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4 - DRAGAGEM – TEORIA E PRÁTICA

4.1 - Considerações Gerais

Dragagem pode ser definida como a remoção de material sólido


submerso e seu transporte do local de remoção para um local de despejo.
Ao longo dos anos, as operações de dragagem têm contribuído de forma
significativa para o desenvolvimento da economia de uma série de países,
em particular o Brasil. Exemplificando, é através de dragagens de
implantação ou de manutenção que os portos marítimos e fluviais
nacionais se mantêm adequados para receber os navios que fazem a
ligação econômica do nosso país com o restante do mundo. O comércio
marítimo responde por mais de 90% do total do comércio nacional.
Além das operações realizadas nas áreas portuárias e marítimas
(dragagens em portos e em canais de acesso), outras áreas que de alguma
forma podem se beneficiar através das operações de dragagem são:

 exploração de recursos agrícolas – em algumas regiões, as áreas


onde se plantam e colhem produtos agrícolas, que irão se
transformar em alimentos dependem de irrigação e de
drenagem para a realização do cultivo que se torna possível
através da dragagem de canais;
 exploração de recursos naturais – a dragagem é utilizada de
forma significativa na mineração de agregados (tais como areia
e pedra) bem como na mineração de minerais mais valiosos
(ouro, por exemplo);
 proteção de trechos de litoral – obras de proteção de litoral e de
recuperação de praias normalmente requerem o uso de
dragagem como forma de obtenção de material (areia); o litoral
de Vitória tem como principais exemplos a recuperação das
praias de Camburí e da Curva da Jurema;
 geração de acrescidos – obras para a geração de acrescidos
(criação de áreas ganhas ao mar) também se utilizam de
dragagens como forma de obtenção de material em quantidades
suficientes para a geração de grandes extensões de terras.
Novamente a cidade de Vitória se apresenta com uma série de
exemplos, tais como o “aterro da COMDUSA” e o aterro de área
na praia do Suá (onde hoje se localizam as instalações da
Capitania dos Portos). No Rio de Janeiro uma grande operação
de dragagem (gerenciada pelo extinto BNH) gerou extensa área
onde foram implantadas uma série de unidades habitacionais,
na área compreendida entre a baía de Guanabara e a Avenida
Brasil;
 implantação de grandes projetos de infra-estrutura – onde
equipamentos de dragagem são utilizados para a obtenção de
áreas para a implantação destes projetos. Em Vitória, o aterro da
Ponta de Tubarão (para implantação do porto de mesmo nome)
e o aterro realizado para a implantação do porto de Praia Mole
são exemplos típicos deste tipo de implantação. No Rio de
Janeiro a implantação de certos trechos da “Linha Vermelha” foi
feita em área gerada por aterro hidráulico (obra de dragagem e
aterro combinadas);
 melhoria do meio ambiente – a limpeza de áreas poluídas em
portos industriais e rios através de dragagem e a construção de
aterros sanitários com os materiais escavados vêm sendo prática
corrente em países do Primeiro Mundo, tais como Holanda,
Alemanha, Estados Unidos. Neste contexto, observa-se que a
recente dragagem da Baía de Vitória permitiu a limpeza de
enorme quantidade de detritos oriundos das diversas galerias e
esgotos que nela desembocam.
A dragagem como definida no primeiro parágrafo deste Capítulo, vem
sendo utilizada há séculos, em particular nos países que apresentavam
grande vocação para o comércio exterior (caso das dragagens de portos)
– como a Inglaterra, Holanda, Bélgica e Alemanha, nos séculos XV e XVI
bem como em função da necessidade de se criarem condições de vida
menos insalubres (caso dos Países Baixos).
O grande desenvolvimento dos equipamentos de dragagem ocorreu a
partir da Revolução Industrial. Em particular, em meados do Século XIX a
primeira draga de sucção (até então a dragagem era feita através de
escavação do material) foi construída nos Estado Unidos (draga General
Moultrie, ref. 5). Em 1867, dragas francesas foram utilizadas na
construção do Canal do Suez, enquanto que dragas inglesas foram usadas
na implantação do Canal do Mar do Norte (ligando Amsterdã ao Mar do
Norte - 1876).
Através dos anos os grandes projetos de dragagem que decorreram em
consequência da industrialização mundial estimularam a pesquisa, o
desenvolvimento e a construção de uma série de equipamentos de
dragagem – com várias características distintas. No final do Século XX, o
avanço da micro-informática
proporcionou o aparecimento de dragas de última geração, que
associavam altos níveis de produtividade com menores interferências
ambientais – já que se tornava possível um controle muito mais acurado
da localização da draga e de suas características operacionais.

4.2 - Dragagem – Situação Atual

Atualmente, o “mercado de dragagem” é formado por uma série de


entidades, cada uma desempenhando seu papel para o andamento das
várias atividades inerentes às operações de dragagem, tais como:

 construção e manutenção de canais de acesso e bacias de


evolução;
 implantação e ampliação de portos e outros projetos de infra-
estrutura;
 projetos de recuperação de praias e proteção costeira;
 projetos “offshore” tais como construção de ilhas artificiais e
execução de trincheiras (para passagem de tubulações);
 exploração/mineração de agregados (areias e pedras).

Estas entidades são:

 Contratantes: Autoridades e Empresas Portuárias; Ministério


Público; Consumidores de agregados e Companhias de Petróleo
e de Mineração, entre outras;
 Projetistas: Empresas de Engenharia; Organizações
Governamentais; Empresas de Levantamentos e de Prospecção;
 Executantes: Empresas de Dragagem (públicas e particulares) e
Empresas de Construção (grandes empreiteiras e suas
subcontratadas);
 Fornecedores de Equipamentos: Estaleiros (em geral e
especializados); fabricantes de componentes mecânicos,
elétricos, eletrônicos e mecatrônicos.

4.3 - Tipos de Dragas e sua Utilização

Existem vários tipos de dragas, como apresentadas em seguida. A maior


ou menor adequação de um equipamento é uma função de uma série de
variáveis, quais sejam:

 natureza do trabalho: se dragagem de implantação (ou de


aprofundamento); se dragagem de manutenção; se é obra de
proteção costeira; se é obra “offshore” (ilhas artificiais;
trincheiras); se dragagem para aterro hidráulico; se dragagem
para mineração de agregados ou de minério;
 quantidade de material a ser escavado (volume de dragagem):
o volume do material bem como sua natureza (as características
das várias camadas do substrato marinho), além da distância
média de transporte (DMT) entre jazida e área de bota-fora
influenciam – e muito – na seleção adequada do tipo de
equipamento;
 prazo disponível: influência na definição da capacidade do
equipamento de dragagem;
 condições locais: condições de acesso à área a ser dragada;
regime físico da região (ventos, correntes e ondas);
profundidade de dragagem; restrições ambientais;
 características do material a ser removido, tais como
distribuição granulométrica, densidade e peso específico; grau
de compactação, características de resistência e conteúdo de
matéria orgânica (ou de metais pesados);
 disponibilidade de equipamento, que influenciam diretamente
nos custos de mobilização.
Os tipos de equipamentos de dragagem podem ser subdivididos em dois
grupos: os das dragas mecânicas e das dragas hidráulicas. No caso do
primeiro grupo, material é escavado mecanicamente, enquanto que as
dragas do segundo grupo retiram o material com o auxílio de água sob
pressão. O grupo das dragas mecânicas engloba as dragas de alcatruzes,
as de “grab” (caçamba) e as retroescavadeiras. As dragas hidráulicas
englobam as dragas estacionárias de sucção e recalque e as dragas auto-
transportadoras. A seguir são descritas as principais características
destes equipamentos:

a) - Draga de alcatruzes (bucket dredger): trata-se de draga mecânica.


Seu desenvolvimento se deu no século XVIII e foi um equipamento
bastante utilizado até meados do século XX. A partir da década de 60 –
com o aumento do porte dos navios e das profundidades de dragagem,
sua utilização foi sendo reduzida. No Brasil apenas o porto de Santos
ainda mantém este tipo de equipamento disponível (apesar de já ter sua
vida útil esgotada). Consiste em um casco (com seis âncoras) sobre o qual
opera um rosário de caçambas (cuja capacidade varia entre 100l e 1.000l).
Este rosário faz com que a escavação do material seja feita
continuamente. O material que se encontra dentro de cada caçamba é
depositado sobre um chute (ou uma moega) e daí para um batelão – que
costuma operar com a draga. É uma draga estacionária, e não auto-
transportadora, isto é, não se apresenta com capacidade de transportar o
material dragado, o que é feito pelo batelão. É adequada para a retirada
de material coesivo (lama e argila) bem como material não coesivo (areias
e rocha desagregada). Necessita de área livre ao seu redor para poder
realizar manobras.

b) - Draga de caçamba: trata-se de draga mecânica. É basicamente um


guindaste de caçamba (guindaste com “grab”) montado sobre um
elemento flutuante. Trata-se de equipamento adequado no caso de
retirada de pequenos volumes de material ou quando é necessário se
trabalhar em áreas de manobras restritas ou próximas à estruturas, ou,
ainda, quando se precisa dragar com “precisão”- como é o caso da
retirada do material em torno das estacas do Píer II – onde há necessidade
de precisão no posicionamento submerso da caçamba e de cuidados
especiais de forma que ao dragar não danifique acidentalmente a
estrutura. O material escavado pela caçamba é depositado sobre um
batelão – que costuma operar com a draga, ou a draga pode se apresentar
com cisterna própria. Pode ser do tipo estacionária, quando opera com
um rebocador a contrabordo, ou auto-propelida, quando o guindaste está
sobre um casco de embarcação e não sobre um flutuante. O material
dragado pode ser transportado diretamente para a área de despejo ou
pode ser dado um “tombo” no mesmo para que seja posteriormente
transportado por uma draga de maior porte. É adequada para a retirada
de material coesivo (lama e argila) bem como material não coesivo (areias
e rocha desagregada). Não necessita de área livre ao seu redor para poder
realizar manobras.

c) - Draga de retroescavadeira: tem seu funcionamento semelhante à


draga de caçamba. A única diferença é quanto ao meio de escavação do
material, que neste caso é escavado por uma retroescavadeira. Necessita,
portanto, de algum espaço livre em torno de onde será retirado o material
a ser dragado. Trata-se de um equipamento especialmente indicado para
“trabalhos pesados” – entendido por isto a retirada de material rochoso
parcialmente desagregado, pedregulhos, material de demolição, entre
outros. Também é adequada para o nivelamento de margens semi-
submersas e submersas de canais e cursos d’água, devido às
características de retroescavação da caçamba.

d) - Dragas estacionárias de sucção e recalque: trata-se de draga


hidráulica. O material escavado é transformado em uma mistura, através
da aplicação de jatos d’água sob pressão, e então bombeado para uma
tubulação e recalcado até à área de despejo (daí a denominação “sucção
e recalque”) ou até o interior de um batelão-cisterna. O material a ser
retirado pode ser simplesmente “sugado” pela boca de sucção da draga
ou, quando apresentar alguma coesão, ser previamente desagregado (por
um dispositivo junto à boca denominado “desagregador”) antes de ser
sugado pela boca de sucção. A menor precisão de dragagem – quando
comparado com as dragas mecânicas – é largamente compensada pela
sua alta produtividade, em especial na dragagem de solos arenosos e
argilo-arenosos pouco coesivos. A dimensão deste tipo de equipamento
é dada em função do diâmetro da tubulação de sucção – variando desde
250mm a até 850mm. As principais características deste tipo de
equipamento são: draga estacionária (movimenta-se através de âncoras);
material é retirado através de uma mistura com água – concentrações da
ordem de 15% de material; precisão de dragagem reduzida; produção
horária pode atingir até 2.500m3/h.

e) - Dragas auto-transportadoras: trata-se de draga hidráulica.


Representa o estágio mais evoluído dos equipamentos de dragagem,
unindo características de draga de sucção com a de navios graneleiros.
Trata-se de um casco auto-propelido, isto é, navega por seus próprios
meios. A retirada de material ocorre exatamente como na draga hidráulica
de sucção – o material é misturado à água sob pressão e daí recalcado.
Como este material não é desagregado mecanicamente, este
equipamento é adequado para dragagem de material de baixa coesão. A
grande evolução deste equipamento foi a de permitir que o recalque fosse
feito diretamente para o “porão” da embarcação – que é uma grande
cisterna. Sua principal característica é a versatilidade, pois retira o
material do fundo do mar enquanto navega (daí a denominação em inglês
de “trailing suction hopper dredger”) para em seguida transportar este
material por seus próprios meios até a área de despejo. A dimensão deste
tipo de equipamento é dada pela capacidade da cisterna. Atualmente
existem dragas auto-transportadoras de 500m3 de cisterna até
17.500m3. Esta última equivale a um navio com cerca de 25.000tpb. As
principais características deste tipo de equipamento são: auto-propelido,
e de alta manobrabilidade; dragagem hidráulica do material; adequada
para dragagem em canais de acesso ou em áreas com poucos obstáculos;
adequada para dragagem em mar aberto com ondas; capacidade de
transporte do material dragado; descarga do material pela cisterna ou por
bombas (no caso de despejo em terra); produção horária de dragagem
pode atingir 10.000m3.

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