Dragagem pode ser definida como a remoção de material sólido
submerso e seu transporte do local de remoção para um local de despejo. Ao longo dos anos, as operações de dragagem têm contribuído de forma significativa para o desenvolvimento da economia de uma série de países, em particular o Brasil. Exemplificando, é através de dragagens de implantação ou de manutenção que os portos marítimos e fluviais nacionais se mantêm adequados para receber os navios que fazem a ligação econômica do nosso país com o restante do mundo. O comércio marítimo responde por mais de 90% do total do comércio nacional. Além das operações realizadas nas áreas portuárias e marítimas (dragagens em portos e em canais de acesso), outras áreas que de alguma forma podem se beneficiar através das operações de dragagem são:
exploração de recursos agrícolas – em algumas regiões, as áreas
onde se plantam e colhem produtos agrícolas, que irão se transformar em alimentos dependem de irrigação e de drenagem para a realização do cultivo que se torna possível através da dragagem de canais; exploração de recursos naturais – a dragagem é utilizada de forma significativa na mineração de agregados (tais como areia e pedra) bem como na mineração de minerais mais valiosos (ouro, por exemplo); proteção de trechos de litoral – obras de proteção de litoral e de recuperação de praias normalmente requerem o uso de dragagem como forma de obtenção de material (areia); o litoral de Vitória tem como principais exemplos a recuperação das praias de Camburí e da Curva da Jurema; geração de acrescidos – obras para a geração de acrescidos (criação de áreas ganhas ao mar) também se utilizam de dragagens como forma de obtenção de material em quantidades suficientes para a geração de grandes extensões de terras. Novamente a cidade de Vitória se apresenta com uma série de exemplos, tais como o “aterro da COMDUSA” e o aterro de área na praia do Suá (onde hoje se localizam as instalações da Capitania dos Portos). No Rio de Janeiro uma grande operação de dragagem (gerenciada pelo extinto BNH) gerou extensa área onde foram implantadas uma série de unidades habitacionais, na área compreendida entre a baía de Guanabara e a Avenida Brasil; implantação de grandes projetos de infra-estrutura – onde equipamentos de dragagem são utilizados para a obtenção de áreas para a implantação destes projetos. Em Vitória, o aterro da Ponta de Tubarão (para implantação do porto de mesmo nome) e o aterro realizado para a implantação do porto de Praia Mole são exemplos típicos deste tipo de implantação. No Rio de Janeiro a implantação de certos trechos da “Linha Vermelha” foi feita em área gerada por aterro hidráulico (obra de dragagem e aterro combinadas); melhoria do meio ambiente – a limpeza de áreas poluídas em portos industriais e rios através de dragagem e a construção de aterros sanitários com os materiais escavados vêm sendo prática corrente em países do Primeiro Mundo, tais como Holanda, Alemanha, Estados Unidos. Neste contexto, observa-se que a recente dragagem da Baía de Vitória permitiu a limpeza de enorme quantidade de detritos oriundos das diversas galerias e esgotos que nela desembocam. A dragagem como definida no primeiro parágrafo deste Capítulo, vem sendo utilizada há séculos, em particular nos países que apresentavam grande vocação para o comércio exterior (caso das dragagens de portos) – como a Inglaterra, Holanda, Bélgica e Alemanha, nos séculos XV e XVI bem como em função da necessidade de se criarem condições de vida menos insalubres (caso dos Países Baixos). O grande desenvolvimento dos equipamentos de dragagem ocorreu a partir da Revolução Industrial. Em particular, em meados do Século XIX a primeira draga de sucção (até então a dragagem era feita através de escavação do material) foi construída nos Estado Unidos (draga General Moultrie, ref. 5). Em 1867, dragas francesas foram utilizadas na construção do Canal do Suez, enquanto que dragas inglesas foram usadas na implantação do Canal do Mar do Norte (ligando Amsterdã ao Mar do Norte - 1876). Através dos anos os grandes projetos de dragagem que decorreram em consequência da industrialização mundial estimularam a pesquisa, o desenvolvimento e a construção de uma série de equipamentos de dragagem – com várias características distintas. No final do Século XX, o avanço da micro-informática proporcionou o aparecimento de dragas de última geração, que associavam altos níveis de produtividade com menores interferências ambientais – já que se tornava possível um controle muito mais acurado da localização da draga e de suas características operacionais.
4.2 - Dragagem – Situação Atual
Atualmente, o “mercado de dragagem” é formado por uma série de
entidades, cada uma desempenhando seu papel para o andamento das várias atividades inerentes às operações de dragagem, tais como:
construção e manutenção de canais de acesso e bacias de
evolução; implantação e ampliação de portos e outros projetos de infra- estrutura; projetos de recuperação de praias e proteção costeira; projetos “offshore” tais como construção de ilhas artificiais e execução de trincheiras (para passagem de tubulações); exploração/mineração de agregados (areias e pedras).
Estas entidades são:
Contratantes: Autoridades e Empresas Portuárias; Ministério
Público; Consumidores de agregados e Companhias de Petróleo e de Mineração, entre outras; Projetistas: Empresas de Engenharia; Organizações Governamentais; Empresas de Levantamentos e de Prospecção; Executantes: Empresas de Dragagem (públicas e particulares) e Empresas de Construção (grandes empreiteiras e suas subcontratadas); Fornecedores de Equipamentos: Estaleiros (em geral e especializados); fabricantes de componentes mecânicos, elétricos, eletrônicos e mecatrônicos.
4.3 - Tipos de Dragas e sua Utilização
Existem vários tipos de dragas, como apresentadas em seguida. A maior
ou menor adequação de um equipamento é uma função de uma série de variáveis, quais sejam:
natureza do trabalho: se dragagem de implantação (ou de
aprofundamento); se dragagem de manutenção; se é obra de proteção costeira; se é obra “offshore” (ilhas artificiais; trincheiras); se dragagem para aterro hidráulico; se dragagem para mineração de agregados ou de minério; quantidade de material a ser escavado (volume de dragagem): o volume do material bem como sua natureza (as características das várias camadas do substrato marinho), além da distância média de transporte (DMT) entre jazida e área de bota-fora influenciam – e muito – na seleção adequada do tipo de equipamento; prazo disponível: influência na definição da capacidade do equipamento de dragagem; condições locais: condições de acesso à área a ser dragada; regime físico da região (ventos, correntes e ondas); profundidade de dragagem; restrições ambientais; características do material a ser removido, tais como distribuição granulométrica, densidade e peso específico; grau de compactação, características de resistência e conteúdo de matéria orgânica (ou de metais pesados); disponibilidade de equipamento, que influenciam diretamente nos custos de mobilização. Os tipos de equipamentos de dragagem podem ser subdivididos em dois grupos: os das dragas mecânicas e das dragas hidráulicas. No caso do primeiro grupo, material é escavado mecanicamente, enquanto que as dragas do segundo grupo retiram o material com o auxílio de água sob pressão. O grupo das dragas mecânicas engloba as dragas de alcatruzes, as de “grab” (caçamba) e as retroescavadeiras. As dragas hidráulicas englobam as dragas estacionárias de sucção e recalque e as dragas auto- transportadoras. A seguir são descritas as principais características destes equipamentos:
a) - Draga de alcatruzes (bucket dredger): trata-se de draga mecânica.
Seu desenvolvimento se deu no século XVIII e foi um equipamento bastante utilizado até meados do século XX. A partir da década de 60 – com o aumento do porte dos navios e das profundidades de dragagem, sua utilização foi sendo reduzida. No Brasil apenas o porto de Santos ainda mantém este tipo de equipamento disponível (apesar de já ter sua vida útil esgotada). Consiste em um casco (com seis âncoras) sobre o qual opera um rosário de caçambas (cuja capacidade varia entre 100l e 1.000l). Este rosário faz com que a escavação do material seja feita continuamente. O material que se encontra dentro de cada caçamba é depositado sobre um chute (ou uma moega) e daí para um batelão – que costuma operar com a draga. É uma draga estacionária, e não auto- transportadora, isto é, não se apresenta com capacidade de transportar o material dragado, o que é feito pelo batelão. É adequada para a retirada de material coesivo (lama e argila) bem como material não coesivo (areias e rocha desagregada). Necessita de área livre ao seu redor para poder realizar manobras.
b) - Draga de caçamba: trata-se de draga mecânica. É basicamente um
guindaste de caçamba (guindaste com “grab”) montado sobre um elemento flutuante. Trata-se de equipamento adequado no caso de retirada de pequenos volumes de material ou quando é necessário se trabalhar em áreas de manobras restritas ou próximas à estruturas, ou, ainda, quando se precisa dragar com “precisão”- como é o caso da retirada do material em torno das estacas do Píer II – onde há necessidade de precisão no posicionamento submerso da caçamba e de cuidados especiais de forma que ao dragar não danifique acidentalmente a estrutura. O material escavado pela caçamba é depositado sobre um batelão – que costuma operar com a draga, ou a draga pode se apresentar com cisterna própria. Pode ser do tipo estacionária, quando opera com um rebocador a contrabordo, ou auto-propelida, quando o guindaste está sobre um casco de embarcação e não sobre um flutuante. O material dragado pode ser transportado diretamente para a área de despejo ou pode ser dado um “tombo” no mesmo para que seja posteriormente transportado por uma draga de maior porte. É adequada para a retirada de material coesivo (lama e argila) bem como material não coesivo (areias e rocha desagregada). Não necessita de área livre ao seu redor para poder realizar manobras.
c) - Draga de retroescavadeira: tem seu funcionamento semelhante à
draga de caçamba. A única diferença é quanto ao meio de escavação do material, que neste caso é escavado por uma retroescavadeira. Necessita, portanto, de algum espaço livre em torno de onde será retirado o material a ser dragado. Trata-se de um equipamento especialmente indicado para “trabalhos pesados” – entendido por isto a retirada de material rochoso parcialmente desagregado, pedregulhos, material de demolição, entre outros. Também é adequada para o nivelamento de margens semi- submersas e submersas de canais e cursos d’água, devido às características de retroescavação da caçamba.
d) - Dragas estacionárias de sucção e recalque: trata-se de draga
hidráulica. O material escavado é transformado em uma mistura, através da aplicação de jatos d’água sob pressão, e então bombeado para uma tubulação e recalcado até à área de despejo (daí a denominação “sucção e recalque”) ou até o interior de um batelão-cisterna. O material a ser retirado pode ser simplesmente “sugado” pela boca de sucção da draga ou, quando apresentar alguma coesão, ser previamente desagregado (por um dispositivo junto à boca denominado “desagregador”) antes de ser sugado pela boca de sucção. A menor precisão de dragagem – quando comparado com as dragas mecânicas – é largamente compensada pela sua alta produtividade, em especial na dragagem de solos arenosos e argilo-arenosos pouco coesivos. A dimensão deste tipo de equipamento é dada em função do diâmetro da tubulação de sucção – variando desde 250mm a até 850mm. As principais características deste tipo de equipamento são: draga estacionária (movimenta-se através de âncoras); material é retirado através de uma mistura com água – concentrações da ordem de 15% de material; precisão de dragagem reduzida; produção horária pode atingir até 2.500m3/h.
e) - Dragas auto-transportadoras: trata-se de draga hidráulica.
Representa o estágio mais evoluído dos equipamentos de dragagem, unindo características de draga de sucção com a de navios graneleiros. Trata-se de um casco auto-propelido, isto é, navega por seus próprios meios. A retirada de material ocorre exatamente como na draga hidráulica de sucção – o material é misturado à água sob pressão e daí recalcado. Como este material não é desagregado mecanicamente, este equipamento é adequado para dragagem de material de baixa coesão. A grande evolução deste equipamento foi a de permitir que o recalque fosse feito diretamente para o “porão” da embarcação – que é uma grande cisterna. Sua principal característica é a versatilidade, pois retira o material do fundo do mar enquanto navega (daí a denominação em inglês de “trailing suction hopper dredger”) para em seguida transportar este material por seus próprios meios até a área de despejo. A dimensão deste tipo de equipamento é dada pela capacidade da cisterna. Atualmente existem dragas auto-transportadoras de 500m3 de cisterna até 17.500m3. Esta última equivale a um navio com cerca de 25.000tpb. As principais características deste tipo de equipamento são: auto-propelido, e de alta manobrabilidade; dragagem hidráulica do material; adequada para dragagem em canais de acesso ou em áreas com poucos obstáculos; adequada para dragagem em mar aberto com ondas; capacidade de transporte do material dragado; descarga do material pela cisterna ou por bombas (no caso de despejo em terra); produção horária de dragagem pode atingir 10.000m3.