Um arco dental típico para receber uma PPR é constituído por grupos
dentais dispostos assimetricamente, separados por áreas desdentadas de rebordo
alveolar. Estes rebordos apresentam formas variadas que muitas vezes são áreas
de interferências que obstruem a trajetória de instalação da prótese.
Para a prótese se alojar nos suportes correspondentes é necessário que as
superfícies proximais dos dentes estejam paralelas entre si e com o rebordo
alveolar, dessa forma, ela pode ser instalada e removida sem esforços além do
necessário.
Para se obter a retenção ideal é conveniente localizar as áreas de
interferências e de retenção dos dentes suportes. As áreas de interferências devem
ser evitadas, enquanto que as áreas de retenção dos dentes suportes, vestibulares
ou linguais, devem ser utilizadas para a retenção das próteses a grampos.
Esses dados devem ser mapeados no modelo de diagnóstico para
possibilitar o planejamento e o desenho da PPR. Também é necessário verificar o
paralelismo entre as superfícies dos dentes quando está sendo está realizados os
preparos para a confecção de prótese parcial fixa.
O mapeamento do modelo para localizar áreas de interferências e áreas de
retenção é realizado por meio de um instrumento denominado Delineador, também
chamado: Paralelômetro, Tangenciômetro ou Paralelizador.
O delineador é empregado, portanto, para estabelecer ou determinar
superfícies paralelas, áreas de interferências e de retenção. Entretanto, permite
ainda medir a retenção para estabelecer uma profundidade adequada que a ponta
do grampo deve-se localizar na área de retenção ou para verificar a necessidade de
alteração no contorno do dente para criar área de retenção. Além dessas finalidades
o delineador também pode ser usado para posicionar encaixes ou confeccionar
caixas de retenção.
O Dr. Fortunati por volta de 1918 foi o primeiro a utilizar um instrumento
mecânico para se determinar o paralelismo entre dois ou mais dentes. No ano de
1923 os engenheiros da Companhia J. M. Ney desenharam o primeiro delineador
que foi lançado no comércio.
Nas décadas seguintes muitos outros delineadores foram colocados no
mercado, apesar de diferentes, todos possui os mesmos princípios.
1
O delineador da Ney (Figura
6
1), por exemplo, é composto de uma
1) Junta articulada 7 Haste Horizontal
2) Parafuso fixador da mesa
base ou plataforma, uma haste vertical 3) Parafuso fixador do modelo 4
móvel e uma horizontal fixa e outra 4) Haste vertical móvel
5) Mandril
6) Porta Instrumentos 5
vertical móvel (4). Nesta haste vertical
7) Parafuso fixador da 8
móvel está localizado um mandril (5) haste vertical móvel
8) Haste vertical fixa
onde se coloca pontas ou instrumentos 3 Mesa articulada
de medida, de análise ou de corte. 1
2 Mesa articulada
Sobre a base ou plataforma desliza Base horizontal
outra parte deste instrumento que é a
Figura 1- Delineador da Ney
mesa.
A mesa é composta de uma base que movimenta sobre a plataforma do
delineador com uma articulação (1) que pode ser fixada através de um parafuso (2).
A mesa propriamente dita é constituída de duas garras fixas e uma outra
que pode ser movimentada por meio de um parafuso de rosca sem fim (3) que
permite fixar o modelo a ser analisado.
Acompanham o delineador pequenas pontas também chamadas de
instrumentos, as quais possuem utilidades variadas tais como:
1) Localizadores de pontos ou
instrumento afilado – que é
usado para retornar o
modelo em posição (Figura Figura 2 – Localizador de pontos
2)
2) Ponta de diagnóstico –
serve para fazer um
levantamento grosseiro das
áreas retentivas e de
interferências do modelo
Figura 3 – Ponta de Diagnóstico.
sem deixar marcas no
modelo (Figura 3).
2
3) Grafite com canaleta. O
grafite serve para marcar o
equador protético e a
canaleta para evitar a
fratura do grafite (Figura 4). Figura 4 Grafite e bainha
0,5
Trajetória de inserção é a
direção segundo a qual a prótese se
move a partir de um ponto de contato
inicial das suas partes rígidas e os
dentes suportes até uma posição
terminal de repouso ou passividade, na
Figura 8 - Mostra a trajetória de inserção e remoção da
qual os apoios estão assentados e a prótese, bem como a flexão do braço do grampo.
4
3) Determinar se uma estrutura dental
ou interferências ósseas necessita
ser eliminado (Figura 10). Neste
caso, às vezes é necessário de
Figura 10 – Mostra a interferência de estrutura dental
tratamento (protético ou ortodôntico) que impede a instalação da prótese
0,75mm
retenção (Figura 15). Durante a
confecção de uma PPR, podem ser Figura 15- Avaliação de áreas de retenção necessária
para se colocar um braço de grampo.
usados vários materiais e cada um
apresenta um grau de flexibilidade
diferente. Quanto mais flexível for o
material mais cervical ou mais profundo
poderá ser a sua localização dentro da
área de retenção.
8
f) Preparos em restaurações fundidas
Uso do delineador
A prótese parcial removível (PPR) deve ser desenhada de tal forma que um
esforço que atinja os dentes de suporte não exceda a sua tolerância fisiológica, que
possa ser inserida e removida pelo paciente, que apresente uma retenção contra
forças de deslocamento de intensidade razoável e que não crie uma aparência
desfavorável.
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Para se conseguir essas características é necessário que durante o
delineamento se tenha os fatores que afetam a seleção da trajetória de inserção em
mente.
Estes fatores são: planos guia, áreas de retenção, interferência e estética.
a) Planos guia
São duas ou mais superfícies paralelas
dos dentes suportes cujas formas determinam a
direção de inserção e remoção da PPR (Figura
Planos
guia
24). Os planos guia são necessários para permitir
a passagem das partes rígidas da prótese através
das áreas de interferências existentes sem
causar traumatismo aos tecidos moles e para Figura 24 – Planos guias estabelecidos pelas
superfícies proximais dos dentes
assegurar uma retenção previsível aos grampos.
Quando se estabelece o plano guia elimina-se ou reduz os espaços mortos
que são áreas que após acrilização irá reter detritos alimentares que poderá produzir
cáries, doenças periodontais e halitose. Às vezes com a realização de pequenos
slices o plano é estabelecido e a área de interferência é reduzida e caso a prótese
seja anterior (classe IV), a estética é favorecida.
Ao se estabelecer os planos guias estamos, portanto determinando a
trajetória de inserção da prótese que é o trajeto da prótese desde o primeiro toque
no dente até seu assentamento nos tecidos de suporte.
b) Áreas retentivas
A área de retenção do dente que irá receber a ponta ativa do braço de
retenção pode ser analisada de três formas:
1) Dimensão mesio distal
2) Dimensão ocluso gengival
3) Dimensão dada pelo plano buco
lingual
Dentre elas a dimensão dada
pelo plano buco lingual é a mais
Figura 25- Área de retenção mesio-distalç ocluso-
gengival e buco-.ingual
importante porque equivale a
quantidade que o braço têm que se
flexionar para passar sobre a maior
10
convexidade do dente e alojar na área
de retenção.
As áreas de retenção deverão existir para uma determinada trajetória de
inserção e serão contatadas pelos braços retentivos que serão forçados a flexionar
e para que possam passar sobre a superfície convexa, durante a inserção e
remoção da prótese.
Para que um grampo seja efetivo, sua trajetória de deslocamento deve ser
diferente da trajetória de remoção da prótese, pois o contrário seria dependente
exclusivamente da flexão do braço de retenção do grampo.
Como regra geral, o extremo
retentivo de um grampo de liga de
cromo cobalto não deve ultrapassar
mais de 0,25mm de retenção enquanto 0,25
0,5
que a liga de ouro pode atingir 0,5mm 0,75 0,25 0,5
mm
0,75mm
de profundidade. Contudo os grampos
Figura 26 – Diferentes profundidades de área de
confeccionados com fio de ouro ou de retenção
11
2) Alterando a flexibilidade do braço
de retenção do grampo, pela 1- Cromo (0,25mm)
2- Fio de ouro (Neste caso
modificação do seu comprimento pode localizar mais abaixo
0,75mm)
e/ou material do qual são
Figura 28 – Diferentes profundidades para área
confeccionados (Figura 28). de retenção.
Inclinação do modelo
Quando se inclina o modelo durante o delineamento, áreas do dente que
não possuíam retenção passam a tê-la, contudo, área que possuí retenção pode
deixar de tê-la (Figura 29).
Portanto, constitui-se em um
erro considerar que se inclinando o
modelo esteja criando retenção para a
prótese. Isto não ocorre porque as
forças que incidem sobre a prótese são
de direção perpendicular ao plano
oclusal. As forças oriundas da função,
nas próteses confeccionadas no arco
superior, têm direção vertical, contudo
as que incidem sobre as próteses Figura 29 – Inclinação antero-posterior do
modelo para se obter retenção.
mandibulares têm uma direção curva.
Portanto, quando o indivíduo
está mastigando uma bala de caramelo
a força de deslocamento ocorre
durante a abertura da boca e desloca
dos tecidos (Figura 29). Se a trajetória
de deslocamento da prótese não está
perpendicular ao plano oclusal, existirá
Figura 29 – Trajetórias de remoção das
uma resistência ao deslocamento da próteses removíveis.
c) Interferência
A prótese deve ser desenhada de tal maneira que ela seja instalada ou
removida sem encontrar interferência dental ou de tecidos moles.
Algumas regiões da boca
possuem áreas de interferência de
tecidos moles como a zona do
processo milioídeo (forma lateral da
garganta) (Figura 30), zona do tuber da
maxila, região mentoniana, processo
alveolar com retenção vestibular e Figura 30 – Área de interferência de tecido mole
(Forma lateral da garganta)
frênulos.
Outras regiões constituem-se
interferências de tecidos duros como
os dentes inclinados (para a lingual ou
vestibular, Figura 31). Figura 31 – Área de interferência de tecido duro
(dentes inclinados).
Através da seleção da trajetória
de inserção podemos diminuir as
regiões de interferências de modo que
ela possa ser eliminada durante os
preparos bucais através de cirurgia,
extrações, preparos de slices ou
através de alterações de contorno do
dente com restaurações fundidas.
Quando a interferência não pode ser
removida ela deve ter preferência sobre
os fatores planos guias e retenção.
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Estética
Uma trajetória de inserção é
mais estética quando a área de
retenção permite repor os dentes
artificiais sem que grandes quantidades
de estrutura metálica estejam visíveis.
Figura 31 – Mostra que a colocação de um grampo pela
O braço de retenção do distal, buscando área de retenção mesial esconde maior
parte do grampo.
grampo será menos visível no canino
se for localizado pelo lado disto
gengival, o que só é possível quando
seleciona uma trajetória de inserção
que permita posicionar a área de
retenção na mesial (Figura 31).
Quando se está confeciconando uma Figura 32 – Área de retenção distal para receber a ponta
do grampo de retenção.
prótese fixa, a área de retenção deve
ser a mais distal possível para que a
ponta de retenção do grampo fique
localizada na parte distal do dente
(figura 32).
Apesar da importância a estética não é o fator preponderante na orientação
do desenho, uma vez que a preservação dos tecidos orais remanescentes é o
objetivo maior da PPR.
Delineamento do modelo de diagnóstico
Para realizar o delineamento do modelo de diagnóstico, inicialmente é
necessário selecionar a trajetória de inserção que satisfaça os quatro fatores: plano
guia, estética, retenção e ausência de interferência.
A trajetória de inserção deve
ser escolhida com o modelo
posicionado o mais paralelo possível
do plano horizontal (Figura 33 A), uma
vez que as forças mastigatórias agem
sobre as próteses em uma direção
perpendicular ao plano oclusal,
entretanto durante a função atua
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obliquamente e o paralelismo
estabelecido pelos planos guias
impede a prótese de ser removida.
Apesar de existir vários
métodos para a seleção do eixo de
A
inserção, é o método arbitrário ou de
conveniência que é mais prático e
possibilita resultados satisfatórios.
Neste caso, após colocar o modelo
Planos
com a superfície oclusal paralela à guia
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