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DISCURSO SINCERO – ERIN SCHICK

A coruja se comunica com seus companheiros


e sua prole
usando um complexo sistema de assobios
chiados
gritos
e manipulação do músculo facial;

A sobrevivência depende da criação de uma voz


tão única que pode ser reconhecida pelos seus entes queridos
num instante

Eu defendo que a causa da minha gagueira não é neurológica;

Tem que ser algo mais profundo;

Algo desesperado para ser lembrado;

Minha boca cospe sílabas reluzentes até elas


cintilarem;
Até que a minha voz seja única;

Isso não é um defeito de fala;


Minha voz é um instrumento,
a minha gagueira sua maior sinfonia;

Meu discurso, composto por Deus;

Eu compro três laranjas


e eu gaguejo;
Eu estudo sociologia
e eu gaguejo;
Eu gosto de tzatziki
e eu gaguejo;

O estacato de uma repetição é uma


percussão imprevisível;

A luta por cada sílaba é um lembrete


que eu não tive sempre essa voz;

Este palco, uma dádiva de holofotes;

Parece que há um novo tipo de privilégio aqui


em ser compreendido pela primeira vez;

Em uma fala
pausada, calma e compassada,
despida de nuances;
Me passar como fluente para poupar
o constrangimento de alguma outra pessoa;

Por muito tempo eu tive medo do meu próprio


nome;
A palavra inventada só para me descrever
eu a deixei sentar pesada na minha garganta
uma ferramenta de traição;

Eu me introduzo e eu gaguejo;
Eu sou um poeta e eu gaguejo;
Eu chamo meus pais e eu gaguejo;
Eu te amo e eu gaguejo;
Eu me amo e eu gaguejo;

O gaguejar é a mais honesta


parte de mim;

É a única coisa que nunca mente;

É assim que eu sei que ainda tenho uma voz;

Que eu ainda estou sendo ouvido;

Eu ainda estou aqui;

Quando eu gaguejo estou falando a minha própria língua


fluentemente;

Quando eu soo dessa forma eu sei que meus entes queridos


podem me encontrar;

É assim que eu falo quando


eu me expresso;

É assim que eu falo!

É assim que eu falo!

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