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ELEMENTOS DE CONEXÃO, OBJETO DE CONEXÃO, QUALIFICAÇÃO1

O ato ou o fato jurídico deve estar em contato com dois ou mais meios sociais onde
vigoram normas jurídicas autônomas e independentes.

Deve aparecer na relação jurídica um determinado elemento estrangeiro, ou elemento de


estraneidade, conectando a questão sub judice a mais de uma ordem jurídica.

As normas de Direito Internacional Privado têm estrutura composta sempre por duas
partes: elemento de conexão da norma; e outra prevendo o objeto de conexão.

Exemplos:
Art. 8º da LINDB. “Para qualificar os bens (objeto de conexão) e regular as relações a
eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados (elemento de
conexão)
Os bens = objeto de conexão
A lei do país = elemento de conexão

Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações (objeto de conexão), aplicar-se-á a lei do


país em que se constituírem (elemento de conexão).

Portanto:
OBJETOS DE CONEXÃO: versam sobre a matéria regulada pela norma indicativa
(bens, casamento, sucessão, obrigações).
Abordam sempre questões jurídicas vinculadas a fatos e elementos de fatos sociais
(capacidade jurídica, forma do testamento, norma de pessoa física).

ELEMENTOS DE CONEXÃO: de ligação, de contato, de vínculo. Ligam, contatam


ou vinculam internacionalmente as questões de Direito Internacional Privado.
São elos existentes entre as normas de um país e as de outro.
São elementos de localização do direito aplicável, dada pelas normas de DIPr de cada
país. Dependem das tradições e da política legislativa de cada país. Variável de Estado
para Estado não havendo uma regra uniforme

ESPÉCIES DE ELEMENTOS DE CONEXÃO

Pessoais, reais, formais ou voluntários.

CONEXÕES PESSOAIS: relativas às pessoas.

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Anotações do professor Ricardo Burrattino Félix. Anotações que serviram de referências na aula
expositiva. Este material não é apostila, tampouco texto acadêmico. Não substitui consulta à doutrina,
legislação e jurisprudência.
NACIONALIDADE, O DOMICÍLIO, A RESIDÊNCIA, A ORIGEM E A
RELIGIÃO.
Destaque: nacionalidade e domicílio.
Domicílio tem o elemento de conexão mais usado (América Latina e Brasil).
Residência = elemento subsidiário quando não se consegue identificar o domicílio da
pessoa.

CONEXÕES REAIS (TERRITORIAIS): ligadas às coisas.


Relacionam-se à propriedade, aos bens moveis e imóveis.

Art. 8o LINDB Para qualificar os bens e regular as relações a eles


concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.

Não importa o domicílio. Competente o foro em que situado o bem.


Lex rei sitae ou Lex situs. Móveis seguem as pessoas (mobília sequuntur personam).

CONEXÕES FORMAIS: relativas aos atos jurídicos.


Lugar de celebração (Lex loci celebrationis);
lugar de execução (lex loci executionis);
lugar da constituição (lexi loci constitutionis).
Vincula o ato jurídico a determinado sistema normativo (lócus regit actum).

LINDB: Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as


regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e
os direitos de família.
§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira
quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

LINDB: Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei


do país em que se constituírem.
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo
de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da
lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.

CONEXÕES VOLUNTÁRIAS: levam em conta a vontade das partes.


Aplicação da lei livremente escolhida (Lex voluntaris).
Elemento de conexão costumeiro, vez que não expressamente previsto na atual
legislação brasileira.

PRINCIPAIS ELEMENTOS DE CONEXÃO:

TERRITÓRIO: principal elemento de conexão das normas indicativas ou indiretas de


DIPr.
Onde se localiza imóvel, onde ocorre certo ato jurídico ou determinado fato, onde se
encontram certas pessoas.
Poder ser elemento próprio (autônomo) da norma indicativa (Lex situs ou Lex rei sitae);
componente básico de outros elementos de conexão (nacionalidade jus soli, domicílio,
lugar da realização ou da execução de atos ou contratos).
Não é conceito meramente geográfico.
Conceito jurídico: solo, subsolo, rios, lagos, mares interiores, golfos, baias, portos,
faixa de mar territorial (12 milhas marítimas), plataforma continental, espaço aéreo
corespondente ao solo e ao mar territorial.

NACIONALIDADE: importante para o reconhecimento do gozo, exercício e


reconhecimento de direitos.
Quando há mais de uma nacionalidade, deve ser considerada aquela que o indivíduo
mantém a relação mais próxima e estreita de significância.

DOMICÍLIO: Lei brasileira, total ênfase ao domicílio.


Determinam o começo e o fim da personalidade, nome, capacidade, direitos de família,
invalidade de matrimônio, regime de bens. Ponto de contato mais corrente e seguro.
Vontade de fixação de alguém em determinado lugar.
No Brasil: domicílio da pessoa natural.
Na Itália: sede principal dos negócios e interesses.
Na França: lugar onde a pessoa tem o seu estabelecimento principal.
Pluralidade de domicílios: preferência pelo domicílio nacional, posteriormente, seu
domicílio legal.
Quando não tiver domicílio, aplica-se subsidiariamente a residência (várias
residências: a última residência estabelecida).

VONTADE DAS PARTES: princípio da autonomia da vontade. Liberdade.


Permite às partes derrogar as normas de conflito e definir o direito aplicável em
certos casos.
Não podem valer-se da vontade quando a conexão afrontar a soberania do país, sua
ordem pública ou as normas previstas em tratados internacionais.
Muito usado no direito brasileiro (silêncio do legislador) Na LICC de 1916 art. 13
(revogado) determinava“salvo estipulação em contrário”.

LUGAR DO CONTRATO: elemento de conexão tradicional e dos mais antigos.


Brasil não adota. Adota o lugar de residência do proponente:
LINDB: Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei
do país em que se constituírem.
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em
que residir o proponente.

A LEX FORI: elemento de conexão tradicional.


Lei do foro ou a lei do juiz.
Melhor conhecimento das normas internas de um Estado. Lex fori x Lex causae.

RELIGIÃO E COSTUMES TRIBAIS:


Homologação de sentenças oriundas de tribunais eclesiásticos.
Criam elementos de conexão potencialmente aplicáveis às relações privadas com
conexão internacional que devem ser resolvidas pelo DIPr.

QUALIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS DE CONEXÃO


Elementos de conexão são institutos jurídicos (território, nacionalidade, domicílio)
necessitam ser qualificados (classificados) para serem aplicados.
Qual das ordens jurídicas em causa cabe qualificar os elementos de conexão

QUALIFICAÇÃO PELA LEX CAUSAE: qualificados conforme o sistema jurídico


que fazem parte
Conflito positivo e negativo. A Lex fori só tem condições de qualificar a nacionalidade,
ou o domicílio, ou o lugar contratual (do ou no foro).
Exemplo: se a lei do foro indicar que o direito sucessório se regerá pela Lex domicilii,
domicílio da pessoa é na França, qualificar o domicílio nos termos do direito francês e
não à luz do direito brasileiro.

A qualificação dos elementos de conexão é medida impositiva, obrigatória.


Exemplos: para saber se a pessoa tem nacionalidade brasileira, verifica-se as regras
existentes no Brasil sobre nacionalidade.
Alguém divorciado na França, saber as normas francesas sobre o divórcio.

CONFLITO POSITIVO E NEGATIVO:


Positivo: pessoa domiciliada em mais de um Estado
Negativo: ambos os Estados em causa consideram alguém sem nacionalidade.
Aplica-se outro elemento de conexão subsidiário. Nacionalidade – domicílio. Domicílio
– residência.
Tratados internacionais podem estabelecer um conceito geral.

BOBLIOGRAFIA:

DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado. Parte Geral. Rio de Janeiro:


Forense.

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Direito internacional privado: curso elementar.


Rio de Janeiro: Forense.

RAMOS, Andre de Carvalho. Curso de Direito Internacional Privado. São Paulo:


Saraiva.

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