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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA
QMC5416 - FISICO-QUÍMICA EXPERIMENTAL A
PROFESSORA: DRA. VERA LUCIA A. F. BASCUNAN

EXP. 7: EQUILÍBRIO LÍQUIDO-VAPOR EM SISTEMAS AZEOTRÓPICOS

Thainá Hank - 14200135


Luísa de Melo Arruda - 15206759

Florianópolis
Novembro, 2017
RESUMO

Neste trabalho foi realizado um estudo do equilíbrio entre as fases líquida e vapor de
uma mistura binária. Para compor essa mistura binária foram escolhidos acetona e
clorofórmio tendo em vista que ambos são solúveis em todas as proporções, possuem baixa
toxicidade quando comparados a outros solventes orgânicos, são líquidos à temperatura
ambiente, entre outras características.
Com um sistema de destilação foram coletadas várias alíquotas tanto da fase vapor
(destilado), quanto da fase líquida (resíduo) e para determinar a composição de cada
amostra foi utilizada a técnica de refratometria. Tendo-se as composições de cada alíquota
foi construído um diagrama líquido-vapor para a mistura acetona-clorofórmio, destacando
seu desvio da idealidade segundo a lei de Raoult e a justificativa por trás desse fenômeno.
INTRODUÇÃO

“Óleo e água não se misturam, não há interação entre eles”: Quantas vezes já não
difundiu-se tal frase ou, ao menos, parecida? Apesar desta hoje crença comum, o
desenvolvimento científico tornou-se capaz de rebatê-la ao demonstrar que, ainda que
mínima, grande parte da matéria apresenta interação, dificultando assim a obtenção de
compostos puros. Portanto, cada vez mais, faz-se necessário o estudo acerca dos estados
físicos de misturas, soluções e seus comportamentos, bem como propriedades, logo que o
universo se apresenta a nós por meio desta linguagem.
Por definição, soluções são sistemas formados por dois ou mais componentes,
exibindo uma única fase, homogênea química e fisicamente, podendo serem classificadas
de acordo com o tamanho das partículas dispersas, estado físico, concentração e
condutividade. Estão relacionadas com os seguintes termos: soluto, como a substância que
está dissolvida, e o solvente, responsável pela dissolução, presente em maior quantidade.
Misturas, por sua vez, englobam substâncias que compartilham de um mesmo
sistema, não restringindo-se a serem homogêneas, e suas proporções podem ser
separadas por processos físicos como, por exemplo, destilação, o que não ocorre em
soluções.
Para compreender-se a força motriz que diferencia se um sistema será uma mistura
ou uma solução, busca-se o auxílio da termodinâmica para então prever-se suas
tendências. Aplicando-se conceitos de idealidade anteriormente atribuídos no estudo de
gases, torna-se viável a comparação com sistemas em demais estados da matéria, neste
caso, sendo abordados os líquidos, haja vista sua abundância e recorrência quando em
práticas laboratoriais. Entretanto, assunções devem ser consideradas, tão logo é visível a
existência de interações neste estado da matéria: admite-se, posto isto, que as interações
na solução devem ser semelhantes às dos líquidos quando puros, sendo o soluto não
volátil, e os componentes não devem reagir entre si.
Da termodinâmica de mistura de gases, tem-se a seguinte equação para energia de
Gibbs:
∆𝐺𝑚𝑖𝑠 = 𝑛𝑅𝑇(𝑥𝑎 𝑙𝑛 𝑥𝑎 + 𝑥𝑏 𝑙𝑛 𝑥𝑏)

Observando-se que xa e xb são as respectivas frações molares de cada


componente, sendo então valores entre zero e um, seus logaritmos naturais devem ser
negativos. Conclui-se, desta forma, que a energia de Gibbs da mistura deverá ser negativa
para processos espontâneos.
Pela equação fundamental da termodinâmica, unindo-se a primeira e a segunda leis,
chega-se às seguintes propriedades da Energia Livre de Gibbs:
𝑑𝐺 = 𝑉𝑑𝑝 − 𝑆𝑑𝑡
Ao fazer-se a derivada de G em relação a T, mantendo-se a pressão constante,

𝑑𝐺
( 𝑑𝑇 )p = -S

∂𝐺
∆𝑆𝑚𝑖𝑠 = ( ∂𝑇 )𝑝 = − 𝑛𝑅𝑇(𝑥𝑎 𝑙𝑛 𝑥𝑎 + 𝑥𝑏 𝑙𝑛 𝑥𝑏)
o que sugere que o fator definitivo para que de fato ocorra o processo de solubilização será
a entropia, uma vez que

∆𝐺 = ∆𝐻 − 𝑇∆𝑆

sendo a variação de G negativa, a variação de entropia positiva, então a entalpia de mistura


deverá se igualar a zero para uma solução ideal.
A partir das informações supracitadas, estudou-se a interferência do soluto na
entropia da solução, sendo este conhecimento creditado a François-Marie Raoult, qual
verificou a correspondência entre a pressão de vapor da solução e a composição da fase
líquida, como enunciado pelo mesmo: “a razão entre a pressão de vapor de cada
componente de uma mistura e sua pressão de vapor como líquido puro, pA/pA* é
aproximadamente igual a fração molar de A na mistura líquida”.
𝑃𝑎 = 𝑥𝑎𝑃𝑎*
Define-se, consequentemente, a Lei de Raoult, caracterizando soluções como ideais
aquelas quais seguem este comportamento.
Entretanto, este perfil é visualizado para soluções cujos componentes sejam
quimicamente semelhantes, o que na maioria dos casos não ocorre, apresentando então
desvios de idealidade.
Durante a prática, estudou-se o perfil de uma mistura azeotrópica, ou seja, mistura
de duas substâncias que, a pressão constante e em uma determinada temperatura e
composição, entram em ebulição num ponto fixo, não podendo então ser separada por
destilação. Isto se sucede em decorrência do desvio da lei de Raoult, uma vez que as
interações na composição específica são maiores ou menores do que dos líquidos puros,
elevando ou abaixando assim a temperatura de ebulição.
O procedimento consistiu em determinar os pontos de ebulição da mistura
acetona-clorofórmio para diferentes composições por meio da técnica de destilação,
recolhendo porções do vapor condensado e do líquido ainda presente para análise e
quantificação das composições em cada fase por intermédio da refratometria.
A refratometria é um método analítico óptico, fundamentando-se na refração da luz
provocada ao atravessar-se um líquido, este feixe incidido tendo sua direção alterada. O
ângulo de refração, qual indica a mudança de direção do feixe, é transformada no
refratômero em índice de refração, uma propriedade física da matéria, que varia com a
concentração.
PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

1. Aparelho de destilação
2. Refratômetro
3. Termômetro
4. Frascos com tampa para coletar as amostras
5. Acetona
6. Clorofórmio

Estando o sistema parcialmente montado antes da chegada dos graduandos ao


laboratório, foram adicionados 35 mL de acetona pura no balão de destilação após alguns
ajustes finais no sistema de destilação (Figura 1), bem como o termômetro que foi alocado
de maneira em que estivesse em contato com o líquido e o vapor.

Figura 1 - Sistema de destilação fracionada,

A chapa de aquecimento foi ligada mas não em contato direto com a superfície do
balão de destilação, sendo esse aquecido apenas por irradiação de energia térmica. Assim
que se iniciou a ebulição foi determinado o ponto de ebulição da acetona, a fração
condensada foi devolvida ao resíduo e houve a primeira adição de clorofórmio.
O procedimento de destilação e coleta de alíquotas tomou a seguinte ordem:
primeiramente deixou-se acumular um volume de cerca de dois mililitros de destilado, assim
que esse volume foi coletado a temperatura de ebulição foi lida, também coletou-se
aproximadamente dois mililitros de resíduo utilizando uma seringa adaptada. Após a coleta
de alíquotas foi adicionado um volume de clorofórmio, os volumes de clorofórmio
adicionados ao sistema de destilação estão dispostos na Tabela 1. Ao final de cada adição
de clorofórmio já havia um novo volume destilado condensado, esse volume foi sempre
devolvido à destilação
Tabela 1 - Volumes de clorofórmio adicionados à cada rodada de amostra coletada.

Após o término da destilação, quando coletou-se a última alíquota, todo sistema foi
desligado e desmontado. As amostras foram analisadas por refratometria, sendo
determinados todos os índices de refração para cada amostra de líquido e vapor. Esses
índices de refração lidos estão dispostos na tabela 2.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após terminada toda a montagem do sistema de destilação foram adicionados 35


mL de acetona ao balão, dando início ao aquecimento para determinação da temperatura
de ebulição da acetona. A amostra de número um exibida na tabela 2 contendo apenas
acetona apresentou a temperatura de ebulição de 56,0 ºC. Assim que adicionados volumes
de clorofórmio, é possível observar que houve elevação da temperatura de ebulição da
mistura conforme o aumento do clorofórmio em sua composição.

Tabela 2 - Temperatura de ebulição e índice de refração de cada alíquota de resíduo ou


destilado.

Os índices de refração de cada alíquota de resíduo e destilado foram determinados


com auxílio do equipamento refratômetro em temperatura ambiente. Utilizando a tabela 3
de índices de refração de várias composições da mistura acetona-clorofórmio retirada do
roteiro da prática foi plotado o gráfico 1, onde a variável independente é o índice de refração
e a porcentagem de clorofórmio contida na mistura foi tratada como variável dependente.
Tabela 3 - Índice de refração das misturas acetona-clorofórmio.

A partir do gráfico 1 foi obtida a função linear que melhor descreve a curva de
índices de refração em relação à porcentagem de clorofórmio na mistura
acetona-clorofórmio.

Gráfico 1 - Representação da porcentagem de clorofórmio em função do índice de refração


da mistura.
Fundamentando-se na equação da reta obtida (1), calculou-se a composição das
fases líquida e vapor para cada alíquota. Onde x é o índice de refração do resíduo ou
destilado e y é a porcentagem de clorofórmio na mistura. As composições calculadas estão
expressas na tabela 4, sendo que as porcentagens de acetona dadas por (100% - % de
clorofórmio) não foram explicitadas.

y = 1138x -1544 (1)


Tabela 4 - Porcentagens de clorofórmio calculadas para cada alíquota nas fases líquida e
vapor.

Após determinadas as composições nos estados físicos líquido e vapor de cada


mistura, foi construído o gráfico 2, onde em vermelho tem-se a curva da composição do
vapor e a do líquido em azul.
Gráfico 2 - Representação do equilíbrio líquido-vapor para o sistema acetona-clorofórmio.

No gráfico 2 é possível observar o desvio negativo da lei de Raoult, mostrando que


as interações intermoleculares entre a acetona e o clorofórmio são mais fortes em relação
às de cada componente separado. Ou seja, o ponto de ebulição da mistura é maior que o
previsto pela lei de Raoult.
Apesar de nenhuma das duas substâncias quando puras apresentarem ligações de
hidrogênio, quando misturadas o átomo de hidrogênio parcialmente positivo do clorofórmio
interage fortemente com o oxigênio parcialmente negativo da acetona, formando-se assim
ligações de hidrogênio que estabilizam muito a mistura.
CONCLUSÃO

O estudo do equilíbrio das fases líquido e vapor para a mistura binária


acetona-clorofórmio se mostrou satisfatório. Foi possível observar no gráfico 2 o desvio
negativo da lei de Raoult, mostrando como as forças atrativas são mais intensas na mistura
em relação aos componentes separados. Porém as curvas obtidas tanto para o líquido
quanto para o vapor são visivelmente não confiáveis devido ao erro experimental de coletar
alíquotas de volume muito superior a dois mililitros. Portanto não foi possível determinar
com precisão a composição azeotrópica, apesar da sua temperatura ficar por
aproximadamente 63ºC.
Também é importante considerar que não foram feitas quaisquer correções de
temperatura para os índices de refração lidos, considerando todas as leituras realizadas a
mesma temperatura da tabela utilizada para comparação.
REFERÊNCIAS

ATKINS, P. W.; JONES, Loretta. Princípios de química: questionando a vida moderna e


o meio ambiente. Porto Alegre: Bookman, 2001.

PAVIA, Donald L. et al. Química orgânica experimental: técnicas de escala pequena. 2.


ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. 877 p.

CRC Handbook of Chemistry and Physics, CRC Press, 2006.

CASTELLAN, Gilbert William. Fisico quimica. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos,
1982.

Material disponibilizado pelo Dr. Prof. Luís Otávio durante a disciplina QMC5404.

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