Resumo
A proposta deste artigo é a de apresentar o resultado de uma pesquisa cujo objetivo foi
verificar o quanto os profissionais da Educação Infantil conhecem sobre a musicalização,
quais as práticas desenvolvidas com a música e a relação desta com a aprendizagem. A
pesquisa foi realizada com profissionais da Educação Infantil de instituições públicas e
privada através de questionário para o levantamento de dados. O ponto de partida para a
investigação científica foi o fato da música ser utilizada basicamente como instrumento para o
condicionamento da rotina, formação de hábitos ou para preencher espaços entre as
atividades. Sem desconsiderar a importância da música para esses momentos a intenção foi
refletir sobre o porquê das demais possibilidades de uso da música não serem exploradas
pelos profissionais. Com base nos dados obtidos foi possível fazer uma reflexão relacionando
o conhecimento sobre a área em questão e as práticas adotadas pelos professores e
educadores. A pesquisa deu algumas indicações de que isso ocorre por falta de
aprofundamento nas teorias sobre a importância do fazer musical para o desenvolvimento da
criança. Também foi possível perceber que a teoria deve estar aliada a prática pois as próprias
dificuldades relacionadas pelos profissionais revelam o senso comum e o conhecimento
superficial quanto às possibilidades do trabalho com a música na Educação Infantil. Desse
modo a intenção é que professores e educadores reflitam e passem a pesquisar buscando a
formação continuada e até mesmo a auto formação, adotando novas práticas para ampliar a
eficácia desse instrumento valioso que é a musicalização. Além de conhecer e valorizar o
fazer musical.
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Graduanda do Curso de Pedagogia da Faculdade Facel (Curitiba, PR; Educadora em CMEI da Rede municipal
de ensino da cidade de Curitiba – PR. E-mail: aneenarosa@yahoo.com.br
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Especialista em Arte, Educação e Terapia. Formada em Pedagogia pela PUCPR. Professora no curso de
Pedagogia da Facel (Curitiba, PR); Pedagoga na Rede Estadual de Ensino do Paraná. E-mail:
rosane.torquato@yahoo.com.br
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Introdução
A música é algo que mexe com as emoções. Pode fazer rir, chorar, amar, odiar...
Entretanto, para além de seus efeitos sensoriais e emocionais, os processos de musicalização
quando desenvolvidos dentro de intenções pedagógicas colaboram nos processos formais de
aprendizagens significativas que iniciam já na educação infantil.
Embora a presença da música apresente resultados significativos, interessante lembrar
que na Educação Infantil vai além da formação de hábitos e espetáculos musicais.
Abrangendo diversas áreas do desenvolvimento da criança como descreve o Referencial
Curricular Nacional para Educação Infantil:
O trabalho com a música deve considerar que ela é um meio de expressão e forma
de conhecimento acessível aos bebês e crianças inclusive aqueles que apresentem
necessidades especiais. A linguagem musical é um excelente meio para o
desenvolvimento da expressão, equilíbrio, da autoestima e autoconhecimento, além
de poderoso meio de integração social. (RCNEI, 1998, p. 47)
Música e musicalização
De acordo com Baptista (2011) em toda escola de Educação Infantil, canta-se pelos
mais diferentes objetivos. Algumas consideram a parte educacional outras apenas para
preencher o silêncio, mas existem as que realmente preocupam-se em proporcionar atividades
mais ricas que contemplam o trabalho com instrumentos musicais, jogos musicais,
interpretação e criação de canções entre outras atividades que valorizam o fazer musical.
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Não se pode negar que a música está constantemente presente na Educação Infantil.
Sendo utilizada principalmente para formação de hábitos, geralmente, ao ouvir essas músicas
as crianças automaticamente vão fazendo sua organização para o momento proposto sem
necessidade de que a educadora explique detalhadamente o que vai acontecer, pois, já faz
parte do dia a dia da Educação Infantil. Deste modo a música é um instrumento para
condicionamento da rotina estando presente também para marcar a chegada, escovação, saída,
etc. Ou seja, aquelas que só de ouvir a criança já se movimenta, “obedecendo”, assim, à letra
da música.
Tratando-se ainda da formação de hábitos a música é utilizada como forma de voltar a
atenção da criança para a atividade a ser realizada. Assim é comum em momentos de muita
agitação o educador cantar uma música anteriormente combinada com as crianças que
representará o momento em que todos devem prestar atenção.
Em concordância com essa realidade, Brito (2012) destaca entre os diversos propósitos
da música, sua utilização como suporte para a aquisição de hábitos e atitudes, disciplina e
condicionamento da rotina. Relatando que nesse caso a música torna-se um meio para atingir
objetivos considerados adequados â instrução e a formação da criança.
Ainda dentro da rotina no momento do soninho são utilizadas músicas que tem como
finalidade relaxar, acalmar e estimular o sono, são geralmente lentas e utilizadas nos berçários
e maternais onde na maioria das vezes são utilizados cds instrumentais com melodias suaves.
Ou até mesmos os tradicionais acalantos.
Já em momentos mais lúdicos a música é utilizada como forma de brincadeira onde
sugerem danças, e movimentos corporais que são realizados geralmente em andamento mais
rápido do que as canções de ninar; estimulam o salto, o equilíbrio, e o requebrar.
Além desses e de outros momentos a música é ainda muito visada em eventos de datas
comemorativas, nas quais as crianças passam longos momentos ensaiando para apresentações
aos pais e familiares. Desse modo cada data no calendário tem sua música de destaque. A
música ainda está presente nos eventos anuais que as escolas costumam organizar,
principalmente na festa junina onde tradicionalmente as crianças passam um determinado
tempo ensaiando as danças típicas da época e cultura. Também nas homenagens e festas de
final de ano onde geralmente acontecem espetáculos musicais.
No entanto, com tantas possibilidades de uso da música é interessante destacar que
esta não deveria apenas fazer parte das atividades de rotina e apresentações de datas
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A música está presente na vida do ser humano desde muito cedo, pois o bebê começa
percebê-la através do som das batidas do coração quando ainda está na barriga da mãe. Sendo
esta uma das primeiras relações de som e silêncio que presencia e mesmo que ainda não sejam
definidas como música, fazem parte da construção musical que mais tarde passa a ser efetiva
em vários momentos da vida. Cunha declara que
De acordo com Brito (2012) esse envolvimento constante com o ambiente sonoro faz
com que as crianças desenvolvam espontaneamente o processo de musicalização. Dai a
importância de se utilizar desse instrumento para desenvolver aprendizagens significativas e
construção de conhecimento com essas crianças.
Moran (2000) entende que a aprendizagem se dá não apenas pelo racional, mas
também na articulação de diferentes vias no sujeito, ou seja, por meio também do sensorial,
intuitivo, afetivo e transcendental. Portanto é importante que não seja fragmentado e reduzido
apenas ao racional, pois o conhecimento se dá em vários níveis. Este pesquisador ainda
acrescenta que o conhecimento necessita da ação articulada de todos os sentidos, pois estes
agem combinando e reforçando significados. As pessoas são diferentes, desta forma,
aprendem de maneiras diferentes. Por isso, quanto mais diversas forem às vias utilizadas à
construção do conhecimento mais oportunidades de aprender serão possíveis.
Relacionando as ideias de Brito e Moran identifica-se a possibilidade de articular a
musicalização e novas aprendizagens. Isto é, ao desenvolver ações pedagógicas objetivas e
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essa construção aconteça através da música. Isto será possível desde que o profissional da
educação infantil estabeleça objetivos relevantes ao trabalhar com a música.
conhecimento quanto a música e o fato de não tocarem nenhum instrumento. Porém embora
afirmem não ter conhecimento necessário percebe-se que a busca pelo mesmo não é tão
efetiva.
Considerando a presença da música na vida da criança desde muito cedo e quase
espontaneamente é fundamental que os profissionais da Educação Infantil repensem suas
práticas de forma a contemplar a riqueza desse processo de musicalização na vida da criança.
Saindo do senso comum e buscando maneiras de aprimorar esse conhecimento através da
formação continuada um meio que permite a esse profissional o enriquecimento de sua
profissionalização docente.
Esse enriquecimento depende muito do interesse dos professores e educadores em
aprimorar-se. Perrenoud (2000) coloca que embora a profissionalização seja uma
transformação estrutural coletiva a mesma depende das opções individuais de cada
profissional. O que contribui para a auto formação através da reflexão sobre suas próprias
práticas. Portanto, ao ensaiar novos modos de ação pedagógica, os educadores precisam
desenvolver uma reflexão crítica sobre a sua utilização. Nóvoa (1992) declara que tal atitude
faz parte também da própria compreensão de formação docente.
Em concordância com as ideias de Perrenoud (2000) pode-se dizer que o profissional
precisa assumir sua autonomia pela busca de conhecimento não esperando apenas pelos
cursos ou formações que as instituições oferecem esporadicamente. Embora a preocupação
com o ensino da música seja um assunto recentemente discutido, existem diversas
possibilidades e recursos que podem ser encontrados por profissionais que se preocupam com
a qualidade da formação que adquirem e compartilham com as crianças.
Embora as dificuldades citadas sejam reais não podem impedir que o trabalho com a
música aconteça. Por exemplo, a queixa sobre falta de materiais adequados, pode ser
facilmente contornada, pois as literaturas e cursos sobre musicalização infantil apresentam
propostas do trabalho que utilizam-se do fazer musical e da própria confecção de
instrumentos a partir de materiais alternativos praticamente sem custos.
Isso reforça a importância dos profissionais terem interesse em realizar pesquisas e
aprofundar-se no assunto. Até porque a expressão musical é parte integrante da nossa cultura,
estando presente naturalmente em nosso contexto social e educativo. Cabe aos professores e
educadores possibilitar um ambiente de descoberta, a partir do fazer musical de acordo com as
ideias de Cunha (2011).
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Considerações finais
REFERÊNCIAS
BAPTISTA, Fernanda dos Santos. Música escolar, música infantil e música para criança:
sua história e obrigatoriedade e os prazeres da criança e a música. Curitiba: Unibrasil.
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao curso de Pedagogia das Universidades do
Brasil, como requisito parcial para obtenção do título de pedagoga. Curitiba, 2011.
BRITO, Teca Alencar de. Musica na educação infantil: propostas para formação integral da
criança. São Paulo: Petrópolis, 2003.
CUNHA, Suzana Rangel Veiga da (org). Cor, som e movimento: a expressão plástica,
musical e dramática no cotidiano da criança. Porto Alegre: Mediação, 2011.
MORAN, José Manuel; MASSETO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas
tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: PAPIRUS, 2000.
PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes
médicas Sul, 2000.