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Introdução: Questões epistemológicas prévias para a aquisição

dos conceitos centrais da terminologia sociológica.


Ficha extraída do livro: Guiddens, A. (2001/2008), Sociologia, 6a edição (tradução da 4a


edição), Lisboa: FCG, Capítulo 1 – O que é a sociologia?

- O que (não) é a sociologia e o que estuda afinal esta ciência?

1- principais obstáculos à abordagem científica das sociedades e da vida social


humana

a) a questão da proximidade do objecto de estudo. O sociólogo é uma pessoa, um cidadão,


com as suas relações sociais, a sua socialização, os seus valores, as suas orientações, a sua
ideologia, o seu senso-comum. Como sociólogo tem de procurar distanciar-se de tudo isso,
criando distanciamento em relação ao objecto de estudo.
b) a questão do senso-comum, dos discursos de senso comum ou de outros discursos
presentes em qualquer contexto social, o discurso comum, o discurso, politico, ideológico,
jornalístico, etc.; em relação aos quais a análise e o discurso sociológico tem de se
demarcar.
c) a questão da contextualização social e cultural dos acontecimentos, factos sociais,
fenómenos sociais e da necessidade de relativismo cultural, necessário para ultrapassar o
obstáculo do etnocentrismo.
d) a questão do individuo versus sociedade: os problemas pessoais do indivíduo e os
problemas sociais ou fenómenos sociais a estudar pela sociologia. Exemplos: O divórcio; o
suicídio; o desemprego.
- Os estudantes de sociologia são todos indivíduos diferentes e cada um com os seus
problemas pessoais, mas muito provavelmente encontramos características comuns entre
os estudantes de sociologia. A opção por estudar sociologia será uma opção pessoal do
indivíduo, mas reflecte a sua posição na sociedade.
- “todos somos influenciados pelo contexto social em que nos inserimos, mas
nenhum de nós tem o seu comportamento determinado unicamente por esses contextos.
Nós possuímos e criamos a nossa própria individualidade”. A. Giddens

2 - O conceito de imaginação sociológica criado pelo sociólogo norte-americano


C.W. Mills, como poderoso instrumento da sociologia para a ultrapassagem daqueles
obstáculos, visando a ruptura epistemológica com o senso comum.

a) a imaginação sociológica implica sermos capazes de nos abstrairmos da nossa


leitura/visão do mundo, do nosso senso-comum, das nossas rotinas de vida quotidiana para
procurar as causas sociais do que são aparentemente evidências, por vezes até realidades
banais, triviais da vida quotidiana.
b) o exemplo proposto por A. Giddens: o que há a dizer sobre esse acto tão banal como ir
tomar um café, do ponto de vista sociológico?
- valor simbólico (interacção social, sociabilidade, ritual)
- norma/desvio (o que é socialmente aceite/aceitável em função do contexto
cultural e da construção social da realidade? O café é uma droga socialmente aceite
num determinado contexto cultural – álcool, tabaco, marijuana, etc.)
- “um indivíduo que toma um café está envolvido numa complicada rede de relações
sociais e económicas de dimensão internacional” A. Giddens.
- processo histórico de desenvolvimento social e económico (colonização,
escravatura...)
- o café é um produto no centro do debate em torno da globalização
- o hábito de tomar café e as opções disponíveis para o fazer têm implicações ao
nível do consumo e dos estilos de vida de quem tem esse hábito.

3- As sociedades humanas estão em processo de estruturação permanente, logo,


em transformação, são reconstruídas a todo o momento pelos indivíduos que as
compõem.

- a sociologia estuda/investiga as relações entre o que a sociedade faz de nós e o que


nós fazemos de nós próprios. O que nós fazemos tanto estrutura (dá forma) o
mundo social que nos rodeia como, simultaneamente, é estruturado por esse
mundo social.

- o conceito de estrutura social é um dos conceitos mais importantes da sociologia.


Os contextos sociais das nossas vidas não são apenas um conjunto de
acontecimentos e acções ordenadas de forma aleatória, mas são estruturados,
padronizados, de diferentes maneiras. Há regularidades no modo como nos
comportamos, ou nas relações com as pessoas com as quais interagimos, mas a
estrutura social não é como a estrutura física, como um edifício, que uma vez
construído, existe de modo independente da acção humana. A estrutura social está
em permanente relação com a acção humana.

- Há um triângulo fundamental da sociologia, composto pelos seguintes vértices:


a) estrutura (configuração, formas sociais, TER, meios, recursos, capitais...)
b) práticas (acção... FAZER)
c) representações (consciência, ideias, ideologias, identidades... SER)

4 – O que caracteriza a sociologia é a abrangência e a diversidade de objectos de


estudo, do campo de investigação e de perspetivas científicas.

- a sociologia estuda a sociedade, a acção, as práticas e representações que


compõem a sociedade, os seus comportamentos socialmente relevantes.

- estudarmo-nos a nós próprios, no fundo, e não objectos


físicos/materiais/biológicos/naturais... mas sim seres sociais com comportamentos,
práticas, culturas, diferentes e até divergentes; não é simples, é bastante complexo,
mas também por isso mesmo muito desafiante!

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