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A CRISE FINANCEIRA DE 2008 E

AS LIÇÕES PARA O MOMENTO


ATUAL
Pedro Rossi
Instituto de Economia / Unicamp

Agosto de 2020
Objetivo da Aula
• A crise de 2008 foi a maior desde 1929, trouxe uma série de
tendências no plano internacional que devem ser
reforçadas/aceleradas pela pandemia
• A resposta de política econômica dos países centrais também
ensinam caminhos a seguir e caminhos a não seguir.
• Essa aula pretende revisitar as causas da crise de 2008,
avaliar o seus impactos e as lições para o momento atual.
• Roteiro
1. Introdução
2. Prelúdio: a bolha imobiliaria e a crise do subprime
3. A falência do Lehman e a crise econômica global
4. A resposta de política econômica e a “recuperação”
5. Tendências do Sistema Internacional no pós crise
6. Impactos econômicos da pandemia e perspectivas
1.Introdução

Crises como a de 2008 são raras


1.Introdução
Crises financeirias se tornaram frequentes a partir da década de 1980,
mas o mundo já passou por um periodo no qual as crises financeiras
eram raras
2. Prelúdio: a bolha imobiliária e a crise do Subprime

A política monetária e a bolha imobiliaria


Evolução da meta da taxa básica de juros dos EUA
7,0

6,0 Resposta ao estouro


da bolha acionária
5,0

4,0
%
3,0 Resposta ao
estouro da bolha
2,0
imobiliária
1,0

0,0
nov/99

nov/00

nov/01

nov/02

nov/03

nov/04

nov/05

nov/06

nov/07
jul/99

jan/00

jul/00

jan/01

jul/01

jan/02

jul/02

jan/03

jul/03

jan/04

jul/04

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jul/05

jan/06

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jul/07

jan/08

jul/08
set/99

set/00

set/01

set/02

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mar/99
mai/99

mar/00
mai/00

mar/01
mai/01

mar/02
mai/02

mar/03
mai/03

mar/04
mai/04

mar/05
mai/05

mar/06
mai/06

mar/07
mai/07

mar/08
mai/08
Fonte: Fed.

• Após a crise das ações das empresas de tecnologia (2000), os bancos buscaram
outros ativos para negociar. O boom nos preços dos imóveis tornou-se a alternativa
para a geração de novas hipotecas, ampliação do crédito ao consumidor e extração
de home equity por meio de refinanciamento.
2.Prelúdio: a bolha imobiliária e a crise do Subprime
2. Prelúdio: a bolha imobiliária e a crise do Subprime

Fundos de hipotecas e o subprime


• A criação de fundos de hipotecas variadas contribui para diluir o risco e
aumentar a oferta de hipotecas mais arriscadas.
• As hipotecas de alto risco ou subprime são empréstimos imobiliários
concedidos a indivíduos sem histórico de crédito ou c/ histórico de
inadimplência, em geral famílias de baixa renda ou minorias; integram o
segmento não-prime do mercado.
A expansão das
hipotecas subprime foi
possivel gracas a
desregulamentacao
financeira e foi
impulsionadas pelas
inovações financeiras e
pelo processo de
securitizacao.
2. Prelúdio: a bolha imobiliária e a crise do Subprime

Extraído de Torres (2008)


A Grande Aposta
• 1. Mercado imobiliário. Cenas com uma prostituta com 4 casas e
um apartamento, que acreditava que a dívida seria sempre
refinanciada e um corretor de mortgage que vendia para qualquer
um pois sabia que os bancos comprariam as hipotecas. Em
seguida, o filme mostra os sintomas do desaquecimento do
mercado imobiliario: aumento da inadimplencia, excesso de oferta,
casas vazias.
• 2. Fundos de hipotecas. A inovacao foi juntar as hipotecas em
fundos que diluiam o risco de default. Os bancos incentivavam as
hipotecas pois a demanda por fundos era enorme.
• 3. CDO. Fundos reprocessavam os títulos de hipoteca tornando-os
títulos securitizados. CDO sintético: É a aposta sobre quem ganha a
aposta. Apostava-se se o CDO daria ganho. O filme mostra o
representante dos investidores de CDO, e como ele representava,
na verdade, o interesse dos bancos.
• 4. Agencia de riscos. Os títulos continuavam bem avaliados e até
subiam de preço apesar do aumento da inadimplencia. Agenda da
Standard & Poors admite que se eles nao avaliarem bem os bancos,
seriam substituidos pelo concorrente.
• 5. Reguladores X bancos. Menina, prima de um dos protagonistas
do filme, trabalha no governo e regula os bancos e quer ir trabalhar
em um banco. Discussao sobre a porta giratoria e sobre conflito de
interesses .
• 6. CDS. O instrumento é a base da ”grande Aposta”
2. Prelúdio: a bolha imobiliária e a crise do Subprime

Eclosão da crise
• Queda no preço de imóveis à fica mais difícil renegociar
as hipotecas à Inadimplência aumenta (em 2007, 14%
dos tomadores de empréstimos subprime se tornam
inadimplentes) à movimentos de saques em hedge funds
e em fundos imobiliários que começa no Subprime mas
atinge todas as categorias de fundos de CDO e de
hipoteca à aumento do custo de captação dos bancos à
agências de risco rebaixaram a classificação de inúmeros
instrumentos financeiros relacionados às hipotecas de
alto risco à mais resgates dos cotistas.
2. Prelúdio: a bolha imobiliária e a crise do Subprime
1.Prelúdio: a bolha imobiliaria e a crise do Subprime
2. Prelúdio: a bolha imobiliária e a crise do Subprime

Prelúdio: a crise do Subprime


3. A falência do Lehman e a crise econômica global
…2008…o espraiamento da crise
• Integração de diferentes
segmentos do mercado
resultou no espraiamento da
crise que começou no
mercado hipotecário para
diversos segmentos do
mercado financeiro
americano.
• Num cenário de forte
incerteza, os bancos passam
a exercer preferência pela
liquidez, contraindo os
empréstimos no mercado
interbancário e reduzindo a
concessão de crédito
3. A falência do Lehman e a crise econômica global
Canais de transmissão da crise
americana
• Interconexões financeiras / fragilidade
• Crédito / fluxos de capital / redução da liquidez global
• Comércio exterior
• Expectativas
90
80 Aversão ao risco (VIX)
70
60
50
40
30
20
10
0

Apr-06
Jul-06
Oct-06

Jul-07
Oct-07

Apr-08
Jul-08

Apr-09
Jul-09

Apr-10
Jul-10
Apr-07
Jan-06

Jan-07

Jan-08

Oct-08
Jan-09

Oct-09
Jan-10

Oct-10
Variação dos Índices das Principais Bolsas de Valores - Países desenvolvidos e emergentes
0
-10
-20
-30
-40
-50
-60
-70
-80
México
Xangai

Tailândia

Turquia
Nasdaq

S&P 500

Chile

Coreia

Índia

Hungria
Jones

Argentina

Brasil

Colômbia

Bulgária

Romênia

Estônia

Russia
Letônia

Ucrânia

África do
Alemanha

Tókio
França

Londres

Dow

Sul

Países desenvolvidos Países emergentes


Preço do petroleo (US$/Barril)
01/08/2007 a 23/10/08
Fonte: Bloomberg.
3. A falência do Lehman e a crise econômica global
4. A resposta de política econômica e a “recuperação”

Por que não revivemos os anos 30´s?

Figure 1. World industrial Figure 2. Volume of world trade, Figure 3. World equity markets, now vs
production, now vs then now vs then then
4. A resposta de política econômica e a “recuperação”
O aprofundamento da crise: ações dos BCs
§ Na última semana de outubro de 2008, o Fed reduziu novamente a meta da Fed
Fund Rate em 0,5 p.p. e o Japão fez a primeira redução da sua taxa básica em 7
anos, que passou de 0,5% para 0,3%
§ Na primeira semana de novembro, o BCE e o Banco da Inglaterra reduziram suas
respectivas metas em 0,5 p.p. Trajetória de queda das taxas de juros persiste até
maio de 2009

Metas das Taxas de Juros Oficiais (% a.a.)


6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
fev/07

fev/08

fev/09

fev/10
nov/07

nov/08

nov/09
mar/07

mar/08

mar/09

mar/10
abr/07
mai/07

ago/07

abr/08
mai/08

ago/08

abr/09
mai/09

abr/10
mai/10

ago/10
jan/07

jun/07

out/07

dez/07
jan/08

jun/08

dez/08

ago/09
jan/09

jun/09
jul/07

set/07

jul/08

set/08
out/08

jul/09

set/09
out/09

dez/09
jan/10

jun/10
jul/10

set/10
FED ECB Banco da Inglaterra Banco do Japão
Fonte: Bancos Centrais. Elaboração Grupo de Conjuntura - Fundap
4. A resposta de política econômica e a “recuperação”

A resposta de política Economica (%PIB)


4. A resposta de política econômica e a “recuperação”

Quantitative Easing
• Afrouxamento monetário - uma política monetária não convencional.
• Armadilha da liquidez
• QE1 à Entre novembro de 2008 e nov2010, FED compra em torno
de US$ 1,5 tri em Morgage-backed Securities (MBS)
• QE2 à Em nov2010 FED anuncia a compra de títulos de tesouro de
diversas maturidades. O objetivo é tentar reduzir a taxa longa de
juros.
• QE3à FED anuncia um plano de compra mensal de MBS (US$ 40 bi
por mês focado na Fannie Mae and Freddie Mac ) e sinaliza taxas de
juros baixas até 2015. Tambem anuncia que pode vir à comprar
outros ativos, caso o plano nao dê resultado.
• Impactos:
l Bernanke: ↑ crédito na economia americana à ↑ crescimento
l Mantega: ↑Liquidez Global à guerra cambial
l ↑ Aumento da inflação de ativos e bolhas de commodities.
l Impulso para retomada da valorização patrimonial
4. A resposta de política econômica e a “recuperação”
4. A resposta de política econômica e a “recuperação”
Recuperação dos mercados financeiros
com estagnação econômica
5. Tendências do Sistema Internacional no pós crise
O volume de comércio está declinando
com % do PIB
5. Tendências do Sistema Internacional no pós crise
Assim como a taxa de crescimento do
comércio é menor (em volume)
Among Organisation for Economic Co-operation and Development countries,
5. Tendências do
government debtSistema Internacional
now exceeds annual GDP in Japan, Greece, Italy, Portugal, no pós crise
Belgium, France, Spain, and the United Kingdom. Rumblings of potential
sovereign defaults and anti-EU political movements have periodically strained

Nos países centrais, houve desalavacagem privada e


the eurozone. High levels of government debt have set the stage for pitched
battles over spending priorities well into the future.

endividamento público no pós-crise


Exhibit 2

Public debt increased rapidly after the crisis in advanced economies.

Debt by sector in advanced economies1


% of GDP (Index: 100 = 2000) Change in
debt-to-GDP ratio
Percentage points
2000–07 2007–H1 2017
Pre-crisis Post-crisis
160
Public +2 +35
150

140

130

120
Private2 +20 0
110

100
2000 2007 2009 2012 2015 2017
1H

Actual debt- Public 69 105


to-GDP ratio
Private 164 164
%

1 Australia, Austria, Belgium, Canada, Denmark, Finland, France, Germany, Greece, Hong Kong, Ireland, Israel, Italy, Japan, Luxembourg,
Netherlands, New Zealand, Norway, Portugal, Singapore, South Korea, Spain, Sweden, Switzerland, the United Kingdom, and
the United States.
2 Includes household and nonfinancial corporate sector debt.
NOTE: Debt as percent of GDP is indexed to 100 in 2000; numbers here are not actual figures.

SOURCE: BIS; McKinsey Country Debt Database; McKinsey Global Institute analysis
redrawn—and value chains are reconfiguring as companies decide how to compete in

5. Tendências do Sistema Internacional no pós crise


the many major consumer markets that are now dotted worldwide. According to current
projections, emerging markets will consume almost two-thirds of the world’s manufactured
goods by 2025, with products such as cars, building products, and machinery leading the

As economias centrais estão perdendo way.15 By 2030, developing countries are projected to account for more than half of all global
consumption (Exhibit E5). These nations continue to deepen their participation in global
flows of goods, services, finance, people, and data.

importância no consumo global...


Exhibit E5

By 2030, developing countries, led by China and emerging Asia, could account for more than half of
global consumption.

Advanced economies’ share of global consumption Developing economies’ share of global consumption
by region by region

Asia–Pacific Rest of developing world

81 Europe Developing Europe

74 Americas Developing Americas

20 Developing Asia excluding China


11
62 China

10
49 51
30 8
31 8
21 38 7
6
18
5 9
26
4 9
19 10
5
32 31 3
30 3 8
23 7
7
6 16
5 10
2 4
1995 2007 2017 2030
1995 2007 2017 2030
(projected)
(projected)

NOTE: Figures may not sum to 100% because of rounding.

SOURCE: McKinsey Global Growth Model; McKinsey Global Institute analysis


5. Tendências do Sistema Internacional no pós crise
5. Tendências do Sistema Internacional no pós crise

Globalização em recuo?

Globalisation in retreat: capital flows decline since crisis


5. Tendências do Sistema Internacional no pós crise
As expectativas de crescimento não se
concretizaram
5. Impactos econômicos da pandemia e perspectivas

O impacto econômico da pandemia


• Uma pandemia exige a desmobilização de uma parte
importante dos recursos para proteger as pessoas. É um
resfriamento controlado da economia para permitir o
isolamento social do maior número de pessoas possível.
• Esse processo envolve um tipo de organização social sem
precedentes e, assim como em uma guerra convencional, é
necessária a transformação de economias de livre mercado
em economias planejadas, com controle centralizado.
• A pandemia deixará marcas e trará a necessidade de
reconstrução. Famílias e empresas devem sair da crise mais
endividadas e com menos renda, reduzindo a capacidade do
setor privado de alavancar o crescimento. Passada a crise
sanitária, o Estado precisará ter um papel ativo na
retomada, coordenação e indução dos investimentos.
5.Impactos econômicos da pandemia e perspectivas

Lições para o momento atual


• A tendência é acelerar as transformações econômicas que já
vinham ocorrendo no sistema internacional
• As taxas de juros devem continuar baixas com risco de bolhas nos
mercados financeiros e muita volatilidade
• Após a crise de 2008, a resposta preferencialmente por meio de
política monetária se mostrou insuficiente para estimular o
crescimento nos países centrais, a política fiscal deve ganhar
destaque
• Há também pelo menos três lições específicas da pandemia para a
política econômica
• os Estados nacionais devem investir maciçamente em saúde pública para
se preparar para outros eventos desta proporção.
• as estruturas produtivas e tecnológicas nacionais devem ter apoio público para
o desenvolvimento de setores estratégicos, uma vez que o livre comércio
internacional não garante o abastecimento de produtos estratégicos para
situações como a atual.
• E, terceiro, é necessário aprimorar os mecanismos de assistência social e,
para isso, a renda básica universal temporária pode ganhar status de
permanente em muitos países.
Obrigado!

www.pedrorossi.org

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