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Centro de Ciências Sociais Aplicadas

Disciplina: Ética e Filosofia para o Administrador - Turma 1N


Docente: Lilian Soares Outtes Wanderley
Discente: Daniel Filipe Pereira Canudo
Resumo do Capítulo 2 - Pedagogia da Autonomia

No segundo capítulo, Freire leva suas reflexões para o fato que o ensinar
não é uma transmissão, pura e simplesmente, de conhecimento do professor
para os estudantes. Nesse sentido, é apontada a necessidade de que os
professores, e mesmo os estudantes, percebam e se apropriem de uma prática
voltada para as possibilidades de construção e produção do conhecimento e
não de sua transferência como ainda vem acontecendo em grande parte das
escolas no Brasil. Freire coloca que o discurso em prol de uma pedagogia
progressista, como o seu próprio, deve ser não somente aliado, mas também
imerso em sua própria prática cotidiana dentro e fora da sala de aula, enquanto
educador e enquanto ser humano.
A postura a qual se refere o autor, no entanto, muitas vezes é exigente e
difícil de manter por requerer que mantenhamos uma constante vigilância e
percepção crítica sobre nossos atos e falas para que não voltemos a uma
postura, enquanto professor, de superioridade e menosprezo perante nossos
alunos. Essa postura reflexiva de nós mesmos, de humildade e de superação
exige uma “rigorosidade metódica”, como indica o autor, sem a qual não há o
“pensar certo”, que nesse sentido se refere a compreensão que ensinar não é a
transferência unilateral de conhecimento daquele que o possui (a figura do
professor) para aqueles que o recebem passiva e acriticamente (os alunos).
Assim, em um primeiro momento, Freire nos diz que “Ensinar exige
consciência do inacabamento”. Esse inacabamento que é inerente à própria
vida e do qual o ser humano toma consciência ao se dar conta de si próprio, de
sua “existência”, assim se diferenciando do animal. O ser humano, homens e
mulheres, se tornaram capazes de intervir no mundo, capazes de atos bons e
ruins, sendo possuidores do direito de escolher, de decidir, de mudar, de
transformar, de lutar. É nesse sentido que o autor defende o entendimento do
ser enquanto possibilidade e não como ser destinado a um futuro
predeterminado. Freire nesse ponto advoga de forma esperançosa a
capacidade do ser humano de transformar, de mudar, de problematizar e de
construir seu próprio caminho pelo mundo. É essa esperança no possível, e
não nos determinismos, que deve circundar a prática docente.
Na segunda parte do capítulo, o autor nos indica que “Ensinar exige o
reconhecimento de ser condicionado”. Para Freire, é a partir da consciência do
ser enquanto inacabado que se torna possível também a consciência de ser
condicionado pelas forças sociais, econômicas, sociais, políticas, culturais ou
ideológicas, que influenciam e condicionam o ser humano. No entanto,
segundo o autor, é somente a partir do conhecimento desse estado de
condicionamento que é possível ir além dele e superar as barreiras que, muitas
vezes, essas forças/condições nos impõem. É ainda a consciência do ser
enquanto inacabado que coloca o ser humano no movimento permanente de
busca das razões de ser, colocando em prática o que o autor chama de
“curiosidade epistemológica”, a curiosidade se torna assim a base da produção
do conhecimento. Nesse sentido, a curiosidade, a educação, a educabilidade
do ser e a prática docente aparecem como resposta à necessidade humana
por conhecimento diante de sua própria inconclusão.
Um terceiro saber é o de que “Ensinar exige respeito à autonomia do ser
do educando”, nesse sentido, o educador deve se manter atento em relação a
preservar o respeito em relação aos educandos, respeitando a “[...] curiosidade
do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais
precisamente, sua sintaxe e sua prosódia” (Freire, 1996, p. 59-60). Que dessa
forma é necessário que coexista a eticidade, o respeito à autonomia e à
identidade do educando e a aprendizagem mútua com as diferenças, sejam
elas quais forem, dentro das salas de aula.
Na quarta parte do capítulo, Freire nos conduz a compreender que
“Ensinar exige bom senso”. Diversas são as situações no cotidiano escolar que
esbarram e exigem do educador a prática do bom senso. De acordo com o
autor, o exercício do bom senso se faz a partir da curiosidade, portanto, a partir
do momento que questionamos, duvidamos, comparamos e procuramos nos
certificar, nos tornamos também mais críticos quanto à avaliação das situações
que nos envolvemos. A prática do bom senso se dá, por exemplo, através da
prática da autoridade do educador, sem recair no autoritarismo ou na
licenciosidade, cumprindo seu papel de orientar atividades, tomar decisões e
cobrar a produção individual ou coletiva dos educandos respeitando a
autonomia, a dignidade e a identidade que estes carregam. Essa prática exige
uma reflexão crítica permanente da atuação do educador para com os
educandos, que leve em consideração nessa avaliação os próprios educandos,
e que mantenha a coerência entre aquilo que se discursa e a prática em si.
Em sua quinta parte, o autor nos leva à reflexão de que “Ensinar exige
humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores”. A
humildade a qual se refere Freire nesse momento é a de reconhecer a
importância da ignorância, portanto do não saber, na busca pelo conhecimento.
Essa humildade não se resume em reconhecer o estado a ser superado do
“não saber” do educando, mas também o reconhecer o próprio
desconhecimento do educador em relação a algum assunto, por exemplo. A
tolerância necessária ao ensinar se reflete no respeito com o diferente, na
amorosidade com os seus educandos e no comprometimento do educador com
sua prática docente. A defesa dos direitos e da dignidade dos educadores é
outro aspecto importante para a prática docente; é necessário que se lute
contra a postura fatalista e indiferente que acomoda os educadores em
simplesmente aceitar o desmantelamento da educação e entender a prática do
educador como uma prática profissional, para além de uma prática puramente
afetiva, que deve ser encarada, organizada para a luta por direitos e respeitada
como tal.
No sexto momento do capítulo, Freire nos aponta que “Ensinar exige
apreensão da realidade”. Nessa parte, o autor se dedica à importância do
educador compreender os diversos aspectos que circundam a prática docente.
É necessário que o educador entenda que a capacidade de aprender nos
permite não apenas nos adaptar, mas sim transformar a realidade, nela intervir
e mudar. Aprender se relaciona, nesse sentido, com a habilidade de apreender
a substantividade de um objeto ou conteúdo. Não é memorizar ou repetir, mas
pelo contrário, construir um conhecimento sobre tal objeto ou conteúdo que lhe
permita utilizá-lo como base para novos conhecimentos, construir a partir dele,
ir além para além dele. Apreender a realidade é ainda compreender que a
prática educativa é política, e que portanto não pode ser neutra, e que não há
problema que não seja. É preciso que se mantenha o princípio ético do respeito
com aqueles que concordam ou discordam de tal posicionamento político do
educador, sem omiti-lo, possibilitando ao educando o direito de tomar suas
próprias conclusões, comparar, escolher e decidir por si mesmo sua posição
quanto ao assunto.
O sétimo saber apresentado por Freire neste capítulo é que “Ensinar
exige alegria e esperança”. Para o autor, a prática educativa pede ao educador
alegria perante sua atuação ou mesmo enquanto manutenção do clima e
atmosfera do espaço pedagógico. A alegria e a esperança se relacionam na
atividade educativa, seja nas trocas do ensino-aprendizagem ou na produção e
construção mútua do conhecimento. A esperança em si faz parte da natureza
daquilo que é humano e é através dela à priori que se torna possível superar
pensar a realidade e o futuro através de determinismos. Segundo o próprio
autor, “[...] a realidade, porém, não é inexoravelmente esta. Está sendo esta
como poderia ser outra e é para que seja outra que precisamos, os
progressistas lutar” (Freire, 1996, p. 75), é portanto possível falar em opções,
decisões, de liberdade, de ética, de possibilidade, de direito de “ser mais” e por
conta disso há esperança e devemos lutar, enquanto educadores e humanos,
contra o fatalismo fácil e o determinismo desesperançoso.
Na oitava parte do capítulo, o autor reafirma que “Ensinar exige a
convicção de que a mudança é possível”. Freire aborda nesse momento algo
que já vem sendo delineado durante todo o capítulo que é a importância de se
entender o futuro (ou a história) como um problema, uma possibilidade e não
como um fato já determinado, impossível de ser mudado, restando apenas ser
aceito. Não somos, portanto, simples objetos da história mas sim também
sujeitos desta, atores que podem intervir e mudá-la. Nesse sentido, o papel do
educador, principalmente em sua atuação em localidades mais pobres e
injustiçadas, parte do princípio de entender que “mudar é difícil mas não é
impossível” (Freire, 1996, p. 79) e com essa certeza buscar fazer o que o autor
chama de uma “leitura do mundo”, percebendo o contexto, a linguagem, a
ideologia, os saberes ali presentes e considerando esses fatores, adaptar a sua
prática educativa para os educandos, sejam crianças ou adultos, fazendo-os
compreender que sua realidade social não é fruto de incompetência, mas sim
de fatores sociais, econômicos e políticos que atuam para tal e que há a
possibilidade de ir além do imposto pela realidade, que nada é irrevogável.
Por último neste capítulo, em sua nona parte, Freire nos aponta que
“Ensinar exige curiosidade”. Nesse sentido, é preciso que uma prática
educadora para ser considerada como tal que esta estimule a curiosidade do
educando e por consequência do educador. A construção do conhecimento
está estreitamente relacionada com o exercício da curiosidade, sem ela só se
torna possível alcançar a memorização, a repetição. É a partir da prática da
curiosidade em um ambiente aberto a ouvi-la, que a estimule, compartilhe, a
faça refletir e dialogue com ela é que se torna possível aguçar a curiosidade
espontânea para fazê-la mais crítica, tornando-a uma curiosidade cada vez
mais epistemológica. Outro ponto abordado por Freire é a relação
autoridade-liberdade, sempre tensa, e que suas rupturas geram por um lado ou
o autoritarismo ou a licenciosidade, ambas que acabam negando a vocação do
ser humano para o “ser a mais”, de ter curiosidade, ir além do que está posto.

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