em mente, iniciaremos nossas explanações contando a história
detalhada de vida de Friederich Salomon Perls – psicoterapeuta e psiquiatra de
origem judaica, considerado o pai da Gestalt-terapia – e logo na sequência, traremos
as principais contribuições paradigmáticas que nortearam sua história e forjaram sua
construção como abordagem de renome nos domínios da psicologia.

2.3.1 Perls: uma história que gerou a Gestalt-terapia

A estruturação da Gestalt-terapia recebeu forte influência da história de vida


de seu idealizador – Friederich Salomon Perls – que propunha que o método de
tratamento psicoterapêutico era muito mais uma arte do que propriamente uma
ciência (GINGER; GINGER, 1995).

3
Psicanálise ortodoxa é fundamentalmente freudiana.
4
Referimo-nos ao behaviorismo com raízes nos trabalhos de Pavlov e Watson.
5
Trata-se da Psicologia Humanista e Existencial,com forte crítica à postura mecanicista, determinista,
fatalista, patologizante e reducionista da psicanálise ortodoxa e do comportamentalismo.
29

A trajetória da Gestalt-terapia tem início com o homem citado acima,


Friederich Salomon Perls. Fritz Perls (como comumente era conhecido) nasceu em
berço alemão, mais precisamente em Berlin no dia 8 de julho do ano de 1893. Seu
lar de origem, contava com pais engajados na vida cultural e social da época. E Fritz
ainda criança, já tinha acesso a óperas, museus e teatros, bem como à biblioteca do
avô. E com isso Perls em seu mundo infantil, de forma lúdica, livre e inventiva já
teatraliza peças nascidas de sua efervescente criatividade, advinda do contato com
o acervo de livros contidos na estante do avô (TELLEGEN, 1984).
A adolescência de Fritz, foi marcada pela instabilidade, pela rebeldia e por
sua engenhosidade no campo artístico, notoriamente o teatro. Tanto que com seus
16 anos, encenou no Teatro Real de Berlim. Por esses tempos Perls já pagava suas
despesas pessoais com o capital advindo de suas encenações. Mais tarde em sua
vida, essas habilidades relativas ao manejo da linguagem corporal e verbal (flexões
da voz) serão fundamentais para o seu repertório de experimentos psicoterapêuticos
(TELLEGEN, 1984).
Ao entrar na fase adulta, Perls, com 21 anos, cursa medicina na prestigiada
Universidade de Berlim. Neste momento da sua vida, irrompe a Primeira Guerra
Mundial. Neste cenário de guerra, participa inicialmente como voluntário da Cruz
Vermelha – em 1915 – e depois é enviado para as trincheiras como assistente
médico. Fritz retorna – em 1916 – impactado e desencantado com a humanidade
(TELLEGEN, 1984).
Aos 27 anos, Perls se gradua médico e trabalha como neuropsiquiatra. Isso
lhe permite participar e se associar “ao grupo Bauhaus composto de artistas,
arquitetos, poetas, filósofos, escritores, todos radicais políticos, dissidentes da
ordem estabelecida, lutando por novas expressões e por um estilo de vida menos
rígido” (TELLEGEN, 1984, p. 27). Foi nesse ambiente boêmio, com esquerdistas e
anarquistas se posicionando na linha da contracultura, que ele conheceu muitas
mentes – como Salomon Friedlaender e Paul Goodman – que exerceram influência
em seu pensamento; e mais tarde em sua eminente e nascente teoria
psicoterapêutica (GINGER; GINGER, 1995).
Com 33 anos de idade, ou seja, em 1926, Fritz se interesse pelo trabalho de
Kurt Goldstein, que por seu turno, desenvolve pesquisas relacionando
comportamento e lesões cerebrais. Acaba se tornando seu assistente direto no
Instituto de Soldados Portadores de Lesão Cerebral. É por essa época que Perls
30

conhece a culta e talentosa psicanalista Laura Posner, com quem se casará 4 anos
mais tarde. Laura foi determinante para a construção e consolidação da Gestalt-
terapia (GINGER; GINGER, 1995).
Outro fato notório deste período foi que Perls recebe treinamento como
psicanalista, sob orientações de Helena Deutsh, Hirshman, Otto Fenichel, Paul
Federn e culmina com seu trabalho no hospital psiquiátrico dirigido por Paul
Schilder. Antes de se instruir como psicanalista, Perls já havia passado por análise
com Karen Horney, e em 1928 estará sob os cuidados da análise de Wilhelm Reich.
(GINGER; GINGER, 1995).
Com 38 anos Fritz se envolve com o movimento antinazista. O que ocasionou
momento de tensão na vida da sua família – ele, Laura e sua filha Renata. Para
evitar a prisão pelos nazistas, refugia-se em Amsterdã. Posteriormente sua família
encontra-se com ele, e eles passam a viver num campo de refugiados, enfrentando
uma vida de miséria. Com ajuda de um amigo – Ernest Jones – vai para a África do
Sul. E em 1935 funda o Instituto Sul-africano de Psicanálise. Que dará uma
reviravolta na vida financeira do casal Laura e Fritz Perls (JULIANO, 2004).
Neste ponto da história, se dará um acontecimento marcante para a gestação
da Gestalt-terapia. Estamos no ano de 1936, Fritz conta com seus 43 anos, vai
então para o Congresso Internacional de Psicanálise na Tchecoslováquia para
apresentar seus estudos sobre Resistências Orais. Sua apresentação não foi bem
recebida pelos participantes do congresso. Nesta ocasião o próprio Freud foi frio e
distante com ele, e o encontro com seu antigo analista, Reich, foi decepcionante.
Retorna então, após o congresso, para a África do Sul com o sentimento de
frustração e não pertencimento ao movimento psicanalítico. Esse fato impulsiona
Perls a se afastar da psicanálise e iniciar a construção de uma nova abordagem em
psicologia (GINGER; GINGER, 1995).
No começo surgiram muitas sugestões de nomes para batizar o novo método
terapêutico, advindo de seus estudos e investigações no campo da teoria e prática
da psicoterapia. Laura Perls propôs Psicanálise Existencial, Hefferline sugere
Terapia Integrativa, o Grupo dos Sete 6 de forma geral deseja denominá-la por
Terapia Experiencial e Perls dá como ideia o nome de Terapia de Concentração. E
foi com esse último nome, que inicialmente Perls batizou a nova proposta
6
Grupo dos Sete era o grupo formado pelos primeiros estudiosos e pesquisadores presentes na
sistematização da Gestalt-terapia. São eles: Fritz Perls, Laura Perls, Paul Weisz, Paul Goodman, Elliot
Shapiro, Isadore From e Sylvester Eastman,
31

psicoterápica: Terapia da Concentração. O objetivo era contrapor à metodologia


psicanalítica da livre associação, porém o nome concentração, referia-se somente a
um aspecto técnico do novo método. Não conseguia abranger a globalidade da
teoria nascente (GINGER; GINGER, 1995).
Como proposta fértil desse momento de “castração psicanalítica” vivido por
Perls, nasce em 1942, o livro Ego, Hunger and Aggression. Esta obra propõe revisar
a teoria psicanalítica tomando por base teorias e pesquisas que, nesta época,
questionavam drasticamente o associacionismo reinante na psicologia (TELLEGEN,
1984). Foi também no ano de 1942, que ele participa da Segunda Guerra Mundial,
no cargo de psiquiatra pelo exército da África do Sul. Com o fim da guerra, bem
como com o prelúdio do regime fascista representado pelo apartheid que se
instalava no país, Perls e sua família migram para os Estados Unidos da América
(PINTO, 2018).
Em solo americano, a família Perls recebeu suporte de um grupo de pessoas
ligados à psicanálise como Karen Horney, Erich Fromm, Paul Goodman e assim
conseguem se estabelecer como analistas nos EUA. Nesse ínterim, Fritz se associa
com artistas e intelectuais radicais que se propunham a ir “até às últimas
consequências, quando o assunto era desmascarar a banalidade e hipocrisia das
relações interpessoais e instituições sociais” (TELLEGEN, 1984, p. 30-31).
E foi nesse ambiente artístico, intelectual, boêmio que Perls vai se
distanciando da psicanálise. Uma das personalidades desse círculo de amigos, foi
Paul Goodman que juntamente com Perls e Ralph Hefferline promoveram o segundo
livro de Perls: Getalt Therapy – Excitement and Growth in the Human Personality no
ano de 1951. Essa obra marca o início da Gestalt-terapia (YONTEF, 1998). Noutras
palavras: “A nova abordagem terapêutica estava lançada. Sua história própria
começava” (TELLEGEN, 1984, p. 31).
Como afirma Yontef (1998, p. 155) “a origem da Gestalt-terapia deu-se como
uma revisão da Psicanálise clássica, transformando-se, a partir da integração de
conhecimentos de origens diversas7, em um método abrangente e independente,
além de uma clínica unificada”.
A partir desse ponto, o trabalho gestáltico começa a expandir com o
surgimento dos Institutos de Gestalt-terapia. O primeiro deles foi o Gestalt Institute of
7
O conhecimentos de origens diversas, refere-se a integração epsitemológica-pragmática dos
seguintes saberes: fenomenologia, existencialismo, humanismo, teoria de campo, psicologia da gestalt,
teoria organísmica e filosofia oriental (budismo e taoísmo).
32

Nem York. Sob a tutela de Fritz e Laura Perls, esse instituto contou com outras
pessoas engajadas na Gestalt-terapia tais como Paul Weisz, Paul Goodman, Elliot
Shapiro, Isadore From, Sylvester Eastman, que em companhia do casal Perls,
formaram o renomado Grupo dos Sete. Richard Kitzler se juntou ao grupo mais
tardiamente (JULIANO, 2004). Depois vieram outros Institutos de Gestalt-terapia,
tais como o de Cleveland, o de Los Angeles e o de San Francisco (TELLEGEN,
1984).
No ano de 1962, Perls empreende uma viagem ao redor do mundo levando a
Gestalt-terapia na bagagem, ensinando e fazendo demonstrações. Até que em
1964, se instala no mais conhecido centro de desenvolvimento do potencial humano
à época: o Esalen Institute. Passou 5 anos neste lugar, fazendo o que mais amava:
ensinar e demonstrar a Gestalt-terapia. Esse período foi intensamente registrado em
áudio e vídeo. Com o material didático registrado em fitas, vídeos e filmes contendo
palestras, seminários e sessões terapêuticas – nestes 5 anos de trabalho no Esalen
Institute – no ano de 1969, Perls lança seu terceiro livro: Gestalt Therapy Verbatin
(TELLEGEN, 1984).
O título Gestalt Therapy Verbatin chega ao nosso país com o nome de
Gestalt-Terapia Explicada. Foi ainda neste local – Esalen Institute – que nasce seu
quarto livro, e este com caráter autobiográfico – In and out the garbage pail – em
português recebeu o título de: Escarafunchando Fritz: dentro e fora da lata do lixo.
Já no final de sua vida, em 1969, com seus 76 anos de idade, Fritz Perls
empreende a abertura do Gestalt Institute Of Canada, no Canadá, “onde passou os
últimos meses de sua vida, finalmente, em paz, convicto de que sua abordagem
gestáltica estava recebendo reconhecimento em muitos lugares nos Estado Unidos”
(TELLEGEN, 1984, p. 33). Foi por essa época e ocasião que ele escreve sua quinta
obra The Gestalt Approach to Therapy, traduzida no nosso idioma como A
Abordagem Gestáltica e Testemunha Ocular da Terapia, obra que foi publicada
postumamente em 1973 (TELLEGEN, 1984).
E assim Friederich Salomon Perls, chega ao final de sua jornada, em 14 de
março de 1970, nos deixando como legado uma abordagem psicológica que pode
ser resumida em três tópicos:

- Uma concepção da relação corpo-mente que fosse realmente integradora


ao invés de dualista; - Uma noção de configuração ou estrutura que
abrangesse a complexidade das inter-relações de fatores biológicos,
33

psicológicos e socioculturais dos quais a experiência e o comportamento do


homem são resultantes e - Um método de pensamento que, afastando-se
das explicações causais lineares, se aproximasse do método dialético ao
focalizar interação e mudança enquanto processos contínuos de
diferenciação, integração e rediferenciação de opostos (TELLEGEN, 1984,
p. 33-34).

E foi assim que a jornada de vida de Friederich Salomon Perls deu ensejo
para se confeccionar a primeira asa da Gestalt-terapia. Esta, por seu turno, nascida
com sua história e seu legado. A outra asa, compõe os saberes e paradigmas que
artesanalmente, contribuíram de forma profunda e decisivamente para a construção
dos pilares sobre os quais se encontra alicerçada a Gestalt-terapia. E que falaremos
a seguir.

2.3.2 Saberes e paradigmas que influenciaram a Gestalt-terapia

A Gestalt-terapia, na sua trajetória conjuntamente com a história de seu pai,


Fritz Perls, se caracteriza por uma síntese bem criativa e coerente de correntes
filosóficas e psicoterápicas tais como: a psicanálise freudiana, análise de caráter de
Reich, fenomenologia, psicologia da Gestalt, Teoria Organísmica de Goldstein,
humanismo, existencialismo, pensamento oriental (taoísmo e budismo) e Teoria de
campo de Kurt Lewin.
A esse respeito o próprio Perls (1988, p. 18) escreveu que

A maior parte de seus fundamentos pode ser encontrada em muitas outras


abordagens do assunto. O que é novo aqui não são necessariamente as
partes e fragmentos que vão constituir a teoria, mas o modo pelo qual são
usadas e organizadas é que dá a esta abordagem sua singularidade e seu
apelo à nossa atenção.

Aqui traremos de forma sucinta e breve as principais influências recebidas


pela Gestalt-terapia dos saberes acima pontuados: 1. Psicanálise Freudiana – noção
de inconsciente e o trabalho com os sonhos, 2. Análise de caráter de Reich –
identificação das resistências psíquicas manifestadas na estrutura corporal e na
dinâmica conflitual que se revela mais no estilo de comunicação do paciente que no
conteúdo trazido por ele, 3. Psicologia da Gestalt – o princípio organizador da
percepção, a estrutura figura-fundo, o todo e a parte, o aqui e agora, 4. Teoria
Organísmica de Kurt Goldstein - o organismo é uma totalidade e, inteligente em sua
forma, encontra sempre uma autorregulação, 5. Fenomenologia – intencionalidade
34

da consciência, realização de epoché, de redução fenomenológica, de interrogações


fenomenológicas e da escuta fenomenológica da totalidade, bem como o foco na
descrição, 6. Existencialismo - O ser humano é um ser que se constrói nas relações
a partir da liberdade, responsabilidade e relação dialógica, 7. Humanismo -
Compreensão de homem como um ser de potenciais, possibilidades, capaz de se
autoatualizar, se autorregular e o melhor intérprete da sua história, 8. Teoria de
campo de Kurt Lewin – noção e operacionalização das forças sistêmicas inerentes
na rede de relações de contato, 9. Pensamento oriental (taoísmo e budismo) –
diminuição da atividade interna e acalmar o pensar agitado para viver o presente, o
aqui-agora, mudar é tornar-se o que se é (princípio paradoxal da mudança) e
processo de se estar consciente em plenitude no presente – awareness
(TELLEGEN, 1984).
Completando as contribuiçoes acima, Yontef (1998) aponta tambem Sigmund
Friedlander, com os conceitos de pensamento diferencial e indiferença criativa.
Outro nome importante para o pensamento de Perls, foi Jan Smuts e sua teoria do
holismo e evolução. Outra base de influência, veio dos teólogos existencialistas
Martin Buber e Paul Tillich, com o diálogo existencial tendo por base a dialogicidade
da relaçao EU-TU. O que trará como ponto fundamental para a Gestalt-terapia, o
contato direto terapeuta-paciente, ou seja, a ênfase recai na experiência direta do
relacionamento entre os dois no aqui-e-agora.
E foi dessa forma, contando com diferentes e interdependentes saberes e
influências, que a Gestalt-terapia construiu sua identidade e sua personalidade no
mundo da psicologia. Buscando dar conta da multiglobalidade presente no ser
humano. Como finalizam Ginger e Ginger (1995), a Gestalt-terapia trata-se de uma
técnica que se fez, tendo por base a ideia de que o homem é uma entidade
integrada, constituída no entrelace das dimensões sensorial, afetiva, intelectual,
social e espiritual, numa complexa e dinâmica interação.

2.4 TEORIAS DE BASE DA GESTALT-TERAPIA

Empreenderemos neste momento uma explanação detalhada sobre as bases


filosóficas da gestalt-terapia, composta em seu conjunto pelo existencialismo, pelo
humanismo e pela a fenomenologia.
35

2.4.1 Existencialismo

Falaremos do existencialismo abordando sua constituição, sua definição, seu


contexto e também seus princípios e pressupostos filosóficos primordiais.
O existencialismo emerge em meados do século XIX e princípio do século XX,
trata-se de um conjunto de doutrinas que postulam como objeto de estudo a
realidade existencial – concreta e vivida – que pode ser contatada através do
sentimento ou emoção. Admite também ser o homem, o único que pode viver sua
existência e, por esse motivo, é o idealizador e construtor do seu destino, arquiteto
de sua própria história de vida (LEVENE, 2013).
Seguindo este raciocínio, Abbagnano (2007) afirma que coostumeiramente,
utiliza-se o vocábulo existencialismo, para definir um determinado grupo de
correntes filosóficas que têm em comum não os seus pressupostos e resoluções
inerentes, e sim o instrumento de que lançam mão para entender o ser humano que
é a análise da existência. Estas escolas filosóficas trazem como entendimento para
a palavra existência, o significado de: a maneira de ser própria do ser humano como
uma forma/modo dele ser no mundo, em uma determinada situação pontual,
investigável e analisável em termos de possibilidade. Com isso afirmamos que a
“análise existencial é, portanto, a análise das situações mais comuns ou
fundamentais em que o homem vem a encontrar-se. Nessas situações, obviamente,
o homem nunca é e nunca encerra em si a totalidade infinita, o mundo, o ser ou a
natureza” (ABBAGNANO, 2007, p. 402).
Como desdobramento das afirmações acima, podemos sensatamente
concluir que, a expressão existencialismo guarda intimidade com o substantivo
existência. E este por sua vez, procede do latim ex-sistere, cujo significado é surgir,
exibir-se, movimento para fora. Portanto, como indica Abbagnano (2007, p. 402)
existência deriva de existir, que “significa relacionar-se com o mundo, ou seja, com
as coisas e com os outros homens”. Com esse sentido, o existencialismo em linhas
gerais, pode ser compreendido como uma sistematização de preceitos filosóficos
nos quais a existência humana é concebida de forma individual e particular,
propondo abranger o homem como ser concreto e presente nas circunstâncias da
sua vida e no seu modo de viver. E nesta escola filosófica, cada respectivo
pensador, procura compreender a existência humana, destacando um ponto em
particular do homem ao se relacionar com a realidade do mundo e consigo próprio
36

(CARDOSO, 2013).
Pela ótica existencial, o homem é percebido como livre e responsável por
construir a sua própria existência. Isso nos remete ao fato de que o homem surge no
mundo como um ser particular que não possui definição prévia, ele vai se fazendo à
medida que vive sua história. Nasce como ser dotado de possibilidades e por isso
escolhe em cada instante aquilo que quer ser. Efetivando dessa forma seu projeto
de vida e de ser no mundo (CARDOSO, 2013).
Ao postular o homem como livre para escolher e responsável por se construir,
o existencialismo aponta também, que essa condição intrínseca do indivíduo flui
num contexto espaço-temporal marcado por limitações de natureza física, social,
cultural, espacial, temporal, e que estas não determinam o ser, pois ele é o resultado
do que escolheu para si, abrangendo especialmente a forma como lida com essas
limitações (CARDOSO, 2013).
O pressuposto existencialista da liberdade para o ser se fazer e se constituir a
partir de si mesmo, além de vincular-se às escolhas que realiza, igualmente atrela-
se à condição do homem que está em relação com o mundo à sua volta procurando
conferir-lhe sentido. Com isso a liberdade que o homem desfruta também é que
promove angústia. Angústia essa, como atesta Cardoso (2013, p. 61), que é um
“sentimento originado no fato de o homem viver num mundo de possibilidades, sem
qualquer garantia de realização, sucesso ou segurança”. É uma angústia que
impulsiona o agir a partir da idealização e efetivação de um projeto de vida, de um
modo de ser (GILES, 1975).
E o projeto de vida ganha sentido e significado peremptório, uma vez que, o
existencialismo olha de frente os problemas reais da vida do homem, abordando de
forma direta temas indubitáveis que existencialmente perpassa seu viver. Portanto
encara e lida rigorosamente com suas angústias, medos, falta de sentido existencial,
o morrer, o desespero, suas preocupações, suas emoções, suas ânsias e
satisfações (CARDOSO, 2013).
Neste sentido o homem na verdade é o que ele faz de si mesmo, a partir das
suas escolhas. Sendo que o homem é livre para escolher quem ele quer ser e
totalmente responsável por seu projeto existencial. Jamais é determinado ou
definido por qualquer coisa ou situação fora de seu alcance pessoal. Ele não é o que
fizeram com ele e sim o que ele faz com o que fizeram com ele (SARTRE, 2014).
Complementando o entendimento acima colocado, Ribeiro (2012) ajuda-nos a
37

compreender que nesta escola filosófica, o homem é percebido de forma


particularizada, concreta, possuidor de vontade e liberdade pessoal, evocado como
um ser consciente e responsável por si e suas escolhas.
Um pressuposto fundamental do existencialismo de que nos fala Ribeiro
(2012, p. 51) é que “o ser humano só pode ser compreendido por ele mesmo
através de uma experiência direta do seu ser no mundo, [...] e é o mais fiel intérprete
de si mesmo”. Continuando essa mesma linha de pensamento, pontuaremos aqui e
agora uma premissa básica: o resgate do valor e do significado do ser enquanto
individualidade. Uma individualidade que se faz, e tem possibilidade de se conhecer
à medida que relaciona com o mundo e consigo própria. A partir desse conhecer-se,
“o homem pode dar respostas diferenciadas entre as suas reais necessidades e as
exigências que vêm de fora de si” (RIBEIRO, 2012, p. 53).
Sartre (2014) nos alerta que o primeiro passo do existencialismo é o de por
todo homem na posse do que ele é, e submetê-lo à responsabilidade total de sua
existência. A esse conceito Ribeiro (2012) relata que não é possível atribuir as
escolhas do homem somente ao inconsciente, ele todo é responsável por seus atos
e escolhas.
O existencialismo nos mostra que a condição humana é estar em plena
construção, não há nenhuma essência da natureza humana definida e definitiva.
Sempre existem novos horizontes, novos problemas e novas oportunidades
(YONTEF, 1998). Tudo está num projeto, em que o termo projeto é usado
justamente porque o ser humano é o único que existindo, cria sua essência, e esta
baseia-se num estar-no-mundo como um eterno vir-a-ser. Quanto a isso Ribeiro
(2012, p. 37) narra que: “Existência, etimologicamente, vem de ex-sistere: começar a
ser, vir de alguma coisa e, neste sentido, o homem é o único ser que pode sair de si
para se projetar a si mesmo, pode fazer um projeto de si próprio, ele próprio é um
projeto, realizando-se”.
Para finalizar citamos Cardella (2002, p. 36) “o homem é um ser em projeto,
fazendo-se em processo, capaz de fazer opções e escolher o que deseja ou
pretende ser. É livre para realizar escolhas e, portanto, responsável por suas ações”.
Mencionamos também Ribeiro (2006, p. 41) que postula que o ser humano é o
“rosto visível pelo qual a essência se revela, a existência é o ser aqui e agora,
acontecendo, em seu contínuo processo de mudança, à busca de um rosto próprio”.
38

2.4.2 Humanismo

Apresentaremos o humanismo em suas linhas gerais, fazendo apontamentos


sobre seu conceito, seus preceitos e suas características fundamentais.
O vocábulo humanismo tem como definição um conjunto de princípios que
instituem a valorização e a dignidade inerentes à pessoa humana. Toma o homem
como valor em si mesmo. Tratando-se da doutrina que coloca o homem como centro
de suas cogitações com a proposta de procurar os meios para sua realização.
(JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008).
E a esse respeito, e complementando a definição acima de humanismo,
Abbagnano (2007, p. 519) confirma que “pode-se dizer que o humanismo é toda
filosofia que tome o homem como ‘medida das coisas’, segundo antigas palavras de
Protágoras”.
Como pontua Mendonça (2013), o humanismo enxerga que o homem não é
apenas um mero observador-expectador coadjuvante do universo. O ser humano é
visto como aquele que por meio de suas potencialidades, capacidades e habilidades
pode transformar, aprimorar e recriar a realidade em que se encontra.
O grande legado do pensamento humanista foi ampliar a percepção das
qualidades do ser humano a favor de seu crescimento e desenvolvimento enquanto
ser. Para isso se fez necessário romper com as amarras, com os antolhos de
qualquer forma determinista e autoritária de conceber o homem, bem como suas
reais possibilidades (ANDRADE, 2000).
O humanismo possibilitou resgatar no humano, o que o humano tem de
encantador na sua idiossincrasia: autonomia para se autogerir e capacidade proativa
de ser o regente da sua própria história, carregada de potenciais que promovem
mudanças e constroem sua identidade de ser. Com isso, o ser humano não é visto
como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador de coisas
novas com poder sobre as determinações que o afetam (AMATUZZI, 2009).
Ribeiro (2012) corrobora ensinando que o humanismo promove a ideia de
homem como centro e capaz de autogerir-se e regular-se. Segundo Sartre (2014),
fala-se do humanismo, uma vez que recordamos ao homem que não existe outro
legislador a não ser ele próprio, e porque temos o homem como a única e própria
escolha a ser feita por si mesmo.
Adotar uma postura humanista nos obriga a deixar de lado a dicotomia mente-
39

corpo e aceitar o ser humano como um todo que existe e está nesse universo, para
ser compreendido sempre a partir de si mesmo, pois é ele quem sabe o que é
melhor para si mesmo (RIBEIRO, 2012).
Outra característica do humanismo é a valorização daquilo que o ser humano
tem de belo, de bom, de útil e funcional. Essa visão humanista nos reporta ao
cuidado em fortalecer e dar suporte ao homem para que este consiga entrar em
contato consigo, com seu mundo íntimo, e assim pensar e expressar-se
saudavelmente (SILVA; ALENCAR, 2011).

2.4.3 Fenomenologia

Realizaremos nesta seção uma explanação abalizada a respeito da


fenomenologia. Pontuando sobre o seu conceito, e de forma sucinta apontaremos
seus fundamentos filosóficos preponderantes.
Fenomenologia é uma palavra grega composta por dois termos:
phainómenom, cuja tradução é fenômeno e significa aquilo que se apresenta ou que
se mostra – e logos – denotando explicação, estudo. Assim fenomenologia pode ser
compreendido a princípio como o estudo do fenômeno, daquilo que aparece, que se
mostra, que se revela (BELLO, 2006; CATALDO, 2013). Trata-se de uma escola
filosófica que emergiu na Alemanha no final do século XIX e primeira metade do
século XX. Foi estruturada inicialmente por Edmund Husserl que recebeu forte
influência de Platão, Descartes e principalmente de Brentano (BAUMGRATZ;
ALBUQUERQUE; FERREIRA, 2017).
A fenomenologia é na verdade um método de investigação epistemológica da
realidade, estruturada por Husserl como uma severa crítica ao pensamento
positivista e psicologista. O positivismo, no que lhe concerne, primava “pelo
conhecimento objetivo, observável, empírico, que exclui toda a subjetividade”
(CATALDO, 2013, p. 192). O psicologismo pauta-se primordialmente pela presença
da subjetividade e “pelo fundamento dos dados da consciência, como reflexão do
homem sobre si mesmo” (ABBAGNANO, 2007, p. 811).
Isso intrigou Husserl que procura cunhar e configurar uma teoria do
conhecimento que pudesse abranger a ciência como um todo, e não apenas aquelas
vinculadas com o método positivista ou psicologista. Cataldo (2013, p. 191) confirma
assinalando que “Husserl propõe um método seguro e rigoroso para fundamentar
40

todas as ciências”. Para tanto o método necessita incluir tanto a subjetividade bem
como a intuitividade do ser humano.
Corroborando a tese acima, Costa (2010, p. 428) diligencia que

Husserl fez de seu trabalho uma crítica à tendência da sua época em


reduzir a verdade ao empirismo/positivismo e ao psicologismo, duas
importantes linhas filosóficas daquele período. Desta forma, a
Fenomenologia criada por ele vem se apresentar como um método crítico a
tais vertentes filosóficas. Husserl quis atingir a verdade originária, algo que
não pudesse gerar a menor margem de dúvida, um conhecimento certo que
não possibilitasse erro.

A esse respeito Fukumitsu (2013, p. 38) complementa inferindo que a


fenomenologia surgiu no período histórico “em que as explicações eram oferecidas
pela objetividade das ciências naturais, e sua preocupação vai ao encontro de uma
realidade a fim de descrevê-la como experiência significativa até sua essência, ou
seja, até o retorno às coisas mesmas”. Esse retorno se dá quando se convergem
subjetividade e intuitividade na consciência que relaciona-se com a realidade.
Foi como metodologia de investigação e compreensão dos fenômenos, que a
fenomenologia se destacou consideravelmente. Propondo uma estrutura de
averiguação da realidade que não se utiliza de definições a priori. Com isso ela traz
um novo panorama, que se aproxima do fenômeno tal como ele é, e como ele se
apresenta. Faz-se uso portanto dos mecanismos descritivos para se compreender o
mais intimamente possível a realidade que se apresenta. Sem julgamentos e
inferências construídas aprioristicamente (REHFELD, 2013).
Fukmitsu (2013, p. 35) coloca que “Husserl argumentou que todo problema de
conhecimento envolve reflexão; dessa maneira, retornar às coisas mesmas implica a
busca das essências e sua relação com a intencionalidade da consciência”. Assim o
método fenomenológico foi se consagrando como recurso apto a captar a
experiência tal como ela se apresenta e tal como ela é vivenciada pela consciência.
Para realizar seu intento, Husserl tece um modo total e radicalmente novo de
pensamento, partindo para tanto de saberes científicos medulares à época: a
matemática e a psicologia (DEPRAZ, 2007). E partindo dessa confluência
paradigmáica entre matemática e filososfia, instaura-se portanto a proposta da
fenomenologia. A própria autora Depraz (2007, p. 7) nos deltalha esse processo
apontando que a fenomenologia

Da psicologia, ela retém uma atenção escrupulosa dirigida às vivências


41

psíquicas singulares de um sujeito dado, assim como a seus diferentes atos


de consciência; da matemática, e mais amplamente da lógica, ela retoma o
rigor da elaboração das categorias de descrição adequadas à experiência a
ser descrita. Quer dizer que o retorno à experiência do sujeito e o método
de descrição são os dois traços que caracterizam, desde o início, o método
fenomenológico.

Rehfeld (2013, p. 27) assegura que o método fenomenológico consiste na


“redução fenomenológica ou époché, que consiste em ‘pôr entre parênteses’ a
realidade do senso comum. Não se deve permanecer ao nível das impressões
sensíveis, mas sim captar a ‘essência’ ou o sentido das coisas”. Portanto a
fenomenologia se configura como filosofia e um método de apreensão e exploração
da consciência em busca da sua essência. Isto levou Husserl a definir a
fenomenologia como a ciência que descreve as essências da consciência bem como
de seus atos.
Ribeiro (2012) complementa dizendo acerca da redução fenomenológica, que
a mesma é uma procura pelo significado daquilo que chega na totalidade da
consciência do ser-aí no mundo. Uma vez que essa totalidade se compõe de
momentos fenomenológicos tais como: sensação, percepção, intuição ou insight.
Esses momentos fenomenológicos permitem que a partir da apreensão consciente
de seu significado nasça o sentido da identidade e da individualidade do ser-aí.
Neste ponto é importante lançar luz sobre esse processo envolvendo a
consciência da identidade e da individualidade do ser-aí. Trata-se de um conceito de
Franz Brentano e muito utilizado por Husserl, como nos ensina Porto (1989, p. 26)
que é “o conceito de intencionalidade da consciência, que atribuía intencionalidade
aos fenômenos psíquicos, distinguindo-os assim dos físicos”. Dartigues (1992, p. 24)
conclui dizendo que “no princípio de intencionalidade, a consciência é sempre
‘consciência de alguma coisa’, ela só é consciência estando dirigida para um objeto.
E o objeto é objeto para uma consciência”.
Por fim podemos afirmar seguramente que o método fenomenológico institui-
se por meio de uma tríade de categorias, sendo elas as seguintes: ir às coisas
mesmas, intencionalidade da consciência e redução fenomenológica (PORTO,
1989). Todas elas voltadas para se aproximar e compreender descritivamente o
fenômeno tal qual se mostra à consciência do ser-no-mundo. Incluindo para isso
todos os dados da vivência-experiência da realidade e suspendendo todos os
possíveis julgamentos.
42

2.5 PRINCIPAIS CONCEITOS TRABALHADOS

Para embasar teoricamente este trabalho, buscou-se na Gestalt-terapia nove


conceitos notáveis e imprescindíveis. Sao eles: 1. Figura e fundo, 2. Aqui e agora,
3. Awareness, 4. Estilos de contato, 5. Fronteira de contato, 6. Teoria de campo, 7.
Teoria organísmica, 8. Teoria do self e 9. Experimento. Todos estes conceitos
somados e interconectados, resultaram em atendimentos psicoterapêuticos
assertivos e eficientes. Dissertaremos sobre os mesmos nas seções que se seguem.

2.5.1 Figura e fundo

O conceito figura e fundo será descrito em sua essência. Dessa forma


entenderemos sua conceituação bem como sua caracteristica basal, que se
relaciona com as necessidades do ser humano em sua formação de gestalten, que
será sucintamente abordado a seguir.
Ao falarmos de figura e fundo, estamos falando de conceitos preconizados
pela psicologia da Gestalt. Ou seja, são constructos vinculados com o campo da
percepção humana. A esse respeito, Edgar Rubin, discípulo direto de Husserl, foi
quem registrou em primeira mão que a percepção se relaciona e se estrutura de
acordo com o princípio figura e fundo (FRAZÃO, 2013).
Sendo assim, figura e fundo é um conceito que se relaciona com o que
percebemos e o modo como percebemos a realidade. Esse modo fala a respeito da
intencionalidade inerente no processo de percepção. Um fato importante que
permeia o processo de percepção é apontado por Ribeiro (2006, p. 22) quando diz
que “não captamos o que vemos e percebemos como necessariamente o que
vemos e percebemos. Vemos a realidade apenas com os olhos do rosto e da mente,
restando toda uma realidade que transcende à normal percepção”.
A partir do princípio figura e fundo, podemos afirmar com segurança, que em
nossa percepção, “percebemos totalidades e, dependendo das circunstâncias, algo
se destaca, torna-se mais proeminente, fica em primeiro plano – a figura, enquanto o
restante permanece em segundo plano – o fundo” (FRAZÃO, 2013, p. 102).
ARAÚJO (2012, p. 112) corrobora apontando que “a percepção não se
constitui na mera soma de dados sensoriais recebidos passivamente pelo indivíduo.
43

Ela é um processo ativo e sempre se refere ao todo (holos) organizado sob uma
forma ou estrutura de conjunto, uma Gestalt”. Noutras palavras, é a totalidade que
afeta nossa percepção da realidade.
A partir dessa conceituação, emerge um conhecimento fundamental para os
nossos estudos. A compreensão do que seja gestalt. Frazão (2013, p. 102) postula
que “figura e fundo integram o que chamamos de Gestalt, configuração ou
totalidade. Não se pode falar numa gestalt sem considerar figura e fundo”.
Congruente a essa compreensão, afirmamos que figura e fundo não são
entes estáticos, portanto, se transfenomenalizam de forma reversível – um no outro
– e ainda mais, podem se alternar de acordo com o cenário e circunstância. Ou seja,
se imbricam num processo continuado de formação e destruição de gestalten
(FRAZÃO, 2013).
Figura e fundo, na verdade, formam uma relação intrínseca na qual um não
se concebe sem o outro. Não se pode, portanto, falar em figura sem falar de fundo, e
vice e versa. São conceituações complementares, interdependentes, dinâmicas e
fluídas (RIBEIRO, 2006).
Nesse cenário de fluidez de gestalt-gestalten, Perls, Hefferline e Goodman
(1997, p. 36) nos ensinam que “a vida saudável propriamente dita é a expressão da
fluidez no processo de formação figura/fundo, no qual as necessidades dominantes
do organismo são satisfeitas segundo sua emergência”. E acerca desse processo na
estrutura de reversibilidade figura-fundo e necessidades, Perls, Hefferline e
Goodman (1997, p. 35) apontam que “na luta pela sobrevivência, a necessidade
mais importante torna-se figura e organiza o comportamento do indivíduo até que
seja satisfeita, depois que ela recua para o fundo (equilíbrio temporário) e dá lugar à
próxima necessidade mais importante agora”.
Nesse panorama, Ribeiro (2006, p. 125) nos faz perceber que

Somos movidos por nossas necessidades, que, por sua vez, são movidas
pelas nossas motivações. Quanto mais motivados por um desejo, mais
tendemos a torná-lo necessário. Talvez pudéssemos afirmar que desejos
estão ligados à figura e necessidades estão ligadas ao fundo.

Exemplificando empiricamente tal conceito, Rodrigues (2011) assertivamente


nos ensina a esse respeito. Segundo o autor quando uma pessoa tem uma
necessidade, a título de exemplo, a fome. Essa pessoa então sai de casa à procura
44

de um restaurante para atender a sua necessidade. Nessa busca encontrará pelo


caminho, estabelecimentos comerciais como farmácias, livrarias e padarias. Até que
consegue encontrar um restaurante. Neste cenário, temos o processo da fome e o
restaurante como figura. Por outro lado, todo o cenário comercial do caminho –
composto por farmácia, livrarias e padarias – eram o fundo. Enendendo melhor,
Rodrigues (2011, p. 112) aponta que

toda vez que nossa atenção se volta para algo busca uma figura, essa
busca sempre se realizará sobre um fundo. O fundo é na verdade para onde
olhamos, para onde direcionamos nossa busca pelo que precisamos, que
não nos chama a atenção, até que finalmente encontramos o que
precisamos. [...]. Em última análise, ‘fundo’ é tudo, o que nos cerca, nós
próprios, nossa história... Enfim tudo o que possa servir como contexto para
o surgimento de algo. 

Um ponto fundamental no âmbito desse estudo, é que o sentido presente


numa figura nasce e flui da relação figura-fundo. Ou seja, o significado não é
determinado por um ou outro considerado isoladamente, e sim da gestalt que
emerge (FRAZÃO, 2013).

2.5.2 Aqui e agora

Abordaremos o conceito gestáltico do aqui e agora referenciando


apropriadamente na instância da espacialidade e temporalidade. Falaremos de sua
conjuntura psíquica e das possibilidades prática associadas a tal formulação
conceitual.
Ao falarmos acerca do conceito aqui e agora, remetemo-nos à estrutura do
espaço e do tempo presentificados no psiquismo humano. A esse respeito Augras
(1993) fala que desde tempos longínquos, a humanidade buscou perscrutar o fluir do
tempo enquanto entidade psicológica atrelada ao espaço.
Husserl (1994), por seu turno, direcionou também suas perquirições para o
modo de viver o tempo e sua ressonância no espaço. Uma vez que na sua
caminhada fenomenológica, herdou de Brentano, a ideia de que o presente tal como
se vive, é na verdade uma reverberação contínua das modificações do passado.
Portanto, a partir dele, constrói-se o significado da espacialidade como experiência
psíquica do fluir do tempo na consciência.
45

Ribeiro (2006, p. 69) afirma que “quando dizemos aqui e agora, um não pode
ser pensado sem o outro, um não destrói o outro e, de certa forma, um constitui o
outro. Aqui e agora significa presença total de um dado em questão. Estou
totalmente presente”.
Acerca disso, Ribeiro (2012, p. 79) afirma que

[...] estar no aqui e agora significa que este aqui e agora contém e explica a
minha relação com a realidade como um todo, ou seja, o que eu vejo, o que
eu percebo agora pode ser explicado pelo agora, sem necessidade de
recorrer a experiências passadas de percepção.

Avançando nosso entendimento acerca do aqui e agora, Husserl (1994) nos


chama a atenção para dois pontos: a noção de tempo sentido e a noção de tempo
objetivo. Sendo que o tempo sentido, refere-se à experiência intrapsíquica, isto é, a
experiência subjetiva da realidade vivida. E o tempo objetivo, trata-se da realidade
percebida de forma metrificada, por meio do cronômetro, dos acontecimentos,
circunstâncias e fatos concretos. Ambos geram percepções distintas de espaço na
estrutura cognitiva.
E Perls (2002) traz sua contribuição nos ensinando que a única realidade
existente do ser, é o presente. E o que presente é que determina eventos espaço-
tempo humanos conscientes. E que a falta de contato com esse presente, gera um
movimento direcionador para o passado ou para o futuro. Portanto, o presente, o
aqui e agora é a única possibilidade para o ser. Ou seja, o agora engloba
exatamente tudo que existe. Pois, o passado já se foi e o futuro, não é ainda uma
possibilidade concreta. Como afirma Perls (2002, p. 148) “o passado só existe
enquanto puder se fazer sentir no presente, da mesma forma como o futuro não é
mais que uma possibilidade que se abre na atualidade”.
Com isso, o construto aqui e agora, auxilia o sujeito na contingência de
(re)experienciar sua situação íntima - problemas, traumas, situações inacabadas –
no presente, isto é, no aqui e agora. Com isso, efetiva-se cenário para a tomada de
consciência. A esse respeito Ginger e Ginger (1995) mencionam que a tomada de
consciência da experiência no aqui e agora, reabilita a percepção emocional e
corporal, integrando assim, a dimensão sensorial, afetiva, intelectual, social, cultural
e espiritual.
Complementando a exposição acima, Rodrigues (2011) nos ajuda a entender
que o aqui e agora, é uma proposta que visa auxiliar o sujeito em terapia, a enfocar
46

o presente, no sentido de ficar nele. Ou seja, falar dele. Com isso o sentido do estar
no aqui e agora, é: ao falar do presente, permanecer nele, não devanear, perdurar
com o discurso no aqui-agora. Essa estratégia é adotada, para seguramente, se
evitar a problemática do sujeito substituir o contato com sua experiência, por
explicações dessa experiência, ou seja, trocando fatos vividos por expressões
proferidas (POLSTER; POLSTER, 1979).
E no ressonar das palavras de Rodrigues (2011, p. 62), podemos ler que
“uma vez que a pessoa apresenta um problema, no presente, e busca-se no
presente como tal problema é mantido”. Ou seja, só podemos nos compreender
como ser humanos que somos perpassados pela tridimensionalidade temporal –
passado, presente e futuro – e empreender qualquer processo de enriquecimento e
crescimento em nossa intimidade, no aqui e agora.
Complementando o exposto acima, finalizaremos citando um diálogo do filme
Poder além da vida, de 2006, no qual encontramos a seguinte lição: “Que horas
são? - Agora. Onde você está? - Aqui. O que você é? - Este momento”.

2.5.3 Awareness

Iremos falar agora sobre o conceito de awareness. A respeito deste termo, o


mesmo tem sua gênese no ano de 1947, na obra Ego, Fome e Agressão do
psicoterapeuta e psiquiatra Friederich Salomon Perls. Nesta época, Perls fazia sua
transição da psicanálise para a Gestalt-terapia. Em face de tal ocasião, Perls decide
não mais trabalhar com o aporte da associação livre e sim partir para a técnica da
concentração no contato, alicerce para o processo de awareness (PERLS, 2002).
Na obra supra citada, Perls fala da técnica de concentração no contato, como
uma maneira da pessoa estar plenamente presente no que está pensando, falando,
sentindo ou fazendo. Ou seja, conectada conscientemente no aqui e agora, se
presentificando no que está acontecendo neste momento, com plena percepção
sensorial do que está sendo experienciado (PERLS, 2002).
O termo awareness nos fala da consciência aprendendo a se presentificar
para vivenciar a globalidade dos fatos, circunstâncias e/ou momentos
experimentados pela pessoa. Incluindo neste processo de apreensão da realidade,
as sensações corporais, bem como as emoções e os sentimentos vivenciados pela
pessoa numa dada situação, tornando-a uma auto-observadora contumaz de si
47

mesmo (MACHADO; LIMA; FERREIRA, 2011). Sobre esse processo Farah (2009, p.
310) relata:

Nesse processo de autoconhecimento, de olhar para si mesmo é que o


cliente pode vir a conhecer a sua própria essência, as suas sensações de
maneira mais genuína e com clareza das interferências externas. Cada ser
humano é único e dessa forma cada um experimenta o mundo de maneira
própria e singular. Dessa maneira, o melhor observador de cada um é si
mesmo, pois só o próprio indivíduo é quem vai poder saber ao certo o que
experimentou, e assim pode descrever, através da fala ou expressão
corporal, o que sentiu.

Neste ponto, Souza e Vieira (2016, p. 4) descrevem a awareness “como um


processo pelo qual a pessoa se torna consciente de sua própria consciência, aqui e
agora, no mundo. A consciência ocorre quando as percepções, emoções,
sentimentos e pensamentos trabalham juntos”.
Como aponta Oliveira e Mendonça (2020, p. 18), awareness “trata-se de uma
consciência de apreensão de totalidades, em que todo o ser se resume em um único
ato de cognição emocional. Essa consciência ocorre quando todas as percepções,
emoções e pensamentos da pessoa trabalham conjuntamente”.
Completando o esboço acima sobre awareness, Yontef (1998, p. 215) postula
que “awareness é uma forma de experienciar; é o processo de estar em contato
vigilante com o evento mais importante do campo indivíduo/ambiente, com total
apoio sensório motor, emocional, cognitivo e energético”. Levando psicologicamente
o indivíduo a um continuum ininterrupto de percepção e compreensão.
Nas minhas palavras, é um dar-se conta com plenitude de presentificação,
integrando percepção sensorial, emocional e mental a respeito do que está se
vivendo no aqui e agora, dentro da intimidade da nossa subjetividade.

2.5.4 Estilos de contato

Estilos de contato é um conceito que se articula com a forma como o homem


se relaciona. Quer seja consigo próprio, quer seja com o outro ou ainda com o
mundo que o cerca. Tal concepção foi pensada embrionariamente por Perls na sua
obra Gestalt Therapy Verbatin em 1969 (GINGER; GINGER, 1995).
Posteriormente esse conhecimento original de Perls se expandiu nas mãos de
autores renomados da Gestalt-terapia como Erving Polster e Miriam Polster, Sylvia
Croker, Zinker e Paul Goodman. A esse respeito Ribeiro (2007) compartilha conosco
48

a expansão e o desdobramento desse saber, que atualmente configura-se em 9


estilos de contatos, a saber: 1. Fixação, 2. Dessensibilização, 3. Deflexão, 4.
Introjeção, 5. Projeção 6. Proflexão, 7. Retroflexão, 8. Egotismo e 9. Confluência.
Todas as possibilidades acima, representam formas para compreendermos os
processos interacionais de uma pessoa. Que podem se manifestar com intensidade,
fluxo ou fixação em cada um deles (RIBEIRO, 2007).
Abaixo se encontram todos eles devidamente conceitualizados e
delineados.
 Fixação: Processo de apego excessivo a pessoas, ideias ou coisas. A
pessoa nao se sente capaz para explorar novas possibilidades e situações,
e assim permanece fixado em coisas, acontecimentos, circunstâncias e
emoções (RIBEIRO, 2007).
 Dessensibilização: Processo de entorpercimento ou frieza frente a um
contato, e com isso perde-se o interesse por sensações/emoções novas
e/ou mais intensas (RIBEIRO, 2007). Compreendido por (JOYCE; SILLS,
2018) como uma forma de evitar o contato ou torná-lo mais presente e
fluído.
 Deflexão: Processo de evitação de contato ou contato de maneira vaga,
superficial, indireta ou inexpressivo (RIBEIRO, 2007). Em determinadas
situações como luto, perdas, separação, abuso, sofrimento intenso, são
consideradas formas de deflexão totalmente adaptativas.
 Introjeção: Processo de aceitar as opiniões arbitrárias, normas e valores
pertencentes à outrem. Trata-se do mecanismo de assimilar conteúdos e
ideias que não são próprias da pessoa e sim dos outros (GINGER;
GINGER, 1995). Tendência forte de engolir coisas sem se posicionar,
refletindo medo e inabibilidade em lidar com a própria agressividade. Se
posiciona em postura de submissão e autodesvalorização (RIBEIRO,
2007).
 Projeção: Processo no qual se tem dificuldade em identificar o que é seu.
Portanto, se responsabiliza e se terceiriza para o outro qualquer fracasso,
ou resultando ruim. Com intensa, profunda e reativa postura de
desconfiança, a pessoa sente-se ameaçada e perseguida (RIBEIRO,
2007). Assim sendo, a pessoa arremete para o outro seus próprios
49

conteúdos de forma alterada e camuflada (PERLS, 1988)


 Proflexão: Processo no qual a pessoa deseja que o outro seja como ela
deseja que o outro seja. Ou ainda, a pessoa deseja que o outro seja como
ela é. A pessoa faz ao outro o que gostaria de fazer a si mesma ou que o
outro lhe fizesse (CROCKER, 1981). Há forte presença de lamentação pelo
fato do outro nao satisfazer as necessidades da pessoa como ela quer que
seja satisfeita (RIBEIRO, 2007).
 Retroflexão: Processo em que a pessoa deseja ser como os outros
desejam que eIa seja, ou ainda deseja que ela seja como eles mesmos
são (RIBEIRO, 2007).
 Egotismo: Processo através do qual a pessoa se coloca como centro das
atenções. Culmina com a imposiçao de sua vontade e seus desejos aos
demais. Com severa dificuldade para dar e receber (RIBEIRO, 2007).
Tenório (1994) expõe que é semelhante ao funcionamento narcisista, na
qual as relações são totalmente inautênticas e se considera o eu em
detrimento do tu ou do nós.
 Confluência: Processo no qual a pessoa se liga fortemente aos outros,
sem no entanto diferenciar o que é dela e o que é dos outros. Culmina
obedecendo aos valores e atitudes dos outros, inclusive aceita
passivamente que tomem decisões por si (RIBEIRO, 2007).
Essas constatações com relação aos estilos de contato, nao se configuram
como instrumento para classificação ou rotulagem. São descrições que nos auxiliam
a compreender o processo de contato de uma pessoa.

2.5.5 Fronteira de contato

Para falarmos acerca do conceito de fronteira de contato, precisamos levar


em consideração a perspectiva de campo. Sem a Teoria de Campo, esse conceito
se torna inintendível. Por essa compleição, campo é compreendido aqui como o
processo/mecanismo de interação organismo/ambiente (SCHILLINGS, 2012). Nesse
tocante, Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 43) expandem tal compreensão
apontando que “toda função humana é um interagir num campo
organismo/ambiente, sociocultural, animal e físico”. Expressando metaforicamente
acerca da formação do campo, pode-se assegurar que este é como uma estrutura
50

permeável responsável pelo contato do ser humano com a realidade ambiente. Este
se configura pela proposta do relacionar-se. Sem relacionamento, não há campo.
Contingente a esta perspectiva de campo, Ribeiro (2006, p. 132) “preconiza
que somos, necessariamente, seres de relação (conosco e com o mundo), por
conseguinte, seres em contato, não há como pensar contato como algo abstrato, ou
só da pessoa ou só do mundo”. É nesse entremear que a concepção de fronteira de
contato desabrocha, visando intermediar essa relação da pessoa e seu ambiente.
E assim, nessa interatividade pessoa/ambiente, emergem os mecanismos de
subjetivação do sujeito, produzida nas conexões dele com o mundo. Portanto a
proposta de subjetivar-se é uma função da fronteira de contato. Nesse tocante Fritz
Perls (1988, p. 31) aponta que:

O estudo do modo que o ser humano funciona no seu meio é o estudo do


que ocorre na fronteira de contato entre o indivíduo e seu meio, é neste
limite de contato que ocorrem os eventos psicológicos. Nossos
pensamentos, ações, comportamentos e nossas emoções são nossa
maneira de vivenciar e encontrar esses fatos limítrofes.

Ou seja, os eventos psicológicos que se decompõem em pensamentos,


ações, comportamentos e emoções, como propostos por Perls, constituem nossos
mecanismos de subjetivação. Que por sua vez, fluem na fronteira de contato, por
meio da conectividade pessoa/ambiente. Somente assim é que estes podem se
constituir e se presentificar na nossa psiquê.
Contíguo a essas pontuações, Ginger e Ginger (1995) afirmam que a
interseção da fronteira entre o eu mesmo e o mundo denomina-se fronteira de
contato. E continuam ensinando a esse respeito, demarcando que

Como já lembrei, a pele é uma ilustração concreta e ao mesmo tempo uma


metáfora: por um lado, ela me protege e me delimita (ela é minha fronteira)
mas, por outro lado, é um órgão de trocas com meu meio, através das
terminações nervosas e dos poros (ela é um órgão de contato) (GINGER;
GINGER, 1995, p. 127).

Portanto, a fronteira de contato, constitui o mecanismo composto e ao mesmo


tempo responsável pelas dinâmicas, mútuas e incontáveis trocas que transpassam a
interconectividade do campo organismo/ambiente.
Um ponto fundamental nestes escritos, é que essa interação
organismo/ambiente ocorre no que é denominado de "fronteira”. Fronteira que
emerge a partir do contato. E a fronteira de contato emergente, “não é algo fixo e
51

não pertence nem ao organismo nem ao meio: é o que os conecta


indissociavelmente” (SCHILLINGS, 2012, p. 117).
Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 43) confirmam apontando que

Quando dizemos “fronteira” pensamos em uma “fronteira entre”; mas a


fronteira - de - contato, onde a experiência tem lugar, não separa o
organismo e seu ambiente; em vez disso limita o organismo, o contém e
protege, ao mesmo tempo que contata o ambiente.

Ratificando as colocações acima, Ribeiro (2006, p. 132) comenta que: “se


pensamos fronteira como o ponto ou o lugar no qual duas realidades se encontram e
se tocam, afirmaremos que o conceito é estático, perdendo o seu aspecto dinâmico”.
Ou seja, tal conceituação, não se refere a algo parado, inerte e estático.
Inauguramos assim um outro olhar, bem mais diligente, enérgico e desenvolto sobre
a fronteira de contato.
Especificando melhor, necessita-se “deixar de lado a ideia de fronteira [...]
como lugar onde o contato ocorre, porque, na realidade, ele ocorre no campo total”
(RIBEIRO, 2006, p. 133). Em outros termos, podemos afirmar juntamente com
Ribeiro (2006), que todos os integrantes que compõe um dado campo, em algum
momento, se contatam entre si, num processo de trocas que perpetuam esse
campo, constituindo uma fronteira de contato.
Salomão, Frazão e Fukumitsu (2014, p. 49) corroboram afirmando que
“embora pensemos fronteira como ‘lócus’, lugar, isso não significa um lugar
predeterminado ou um órgão específico, tampouco algo fixo, mas algo que muda de
acordo com as circunstâncias, demandas, necessidades”. Depreende-se daí, que ao
falar de fronteira, naturalmente remeter-nos-emos ao conceito de “fronteira entre",
concepção que pressupõe separação. O fato peremptório, é que a fronteira de
contato, local no qual a experiência se faz presente, não denota ou conota a ideia de
separar ou melhor dizendo, desvincular organismo do ambiente. Enfim, trata-se de
um lócus que contém o organismo e ao mesmo tempo contata o ambiente.
Consultando Fonseca (2005, p. 32), este considera que “o conceito de
fronteira-de-contato pode ser apreendido muito mais na perspectiva temporal do que
na físico-espacial, por abrigar a transformação e todos os afetos implicados no
processo de vir-a-ser”. Essa abordagem alude ao composto fluído pessoa/ambiente
e às experiências que aí são vivenciadas. Ponto de vista que é reafirmado por Alvim
(2010, p. 66): “A fronteira de contato não é fronteira física, dimensão espacial, mas é
52

demarcação temporal que indica o momento em que se inicia o processo de contato:


quando há a experiência de encontro com a novidade ou diferença”.
Depreende-se a partir daí, que a definição acima postulada, pode também
traduzir e apontar o estilo de relação das pessoas no seu contato com o campo. O
que nos remete ao fato de que a “fronteira de contato é dotada de plasticidade e
permeabilidade. Lembrando que plasticidade e permeabilidade da fronteira não são
fixas e absolutas – sua adequação dependerá da relação organismo/meio a cada
momento” (SALOMÃO; FRAZÃO; FUKUMITSU, 2014, p. 54).
Tal característica da fronteira de contato, formulada acima, nos traz o
seguinte ensinamento: plasticidade tem a ver com a possibilidade de expansão e
retração da fronteira. Expansão se dá mediante momentos de conforto, segurança e
disponibilidade suficientes. Quando temos situações de ameaça ou perigo a
possibilidade é a de retração (SALOMÃO; FRAZÃO; FUKUMITSU, 2014).
Concluindo essa exposição sobre fronteira de contato, afirmamos ser ela, que
permite a possibilidade de crescimento, de mudança, de escolhas, de construção da
individualidade e da identidade do ser humano, enquanto ser de troca e
interatividade interdependente com o ambiente.

2.5.6 Teoria de campo

O conceito acerca da Teoria de Campo, foi estudado notoriamente por Kurt


Lewin, que inclusive foi o criador dessa teoria. Conforme Ribeiro (2012), Kurt Lewin
na Teoria de Campo, representa a pessoa como um campo fechado que, no
entanto, se encontra inserida dentro de um universo mais amplo com o qual se
encontra necessariamente em relação, sendo esta relação perpassada pela
presença de inúmeras forças.
Lewin (1975) interessa-se em descrever todas as forças presentes em dado
momento de vida da pessoa, para que determinado comportamento ocorra. Pontua
que essas forças são inerentes ao momento pontual de vida da pessoa, podendo
com o tempo variar, neutralizando-se, aumentando ou diminuindo de intensidade.
Lewin buscou um método mais próximo da descrição dos fatos do que um
que se baseasse em hipóteses prévias sobre eles, tendo como foco de seu trabalho
o campo psicológico e a totalidade de forças que podem interferir no comportamento
de uma pessoa em determinado tempo e lugar (RODRIGUES, 2013).
53

Na prática o que se percebe é que para Lewin, as forças atuantes no campo


se constituem do meio psicológico, do meio não-psicológico e do espaço vital, sendo
que estas três partes se comunicam formando um todo. Sendo o meio psicológico o
mundo subjetivo-fenomenológico pertinente à pessoa, o meio não-psicológico refere-
se ao ambiente e seu contexto geográfico-histórico e, por fim, o espaço vital é
constituído pela interação das necessidades do indivíduo com o ambiente
psicológico, e o mesmo é dotado de duas regiões: a pessoa e o ambiente (LEWIN,
1973).
E essas três instâncias acima mencionadas, se inter-relacionam durante todo
o tempo fazendo com que o campo seja sempre dinâmico e não estático (RIBEIRO,
2012). A esse respeito, Vogel (2012) complementa inferindo que campo é formado
por todos os eventos da vida de uma pessoa que possam influenciar o seu
comportamento, sejam eles passados, presentes ou futuros.
Ribeiro (2012) ada Gestalt, como Köhler e Koffka, definiram que o
comportamento se realiza num campo psicofísico, que possui uma organização
própria. Nele existem ego e o meio/ambiente, e cada um deles tem, por sua vez,
uma estrutura própria.
Na Teoria de Campo de Lewin, o meio onde o indivíduo está inserido é
fundamental para a sua compreensão. Não é possível saber de que pessoa falamos
sem olhar para o todo que compõe sua existência, do qual faz parte também o
mundo que a cerca. Conhecer alguns aspectos de uma pessoa não equivale a
conhecer toda a pessoa, uma parte nos dá certas notícias do todo, mas não é o todo
(RODRIGUES, 2013).
Silva e Alencar (2011) postulam que é no campo que a energia vital do ser
humano circula para satisfazer suas necessidades, diminuir tensões, reestruturar
seu espaço vital. Yontef (1998) comenta que os vários campos que permeiam a
existência de cada indivíduo são totalidades únicas onde existem energia, forças e
tensões que atuam dinamicamente.
Completando as pontuações acerca da Teoria de Campo, Yontef (1998),
distingue cinco pressupostos da mesma: 1) um campo é uma teia sistemática de
relacionamentos, uma totalidade de forças mutuamente influenciáveis; 2) um campo
é contínuo no tempo e no espaço; 3) tudo é de-um-campo, isto é, objetos e
organismos existem somente como parte de um campo e têm significado somente
como interação nesse campo; 4) os fenômenos são determinados pelo campo todo,
54

os significados derivam da totalidade dos fatos coexistentes; e 5) o campo é uma


totalidade unitária, em que qualquer parte ou tudo, afeta todo o resto no campo.

2.5.7 Teoria organísmica

A teoria organísmica é conhecida como Teoria Organísmica-holística. Trata-


se da sinergia entre a teoria de dois autores, Teoria do Holismo de Jam Smuts e
Teoria Organísmica de Kurt Goldstein. Este conceito nos traz a ideia e concepção do
todo, da totalidade, de uma visão global não só do homem bem como de toda e
qualquer situação na qual ele esteja envolvido (SILVA; ALENCAR, 2011).
Diante dessa definição, Ribeiro (2006) descreve que se faz necessário
abandonar concepções pequenas, reducionistas e fragmentadas a respeito do
homem e “recuperar a perspectiva cósmica de que somente a totalidade contém a
explicação das partes” (RIBEIRO, 2006, p. 55).
Kurt Goldstein no processo de constituir a Teoria Organísmica, recebeu
decisivas e marcantes influências paradigmáticas do holismo e da psicologia da
gestalt. Seus estudos respaldaram-se inicialmente nos constructos citados a pouco,
com o intuito de encontrar explicações para os complexos processo de percepção
no ser humano. Sua ideia a princípio, “era buscar um modelo holístico que pudesse
explicar as mudanças de personalidade apresentadas por pacientes que haviam
sofrido lesões cerebrais permanentes” (LIMA, 2005, p. 1).
A partir dessas contribuições, ele formulou assim algumas premissas acerca
da sua percepção de ser humano e que integram intrinsecamente sua teoria. De
acordo com Ribeiro (2006), as premissas são: 1. a pessoa é una, integrada e
consistente, 2. o organismo é um sistema altamente organizado, com o todo
diferente de suas partes, 3. o homem possui e é movido pelo impulso dominante de
autorregulação, 4. o homem tem dentro de si potencialidades que regulam seu
próprio crescimento. Goldstein considera o homem uma totalidade sempre diferente
do que a mera soma das suas funções, que até então eram estudadas pela
medicina e pela psicologia da época de modo dissociado (LIMA, 2013).
A Teoria Organísmica-holística significa uma postura de romper com o
paradigma reducionista e isolacionista com o qual as ciências médicas e biológicas
estavam comprometidas e assim cuidavam das pessoas. Ou seja, para se entender
o ser humano e seus processos mais íntimos, é preciso olhar para a realidade do
55

humano como um todo – eis a posição com a qual Goldstein pensava o homem,
como um organismo sempre em relação com o meio, o contexto geográfico,
sociocultural e físico do qual é um elemento indissociável (LIMA, 2013).
Corroborando o que foi dito acima, Pinto (2009, p. 81) “entende o ser humano
como um todo unificado, ou seja, por um lado, uma unidade psique-corpo-espírito e,
por outro, uma unidade indivíduo-meio”. E essas unidades interconectadas num
processo interdependente e amalgamado geram as estruturas que edificam a Teoria
Organísmica.
Podemos afirmar com segurança, que Goldstein ao estruturar seu
pensamento organísmico, buscou suas bases filosóficas na teoria do holismo. Uma
vez que sua proposta prima pela integração entre mente, corpo e meio. E no seu
trabalho, percebe-se que o ser busca autorrealização de acordo com as melhores
condições viáveis e possíveis no momento, tendo como palco a relação do homem
com o meio circundante (LIMA, 2013).
Delacroix (2009) destaca que a teoria organísmica nos entrega como legado,
o fato de que o homem é na verdade homem-mundo. Isto é, conexão-fluxo-
transformação. Assim, fica claro para nós, a visão de não-separatividade, pensando
o homem como um sistema complexo, em permanente interação entre suas partes e
o contexto, portanto, em contínua transformação com este e consigo, dentro da sua
totalidade.

2.5.8 Teoria do self

O conceito de self comumente propagado é o de self “como sendo a


personalidade de alguém, ou seja, a natureza-base de alguém” (BRADBERY;
DEUTER, 2015, p. 788). Trata-se de um termo bastante em uso na psicologia, bem
como na psicoterapia, para referir-se ao “si mesmo”. A esse respeito, Ribeiro (2007,
p. 42) contribui pontuando que há “várias definições de self, entre as quais estas:
qualidades especiais, natureza da pessoa, a natureza mais nobre de alguém. [...] a
união dos elementos que constituem a individualidade e a identidade da pessoa”.
Por essa definição, presume-se o self, como uma parte circunscrita de cada pessoa.
Portanto, integrante da mesma, ainda que separada.
Como contraponto, frente o olhar da Gestalt-terapia, a concepção de self é
diferente desta postulada acima. Uma vez que este se faz entremeado pela estrutura
56

da fenomenologia enquanto constituinte da subjetividade. Assim sendo, por esse


viés, podemos verificar que a concepção de self em Gestalt-terapia, aparece
inicialmente na obra Ego, Fome e Agressão de Friederich Salomon Perls, lançada
em 1942. Nesta obra, encontra-se uma perspectiva diferenciada para definir self
(TÁVORA, 2012).
No texto de Ego, Fome e Agressão, não há ainda uma descrição
pormenorizada de self. Ele aparece na seguinte colocação de Perls: “apenas onde e
quando o self encontra o 'estranho' é que o Ego começa a funcionar, a existir, a
determinar a fronteira entre o 'campo' pessoal e o impessoal” (PERLS, 2002, p. 212).
Esta formulação inicial, lança as bases do que posteriormente caracterizará o self.
Ou seja, um processo de fronteira e função de contato.
Por conseguinte, ao falar sobre a Teoria do Self, estamos na verdade,
aludindo à Teoria do Sujeito, ou ainda à Teoria do Si Mesmo. Portanto, reportamo-
nos diretamente aos modos de subjetivação do ser. Para compreender com precisão
o conceito de self em Gestalt-terapia, precisamos necessariamente entender acerca
de temporalidade e campo. Temporalidade entendida no contexto desse trabalho,
como uma condição intrínseca do ser humano – uma vez que não se pode falar de
ser humano desvinculado de sua dimensão temporal, o tempo é um elemento sine
qua non que perpassa o existir humano – e campo por sua vez, compreendido como
possibilidade do ser humano SER – se constituir, se fazer e também relacionar-se.
Sem essas duas perspectivas, self não pode ser apreendido em sua essência fluída
e dinâmica.
Avançando nossos horizontes de compreensão do conceito de self, temos a
contribuição de Friederich Salomon Perls, em sua obra Gestalt-terapia de 1951,
postulando que self é “a função de contatar o presente transiente 8 concreto”
(PERLS, 1997, p. 177). Noutros dizeres, depreende-se a partir daí, que self é
contato. Contato esse que ocorre no aqui e agora, no presente, num instante
impermanente, passageiro, transitório e simultaneamente concreto, palpável e com
significado.
Por essa perspectiva paradigmática, notabiliza-se self, como um processo
relacional (atravessado pela temporalidade e pela perspectiva de campo) e não
como uma estrutura, uma disposição topológica, um lugar definido ou lócus psíquico,
conforme comumente é acreditado e defendido em outras abordagens da ciência
8
Transiente refere-se ao que não permanece, passageiro, transitório.
57

psicológica. Com isso, o self se apresenta como contato presentificado na


experiência incontinenti. Afirmamos assim que, self, se configura como um
relacionar-se com o momento presente, que é o agora e, de repente já não é mais.
Corroborando esse cenário conceitual, Robine (2006, p. 12) nos aponta que
self “existe como entidade, mais ou menos flutuante e latente, que, de vez em
quando, se exterioriza graças ao contato”. Doravante a esse panorama do contato,
no momento em que o organismo dialoga/contacta com o ambiente, é que o self
legitima sua conjuntura, abrangendo a totalidade de contatos já realizados e ainda
presentes no acervo/repertório do ser.
Frente às exortações oportunizadas até o momento, os autores Ginger e
Ginger (1995, p. 125) nos apresentam o self como “processo permanente de
adaptação criadora do homem ao seu meio – interior e exterior”. Perante essas
colocações, Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 235) referem-se ao self como
sendo o “sistema complexo de contatos necessários ao ajustamento ao campo; é o
processo permanente de ajustamento criativo do Homem ao seu meio interior e
exterior”.
Ginger e Ginger (1995, p. 127) auferem que

de acordo com Joel Latner, o self é nossa maneira particular de estarmos


envolvidos em qualquer processo, nosso modo de expressão individual em
nosso contato com o meio. Ele é o agente de contato com o presente, que
permite nosso ajustamento criador.

Por sua característica de ajustamento criador/criativo, o self em Gestalt-


terapia, não se configura como uma entidade fixa, nem muito menos uma estrutura
ou instância psíquica. É sim, um processo notadamente subjetivo/pessoal com sua
idiossincrasia própria. Uma idiossincrasia que se caracteriza como “modo de reagir,
num dado momento e num dado campo, em função de seu ‘estilo’ pessoal. Não é o
seu ‘ser’, mas seu ser no mundo, variável conforme as situações” (GINGER;
GINGER, 1995, p. 126). Completando, afirmamos que o sistema self de contato é
ação. Linguisticamente falando, o ser não é um self como substantivo e sim como
verbo, como ação. No self, o ser é um processo de tornar-se, de fazer-se. Ou seja, é
instância de ajustamento criativo ou reinvenção/ressignificação/recuperação do
sentido a partir do contato. Por isso se fala no gerúndio, usando as seguintes
nominalizações do vernáculo: “sendo”, “selfando”, “se tornando”, “selfing” – todas
essas nominalizações equivalem ao vocábulo sendo.
58

A partir dessas pontuações, afirmamos seguramente que o conceito de self


em Gestalt-terapia, é muito “diferenciado das ideias de entidade fixa, instância
intrapsíquica, núcleo, estrutura ou essência encapsulada dentro do organismo ou da
personalidade” (TÁVORA, 2012, p. 194). Confirmando essas afirmações Ribeiro
(2007), diz que self, em Gestalt-terapia, jamais pode ser compreendido como sendo
uma instância fixa e imutável. Ele é entendido como sendo um processo, um fluxo,
que determina quem a pessoa é ou será em relação ao tempo e espaço no
momento presente, ou seja, é o EU se fazendo presentificado no contato do aqui e
agora.
Constata-se assim então que self não é um

“Si mesmo”, um agente ou subpessoa imerso em algum lugar “dentro” de


nós, entende-o como nosso processo básico para integrar o campo total da
experiência. Portanto, resulta mais útil pensar neste processo como
ocorrendo, metaforicamente, “no limite” da experiência, e não nas
profundezas privadas e preexistentes do indivíduo (WHEELER, 2005, p.
149).

Com isso, a Gestalt-terapia, nos deixa como legado acerca do self, as


contribuições de Goodman, demarcando a “deslocação e descentralização do self e
privilegiando seu reposicionamento como fenômeno de campo” (TÁVORA, 2012, p.
194). Ou seja, em Gestalt-terapia, self não designa um lugar ou lócus localizado
dentro psiquismo, e sim à uma instância relacional-holística presente no campo de
contato.
Para finalizar essa exposição acerca do self em Gestalt-Terapia, que como
vimos, não se esquadrinha e não se pauta por uma forma tradicional de pensar,
Yontef (1998) contribui com nossos estudos, trazendo que o self como campo e
temporalidade, também se expressa/opera por meio de 3 modos/funções: o Id, o
Ego/Eu e a Personalidade. A esse respeito, Ginger e Ginger (1995, p. 127-128)
expõem acerca dos mesmos:

• A função “id” é concernente às pulsões internas, às necessidades vitais e,


especialmente, sua tradução corporal: assim, o “id” me indica se tenho
fome, se sufoco ou se estou relaxado. Ele funciona em meus atos
automáticos: respirar, andar, até conduzir um carro pensando em outra
coisa. Meu “id, de certa forma, age sobre mim, quase à minha revelia. • A
função “eu”, pelo contrário, é uma função ativa, de escolha ou rejeição
deliberada: é minha própria responsabilidade limitar ou aumentar o contato,
manipular meu meio a partir de uma tomada de consciência de minhas
necessidades e de meus desejos. [...] • A função “personalidade” é a
representação que o sujeito faz de si mesmo, sua auto-imagem, que lhe
permite se reconhecer como responsável pelo que sente ou pelo que faz. É
59

a função “personalidade” de meu self que assegura a integração de minhas


experiências anteriores, a assimilação do que vivi ao longo de toda minha
história, é ela que constrói meu sentimento de identidade.

E esses três modos elucidados acima, constituem formas para fazer com que
o self apareça – com intensidade e precisão variável – de acordo com os momentos
vivenciados no campo. Como menciona Frazão (1995, p. 144) “o self é nossa
essência; é o processo de avaliar as possibilidades no campo, integrá-las e levá-las
à completude em função das necessidades do organismo”.
Conclui-se então, que sob o viés da Gestalt-Terapia, o self não é pensado
como uma estrutura. E sim como um processo que imbrica o sujeito ao campo
vivenciado por ele em sua temporalidade.

2.5.9 Experimento

O conceito de experimento foi originalmente apresentado no capítulo inicial do


livro Getalt Therapy – Excitement and Growth in the Human Personality no ano de
1951, escrito por Perls, Hefferline e Goodman. Neste excerto, os autores
descreveram e explicitaram temas fundamentais acerca de experimento, tais como:
ambiente terapêutico, reintegração de partes dissociadas, lidar com evitações, bem
como manejar criativamente os ajustamentos e processos de conscientização
(SALOMÃO, 2012).
Perls, Hefferline e Goodman (1997) pontuam que a função central de um
experimento é possibilitar obtenção de maior awareness por parte do cliente. Ele é
convidado a experienciar a si mesmo, no aqui e agora, a viver e estar no presente.
Neste sentido, “o experimento é um método de trabalho específico da Gestalt-
terapia [...] ele expressa a filosofia holística, organísmica, fenomenológica,
existencialista e experiencial da abordagem” (SALOMÃO, 2012, p. 103).
O foco primordial de um experimento, não é

descobrir o que está errado com o paciente e então contar a ele. O que é
essencial não é o terapeuta aprender algo sobre o paciente e então ensinar
isso a ele, mas o terapeuta ensinar ao paciente como aprender sobre ele
mesmo. Isso envolve ele estar diretamente aware de como, sendo um
organismo vivo, ele realmente funciona. Isso tem como base experiências
que são elas mesmas não verbais. Ou seja, por meio do experimento.
(PERLS, HEFFERLINE; GOODMAN, 1997, p. 28)
60

Durante o experimento, o terapeuta tem presença intensamente ativa, mas


não postura diretiva. “Há profundo respeito pela singularidade e possibilidades do
cliente, sua responsabilidade bem como sua auto-regulação. O cliente durante o
experimento é considerado seu próprio instrumento de trabalho” (SALOMÃO, 2012,
p. 104).
Como ensina Ribeiro (2006, p. 109) “o experimento precisa ser a expressão
viva da dimensão de contato que o cliente pode fazer com ele mesmo no mundo,
naquele momento”.
Confirmando o exposto acima Perls, Hefferline e Goodman (1997, p. 25)
afirmam que através do experimento

Forneceremos um método pelo qual você pode conduzir uma investigação


sistemática e reconstrução da sua situação presente. O procedimento está
organizado para que cada passo ofereça uma base necessária para o
próximo. Você irá ao seu próprio ritmo. Em qualquer situação, você não irá
um passo à frente do que você desejar. [...] nós damos algumas instruções
para que, se você desejar, você possa lançar-se numa aventura pessoal
progressiva, aonde, pelo seu próprio esforço, você poderá descobrir algo
para o seu self - [...] organizá-lo e colocá-lo para uso construtivo para viver
sua vida.

O experimento procura auxiliar o cliente a sair da postura de falar sobre, para


a postura de sentir o que fala. Como adverte Zinker (1979, p. 106), o experimento
“ajuda a pessoa a arriscar uma nova maneira de expressar-se, ou pelo menos a leva
aos limites, a fronteira ou ponto a partir do qual ela necessita crescer”.
Uma grande contribuição com relação a este tema, adveio do casal Polster
(1979), que por seu turno, formalizaram tipos clássicos de experimentos. São eles: 1.
Representação: dramatização de algum aspecto da existência do paciente, situação
inacabada do passado, do presente, uma polaridade, 2. Comportamento dirigido:
prática voltada para comportamentos que estão sendo evitados e 3. Fantasia: para
pessoas que não se encontram disponíveis para o encontro, ou ainda que tenha
bloqueios de contato, bem como explorar aspectos novos de si mesmo.
Além desses tipos de experimentos elencados acima, Ribeiro (2006, p. 111)
menciona também:

A cadeira vazia, a fantasia dirigida, a cadeira quente, o trabalho de e com o


corpo, o trabalho com sonhos e outros, que tanto em trabalhos individuais
quanto de grupo proporcionam ao cliente e ao terapeuta uma possibilidade
rara de se expressarem com gestos que refletem melhor a pessoa por
inteiro.
61

Acerca das finalidades específicas do experimento, Zinker (1979, p. 22)


cataloga e enumera as seguintes:

1 - expandir o repertório de condutas da pessoa; 2 - criar aquelas condições


em que a pessoa possa ver sua vida como uma criação sua; 3 - estimular a
aprendizagem experimental da pessoa e a elaboração de novos conceitos
de si mesma a partir de criações no plano do comportamento; 4 - completar
situações inacabadas e superar bloqueios no ciclo de consciência-
excitação-contato; 5 - integrar compreensões intelectuais a expressões
motoras; 6 - descobrir as polarizações das quais não se tem consciência e 7
- estimular a integração de forças pessoais em conflito.

Finalizamos com uma frase de Ribeiro (2006, p. 112) afirmando


profundamente que o experimento “pode facilitar um trabalho mais integrado entre o
sentir, o fazer, o pensar e o dizer, dando ao terapeuta e ao cliente a sensação de
estarem levando seu barco a um porto mais certeiro e mais seguro”.

2.6 RELAÇÃO DIALÓGICA NO PROCESSO TERAPÊUTICO

Vamos falar a respeito da importância da relação dialógica no processo


terapêutico. O processo terapêutico pode ser compreendido como um método de
tratamento, por meio do qual, um profissional qualificado adequadamente, utiliza-se
de recursos psicológicos – notadamente da comunicação verbal e não verbal, bem
como da relação terapêutica – e realiza intervenções, tendo por finalidade auxiliar o
cliente na modificação de problemas de natureza emocional, cognitiva e
comportamental (CORDIOLI, 2008). Noutras palavras, o processo terapêutico visa
lidar com as inúmeras formas de sofrimento humano, tais como: transtornos
psicopatológicos, distúrbios psicossomáticos, traumas, crises existenciais, conflitos
interpessoais, estados de sofrimento etc.
A esse respeito, o Conselho Federal de Psicologia, na RESOLUÇÃO CFP N.º
010/00 DE 20 DE DEZEMBRO DE 2000, em seu Artigo 1º, define psicoterapia da
seguinte forma:

Art. 1º – A Psicoterapia é prática do psicólogo por se constituir, técnica e


conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e
intervenção que se realiza através da aplicação sistematizada e controlada
de métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática
e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando
condições para o enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de
indivíduos ou grupos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000).
62

Complementado a informação acima, afirmamos que o objetivo central de um


processo psicoterapêutico “é tornar os clientes conscientes do que estão fazendo
(aware), como estão fazendo, como podem transformar-se e, ao mesmo tempo,
aprender a aceitar-se e valorizar-se” (YONTEF, 1998, p. 16).
Para tal intento, a relação dialógica é mecanismo sine qua non. Segundo
Mendonça (2008), a expressão relação dialógica, alude ao formato específico de
psicoterapia que tem por base o diálogo. Este pressupõe que a existência humana é
processo relacional, uma vez que postula o homem como um ser no mundo, noutros
dizeres, um ser em relação. Com isso, não se pode elucubrar o humano sem pensar
em seu mundo de relações.
Hycner (1985, p. 29) apresenta para nós que, o cerne do processo
psicoterapêutico

é a crença ontológica de que a base “última” de nossa existência é, por


natureza, relacional, ou dialógica (...) realça a singularidade do indivíduo no
contexto relacional. A Gestalt-Terapia reconhece, profundamente, que nos
tornamos indivíduos singulares, apenas enquanto em relação com outros
seres humanos.

Sobre a expressão dialógica, Batista (2009, p. 17) comenta que a mesma


“não diz respeito a uma escola específica em Psicologia, mas a uma forma de o
psicólogo, seja qual for a sua orientação teórica, atuar na clínica privilegiando a
relação terapêutica construída a partir da atitude eu-tu”.
Congruente a isso, apontamos que na relação dialógica, referimo-nos a um
desejo de encontrar genuinamente o outro. Tanto o cliente encontra o terapeuta
como este o encontra. Os dois, mutuamente, estão ali para experimentarem
conjuntamente uma relação verdadeira um com o outro. No território do
desconhecido e do desvelar-se a si e ao outro, na imanência do encontro
(FERREIRA; PARREIRA, 2011).
Tendo isso em mente, aferimos que a relação “dialógica é uma forma de
psicoterapia baseada no encontro do terapeuta e seu cliente. O ponto central dessa
abordagem é colocar o encontro como tema central da psicoterapia” (AMORIN,
2012, p. 69).
Este processo nos conduz inexoravelmente às contribuições de Martin Buber.
Uma vez que Martin Buber é aclamado como filósofo do encontro e o primeiro a usar
em suas obras a expressão relação dialógica. Uma das suas mais sublimes
63

contribuições é a seguinte: o homem como ser no mundo, como ser de ralação,


pode adotar duas atitudes existenciais, as quais ele denominou de palavras-princípio
Eu-Tu e Eu-Isso (BUBER, 2001). No âmbito do tema a ser explanado neste item do
nosso estudo, nos ateremos à atitude Eu-Tu.
A relação Eu-Tu, é aquela que valoriza o outro na sua alteridade, de modo
que a outra pessoa é um fim em si mesmo, uma relação recíproca, direta,
estruturada no presente, no aqui e agora, que se volta inteiramente para o outro,
vivida pelo ser inteiro, com reconhecimento da singularidade e a nítida separação do
outro em relação a nós, sem que fique esquecida nossa relação e nossa
humanidade comum subjacente (HYCNER, 1985)
Nas elucidações sábias de Batista (2009, p. 18) encontramos que a “atitude
eu-tu, traduz nossa disponibilidade para o encontro com o outro. É uma atitude
genuína de valorização da alteridade com quem nos relacionamos, reconhecendo
tanto a sua existência singular como a nossa humanidade comum”.
De acordo com Ribeiro (2006), a proposta filosófica de Martin Buber, coloca
que o diálogo vai além dos parâmetros exclusivos da fala, ou seja, do discurso em
si. E sim que se arranja como ferramenta para transportar a intimidade do ser de
uma pessoa para outra, permitindo que o encontro verdadeiramente aconteça.
A relação Eu-Tu, se constrói, quando o Eu, se propõe a estar num
relacionamento autêntico com o Tu. Há abertura genuína e profunda para o encontro
Eu-Tu. Esse encontro, somente acontece na totalidade do ser, isto é, o Eu,
necessariamente precisa estar presente, inteiro e atento para o Tu, que por sua vez,
almeja concretamente se perceber inteiro e livre de quaisquer presunções ou
interpretações a priori (SOUZA; VIEIRA, 2016).
Uma característica fundamental da “atitude eu-tu é que, apesar da nossa
disponibilidade para o encontro, não podemos forçar a sua ocorrência, porque ele só
acontece quando há mutualidade, ou seja, quando a disponibilidade existe também
por parte do outro” (BATISTA, 2009, p. 18).
Diante do exposto até aqui, podemos pontuar seguramente que a relação Eu-
Tu, presume disponibilidade e reciprocidade, além de respeito, entrega e aceitação.
Por isso, trata-se de um encontro a dois, “livre de meios e de fins, de propósitos ou
teorias, de metas ou experiências. Exatamente por isso, torna-se transformador,
curador” (SOUZA; VIEIRA, 2016, p. 5). Nada é interposto entre o Eu e o Tu, nada de
conceitos, de esquemas e pressuposições. Com isso a relação é imediata.
64

Com os apontamentos feitos acima, podemos explanar com mais acuidade,


sobre a importância da relação dialógica no processo terapêutico. Hycner (1997)
vem em nosso auxílio, e nos ensina que no campo da psicoterapia, a relação
dialógica estabelece uma atenção toda especial ao “mundo do entre”, ou seja do que
acontece no encontro autêntico entre terapeuta-cliente. Motta, Assis e Satelis (2020,
p. 386) complementam dizendo que “a disponibilidade e a presença do terapeuta
evidenciam uma entrega ao reino do entre, ao campo do intersubjetivo no contexto
de psicoterapia”.
Podemos aprender por meio de Hycner (1995, p. 25) “o que Buber denominou
de entre, que se localiza do lado de lá do subjetivo, do lado de cá do objetivo, na
vereda estreita onde eu e tu nos encontramos”.
A esse respeito Hycner (1995, p. 55-56) menciona que “em uma abordagem
dialógica genuína, o terapeuta é visto como ‘alguém que está a serviço do dialógico’.
Isso significa, no seu sentido mais profundo, que a individualidade do terapeuta se
rende ao serviço do ‘entre’”.
Acerca desse “mundo do entre” supra citado, Jacobs (1997) infere que o
diálogo que emerge (seja verbal ou não verbal) pede por alguns ingredientes
favorecedores da relação dialógica terapeuta-cliente. São os ingredientes seguintes:
1) presença, 2) comunicação genuína e sem reservas e 3) inclusão. Tais
ingredientes serão elucidados a seguir.
O ingrediente presença é basilar no processo psicoterapêutico, ainda que
desafiador. Uma vez que demanda por parte do terapeuta, uma atitude de voltar-se
de forma atenta, inteira e íntegra para o ser do outro. Aqui, não há espaço para uso
de cobranças, expectativas e máscaras. É um espaço de permissão para aflorar o
sentimento de plenitude e autenticidade (HYCNER, 1997). Como diz Motta, Assis e
Satelis (2020, p. 386) “presença é abertura para o mundo fenomenológico do outro,
é possibilidade de estar junto”.
Já o ingrediente comunicação genuína e sem reservas é entendido por
Jacobs (1997), como sendo o diálogo puro e verdadeiro por si, livre de julgamentos
ou a priori. Nele o que se valoriza é a liberdade, a proximidade, bem como a
espontaneidade.
Por fim o ingrediente inclusão postula que no encontro com o cliente, o
terapeuta se torne um companheiro de viagem. Acompanhando a jornada, a história,
a fala e as expressões do cliente. Ou seja, se incluindo integralmente – durante o
65

tempo do encontro – na vida do cliente (JACOBS, 1997). Com isso, o terapeuta


“posiciona-se na experiência do outro, sem julgar, analisar ou interpretar e, ao
mesmo tempo, preservando a sua presença em si” (FIORAVANTE, 2016, p. 24).
Batista (2009, p. 20) completa afirmando que “nessa abordagem, o terapeuta deve
ter a atitude da mais completa disponibilidade possível, para tentar vivenciar a
experiência singular do seu paciente, mesmo que essa experiência seja
radicalmente oposta à sua”.
Hycner (1997) nos lembra de mais um importante elemento pertinente à
relação dialógica no processo da psicoterapia: a confirmação. Confirmar a
experiência trazida no diálogo pelo outro, indica que se deve estar disponível para
olhá-lo na sua unicidade e completude, no sentido de aceitá-lo como ele é e como
ele está, em sua totalidade. O efeito disso é que o outro se sente valorizado,
acolhido, honrado e confiante.
Assim, podemos afirmar seguramente, que a relação dialógica, permite
durante o processo psicoterapêutico, acolher assertivamente o mundo íntimo do
cliente e do terapeuta. Uma vez que “cada um de nós desenvolve vulnerabilidades
individuais baseadas em nossas vulnerabilidades existenciais inatas. Todos nós
temos feridas não cicatrizadas” (HYCNER, 1995, p. 112). Cabe ao terapeuta,
dialogicamente falando, assegurar espaço e tempo para estar incondicional e
genuinamente disponível para o outro.
Dessa forma, consegue-se de fato “levar o paciente a sentir-se compreendido,
e a engajar-se na aliança que tornará a relação terapêutica verdadeiramente
curativa” (BATISTA, 2009, p. 20). E assim verdadeiramente adentrar o “mundo do
entre” com o cliente, abrindo mão dos conceitos e verdades, sem a preocupação de
classificá-lo segundo um diagnóstico ou uma teoria. Apenas estando pronto para o
encontro genuíno terapeuta-cliente (HYCNER, 1995).
Concluímos dessa forma, assinalando que fica claro pelos apontamentos
acima ilustrados, que a relação dialógica é primordial no processo terapêutico, uma
vez que a mesma, possibilita a construção de lugar seguro, um espaço de abertura,
ajuda e acolhimento, permite uma mediação psicoterápica mais eficiente e assertiva,
auxilia na estruturação efetiva do vínculo terapeuta-paciente, proporciona clima de
bem-estar psíquico, confiança e segurança no setting terapêutico, favorece a
comunicação assertiva e o processo de reorganização psicológica-emocional no
cliente.
66

2.7 A POSTURA TERAPÊUTICA NA CLÍNICA GESTÁLTICA

Vamos agora explanar acerca da postura do terapeuta para o manejo efetivo


da clínica gestáltica. A esse respeito, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
define o verbete postura como sendo: a maneira de agir ou de se comportar. Ou
seja, trata-se da compostura atitudinal do terapeuta frente ao cliente, no sentido de
obter excelência técnica, no decorrer do seu exercício profissional.
A clínica gestáltica por excelência, está ancorada em um hepteto. Hepteto
esse composto por 4 arcabouços filosóficos e 3 teorias de base. Os arcabouços
filosóficos são: o Humanismo, o Existencialismo, a Fenomenologia e a
Dialogicidade; já as teorias de base, por seu turno, advém da Psicologia da Gestalt,
Teoria de Campo de Kurt Lewin e da Teoria Organísmica de Kurt Goldstein. Tal
hepteto se constituirá como fonte primordial, segundo à qual se engendrar-se-á a
matriz-postura do terapeuta na clínica gestáltica.
Pois, como se sabe, o terapeuta se presentificará técnica e humanamente,
diante da pessoa do cliente. E este, no que lhe toca, vai em busca de “um processo
terapêutico e que quase sempre é uma dor que o incomoda, o interrompe, o
mobiliza, mas que acima de tudo é uma dor que dói, que machuca e que de alguma
forma ele quer se livrar” (CUNHA, 2010, p. 349). O que o cliente verdadeiramente
procura, é ser ouvido, partilhar do seu jeito e da sua forma, aquilo que o fere. Aquilo
que ele não sabe ainda lidar sozinho.
Frente a essa perspectiva, inferimos por um lado que, a clínica gestáltica, por
sua natureza multifacetada, não possui um modelo direcionador para sua prática.
Sendo lícito afirmar a partir daí, que estamos diante de múltiplos fazeres dentro da
mesma abordagem psicoterapêutica. Por outro lado, notabiliza-se que a postura do
profissional, nessa configuração gestáltica, se preconiza e se parametriza pelas
recomendações ditadas pelo Código de Ética do Psicólogo, bem como na atitude de
acolhimento, empatia, escuta qualificada, époché dialógica, olhar fenomenológico,
troca reflexiva e humildade (CUNHA, 2010). Todas essas atitudes, integram o que
Cunha (2010, p. 347) chama de “movimentos chave de uma postura gestáltica”.
Começamos essa explanação pelo manuseio do Código de Ética do
psicólogo. Inclusive asseguramos ser esse o ponto inicial, melhor dizendo, o
ponto/marco zero para o terapeuta. Ele é a bússola que garante segurança para
67

quem procura pelo atendimento em psicologia. Através dele, garantir-se-á o sigilo, o


profissionalismo, e a responsabilidade no manejo técnico da profissão de psicólogo.
Por meio dele, ficam assegurados na clínica gestáltica: a) o respeito e a promoção
da liberdade; b) a promoção de saúde e qualidade de vida; c) o exercício da
responsabilidade social; d) o processo de se universalizar o acesso da população às
informações pertinentes à ciência psicológica e e) a eliminação de opressão,
exploração e violência (CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICÓLOGO,
2005). A presença da prática do Código de Ética por parte do profissional, viabiliza
conforto, segurança e confiança para o paciente.
Sendo assim, o primeiro ponto a ser manejado pelo terapeuta frente ao
cliente, é o processo de acolhimento. Este se constitui na construção de um espaço
seguro e confiável. A partir de então, o terapeuta oferta qualidade de presença e
suporte emocional; bem como apoio para livre expressão de sentimentos,
sensações e angústias (SCORSOLINI-COMIN, 2014). O terapeuta efetivamente se
faz disponível para ir ao encontro do cliente e dessa forma, oferta-lhe amparo.
Amparo este que se converte em abrigo e morada para sua dor.
Tal processo, somente se efetiva mediante a empatia. Empatia aqui é
entendida como capacidade através da qual o terapeuta compreende o cliente,
sentindo e percebendo o que acontece com o mesmo – como se estivesse
vivenciando sua experiência – sem que ocorra uma identificação emocional, ou
ainda qualquer julgamento moral. Rogers (1985, p. 72) complementa dizendo que é
“quando o terapeuta é sensível aos sentimentos e às significações pessoais que o
cliente vivencia a cada momento, quando pode apreendê-los 'de dentro' tal como o
paciente os vê”. Tal postura facilita o processo de abertura por parte do cliente, bem
como assegura condições favoráveis para que a relação terapeuta-cliente aconteça.
O terceiro ponto a compor a postura do terapeuta é a escuta qualificada. Para
entendermos com precisão do que se trata e seus efeitos condizentes, leiamos o
seguinte trecho escrito por Rubem Alves:

Escutar é complicado e sutil…Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante


ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio
dentro da alma”. Daí a dificuldade: a gente não aguenta ouvir o que o outro
diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo
que a gente tem a dizer. [...]. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio
dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a
gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Ouçamos o humano que habita
em cada um de nós e clama pela nossa humanidade, pela nossa
68

solidariedade, que teima em nos falar e nos fazer ver o outro (ALVES, 1999,
p. 65).

Escuta qualificada, envolve acolhimento, empatia e o ato de se interessar


sinceramente por tudo o que o cliente deseja compartilhar. É ouvir atentamente – a
expressividade verbal e o não verbal – a pessoa e a humanidade do cliente.
Validando, confirmando e legitimando aquilo que é partilhado pelo ele.
O quarto ingrediente do nosso hepteto, é a époché dialógica. “Epoché é
entendida como uma atitude de abstenção de juízos ou conceitos prévios,
suspendendo o conhecimento que detemos acerca das coisas” (PEREIRA, 2015, p.
95). Aqui trazemos à baila dialogicidade na clínica gestáltica. Ou seja, o valor da
relação terapeuta-cliente, do diálogo, realizado com total retirada de a priori,
julgamentos, juízos, valores, pressupostos ou preconcepções. “O foco terapêutico é
deslocado das mãos do terapeuta e vai para a relação terapêutica, onde o terapeuta
trabalha para que o indivíduo desabroche sua responsabilidade e sua autonomia”
(FREITAS, 2016, p. 95). Por meio da postura dialógica, proporciona-se “uma
experiência de encontro, um encontro genuíno, onde o cliente é recebido como ele
é, com suas forças e fraquezas, limites e possibilidades” (FREITAS, 2016, p. 95). Os
4 fatores atitudinais supra citados, apadrinham grandemente o processo da relação
dialógica fertilizada pelo aparato da époché.
Como quinto ponto pertinente à postura do terapeuta frente à clínica
gestáltica, temos o olhar fenomenológico. A postura fenomenológica, permite ao
terapeuta, um olhar para o cliente como pessoa única e irrepetível. Percebendo-o na
sua totalidade. Se posicionando perante o mesmo, sem rótulos, sem pré-conceitos,
sem reduzi-lo a um diagnóstico, patologia ou tipologia. É um olhar que se abre no
aqui e agora para as possibilidades e potencialidades que se apresentam (PERLS,
1988). É uma leitura do cliente e do que se passa com ele, tal como ele mesmo
concebe. Sem construir inferências ou apriorísticos acerca do conteúdo trazido na
fala pelo cliente, buscando apreender o sentido que o próprio paciente confere ao
seu conteúdo (CUNHA, 2010).
A troca reflexiva é o sexto elemento desse nosso estudo. O terapeuta faz
pontuações acerca do conteúdo verbal ou não verbal exteriorizado pelo cliente e
permite ao mesmo, a oportunidade de refletir. Com isso o terapeuta leva o cliente a
entrar em contato com os seus próprios significados, seu mundo íntimo (CUNHA,
2010). A este respeito Freitas (2016, p. 87) pontua que a troca reflexiva visa
69

ampliar a consciência do cliente sobre sua forma de se relacionar consigo


mesmo, com os outros e com o mundo à sua volta e mostrá-lo um caminho
de maior autonomia e independência, baseando-se no auto suporte,
contando com seus próprios recursos internos.

Já o sétimo subsídio postural do terapeuta é a humildade para “permitir-se ser


ignorante, ou seja, perguntar querendo conhecer, estar pronto para o inesperado”
(FREITAS, 2016, p. 95). A humildade é uma virtude que permite ao terapeuta,
reconhecer que ele não sabe acerca da vida do seu paciente. A humildade é um
convite para o abrir-se para o que quer que se apresenta na pessoa do paciente. Ela
convoca tenazmente o terapeuta a se colocar no lugar de aprendiz do outro, do
processo do outro. E é a humildade do terapeuta que permite e possibilita
verdadeiramente ao paciente, a grandeza de revelar-se, presentificar-se e
prontificar-se para a psicoterapia.
Por fim afirmamos que este conjunto de atitudes terapeutizadoras que
apontamos até este momento, permitem ao Gestalt terapeuta se tornar um facilitador
para que o cliente se conheça e se perceba. Para tanto, será inevitável construir
com o mesmo, uma relação baseada na proximidade, franqueza, presença e
mutualidade, capaz de acolher sua alteridade e sua singularidade (FREITAS, 2016).

2.8 A COMPREENSÃO DA FENOMENOLOGIA HUSSERLIANA

Nesta etapa dos nossos estudos e apontamentos, traçaremos um


entendimento acerca da fenomenologia husserliana enfatizando três pontos centrais:
1. a psicologia fenomenológica, 2. os pressupostos da fenomenoloiga e 3. a époché
e o conceito de consciência e intencionalidade.

2.8.1 Psicologia fenomenológica

Neste tópico, abordaremos sobre a psicologia fenomenológica. Para tanto,


teceremos inicialmente algumas considerações preliminares pertinentes à sua
história. Tais cogitações levar-nos-ão a um entendimento mais preciso e rigoroso da
relação existente entre fenomenologia e psicologia. E mais ainda, clarificará pra nós
o cenário correspondente à construção da psicologia fenomenológica e seus
desdobramentos na clínica contemporânea.
70

Para empreendermos nossa jornada, historicamente visitaremos o contexto


que foi o berço para o nascimento da psicologia fenomenológica. Seu nascedouro
localiza-se exatamente no fim do século XIX e prelúdio do século XX. Nesta época,
um homem notável chamado Edmund Husserl, inicia a estruturação de um novo
sistema filosófico. Sistema filosófico esse conhecido como fenomenologia.
A sistematização da fenomenologia se deu em virtude de questionamentos
muito ferrenhos, realizados por Husserl, para os caminhos do conhecimento. Na
época supra citada, tínhamos dois paradigmas presentes: “de um lado, a ciência
positivista, baseada em fatos, mensurações e verificações. De outro lado, a filosofia.
Aqui as coisas eram mais caóticas. Cada cabeça, uma sentença; cada filósofo, uma
proposta” (AMATUZZI, 2009, p. 94). Soma-se a esse cenário paradigmaticamente
bipartido, a dificuldade de se encontrar um parâmetro, um critério objetivo, “que
permitisse discernir o que era válido e o que não era” (AMATUZZI, 2009, p. 94). Em
decorrência disso, emerge um ceticismo generalizado de que não se consegue
chegar a uma verdade/conhecimento.
Nesse contexto, Husserl percebe algo muito importante: os postulados
científicos da sua época, se pautavam em fundações lógico-matemáticas. Ou seja,
em fenômenos racionais e lógicos. Porém como indica Amatuzzi (2009, p. 94) esse
mesmo paradigma reinante

deixava a desejar porque não trazia por si mesma uma resposta que
satisfizesse a toda necessidade de saber do ser humano. A ciência ficava
limitada ao âmbito permitido por seu método, o âmbito do empírico, do
positivo, do imediatamente verificável. A questão do significado da realidade
ou do sentido do mundo ficava fora do método científico.

Com isso, o sentido da realidade vivenciada foi de fato deixado de lado.


Diante disso, Husserl (1995) em sua obra, denuncia sobre essa perda de
significados, uma vez que, seu interesse era encontrar um caminho para recuperar e
se chegar a esse sentido esquecido. A esse respeito Amatuzzi (2009) pontua que no
intuir de Husserl, caso a pessoa considerasse sua própria experiência da realidade,
exatamente com tudo que nela está presente e implicado, e neste instante,
abdicasse do julgamento natural e espontâneo, seguramente conseguiria chegar a
uma conclusão fidedigna do conhecimento bem como do seu alcance. Frente a isso
o ceticismo cai por terra, e teríamos uma base sólida e segura para se chegar ao
conhecimento puro. Assim nascia a fenomenologia.
71

Acerca do resgate do significado empreendido por Husserl, Holanda e


Portugal (2018, p. 181) informam que a “Fenomenologia caracterizou-se, então,
como uma ciência pura, que, buscando prover uma doutrina fundamental, retorna às
coisas mesmas, às essências”. E quando falamos de essência, Husserl conceitua
apontando que a mesma, refere-se “aquilo que se encontra no ser próprio de um
indivíduo como o que ele é” (HUSSERL, 2006, p. 5).
E no desabrochar da fenomenologia de Husserl, este considera a experiência
em si mesma, com toda sua riqueza e expressividade, “independentemente dos
juízos de realidade ou de valor que espontaneamente somos levados a fazer. Esses
juízos correspondem ao que Husserl denominou atitude natural” (AMATUZZI, 2009,
p. 95). Sendo assim, podemos falar indubitavelmente, que a atitude antinatural, com
ausência de a prioris, é na verdade, uma atitude fenomenológica.
Um fato marcante é que a passagem de uma atitude natural – com
julgamentos e a prioris – para atitude fenomenológica, se dá pela redução. Esse
processo consiste em apreender o sentido/significado dado pela própria pessoa ao
que ela sente, pensa ou faz. Ou seja, trata-se da busca de significado da intimidade
psicológica de uma pessoa.
Como dizem Holanda e Portugal (2018, p. 180) “a Fenomenologia possibilita
descrever o mundo que aparece (fenômeno) a partir de uma perspectiva de primeira
pessoa”, e por consequência “evita postulados metafísicos e científicos ou
especulações” (ZAHAVI, 2003, p. 14).
Com esses apontamentos efetuados acima, podemos então trazer à tona, o
contexto husserliano que artesanalmente confeccionou e lapidou o conceito de
psicologia fenomenológica. Para tanto, necessário se faz, irmos à fonte essencial
das obras de Edmund Husserl e, semelhante a um arqueólogo com seu cinzel,
garimpar e resgatar os pensamentos que perfizeram e estruturaram a psicologia
fenomenológica.
Para realizar este resgate como proposto, foi indispensável visitar as
seguintes obras de Edmund Husserl: Prolegómenos, Investigações Lógicas e
Psicologia Fenomenológica.
Nos Prolegómenos e nas Investigações Lógicas, Husserl dá início à
problematização da fenomenologia com a psicologia, tendo por motivo maior, a
busca pelo conhecimento. A esse respeito, Goto (2007, p. 156) infere que:
72

Neste período ficou evidente para Husserl a necessidade de distinguir, em


termos epistemológicos, a psicologia (psicologismo e a psicologia científica)
e a fenomenologia recém inaugurada, principalmente porque percebeu que
sem passar pela psicologia (investigar os fenômenos psíquicos) não era
possível chegar à fenomenologia (subjetividade transcendental).

Encontramos ainda em Goto (2007) que na obra Investigações Lógicas,


Husserl apresenta a fenomenologia como sendo uma “psicologia descritiva”, pois,
nos estudos de fenomenologia, não se pôde deixar de fora os fenômenos psíquicos.
E ao enveredarmos pela leitura da obra Psicologia Fenomenológica encontramos
como proposta “a relação da fenomenologia com a psicologia, e o filósofo justificou a
aparição da fenomenologia como resultado de dez anos de estudos em torno da
idéia pura de lógica e da psicologia” (GOTO, 2007, p. 157).
Neste contexto demarcado que foi delineado, relacionando psicologia e
fenomenologia, Goto (2007, p. 157-158) demonstra que ao se “buscar uma conexão
do pensamento lógico com o psíquico (vida intencional subjetiva), a fenomenologia
se colocou na tarefa de revelar a estrutura fundante da vida psíquica e seu
funcionamento (consciência transcendental)”.
Com isso podemos afirmar que as investigações de Husserl, se ocuparam
com a descrição pormenorizada bem como com a revelação que se tinha a partir
das vivências cognitivas/psíquicas relativas às puras vivências da lógica
fenomenológica (GOTO, 2007).
Consoante a isso, na obra de Husserl – Investigações Lógicas – encontramos
também que
a investigação dos processos lógicos do pensamento e a descrição da vida
intencional subjetiva (consciência intencional). [...] Assim, essa orientação
para o psiquismo, o psicologista chegou à descoberta da característica
fundamental do psíquico, ou seja, a intencionalidade. [...] Essa
caracterização da consciência como intencional será definitiva para a
psicologia, pois inaugurará a psicologia a partir de seu caráter próprio, ou
seja, de se orientar propriamente para a natureza do mundo anímico.
Assim, manteve-se a idéia de que a psicologia só seria válida se iniciasse
como uma ciência puramente descritiva da vida psíquica, desconsiderando
qualquer relação com o mundo exterior (GOTO, 2007, p. 159).

Nas palavras abalizadas de Goto (2007, p. 160-161) lemos que a “psicologia


seria, no entendimento de Husserl, uma psicologia totalmente nova no que diz
respeito aos seus pontos fundamentais, e por isso, deveria ser anunciada como uma
psicologia fenomenológica”.
73

Com isso podemos dizer que psicologia fenomenológica, trata-se do estudo


da consciência psíquica (vivências psíquicas) na relação com a consciência
transcendental (filosófica), no intuito de ser uma ciência fundamental para a
psicologia, a partir do método que abrange a fenomenologia transcendental
(HUSSERL, 1990).
Essa conceituação, só ganha sentido e veracidade, quando compreendemos
que Husserl empreendeu seu trabalho significativo de

redução, que o levou à conclusão de que era preciso radicalizar mais a vida
intencional subjetiva, ou seja, reduzir fenomenologicamente toda a vida
psíquica, indo além do regresso aos fenômenos. No entanto para o
cumprimento rigoroso da fenomenologia em ser uma ciência universal da
subjetividade transcendental, ela necessita passar pela investigação
psicológica (GOTO, 2007, p. 162).

Com isso, podemos afiançar que a fenomenologia e a psicologia


empreenderam e consumaram um único e mesmo projeto, ou seja, elucidar e
respaldar a subjetividade, de maneiras muito idiossincrásicas.
A partir disso, inferimos com confiabilidade, que a psicologia como
metodologia científica, propõe o estudo da dinâmica da subjetividade humana. Por
esse meio, afirmamos que o conhecimento se opera no psiquismo, e quando
deciframos as propriedades e meandros do psiquismo, na verdade acessamos suas
leis, e com isso, finalmente, compreendemos e damos conta de como o
conhecimento se processa. Tudo isso com o respaldo da redução fenomenológica.
Portanto, estamos epistemologicamente, diante de uma “uma nova psicologia; uma
psicologia racional ou pura ou ainda psicologia fenomenológica. [...] que tem por
finalidade encontrar a verdadeira gênese do psiquismo e do conhecimento” (GOTO,
2007, p. 166).
Completando a assertiva acima pontuada, Krüger (2014) infere que a
psicologia fenomenológica tem a intenção de ser uma “nova psicologia”. Psicologia
nova essa, cujo objetivo central, reside na investigação e esclarecimento das suas
principais conceituações – a consciência, a afetividade, a imaginação, a percepção,
a cognição etc. – através da redução psicológica-eidética.
Com essas considerações, fica claro para nós que desde o início da Escola
Fenomenológica, Husserl conferiu atenção notória à ciência psicológica. Consta que
em 1901, na edição inaugural da sua obra Investigações Lógicas, o autor
conceitua/descreve a fenomenologia como sendo uma Psicologia Descritiva. Para
74

tanto, as fontes em que Husserl se nutriu, foram do seu mestre Brentano


(HOLANDA; PORTUGAL, 2018). Diante dessa constatação, Porta (2013) acrescenta
que a fenomenologia de Husserl compartilha com a ciência da psicologia, o princípio
de imanência, reformulado pela redução. E finaliza dizendo que é só por meio da
psicologia que consegue explicitar o que realmente é essencial, ou seja, a
subjetividade em si mesma.
Corroborando as deduções feitas acima, Reis, Holanda e Goto (2017)
apontam que Husserl procurou estabelecer uma filosofia rigorosa e, concomitante,
elabora a partir disso, uma psicologia racional e pura, ou seja, constrói uma
psicologia fenomenológica no seio da fenomenologia filosófica. E na mesma, institui
os princípios e fundamentos metódicos para erguer a proposta de uma psicologia
empírica cientificamente rigorosa.
Pelas colocações acima, depreende-se que o caminhar metodológico
presente na fenomenologia psicológica Husserliana, necessariamente passa,
engloba ou tangencia o caminhar da própria ciência psicológica. Uma vez que esta,
a rigor, busca estudar e compreender a subjetividade humana. Pode-se deduzir a
partir daí, que ambas se debruçam sobre estudos equivalentes.
Corroborando as ideias acima acerca da relação fenomenologia e psicologia,
no que tange à subjetividade, Orengo, Holanda e Goto (2020, p. 4) nos informam
que “no texto Ideias Para Uma Fenomenologia Pura e Uma Filosofia
Fenomenológica, de 1913, Husserl trata da busca dos fundamentos da subjetividade
a partir da fenomenologia já constituída”.
Relativamente a isso, Amatuzzi (2009, p. 96) diz que “quando a
fenomenologia estuda a imaginação, a percepção, a linguagem, a relação inter-
humana ou os estados perturbados da mente, por exemplo, ela está se voltando
para os mesmos objetos que a psicologia também considera”.
Avançando com o nosso entendimento do tema proposto nesta seção,
apontamos juntamente com Husserl que por meio da estrutura analítica
fenomenológica da consciência intencional, chega-se à concepção de uma
psicologia fenomenológica no sentido de esclarecer acerca da vida psíquica, bem
como suas estruturas vividas concretamente, incluindo o modus operandi da
consciência enquanto entidade empírico-psíquica (HUSSERL, 2001). Com isso
afirmamos que a psicologia fenomenológica se constitui como uma “psicologia pura”,
75

isto é, uma psicologia que intenta investigar as vivências psíquicas, subjetivas, que
por sua vez ultrapassa qualquer relação de natureza psicofísica.
Com esses desdobramentos da filosofia fenomenológica em psicologia
fenomenológica, verificou-se que emergiu um saber próprio, voltado totalmente para
o campo profissional da psicologia. Ou seja, esse saber nasce no interior da filosofia
– por meio de elaborações teóricas e empíricas acerca do modus operandi do ser
humano – refletindo na experiência psicológica ditada pelo caminho proposto pela
fenomenologia (AMATUZZI, 2009).
E essa trilha, também foi percorrida pelo movimento humanista-existencial e
seus representantes. E nesse sentido Amatuzzi (2009, p. 96) alude “que se pratica
uma psicologia fenomenológica no contexto da psicologia humanista: elucidação do
vivido baseada na consideração de experiências concretas e situadas”, para uma
compreensão que dê possibilidade para acolher e lidar melhor com o fenômeno.
Assim veremos a psicologia fenomenológica ganhar manejo nas mãos de
autores renomados que colaboraram com Husserl. Goto (2015) a esse respeito,
pontuou que os pressupostos da fenomenologia, relativos ao estudo da consciência
(quer seja empírica – ligada à psicologia, quer seja transcendental – ligada à
filosofia) foram apropriados por Scheler, Stein, Merleau-Ponty, Sartre, Binswanger,
Boss, Frankl e outros, que a partir daí, proporcionaram os alicerces para a edificação
da psicologia chamada “fenomenológica”.
Derivou desse quadro epistemológico formado, duas vertentes. A primeira,
primou pela aplicação desses entendimentos na psicologia clínica, estruturando a
abordagem humanista-existencial-fenomenológica. A segunda vertente, empregou
esse saber na pesquisa psicológica empírica, surgindo então a conhecida “pesquisa
qualitativa fenomenológica”, realizada pelos psicólogos associados à Duquesne
University. (ORENGO; HOLANDA; GOTO, 2020).
Neste momento traremos um adendo a esta seção: vamos abordar
brevemente a psicologia fenomenológica em território nacional. “A história conta
que, no Brasil, a fenomenologia desembarcou na década de 30 do século passado,
inaugurando a fenomenologia como possibilidade metodológica para a psicologia”
(GOTO, 2015, p. 5). Nos idos de 1960 e 1970, a relação fenomenologia e psicologia
ganha expressividade maior, pois, nesta época, a fenomenologia se vincula
fortemente à prática clínica em psicologia (GUIMARÃES, 2000). Diante desse fato, a
história brasileira registra que neste período “vários autores apontam que o
76

desenvolvimento da psicologia fenomenológica em nosso país está relacionado aos


psicólogos humanistas, vinculados à Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl
Rogers” (ORENGO; HOLANDA; GOTO, 2020, p. 5).
Gomes, Holanda e Gauer (2004, p. 89) apontam que, em solo brasileiro,
muitos profissionais alinhados à psicologia fenomenológica seguem

uma orientação psicoterápica seguida pelos profissionais identificados com


as perspectivas existenciais de Heidegger, Binswanger, Boss, Minkowski e
Sartre; além de apontar que os profissionais mais diretamente envolvidos
com pesquisa empírica seguem, também, Merleau-Ponty.

Neste panorama delineado acima, nota-se que a psicologia fenomenológica


parece alinhar-se a abordagens da psicologia para seu manejo. Frente a isto,
Holanda (2018) traz um olhar que nos convida a ampliar nossa visão. Nos convida a
perceber a psicologia fenomenológica para além das fronteiras das abordagens, não
a mesclando nem a embaralhando às teorias e paradigmas psicológicos. E sim
chancelando-a em sua essência husserliana, como uma forma de pensar a realidade
e seus fenômenos. E assim erigindo um modo e um ethos de se fazer psicologia, ou
seja, resgatando e enaltecendo a subjetividade e suas interrelações.
Para tanto, essa proposta procura se munir dos preceitos da fenomenologia
imbrincados com a conduta empírica-psicoterapeutizadora da ciência psicológica, e
assim, inauguram a fenomenologia psicológica como estruturante do fazer clínico
em psicologia.

2.8.2 Pressupostos da fenomenologia e époché

Teceremos nesta seção considerações acerca de seis pressupostos


indispensáveis da fenomenologia husserliana, incluindo o tema basilar da époché.
Pressupostos neste estudo, podem ser compreendidos como postulados,
premissas e ou enunciados prévios que permitem o manejo assertivo da
fenomenologia.
Para tanto, começaremos pelo primeiro pressuposto da fenomenologia
husserliana. Esse pressuposto está contido em sua própria definição, que reza que:
“fenomenologia é o estudo ou a ciência do fenômeno, que no sentido mais genérico,
compreende tudo aquilo que aparece, que se manifesta ou se revela por si mesmo”
(MOREIRA, 2004, p. 7). Ou seja, fenômeno é qualquer objeto, circunstância,
77

situação, processo, pessoa, enfim, desde entes concretos até entes subjetivos que
se mostram à luz da consciência para serem apreendidos e conhecidos. Portanto, o
próprio fenômeno é um pressuposto por si mesmo, pois é o possibilitador de acesso
e conhecimento de uma determinada realidade. Sem o mesmo, nada se sucede.
O segundo pressuposto da fenomenologia, reside no fato da mesma ser uma
ciência eidética; e sua metodologia tem por base a intuição eidética. Eidético, refere-
se a um “termo introduzido na filosofia contemporânea por Husserl [...] para indicar
tudo o que se refere às essências” (ABBAGNANO, 2007, p. 308). Isto é, uma ciência
que prima e busca pela essência. Essência que é definida por “aquilo que se
encontra no ser próprio de um indivíduo como o que ele é” (HUSSERL, 2006, p. 5).
Esclarecendo mais apropriadamente, “as essências apreendidas pela intuição
eidética não são demonstráveis e nem necessitam de demonstração; são evidentes
por si mesmas” (MENDONÇA, 1999, p. 74). Esse pressuposto, nos remete à
percepção do fenômeno que se mostra à consciência tal como foi apreendido pela
mesma. Antes de passar por qualquer classificação, julgamento, juízo de valor ou
parametrização. É a realidade tal qual ela é sem interferências exteriores.
Para manejar eficazmente os dois pressupostos acima, necessita-se
prioritariamente do terceiro pressuposto: redução fenomenológica. A esse respeito
Mendonça (1999, p. 74) demarca que “o método que Husserl usa, como é sabido, é
o da ‘redução fenomenológica’ ou epochê, que consiste em pôr entre parênteses a
‘tese natural do mundo’, isto é, a atitude cotidiana, as coisas exteriores como se as
vê”. Ou seja, é essencial que no relacionamento com o fenômeno, possamos abrir
mão de julgamentos e crenças pessoais, inferências a priori, juízos de valor, e ainda
conclusões precipitadas ou precoces.
Contingente a esse pressuposto, importante pontuar que, a redução
fenomenológica se faz em dois níveis. Sobre isso, descreve Mendonça (1999, p. 74)

Husserl divide a redução em dois níveis: (1) buscar o significado ideal e não
empírico dos elementos empíricos, isto é, discernir a essência ou significado
(2) fazer uma redução transcendental, porque visa a essência da própria
consciência enquanto constituidora ou produtora das essências ideais:
nesse nível, noeses e noemas revelam se como absolutamente a priori –
noema é objeto pensado; noese é ato de conhecimento, voltado para o
objeto.

O quarto pressuposto fenomenológico é que o trabalho de Husserl se


caracteriza pela sua estrutura de inacabamento e possibilidade contínua de
78

rearranjos e enriquecimentos. Com isso compreendemos que a realidade está


sempre a gerar novos fenômenos, isto é, novas possibilidades de noemas – objetos
pensados, bem como de noeses – atos de conhecimento (MENDONÇA, 1999).
O quinto pressuposto que vamos mencionar aqui, é o da intencionalidade da
consciência. Para abordar sobre intencionalidade, Husserl buscou inspiração nas
ideias de seu mestre, o filósofo e psicólogo Franz Clemens Honoratus Hermann
Brentano, responsável por fundar a chamada Psicologia do Ato. Brentano postula
que a característica primordial da intencionalidade é a relação sujeito e o objeto da
consciência. Nas palavras abalizadas de Abbagnano (2007, p. 577) torna-se
possível compreender o que

Husserl diz a este propósito: que a característica das vivências pode ser
indicada como o tema geral da fenomenologia orientada objetivamente, é a
intencionalidade. Representa uma característica essencial da esfera das
vivências, porquanto todas as experiências, de uma forma ou de outra, têm
intencionalidade. A intencionalidade é aquilo que caracteriza a consciência
em sentido pregnante, permitindo indicar a corrente da vivência como
corrente de consciência e como unidade de consciência. Posteriormente, o
próprio Husserl falou de ‘intencionalidade atuante’, no sentido de que a
vivência não se refere somente ao seu objeto, mas também a si mesma.

Afirmamos assim, que na relação sujeito-mundo, a consciência está presente


sempre de forma intencional, e é essa intencionalidade que será responsável por
construir sentido e significado ao fenômeno percebido pela consciência.
Por fim, falamos do sexto pressuposto fenomenológico, o processo de
descrição pura. Esse pressuposto alude ao fato de que em fenomenologia não se
emprega o processo analítico ou ainda analítico-dedutivo como forma de
interpretação. Emprega-se sim o de descrição de fatos, acontecimentos,
circunstâncias, sensações, como forma assertiva e eficiente para se chegar à
verdade acerca do fenômeno vivenciado (RODRIGUES, 2011).

2.8.3 Conceito de consciência e intencionalidade

Passemos, a partir de agora, a falar sobre a compreensão promulgada por


Husserl acerta do conceito de consciência, assim como também a concepção de
intencionalidade.
Iniciemos pelo tema da consciência. Abordando acerca da concepção sobre o
que a consciência é, assim como seu corolário expressivo, presente e proposto nas
79

obras de Edmund Husserl. Para realizar tal intento, Husserl partiu das contribuições
de Descartes, Kant e Brentano. Neste particular, seu interesse maior se deu pela
estrutura da percepção e da imaginação. Examinando a partir daí de forma bem
crítica e criteriosa os fundamentos introspectivos e práticos da psicologia (DEPRAZ,
2007).
Para Husserl, consciência é instância psíquica que nasce da relação do
homem com o seu mundo. Como um verdadeiro processo de relacionamento por
meio do qual advém para o homem, a construção do conhecimento-saber a partir do
mundo9. Seja esse conhecimento-saber de si mesmo, do outro, da natureza ou
ainda de possibilidades abstratas e sutilizadas como intuição, imaginação e
sentimentos. Como infere Alves (2013, p. 116) “a consciência, portanto é para
Husserl, a condição de possibilidade de toda a construção do conhecimento, [...]
sendo a consciência, enquanto resto de tudo aquilo que foi suspenso como
conhecimento no mundo, o seu fundamento último”.
Para que a consciência consiga se estruturar como colocada no trabalho de
Husserl, possibilitando a construção do conhecimento-saber, lança mão de um
processo que lhe é por demais intrínseco: o processo da intencionalidade. Que
também é sua característica central, noutras palavras, intencionalidade é condição
sine qua non da consciência.
Intencionalidade para Husserl, é uma propriedade peculiar da consciência,
que a faz direcionar-se para um objeto no mundo, o que constitui um ato psíquico.
Imbricando-se na relação homem-mundo. E apreendendo-o como objeto, ou seja,
como fenômeno, a partir do qual, vai imprimindo-lhe uma representatividade
psíquica. Expressando com mais clareza, Alves (2013, p. 116) atesta que a
consciência “é um puro ato de representação, ou seja, a intencionalidade se dá no
momento em que o sujeito percebe determinada coisa ou objeto da consciência e
lhe aplica uma determinada representação”.
Aprofundando a exposição acima realizada, Moura (2007, p. 11) explica que
“a intencionalidade será, para Husserl, um fenômeno da ordem da representação.
Intencionar é tender, por meio de não importa que conteúdos dados à consciência, a
outros conteúdos não dados”. Isso só se dá por meio do processo de percepção,
apreensão e representação do objeto no cerne da consciência.

9
No que concerne à relação homem-mundo, Husserl refere-se ao que é percebido e a percepção que o
percebe, entre o que é pensado e o pensamento que o pensa.
80

Por meio da intencionalidade, a consciência, se encontra voltada para os


objetos, “orientada em sua direção de forma imediata, dirigida para alguma coisa,
isto quer dizer que todos os atos psíquicos, tudo que se passa em nossa mente, visa
um objeto” (COSTA, 2014, p. 434).
Complementando o entendimento acerca da intencionalidade da consciência,
na relação homem-mundo, Alves (2013, p. 116) aponta que

a vida da consciência não se constitui apenas como uma simples conexão


entre inúmeros dados, muito menos como uma espécie de amontoado de
fatos do pensamento ou como uma coleção de todas essas coisas; ela é
acima de tudo e essencialmente intencional; tudo o que passa pela
consciência do eu transcendental possui uma intenção com a qual está
intrinsecamente ligado.

Por seu aspecto intencional, desdobra-se a partir daí, que a consciência,


traduz a percepção-apreensão-representação em significado. Mediante isso,
afirmamos que a consciência enquanto intencionalidade, é doadora de significado e
de sentido. Como nos aclara Zitkoski (1994, p. 54)

A partir disso pode-se afirmar que [...] a consciência retém em si mesma o


mundo, com todas as realidades nele contidas a título de objetos
intencionais. Mas, por outro lado, o mundo continua sempre transcendendo
a esfera imanente da consciência e esta se encontra em contínuo
movimento de dar sentido e constituir as realidades.

A partir da compreensão da consciência como doadora de significado e


sentido, podemos concluir então que toda consciência é consciência de alguma
coisa. Depreendendo-se então que a consciência na sua essência, configura-se
como intenção direcionada para um objeto, no sentido de atribuir-lhe representação
significativa (CAPALBO, 2001).

2.9 A FORMAÇÃO DO SELF NAS RELAÇÕES FAMILIARES

Neste ponto da nossa pesquisa, focaremos o conceito de self nas teorias


psicológicas. Para isso, faremos um voo panorâmico sobre o contexto de
conceituação de self presente nas teorias psicológicas – psicanálise, behaviorismo,
humanista (embasada na fenomenologia e existencialismo), construcionismo,
construtivismo, estudiosos e teóricos como Gordon Allport, William James, Charles
Cooley e George Herbert Mead. Neste estudo, intenciona-se em relação ao self
81

empreender uma compreensão de suas instâncias estruturais, de sua formação


estruturante, seu desenvolvimento e também sua forma de expressividade.

2.9.1 O conceito de self nas teorias psicológicas

Quando mencionamos o self no sentido de dar-lhe uma definição,


constataremos que esse constructo é bem recente na história da ciência. Porém,
desde a antiguidade que o ser humano procura entender, compreender, definir,
descrever e caracterizar essa estrutura do seu ser: o self. Nota-se que as pesquisas
no campo da filosofia, da história, e do desenvolvimento humano somado aos
estudos recentes no campo de neurociências e psicologia do desenvolvimento,
ocasionaram muitas mudanças na percepção e conceitualização de self.
De forma lacônica, podemos embrionariamente, afirmar que o entendimento
acerca do self, necessariamente precisa incluir o corpo físico, os processos
psicológicos básicos e de pensamento, bem como vivência de uma situação de
forma consciente de que, a pessoa é única e ao mesmo tempo se diferencia dos
demais (MACEDO; SILVEIRA, 2012).
O marco que inaugura cientificamente os estudos acerca do self, se deu no
ano de 1890 com a obra The Principles of Psychology de autoria do filósofo e
psicólogo estadunidense William James. Para a realização de tal empreitada, o
estudo científico subdividiu-se nas três seguintes categorias: 1. abordagens que
separam o sujeito do seu ambiente, ou seja, postulam a existência de uma fronteira
dividindo o espaço psíquico em: fora do sujeito e outro dentro do sujeito, 2.
perspectivas que primam pelo self pertencente apenas ao espaço interno do
indivíduo, porém tendo fronteiras permeáveis com o lado de fora do sujeito e 3.
panoramas que destacam a inexistência do mundo interno do sujeito (MACEDO;
SILVEIRA, 2012). Essa subdivisão realizada, resultou na concepção de self nas
várias abordagens psicológicas.
Para compreendermos melhor a respeito da primeira categoria - abordagens
que separam o sujeito do seu ambiente, postulando a existência de uma fronteira
clara dividindo o espaço psíquico em fora do sujeito e outro dentro do sujeito –
necessário se faz recorrer às pesquisas levadas adiante por Bamberg e Zielke.
Sobre essas pesquisas, lemos nas palavras assertivas de Macedo e Silveira (2012,
p. 283) que de acordo com os
82

[...] dilemas de Bamberg e Zielke (2007) pode-se classificar essas teorias


em quatro subdivisões: (1) universalidade, continuidade e direção do
desenvolvimento do self da pessoa para o mundo; (2) universalidade,
continuidade e direção do desenvolvimento do self do mundo para a
pessoa; (3) unicidade, continuidade e direção em duas vias para o
desenvolvimento do self: da pessoa para o mundo e do mundo para a
pessoa; (4) universalidade, continuidade e direção do desenvolvimento do
self da pessoa para o mundo.

Sendo assim, com a primeira subdivisão que nos ensina que a direção do
desenvolvimento do self se faz da pessoa para o mundo, temos a psicanálise,
pontuando o self por meio de disposições internas/psíquica no sujeito. Por esse
constructo, o self se desenvolve no mesmo sentido que o Ego se desenvolve,
inclusive se torna o representante deste. Assim, o self ganha a conformação
equivalente à vivência subjetiva particular de si mesmo na estrutura psicológica do
sujeito. Com isso, o self na sua essência, se torna dual ao constituir a subjetividade
e o psiquismo do sujeito ao mesmo tempo, uma vez que pressupõem clara e nítida
fronteira de divisão entre parte interna e parte externa. É por meio dessa divisão que
o self se edifica, como demarcador da relação entre mundo interno e mundo externo
do sujeito (GUANAES; JAPUR, 2003).
Já na segunda subdivisão, temos o self se desenvolvendo do mundo para o
sujeito. Ou seja, do ambiente para a realidade subjetiva da pessoa. Neste particular,
encontramos o behaviorismo, marcando a influência do ambiente no comportamento
da pessoa. A postura do behaviorismo é contrária à promulgada acima. Pois, esta,
prediz que é inviável metodologicamente acessar dados dos processos internos do
sujeito/self (HERMAN, 2007). Podendo apenas falar dos efeitos destes processos
internos, ou seja, do comportamento (CORREIA, 2003). O mundo íntimo é refletido
pela esfera comportamental.
Na terceira subdivisão, que infere que o self se desenvolve da pessoa para o
mundo e do mundo para a pessoa, nos deparamos com a proposta do humanismo.
O humanismo nas palavras de Macedo e Silveira (2012, p. 284) “surgiu como uma
reação ao excesso de ênfase na influência do ambiente, o pólo externo, e,
concomitantemente, apresentou uma reação ao determinismo do inconsciente na
psicanálise, o pólo interno”. A escola humanista – alicerçada pela fenomenologia e
pelo existencialismo – vem no sentindo de redirecionar o desenvolvimento do self
tendo por foco os processos interiores do sujeito, ao mesmo tempo que demarca a
interferência ambiental sobre o mesmo. A esse respeito Guimarães (2005) coloca
que com os estudos de Carl Rogers, o self se torna elemento central na
83

personalidade do sujeito (portanto realidade interna) e concomitante a isso, é fruto


também do âmbito social que permeia as relações humanas. Com isso, temos duas
vias para o desenvolvimento do self: 1. interior-exterior e 2. exterior-interior.
E na quarta subdivisão, temos que o desenvolvimento do self se dá
diretamente da pessoa para o mundo. Os estudos a esse respeito, se fizeram
motivados e inspirado na escola do humanismo – que na sua essência preconizava
o estudo relativo às forças motivacionais internas bem como os processos afetivos.
Nesse sentido o self é entendido como “caixa-preta” a se revelar. A partir dessa
inspiração, percebe-se emergir o pensamento de Gordon Allport com forte destaque
para os elementos interiores que podem ser classificados como descritores de
traços de personalidade. Suas pesquisas, influenciaram na estruturação de modelos
de personalidade, notadamente o Big Five e Hans Eysenck. A partir daí e bebendo
nessa fonte, emergem estudos acerca da autoestima, do autoconceito, da
autoconsideração e também a manutenção de uma visão favorável de si. As teorias
que emergiram desse contexto, propõem que o self se desenvolve pelo que ocorre
dentro do sujeito (MACEDO; SILVEIRA, 2012).
A partir desse instante, falaremos da segunda categoria pontuada acima, ou
seja, as perspectivas que primam pelo self pertencente apenas ao espaço interno do
indivíduo, porém tendo fronteiras permeáveis com o lado de fora do sujeito.
Portanto, este viés prima pela concepção de self em que tanto a realidade interna
quanto a externa se complementam. O pioneiro nessa perspectiva é William James.
Como ensina Macedo e Silveira (2012, p. 284)

Ele propôs um self bipartido que é, em parte, sujeito ativo do conhecimento


(eu) e, em outra parte, objeto passivo de ser conhecido (mim). James
(1890/1990) defendeu que não havia propósito nas teorizações metafísicas
a respeito da composição do “eu”. O autor define self como algo não apenas
individual, mas também social. Assim, o self envolve tudo aquilo que o
homem pode chamar de “seu”, incluindo não apenas seu corpo e seus
domínios psíquicos, mas também suas roupas, sua casa, sua família, seus
amigos, seus ancestrais, etc. (James, 1890/1990). Apesar do foco nos
processos internos, há um afrouxamento das fronteiras de separação entre
mundo interno e externo (social).

Outra proposta nesta mesma linha de entendimento, ou seja, o self como


complementaridade entre mundo interno e externo, nasce com Charles Cooley.
Cooley entende self como sendo o resultado das interações e comunicações sociais
do sujeito. Na sua teoria, ele propõe a metáfora em que traz o self que se olha no
84

espelho, ilustrando que o senso de self individual é formado a princípio, por meio
das suas próprias percepções sobre como os demais o percebem. Ou seja, o outro
tem função de reflexo, de um espelho, fornecendo informações cruciais sobre a
pessoa para a edificação do self (MACEDO; SILVEIRA, 2012).
Por essa mesma vertente, George Herbert Mead também compreende o self.
Na sua obra de relevância intitulada “Mind, Self and Society, Mead propõe que o self
seja definido através das relações com os outros significativos, o que permite que a
identidade possa emergir e mudar com o passar do tempo” (MACEDO; SILVEIRA,
2012, p. 285). Por essa perspectiva de Mead, a mente se caracteriza por reflexionar-
se sobre si – usando para isso símbolos – sobre o próprio self, engendrando a partir
daí comportamentos socialmente percebidos. A partir dessas considerações,
Macedo e Silveira citando McCall e Simmons, anunciam que o

self se diferencia em dois componentes, o mim e o eu: um reflete a


ênfase no nível do indivíduo o outro no nível social. O mim contém
todas aquelas perspectivas sobre si mesmo que o indivíduo aprendeu
dos outros. Já o eu refere-se ao fórum íntimo, a conversa interna que
está constantemente ocorrendo dentro do organismo humano
(MACEDO; SILVEIRA, 2012, p. 285).

Congruente ao que estamos elucubrando aqui, anunciamos os cenários de


entendimento do self a partir do discurso. Isso se deu nos idos de 1980, momento
marcado pela segunda onda da revolução cognitiva. Esta por seu turno, assenta-se
em três pilares, a saber: 1. Contribuições de Lev Semionovitch Vigotski sobre a
inteligência humana e suas raízes sociais, 2. A obra de Harold Garfinkel e sua
abordagem conhecida por análise conversacional e 3. O trabalho de Ludwig
Wittgenstein, popularizando a fundamental importância das práticas humanas, no
processo de se construir significados em um contexto mais amplo acerca das formas
de viver (MACEDO; SILVEIRA, 2012).
Com isso, “nessas concepções sobre o self é possível perceber um
afrouxamento das fronteiras entre mundo interno e mundo externo, e fica
estabelecido o papel das relações com os outros na constituição do self” (MACEDO;
SILVEIRA, 2012, p. 285).
Avançando nossa compreensão acerca do self nas teorias psicológicas
galgamos movimento pós-moderno. E é dessa forma que traremos a terceira
categoria supra citada no início desta seção, que versa sobre os panoramas que
destacam a inexistência do mundo interno do sujeito. Nesta categoria,
85

testemunharemos surgir as correntes do construcionismo, do construtivismo e


também os desdobramentos que se desenvolveram a partir das duas posições. A
escola construcionista, critica veementemente o conteudismo e propõe uma forma
bem radical de desconstruir e principalmente descentralizar o self. Com isso, o self
deixa de ser uma estrutura cognitiva privada e pessoal do indivíduo. Para o
construcionismo, o self é e sempre foi relacional, nascido no seio das linguagens
presentes na dimensão pública da vida humana. A ênfase recai no que é
compartilhado e não exata e especificamente no caráter único do self. O apogeu
dessa proposta recai nos processos socializadores do ser, quando se interrelaciona
com a expressividade da ação humana, lastreada pelos contos de fada, pelas
lendas, histórias de família, biografias e outras expressões artístico-linguísticas da
ação humana. Com isso o self se configura como self-narrativo. Como nos aclara
Macedo e Silveira (2012, p. 285) o termo self-narrativo refere-se “ao relato do
indivíduo sobre o relacionamento entre os eventos relevantes para si. [...] com a self-
narrativa, estabelecemos conexões coerentes entre eventos da vida. E a identidade
é o resultado natural dessa história de vida”.
Seguindo a linha de raciocínio acima, traremos a contribuição abalizada de
Harré e Langenhove na Teoria do Posicionamento. Segunda esta, o indivíduo tem a
possibilidade de posicionar a si mesmo, ou ainda ser posicionado no discurso como
um self. Por esse prisma, se dão os atos de fala que simbolizam a devida posição do
sujeito. Com isso é construída uma linha de história que dá sentido a essa posição
do self. Por meio dela se expressam os fenômenos psicológicos. Devido a isso,
Macedo e Silveira (2012, p. 285) afirmam que “desse modo, os fenômenos
psicológicos deixam de ser vistos como expressões de um mundo mental interior e
passam a receber descrições socialmente contextualizadas”.
Um dos desdobramentos do construcionismo na esfera do self, é a
perspectiva de self dialógico. Essa linha de pensamento, demarca o self a partir de
um diálogo/conversa dialética interna possuindo várias vozes ou pontos-de-vista.
Esse self dialógico, constitui-se por elementos do mundo interno (as vozes, o diálogo
interior) que tem o poder de dialogarem entre si. É como um self-polifônico que o
self-dialógico se apesenta. De acordo com essa perspectiva, “tornar-se um self
significa internalizar o diálogo corrente ao nosso redor. O self não é um ponto de
consciência e vontade, descontextualizado do ambiente em que está inserido, nem
86

algo totalmente disperso na totalidade mundana” (RICHARDSON; ROGERS;


MCCARROLL, 1998, p. 286).
Contíguo a essas explanações, descobrimos também que o self-narrativo
também é empregado por estudiosos que primam por processos cognitivos
universais, ou seja, a escola construtivista. Esta por seu lado, enfatiza a instância
cultural inerente a vários estados psicológicos.
Contemporâneo à fala acima, citamos a teoria do self Bruner. A teoria de
Bruner, alia a estrutura cognitiva universal com significados culturais. O próprio
Bruner nos fala de um “self narrativo, que seria uma entidade mental que se
organiza dentro de uma perspectiva temporal através da autoria da história do
sujeito, que interconecta seu passado, presente e futuro” (MACEDO; SILVEIRA,
2012, p. 286). Portanto trata-se de um self que alia em si tanta a experiência social
como individual.
De maneira semelhante, temos o trabalho de self a partir de Katherine
Nelson. Sua proposta engloba psicologia cognitiva e teoria sociointeracionista de
Vygotsky. A autora defende

que o self emerge a partir das trocas verbais em forma narrativa e


explanatória, com outros significativos, desde cedo na infância. Durante
essas trocas verbais, compartilham-se ou recuperam-se experiências
vividas, assim como as histórias e mitos que alicerçam a cultura. Desse
modo, uma noção de continuidade do self ao longo do tempo é construída
desde o próprio nascimento (MACEDO; SILVEIRA, 2012, p. 286).

Com as construções teóricas acima pontuadas, percebe-se o quanto o


entendimento do self nas múltiplas teorias psicológicas é diversificado e multiforme.
E diante dessa diversidade/enriquecimento que iluminou nossa compreensão acerca
do self, enfatizamos que na conjuntura dos estudos que estamos fazendo aqui, o
autor destas linhas, alinhou-se com a proposta de self da gestalt-terapia.

2.10 TEORIA DO CICLO DE CONTATO DE JORGE PONCIANO RIBEIRO

Nesta seção, falaremos acerca de um paradigma epistemológico bem


abrangente em Gestalt-terapia: a Teoria do Ciclo de Contato de Jorge Ponciano
Ribeiro. Esta teoria se mostra muito pertinente ao tema desta pesquisa, bem como
nos oferece repertório ferramental teórico-técnico para as análises referentes ao
87

nosso tema central: a reconstrução de estilos de contato na estrutura do self dentro


das relações familiares.

2.10.1 Breve introdução à Teoria do Ciclo de Contato

A Teoria do Ciclo de Contato de Jorge Ponciano Ribeiro, trata-se de um


trabalho que engloba e integra diversos construtos. Dentre esses construtos temos:
1. o conceito de campo, 2. o conceito de círculo, 3. o conceito de ciclo, 4. a estrutura
do mecanismo de cura e bloqueio do contato e por fim, 5. a constituição estrutural de
self relacional.
Mediante essa gama de construtos amalgamados e interconectados, o
propósito é “desenvolver um modelo que se aplique tanto a situações clínicas quanto
a outras práticas que possam se fundamentar em nossas teorias e filosofias de
base” (RIBEIRO, 2007, p. 9). A partir daí, temos em mãos um modelo prático-clínico,
que pode ser aplicado como metodologia coerente, segura e eficiente no
entendimento, análise e compreensão aprofundada – com embasamento
fenomenológico, humanista e existencial – acerca do seguinte processo:
reconstrução de estilos de contato na estrutura do self dentro das relações
familiares.
Para efetivarmos essa proposta, iniciamos com a noção de contato,
imprescindível para o desenrolar da teoria supra referida.

2.10.2 Noção de contato

Para se entender com clareza a noção de contato em Gestalt-terapia, é


fundamental ter em mente “a noção de campo, que é o lócus no qual o contato
ocorre, e de ciclo, que é o modo humano como os humanos fazem o ciclo através do
contato” (RIBEIRO, 2007, p. 9). Sendo assim contato se torna significativamente
num jeito de existir e estar presente numa relação.
A partir dos elementos colocados acima – campo e ciclo – podemos iniciar
nossa caminhada para se entender contato. Ribeiro (2007, p. 11) infere que é “pelo
contato com o outro que me percebo como existente. Contato é emoção
88

experienciada, é movimento à procura de mudança, é energia que transforma, é vida


acontecendo, é consciência dando sentido à realidade”.
Com isso em mente, nota-se que para se aperceber como existente na
relação com o outro, isso se dá na dinâmica do campo relacional estabelecido.
Inclusive é essa dinâmica que marcará o tipo de contato feito. Como diz Riberio
(2007, p. 12) “campo é o lugar do contato; é nele que tudo acontece, permitindo que
todos os seres em relação, ao se definirem pelo tipo de contato que os distingue, se
individualizem e possam ser reconhecidos”
Essa individualização e reconhecimento ocorrem no campo. Esse “campo é
composto de microáreas físicas e psicológicas e nele existem fronteiras e contornos”
(RIBEIRO, 2007, p. 12). E é a fronteira e o contorno que possibilitam, e onde
também se dá o encontro das diferenças entre mim e o outro. E isso determina o
contato a ser realizado.
E o contato realizado, pode referir-se ao contato consigo mesmo, com o outro,
com o mundo, o mundo conosco. E como aclara Ribeiro (2007, p. 13) “esses níveis
de contato são fruto, primeiro, da percepção subjetiva que a pessoa tem de como se
relaciona com o outro e, segundo, de como a realidade objetiva é captada pela
nossa subjetividade”. Dessa forma, podemos afirmar que todo e qualquer contato
necessariamente implica numa relação eu-mundo. Ou seja, inicialmente o ser existe,
depois sente, pensa, faz e por fim fala. Noutras palavras, primeiro o ser percebe a
realidade fora de si, em seguida percebe o percebido e então, percebe que
percebeu (RIBEIRO, 2007).
Importante pontuar também, que há diferença entre encontro e contato. O
encontro promove uma relação, uma interatividade. Não necessariamente contato.
Para que isso de fato se suceda é preciso levar em conta o seguinte contexto
presente nas palavras de Ribeiro (2007, p. 31)

Na razão em que um encontro vira contato, as coisas começam a existir.


Numa chuva, água e asfalto se tocam, não se encontram; a água desliza
indiferente sobre o asfalto, mas este toque só se transforma em encontro e,
consequentemente, em contato, quando um começa, não importa em que
nível, a alterar a natureza do outro.

E com isso, o contato tal como exposto acima, se configura e se transforma


no instrumento básico que cria o significado e o sentido das coisas. E esse sentido e
significado possuem relação direta com as microáreas físicas e psicológicas
89

constituídas pelas fronteiras e contornos pertinentes ao campo. E se condensarão


formando o que se conhece por espaço vital. Nas assertivas de Ribeiro (2007, p. 14)
o “espaço vital é resultado de uma rede de contatos que fiz nos vários momentos da
minha vida, e talvez eu possa dizer que ele é fruto das mil experiências dos mil
campos em que experimentei estar em relação comigo e com o outro”. E no campo
permeado pelo espaço vital, se constrói camadas de “memórias/impressões” que
gestarão estilos de contato. Por fim, podemos asseverar juntamente com Ribeiro
(2007) que o espaço vital é dinâmico, refazendo-se e ao mesmo tempo renovando-
se a cada contato que ocorre.
E é exatamente essa proposta/natreza nao estática, portanto, dinâmica e
diligente da noçao de contato que alinha-se com a teoria e definição de self proposta
neste estudo. Tema que virá a seguir: o self e a Teoria do Ciclo de Contato.

2.10.3 Self e Teoria do Ciclo de Contato

A estrutura e constituição do self relacional, é um dos elementos que


perfazem a Teoria do Ciclo do Contato de Jorge Ponciano Ribeiro. Como veremos o
self é um integrante que permite a experiência direta e concreta do contato.
Na verdade, é através do self, como ensina Ribeiro (2007, p. 16) que

se pode visualizar como o contato funciona, quando experienciado no


encontro humano. Ele é, ao mesmo tempo, um processo estruturante do
contato ou uma estrutura processual que se expressa pelo movimento que
regula o pensar, o sentir, o fazer e o falar humanos

Pode-se perceber assim, que é através do self, que se dá o processo de


percepção subjetiva do ser, que se constitui pelo pensar, sentir, fazer e falar. Ou
seja, o self é a expressão da subjetividade primária do contato – do encontro com o
outro.
E essa expressividade da subjetividade por meio do self, institui a identidade
do ser no aqui e agora dentro do campo onde o contato se efetiva. Portanto o self é
função do campo de contato no espaço e no tempo, no aqui e agora. Como
demonstra Ribeiro (2007, p. 16) “ao falar em self, portanto, não estamos falando
dele em si, mas de como o contato se estrutura através das três funções: id, ego e
personalidade. Self é uma função espacial e temporal do contato”.
90

Neste ponto, o próprio Ribeiro (2007, p. 17) adverte que expõe “uma Teoria
do Contato através de modelos geograficamente apresentados como círculos, que
expressam ciclos de movimentos processuais em forma de contato explicitados por
meio das funções do self”. Abaixo, na figura 1, encontra-se apresentado
graficamente a Teoria do Ciclo de Contato, conforme exposta por Jorge Ponciano
Ribeiro neste parágrafo.
Figura 1: Ciclo integrado dos sistemas, níveis e funções do contato

Fonte: Ribeiro (2007).


Retomando declarações já realizadas e reafirmando-as neste momento do
nosso texto, marcamos contextualmente que, a sustentação epistemológica da
Teoria do Ciclo do Contato de Jorge Ponciano Ribeiro, tem por plataforma de
fundamentação os seguintes vetores: o conceito do círculo, a noção de ciclo e de
self, bem como os procedimentos fenomenológicos de descrição da realidade,
contando também com as teorias de base: psicologia da Gestalt, Teoria do Campo e
Teoria Holística.
Como demarca Ribeiro (2007, p. 21) “o ciclo responde, portanto,
epistemologicamente, a toda exigência científica que o transforma num modelo de
descrição diagnóstica e prognóstica. Ele é um instrumento fenomenológico de
descrição da realidade, enquanto descreve e situa um jeito de ser” que ocorre em
um dado campo de contato.
Este modelo contempla nas palavras de Ribeiro (2007, p. 22)
91

1) O ciclo tradicional do contato, que envolve bloqueios e níveis de Contato,


expressão de nosso tipo de ação no ciclo da vida-como-um-todo. 2) Os três
sistemas de funcionamento humano: motor, cognitivo e sensório-afetivo. 3)
O SELF, um existencial, que é uma propriedade estrutural, inerente à
essência da pessoa humana, e está permanentemente, em dinâmica
mudança pela conjugação das variáveis (Eu, ld e Personalidade) que
interferem no seu movimento. Existindo na pessoa e sendo um centro de
processamento de dados da personalidade humana, juntamente com o Eu,
este SELF cria as individualidades existenciais e a multiplicidade
fenomênica que caracteriza todo ser humano. Este modelo contempla o
"Todo” -Self o “Todo“-Sistemas e o “Todo” -Global ciclo do contato, as quais,
dinamicamente intra e inter-relacionados, formam o "Todo” - Pessoa. A
energia interna, que os atualiza sempre, chama-se holismo.

Esse modelo explicita a estrutura do self, enquanto manifestação do contato


no aqui e agora, dentro do campo fenomenológico da expressividade subjetiva da
personalidade do ser.
Como exposto pela figura 1, o self é o eixo central a partir da qual o contato
emerge e procede. Como explica Ribeiro (2007, p. 19-20) a esse respeito temos
que:

“o self é um centro operacional de controle da energia em forma de contato,


de tal modo que o self é o retrato de como a pessoa funciona, em dado
campo. [...]. O self é como o negativo de uma fotografia. Ele existe, mas
precisa ser revelado, se se quer vê-lo mais claramente, e o preparado
químico que o torna visível é o contato. Assim, sem as cinco, sete ou nove
formas de contato ou de bloqueio de contato que aparecem no ciclo, não se
poderia "visualizá-lo". Os mecanismos de mudança ou de cura e seus
bloqueios são elos que dá visibilidade existencial ao self 10.

Depreende-se daí que a visibilidade existencial se transfigura em novas


figuras, portanto, em novas necessidades, e estas por sua vez, somente serão
satisfeitas com novos estilos de contato, consigo, com o outro e com o mundo.
Uma questão sine qua non neste estudo que estamos a realizar, é o conceito
de formação e destruição de figuras em gestalt-terapia no processo do contato –
representação do self relacional. Uma vez que este nos remete ao seguinte
raciocínio: figuras surgem de necessidades de contato, e estas por seu turno são
cíclicas. E como veremos, a terminologia formação e destruição de figuras, não se
mostra adequada. A esse respeito, Ribeiro (2007, p. 19) apresenta a seguinte
recomendação:

Parece, portanto, inadequado dizer: "Formação & destruição de figura. Toda


figura nasce de uma necessidade entre dois seres em contato, a qual, após
completar seu ciclo, ou seja, satisfazer seu objetivo, se retira à espera da
10
Serão explanados em detalhes na continuidade deste texto.
92

emergência de uma nova necessidade. [...]. A formação, portanto, de uma


nova figura não implica a destruição da anterior, mas supõe a anterior como
base para um passo à frente. A expressão correta, portanto, parece ser, em
vez de "Formação e destruição de figura", "Formação e transformação de
figura. [...]. E as consequências para a clínica são imediatas, pois a
transformação de necessidades leva a pessoa a uma sensação interna de
continuidade e, portanto, de percepção de si mesma.

Dessa forma, constata-se pelas assertivas pontuadas nos parágrafos


anteriores, que em cada e qualquer ciclo, que tenha sua necessidade atendida,
necessariamente passa pelo contato e “o organismo ‘transformado’ pelo contato que
se completou se prepara para um novo ciclo. Daí o nome ciclo do contato ou ciclo
das necessidades satisfeitas, uma vez que é por meio do contato que as
necessidades se satisfazem” (RIBEIRO, 2007, p. 19).
A partir do que foi delineado detalhadamente nesta seção secundária, acerca
da relação self e Ciclo de Contato, ou seja, ciclo das necessidades atendidas, é que
podemos articular a próxima temática designada por Fatores de cura: reconstruir o
estilo de contato na estrutura do self.

2.10.4 Fatores de cura: reconstruir o estilo de contato na estrutura do self

Para um entendimento mais completo acerca do tópico em questão, traremos


a contribuição de uma fonte renomada, que tecerá explanações sobre esse conceito.
Ribeiro (2007, p. 56) afirma que fatores de cura

é um processo por meio do qual a pessoa experiencia, em dado momento,


uma sensação de que algo novo, portador de mudança e de bem-estar,
penetrou no seu universo cognitivo, e, através de uma consciência
emocionada, provocada pela percepção de uma totalidade dinamicamente
transformadora, sente se inclinada, motivada, fortalecida para mudar.

Para abordamos acerca da temática Fatores de cura: reconstruir o estilo de


contato na estrutura do self, inicialmente é fundamental entendermos acerca da
natureza do contato. Sobre isso Ribeiro (2007, p. 48) compartilha que

não é possível pensar o conceito de contato sem pensar nos conceitos de


união e separação. O modo como as pessoas se encontram ou se
desencontram revela a profundidade de seu engajamento na relação, que
torna visíveis o grau e o nível de equilibração organísmica que elas
codividem, e procede do processo de união e separação que se relacionam.
Se se conhece o modo como alguém faz contato, conhece-se também o
nível de encontro e separação com que se aproxima das coisas ou pessoas.
93

Isso posto, podemos perceber e descobrir que, à medida que a pessoa vai se
relacionando intrapessoalmente consigo mesma, consegue desfrutar de maior
conhecimento acerca do modo como faz contato, e, portanto, está em condições de
ter consciência mais ampliada, acerca do nível do encontro e separação com os
quais se faz próxima/presentificada ou não das coisas, pessoas e situações. Noutras
palavras, consegue decifrar-se e compreender-se em contato ou bloqueio do
contato.
É nesse ponto que o processo psicoterapêutico ganha intensa
expressividade. Pois, traz à tona os mecanismos e processos inerentes ao
crescimento. Como veremos, crescimento é uma função que se desdobra a partir do
contato.
“Não se podendo pensar contato sem que, implicitamente, se pense em
crescimento. Para isto, é preciso deixar-se levar pelo fluxo do encontro com o outro,
[...], e acreditar no contato como gerador de mudanças e de possibilidades novas”
(RIBEIRO, 2007, p. 49). Com isso, o contato leva a pessoa ao encontro de si
mesma, de sua esfera íntima, até reconhecer-se possível e viável dentro das novas
possibilidades de contato.
Assim estamos diante de um processo gerador de mudanças, pois, o mesmo,
parte dos meandros e interstícios da intrapessoalidade. Como pontua sabiamente
Ribeiro (2007, p. 49) “contato é um ato de autoconsciência totalizante, envolvendo
um processo no qual funções sensoriais, motoras e cognitivas se unem, em
complexa interdependência dinâmica, para produzir mudanças na pessoa e na sua
relação com o mundo”. E esse processo detectado por nós, prescinde de dois
fatores pessoais: a intencionalidade e a responsabilidade.
O que explica o processo da mudança mobilizada, está assentado no
seguinte fato: nosso estilo de contato atual, é fruto das matrizes de contatos
realizadas, que se converteram em introjetos no mundo inconscientemente. E isso
se torna molde para as ações (na verdade de estilos de contato manifestos) que

são necessariamente resultado de valores anteriormente aceitos ou


rejeitados, que, de algum modo, dão sentido a percepção de nossa
realidade externa e à nossa percepção imediata enriquecida agora da
totalidade fenomênica introjetada. Isto nos permite ressignificar a realidade
encontrada como fruto a priori de nossos valores e da pluralidade de
relações própria da natureza percebida no aqui e agora imediatos
(RIBEIRO, 2007, p. 50).
94

Neste sentido, o processo de psicoterapia tem por finalidade, “facilitar um


processo de diferenciação da realidade, com abertura total de horizontes, no qual a
pessoa pense diferente, deseje diferente, se sinta diferente e aprenda a correr
riscos, de tal modo que crie, em sua vida, formas de contato mais nutritivas e
eficientes” (RIBEIRO, 2007, p. 52). Como fruto da psicoterapia, notabiliza-se que,
pouco a pouco a pessoa vai ganhando awareness de sua condição de estabelecer
contato. E isso vai desencadeando momentos ricos de aprendizado, no qual a
pessoa vai aprendendo a fazer novos tipos de contatos reais, e com isso, ela
consegue gradativamente selecionar o que é bom para si mesma. Nesse ínterim,
como denota Ribeiro (2007), refazer o caminho para se estabelecer o contato e a
mudança, são ingredientes basilares em qualquer forma de psicoterapia. Isso só se
efetivará quando a pessoa fizer contato consigo mesmo, com suas potencialidades e
suas totalidades. Não apenas contactando com seus sintomas.
Pois o contato com as potencialidades e as totalidades é profundamente
imprescindível. Assim como veremos em Ribeiro (2007, p. 53) “essa totalidade é,
muitas vezes, quebrada pelo cotidiano, pela rotina, porque, habituados a dar sempre
as mesmas respostas, terminamos por não discriminar mais o que sentimos,
fazemos ou dizemos”. Sendo assim, a pessoa simplesmente repete padrões já
conhecidos. Muitos destes, já se cristalizaram em comportamentos corriqueiros,
presentes nos contatos na forma de resistências ou mecanismos de defesa. Se
tornou uma forma de contato da pessoa. Cabe então buscarmos pelos fatores de
cura.
Esses fatores de cura prescindem da obra de Martin Buber, por meio do
diálogo autêntico, no qual estão presentes as seguintes condições: a) Abertura:
eliminar as barreiras para o encontro, b) Reciprocidade: disponibilidade e entrega
para o intercâmbio das subjetividades, c) Presença: permissão para ser quem se é,
aceitação de quem o outro é e d) Responsabilidade: contribuir com uma visão do
outro como vejo a mim, ofertando respostas espontâneas (RIBEIRO, 2007).
Esta ponte que cogitamos entre diálogo e contato, nos remete ao processo de
fluidez do mesmo ou bloqueio. Por isso necessário realizar o diálogo autêntico da
pessoa para si mesma. Ou seja, resgatar o contato da pessoa consigo mesmo por
meio dos quatro elementos acima demarcados: abertura, reciprocidade, presença e
responsabilidade.
95

Um ponto inexorável, é que o diálogo autêntico nos remete aos fatores de


cura aplicados como mecanismos para contatos mais saudáveis. Para isso Ribeiro
(2007, p. 55) nos orienta acerca das três condições necessárias:

1. que a pessoa sinta sua singularidade, veja-se como diferente do outro e


até, numa dimensão maior, perceba-se como única, singular, no universo; 2.
que a pessoa se sinta no aqui e agora e perceba que o tempo e o espaço
podem se tornar algo concretamente disponível para ela; 3. que a pessoa
se perceba inteira, como consciência de sua própria realidade e da
realidade do outro.

Com esses elementos integrando sua gestalt no contato, a pessoa desperta o


mecanismo de awareness, um dar-se conta de forma plena, e com isso é possível
desvelar novos contornos e fronteiras no campo do contato. Dissolvendo-se ou
remanejando-se assim os mecanismos de defesa/bloqueios de contato.
A respeito desses bloqueios de contato, a literatura gestáltica abalizada sobre
o tema, nos fala num total de nove. Neste trabalho realizado por nós, em relação aos
bloqueios de contato, assumimos a postura defendida na Teoria do Ciclo de
Contato. Diante desta referência, Ribeiro (2007, p.56) explicita que:

O Ciclo do Contato, visto por nós como ciclo dos fatores de cura e bloqueios
do contato, nos dá uma visão das diversas formas que o contato assume
em um processo pleno, com começo, meio e fim. Mostrando a dinâmica da
polaridade saúde e seus bloqueios. Cada momento do ciclo é visto como
passos de saúde, ou na direção da saúde definida por nós como a mais
completa e plena forma de contato. Esses passos ou processos são
chamados, indistintamente na literatura, de fatores de cura, mecanismos de
cura ou fatores psicoterapêuticos.

O próprio Ribeiro (2007) comenta que esses fatores de cura ou fatores


psicoterapêuticos, assim que oportunizados no processo de psicoterapia, ganham
potencial sui generis para engendrarem mudanças, modificar comportamentos,
inclusive afetar a natureza da personalidade. Entendemos também que cada passo
do ciclo de contato, permite à pessoa, se rever como um ser no mundo e também
como ser do mundo para uma posição plena de ser para o mundo.
Continuando nossa exposição, falaremos de um ponto central para o manejo
relativo aos fatores de cura em psicoterapia dos bloqueios de contato. Estamos
falando de três elementos básicos: 1. Operacionalização do universo cognitivo: trata-
se de se descrever para si a próprio a realidade vivenciada. “A pessoa precisa
localizar-se na sua relação com o sintoma, sobretudo por que a mudança ocorre
como resultado de uma procura interessada, constante e inteligente, pois, quando
96

não se procura, não se encontra” (RIBEIRO, 2007, p. 57), 2. Presença de


consciência emocionada. “Não basta só o pensar. O pensar com emoção ajuda o
descobrir e, juntos, pensamento, emoção e ação possuem a força da mudança”
(RIBEIRO, 2007, p. 57), 3. Percepção da totalidade/globalidade dinamicamente
transformadora. “A totalidade precede sempre à consciência plena. Uma vez
alcançada a totalidade, esta leva à consciência, que por sua vez, provoca a
intencionalidade que predispõe para a mudança” (RIBEIRO, 2007, p. 58).
Para elucidar detalhadamente como se dá esse processo na clínica
psicológica, faremos abaixo a transcrição pormenorizada da tabela referente à
“Operacionalização dos bloqueios de contato e fatores de cura”, presente em Ribeiro
(2007, p. 63-66).

Tabela 1 - Operacionalização dos bloqueios de contato e fatores de cura


BLOQUEIOS DE CONTATO FATORES DE CURA
FIXAÇÃO ("Parei de existir."): processo FLUIDEZ: processo pelo qual me
através do qual me apego movimento, localizo-me no tempo e no
excessivamente a pessoas, idéias ou espaço, deixo posições antigas, renovo-
coisas e, temendo surpresas diante do me, sinto-me mais solto e espontâneo e
novo e da realidade, sinto-me incapaz com vontade de criar e recriar minha
de explorar situações que flutuem própria vida.
rapidamente, permanecendo fixado em
coisas e emoções, sem verificar as
vantagens de tal situação. Tenho medo
de correr riscos.
DESSENSIBILIZAÇÃO ("Não sei se SENSAÇÃO: processo através do qual
existo."): processo através do qual me saio do estado de frieza emocional,
sinto entorpecido, frio diante de um sinto melhor a mim mesmo e às coisas,
contato, com dificuldade para me estou mais atento aos sinais que meu
estimular. Sinto uma diminuição corpo me manda ou produz, sinto e até
sensorial no meu corpo, não procuro novos estímulos.
diferenciando estímulos externos e
perdendo o interesse por sensações
novas e mais intensas.
DEFLEXÃO ("Nem ele nem eu CONSCIÊNCIA: processo através do
existimos."): processo através do qual qual me dou conta de mim mesmo de
97

evito contato pelos meus vários maneira mais clara e reflexiva, estou
sentidos, ou faço isso de maneira vaga mais atento ao que ocorre à minha
e geral, desperdiço minha energia na volta, percebo-me relacionando com
relação com o outro, usando um contato mais reciprocidade com pessoas e
indireto, palavreado vago, excessivo ou coisas.
polido de mais, sem ir diretamente ao
assunto. Sinto-me apagado,
incompreendido, pouco valorizado,
afirmando que nada dá certo em minha
vida. Nunca sei por que as coisas me
acontecem como acontecem.
INTROJEÇÃO ("Ele existe, eu não."); MOBILIZAÇÃO: processo através do
processo através do qual obedeço e qual sinto necessidade de me mudar,
aceito opiniões arbitrárias, normas e de exigir meus direitos, de separar
valores que pertencem a outros, minhas coisas das dos outros, de sair
engolindo coisas sem querer e sem da rotina, de expressar meus
conseguir defender meus direitos por sentimentos exatamente como sinto e
medo da minha própria agressividade e de não ter medo de ser diferente.
da agressividade dos outros. Desejo
mudar, mas temo minha própria
mudança, preferindo a rotina,
simplificações e situações facilmente
controláveis. Penso que as pessoas
sabem melhor do que eu o que é bom
para mim. Gosto de ser mimado.
PROJEÇÃO ("Eu existo, o outro eu AÇÃO: processo através do qual
crio.") processo através qual eu, tendo expresso mais confiança nos outros,
dificuldade de identificar o que é meu, assumo responsabilidades pelos meus
atribuo aos outros, ao mau tempo, próprios atos, identifico em mim mesmo
coisas de que não gosto em mim, bem as razões de meus problemas, ajo em
com a responsabilidade pelos meus nome próprio sem medo da minha
fracassos, desconfiando de todo ansiedade.
mundo, como prováveis inimigos. Sinto-
me ameaçado pelo mundo em geral,
98

pensando demais antes de agir,


identificando facilmente nos outros
dificuldades e defeitos semelhantes aos
meus e tendo dificuldade de assumir
responsabilidade pelo que faço, gosto
que façam as coisas no meu lugar.
PROFLEXÃO ("Eu existo nele."); INTERAÇÃO: processo através do qual
processo através do qual desejo que os me aproximo do outro sem esperar
outros sejam como eu desejo que eles nada em troca, ajo de igual para igual,
sejam, ou desejo que eles sejam como dou pelo prazer de dar, convivo com as
eu mesmo sou, manipulando-os a fim necessidades do outro sem esperar
de receber deles aquilo de que preciso, retribuição, sinto que estar e relacionar-
seja fazendo o que eles gostam, seja me com o outro me ajuda a me
submetendo-me passivamente a eles, perceber como pessoa.
sempre na esperança de ter algo em
troca. Tenho dificuldade de me
reconhecer como minha própria fonte
de nutrição, e lamento profundamente a
ausência do contato externo e a
dificuldade do outro em satisfazer
minhas necessidades
RETROFLEXÃO ("Ele existe em mim."); CONTATO FINAL: processo através do
processo através do qual desejo ser qual sinto a mim mesmo como própria
como os outros desejam que eu seja, fonte de prazer, nutro-me do que gosto
ou desejo que eu seja como eles e do que quero sem intermediários,
próprios são, dirigindo para mim mesmo relacionando-me com as pessoas de
a energia que deveria dirigir a outrem. maneira direta e clara, e uso minha
Arrependo-me com facilidade, por me energia para usufruir com os outros o
considerar inadequado nas coisas que prazer do momento.
faço, por isso as faço e refaço várias
vezes, para não me sentir culpado
depois. Gosto de estar sempre ocupado
e acredito que posso fazer melhor as
coisas sozinhas do que com a ajuda
99

dos outros. Deixo de fazer coisas com


medo de ferir e ser ferido. Sinto que,
muitas vezes, sou inimigo de mim
mesmo.
EGOTISMO ("Eu existo, eles não."); SATISFAÇÃO: processo através do
processo através do qual me coloco qual vejo que o mundo é composto de
sempre como o centro das coisas, pessoas, que o outro pode ser fonte de
exercendo um controle rígido e contato nutritivo, que o prazer e a vida
excessivo no mundo fora mim, podem ser co-divididos, que pensar em
pensando em todas as possibilidades possibilidades é pensar em
para prevenir futuros fracassos ou crescimento, que é possível desfrutar
possíveis surpresas. Imponho tanto compartilhando e que mundo fora de
minha vontade e desejos que deixo de nós pode ser fonte de prazer.
prestar atenção ao meio à minha volta,
usufruindo pouco e sem vibração o
resultado de minhas manipulações.
Tenho muita dificuldade em dar e em
receber.
CONFLUÊNCIA ("Nos existimos, eu RETIRADA: processo através do qual
não"): processo através do qual me ligo saio das coisas no momento em que
fortemente aos outros, sem diferenciar o sinto que devo sair, percebendo o que é
que é meu do que é deles; diminuo as meu e o que é dos outros, aceito ser
diferenças para sentir-me melhor e diferente para ser fiel a mim mesmo,
semelhante aos demais e, embora com amo o "Eu" e aceito o "nós quando me
sofrimento, termino obedecendo a convém, procuro o novo e convivo com
valores e atitudes da sociedade ou dos o velho de maneira crítica e inteligente.
pais. Gosto de agradar aos outros,
mesmo não tendo sido solicitado e,
temendo o isolamento, amo estar em
grupo, agarrando-me firmemente aos
outros, ao antigo, aceitando até que
decidam por mim coisas que me
desagradam

Fonte: Ribeiro (2007).


100

Após trazer informações e orientações minuciosas a respeito dos bloqueios


de contato e seus respectivos fatores de cura envolvidos, teceremos então, a partir
de agora, esclarecimentos sobre o caminho terapêutico-gestáltico no ciclo de
contato

2.10.5 O caminho terapêutico-gestáltico no ciclo de contato

Após apresentarmos nas seções secundárias acima, as temáticas vinculadas


e que dão embasamento à Teoria do Ciclo de Contato de Jorge Ponciano Ribeiro,
faremos ponderações do campo prático da mesma, uma vez que esta proposta se
alinha inexoravelmente com a psicoterapia gestáltica dos estilos de contato.
A psicoterapia gestáltica se apresenta neste contexto como uma possível
função do contato. E para que esta função do contato possa emergir e ocorrer com
acurácia, pertinente se faz no contexto psicoterapêutico três elementos, a saber:
totalidade, consciência e o próprio contato. Na totalidade, o paciente é visto na sua
inteireza, na sua globalidade relacional consigo, com ou outro e com a realidade
fenomênica do mundo. Na consciência, temos o elemento que assegura o estado de
presentificação do paciente no falar, no sentir, no pensar e no agir, configurando os
possíveis campos dos insights e awareness. E no contato, o paciente adentra a
esfera da possibilidade e da permissão de abertura para sua dimensão subjetiva,
tendo o terapeuta por acompanhante. Esses três elementos se entrelaçam e
transformam-se no tripé da mudança. “Quando falta um destes elementos na relação
terapêutica, rompe-se o processo de mudança e ocorre a fragmentação, tornando o
contato inoperante” (RIBEIRO, 2007, p. 31).
Com a percepção acima, afirmamos peremptoriamente que, no contato
psicoterapêutico, diversas figuras por parte do paciente afluirão e irão compor a
partitura de inúmeras e inusitadas gestalten que emergem. E é neste movimento que
o terapeuta se faz presente, ofertando no aqui e agora a possibilidade do paciente
caminhar seu caminho. Um caminho composto de permissão e destemor para co-
criar o ciclo da mudança na sua vida. Ciclo este que, cabalmente, oferece e convida
para um nível de entendimento, apreensão e compreensão dos campos em que o
paciente se moveu, está ainda se movendo e aqueles que quer mover ainda. Isso é
primordial em psicoterapia.
101

Como alumia Ribeiro (2007, p. 35)

A psicoterapia não tem necessariamente a ver com a cura, mas sim com a
mudança, a qual pode levar à cura. Mudar significa ressignificar coisas,
pessoas, e, sobretudo, a própria existência. Não é um ato da vontade
apenas, é um ato integrado, envolvendo a pessoa na sua relação com o
mundo como uma totalidade consciente.

Este processo de mudança dentro da perspectiva gestáltica aqui postulada,


se vale do Ciclo integrado dos sistemas, níveis e funções do contato (ver figura 1 na
seção 3.10.3 Self e Teoria do Ciclo de Contato). Pois este ciclo, nos auxilia a ter a
seguinte percepção acerca do self relacional: 1. o possível bloqueio de contato
presente (fixação, dessensibilizarão, deflexão, introjeção, projeção, proflexão,
retroflexão, egotismo, confluência) com seu respectivo fator de cura (fluidez,
sensação, consciência, mobilização, ação, interação, contato final, satisfação,
retirada), 2. os três sistemas básicos da personalidade (cognitivo, sensório-afetivo,
motor) e 3. as funções do self envolvidas (id, ego, personalidade). E é baseado na
dinâmica operativa e operacional desses constituintes assinalados, que o
mecanismo de mudança floresce no self. Pois todos eles, são expressões do self na
sua instância relacional, ou seja, no seu processo de contato (RIBEIRO, 2007).
A partir do que foi veiculado, podemos inextricavelmente afirmar que, a
mudança embrionariamente, no processo psicoterapêutico gestáltico, se dá e ocorre
nos três níveis seguintes: sensório, motor e cognitivo. Pois, como defende Ribeiro
(2007, p. 35) “a interdependência deles gera emoções e afetos que são
determinantes poderosos no surgimento e na compreensão do comportamento”.
Este processo, tal como foi mencionado, encontra-se graficamente ilustrado abaixo
na figura 2.

Figura 2 - O ciclo de mudança


102

Fonte: Ribeiro (2007).

Na figura 2, “o contato com o self no centro é a expressão mais afirmativa de


seu aspecto relacional e da totalidade visível nas diversas formas que o contato
assume como expressão da pessoa humana” (RIBEIRO, 2007, p. 46).
Dessa forma, nota-se que no processo psicoterapêutico, o paciente tem a
oportunidade de se perceber diferente, perscrutar suas necessidades, questionar-se,
encontrar-se consigo no seu campo emocional e comportamental. Neste âmbito, vai
conseguindo aperceber-se das estruturas constitutivas que construíram seu estilo de
encontro com o outro. E assim, consegue tangenciar o modo de que seu self se vale
para entrar e estar em contato. E é dessa forma que, psicoterapeuticamente, vai-se
emergindo “uma consciência emocionada, de onde nasce o processo de mudança
real” (RIBEIRO, 2007, p. 35).
Neste ponto desses estudos que estamos a realizar, importante trazermos a
seguinte contribuição, envolvendo o processo psicoterapêutico gestáltico do self e o
contato, pois ambos redundam na mudança. Essa contribuição vem nas mãos de
Ribeiro (2007, p. 39) que expõe que

Enquanto gera gestos e sinais, o contato é figura e pode ser visto, descrito.
Como fundo, é expressão de nossas introjeções acumuladas ao longo dos
anos e simbolizadas pelo nosso modo de estar no mundo. O contato é,
portanto, um jeito de ser e um jeito de se expressar.
103

O contato como jeito de ser e de se expressar, na verdade, acaba por tornar


visível e concreto aos outros a estruturação do self. Uma vez que o contato é, e se
torna agente promissor do self. O contato é um agente de expressão que revela e
desvela o self, e como como afirma Ribeiro (2007, p. 39) “ele me faz visível aos
outros e me remete à camada mais profunda de mim mesmo, quando tento percebe
o porquê do meu jeito de ser”. Congruente e complementando estas asseverações
feitas, Ribeiro (2007, p. 39-40) anuncia que o self

É uma elaboração fruto da relação dinâmica existente na relação pessoa-


mundo, em um dado espaço vital. O surgimento de um modo de ser, que se
faz visível no modo como fazemos contato, é operacionalizado pelos três
sistemas básicos de nossa estrutura vital: o sensório, o cognitivo e o motor,
os quais, em Intima relação com os diversos campos em que nos movemos,
somos e existimos, fazem surgir nosso self visível.

E assim, o caminho terapêutico-gestáltico vai ganhado forma. De maneira


emotivo-artesanal, terapeuta e paciente vão singrando juntos pelos campos do
contato. E conjuntamente, vão aprendendo que, a forma com que se faz contato,
procede de inúmeras combinações que, ao longo do tempo se relacionando, pouco
a pouco converteram-se nas respostas e condutas mais habituais do self aos
estímulos de fora. E o self foi se tecendo nas tecituras dos campos vividos e
introjetados. “Fica claro, nesta posição, que o self é um processo figural em
permanente mudança, [...], constitui a individualidade e identidade da pessoa,
fazendo que sejamos a cara dos contatos que fizemos ao longo do tempo”
(RIBEIRO, 2007, p. 43). Por isso, é função da psicoterapia descobrir os meandros
por onde o paciente passou, que gradativamente compuseram seu repertório de
bloqueio de contato.
E com esse repertório em mãos, na presença da consciência, dos insights, de
awareness e da totalidade do paciente, compor novas notas de uma nova melodia.
Uma sinfonia com mais funcionalidade na partitura do contato, sob a regência
excelsa e expressa do self. E assim, o paciente terá condições de compor e de se
compor de novos estilos na musicalidade do contato.
E finalizamos apontando que o self é o contato que fazemos. Como diz
Ribeiro (2007, p. 47) “O self é um sistema central, interior, como uma coluna
vertebral. É o lugar onde ocorrem as emoções, as sensações mais profundas. É a
síntese daquilo em que nos tornamos ao longo da vida. É nossa auto-imagem”.
104

Quando nos damos conta disso, de que o self é nossa autoimagem, percebemos
que o self é o retrato que fazemos de nós mesmos ao longo do tempo, pelos
campos de contatos que passamos. Quando em psicoterapia, a relação dialógica
paciente-terapeuta, mobiliza os ingredientes integrantes da autoimagem relacional
do paciente, notadamente mudanças reais e efetivas ocorrem. Ou seja, ocorre
reconstrução do estilo de contato na estrutura do self.
Na sequência desta exposição, iremos conversar sobre a reconstrução do
estilo de contato na estrutura do self dentro das relações familiares.

2.10.6 Família: lugar de contato e possibilidade de reconstução

Iniciamos nossa fala, trazendo elucidaçoes acerca do conceito família dentro


da gestalt-terapia, uma vez que este, remeter-nos-á ao ciclo de contato. A respeito
dessa tematica, Aguiar (2014, p. 82) exclama que

A família, do ponto de vista da Gestalt-terapia, é vista como uma totalidade


inserida em outras totalidades e composta por diferentes elementos – os
indivíduos que a compõem – que se encontram em permanente interação,
afetando uns aos outros na busca da melhor forma possível de
autorregulação.

Por essa definição pontuada, nota-se já de início, como característica


marcante, o aspecto existencial-relacional presente na estrutura de funcionalidade
da família. Ou seja, família é local de interação, de contato.
Neste cenário, o mecanismo de autorregulação familiar, como foi
suprarreferido, nos remete à dinâmica intrínseca familiar de que, seus integrantes se
influenciam mutuamente, até constituírem funcionalmente um sisitema em equilíbrio.
Aguiar (2014, p. 83) corrobora tal exposiçao afirmando que “a noção de
autorregulação familiar, ou seja, de que os membros de uma família se influenciam
mutuamente, reagem e respondem às expectativas e necessidades do outro”.
Por isso, podemos categorizar que o processo relacional familiar, gesta e
gera propostas comportamentais operativas entre seus integrantes. A respeito dessa
tendência familair demarcada, assegura Aguiar (2014, p. 82) na família, “seus
elementos estão em permanente interação, o comportamento de cada um deles está
relacionado e depende do comportamento de todos os outros”.
Mediante o que foi mencionado até este momento, notório se faz asseverar
neste quesito, que esse fator de interdependência comportamental estruturante no
105

seio da família, constitui a formação, edificação e evolução de uma gestalt. Mediante


a qual, seus membros irão orbitar, encontrando o lugar mais ajustado para si num
contínuo processo de ajuste-desajuste-reajuste, ou seja, de reconfigurações
relacionais sempre que se fizerem necessários. Esse ponto de vista, foi-nos
ensinado por Aguiar (2014, p. 82) nos seguintes dizeres:

Assim, a mesma perspectiva de totalidade autorregulada e relacional que


temos para o ser humano é válida para nossa forma de perceber o grupo
familiar, bem como a noção de desenvolvimento contínuo da família por
meio de sucessivas reconfigurações sempre que o “equilíbrio” dela se
altera.

Esse processo acima assinalado, de reconfigurações, alinha-se aos seguintes


dizeres de Zinker (2001, p. 244) quando este depreende que

a saúde de uma família está refletida em sua habilidade para fluir entre as
interações adulto-adulto, adulto-criança, criança-criança, e usar livremente
todas as combinações possíveis. Qualquer combinação fixa que ocorra com
mais frequência do que os outros agrupamentos deve ser notada e
abordada em seus aspectos nutridores ou venenosos. O agrupamento fixo
mais comum é aquele formado pelos pais e por um dos filhos. Isto pode ser
disfuncional, impedindo que os adultos interajam um com o outro.

Com isso, podemos afiançar a partir da perspectiva gestáltica que, um


contexto familiar saudável, define-se não pelos seus elementos em si, e sim, “pela
sua configuração, os lugares ocupados por eles na dinâmica familiar e as funções
estabelecidas” (AGUIAR, 2014, p. 86). Diante disso, temos que numa família
saudável, sua configuração, ou seja, o lugar ocupado pelos seus integrantes e suas
funções ajustadas, seja em cenários de coesão ou ainda de diferenciação, possui
sempre respeitada as fronteiras bem como os contornos do contato entre seus
membros. Com isso, é possível acolher e negociar as diferenças que se
apresentam.
No entanto, no cotidiano, o que nossas lentes captam é uma realidade que se
difere ou distancia-se da postulada acima. Uma vez que cada indivíduo pertencente
ao núcleo familiar, encontra-se impreterivelmente perpassado por diversos
ingredientes do seu contexto social, histórico e cultural. “Em alguns momentos isso
serve para a manutenção de seu equilíbrio; em outros, funciona exatamente como o
fator que promove o desequilíbrio, demandando reconfigurações” (AGUIAR, 2014, p.
85). E é exatamente tais reconfigurações, pela sua conjuntura, que irão impactar
decisivamente a realização e efetivação do contato no ambiente familiar. Que muitas
106

vezes será prejudicado, pois os contornos e as fronteiras do contatos se encontram


dilapidadas, ou dissolvidas, ou ficaram inexistentes, ou enfraqueceram ou ainda, se
romperam. O que gera bloqueios de contato.
Assim conseguimos abonar e garantir que o cenário familiar por excelência é
lugar de contato. Ou seja, de manifestação do self. Que por seu turno, no artesanato
de sua expressividade, vai cunhando os seus próprios estilos de contato. Perante
isso, a principal tarefa terapêutica é fazer a pessoa do paciente, refletir acerca do
papel e lugar que ele se coloca na dinâmica familiar, para assim, promover
reconfiguração ou recomposição de suas funções. O que possibilita ocupar um lugar
diferente do que ocupava antes em termos de contato. Ou seja reconstruir seu estilo
de contato na estrutura do self, dentro da sua relação familiar.
Como palavras finais, deixamos transparecer aqui, o que em setting
terapeutico foi observado. À medida que o paciente, ao longo das sessões
realizadas, desenvoleu insights e awareness de sua posição e função em sua
constelação familiar, deu-se espaço para emergir novas possibidades afetivo-
sentimentais, novas fronteiras e contornos para o encontro com os demais
integrantes do sistema familiar. Com isso os fatores de cura já pontuados neste
trabalho, entraram em cena. E no palco familiar, o paciente conseguia estar com seu
self, expressando-se num estilo de contato mais libertador, fluído e mais saudável
para si.
107

3 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES REALIZADAS

Para a efetivação desse Estágio Supersivisionado II, realizou-se durante os


atendimentos individuais, as seguintes atividades: anamnese fenomenológica,
escuta psicoterapêutica qualificada, acolhimento, contrato terapêutico, intervenções
clínicas, transcrição dos atendimentos e apresentação de 3 casos clínicos atendidos.
Estes se encontram descritos a seguir.

3.1 ANAMNESE FENOMENOLÓGICA

A anamnese fenomenológica consistiu na interação dialógica-processual que


ocorreu entre psicoterapeuta e paciente. Esta, se deu por meio de perguntas,
compondo uma estrutura de entrevista semiestruturada visando conhecer a história
de vida do paciente, para a partir de então, fenomenologicamente (munindo-se da
descrição fenomenológica, da redução fenomenológica e da interpretação
fenomenológica), se construir a proposta diagnóstica e prognóstica do mesmo.
Para tanto buscou-se conhecer do paciente – especialmente nas sessões
iniciais – o seguinte: dados sociodemográficos (nome, endereço, idade, data de
nascimento, naturalidade, procedência, estado civil, com quem reside, profissão,
religião e telefones para contato), queixa principal, figura-fundo identificado no
discurso, sintomas psicossomáticos, história de vida, tratamentos médicos ou outros
que faz, uso de medicamentos, vícios, o que faz como lazer e hobbie, seus
relacionamentos (com pai, mãe, irmãos, amigos, cônjuge/namorada(o), filhos e
colegas de trabalho), rede de apoio, características que mais gosta/admira em si,
características que menos gosta/admira em si, habilidades e talentos, áreas de
conhecimento e experiência, traços de personalidade e qualidade positivas,
realizações mais importantes na vida, pessoas mais importantes na vida, como se
define, do que goste de conversar, sonhos, objetivos e metas.

3.2 ESCUTA PSICOTERAPÊUTICA QUALIFICADA

A escuta psicoterapêutica qualificada, consistiu no processo interativo de


disponibilização e presentificação do terapeuta frente ao paciente, no sentido de
ouvir e escutar suas falas, seu discurso. Tanto a nível verbal (fala, conteúdo) quanto
não-verbal (postura, gestos, olhar, contato ocular, respiração, presença de
108

elementos paraverbais – tom, timbre, silêncio, cadência e fluidez verbal –


movimentos e expressões corporais com as pernas, braços e mãos).
Para tanto, coube ao terapeuta, uma postura de abertura, empatia, não
julgamento, respeito e validação de tudo o que o paciente compartilhou. E no sentido
de se efetivar tecnicamente a escuta psicoterapêutica qualificada, os seguintes
passos foram seguidos: 1. identificação e análise do problema/queixa trazido pelo
paciente, 2. ampliação da compreensão acerca do problema/queixa trazida (por
meio da redução fenomenológica), 3. avaliação dos recursos pessoais existentes no
paciente e os que podem ser desenvolvidos por ele para lidar com o
problema/queixa, 4. definição do potencial de mudança ou manejo para lidar com a
situação problema/queixa, 5. utilização de técnicas ou ações específicas para se
efetivar o processo de mudança e/ou manejo para lidar com o referido
problema/queixa relatada e 6. Orientação psicológica acerca das possibilidade
terapêuticas envolvidas no problema/queixa abordada.

3.3 ACOLHIMENTO

O acolhimento consisitiu na permissão e construção por parte do terapeuta de


um espaço-momento durante o atendimento terapêutico (podendo inclusive perdurar
pelo tempo todo de duração do atendimento) para que o paciente pudesse trazer e
falar subjetivamente da sua dor, da sua queixa, da singularidade de sua demanda,
dos seus problemas, relatando inclusive suas dificuldades em lidar com os mesmos,
sua confusão e sua desorganização psíquica. O terapeuta portanto, ofertou um
espaço-momento para o paciente exprimir seus sentimentos e suas angústias,
fossem esses quais fossem.
Diante disso, o terapeuta se presentificou por meio da escuta e posicionou-se
de maneira autêntica, com consideração positiva incondicional pelo paciente, com
empatia, sem julgamentos ou sequer avaliações de quaisquer ordens. Ofereceu
apoio, suporte e legitimação para a fala trazida pelo paciente neste espaço-
momento. Com isso foi possivel erigir possibilidades de reestruturação psíquica e
fomento da esperança, bem como proporcionar alívio, regulação e organização
mental e emocional ao paciente.

3.4 CONTRATO TERAPÊUTICO


109

O contrato terapêutico compreendeu na estruturação e regularização das


regras envolvidas no processo psicoterapêutico. O objetivo foi garantir as condições
básicas para a realização da psicoterapia.
Esse contrato terapêutico foi realizado de forma verbal e aconteceu no final
da primeira sessão. O mesmo estabeleceu os combinados entre terapeuta e
paciente, e tinha como premissas o seguinte: início e término da psicoterapia;
duração de cada atendimento; intervalo entre os atendimentos; frequência dos
atendimentos; interrupção dos atendimentos; atrasos, remarcações e faltas; local
dos atendimentos; funcionamento do processo psicoterapêutico; expectativas dos
atendimentos; sigilo e também das situações em que a quebra de sigilo pode
acontecer.

3.5 INTERVENÇÕES CLÍNICAS

Durante os atendimentos foram feitas as seguintes intervenções clínicas: 1.


Escuta qualificada (processo interativo de disponibilização e presentificação do
terapeuta frente ao paciente, no sentido de ouvir e escutar suas falas, seu discurso.
Tanto a nível verbal quanto não-verbal), 2. Acolhimento (construção de um espaço-
momento para o paciente exprimir seus sentimentos e suas angústias), empatia
(perceber o conteúdo trazido na fala pelo paciente pela ótica do paciente), coleta de
dados (perguntas acerca de informações relevantes para a psicoterapia), devolutivas
(processo de feedback de acordo com as necessidades do paciente, anamnese
fenomenológica (entrevista-se questões relativas à história de vida completa do
paciente, 3. Avaliação intermediária (momento da terapia que consiste em avaliar
como o paciente chegou, como está atualmente e o que gostaria de trabalhar a partir
daquele momento. Visa auxiliar na definição de foco no processo psicoterapêutico),
4. Experimento (convite na forma de ação para o paciente se experienciar a partir de
uma postura fenomenológica e dialógica em um contexto de aceitação, respeito,
confiança visando ampliação de awareness), 5. Autoapoio (terapeuta auxilia o
paciente a descobrir e mobilizar os próprios recursos, para descobrir a própria
capacidade, para fazer alguma coisa em favor de saua situaçao terapêutica), 6.
Monodrama (expressão de ideias, problemas, soluções ou jeito de ser a partir de
uma técnica teatral), 7. Diário das Emoções (registro das emoções vividas no dia-a-
dia nos mais variados ambientes), 8. Respiração hipnosistêmica (exercício
110

respiratório para o controle de estados de ansiedade, agitação mental e inquietação


física ou emocional, incluindo mentalização de cores e sensações), 9. Integração de
partes conflitantes (recurso auditivo-sinestésico para harmonização e ressignificação
do conflito), 10. Relaxamento sintônico (procedimento que usa a respiração e o
relaxamento profundo para promover autorregulação emocional e mental), 11.
Realinhando a constelação familiar interna (processo criativo-dramático para
realinhamento emotivo dos aspectos relativos à hierarquia, equilíbrio entre
dar/receber e o pertencimento na constelação familiar interna do paciente).

3.6 TRANSCRIÇÃO DOS ATENDIMENTOS

O conteúdo relativo a cada atendimento efetuado, bem como os


encaminhamentos realizados e os documentos psicológicos emitidos durante o
tempo em que ocorreu este estágio, foi devidamente registrado de forma manuscrita
na transcrição do atendimento. Os mesmos compuseram o prontuário do paciente
que foi atendido.

3.7 CASOS CLÍNICOS

Nesta seção, apresentaremos de forma sucinta e objetiva a descrição de 3


(três) casos clínicos que foram atendidos por mim durante o Estágio Supervisionado
II, incluindo as ações desenvolvidas e os resultados que foram alcançados nos
mesmos.

3.7.1 Caso 1: “SOU MUITO SOBRECARREGADA”

C. M. L. S. M., 51 anos, casada, mãe, bacharel em administração, funcionária


pública, mora com o marido, um filho e uma filha. A paciente foi atendida no período
compreendido entre 07/05/2021 e 23/07/2021. Durante este período foram
realizados 8 atendimentos. A paciente C. M. L. S. M., tinha como queixa principal:
sobrecarregada na vida pessoal/doméstica, ajustamento depressivo e deficiência
crônica na sua autoestima.

3.7.2.1 Descrição das ações desenvolvidas

Durante os encontros com a paciente C. M. L. S. M., desenvolveu-se as


111

seguintes ações: 1. Atendimento clínico gestáltico – que consisitu em atendimentos


psicológicos semanais. 2. Anamnese fenomenológica – estrutura fundamental para o
processo de diagnóstico e prognóstico psicológico, tendo por norte o processo de
redução fenomenológica, composto por uma entrevista completa acerca das
situações e história de vida do paciente. 3. Avaliação intermediária – técnica que
consistiu em avaliar 3 situaçôes específicas: a) Como o paciente chegou, b). Como
está atualmente e c) O que gostaria de trabalhar a partir daquele momento. Visa
auxiliar na definição de foco em processos psicoterapêuticos. 4. Presente do mar –
experimento construído no momento do atendimento, alinhando metáfora com a fala
do paciente durante a sessão terapêutica. Consistiu em visualização e mentalização
somáticas de quais presentes o mar entrega para a paciente, representando assim
habilidades, potencialidades, e recursos psicológicos para serem utilizados em
momentos de instabilidade emocional. 5. Desenhando Meu Monstro – recurso
artístico-criativo que consistiu na expressão por meio do desenho, determinadas
emoções que causam intenso e agudo desconforto psicológico. A partir dessa
expressão, fez-se redução, análise e interpretação fenomenológica. 6. Autoapoio –
proposta atitudinal, por meio da qual, o paciente consegue mobilizar seus próprios
recursos, e assim, descobre sua própria capacidade e competência, gerando
proatividade a favor de sua situaçao terapêutica, bem como de sua vida como um
todo. 7. Monodrama – expressão de situações problema, conteúdos emocionais e
psicológicos a partir de uma técnica teatral no contexto clínico. 8. Diário das
Emoções – registro e expressividade das emoções vividas no dia-a-dia com a
família, no ambiente laboral e momentos proprioceptivos.

3.7.2.1.1 Resultados alcançados

Os atendimentos efetuados tiveram intensa participação ativa da paciente C.


M. L. S. M. e os resultado obtidos foram os seguintes: a paciente tomou consciência
da sua sobrecarga, bem como do impacto dessa sobrecarga na esfera pessoal,
familiar e profissonal. Conseguiu olhar para si e a aprtir disso, agendou cuidados
ginecológicos para sua menopausa e retomou a prática de atividade física. Também
tomou consciência da raiva e fúria descomedidas que cultivava em si, e com isso
manejou estratégias para expressá-las de maneira assertiva e saudável em seus
relacionamentos. Percebeu a forte sobrecarga de estresse e tarefas laborais em sua
112

rotina pessoal e familair, e a partir disso, fez gestão mais congruente do seu tempo.
Também acionou os autossuportes (fantasia guiada e Presente do Mar – que foram
desenvolvidos durante os atendimentos) em sua rotina pessoal e laborativa.
Desenvolveu o diálogo com mais clareza com sua família e seu marido. E por fim,
assumiu sua total responsabilidade em cuidar de si e se fazer bem por meio de
mimos, como dormir mais, se preocupar menos, sair do lugar de faz tudo.
A paciente finalizou seu processo terapêutico após oito sessões, bem ciente
dos seus autosuportes, da sua absoluta responsabilidade pelo seu bem-estar e a
posibilidade de levar a vida de forma mais leve, se permitindo ocupar um outro lugar
na constelção familair e profissional.

3.7.3 Caso 2: “SOU MUITO ESQUENTADO”

E. L, 59 anos, casado, possui ensino médio completo, aposentado, está na


reserva da PM-AC, mora com a esposa e dois filhos. O paciente foi atendido no
período compreendido entre 02/06/2021 e 25/08/2021. Durante este período foram
realizados 11 atendimentos. O paciente E. L., traz como queixa principal:
comportamentos impulsivos e explosivos.

3.7.3.1 Descrição das ações desenvolvidas

Durante os encontros com o paciente E. L., foi desenvolvido as seguintes


ações: 1. Atendimento clínico gestáltico – que consisitu em atendimentos
psicológicos semanais. 2. Anamnese fenomenológica – estrutura fundamental para o
processo de diagnóstico e prognóstico psicológico, tendo por norte o processo de
redução fenomenológica, composto por uma entrevista completa acerca das
situações e história de vida do paciente. 3. Respiração hipnosistêmica – exercício
respiratório que consiste em utilizar a região diafragmática para o controle de
estados de ansiedade, agitação mental e inquietação física ou emocional, incluindo
mentalização de cores e sensações. 4. Relaxamento sintônico – técnica que por
meio da respiração e do relaxamento profundo, promoveu autorregulação emocional
e mental, o que auxiliou a diminuir/minimizar a sobrecarga de natureza biopsíquica
nas emoções. 5. Encaminhamento – foi realizado encaminhamento para o médico
psiquiatra.
113

3.7.3.1.1 Resultados alcançados

Os atendimentos efetuados com E.L., tiveram como resultados: o paciente


tomou consciência da sua forma grosseira e rude de se relacionar com as pessoas,
especialmente sua família, muitas vezes aginda com explosividade e impulsividade.
Pode entrar em contato com sua história de vida, e, percebeu quantas situações de
gratidão tem, bem como o quanto recebeu afeto das pessoas. Tomou consciência
do seu jeito inquieto, agitado, sua fala taquilálica, seu pensamento ansioso e
disperso. E a possibilidade de auxílio médico psiquiátrico. Com o auxílio da
medicação e dos insights durante os atendimentos, percebeu seu pensamento
fluído, organizado, voz calma, fala organizada, movimentos corporais compassados,
sem agitação ou inquietação. E teve awareness dos efeitos da psicoterapia em sua
vida comportamental, uma vez que seu ambiente em casa ficou mais leve, o
tratamento com os filhos e a esposa está mais calmo, mais controlado, mais
paciente.
O paciente finalizou seu processo psicoterapêutico após onze sessões,
estando cônscio para cuidar do seu quadro médico relacionado ao Comportamento
Tipo A, psicológica e mentalmente organizado e se relacionando interpessolamente
com mais leveza e calma. Tratando as pessoas com mais educação e delicadeza.

3.7.4 Caso 3: “NÃO TENHO LUGAR NO MUNDO”

G. S. F., 22 anos, solteira, formanda em enfermagem, mora com a mãe e sua


irmã. A paciente foi atendida no período compreendido entre 28/05/2021 e
24/09/2021. Durante este período foram realizados 13 atendimentos. A paciente G.
S. F., apontou como queixa principal: ansiedade generalizda, angústia da separação
dos pais e ideações suicidas.

3.7.4.1 Descrição das ações desenvolvidas

Durante os encontros com a paciente G. S. F., desenvolvemos as seguintes


ações: 1. Atendimento clínico gestáltico – que consisitu em atendimentos
psicológicos semanais. 2. Anamnese fenomenológica – estrutura fundamental para o
processo de diagnóstico e prognóstico psicológico, tendo por norte o processo de
114

redução fenomenológica, composto por uma entrevista completa acerca das


situações e história de vida do paciente. 3. Integração de partes conflitantes –
técnica auditiva-sinestésica que consistiu em identificar em cada mão uma parte
conflitante e explorar linguística e fenomenologicamente acerca de sua constituição,
definição e propósito. Logo em seguida faz-se a harmonização e ressignificação do
conflito através do unir das mãos e explorando as sensações corporais, emocionais
e psíquicas. 4. Relaxamento sintônico – técnica que por meio da respiração e do
relaxamento profundo, promoveu autorregulação emocional e mental, o que auxiliou
a diminuir/minimizar a sobrecarga de natureza biopsíquica nas emoções. 5.
Realinhamento a constelação familiar interna – recurso criativo-dramático que
consiste no realinhamento biopsíquico-emocional dos 3 princípos norteadores da
constelação familiar: hierarquia, equilíbrio entre dar/receber e o pertencimento.

3.7.4.1.1 Resultados alcançados

Os atendimentos efetuados com G. S. F., obteve como resultados: a paciente


entra em contato com seu mundo emocional confuso e caótico no que tange aos
seus pais. Percebeu sua ansiedade descontrolada como fruto de uma crise
estudantil-profissional. Desenvolveu estratégias para manejar sua ansiedade. Teve
insights acerca do impacto emocional da sua constelação familiar em seus
comportamentos ansiogênicos e afetivo-sexual. Trabalhou sua constelação familiar
afetiva interna e tomou consciência do seu pertencimento e de seu lugar de filha
dentro da sua constelação familiar.
A paciente finalizou seu processo psicoterapêutico após treze sessões,
consciente de suas potencilaidades e habilidades, sabendo manejar bem seus
momentos de crise. Se sentindo livre e aberta, com sentimento de pertencimento à
sua família, tendo conseguido encontrar seu lugar na família e no mundo.
115

4 RELATO DE INTERVENÇÃO

Nesta seção, será explanado com maior detalhamento os atendimentos


referentes ao Caso 3: “Não tenho lugar no mundo”, bem como todas as atividades,
procedimentos, experimentos gestálticos, a estruturação do self dentro do contexto
familiar pertinente, os bloqueios de contato identificados e o caminho teórico-prático
que percorri para comprovar e honrar o titulo deste relatório: o trabalho gestáltico de
époché dialógica e a reconstrução de estilos de contato na estrutura do self dentro
das relações familiares.

4.1 CASO 3: “NÃO TENHO LUGAR NO MUNDO”

Nesta seção, traremos uma abordagem detalhada do estudo de Caso 3: “Não


tenho lugar no mundo”. A paciente foi atendida no período compreendido entre
28/05/2021 e 24/09/2021. Durante este período foram realizados 13 atendimentos.
A escolha deste caso para o relato de intervenção, se deu pelos seguintes
motivos: 1. Vínculo terapeuta-paciente, 2. Riqueza de elementos psicológicos para a
reconstrução de estilos de contato na estrutura do self dentro da relação familiar e 3.
Vivência sistêmica dos fundamentos, técnicas e experimentos da gestalt-terapia.

4.1.2 Identificação do caso 3: “Não tenho lugar no mundo”

G. S. F., 22 anos, solteira, formanda em enfermagem, mora com a mãe e sua


irmã.

4.1.3 Descrição da Queixa Principal

G. S. F., procurou a Ação Social da Policlínica da Polícia Militar do Estado do


Acre, por conta própria, apresentando no discurso a queixa principal de ansiedade
generalizada, angústia da separação dos pais e ideações suicidas. Ao longo do
processo psicoterapêutico, percebeu-se também que além da queixa mencionada,
havia a presença de desconexão com sua constelação familiar afetiva interna e
116

aguda crise estudantil-profissional instalada no seu modo de pensar-sentir-agir.

4.1.4 História de vida

G. S. F., nasceu em Rio Branco no Acre, é filha de um casal acreano, seu pai
e sua mãe são policiais militares.
Sua infância sempre foi marcada pelas desavenças e conflitos na constelação
familiar. Ela conta que “desde pequena tenho muitas responsabilidades
especialmente com a minha irmã, que é 3 anos mais nova que eu” (sic). “Meus pais
foram muito ausentes na minha infância, me recordo mais de meus parentes
estando no cuidado meu e da minha irmã que meus próprios pais” (sic). Quando
tinha 10 anos, seus pais se separaram. Desde à época do separação e ainda nos
dias atuais ela disse que “meu pai pedia pra eu esquecer tudo que aconteceu, que já
tinha passado, para eu parar de sentir as coisas que sinto, para eu ser mais grata.
Minha mãe dizia pra mim que era frescura, pra eu viver de boa, parar com esses
sentimentos, dar graças a Deus pela vida que tenho, e viver como todo mundo vive,
superar essas coisas. Mesmo não conseguindo muito bem, eu quis ser essa pessoa
que eles desejavam que eu fosse para eles” (sic).
Com a separação dos seus pais, G. S. F., foi morar com sua mãe e sua irmã
em uma casa alugada. Pelo período que vai dos 10 aos 14 anos, mudaram inúmeras
vezes. E em cada mudança, G. S. F., ficava por um período 2 meses na casa de
parentes com sua irmã. E nesses 2 meses, ficavam alternando a casa dos parentes.
E com essa situação “parecia que nunca éramos bem-vindos em lugar nenhum. A
gente nao parava em lugar algum. Mudamos muitas vezes. E meu pai foi sempre
ausente. Nunca quis saber nem de mim nem da minha irmã” (sic). Quando G. S. F.,
completou 16 anos, ela, a mãe e irmã, foram morar no terreno que pertence à sua
avõ materna. E lá residem até o presente momento.
Durante a adolescência, ela procurou “fugir” do ambiente familiar. Desde
meus 15 anos de idade, prefiro ficar longe de casa, o maior tempo posivel. Se puder
só dormir em casa melhor. Nao tenho que entrar em contato com ninguém na minha
casa. Prefiro evitar. Devido a isso com 15 anos trabalhou na Polícia Rodoviária
Federal (PRF), com 16 anos no SENAC, com 18 anos entrou para faculdade de
enfermagem e logo aos 19 anos voltou a estagiar. “A correria do estágio me faz
bem. Tanto que pegava qualquer estágio que surgia. Assim fico longe de casa, só
117

volto à noite. Assim dói menos” (sic). G. S. F., alega que desde a separação dos
pais sente uma tristeza profunda, que chora muitas noites, “não sei lidar com o que
sinto, muita angústia, muita dor, muito desespero, já até pensei em me matar. Me
sinto sozinha e perdida nos meus sentimentos. Preciso de ajuda, me perdi de mim,
da minha mãe, da minha família. Nao sei quem sou hoje. Desde pequena que me
culpo pela situação dos meus pais, a separação deles, por isso nao gosto de
comemorações, porque eles se encontram e sempre termina mal” (sic).
Atualmente está em fase de conclusão da graduação em enfermagem –
encerramento do estágio curricular obrigatório, confecção do TCC e apresentação
oral do mesmo.

4.1.5 Postura terapêutica durante os atendimentos

Em primeira instância citamos que, a clínica gestáltica de G.S.F., ancorou-se


em um hepteto composto por 4 arcabouços filosóficos e 3 teorias de base. Os
arcabouços filosóficos foram: o Humanismo, o Existencialismo, a Fenomenologia e a
Dialogicidade; já as teorias de base empregadas constituíram-se pela Psicologia da
Gestalt, Teoria de Campo de Kurt Lewin e a Teoria Organísmica de Kurt Goldstein
(RIBEIRO, 2012).
118

Ao hepteto acima colocado, somou-se também para o primor da configuração


gestáltica de atendimento, as recomendações abalizadas ditadas pelo Código de
Ética do Psicólogo, bem como na atitude de acolhimento, empatia, escuta
qualificada, époché dialógica, olhar fenomenológico, troca reflexiva e humildade
(CUNHA, 2010).
Os apontamentos acima, referem-se à estrutura atitudinal por parte do
terapeuta na confecção artesanal da relação paciente-terapeuta. Tanto que ao final
de todos os 13 atendimentos vivenciados por G.S.L., a mesma expunha que “me
sinto ouvida na essência, conectada ao processo terapêutico, respeitada como ser
humano e motivada a continuar o processo” (sic).
Em cada atendimento clínico realizado com G. S. F., buscou-se presentificar
como norte no processo empático, de acolhimento e de escuta fenomenológica, a
estrutura dialógica Eu-Tu. A relação Eu-Tu, é aquela que valoriza o outro na sua
alteridade, de modo que a outra pessoa é um fim em si mesmo, uma relação
recíproca, direta, estruturada no presente, no aqui e agora, que se volta inteiramente
para o outro, vivida pelo ser inteiro, com reconhecimento da singularidade e a nítida
separação do outro em relação a nós, sem que fique esquecida nossa relação e
nossa humanidade comum subjacente (HYCNER, 1985).
A relação dialógica foi primordial no processo terapêutico de G.S.F., uma vez
que a mesma possibilitou a construção de lugar seguro, um espaço de abertura,
ajuda, acolhimento, permitiu a mediação psicoterápica mais eficiente e assertiva,
auxiliou na estruturação efetiva do vínculo terapeuta-paciente, proporcionou clima de
bem-estar psíquico, confiança e segurança no setting terapêutico, favoreceu a
comunicação assertiva e o processo de reorganização psicológica-emocional
(FREITAS, 2016). A esse respeito temos na fala de G. S. F., “aqui me sinto livre para
ser eu mesma. Eu mesma como sou, dentro de mim, sem precisar usar máscaras ou
fingir ser quem nao sou” (sic).

4.1.6 Descrição dos Atendimentos

No primeiro atendimento, G. S. F., diz sentir-se muito mal consigo mesma.


“É
relacionado a meu pai e minha mãe. Se divorciaram quando eu tinha 10 anos. A
partir daí fiquei morando com a minha mãe e com minha irmã. Tenho a sensação de
119

que isso nunca passou, os ambiente de muitas brigas, conflitos, chegando à


agressão física” (sic). Ela relata não gostar de datas festivas e comemorativas
“devido ter que passar com um ou outro, e às vezes com os dois. Eu ainda acho isso
estranho. Minha vontade é não ficar com ninguém. Isso gera ansiedade e muito
choro” (sic). Inclusive percebe-ser que qualquer tema relacionado com seus pais
gera essa situação. “tudo que diz respeito aos dois me era choro, mais com relação
ao meu pai. Meu pai é muito ausente, a mãe um pouco” (sic). Algo que mexe muito
comigo, é que “depois da separação nós mudamos muitas vezes, não tínhamos
canto” (sic). G. S. F. tem pensamentos suicidas, inclusive ontem ela pensou em
suicídio, mas acaba afastando os pensamentos negativos. Ela pontua que “há 3
anos noto que aumentou o choro e ansiedade. Dói muito a sensação que sinto.
Sinto-me sufocada e cansada. Sinto muita raiva porque diante dessa situação a mãe
me chama de infantil e meu pai pede para esquecer porque tudo já passou” (sic).
Neste atendimento, a cada fala de G. S. F., empreguei o método fenomelógico.
Rehfeld (2013, p. 27) assegura que o método fenomenológico consiste na “redução
fenomenológica ou époché, que consiste em ‘pôr entre parênteses’ a realidade do
senso comum”. Por meio da époché foi possivel constatar o processo figura/fundo
da psicoterapia de G. S. F., ou seja, a figura é a desconexão com a constelação
familiar afetiva interna e o fundo se revela nos processo ansiogênicos e correlatos,
como as ideações suicidas e o nao pertencimento. Como ensina Rodrigues (2011, p.
112) aponta que “toda vez que nossa atenção se volta para algo busca uma figura,
essa busca sempre se realizará sobre um fundo. O fundo é na verdade para onde
olhamos, para onde direcionamos nossa busca pelo que precisamos, que não nos
chama a atenção”. Me chamou a atençao neste atendimento, a fronteira de contato
de G. S. F. Ribeiro (2006) preconiza que somos, necessariamente, seres de relação
(conosco e com o mundo), e é nesse entremear que a concepção de fronteira de
contato desabrocha, visando intermediar essa relação da pessoa e seu ambiente.
Perls (1988, p. 31) aponta que “O estudo do modo que o ser humano funciona no
seu meio é o estudo do que ocorre na fronteira de contato entre o indivíduo e seu
meio, é neste limite de contato que ocorrem os eventos psicológicos”. Os eventos
psicológicos que se decompõem em pensamentos, ações, comportamentos e
emoções constituem nossos mecanismos de subjetivação (PERLS, 1988). Com isso
noto que a fronteira de contato de G. S. F., configura uma subjetivação de dor, de
desamparo, de ausência de suporte, especialmente de autosuporte e de
120

desconexação. Com isso notei que o self de G. S. F., se ajustou de forma a gerar
desamparo, desconexão, solidão, epsódios depressivos e esvaziamento da energia
de força e engajamento com a vida. Hefferline e Goodman (1997, p. 235) referem-se
ao self como sendo o “sistema complexo de contatos necessários ao ajustamento ao
campo; é o processo permanente de ajustamento criativo do Homem ao seu meio
interior e exterior”. Contingente a isso percebi a presença de bloqueios de contato.
Estilos de contato e conseguentemente bloqueio de contato é um conceito que se
articula com a forma como o homem se relaciona. Quer seja consigo próprio, quer
seja com o outro ou ainda com o mundo que o cerca (GINGER; GINGER, 1995).
Comprovando essa afirmativa percebi em G. S. F., os seguitnes bloqueios de
contato: Fixação – a fixação pode ser vista na fala da paciente quando este
compartilha: “desde pequena que me culpo pela situação dos meus pais, a
separação deles, por isso nao gosto de comemorações, porque eles se encontram e
sempre termina mal” (sic). Deflexão – a deflexão se fez notar na fala da paciente
quando afirmou: “desde meus 15 anos de idade, prefiro ficar longe de casa, o maior
tempo posivel. Se puder só dormir em casa melhor. Nao tenho que entrar em
contato com ninguém na minha casa. Prefiro evitar” (sic). Retroflexão – a retroflexão
é percebida quando a cliente afirmou: “meu pai pedia pra eu esquecer tudo que
aconteceu, que já tinha passado, para eu, para eu paar de sentir as coisas que sinto,
para eu ser mais grata. Minha mãe dizia pra mim que era frescura, pra eu viver de
boa, parar com esses sentimentos, dar graças a Deus pela vida que tenho, e viver
como todo mundo vive, superar essas coisas. Mesmo não conseguindo muito bem,
eu quis ser essa pessoa que eles desejavam que eu fosse para eles” (sic).
No segundo atendimento, ela falou que sentia tristeza ao visitar a própria
história. Falou da crise enfermagem: estudar para a prova da UTI X iniciar o curso
medicina. Falou do sonho da medicina, falou da ansiedade, não dormir bem, não
comer bem devido essa crise. Dialogamos a respeito do sonho da medicina e a
prioridade neste momento, pois falta 1 mês para se formar em enfermagem, e pós
formada poderá dedicar energia, tempo e escolhas para essa situação que a aflige.
Disse que “tenho medo de não dar conta, de decepcionar pessoas e a mim mesmo,
medo da dificuldade, de não conseguir superar” (sic). Fiz uma intervenção
integração de partes: pedi para G. S. F., compartilhar comigo momentos em que ela
sentiu medo de não dar conta, de decepcionar pessoas e a si mesmo, que teve
medo da dificuldade, de não conseguir superar. Ela falou do “momento em que
121

passei no enem, os estágios em enfermagem e quando tireu carteira” (sic). Ai eu


estendi meus braços, numa mão eu coloquei a parte de G. S. F. que superou e na
outra a parte de G. S. F., que tinha medo, e uma conversando com a outra.
Perguntei como seria esse diálogo. G. S. F., disse “a parte que supera diria que eu
consigo, que vou superar as dificuldades, que posso dar os passos que quero com
foco em mim. Olhando para mim e parando de olhar para fora. Foco e olhar para
mim essa é a palavra de ordem” (sic). Como se sente ouvindo esse diálogo? “Me
sinto leve, forte e focada. Percebo que preciso de foco nesse momento da minha
vida para acalmar meu íntimo. É muito bom olhar para mim, estar comigo. Saio
levando da sessão o sentimento de ser forte, bem focada, calma e serena” (sic).
Integração de partes, como manejada acima nesta sessão refere-se a um
experimento auditivo-sinestésico que consiste em identificar em cada mão uma parte
conflitante e explorar linguistica e fenomenologicamente acerca de sua constituição,
definição e propósito. Logo em seguida faz-se a harmonização e ressignificação do
conflito através do unir das mãos e explorando as sensações corporais, emocionais
e psíqucas (O'CONNOR; SEYMOUR, 1995). Aqui nesta sessão, por meio do
experimento usado nela, percebo movimentos subjetivos na fronteira de contato e na
estruturação do self dentro da dinâmica da constelação familiar interna de G. S. F.
Como elucida Hellinger e Ten Hövel (2001), quando a constelação familiar afetiva
interna se encontra fragmentada, o self tende a se dissolver e não se constituir. Ao
menor movimento de reconstrução das ordens do amor, volta a se aglutinar e se
relacionar com possibilidades relacionais e expressivas mais saudáveis.
No terceiro atendimento, ela disse que “recebi hoje a mensagem com a minha
banca do TCC em enfermagem e me senti ao mesmo tempo aliviada e com
ansiedade. Ela disse “tem duas partes aqui dentro, é esquisito e estranho, uma G. S.
F. forte e realizadora e outra que sente alívio e ansiedade” (sic). E dialogamos
também sobre um conflito com mãe que ele vivenciou na semana. Neste
atendimento fiz muito acolhimento ou seja, construí espaço-momento durante todo o
atendimento terapêutico para que G. S. F., pudesse trazer e falar subjetivamente da
sua dor, da sua queixa, da singularidade de sua demanda (REBOUÇAS, 2010).
Durante este acolhimento fui notando na fala de G. S. F., movimentação mais
intensa nas estrutruras de função do self. Yontef (1998) contribui com nossos
estudos, trazendo que o self como campo e temporalidade, também se
expressa/opera por meio de 3 modos/funções: o Id, o Ego/Eu e a Personalidade.
122

Especialmente a função personalidade ganhando voz e presença na fronteira de


contato de G. S. F., constituindo-se embrionariamente em processo de amparo,
suporte, apoio, questionando-se e se posicionando com engajamento na realidade
interna e externa da paciente. Configurando então um processo de construção de
autonomia e novo posicionamento psíquico na constelação familiar afetiva interna.
No quarto atendimento, ela chegou alegando que estava nervosa e ansiosa.
Mudaram a data de apresentação do TCC. Falou que passou a semana toda focada
na apresentação e que em vários momentos resgatou uma parte dela que havíamos
trabalhado nas 2 últimas sessões, que é a parte que diz para ela que ela é capaz,
que vai dar certo, só se acalmar que vai dar tudo certo. Falamos a respeito de
apresentação do TCC. Ela falou dos medos relacionados com a apresentação do
TCC, conversamos dialogicamente sobre isso e ela foi se tranquilizando. Fizemos
exercícios respiratórios específicos para ansiedade como a que ela estava e um
exercício de fantasia guiada como um ensaio mental (ela se apresentando e a parte
que ela resgatou na semana toda dialogando com ela) a respeito da apresentação
de hoje a noite. Neste atendimento apliquei a respiração hipnosistêmica - exercício
respiratório que consiste em utilizar a região diafragmática na respiração, para o
controle de estados de ansiedade, agitação mental e inquietação física ou
emocional, incluindo mentalização de cores e sensações (RIBEIRO, 2003).
No quinto atendimento, ela falou da apresentação do TCC, “foi muito boa, tirei
10, os exercícios para ansiedade e controle do medo em apresentação que fizemos
me ajudaram muito. Fiquei muito feliz e surpresa com o resultado da apresentação”
(sic). Falou que vão fazer jantar de formatura só para os familiares. E que pensou
muito nisso essa semana. “Pensei muito no jantar para os familiares.... não gosto de
datas comemorativas. Não quero muito esse jantar de formatura e não me sinto
bem” (sic). Indaguei sobre isso. “isso se deve muito a minha avó materna. Sinto falta
de uma avó de verdade, que converse, que dialogue, se interesse por mim e pelas
minhas conquistas, que me oriente, que me dê afeto, que saia para passear comigo.
Eu chamei minha avó para o jantar de formatura, ela não falou nada, não deu nem a
mínima importância, não se motivou, não deu valor, não ficou feliz” (sic). G. S. F.,
falou que tem muitas situações assim. E que com as amigas da avó e outras
pessoas que não seja a mãe, a irmã e ela, a avó é diferente, conversa, interage. Aí
ela comparou com a família paterna, “os parentes na família paterna motivam, apoia,
dão suporte, se interessam. Fico muita chateada e com raiva da minha avó materna
123

e sinto muita vontade de ir embora de casa, sair de lá. Me sinto triste e sem saber o
que fazer. Tenho mágoas antigas dela” (sic). Indaguei a G. S. F., quem ela imagina
que ela gostaria de ser para lidar com essa situação e esses sentimentos? G. S. F.,
disse “Uma G. S. F., com força e determinação para conseguir sair de lá” (sic).
Perguntei: que G. S. F., está falando isso comigo? Ela respondeu prontamente: “A
G. S. F., que tem 10 anos. Quer se libertar de tanta dor” (sic). Finalizou dizendo que
estava esperando muito pela sessão, e sai levando uma sensação de bem estar e
que a sessão foi maravilhosa. Ela falou “numa frase posso dizer que hoje eu quero
procurar a força que tenho dentro de mim” (sic). Neste atendimento percebi muito
fortemente os estilos de contato de G. S. F., se reconfigurando dentro da sua
constelação familiar afetiva interna (AGUIAR, 2014). E clareou para mim que a avó
materna psiquicamente configurou a fronteira de contato de desamaparo,
desconexão. G. S. F., estava dando os primeiros passos para reconstruir seu estilo
de contato na estrutura do self dentro da sua relação familiar.
No sexto atendimento, G. S. F., chegou dizendo que sentia bem confusa em
relação a alguns pontos da sua vida. Ela pontuou que os pontos eram “minha
colação de grau presencial,a realização do culto ecumênico, o jantar comemorativo
da família” (sic). Nesse atendimento ela focou na questão pai e mãe. Falou que
“estou muito surpresa com meu pai, pois neste último ano de enfermagem ele tem
se mostrado mais presente. Após a minha apresentação do TCC, ficou mais
presente, se interessando por mim. Inclusive ele liga todos os dias para mim, quer
saber como eu estou e se estou precisando de algo. Ele nunca foi assim, sempre foi
um pai ausente e que parece que estava sendo assim agora por uma questão de
culpa e de compensação pelo que não fez antes. Me sinto desconfortável e
desconfiada com essa situação.” (sic). Neste momento do atendimento, G. S. F.,
disse que: “me sinto ansiosa quando meus pais se encontram pois não se dão bem,
por isso não gosto de celebrações e festividades” (sic). Disse que no “último sábado
meu pai foi na casa da minha mãe e conversaram a respeito de mim e das minhas
necessidades nesse momento. O estranho é que me senti bem, muito bem (sic). Ela
ficou surpresa porque a situação envolvendo o jantar de formatura dela tem unido os
pais. Fizemos um experimento neste atendimento chamado Realinhamento da
constelação familiar afetiva interna. Pedi para ela fechar os olhos e resgatar a
sensação que ela sentiu no último sábado ao ver seu pai e mãe. Ela me disse que
era “uma sensação muito boa e tem o nome de liberdade. É uma sensação que
124

aquece. Essa sensação está no meu coração e tem a cor amarela e a forma de
riscos, e é muito bom” (sic). Eu perguntei como é olhar para seus pais apenas como
pai e mãe como você olhou sábado e não como homem e mulher? Ela disse “é
libertador” (sic). Ai convidei para ela olhar para o jantar de comemoração, pela
formatura que acontecerá em agosto, com essa sensação que ela tinha no peito
agora. Ela falou que “sinto confiança, muita confiança, é uma sensação que está na
região da garganta e tem a cor azul” (sic). Eu perguntei como é perceber essas
sensações dentro de você liberdade e confiança, ela disse que “sinto segurança e
está na região do estômago e tem a cor vermelha” (sic). Como é perceber essas 3
sensações e essas 3 cores? Ela disse que “é muito bom, não quero sair dessa
sensação. É muito bom perceber meus pais de forma diferente” (sic). Finalizamos o
experimento. Ai eu pontuei para ela, você me disse que sentia ansiedade quando
seus pais se encontravam, porque você tinha medo que as coisas dessem errado.
Ela falou “realmente via o homem e a mulher e agora vejo os pais. E acredito que
posso lidar um pouco melhor com minhas indecisões” (sic). Perguntei o que você
pode fazer para isso? “Conversar com meu pai sobre esse momento. Não sei o que
decidir. Tenho medo de decidir e essa conversa pode me ajudar” (sic). Falei que
uma decisão não precisa ser uma sentença, a decisão pode ser tomada e mais a
frente ser reavaliada. Ela disse que ela “me pressionava muito e as pessoas também
(cobrando acerca de trabalho/emprego) e que precebo que a decisão pode ser algo
mais leve” (sic). Neste atendimento aplicamos a técnica do realinhamento da
constelação familiar afetiva interna. Trata-se de um recurso criativo-dramático que
consiste no realinhamento biopsíquico-emocional dos 3 princípos norteadores da
constelação familiar: hierarquia, equilíbrio entre dar/receber e o pertencimento
(HELLINGER; TEN HÖVEL, 2001). Com este experimento, notamos como a
fronteira de contato se expandiu muito. E principalmente como o self enquanto
estrutura e função do contato, vai se reposicionando psíquica e emocionalmente.
Permitindo assim que haja reconstrução do estilo de contato na constelação familiar
afetiva interna. E como esse processo vai confeccionando-se em “cura”.
No sétimo atendimento, ela chegou se sentindo em paz. Falou que passou
parte da semana passada na casa do pai cuidando do pai (ele ficou ruim de saúde).
Falou que conversou com o pai acerca de dúvidas que ela tinha sobre a vida
profissional dela. Falou bastante a respeito do jantar de formatura, ela estava
assustada e muito surpresa com o envolvimento do pai e da mãe. Ela imaginava
125

algo mais simples, ela falou que “imaginei que minha família ia se reunir num
restaurante, comer e ir embora. E o tanto que meu pai, quanto minha mãe estão
preparando um jantar de formatura como manda o figurino, bom restaurante, me
perguntaram sobre o vestido de formatura, falam da compra do anel, em agendar
maquiagem e cabelo” (sic). Ela falou que era muita coisa, e não sabia como lidar
com todos esses presentes e nem como receber. Ai fizemos uma conversa sobre a
balança dar e receber Trabalhamos a respeito do dar e receber por meio de fantasia
guiada. Ela falou “nessa balança eu gosto e prefiro dar” (sic). Ai falei é o que seu pai
e sua mãe estão fazendo com você agora. Estão dando...ela ficou reflexiva e
disse...”mas eu não fiz nada pra merecer isso, pra receber isso...como posso
receber tanto sem ter feito nada” (sic). Ai eu pontuei... pra receber e merecer tem
que ter feito algo, e receber o que você está recebendo tem que ter feito algo
extraordinário é isso? Ela falou “sim exatamente” (sic). Então eu perguntei pra ela
se em algum momento da vida ela já havia dado algo para alguém sem querer
receber nada em troca e sem que essa pessoa tivesse feito algo de grandioso pra
isso...ela ficou reflexiva e sorrindo disse sim. Ai eu perguntei o que fez você fazer
isso? O que moveu você? Ela disse “o que me fez fazer foi porque eu amo” (sic).
Nessa hora ela parou... os olhos ficaram estatelados e marejados...ela disse com a
voz trêmula...”meus pais fazem isso porque me amam” (sic). Ficou 2 minutos
assim.... e disse em seguida “nossa tava tão na minha cara e nunca tinha visto isso”
(sic). Eu perguntei como você se sente agora...ela disse “muito leve....tão bom sentir
isso” (sic). Após isso ela disse “meus pais estão fazendo isso porque estão me
dando amor e um lugar afetivo na vida deles” (sic). Aqui neste atendimento fica claro
que os bloqueios de contato na estrutura do self estavam se deslocando. E com
esse deslocamento, deslocavam também a estrutura afetiva que tinha sido
internalizada pelo self na constelação familiar (HELLINGER; TEN HÖVEL, 2001).
Que agora com o processo de awareness obtido com o experimento acima,
inauguramos os mecanismos de “cura” dos bloqueios de contato na
tridimensionalidade funcional do self. E foi oque aconteceu. O experimento realizado
nos mostra o bloqueio de contado deflexivo sendo agora inicialmente reconfigurado,
reconstruído por meio da consciência. Sobre isso Ribeiro (2007, p. 63) afirmar ser “o
processo através do qual me dou conta de mim mesmo de maneira mais clara e
reflexiva, estou mais atento ao que ocorre à minha volta, percebo-me relacionando
com mais reciprocidade com pessoas e coisas”.
126

No oitavo atendimento, ela falou da colação de grau. Falou também das


angústias em relação ao jantar de formatura e de uma crise que voltou. Crise em
relação ao que fazer, se trabalhar ou se estudar. Ela está se pressionando muito a
esse respeito devido ao que pessoas próximas a ela têm falado. As pessoas
perguntam “se eu já estou trabalhando. O que estou fazendo agora que estou
formada. Inclusive, meu pai falou que pagaria uma pós-graduação para mim” (sic).
Dialogamos sobre isso. Sobre sua crise existencial pessoal-profissional. Saiu da
sessão se sentindo melhor, mais calma e mais tranquila, mais alinhada. Neste
atendimento, percebi o amadurecimento de G. S. F., em relação ao que a trouxe
inicialmente para a terapia. Seu self já se comunica de forma mais fluída com as
novas possibilidades afetivas e emocionais da sua vida de adulta. Como se
ganhasse mais autonomia. G. S. F., agora cuida de um projeto de futuro, envolvendo
seus interesses profissionais. Ginger e Ginger (1995) ensinam que o sell em sua
função “eu”, se torna responsavel por limitar ou aumentar o contato, movimentar-se
a partir de uma tomada de consciência de suas próprias minhas necessidades. Já a
função “personalidade” atualiza a auto-imagem, permitindo que o self integre suas
experiências anteriores, e reforme o sentimento de identidade. É como se G. S. F.,
estivesse atualizando sua constelação familiar afetiva interna reestruturada. Com
isso se dá permissão para engajar em seus projetos pessoais, liberta de emoções
opressoras presentes na fronteira de contato que permeou seu self até dois
atendimentos atrás.
No nono atendimento, ela focou em compartilhar acerca do jantar de
formatura que a família realizou para ela. Falou que lembrou muito das 2 últimas
sessões em que dialogamos acerca de ela conseguir equilibrar o dar e o receber. E
ela disse que “consegui receber bem o carinho, o afeto, os presentes, a festa, o anel
de formatura, o vestido e também o carro que ganhei do meu pai. Me sinto muito
feliz com o fechamento desse ciclo de formatura em enfermagem” (sic).
Compartilhou também que em certo momento da jantar a mãe falou algo para ela
que em outro tempo ele se sentiria responsável e culpada por isso, e que, agora não
sentiu nada disso, apenas pensou, “isso que ela me disse, que a desagrada tem a
ver com ela. Não comigo. Eu respeito e sigo meu processo” (sic). Outro ponto que
ela compartilhou foi de como ela chegou para a terapia e como ela estava
atualmente. Disse que “me sinto mais confiante, mais segura, mais organizada
emocionalmente e ainda tenho meus medos e insegurança dentro de mim. Quero
127

trabalhar essa questão da insegurança, medo e controle. A necessidade que tenho


de ter controle das coisas” (sic). Neste aendimento fica bem claro como o trabalho
gestáltico de époché dialógica, empregado durante todo o processo
psicoterapêutico, ganha força e expressividade. E mais que isso, torna o ambiente
familiar um lócus de refazimento e reencontro do sujeito. Num novo posicionamento
dentro da constelação familiar afetiva interna. “Epoché é entendida como uma
atitude de abstenção de juízos ou conceitos prévios, suspendendo o conhecimento
que detemos acerca das coisas” (PEREIRA, 2015, p. 95). O foco terapêutico é
deslocado das mãos do terapeuta e vai para a relação terapêutica, onde o terapeuta
trabalha para que o indivíduo desabroche sua responsabilidade e sua autonomia”
(FREITAS, 2016, p. 95). E neste atendimento fica nítido a reconstrução do bloqueio
de contato de fixação em G. S. F. Como exposto no relato acima, ocorre o processo
de fluidez, que é o fator de cura para a fixação. A essse respeito Ribeiro (2007, p.
63) conclui que “fluidez é o processo pelo qual me movimento, localizo-me no tempo
e no espaço, deixo posições antigas, renovo-me, sinto-me mais solto e espontâneo
e com vontade de criar e recriar minha própria vida”. E foi isso que aconteceu com a
paciente do nosso estudo de caso.
No décimo atendimento, ela chegou falando que não estava se sentindo bem.
Falou que na semana sentiu muito angústia e ansiedade, relatou inclusive que um
dia da semana iniciou uma crise em ansiedade (falta de ar). Falou que não
conseguia saber o porque disso nem o que fazer para lidar com isso. Percebi que
ela estava em crise. Então o que fiz foi acolhimento. Exploramos dialogicamente
essa questão, envolvemos nessa exploração uma fantasia dirigida por meio de
relaxamento sintônico. Ela relatou após a redução fenomenológica que sentia que
tinha a ver com futuro, coisas que não controla, o que as pessoas pensam dela.
Exploramos essas situações. Deixei-a falar. No atendimento de hoje ela estava bem
pra baixo, sinais depressivos. Neste atendimento foi imprescindível manejar o
relaxamento sintônico. Técnica que por meio da respiração e do relaxamento
profundo, promove autorregulação emocional e mental, o que auxilia a
diminuir/minimizar a sobrecarga de natureza biopsíquica nas emoções (RIBEIRO,
2003). O foco foi lidar com a crise que se apresentou. Terminamos o atendimneto e
G. S. F., falou que “o atendimento foi muito bom, cheguei muito ruim, triste,
angustiada e saio mais tranquila, melhor, não 100%, mas melhor do que cheguei”
(sic).
128

No décimo primeiro atendimento, ela falou que ficou na casa da mãe a


semana toda, que sentiu falta do pai. Ela falou que tinha muita necessidade de ter
controle sobre as coisas. E gostaria de lidar com esse tema nas nossas sessões.
Então dialogamos dialogicamente sobre controle. Convidei G. S. F., para fechar os
olhos e definir pra mim o que ela entende por controle. Ela falou: “planejar e dar
certo, saber o que vai acontecer mais à frente, qual vai ser o próximo passo, gosto
de saber as coisas antecipadas, quero ter controle da atitude das pessoas (que elas
não se atrasem e eu enviar mensagem e elas responderem logo, pensar como eu
penso) (sic). Em seguida pedi para ela fazer um exercício de respiração de foco e
concentração. Ai eu disse pra ela que eu ia repetir vagarosamente todos os
significados que ela deu para controle, e ela percebesse como isso reverbera dentro
dela, se na forma de sentimento, de uma sensação, de uma imagem, de uma
lembrança...e que se ela quisesse poderia compartilhar comigo durante o exercício
ou deixar para o final. Após eu repetir todas as frases que tinha dito.... ela abriu os
olhos e disse: “sensação de que eu preciso estar mais preparada” (sic). Eu perguntei
pra ela quando você buscar ter controle na verdade você esta querendo é estar mais
preparada? “Sim ela disse” (sic). Como é se sentir assim, mais preparada? “É me
sentir satisfeita e tranquila” (sic). Ai eu perguntei para ela se ela precisa sempre, em
todas as situações se sentir preparada, de 0 a 10, 10? Ou se há situações que basta
se sentir preparada nível 6 ou 7 e não 10? Ela disse que “faz sentido para mim, que
tava percebendo que eu sempre buscava o 10 para me sentir mais preparada e que
isso poderia começar a ser um pouco diferente” (sic). Finalizamos a sessão ela
dizendo que foi muito boa, sai mais organizada e mais tranquila. Neste atendimento,
percebe-se como G. S. F., de forma dialógica vai flexibiizando seu estilo de contato
e assim acaba por refazer a forma como o self interage no contato com o outro e
consigo própria. A esse respeito, pontua Robine (2006, p. 12) que self “existe como
entidade, mais ou menos flutuante e latente, que, de vez em quando, se exterioriza
graças ao contato”. Doravante a esse panorama do contato, no momento em que o
organismo dialoga/contacta com o ambiente, é que o self legitima sua conjuntura,
abrangendo a totalidade de contatos já realizados e ainda presentes no
acervo/repertório do ser.
No décimo segundo atendimento, ela disse que o trabalho sobre o controle
que iniciamos na ultima sessão está fluindo bem, tá bem tranquilo. E que ela queria
contar sobre um episódio da vida amorosa dela que tem a ver também com o tudo
129

que temos trabalhado nas sessões. Ela compartilhou acerca de um relacionamento


amoroso e disse “percebo que mesmo não dando certo esse relacionamento, eu
estou no controle e tá tudo bem”. E falou que “eu percebo que estou pouco a pouco
ganhando mais maturidade emocional” (sic). Neste atendimento temos como ponto
principal o bloqueio de contato retroflexivo mostrando nova reestrutura, e esta, se
deu pelo fator de cura conhecido como contato final. Nas palavras de Ribeiro (2007,
p. 65) contato final é o “processo através do qual sinto a mim mesmo como própria
fonte de prazer, nutro-me do que gosto e do que quero sem intermediários,
relacionando-me com as pessoas de maneira direta e clara”.
No décimo terceiro atendimento, ela chegou bem. Dizendo que sentia muito
bem. Semana foi bem tranquila, ela conseguiu dar conta de todas as situações e
demandas com tranquilidade. Compartilhou que emocionalmente e psicologicamente
se sentia bem. Disse que não imaginava o que a terapia poderia fazer o que fez por
ela. Que chegou uma pessoa e saiu outra. Compartilhou que “hoje me sinto livre e
aberta, tenho sentimento de pertencimento à minha família, consigo encontrar meu
lugar na família e no mundo, me sinto filha. Manejo bem o fato de não ter controle de
tudo e de todos. A terapia foi fundamental para esse momento da minha vida. Me
sinto mais madura emocionalmente. Estou preparada neste momento para seguir
sem a terapia” (sic).

4.1.7 Acerca dos estilos de contato e fatores de cura

Durante as sessões trabalhadas em um processo psicoterapêutico breve,


constatei predominantemente os seguintes estilos de contato na paciente, bem
como o fatores de cura congruentes aos mesmos.
 Fixação: a fixação pode ser vista na fala da paciente quando este
compartilha: “desde pequena que me culpo pela situação dos meus pais, a
separação deles, por isso nao gosto de comemorações, porque eles se
encontram e sempre termina mal”.
O fator de cura é fluidez, no qual a paciente consegue ampliar sua
percepção e encontrar seu lugar e seu papel na dinâmca da sua
constelação familiar. Se dá conta a partir disso das responsabilidades
afetivas dos pais no processo do divórcio e da condução da relação pós-
divórcio.
130

 Deflexão: a deflexão se fez notar na fala da paciente quando afirmou:


“desde meus 15 anos de idade, prefiro ficar longe de casa, o maior tempo
posivel. Se puder só dormir em casa melhor. Nao tenho que entrar em
contato com ninguém na minha casa. Prefiro evitar”.
O fator de cura é o processso de consciência, no qual a paciente teve
awareness quanto à disponibilidade do amor e do ser amada no seu
sistema familiar. Bem como da presença da atenção e do cuidado dos
familiares para com ela. O que permitiu novas formas de contato mais
saudáveis e fluídas, nas quais o dar e receber entram em equilíbrio.
 Retroflexão: a retroflexão é percebida quando a cliente afirmou: “meu pai
pedia pra eu esquecer tudo que aconteceu, que já tinha passado, para eu,
parar de sentir as coisas que sinto, para eu ser mais grata. Minha mãe
dizia pra mim que era frescura, pra eu viver de boa, parar com esses
sentimentos, dar graças a Deus pela vida que tenho, e viver como todo
mundo vive, superar essas coisas. Mesmo não conseguindo muito bem, eu
quis ser essa pessoa que eles desejavam que eu fosse para eles”.
O fator de cura é o contato final, no qual a paciente se dá permissão para
olhar e entrar em contato com suas necessidades emocionais e relacionais
represadas, e com isso, aprende a manejar a ansiedade, o controle, o
medo e a insegurança. Desenvolve confiança em si e prazer nas suas
escolhas afetivas, o que torna seus comportamentos assertivos e
congruentes consigo.

4.1.8 Principais atividades realizadas

ATIVIDADES CONCEITOS

Método crucial no processo diagnóstico que


investiga a história de vida do paci- ente, bem
Anamnese fenomenológica como as “normas, preconcei- tos, expectativas,
padrões familiares e a circulação dos afetos”
(RAMOS, 2011, p. 98).

Técnica auditiva-sinestésica que consiste em


identificar em cada mão uma parte conflitante e
explorar linguistica e fenomenologicamente
131

Integração de partes acerca de sua constituição, definição e


conflitantes propósito. Logo em seguida faz-se a
harmonização e ressignificação do conflito
através do unir das mãos e explorando as
sensações corporais, emocionais e psíqucas
(O'CONNOR; SEYMOUR, 1995)
Técnica que por meio da respiração e do
relaxamento profundo, promove
Relaxamento sintônico autorregulação emocional e mental, o que
auxilia a diminuir/minimizar a sobrecarga de
natureza biopsíquica nas emoções (RIBEIRO,
2003).
Recurso criativo-dramático que consiste no
realinhamento biopsíquico-emocional dos 3
Realinhando a constelação princípos norteadores da constelação familiar:
familiar interna hierarquia, equilíbrio entre dar/receber e o
pertencimento (HELLINGER; TEN HÖVEL,
2001).

4.1.9 Movimentação do processo psicoterapêutico

Na primeira sessão, a paciente entra em contato com seu mundo emocional


confuso e caótico no que tange aos seus pais.
Na segunda sessão, a paciente percebe a ansiedade descontrolada como
fruto de uma crise estudantil-profissional.
Na terceira e quarta sessão, a paciente toma consciência de estratégias para
manejar sua ansiedade.
Na sexta sessão tem insight acerca do impacto emocional da sua constelação
familiar afetiva interna em seus comportamentos.
Na sétima e oitava sessão começa a tomar consciência do seu pertencimento
e seu lugar de filha dentro da sua constelação familiar afetiva interna.
Na décima primeira sessão a paciente desenvolve estratégia e manejo para
suas crises de ansiedade.

4.1.10 Finalização

A paciente finalizou seu processo psicoterapêutico após treze sessões,


consciente de suas potencilaidades e habilidades, sabendo manejar bem seus
momentos de crise. Se sentindo livre e aberta, com sentimento de pertencimento à
132

sua família, tendo conseguido encontrar seu lugar na família e no mundo. E com
isso foi capaz de reconstruir seus estilos de contato na estrutura do self dentro das
suas relações familiares. Nas palavras de G. S. F.,“hoje me sinto livre e aberta,
tenho sentimento de pertencimento à minha família, consigo encontrar meu lugar na
família e no mundo, me sinto filha. Manejo bem o fato de não ter controle de tudo e
de todos. A terapia foi fundamental para esse momento da minha vida. Me sinto
mais madura emocionalmente. Estou preparada neste momento para seguir sem a
terapia” (sic).
133

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao caminhar o caminho epistemológico, empírico, filosófico, relacional e


dialógico em torno dos estilos de contato na estrutura do self nas relações familiares,
tendo por companhia a sapiência dos acumulados pela estrada da Gestalt-terapia,
percebo nesta trilha a possibilidade de libertação de antigas formas de se
estabelecer contato.
Com isso, as paisagens deste caminhar se fizeram preenchidas pela
humanidade falada na angústia, na dor, no desconforto, no desencontro de si,
muitas vezes no silêncio e também, no alívio experimentado por cada paciente ao
referir-se ao seu mundo familiar. E assim de forma amorosa, respeitosa e ética, foi
nascendo um estilo de psicoterapia e de psicoterapeuta em mim. Como
instrumentos em sintonia e harmonia, na melodia de uma sinfonia, a relação
terapeuta-paciente se fez canção. Cujo primor, residiu em tocar as notas do
humanismo no arranjo do existencialismo, a dedilhar a fenomenologia na sua pureza
em cada atendimento realizado.
E assim a gestalt-terapia foi se fazendo, encontro a encontro. E no aqui e
agora do setting gestáltico, a canção se fez musicalidade na composição da
psicologia clínica breve, tocando os acordes do acolhimento, da escuta e da
empatia. Acordes que ensinaram-me a solvejar o estado de presença no campo
relacional e dialógico com o paciente. E assim a figura que emergiu foi o cuidar. Um
cuidar que dá permissão para a regência do self se revelar, bem como desvelar seu
estilo de contato com as várias músicas que hoje estão na fronteira de contato com
seu ambiente familiar. E o fundo é um dar-se conta em gradativa awareness de seu
mundo emocional e das suas necessidades diante das relações familiares.
E foi assim, compreendendo e manejando organismicamente a realidade
subjetiva do paciente em seu relacionar familiar, que a mudança se fez notar. Uma
mudança construída pelos experimentos gestálticos, na estrutura do seu ciclo de
contato na esfera da família. Mudança que significou reconstrução do lugar ocupado
pelo self na constelação familiar. Que internamente resultou em recondução do
estilo de fazer contato.
Experimentar o estágio supervisionado II, foi uma valorosa vivência de
aprofundamento epistemológico, científico e prático nos fundamentos basilares da
gestalt-terapia. Constituiu-se numa verdadeira escola, em cujos bancos e lições,
134

pude vislumbrar e acompanhar sessão a sessão, o paciente mobilizando seus


recursos íntimos, e assim, encontrando-se nos seus emaranhados emocionais. Mais
do que isso, me fiz parceiro de viagem do paciente, e juntos trilhamos o trabalho
gestáltico de époché dialógica, reconstruindo seu estilo de contato na estrutura do
seu self dentro das relações familiares. Foi um trablalho de reconstrução não
somente para o cliente, e sim, para mim também, que me reconstruí em cada
sessão. Aprendi que a mudança não só e possivel, é inevitável.
135

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