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com o trabalho duro que uma máquina pode fazer melhor. As condições, que admi·
tem ou requerem que ambos os esposos trabalhem fora da fam!'lia, criam situações
em que a rede extrafamiliar pode intensificar e ex acerbar o conflito entre os esposos.
Em f ace de todas estas mudanças, o homem moderno ainda se mantém fiel a
um conjunto de valores, que pertence a uma sociedade diferente, uma sociedade em
que as fronteiras e ntre a família e o extrafamiliar eram nitidamente delineadas. A ade·
são a um modelo obsoleto leva à classificação de muitas situações, que são clara·
ment e transicionais, como patológicas ou patogênicas. A pedra de toque para a vi·
da familiar ainda é o legendário "e assim eles casaram e viveram felizes para sem·
pre". Não é surpresa que qualquer família não alcance este ideal.
O mundo ocidental está num estado de transição e a família, que sempre de·
ve se aco modar à sociedade, está mudando com ele. Mas em razão de dificuldades
transicionais, a principal tarefa psicossocial da família - apoiar seus membros- se
tornou mais importante do que nunca. Somente a família, a menor unidade da so-
ciedade, pode mudar e, apesar disso, manter suficiente continuidade para criar fi·
lhos, que não serão "estrangeiros numa terra estranha", que estarão firmemente en·
raizados, o suficiente para crescerem e se adaptarem.
A matriz da identidade
53
que ele é o pai de Tom e o marido de Emily, tanto quanto o de ser filho de seus
pais. Os componentes do sentido de identidade de um indivíduo ~udam e perma·
necem constantes. Como Roger Barker o coloca: " A pessoa psicológica, que escreve
ensaios, que marca pontos e atravessa as ruas permanece como uma entidade identi·
ficável entre partes interiores instáveis e contextos exteriores, com ambos os quais
está vinculada e, no entanto, de ambos os quais está profundamente separada." 1
A pessoa psicológica, que é uma entidade separada, está vinculada com contextos
exteriores.
Muito embora a família seja a matriz do desenvolvimento psicossocial de seus
membros, também deve se acomodar a uma sociedade e assegurar alguma continui-
dade para a sua cultura. Est a função societária é fonte de ataques sobre a família, na
moderna América.* A sociedade americana está mudando e muitos grupos, dentro
dessa sociedade, querem acelerar a mudança. Estes grupos, muito corretamente, per-
cebem a família como um e lemento de conservacionismo e como uma fonte de es·
tase. Os ataques à família são típicos de períodos revolucionários. Cristo disse a
seus discípulos para deixarem seus pais e famílias e segui-lo. A Revolução Francesa,
a russa e a chinesa, todas elas solaparam a estrutura famil iar tradicional naqueles
países, numa tentativa de acelerar o progresso na direção de uma nova ordem so-
cial. O kibutz de Israel é outro exemplo do mesmo processo social.
As leis russas relativas à fam li ia, durante e depois da revolução, ilustram este
processo. Nos anos vinte, as leis reguladoras de casamento, divórcio e aborto tende-
ram para a dissolução da família. Mas, nos anos trinta, quando a Rússia estava avan-
çando para a cristalização de suas normas societárias recentemente estabelecidas,
as leis foram modificadas, para apoiar a continuidade da fam nia. 2 Similarmente, os
kibutzim israelenses agora estão tendendo para aumentar as funções da família nu-
clear, dentro do kibutz. Em muitos deles, as crianças pequenas agora ficam no quar-
to de seus pais e as crianças em geral vivem com seus pais por perlodo de tempo
mais longo, antes de ingressar no lar das crianças.
Qualquer estudo da família deve incluir a sua complementaridade com a so·
ciedade. A família nucl ear, que, pelo menos em teoria, é o padrão da classe média
americana, é um desenvolvimento histórico recente. Mesmo hoje em dia, é grande·
mente confinada às sociedades urbanas industrializadas. Os conceitos das funções
familiares também se mod ificam à medida que a sociedade muda. Até quatrocen·
tos anos atrás, a família não era considerada como uma unidade de criação da crian-
ça e, até muito mais tarde, as crianças não eram reconhecidas como indivíduos com
direitos próprios. 3
54
Atualmente, a família americana, do mesmo modo que a sociedade america-
na, está num período de transição. E, como a sociedade o transmite, a família está
sob ataque. Por exemplo, um programa de educação pública de televisão, de doze
horas, An American Family, seguiu a família Loud através das rotinas de sua vida e
de suas relações com empregos, escolas, parentes afins e amigos. Algumas pessoas
aclamaram esta apresentação como uma penetração na comunicação de massa, com
significativo vàlor antropológico. Outras criticaram a obtusidade da apresentação
da vida familiar. Um grupo crítico significativo foi a própria família Loud. Em
shows independentes de televisão, eles tentaram comunicar a uma audiência de mi-
lhões que não gostaram de si mesmos, tal como haviam sido retratados. Eles salien-
taram que havia muito mais a respeito deles do que foi mostrado. O que a audiên-
cia americana viu, de fato, foi o ponto de vista do produtor. Influenciado por mo-
dos atuais de encarar a famllia, ele tinha selecionado e posto em relevo excertos
que exemplificassem estes pontos de vista. Distorções similares foram feitas pelos
cameramen e pelo pessoal que compôs as tomadas, selecionou os close ups e tomou
como alvo o que eles consideraram ser os aspectos pertinentes da família. Os ameri-
canos viram uma famllia americana, apresentada de acordo com os aspectos cul-
turais da família, que são comumente suscetíveis à moda.
Os ataques à família são provenientes de muitas fontes. Estão se incorporan-
do líderes intelectuais do movimento contracultura! e grupos de jovens, que esti-
veram fazendo experiências com formas comunais de organização familiar e de edu-
cação infantil. No campo de saúde mental, R. O. Laing e seus seguidores têm sido
influentes na descrição da família como a programadora malevolente da psicose e,
ainda pior, dos adultos "normais", que povoam o nosso mundo. 4 O novo movimen-
to feminista também tem atacado a família, descrevendo-a como uma fortificação
do chauvinismo masculino. Vêem a família nuclear como uma organização que não
pode ajuqar; apenas produz meninas, criadas para serem esposas na casa de bonecas,
e meninos, que serão praticamente capturados em padrões obsoletos.
A família mudará à medida que a sociedade muda. Provavelmente, de modo
complementar, a sociedade desenvolverá estruturas extrafamiliares para se adaptar
às novas correntes de pensamento e às novas realidades sociais e econômicas. Os
anos setenta parecem ser um período intermediário de luta, durante o qual as mu-
daAÇas estão criando uma necessidade de estruturas que ainda não apareceram. O
grande número de famílias, nas quais ambos os pais trabalham fora de casa, por
exemplo, criou uma necessidade de serviços de cuidados diários, em grande escala,
os quais ainda não estão disponíveis.
A geração hiato é outro exemplo de necessidades não satisfeitas. A família es-
tá abrindo mão da socialização das crianças cada vez mais cedo. A escola, a comu-
nicação de massa e o grupo de iguais estão assumindo a orientação e a educação das
crianças mais velhas. Mas a sociedade não desenvolveu fontes extrafamiliares ade-
quadas de socialização e apoio.
J.
4
R. D. Laing and Aaron Esterson, Sanity, Madness, and the Famíly (London: Tavistock, 1964).
55
A sociedade masai tinha uma cultura de grupo adolescente que era grande-
mente independente, mas eram determinadas certas tarefas específicas para o grupo
desempe nhar, sob a supervisão laissez-faire dos guerreiros da tribo. Os jovens po-
diam, desta mane ira, levar a cabo os processos apropriados à idade de separação da
família e se tornarem independentes, sem se tornarem alienados da sociedade em
geral. Os grupos jovens dos kibutzim israel enses desempenham uma função similar.
A sociedade ocidental não tem funções nitidamente diferenciadas para os adoles-
centes. Quando a família libera seus filhos, os libera para sistemas de apoio inade-
quados. Não é surpreendente qu e as crises adolescentes de identidade tenham re-
sultado em um certo número de fenômenos sociais antinomianos. 5
A mudança sempre se desloca da sociedade para a família, nunca da unidade
menor para a maior. A família mudará, mas também permanecerá, porque é a me-
lhor unidade humana para sociedades rapidamente mutáveis. Quanto mais flexibili-
dade e adaptabilidade requer de seus membros, mais significativa se tornará a famí-
lia, como a matriz do desenvolvimento psicossocial.
Como a família, num sentido genérico, muda e se adapta às circunstâncias his-
tóricas, também a família individual se adapta constantemente. A família é um sis-
tema aberto em transformação; isto é, constantemente recebe e envia inputs para e
do extrafamiliar, e se adapta às diferente s exigências dos estádios de desenvolvimen-
to que enfrenta.
Suas tarefas não são fáceis. Os Wagner, com todas as dificuldades que descre-
vem, na formação da famllia e no nascimento de seu f ilho, representam os estresses
que qualquer família normal encontra. Mas, de alguma maneira, a visão idealizada
prevalente da fam ília normal é de que não seja estressante. A despeito dos estudos
sociológicos e antropológicos da família, o mito de normalidade plácida perdura,
apoiado por horas de personagens bidimensionais de televisão. O quadro de pessoas
viven do em harmonia, enfrentando inputs sociais, sem ficarem perturbadas, sempre
cooperando uma com a outra, se desmorona sempre que se considera qualquer fa-
mília com seus problemas comuns. Portanto, é alarmante que este padrão seja algu-
mas vezes mantido incontestado por t erapeutas, que medem o funcionamento das
famílias de clientes em comparação com a imagem idealizada. Freud salientou que
a teràpia t ransforma padrões neuróticos em atribulações normais da vida. Seu co-
mentário é igualmente verdadei ro para a terapia familiar.
Desde que uma família normal não pode ser distinguida de uma f amília anor-
mal pela ausência de problemas, um terapeuta deve ter um esquema conceitua l do
funcionamento familiar, para ajudá-lo a analisar uma família. Um esquema baseado
na compreensão da fa mflia como um sistema, operando dentro de contextos sociais
específicos, tem três componentes. Primeiro, a estrutura da família é a de um siste-
ma sócio-cultural aberto em t ransformação. Segundo, a família passa por um desen-
volvimento, atravessando certo número de estádios, que requerem reestruturação.
5
Salvador Minuchin, "Adolescence: Society's Response and Respon sibil ity," Adolescence, 16
(1969), 45&-476.
56
I~ rce i ro, a família se adapta a circunstâncias modificadas, de maneira a manter a
co11tinuidade e a inte nsificar o crescimento psicossocial de cada membro;. A e ntre-
vista com os Wagner fo i destinada a revel ar o segundo componente deste esquema,
seus estádios de desenvolvimento, com o comentário apresentando os aspectos mais
genéricos do desenvolvi mento familiar. A estrutura fami liar e a adaptação familiar
requerem d iscussão ulterior_
Estrutura familiar
57
suas obrigações. Então, aparecem reinvindicações de lealdade familiar e manobras
que induzem culpa. 6
.M.as....a....e.sttu.tu.(U?..miJ1?r -~=e.:,v_e_di~.Lsap_az_~=~=~~çl-~_;§~~.,..Q.U.Ê.9-~.o~,as,.;cicc,~!?,~;
lâ.oç.i.a.u:D.u9.a m.. ~ e).<lsj:~ncia <:ontinu-9.9.?. d~':~Ja.rpJ~l.a,_c_o!Jl?...,.~m sis:tema, depe~
cie._de_uro.a_exteosão_s.ufiç_i_en_te dJ!_paçlr_êíe.s,_d_a _a_c~_s,?ibiiLdS~c!e d_e_R~c:!J:êi~s._tr_a_nsa_:-
.ciQ.nais_a!ter.~~o~-:-~c::~~~/}:e,~.i.RiLhd}8,~~7B~~-'!1.9PULz.ª.-.19~·,_,9~-~9-~:::-rj~:~:s_sj~ic;.- bes·c:o
de que a fam 11 ia deve responder às mudanças internas e externas, deve ser ca·
paz de transformar-se de maneiras que atendam às novas circunstâncias, sem per-
der a continuidade, que proporciona um esquema de referência para seus mem-
bros.
O sistema familiar diferencia e leva a cabo suas funções através de subsiste·
mas. Os indivíduos são subsistemas dentro de uma família. D íades, tais como es·
poso-esposa e mãe-filho, podem ser subsistemas. Os subsistemas podem ser for ma·
dos por geração, sexo, interesse ou por função.
Cada indi viduo pertence a diferentes subsistemas, nos quais tem diferen·
tes níveis de poder e onde aprende habi Iidades diferenciadas. Um homem pode
ser um filho, um sobrinho, um irmão mais velho, um irmão mais moço, um marido,
um pai e assim por diante. Em diferentes subsistemas, ele ingressa em diferentes
relações complementares. As pessoas se acomodam caleidoscopicamente, para
atingir a mutualidade, que torna possível a relação humana. A criança tem de agir
como um filho, enquanto o seu pai age como um pai; e quando a criança o faz,
pode ter de ceder ao tipo de poder que aprecia, quando em interação com seu irmão
mais moço. A organização de subsistemas de uma famíl ia fornece treinamento va~
!ioso no processo de manutenção do "eu sou" diferenciado, ao mesmo tempo que
dê exercício de habilidades interpessoais em diferentes níveis.
Fronteiras. As fronteiras de um subsistema são as regras que definem quem
partici pa e como. Por exemplo, a fronteira de um subsistema parenta! é defin i·
da, quando uma mãe (M) diz ao seu filho mais velho: "Você não é o pai de seu
irmão. Se ele está andando de bicicleta na rua, diga-me e eu o farei parar." (Fig. 2).
M (subsistema executivo)
Fig. 2
filhos (subsistema fraternal)
M e FP (subsistema executivo I
Fig. 3
outros filhos (subsistema fraternal)
6
Ivan Boszormenyi-Nagy and Gerafdine Spark, lnvisible Loyalties (New York: Harper & Row,
1973).
58
Chave para as Figs. 2- 48
fronteira n ítida
f ronteira difusa
fronteira rígida
associação
superenvolvimento
~1 1- conflito
j coalizão
> desvio
59
Fig. 4
60
bitual, com excessiva rapidez e intensidade. A família desligada tende a não respon·
der, quando uma resposta é necessári a. Os pais, numa família emaranhada, podem
se tornar tremendamente perturbados, porque um filho não come a sua sobremesa.
Os pais, numa família desligada, podem se sentir despreocupados a respeito da aver-
são de um filho à escola. Um terapeuta muitas vezes funciona como um criador de
fronteira, tornando nítidas as fronteiras e abrindo as inadequadamente rígidas. A
sua aval iação dos subsistemas familiares e do funcion amento das fronteiras propor·
ciona um rápido quadro diagnóstico da fam ília, que orienta suas intervenções tera-
pêuticas.
O subsistema conjugal. O subsistema conjugal é formado quando dois adultos
de sexo oposto se unem , com o propósito expresso de formar uma famíli a. Têm ta-
refas ou funções específicas, vitais para o funcionamento da família. As habilidades
principais para a implementação de suas t arefas são complementaridade e acomoda-
ção mútua. Isto é, o casal deve desenvolver padrões, em que cada esposo apóia o
funcionamento do outro em muitas áreas. Devem desenvolver padrões de comple-
mentaridade, que permitem a cada esposo "entregar", sem a sensa ção de que "re-
nunciou". Ambos, marido e mulher, devem conceder parte de sua separação, para
ganhar em pertencimento. A aceitação da interdependência mútua, numa relação
simétrica, pode ser prejudicada pela insistência dos esposos em seus direitos inde-
pendentes.
O subsistema conjugal pode se tornar um refúgio para os estresses externos e
a matriz para o contato com outros sistemas sociais. Pode favorecer a aprendiza-
gem, a criatividade e o crescimento. No processo de acomodação mútua, os espo·
sos podem atualizar aspectos criativos de se us parceiros, que estavam latentes, e
apoiar as melhores características u m do outro. Mas os casais também podem esti-
mular aspectos negativos um do outro. Os esposos podem insistir em aperfe içoar ou
salvar seus parceiros e, por este processo, desqualificá-los. Ao invés de aceitá-los co-
mo são, impõem novos padrões a serem atingidos. Podem estabelecer padrões tra n-
sacionais dependentes-protetores, nos quai s, o membro dependente permanece de·
pendente, de maneira a proteger os sentimentos do parceiro de ser o protetor.
Esses padrões negativos podem existir em casais comuns, sem subentender
uma patologia extensiva ou uma motivação malevolente em cada membro. Se um
terapeuta deve desafiar um padrão, que se tornou disfuncional, deveria lembrar de
desafiar o processo, sem atacar a motivação dos participantes. Um terapeuta orien-
tado para sistemas deveria oferecer interpretações que sublinhem a mutualidade,
como: "Você protege sua esposa de uma maneira que a inibe, e você t raz à tona
uma proteção desnecessária por parte de seu esposo, com grande habilidade." Uma
interpretação atrás da outra deste tipo enfatiza a complementaridade do sistema,
reúne o positivo e o negativo em cada esposo e elimina as implicações de julgame n-
to da mot ivação.
O subsistema conjugal deve conseguir uma fronteira que o proteja da inter·
ferência das ex igências e necessidades de outros sistemas. Isto é particularmente ver·
dadeiro quando uma família tem filhos. Os adultos devem ter um território psicos-
61
social próprio - um abrigo no qual possam dar apoio emocional um ao outro. Se a
fronteira em torno dos esposos é inadequadamente rígida, o sistema pode ser estres·
sado por seu isolamento. Mas se os esposos mantêm fronteiras frouxas, outros sub-
grupos, inclusive filhos e parentes afins, podem se intrometer no funcionamento do
subsistema deles.
_Em termos humanos simples, marido e mulher precisam um do outro como
um refúgio das exigências múltiplas da vida. Em terapia, esta necessidade preceitua
que o terapeuta proteja as fronteiras em torno do subsistema conjugal. Se os filhos,
numa sessão familiar, interferem na transação do subsistema conjugal, sua interfe-
rência deveria ser bloqueada. Esposo e esposa podem ter sessões que excluam os ou-
tros. Se, nestas sessões, eles continuam a discutir paternidade, ao invés de transa·
ções de marido-mulher, o terapeuta faria bem em assinalar que eles estão cruzando
uma fronteira.
O subsistema parenta/. Um novo nível de formação familiar é atingido com o
nascimento do primeiro filho. O subsistema conjugal, numa família intacta, agora
deve se diferenciar, para desempenhar as tarefas de socialização de uma criança,
sem perder o apoio mútuo, que deveria caracterizar o subsistema conjugal. _Deve
ser delineada uma fronteira, que permita o acesso da criança a ambos os pais, embo-
ra excluindo-a das funções conjugais. Alguns casais, que procedem bem como um
grupo de dois, jamais são capazes de fazer uma transição satisfatória para as intera·
ções de um grupo de três. Em algumas famílias, o filho pode ser atraído para den-
tro dos problemas do subsistema conjugal, como aconteceu com Emily Wagner.
À medida que a criança cresce, suas exigências de desenvolvimento, tanto de
autonomia como de orientação, impõem demandas ao subsistema parenta!, que de-
ve ser modificado para atendê-las. O filho entra em contato com iguais extrafamilia-
res, com a escola e com outras forças socializadoras fora da família. O subsistema pa·
rental deve se adaptar aos novos fatores, que incidem sobre as tarefas de socializa-
ção. Se a criança é severamente estressada por seu ambiente extrafamiliar, isto pode
afetar não somente seu relacionamento com os pais, mas até as transações internas
do subsistema conjugal.
A autoridade indiscutida que uma vez caracterizava o modelo patriarcal do
subsistema parenta! se desvaneceu, para ser substituída por um conceito de autori-
dade flexível, racional. Espera-se que os pais compreendam as necessidades de de-
senvolvimento dos filhos e expliquem as regras que impõem. A paternidade é um
processo extremamente difícil. Ninguém o desempenha a seu inteiro contento e
ninguém o atravessa incólume. Provavelmente, isto foi sempre mais ou menos im·
possível. Na sociedade de hoje em dia, complexa, de desenvolvimento rápido, em
que as gerações-hiato ocorrem cada vez a menores intervalos, as dificuldades paren-
tais aumentaram.
O processo parenta! difere dependendo da idade dos filhos. Quando as crian-
ças são muito pequenas, predominam as funções de nutrição. O controle e a orien-
tação assumem mais importância mais tarde. À medida que a criança amadurece,
especialmente durante a adolescência, as exigências feitas pelos pais começam a
62
colidir com as exigências dos filhos quanto à autonomia apropriada à idade. A pa-
temida de se torna um processo difícil de acomodação mútua. Os pais impõem re-
gras, que não podem exp licar no momento o u que explicam inadequadamente, o u
consideram as razões para as regras como evidentes por si mesmas, quando não são
auto-evidentes para os f ilhos. À medida qu e têm mais idade, podem não aceitar as
regras. Os fi lhos comunicam suas necessidades com graus variáveis de nitidez e fa-
zem novas ex igências aos pais, tais como de mais tempo ou de mais comprometi-
mento emocional.
É essencial compreender a complexidade da educação infantil, a fim de julgar
seus participantes imparcialmente. Os pais não podem proteger e guiar, sem, ao mes-
mo tempo, co ntrolar e reprimir. Os filhos não podem crescer e se tornarem indivi-
dualizado s, sem rejeitar e atacar. O processo de sociali zação é inerentemente confli-
tante. Qualquer input terapêutico que desafia um processo disfunciona l entre pais
e fi lhos, ao mesmo tempo, deve apoiar seus participantes.
A paternidade requer a capacidade de nutrir, guiar e controlar. As propor-
ções destes elementos dependem das necessidades de desenvolvimento das crianças
e da capacidade dos p ais. Mas a paternidade sempre requer o uso da autoridade. Os
pais não podem desempenhar suas funções executivas, a m enos que tenham o po-
der para fazê-lo.
Filhos e pais e, algumas vezes, os t erapeutas, freqüentemente descrevem a fa-
mília ideal como uma democracia. Mas eles erroneamente pressupõem que uma so-
ciedade democrática seja sem lide rança ou que uma família seja uma sociedade de
iguais. O funcionamento eficiente requer que pais e filhos aceitem o fato de que o
uso diferenciado de autoridade é um ingrediente necessário para o subs istema pa-
renta!. Este se torna um laboratório de treinam ento soc ial para as cr ianças, que ne-
cessitam saber como negociar em situações de poder des igual.
Um apoio ao subsistema parenta!, pelo terapeuta, pode colidir com um obje-
tivo t erapêutico de fortalecer a autonomia de um filho. Em tais situações, o tera-
peuta deveria lembrar qu e somente um subsistema parenta! fraco estabelece con-
trole restritivo, e que o controle excessivo ocorre principalmente quando o contro-
le é ineficiente. O apoio à responsabilidade e obrigação dos pais de determinar re-
gras familiares assegura o direito e a obrigação do filho d e crescer e de desenvolver
autonomia. A tarefa do terapeuta é a de ajudar os subsistemas a negociarem e a se
acomodarem entre si.
O subsistema fraternal. O subsistema fraternal é o primei ro labo ratório social,
no qual as crianças podem experimentar com relações com iguais. Dentro deste con-
texto, as crianças apóiam, iso lam, escolhem um bode-expiatório e aprendem umas
com as outras. No mundo de irmãos, as crianças aprendem como negociar, coope-
rar e competir. Aprendem como fazer amigos e aliados, como ter prestígio, embora
se rendendo e como conseguir o reconhecim ento de suas habilidades. Podem assu-
mir diferentes posições, trapaceando um com o outro, e aquelas posições, assumi-
das cedo no subgrupo fraternal, podem ser significativas no curso subseqüente de
suas vidas. Nas grandes famílias, o subsistema fraternal tem uma divisão adicional,
63
para as crianças menores, que ai nda estão transacionando em áreas de segurança, nu-
trição e orientação dentro da famíl ia, que são diferenciadas das crianças mais velhas,
que estão fazendo contato e contratos com o mundo extrafamiliar.
Quando as crianças estabelecem contato com o mundo de iguais extrafami-
liares, tentam operar ao longo das linhas do mundo dos irmãos. Quando aprendem
novas maneiras de se relacionarem, trazem de volta o novo conhecimento experien-
cial para o mundo fraternal. Se a família da criança tem modos muito idiossincrási-
cos, as barreiras entre aquela e o mundo extrafamiliar podem se tornar inadequada-
mente rígidas. A criança pode, então, ter dificulades em ingressar em outros siste-
mas sociais.
A significação do subsistema fraternal é observada muito claramente na sua
ausência. Filhos únicos desenvolvem um padrão precoce de acomodação ao mundo
adulto, que pode ser manifestada em desenvolvimento precoce. Ao mesmo tempo,
podem apresentar dificuldade no desenvolvimento da autonomia e na capacidade
de compartilhar, cooperar e competir com os outros.
Um terapeuta deveria conhecer as necessidades de desenvolvimento infant is e
ser capaz de apoiar o direito da criança à autonomia, sem minim izar os direitos dos
pais. As barreiras do subsistema fraternal deveriam proteger as crianças da interfe-
rência adulta, de maneira que pudessem exercitar seu direito à privacidade, terem
suas próprias áreas de interesse e fossem livres para tatear à medida que exploram.
Crianças, em diferentes estádios de desenvolvimento, têm diferentes necessidades,
habilidades cognitivas específicas e sistemas idiossincrásicos de valores. Às vezes, o
terapeuta deve agir como um tradutor, interpretando o mundo dos filhos para os
pais e vice-versa. Pode também ter de ajudar o subsistema a negociar fronteiras ní-
tidas, mas viáveis de serem cruzadas. Se a criança é colhida numa t eia de exagerada
lealdade familiar, por exemplo, o terapeuta agirá como uma ponte entre a criança e
o mundo extrafamiliar.
Família e adaptação
A famí lia é sujeita à pressão interna, que provém de mudanças evolutivas nos
seus próprios membros e subsistemas, e à pressão exte rior, proveniente das exigên-
cias para se acomOdar às instituições sociais significativas, que têm um impa_cto so-
bre os membros familiares. Responder a estas exigências, tanto de dentro cdmo de
fora, requer um transformação constante da posição dos membros da família, em
relação um com o outro, de maneira que possam crescer, enq uanto o sistema fam i-
liar mantém continuidade.
Os estresses de acomodação a novas situações são inerentes a este processo de
mudança e continuidade. Os clínicos que trabalham com famíli a, em sua concen-
tração sobre a dinâmica familiar, podem minimizar este processo, da mesma mane i-
ra que os terapeutas dinâmicos podem minimizar o contexto do indivíduo. O peri-
go deste lapso é a sua ênfase na patologia. Os processos transacionais de adaptação
64
às novas situações, que levam consigo a falta de diferenciação e a ansiedade que ca-
racterizam todos os processos novos. podem ser classificados erroneamente como
patológicos. O foco na família como um sistema social em transformação, todavia,
acentua a natureza transicional de certos processos familiares. Exige uma explora-
ção da situação mutante da família e de seus membros e de seus estresses de aco-
modação. Com esta orientação, muito mais famílias, que entram em terapia, seriam
consideradas e tratadas como famílias comuns, em situações de transição, sofrendo
as aflições de acomodação e novas circunstâncias. O rótulo de patologia deveria ser
reservado para famílias que, em face de estresse, aumentam a rigidez de seus pa-
drões transacionais e de suas barreiras, e evitam ou resistem a qualquer exploração
de alternativas. Nas famílias comuns, o terapeuta conta com a motivação dos recur-
sos da família, como um caminho para a transformação. Nas famílias patológicas, o
terapeuta precisa se tornar um ator no drama familiar, entrando em coalizões tran-
sacionais, a fim de desregular o sistema e desenvolver um nível diferente de homeos-
tase.
O estresse num sistema familiar pode provir de quatro fontes. Pode haver o
contato estressante de um membro ou de toda a família com forças extrafamiliares.
Os pontos de transição, na evolução familiar, também podem ser uma fonte de ten-
são, da mesma forma que o são os problemas idiossincrásicos.
Contato estressante de um membro com forças extrafamiliares. Uma das prin-
cipais funções da família é a de apoiar os seus membros. Quando um membro sofre
estresse, os outros membro~ da família sentem a necessidade de se acomodar às cir-
cunstâncias modificadas dele. Esta acomodação pode ficar contida dentro de um
subsistema ou pode penetrar toda a família.
Por exemplo, um marido, que está sob estresse no trabalho, critica a sua mu-
lher, quando ambos chegam em casa. Esta transação pode ficar limitada ao sistema
conjugal. A esposa pode se afastar do marido, mas apoiá-lo alguns minutos mais tar-
de. Ou ela pode contra-atacar. Resulta uma briga, mas esta termina por um termo e
apoio mútuo. Est es são padrões transacionais funcionais. O estresse sobre o esposo
foi minorado pelas transações com sua esposa.
Todavia, a briga pode entrar numa escalada, sem término, até que um doses-
posos abandona o campo. Agora, cada esposo sofre com a sensação de não-resolu-
ção. Nesta situação, o contato estressante de um membro familiar com forças ex-
ternas originou um estresse não-resolvido no subsistema conjugal intrafamiliar.
A mesma fonte de estresse sobre um membro individual pode operar através
das fronteiras de subsistemas. Por exemplo, um pai (P) e uma mãe (M), que sofrem
estresse no trabalho, podem ir para casa e criticar um ao outro, mas, então, desviar
seu conflito, at acando um filho. Isto reduz o perigo ao subsistema conjugal, mas
estressa a criança (C) (Fig. 5). Ou o marido pode criticar a esposa, que procura, en-
M II p
Fig. 5
~
c
65
tão, uma coalizão com o filho contra o pai (F ig. 6). A fronteira em torno do subsis-
tem a conjugal assim se torna difusa. Um subsistema através de gerações, inadequa·
da mente rígido, de mãe e fi lho versus pai, aparece e a barreira em torno desta coa·
lizão de mãe e filho exclui o pai. Um padrão tran sacionar transgeraciona/ disfuncio-
nal* se desenvolveu.
,.. ..
Fig. 6 M F
Também é possível toda a família fica r estressada pelo contato extrafam iliar
de um membro. Po r exemplo, se o marido perde o seu emprego, a família pode ter
de reassociar-se, a fim de assegurar a sua sobrevivência. A esposa pode ter de assu·
mir mais responsabilidade pelo sustento financeiro da família, desse modo, mudan-
do a natureza do subsistema. executivo. Esta mudança pode forçar modificações no
subsistema parenta!. O pai pode assumir funções de nutrição, que eram previamente
da mãe (Fig. 7). Ou uma avó {A) pode ser introduzida para assumir as funções pa·
p M
Fig. 7 M p
- - -- se torna
filhos f ilhos
A M
Fig. 8 p se torna p
M A
filhos filhos
nais disfuncionais. Por exemplo, a ailó é trazida para cuidar das crianças, mas os pais
recusam ceder a autoridade, que a capacitaria a cumprir sua responsabilidade.
Os Wagner informaram sobre alguns dos estresses de contato com o extrafa-
miliar. As dificuldades de Mark, como um estuda nte, arrimo da família, interferi·
ram em sua capacidade de se relacionar com sua esposa. Tornou-se crítico ou re·
traído e Emily introduziu Tommy em altercações infindáveis quanto ao seu apoio.
"A expressão é usada para significar "através de gerações". O grifo não consta no original
(N. da trad.).
66
Quando uma família entra em terapia por causa do contato estressante de um
membro com o extrafamiliar, os objetivos e as intervenções do terapeuta da família
são orientados por sua avaliação da situação e da flexibilidade da estrutura familiar.
Se a família realizou mudanças adaptativas para apoiar o membro em estresse, mas
o problema continua, o principal input do terapeuta pode se dirigir para a interação
daquele membro com o agente estressante. Se a família não foi capaz de realizar
mudanças adaptativas, seu principal input pode ser dirigido para ela.
Por exemplo, se uma criança está tendo dificuldades na escola, o problema
pode estar basicamente relacionado com esta. Se a avaliação do terapeuta indica que
a família está apoiando adequadamente o filho, suas intervenções importantes serão
dirigidas para a criança no contexto escolar. Pode agir como o advogado para a mes-
ma, arranjando uma transferência ou uma tutoria. Mas se os problemas da criança
na escola parecem ser uma expressão de problemas familiares, as principais intenren-
ções do terapeuta se dirigirão para a famma. Ambos os tipos de intervenção podem
ser freqüentemente necessários.
Contato estressante de toda a fam/lia com forças extrafamiliares. Um sistema
familiar pode ser sobrecarregado pelos efeitos de uma depressão econômica. Ou o
estresse pode ser gerado por uma modificação de situação, causada por uma trans-
ferência ou uma substituição de cidade. Os mecanismos de competição da família
são particularmente ameaçados pela pobreza e pela discriminação. Por exemplo,
uma família pobre pode estar em contato com tantas agências societárias que seus
mecanismos de competição se tornam sobrecarregados. Ou uma família portorri-
quenha pode ter problemas em se adaptar à cultura do continente.
Aqui, novamente, as intervenções do terapeuta serão orientadas por sua ava-
liação da família. Se ele analisa a organização familiar e determina que é basicamen-
te viável, mas está sobrecarregada, pode agir como pau· para-toda-obra.* Pode ensi-
nar a família a como manipular as instituições para seu proveito próprio. Ou pode
trabalhar para coordenar os esforços das agências .vis-à-vis à família. Com uma fa-
mília portorriquenha, sobrecarregada por uma mo;:Micação de situação, o terapeuta
da família faria bem, localizando os recursos portorriquenhos na comunidade - a
igreja, as escolas com grande admissão de portorriquenhos, pais portorriquenhos
ativos na associação de pais e professores ou as agências sociais e civis dedicadas a
assistir este grupo étnico. Suas funções como terapeuta da família serão comple·
mentadas por suas ações como um consertador social de casamentos."
Estresse em pontos de transição na fam/!ia. Existem muitas fases na própria
evolução natural da família que exigem a negociação de novas regras familiares. No-
vos subsistemas devem aparecer e novas linhas de diferenciação devem ser delinea-
das. Neste processo, surgem inevitavelmente conflitos. De forma ideal, os conflitos
serão resolvidos por negociações de transição e a família se adaptará com sucesso.
67
Estes conflitos oferecem uma oportunidade para o crescimento de todos os mem-
bros da famllia. Todavia, se tais conflitos não são resolvidos, os problemas transi-
cionais podem dar origem a problemas adicionais.
Os problemas de transição podem ocorrer em certo número de situações. Po-
dem ser produzidos por mudanças evolutivas em membros da família e por mudan-
ças na composição familiar. Um dos precipitantes mais comuns é a emergência de
um filho na adolescência. Nessa época, a participação dele no mundo extrafamiliar
e seu status nesse mundo aumentam. A relação entre o filho e os pais é perturbada.
O adolescente deve se afastar um pouco do subsistema fraternal e Ihe ser dado um
aumento de autonomia e responsabilidade, apropriado à sua idade. As transações
do subsistema parenta! com ele devem mudar de pais-criança para pais-jovem adul-
to. O resultado será uma adaptação bem sucedida (Fig. 9).
MP MP
se torna -- - - - - - - - -
Fig. 9 crianças irmão adolescente
Todavia, a mãe pode resistir a qualquer mudança em sua relação com o ado-
lescente, porque requereria uma mudança em sua relação com seu marido. Pode
atacar o adolescente e solapar sua autonomia, ao invés de mudar sua própria atitu-
de. Se o pai, então, entra no conflito, ao lado do filho, é formada uma coalizão
transgeracional inadequada (Fig. 10). A situação pode se generalizar, até que toda a
M
Fig. 10
P adolescente
68
bro da família, separação ou divórcio, encarceiramento, institucionalização ou afas·
tamento do filho por causa da escola. Por exemplo, quando um casal se separa, de·
vem se desenvolver novos subsistemas e Iinhas de diferenciação. A unidade dos dois
pais e filhos agora deve se tornar uma unidade de um dos pais e os filhos, com ex·
clusão do outro.
As famílias freqüentemente entram em terapia, porque as negociações que le·
vam a uma transição bem sucedida foram bloqueadas. Uma famllia, que tem proble·
mas em torno de uma transição recente é mais fácil de ser ajudada do que uma fa·
míl ia que bloqueou as negociações adaptativas durante um longo período.
Estresses em torno de problemas idiossincrásicos. Um terapeuta de família de·
ve levar em conta todas as circunstâncias e estar consciente da possibilidade de pa·
drões transacionais disfuncionais, que aparecem em torno de áreas idiossincrásicas
de estresse familiar. Por exemplo, uma família com um filho retardado pode ter si·
do capaz de se adaptar aos problemas colocados, quando a criança era pequena.
Mas a realidade do retardamento, que os pais eram capazes de evitar, enquanto a
criança era pequena, deve ser enfrentada à medida que cresce e a disparidade de de·
senvolvimento entre ela e seus iguais se torna mais evidente.
O mesmo incremento de estresse pode ocorrer quando uma criança com uma
incapacidade flsíca, tal como um lábio leporino, fica mais velha. A família pode ter
sido capaz de se adaptar às necessidades da criança enquanto era pequena, mas à
medida que ela cresce e experiencia dificuldades na interação com um grupo extra·
familiar de iguais, que não a aceita, este estresse pode sobrecarregara sistema familiar.
Problemas idiossincrásicos transitórios também podem sobrecarregar os meca·
nismos de competição. Se um m~mbro da família se torna seriamente doente, ai·
gumas de suas funções e poderes. devem ser distribu idos para outros membros.
Quando o membro doente se recupera, se torna necessária uma readaptação para
incluí-lo em sua antiga posição ou ajudá·lo a assumir uma nova posição no sistema.
Em resumo, o esquema conceitual de uma família normal tem três facetas.
Primeira, uma famíl ia se transforma através do tempo, se adaptando e se reestrutu·
rando, de maneira a continuar funcionando. Uma família, que tem estado funcio-
nando eficazmente, pode, não obstante, responder a estresses de desenvolvimento,
aderindo inadequadamente a esquemas estruturais prévios.
Segunda, a família tem uma estrutura, que pode ser observada somente em
movimento. São preferidos certos padrões, que são suficientes em resposta às exi-
gências costumeiras. Mas a força de um sistema depende de sua capacidade de mo·
bilizar padrões transacionais alternativos, quando condições internas ou externas da
família exigem a sua reestruturação. As fronteiras dos subsistemas devem ser firmes,
ainda que suficientemente flexíveis para permitir a redisposição, quando as circuns·
tâncias mudam.
Finalmente, uma família se adapta ao estresse de uma maneira que mantenha
a continuidade familiar, embora tornando possível a reestruturação. Se uma famí·
lia responde ao estresse com rigidez, ocorrem padrões disfuncionais. Estes podem
eventualmente levar a família à terapia.
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SALVADOR MINUCHIN
Da Universidade da Pennsylvania
FAMÍLIAS
FUNCIONAMENTO
& TRATAMENTO
Tradução:
JUREMA ALCIDES CUNHA, M.A., L.D.
Psicóloga Clínica
Professora dos Cursos de Pós-Graduação
em Psicologia da PUC/ RS
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ARTES MÉDICAS PORTO ALEGRE I 1982