Estágio obrigatório- Clínica da Família Heitor Beltrão Professora: Thais Yamamoto Aluna: Rafaela Lopes Tema: Relato de experiência
Relato da terceira semana (6/09 a 9/09)
Na sexta-feira, acompanhei o residente Yann e a ACS Naiara à visita domiciliar na Comunidade do Salgueiro, ao todo foram realizadas 4 visitas. Durante as visitas, pude notar a situação de extrema vulnerabilidade em que os residentes da comunidade se encontram: pacientes acamados, baixas condições de saneamento básico, alto índice de desemprego, casas com grande quantidade de crianças (desde recém-nascidos, até dois-cinco anos de idade), idosos com mais de setenta anos, alta prevalência de portadores de Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus, muitos moradores para poucos cômodos, representando de risco médio a máximo familiar. Embora cada família tenha sua organização e dinâmica familiar, notei que o tipo de família mais presente na comunidade é a extensa (composta por pai, mãe, filhos e avós). O ciclo de vida predominante era marcado: Jovem adulto sozinho; famílias com filhos e a fase da avó. Uma visita em específico me chamou atenção, que foi de uma senhora acamada, com elefantíase, sua casa tinha apenas dois cômodos: sala e um banheiro, três crianças pequenas, e uma adolescente. O residente faz aplicação regular de penicilina benzatina para profilaxia de infecção cutânea. Durante a visita foi perguntado como a moradora estava, qual era sua expectativa e experiência em relação a sua perna afetada pela doença, ela disse que estava bastante debilitada e limitada para realização de suas atividades básicas, mas que já está se acostumando com a situação e lidando melhor. Também foi abordado sobre como estavam as relações familiares, se a filha tinha conseguido dar continuidade ao tratamento, e como as crianças estavam frequentando a escola com a questão da pandemia. Observei como as visitas domiciliares são importantes e necessárias para estreitar o vínculo médico-paciente, estimular a comunidade a cuidar de sua saúde, e dar continuidade ao tratamento na Clínica da Família; A orientação comunitária para entender como aquela Comunidade se comporta, qual é o lazer dos moradores, as redes de apoio (se há presença de igreja, atividades de dança, aulas de teatro) entendendo qual é a realidade na qual os moradores estão inseridos, e dessa forma estabelecer a competência cultural que é de extrema importância para atuação da Clínica da Família. Também notei a prática do enfoque familiar, uma abordagem não focada apenas em um indivíduo e sim na família e sua dinâmica. Na quinta-feira participei do acolhimento da equipe Salgueiro com a ACS Naiara. Ela me explicou que há uma média de 3.000 pessoas adscritas. Há uma planilha dinâmica do Google de cada equipe e lá são colocadas as informações do atendimento (hora, usuário, CNS, o ACS que realizou o acolhimento, o médico que irá atender, demanda, e tempo de atendimento), além disso, também classificam o atendimento em demanda espontânea, agendamento prévio de consulta, ou destinam o paciente a sala zero (para realização de teste rápido na suspeita de COVID), ou encaminham o paciente para sala de procedimentos para aferir pressão arterial, glicemia capilar. As quintas na equipe Salgueiro são destinadas a Saúde da mulher (colocação de DIU, orientação contraceptiva, coleta de colpocitologia). A equipe irmã Itacuruçá estava sem médico e enfermeiro responsável e seus atendimentos foram transferidos para equipe Salgueiro o que acabou gerando uma sobrecarga nos atendimentos realizados pela manhã. Há elevada demanda de atendimento o que gera elevado tempo de espera para a consulta, e o espaço em que os pacientes aguardam é pequeno o que acaba gerando certa aglomeração, e com isso alguns não se sentem a vontade com a exposição no contexto de pandemia e optam por retornar em outro dia mais vazio, o que nem sempre é possível. Vi alguns casos de pacientes que foram a consulta para colocação de DIU e não tiveram atendimento pois a equipe está sem o método contraceptivo. Além disso, a equipe teve que finalizar atendimento mais cedo pois já havia muitos pacientes na demanda. Dessa forma, vi situações em que paciente se deslocou de longe, gastou dinheiro com transporte público, se expôs nas ruas e não conseguiu atendimento, sendo orientado a retornar outro dia, o que acaba prejudicando o seguimento e acompanhamento do paciente pela equipe. Foi uma experiência muito proveitosa pois pude ver a importância e a prática da acessibilidade: a porta de entrada da equipe, o primeiro contato do morador; E onde é iniciada a coordenação do cuidado. A planilha ajuda a otimizar o atendimento, destinando mais tempo e prioridade de consulta para quem realmente precisa, como por exemplo: para renovação de receita o médico responsável já renova e entrega para o paciente, não tendo que esperar muito tempo para isso, e casos mais graves de abordagem mais complexa recebem atendimento mais direcionado, com maior atenção.