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Edição
2021

DICIONÁRIO
DA DOR

Os principais termos baseados


em evidências científicas que
todo o profissional da saúde
precisa compreender para o
manejo adequado da dor.

Leonardo Avila
Entenda a Dor
@dorecoluna
DICIONÁRIO DA DOR

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Olá, seja bem-vindo(a)


Antes de iniciar a leitura do dicionário da dor, levanto uma dúvida.

Como pesquisar e abordar uma condição, nesse caso a dor, na


ausência de entendimento mínimo necessário acerca dos seus
conceitos atuais mais básicos?

Sendo assim, visando minimizar o desconhecimento acerca de


conceitos básicos, na segunda edição do dicionário da dor
objetivo trazer os principais termos baseados em evidências
científicas do vasto campo da dor que todo o profissional da
saúde precisa compreender para o manejo adequado dessa
condição.

Desfrute o conteúdo,

Msc. Pt. Leonardo Avila


Doutorando em Neurociências
@dorecoluna
DICIONÁRIO DA DOR

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A MAIOR PARTE DOS PROFISSIONAIS DA


SAÚDE TEM POUCA DISPOSIÇÃO EM ACEITAR
E ENTENDER A MODERNA NEUROCIÊNCIA DA
DOR PORQUE SUA LINGUAGEM, QUE
TRANSCENDE O RACIOCÍNIO CARTESIANO, É
DE ÁRDUA COMPREENSÃO HAJA VISTA SUA
FORMAÇÃO. APESAR DISSO, SEU
ENTENDIMENTO É IMPRESCINDÍVEL.
Dor: Uma experiência sensitiva e emocional desagradável,
associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual
real ou potencial."

Nota(s): a) A dor sempre é uma experiência pessoal que é influenciada, em graus variáveis, por fatores
biológicos, psicológicos e sociais; b) Dor e nocicepção são fenômenos diferentes. A dor não pode ser
determinada exclusivamente pela atividade dos neurônios sensitivos; c) Através das suas experiências
de vida, as pessoas aprendem o conceito de dor; d) O relato de uma pessoa sobre uma experiência
de dor deve ser respeitado; e) Embora a dor geralmente cumpra um papel adaptativo, ela pode ter
efeitos adversos na função e no bem-estar social e psicológico; f) A descrição verbal é apenas um dos
vários comportamentos para expressar a dor; a incapacidade de comunicação não invalida a
possibilidade de um ser humano ou um animal sentir dor.
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É FUNDAMENTAL
RECONHECER A DOR
COMO UM PRODUTO
(OUTPUT) DO SNC.
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Dor crônica: Dor crônica é aquela que dura ou se repete por mais
de 3 meses (há 3 subcategorias temporais).

Dor crônica primária: É definida como dor em uma ou mais


regiões anatômicas que persiste ou se repete por mais de três
meses e está associada a sofrimento emocional significativo ou
incapacidade funcional e que não pode ser melhor explicada por
outra condição de dor crônica (existe 1 subcategoria de dor
crônica primária).

Dor crônica secundária: As síndromes de dor crônica secundária


estão ligadas a outras doenças como causa subjacente, para as
quais a dor pode inicialmente ser considerada um sintoma
(existem 6 subcategorias de dor crônica). Em síntese, há um
evento/condição desencadeador, e mesmo após a cura da
condição prévia, a dor persiste.
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A DOR CRÔNICA É UM
FANTASMA DO NOSSO
TEMPO: UMA CONDIÇÃO
GRAVE, MAL-ENTENDIDA,
MAL DIAGNOSTICADA E
SUBTRATADA.
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Dor neuropática: Dor causada por uma lesão ou doença do sistema


nervoso somatossensorial (periférico ou central). Nota: A dor
neuropática é uma descrição clínica (e não um diagnóstico) que
requer uma lesão demonstrável ou uma doença que satisfaça os
critérios de diagnóstico neurológico estabelecidos. O termo lesão é
comumente usado quando investigações de diagnóstico (por
exemplo, imaginologia, neurofisiologia, biópsias, testes de laboratório)
revelam uma anormalidade ou quando houve trauma óbvio. O termo
doença é comumente usado quando a causa subjacente da lesão é
conhecida (por exemplo, acidente vascular cerebral, vasculite,
diabetes mellitus, anormalidade genética). Somatossensorial refere-se
a informações sobre o corpo em si, incluindo órgãos viscerais, em vez
de informações sobre o mundo externo (por exemplo, visão, audição
ou olfação). A presença de sintomas ou sinais (por exemplo, dor
evocada pelo toque) por si só não justifica o uso do termo
neuropático. Algumas entidades patológicas, como neuralgia do
trigêmeo, são atualmente definidas por sua apresentação clínica e não
por testes diagnósticos objetivos. Outros diagnósticos, como
neuralgia pós-herpética, são normalmente baseados na história. É
comum ao investigar a dor neuropática que o teste diagnóstico possa
produzir dados inconclusivos ou mesmo inconsistentes. Nesses casos,
é necessário julgamento clínico para reduzir a totalidade dos achados
em um paciente em um diagnóstico putativo ou em um grupo
conciso de diagnósticos.
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Dor nociceptiva: Dor que surge de dano real ou potencial ao tecido


não-neural e é devida à ativação de nociceptores. Nota: Este termo foi
criado para contrastar com a dor neuropática. O termo é usado para
descrever a dor que ocorre com um sistema nervoso somatossensorial
que funciona normalmente para contrastar com a função anormal
observada na dor neuropática.

Dor nociplástica: Dor que surge da nocicepção alterada, apesar de


não haver evidência clara de dano tecidual real ou potencial,
causando a ativação de nociceptores periféricos ou evidência de
doença ou lesão do sistema somatossensorial que causa a dor. Nota:
Os pacientes podem ter uma combinação de dor nociceptiva e
nociplástica

Dor mista: Uma sobreposição complexa dos diferentes mecanismos


neurofisiológicos conhecidos de dor (nociceptiva, neuropática e
nociplástica) em qualquer combinação, agindo simultaneamente e/ou
concomitante para causar dor na mesma área do corpo. Qualquer um
dos mecanismos pode ser mais predominante clinicamente em
qualquer ponto do tempo. A dor mista pode ser aguda ou crônica.
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Dor neurogênica: dor iniciada ou causada por uma lesão primária,


disfunção ou perturbação transitória no sistema nervoso periférico ou
central

Dor referida: Dor espontânea fora da área da lesão.

Dor irradiada: Dor ao longo de um trajeto dermatomal específico.

Primeira dor: A primeira dor (“forte”) é transmitida pelas fibras Aδ,


que levam informações de nociceptores térmicos ou mecânicos
“alterados" ao sistema nervoso central (SNC) após um estímulo
nocivo. É mediada pelo glutamato, um neurotransmissor excitatório
abundante no SNC.

Segunda dor: Dor prolongada, às vezes, ardente (“lenta/surda”) é


transmitida pelas fibras C, que transmitem sinais de nociceptores
polimodais ao sistema nervoso central (SNC) após um estímulo
nocivo. É mediada pela substância P e o peptídeo relacionado ao
gene da calcitonina. Ambos, liberados como cotransmissores
excitatórios por muitos nociceptores com axônios amielínicos.
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É IMPRESCINDÍVEL
DOMINAR A LÍNGUA
(TERMOS) DA DOR PARA
MELHOR ENTENDER,
INVESTIGAR E TRATAR
ESSE SINAL.
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Aferente: Adjetivo que qualifica um elemento que chega a um ponto


de referência qualquer do sistema nervoso.

Alodinia: Dor devido a um estímulo que normalmente não provoca


dor. Isso é, sensação de dor resultante de um estímulo inicialmente
inócuo. Nota: O estímulo leva a uma resposta inesperadamente
dolorosa. Este é um termo clínico que não implica um mecanismo,
mas sim um fenômeno neurofisiológico. A alodinia pode ser
observada após diferentes tipos de estímulos somatossensitivos
aplicados a muitos tecidos diferentes.
O termo alodinia foi originalmente introduzido para separar
hiperalgesia e hiperestesia, as condições observadas em pacientes
com lesões do sistema nervoso em que o toque, pressão leve ou frio
ou calor moderado evocam dor quando aplicados em pele
aparentemente normal. Allo significa "outro" em grego e é um prefixo
comum para condições médicas que divergem do esperado. Odynia
é derivado da palavra grega "odune" ou "odyne", que é usado em
"pleurodinia" e "coccydynia" e é similar em sentido a raiz da qual
deriva palavras com -algia ou -algesia. A alodinia foi sugerida após
discussões com o professor Paul Potter, do Departamento de História
da Medicina e Ciência da Universidade de Western Ontario. As
palavras "pele normal" foram usadas na definição original, mas
posteriormente foram omitidas para remover qualquer sugestão de
que a alodinia se aplicava apenas à dor referida. Originalmente,
também, o estímulo que provocava dor era descrito como "não
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nocivo". No entanto, um estímulo pode ser nocivo em alguns


momentos e não em outros, por exemplo, com pele intacta e pele
queimada pelo sol, e também, os limites da estimulação nociva
podem ser difíceis de delimitar. Como o Comitê (IASP) visava
fornecer termos para uso clínico, não desejava defini-los por referência
às características físicas específicas da estimulação, por exemplo,
pressão em kilopascais por centímetro quadrado. Além disso, mesmo
na pele intacta, existem poucas evidências, de uma maneira ou de
outra, de que uma forte e dolorosa picada em uma pessoa normal
cause ou não danos aos tecidos. Consequentemente, considerou-se
preferível definir alodinia em termos de resposta a estímulos clínicos e
apontar que a resposta normal ao estímulo quase sempre podia ser
testada em outras partes do corpo, geralmente em uma parte
correspondente. Além disso, considera-se que a alodinia se aplica a
condições que podem dar origem a sensibilização da pele, por
exemplo, queimaduras solares, inflamação ou trauma. É importante
reconhecer que a alodinia envolve uma mudança na qualidade de
uma sensação, seja tátil, térmica ou de qualquer outro tipo. A
modalidade original é normalmente inútil, mas a resposta é dolorosa.
Existe, portanto, uma perda de especificidade de uma modalidade
sensorial. Por outro lado, a hiperalgesia representa uma resposta
aumentada em um modo específico, a saber, dor. Em outras
modalidades cutâneas, hiperestesia é o termo que corresponde à
hiperalgesia e, assim como na hiperalgesia, a qualidade não é alterada.
Na alodinia, o modo de estímulo e o modo de resposta diferem,
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diferentemente da situação com hiperalgesia. Essa distinção não deve


ser confundida pelo fato de que alodinia e hiperalgesia podem ser
plotadas com sobreposição ao longo do mesmo continuum de
intensidade física em determinadas circunstâncias, por exemplo, com
pressão ou temperatura.

Analgesia: Ausência de dor em resposta à estimulação que


normalmente seria dolorosa. Nota: Como na alodinia, o estímulo é
definido por seus efeitos subjetivos usuais.

Anestesia dolorosa: Dor em uma área ou região que é anestésica.

Anti-nociceptivo: Espectro clínico onde os circuitos endógenos de


modulação da dor possuem a capacidade de reduzir a magnitude
percebida dos estímulos nocivos aferentes.

Autonômico: Relativo ao sistema nervoso autônomo, parte do


sistema nervoso que se encarrega das funções vegetativas,
controlando a atividade de vísceras, vasos sanguíneos e glândulas.

Causalgia: Síndrome de dor em queimação sustentada, alodinia e


hiperpatia após uma lesão nervosa traumática, geralmente combinada
com disfunção vasomotora e sudomotora e alterações tróficas
posteriores.
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Comportamento da dor: Padrão de ações audíveis ou observáveis,


ou seja, postura, face, verbalizações e outras expressões (por exemplo,
pode ser adaptativo ou mal adaptativo).

Disestesia: Sensação anormal desagradável, espontânea ou evocada.


Nota: Compare com dor e parestesia. Casos especiais de disestesia
incluem hiperalgesia e alodinia. Uma disestesia deve sempre ser
desagradável e uma parestesia não deve ser desagradável, embora se
reconheça que o limite pode apresentar algumas dificuldades quando
se trata de decidir se uma sensação é agradável ou desagradável.
Sempre deve ser especificado se as sensações são espontâneas ou
evocadas.

Eferente: Adjetivo que qualifica um elemento que sai de um ponto


de referência qualquer do sistema nervoso.

Estímulo nocivo: Um estímulo que danifica ou gera ameaça de dano


aos tecidos normais.

Estímulo nociceptivo: Um evento real ou potencialmente prejudicial


aos tecidos, transduzido e codificado por nociceptores.

Generalização: A codificação imprecisa do evento multissensorial


leva à generalização de forma que a resposta condicionante (dor)
também é acionada por eventos que compartilham algumas
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características com o evento multissensorial de condicionamento.


Algum grau de generalização é biologicamente vantajoso, mas a
generalização excessiva se manifestará em uma ampla gama de
eventos desencadeadores, alodínia e hiperalgesia, como é observado
em grande parte dos estados de dor crônica. Ou seja, a generalização
excessiva faz com que a dor seja evocada por eventos que não são de
fato perigosos, e o organismo torna-se "superprotegido".

Habituação: Redução em uma resposta quando um estímulo é


apresentado repetidamente. Nota: Habituação é antagônico a
sensibilização nos níveis moleculares e comportamentais.

Hiperalgesia: Aumento da dor resultante de um estímulo que


normalmente provoca dor, por outra forma, resposta exacerbada de
um estímulo que geralmente justifica a dor. Nota: A hiperalgesia reflete
aumento da dor na estimulação do supra-limiar. Este é um termo
clínico que não implica um mecanismo. Para a dor evocada por
estímulos que geralmente não são dolorosos, o termo alodinia é
preferido, enquanto a hiperalgesia é mais apropriadamente usada para
casos com uma resposta aumentada em um limiar normal ou em um
limiar aumentado, por exemplo, em pacientes com neuropatia.
Também deve-se reconhecer que, com alodinia, o estímulo e a
resposta estão em modos diferentes, enquanto com hiperalgesia
estão no mesmo modo. As evidências atuais sugerem que a
hiperalgesia é uma consequência da perturbação do sistema
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nociceptivo com sensibilização periférica ou central, ou ambas, mas é


importante distinguir entre os fenômenos clínicos, enfatizados por esta
definição, e a interpretação, que pode mudar conforme o
conhecimento avança. A hiperalgesia pode ser observada após
diferentes tipos de estimulação somatossensorial aplicados a
diferentes tecidos.

Hiperestesia: Maior sensibilidade à estimulação, excluindo os


sentidos especiais. Nota: O estímulo e o locus devem ser
especificados. A hiperestesia pode se referir a vários modos de
sensibilidade cutânea, incluindo toque e sensação térmica sem dor,
bem como dor. A palavra é usada para indicar um limiar diminuído
para qualquer estímulo e uma resposta aumentada a estímulos
normalmente reconhecidos. Alodinia é sugerida para dor após
estimulação que normalmente não é dolorosa. A hiperestesia inclui
alodinia e hiperalgesia, mas os termos mais específicos devem ser
usados onde quer que sejam aplicáveis.

Hiperpatia: Síndrome dolorosa caracterizada por uma reação


anormalmente dolorosa a um estímulo, especialmente um estímulo
repetitivo, além de um limiar aumentado. Nota: Pode ocorrer com
alodinia, hiperestesia, hiperalgesia ou disestesia. Identificação e
localização incorretas do estímulo, atraso, sensação de irradiação e
pós-sensibilização podem estar presentes, e a dor geralmente é de
caráter explosivo.
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Hipoalgesia: Dor diminuída em resposta a um estímulo normalmente


doloroso. Nota: A hipoalgesia foi anteriormente definida como
sensibilidade reduzida à estimulação nociva, tornando-se um caso
particular de hipoestesia. No entanto, agora se refere apenas à
ocorrência de relativamente menos dor em resposta à estimulação
que produz dor. A hipoestesia cobre o caso de sensibilidade reduzida
à estimulação que normalmente é dolorosa. As implicações de
algumas das definições acima podem ser resumidas por
conveniência, a seguir: O estímulo limiar da alodinia e o modo de
resposta diferem; Hiperalgesia aumento do estímulo de resposta e
modo de resposta são os mesmos; Limiar aumentado da hiperpatia: o
aumento do estímulo de resposta e o modo de resposta podem ser
iguais ou diferentes; Limiar elevado de hipoalgesia: estímulo de
resposta reduzido e modo de resposta são os mesmos; O essencial
das definições acima não precisa ser simétrico e não é simétrico no
momento. Limiar reduzido pode ocorrer com alodinia, mas não é
necessário. Além disso, não há categoria para limiar e resposta
reduzidos - se isso ocorrer.

Hipoestesia: Diminuição da sensibilidade à estimulação, excluindo os


sentidos especiais. Nota: Estimulação e locus a serem especificados.

Interneurônio: Neurônio de circuito local, com axônio curto, que


estabelece conexão dentro de uma mesma região ou núcleo, ou entre
regiões ou núcleos vizinhos. Alguns são inibitórios, outros são
excitatórios.
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Limiar: Potencial de membrana a partir do qual uma despolarização


provoca a deflagração de um potencial de ação. É mais baixo na zona
de disparo do axônio, o que torna mais fácil e frequente a ocorrência
de potenciais de ação nessa região.

Limiar de dor: A intensidade mínima de um estímulo que é


percebido como doloroso. Nota: Tradicionalmente, o limiar costuma
ser definido, como o definimos anteriormente, ou seja, como a menor
intensidade de estímulo na qual um sujeito percebe a dor.
Devidamente definido, o limiar é realmente a experiência do
paciente, enquanto a intensidade medida a um evento externo. Tem
sido um uso comum para a maioria dos pesquisadores de dor definir o
limiar em termos de estímulo, e isso deve ser evitado. No entanto, o
estímulo limiar pode ser reconhecido como tal e medido. Na
psicofísica, limiares são definidos como o nível em que 50% dos
estímulos são reconhecidos. Nesse caso, o limiar da dor seria o nível
em que 50% dos estímulos seriam reconhecidos como dolorosos. O
estímulo não é dor e não pode ser uma medida de dor.

Limiar de dor a pressão: A intensidade mínima que um estímulo


mecânico (pressórico) é percebido como doloroso.

Mecanismo: Os processos físicos ou químicos fundamentais


envolvidos ou responsáveis por uma 1) ação, 2) reação ou outro 3)
fenômeno natural.
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Mecanismo neurofisiológico da dor: Termo que concebe fatores


que podem contribuir para o 1) desenvolvimento, 2) manutenção ou
3) intensificação da dor.

Modulação condicionada da dor (repouso e ativa): Os circuitos


endógenos de modulação da dor possuem a capacidade de
aumentar ou reduzir a magnitude percebida dos estímulos nocivos
aferentes. No cenário experimental, a analgesia endógena é
predominantemente investigada usando o paradigma psicofísico da
modulação condicionada da dor (do inglês conditioned pain
modulation), que é caracteristicamente testada usando uma variedade
de modelos onde busca-se (1) “inibir a dor através da dor” (teste em
repouso) ou (2) através do exercício (teste ativo), via um estímulo
nocivo chamado de estímulo condicionador, modulando outro, o
estímulo de teste.
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DENTRE OS
MECANISMOS
CENTRAIS DE
MODULAÇÃO DA DOR,
OS INIBITÓRIOS SÃO
DENOMINADOS
COLETIVAMENTE
COMO ANALGESIA
ENDÓGENA.
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Neuralgia: Dor na distribuição de um nervo ou nervos. O uso comum,


especialmente na Europa, geralmente implica uma qualidade
paroxística, mas a nevralgia não deve ser reservada para dores
paroxísticas.

Neurite: Inflamação de um nervo ou nervos. Nota: Não deve ser


usado, a menos que se pense que há inflamação.

Neuropatia: Um distúrbio de função ou alteração patológica em um


nervo: em um nervo, mononeuropatia; em vários nervos,
mononeuropatia múltipla; se difusa e bilateral, polineuropatia. Nota: A
neurite é um caso especial de neuropatia e agora está reservada para
processos inflamatórios que afetam os nervos.

Neurotransmissor: Substância de baixo peso molecular sintetizada


pelo neurônio, armazenada em vesículas e liberada para o espaço
extracelular com a função de transmitir informações entre um neurônio
e outra célula.

Nocicepção: Processo neural de codificação de estímulos nocivos.


Nota: As consequências da codificação podem ser autonômicas (por
exemplo, pressão arterial elevada) ou comportamentais (reflexo de
retirada motor ou comportamento nocifensivo mais complexo). A
sensação de dor não está necessariamente implícita.
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Nocicepção (4 fases): Transdução é o processo de converter


estímulos em potenciais de ação neuronal no receptor sensorial.
Transmissão refere-se à propagação de potenciais de ação ao longo
dos neurônios do receptor periférico para a medula espinal e, em
seguida, centralmente para o cérebro. A percepção ocorre
contemporaneamente à integração do sinal no nível cortical do
cérebro. Esse processo envolve várias regiões corticais, denominadas
matriz da dor, que influenciam todos os componentes da sensação de
dor. O complexo mecanismo pelo qual a transmissão sináptica de
sinais dolorosos é modificada é chamado de modulação.

Neurônio nociceptivo: Neurônio central ou periférico do sistema


nervoso somatossensorial, capaz de codificar estímulos nocivos.

Nociceptor: Receptor sensitivo de alto limiar do sistema nervoso


somatossensorial periférico capaz de transduzir e codificar estímulos
nocivos.

Nível de tolerância à dor: A intensidade máxima de um estímulo que


produz dor que um sujeito está disposto a aceitar em uma
determinada situação. Nota: Assim como no limiar da dor, o nível de
tolerância à dor é a experiência subjetiva do indivíduo. Os estímulos
que normalmente são medidos em relação à sua produção são os
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estímulos do nível de tolerância à dor e não o nível em si. Assim, o


mesmo argumento se aplica ao nível de tolerância à dor e ao limiar da
dor, e não é definido em termos da estimulação externa como tal.

DOR E NOCICEPÇÃO
NÃO SÃO SINÔNIMOS
Há dor sem nocicepção, assim como há nocicepção
sem DOR. Ao perceber a nocicepção pode-se obter dor
como resposta.

Nocicepção sem dor existe na ausência da percepção


de ameaça nociceptiva.

Nocicepção não é o suficiente e nem necessária para


uma experiência em dor.
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Parestesia: Sensação anormal, espontânea ou evocada. Nota:


Compare com disestesia. Após muita discussão, concordou-se em
recomendar que a parestesia seja usada para descrever uma sensação
anormal que não é desagradável, enquanto a disestesia seja usada
preferencialmente para uma sensação anormal que é considerada
desagradável. O uso de um termo (parestesia) para indicar sensações
espontâneas e outro para se referir a sensações evocadas não são
favorecidos. Há um sentido em que, como parestesia se refere a
sensações anormais em geral, pode incluir disestesia, mas o contrário
não é verdadeiro. A disestesia não inclui todas as sensações anormais,
mas apenas aquelas que são desagradáveis.

Pró-nociceptivo: Espectro clínico onde os circuitos endógenos de


modulação da dor encontram-se disfuncionais sendo incapazes de
reduzir a magnitude percebida dos estímulos nocivos aferentes;

Sensibilização: Maior capacidade de resposta dos neurônios


nociceptivos à sua entrada normal e/ou recrutamento de uma resposta
a entradas normalmente abaixo do limiar. Também pode ser
entendida como uma resposta acentuada a uma ampla variedade de
estímulos após a apresentação de um estímulo intenso ou nocivo.
Nota: A sensibilização pode incluir uma queda no limiar e um aumento
na resposta do supra-limiar. Descargas espontâneas e aumentos no
tamanho do campo receptivo também podem ocorrer. Este é um
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termo neurofisiológico que só pode ser aplicado quando a entrada e a


saída do sistema neural em estudo são conhecidas, por exemplo,
controlando o estímulo e medindo o evento neural. Clinicamente, a
sensibilização só pode ser inferida indiretamente a partir de
fenômenos como hiperalgesia ou alodinia.

Sensibilização central: 1. Amplificação da sinalização neural dentro


do Sistema Nervoso Central (SNC) que provoca hipersensibilidade à
dor, é um fenômeno real ou não, e pode avaliar sua contribuição
relativa para os distúrbios da dor inflamatória, neuropática e
nociplástica disfuncional em pacientes. 2. Maior responsividade
(sensibilidade e/ou atividade) dos neurônios (áreas do SNC)
nociceptivos no sistema nervoso central ao seu input normal ou
reduzido. Nota: Veja nota para sensibilização e neurônio nociceptivo.
Isso pode incluir maior responsividade devido à disfunção dos
sistemas endógenos de controle da dor. Neurônios periféricos estão
funcionando normalmente; mudanças na função ocorrem apenas nos
neurônios centrais.

Sensibilização periférica: Maior capacidade de resposta e limiar


reduzido de neurônios nociceptivos na periferia à estimulação de seus
campos receptivos. Nota: Veja a nota para sensibilização.
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SENSIBILIZAÇÃO DO
SISTEMA NERVOSO À
DOR, INVISÍVEL, MAS
POSSIVELMENTE
DETECTÁVEL.
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Somação temporal: Fenômeno sináptico que aumenta a amplitude


de um potencial pós-sináptico quando dois impulsos de baixa fre-
quência (ou mais) chegam de forma sequencial na mesma sinapse.

Tratamento interdisciplinar: Tratamento multidimensional forneci-


do por uma equipe multidisciplinar que colabora na avaliação e trata-
mento usando um modelo e objetivos biopsicossociais compartilha-
dos. Por exemplo: a prescrição de um antidepressivo por um médico,
juntamente com o tratamento físico de um fisioterapeuta, e o trata-
mento cognitivo-comportamental de um psicólogo, todos trabalhan-
do em estreita colaboração com reuniões regulares da equipe (pres-
enciais ou online), acordo sobre diagnóstico, objetivos terapêuticos e
planos de tratamento e revisão.

Tratamento multidimensional: O uso simultâneo de intervenções


terapêuticas separadas, com diferentes mecanismos de ação dentro
de uma disciplina, visando diferentes mecanismos da dor. Por exemp-
lo: o uso de pregabalina e opióides para controle da dor por um
médico; o uso de AINEs e órteses para o controle da dor por um
médico; a prescrição de movimento por um fisioterapeuta para o con-
trole da dor, o uso de terapia manual para o controle da dor por um
fisioterapeuta; o emprego da terapia cógnita-funcional por um psicólo-
go para controle da dor, etc.
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Tratamento unimodal: Intervenção terapêutica única direcionada a


um mecanismo específico da dor ou diagnóstico da dor. Por exemplo:
a prescrição de movimento por um fisioterapeuta para o controle da
dor, a prescrição de uma droga para o controle da dor por um médico,
etc.

Diagnósticos baseados em processos


teciduais locais não são mais úteis
quando a dor está relacionada ao
controle disfuncional do sistema
nervoso.

É imprescindível estabelecer um idioma


comum para o melhor entendimento,
investigação e tratamento da dor.
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Referências bibliográficas:
https://www.iasp-pain.org/terminology?navItemNumber=576
Central Sensitization in Musculoskeletal Pain: Lost in Translation? JOSPT. 2020.
Freynhagem R. et. al. Current understanding of the mixed pain concept: a brief
narrative review. Curr Med Res Opin. 2018.
Kandel E. R, Schawartz J. H, Jessell T. M. Principles of Neural Science. 2012. 5
edição. 2014.
Kosek E, Cohen M, Baron R, et al. Do we need a third mechanistic descriptor for
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Lent. R. Cem Bilhões de Neurônios: Conceitos fundamentais de Neurociência. 2
edição. 2010.
The revised International Association for the Study of Pain definition of pain:
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Treede R.D. et. al. Chronic pain as symptom or a disease: the IASP Classification of
Chronic Pain for the International Classification of Diseases (ICD-11). PAIN. 2019.
Systematic Review and Synthesis of Mechanism-based Classification Systems for
Pain Experienced in the Musculoskeletal System. Clinical Journal of Pain. 2020.

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2021

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