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História da

psicoterapia,
doença, saúde
mental, normal
e patológico
Breve história sobre o tratamento da loucura

A saúde mental foi encarada de diferentes formas, e


em função da formação dos diferentes grupos
sociais no decorrer da história da humanidade.
Antiguidade:

Palavras gregas:
• therapeia, therapeuein: nome dado aos procedimentos que
buscam a cura por meio de um método.

• Psyché: alma

• Ou seja, cura da alma.


• Hipócrates propôs que o corpo humano sempre estava em íntima
conexão com a “phisis”, a natureza, segundo a definição dos
gregos. Essa integração conectiva se mantém harmoniosa nos casos
de saúde em que Hipócrates considerava normais. Já a doença
surgia quando essa “phisis” se alterava, mudando o estado de
harmonia da natureza (phisis) humana.
Assim sendo, a loucura passou a ser
vista pelos gregos como um estado de
mau funcionamento da mesma, o que
influenciava os diferentes tipos
humores. O tratamento era feito com
drogas e purgativos que eliminassem
esses efeitos.
Os “loucos” tinham a liberdade para se
movimentar pela cidade, não eram
retidos, nem asilados do convívio social.
Idade Média
• A Igreja detinha as regras. Os padres eram os detentores do
saber e somente o clero tinha o poder de transmiti-lo ou de usá-
lo.
• Esse saber era oferecido para a educação, para legislar ou
controlar as normas sociais da época. A humanidade se via
diante da imposição de normas morais de cunho unicamente
religioso.
• A cura da insanidade mental, com a intervenção de tratamentos,
estava associada ao mito de que as doenças eram consideradas
castigos divinos. Mas além de doente, a pessoa também podia
ser considerada pecadora, e a doença se tornava a justa
penitência pelo pecado.
• Sendo assim a loucura, por ser uma manifestação fora dos
padrões considerados normais à ordem divina, era considerada
uma infração da moral cristã, fazendo com que o louco fosse
visto como uma associação demoníaca, um ser maligno.
• Se o louco fizesse a confissão de que era bruxo, poderia ser
exorcizado ou punido, após ter sido submetido a um julgamento
perante a ordem religiosa.
• Se o louco fosse rico, poderia comprar a Santa Inquisição e era
considerado apenas “excêntrico”.
• Assim, é possível supor que o conceito de loucura está, desde
tempos remotos, ligado às questões sociais
Renascimento
(meados do século XIV e o fim do século XVI)
• Diferentemente da etapa anterior, na qual Deus era o centro de todo
universo conhecido, no Renascimento o homem é considerado o
centro de tudo.
• Retomada da importância dada às descobertas e aos feitos do
homem.
• Destaque para a arte, retratando a anatomia humana, as Grandes
Navegações, o comércio, o dinheiro entre outras grandes realizações.
• As exigências sociais se tornam maiores, como a noção de limpeza e
higiene dos lugares. Essa ênfase na “limpeza” chega também às
pessoas, e todos aqueles que de alguma forma não contribuíam para
o desenvolvimento social e cultural, ou não participam do mercado
de trabalho, tais como: mendigos, velhos, prostitutas, leprosos,
sifilíticos e loucos.
• Grandes centros de abrigos e prisões foram construídos para
afastar essas pessoas do convívio nas cidades. Mais uma vez a
exclusão se faz presente quando se trata dos insanos.
• Por conta da ênfase dada na razão, o tom axial da era
renascentista, os loucos (insanos) adquirem a dimensão de
ameaça à razão. E como agente de “ameaça”, a sociedade em
sua complexidade exclui e afastará de si não só os loucos, mas
todo e qualquer indivíduo que perturbe a “suposta”
tranquilidade.
• Tais instituições não se propunham ter função curativa, mas seu
papel social era o de proibir e punir todos os ociosos. Mais tarde,
os insanos começam a ser encaminhados para internações nos
hospitais gerais.
Idade Moderna
(de 29 de maio de 1453 à 14 de Julho de 1789)
• O predomínio da razão e da racionalidade levam à criação de novas
ideias, teorias e a formação de novas instituições, que vão substituir
os antigos cárceres pelos espaços nos quais o louco não seja mais um
problema da sociedade, mas sim, um problema puramente do
domínio científico.
• Com o surgimento da psiquiatria e o desenvolvimento do campo
científico, a loucura ganha a categoria de doença, e passa a ser
estudada.
• Instala-se na Europa a partir do século XVIII uma forma universal e
hegemônica de abordagem dos transtornos mentais: internação em
instituições psiquiátricas para todos aqueles que têm alterações de
ordem racional, moral e social.
• Michel Foucault (1926-1984) chama esse processo da Grande
Internação.
Revolução Francesa
( 1789 – 1799)

• Surge uma nova reestruturação do espaço social.


• Ideais difundidos de liberdade, igualdade e fraternidade
• Agora todos os encarceramentos passam por uma seleção, ou
seja, deixam de ser arbitrários para qualquer cidadão.
• Determinou-se que os loucos não podiam circular no espaço
social como os outros cidadãos por serem perigosos.
• Agora vistos como doentes, seu encarceramento estava
relacionado à necessidade de tratamento. Com o objetivo de
curá-los, passaram a ser internados em instituições destinadas
especificamente a eles, surgindo os manicômios.
Philippe Pinel e a Psiquiatria Moderna
(1745-1826)
• O grande fundador da psiquiatria é o dr. Philippe
Pinel
• Pinel estabeleceu os fundamentos da clínica
psiquiátrica a partir do método clínico. Estamos
diante do primeiro e real movimento de tratamento,
calcado no modelo médico.
• Pinel afirma que as alienações mentais se devem aos
distúrbios funcionais do sistema nervoso central,
independentemente de haver ou não lesões no
mesmo.
• Estabelece uma intervenção nos manicômios
chamada de "tratamento moral".
• Foucault diz que na realidade nesses locais, e pelo
tipo de tratamento imposto, o louco não era
propriamente percebido como doente, e sim como
alguém que havia abandonado o caminho da Razão e
do Bem.
• Para Pinel, o chamado doente só seria curado se conseguisse
reaprender a diferenciar o certo do errado, o mal do bem;
• A cada ato indevido devia ser advertido e punido, para poder
reconhecer seus erros. A partir deste arrependimento, e quando
não os cometia mais, era considerado curado. Para tanto o
doente deveria ficar afastado da sociedade, “asilado”, já que foi
o convívio social o responsável por tal alienação, ou seja, deveria
estar protegido da sociedade que o enfermou.
• O manicômio, em função de sua estrutura e funcionamento, era
o real operador de transformações dos indivíduos, pois era só
dentro dele que se poderia fazer o doente perceber seus erros
para poder corrigi-los. Logo, você pode perceber que nesse
momento histórico a doença mental é encarada como uma
perturbação na forma de agir, de querer, de ter paixões e de
tomar decisões.
• Chama-se esse modo de intervir como “terapia moral”.
História da Loucura
Histoire de la Folie à l'Âge Classique
Michael Foucault (1961/1978)
• O nascimento da psiquiatria surgido com o novo modo de
“encarceramento” os loucos nos manicômios produz pela
observação direta e exclusiva dos “insanos” um intenso
trabalho de pesquisa científica.
• Dessa pesquisa surgem as descrições e classificações dos
diferentes tipos dos sintomas, dando origem aos conceitos dos
diversos tipos de transtorno psíquico que fundamentam a
psiquiatria moderna.
• É importante ressaltar que não houve qualquer avanço em termos de terapêutica,
pois os doentes mentais passaram a permanecer toda a sua vida dentro dos hospitais
psiquiátricos.
• O dito “tratamento” tinha base em descrições clínicas. Pode-se considerar como um
progresso a tese de que era o desequilíbrio das paixões a responsável pela alienação,
e o retorno, pela correção de as mesmas serem uma possibilidade de curar, levando
ao homem ao estado original antes de “adoecer”.
• Essa ideia da loucura como causadora de inconveniências ao convívio social
se alastra a todos chamados “inconvenientes”, sejam pelos modelos
políticos e/ou culturais.
• Considerar como louco e de dar “nome” à doença mental a todos que não
concordam com as regras sociais e morais, infelizmente continua persistindo
até os dias atuais.
• Este pensar trouxe para a doença mental um grande estigma que
permanece no senso comum.
• Fazendo um breve apanhado da história da loucura e de seus modos de
tratamento, vemos que a característica comum em todas as épocas está na
necessidade de rotular e enquadrar o doente mental em determinada
classificação.
• Percebe-se também uma marginalização presente em todas as épocas da
história humana, indicando redução no interesse de tratar, entender e
interagir com alguma pessoa “doente” ou “possuída”.
Donald Laing
(1927-1989)

• Psiquiatra inglês
• Provocou uma reviravolta inovadora para o tratamento da
doença mental especialmente nos casos com psicose.
• Fortemente influenciado pela filosofia existencial, começa a
olhar os pacientes pela expressão de seus sentimentos.
• Vê as expressões como formas de experiências vividas e não
somente como sintomas, ou seja, sustenta que os discursos sem
sentido e confusos dos doentes mentais são as formas de
comunicação de seus medos e suas ansiedades.
• Com Laing a psiquiatria se encontra coma psicoterapia.
Sigmund Freud
(1856-1939)
• Foi ele quem trouxe firmemente a finalidade psicoterápica de
restaurar a subjetividade, pelas mudanças e compreensões de suas
ações.
• Por ser médico neurologista, seu trabalho sofreu forte influência
nessa sua formação.
• Ao estudar a histeria, percebeu que a presença dos sintomas
neurológicos não era causal nem determinada por eles.
• Verificou que por detrás da manifestação histérica havia forças fortes
e complexas que precisavam ser estudadas, porque descobriu que
elas tinham significação se comparadas a partir da história do
paciente.
• Sem dúvida alguma foi o aparecimento da abordagem freudiana, e
dos seus princípios de análise e compreensão das situações humanas
que deram realmente início ao que chamamos hoje de psicoterapia.
• Quando começa a investigar a história de seus pacientes,
percebe que muitas recordações antigas tinham sido esquecidas,
por terem sido banidas da consciência. Mas que quando ele
conseguia acessá-las, o paciente mostrava uma mudança de
comportamento.
• Com essas descobertas ele chega à noção da existência do
inconsciente e inicia um tratamento, primeiramente com
hipnose, por meio do método denominado de associação livre
de ideias, pelo qual, quando o paciente era colocado numa
postura de relaxamento, ele conseguia acessar lembranças
passadas e ter um grande alívio quando podia falar delas.
• Depois de algum tempo ele dá seguimento a essa forma de
tratar, mas sem uso mais da hipnoterapia, pois a associação livre
das ideias fazia o mesmo efeito, com a diferença que
proporcionava um “reviver” das emoções e da situação conflitiva
(traumática) de modo consciente.
• Trauma Psicológico
Por trauma psicológico se entende um dano emocional ocorrido como
resultado de um algum acontecimento, ou alguma experiência de dor e
sofrimento emocional ou físico.

• Transferência
• Uma outra descoberta foi a do processo transferencial, pelo qual o
paciente revive nele e por ele sentimentos e percepções ligados às
figuras paternas ou pessoas significativas da sua história pregressa,
como também percebeu a contratransferência que pode ocorrer no
terapeuta em função do paciente depositar nele os afetos vividos com
as figuras parentais.
• Se o terapeuta não percebe os afetos provocados pela transferência,
a contratransferência do terapeuta das emoções nele provocadas
pode fazer com que ele reaja de modo inconsciente.

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