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Aos que Predestinou, a Estes Também Chamou

John Piper

(Sermão pregado em 20 de outubro de 1985)

Romanos 8:28-30

“28 Sabemos que todas as coisas cooperam para o


bem daqueles que amam a Deus, daqueles que
são chamados segundo o seu propósito. 29 Porque
os que conheceu de antemão, também os
predestinou para serem conformes à imagem de
seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre
muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a estes
também chamou; e aos que chamou, a estes
também justificou; e aos que justificou, a estes
também glorificou”.

Quando os filhos de Deus nos libertamos da compulsão de


auto-exaltação, auto-justificação e auto-preservação, então
vivemos pelo eterno bem de outras pessoas, nos tornamos a
luz do mundo e o sal da terra, e as pessoas percebem em
nós a existência de Deus e dão glórias a Ele (Mateus 5.14-
16). Assim, se o propósito de Deus para nós é cumprido no
mundo – fazer conhecida a sua glória através de vidas de
amor – então devemos encontrar uma arma para vencer o
orgulho e insegurança que alimenta nossa necessidade de
exaltarmos, justificarmos e preservarmos a nós mesmos
com posturas, poses, performances e prosperidade.

A arma que Deus pôs nas mãos de seu povo é a promessa


de Romanos 8.28. “Sabemos que todas as coisas cooperam
para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito”. A confiança em nosso
coração de que o Deus Todo-Poderoso causa tudo o que me
acontece para meu bem é a espada que corta pela raiz a
auto-exaltação, auto-justificação e auto-preservação. Como
verso 31 diz: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”.

Se, pela graça completa de Sua soberana vontade, Deus


tem estado ao seu lado e trabalha toda dor e prazer juntos
para seu bem, então nenhum oponente pode realmente
prevalecer contra você. Então, porque exaltar a si mesmo?
Porque justificar a si mesmo? Porque a dificuldade sobre
preservar a si mesmo? Se o Senhor do Universo prometeu
trabalhar por você, por que estar ansioso sobre o que os
outros pensam? Por que você está sempre em busca de
conforto e segurança? Seu Pai sabe de que você precisa e
Ele trabalha todas as coisas para o seu bem. Deixe sua
exaltação, justificação e preservação nas mãos supremas e
viva em liberdade pelos outros.

Quando o povo escolhido de Deus realmente crê em


Romanos 8.28, da infância até o túmulo eles são o povo
mais forte, generoso e livre no mundo. Se Romanos 8.28
tem este poder na vida diária, então seu fundamento é
completamente prático. Romanos 8.29-30 é este
fundamento. Quanto melhor nós entendermos o texto e
mais crermos nele, mais certeza teremos em Romanos 8.28.
E isto nos fará um povo poderosíssimo e amabilíssimo – para
a glória de Deus!

Hoje nosso foco estará na primeira frase do versículo 30:


“Aos que predestinou, a estes também chamou”. Domingo
passado nós nos concentramos no significado de nosso
“chamado” e o significado de “predestinação”. Hoje eu
quero me concentrar na conexão entre esses dois. Porém,
vamos primeiro lembrar nossas conclusões da semana
passada.

Romanos 8.28 diz que todas as coisas cooperam para o bem


daqueles que “são chamados segundo seu propósito”. O que
significa ser chamado? Significa que Deus dominou a
rebeldia de nossos corações, nos direcionou a Cristo e criou
amor e fé onde antes havia um coração de pedra. O
chamado é eficaz. Cria o que ordena. Não é como “Aqui,
Rex! Aqui!”. É como “Lázaro, vem para fora!” ou “Haja luz!”.
O chamado acontece na pregação da Palavra de Deus pelo
poder do Espírito do Senhor. Sobrepuja toda resistência e
produz a fé que justifica.

Uma evidência chave para esta verdade é a sentença no


versículo 30: “aos que chamou a estes também justificou”.
Somente as pessoas com fé são justificadas. Mas Paulo diz
que os chamados são justificados. Então o chamado deve,
de alguma forma, garantir a fé. Claro! O chamado é a
criação da fé. Portanto, todos os que são chamados são
certamente justificados.

Outra coisa que vimos semana passada foi que este


chamado não é uma resposta a algo que tenhamos feito.
Versículo 28 diz que nós somos chamados “segundo seu
propósito”. O propósito e o plano de Deus são a base do
nosso chamado, não nossos planos e propósitos. Este
propósito é descrito no verso 29. Note que o começo do
versículo 30 é baseado em nossa predestinação: “aos que
predestinou, a estes também chamou”. Então o termo
“chamados segundo o propósito de Deus” no versículo 28 é
virtualmente o mesmo que chamados com base na
predestinação de Deus no versículo 30. Sua predestinação e
Seu propósito são o mesmo.

E o significado disto é dado no versículo 29: “Porque os que


conheceu de antemão, também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos”. O propósito pelo qual nós
somos predestinados é participar da glória do supremo Filho
de Deus. Este propósito ou predestinação é baseado
finalmente em um ato de conhecimento: “Os que conheceu
de antemão, a estes também predestinou...”

E nós argumentamos no culto da noite passado que isto não


quer dizer que Deus baseia sua predestinação em nossa fé
auto-determinada, que Ele conheceu no princípio dos
tempos. Esta interpretação intenta preservar o auto-
determinismo da vontade humana. Mas nós já vimos que a
fé é produzida pelo chamado de Deus, não por um ato
humano de auto-determinação.

O que nós vimos foram muitos outros textos apresentando


que, quando Deus conhece alguém, a este Ele concede seu
favor, ou o possui, ou o escolhe. Então, o significado do
versículo 29 é que “aqueles que Deus livremente escolhe ou
aqueles que Deus livremente concede seu favor, a estes Ele
também predestinou para serem como seu Filho, e aos que
predestinou Ele chamou”. Então o chamado de Deus é
baseado no ato divino da predestinação, que por sua vez é
baseado na eleição ou escolha que Deus fez sem algum ato
ou mérito de nossa parte.

A conclusão da semana passada foi esta: se Deus escolheu


você antes da fundação do mundo sem levar em conta
algum mérito ou atitude em você, te destinou para ser um
glorioso espelho de Cristo e revelou este propósito, chamou
você criando fé e amor por Cristo e ainda te qualificou para
a promessa de Romanos 8:28; então sua confiança nesta
promessa não será bem maior do que se simplesmente ela
descansasse em algo tão enganoso e incerto como sua
vontade e sua decisão? “Chamados segundo seu propósito”
é a grande base da confiança de que Romanos 8.28 é
realmente verdadeiro para nós.

Hoje quero nos confortar na verdade de que nosso chamado


é baseado na predestinação de Deus. Versículo 30: “Aos que
predestinou, a estes também chamou”. Nosso chamado,
nossa conversão, nossa regeneração, o dom da fé, são
baseados na eterna eleição de Deus e na predestinação, não
em nosso livre-arbítrio. O caminho que eu gostaria de nos
levar a isto é observar outros textos do Novo Testamento
que dizem a mesma coisa, de forma que nós veremos quão
grande o fundamento de nossa confiança em Romanos 8.28
realmente está na Palavra de Deus.

Paulo relembra como Elias uma vez achou que era o único
crente verdadeiro assim como na época do Apóstolo, alguns
achavam que Deus rejeitou Seu povo.

Romanos 11.4-8: “ Mas que lhe diz a resposta divina?


Reservei para mim sete mil varões que não dobraram os
joelhos diante de Baal. Assim, pois, também no tempo
presente ficou um remanescente segundo a eleição da
graça. Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra
maneira, a graça já não é graça. Pois quê? O que Israel
busca, isso não o alcançou; mas os eleitos alcançaram; e os
outros foram endurecidos, como está escrito: Deus lhes deu
um espírito entorpecido, olhos para não verem, e ouvidos
para não ouvirem, até o dia de hoje ”.

Note que apenas Deus trabalhou para guardar para si um


grupo de verdadeiros crentes na época de Elias, assim como
ele fez na época de Paulo. E Paulo os chama de um
remanescente “ segundo a eleição da graça ”. O fato é que
há um grupo de pessoas que creem, são nascidos
novamente, convertidos e chamados segundo um ato da
graciosa eleição. Eleição é a base dos remanescente fiel,
não o contrário. O texto não diz que Deus elegeu segundo
quem creu, como o pensamento da eleição baseada na fé
prevista propõe. Não. Versículo 5: “ Assim, pois, também no
tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição
da graça ”. A observação sobre a existência de um
remanescente de verdadeiros crentes concorda com o
propósito divino da eleição. “ Aos que predestinou, a estes
também chamou ”.

2 Timóteo 1.8-9: “ Portanto não te envergonhes do


testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou
prisioneiro seu; antes participa comigo dos sofrimentos do
evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou, e
chamou com uma santa vocação, não segundo as nossas
obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça que
nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos ”.

Novamente Paulo diz que o chamado não repousa em


nossas obras. Ele é segundo o propósito de Deus. Versículo
9: “que nos salvou, e chamou com uma santa vocação, não
segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio
propósito e a graça”. Nosso chamado repousa em Seu
propósito e não nos nossos. E a graça deste propósito foi
“dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos”. Nosso
chamado é baseado na eleição eterna de Deus. “Aos que
predestinou, a estes também chamou”.

2 Tessalonicenses 2.13: “Mas devemos sempre dar graças a


Deus por vós, irmãos amados do SENHOR, por vos ter Deus
elegido desde o princípio para a salvação, em santificação
do Espírito, e fé da verdade”.

O texto não diz que Deus os escolheu com base em sua fé


prevista. Diz o oposto: Deus os escolheu tendo em vista os
salvá-lo pela obra do Espírito e pela fé. A fé auto-
determinista do homem não o leva à eleição de Deus. Pelo
contrário, a eleição o leva à fé. “Aos que predestinou, a
estes também chamou”.

Efésios 2.4-6: “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia,


pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda
mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com
Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente
com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo
Jesus”.

Você pode perguntar: “Onde você vê eleição e


predestinação nesse texto?”. A resposta é vê-lo na palavra
“amor”. Mas você pergunta: “Deus não ama a todos?”. A
resposta é que Ele não ama todas as pessoas do mesmo
modo. O amor mencionado aqui não é o amor universal, que
leva Deus a dar vida, fôlego, sol e chuva. Não, é mais
precioso que isso.

Paulo diz por ESTE muito amor, Deus nos vivificou quando
ainda estávamos mortos. Agora, se Deus amou a todos com
este amor, todas as pessoas seriam vivificadas em Cristo e
todos seriam salvos. Quando Paulo glorificou o amor de
Deus por ele em Jesus Cristo, ele não glorificou meramente
a OFERTA de salvação a todos que vierem a Cristo. Ele
glorificou a profundíssima e maravilhosa verdade com que
Deus o levou a Cristo. Antes ele estava morto no pecado.
Agora ele vive. E a origem deste milagre é o amor de Deus.
E, desde que Deus não realiza este milagre em todos, isto é
um amor eletivo. Assim, a eleição é clara nesta passagem e
é a base da nossa conversão, da nossa regeneração e da
nossa fé. “Aos que predestinou, a estes também chamou”.

1 Coríntios 1.26-31: “ Porque, vede, irmãos, a vossa


vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne,
nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são
chamados. Mas Deus escolheu as coisas loucas deste
mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas
fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus
escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as
que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma
carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus
Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça,
e santificação, e redenção; para que, como está escrito:
Aquele que se gloria glorie-se no Senhor ”.

Considere seu chamado. Isto é, olhe ao redor de você em


Corinto e veja que tipo de pessoas se tornaram cristãos.
Considere quem tem sido chamado de forma eficaz pela fé.
O que você vê? Não muitos sábios, ou poderosos, ou nobres.
Por que não? Porque Deus é o único que escolhe quem será
salvo em Corinto, e Deus intenta escolher de uma forma que
eliminará o caminho da auto-exaltação. Três vezes Paulo diz
“Deus escolheu”. Deus não permite a ideia da salvação pela
determinação do homem porque então nós determinaríamos
a construção da igreja e teríamos algo para nos gloriarmos.

Versículo 30 diz literalmente “vós sois dele, em Jesus Cristo”.


Nós não colocamos a nós mesmos em Cristo Jesus. Deus
trabalhou em nós de forma que nós estivéssemos unidos a
Cristo em fé. Por quê? Para que ninguém se glorie perante
Deus. Portanto, deixemos que aquele que se glorie glorie-se
no Senhor! Deus fez as escolhas em Corinto. E com base
nestas escolhas, Ele chamou, isto é, uniu pessoas em Cristo.
“Aos que predestinou, a estes também chamou”.

Atos 13.47-48: Paulo está pregando na sinagoga em


Antioquia da Pisídia. Quando o sermão termina, Lucas faz
um comentário que nos mostra sua profunda harmonia
teológica com os escritos paulinos. Paulo termina sua
pregação com estas palavras:

“Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz


dos gentios, A fim de que sejas para salvação até os confins
da terra. E os gentios, ouvindo isto, alegraram-se, e
glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos quantos
estavam ordenados para a vida eterna ”.

Isto é idêntico ao que Paulo diz em Romanos 8.30. “Aos que


predestinou, a estes também chamou” quer dizer o mesmo
que “ e creram todos quantos estavam [pré]ordenados para
a vida eterna”. A doutrina da predestinação de Paulo não o
deteu de seu trabalho missionário mundial. Pelo contrário, o
estimulou saber que Deus tinha muitas pessoas entre as
nações que seriam chamadas de forma eficaz pela pregação
do evangelho (Atos 18.10). Aos que Deus predestinou, Ele,
com certeza absoluta, chamará. Nisto reside a esperança e
confiança do todo o investimento missionário.

João 8.46,47; 10.25-27: Jesus repetidamente apresenta a


questão no evangelho de João do porquê de algumas
pessoas crerem e outras não. Ele nunca dá a popular
resposta de que depende do poder humano de auto-
determinação. Jesus remete repetidamente a algo bem mais
profundo.

“Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a


verdade, por que não credes? Quem é de Deus escuta as
palavras de Deus; por isso vós não as escutais, porque não
sois de Deus ”. (8.46-47)

O que leva uma pessoa a desejar e crer nas palavras de


Deus repousa em algo bem mais profundo. A pessoa é DE
DEUS ou não é DE DEUS? Isto é, a pessoa é escolhida de
Deus? Nascida de Deus? Filha de Deus? Não importa quais
sejam o “de Deus” ela desejará ouvir. Todos quanto estão
ordenados para a vida eterna creram. “Aos que predestinou,
a estes também chamou”.

“As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas


testificam de mim. Mas vós não credes porque não sois das
minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. As minhas ovelhas
ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem ”.
(10.25b-27)

“Vós não credes porque não sois das minhas ovelhas ”. Note
que não diz “vocês não são das minhas ovelhas porque não
acreditam”. Pertencer a Jesus não é baseado em minha fé.
Eu devo crer para evidenciar que sou das ovelhas de Jesus.
E se eu persistir na incredulidade, então mais
evidentemente eu não sou das ovelhas de Jesus. Deus me
fez uma ovelha de acordo com a eleição da graça que me foi
dada em Cristo Jesus há muito tempo. E quando as ovelhas
ouvem o evangelho, elas acreditam. Aos que ele predestinou
a serem ovelhas, Ele também chamou à fé de modo eficaz!

A conclusão que eu tiro então é que há uma gigantesca


fundamentação no Novo Testamento para a verdade de
Romanos 8.30, que o chamado de Deus é baseado em Sua
predestinação, e que a predestinação não é baseada em
nada em nós. Não é em nossa dignidade como pessoas
(assim todos se qualificariam) nem em nossa fé (que é um
dom de Deus). Nossa eleição é incondicional. Aos que ele
conheceu de antemão, a estes também predestinou e aos
que predestinou, a estes também chamou.

Implicações

1. Nós somos confrontados com a escolha entre uma


popular especulação filosófica de um lado e a persuasiva
doutrina bíblica do outro. A filosofia popular diz que nós
devemos ter o poder de auto-determinação definitivo para
que possamos responder por nossas escolhas. A Bíblia, por
outro lado, deixa claro em uma centena de passagens que
não há poder de auto-determinação e a salvação nada tem a
ver com a responsabilidade por nossas escolhas. Você
seguirá a filosofia humana ou a Bíblia? A Bíblia já ganhou
sua confiança o bastante para que você submeta seus
conceitos aos julgamentos dela? Ou continuará a submetê-la
aos seus?

Uma das críticas que algumas vezes são feitas contra


aqueles que abraçam as doutrinas da eleição incondicional e
soberania da graça é que somos escravizados pela lógica e
dirigidos por um racionalismo inexorável, que nos força a
dizer coisas sobre Deus que não são ensinadas nas
Escrituras. Eu suspeito que seja verdade para algumas
pessoas.

Mas minha experiência me diz que o oposto também é o


caso. Recentemente, perguntei para um amigo como ele
interpretava as palavras de Atos 13.48: “ creram todos
quantos estavam ordenados para a vida eterna”. Ele disse
“oh, eu interpreto isso à luz de todos os outros textos
bíblicos que ensinam que o homem tem o poder final de
escolha”. Então eu perguntei “Como assim? Você poderia
me dar um exemplo de um texto desses?”. Ele disse “Bem,
não, mas está implícito em todos os lugares”.

O que se torna claro depois de uma pequena discussão foi


que ele ASSUME, ele PRESSUPÕE que você não pode ter
explicação sem a auto-determinação do homem, tanto que
em todo lugar que vê explicação na Bíblia, ele vê o poder
final da auto-determinação do homem.

Nós somos apresentados a uma escolha crucial: iremos


deixar a Bíblia nos ensinar coisas que são estranhas ao
nosso modo de pensar? Ou iremos jogar nossas ideias pré-
concebidas no texto e dizer “Assim não pode ser. Isso não se
encaixa com minhas suposições”?

2. As doutrinas da eleição incondicional, predestinação e


chamado eficaz tendem a eliminar todo orgulho, soberba e
auto-confiança. Eu já discuti muitas vezes com outros
teólogos que dizem “você não precisa lançar fora a auto-
determinação final para tirar o orgulho. Tudo o que você
precisa fazer é insistir na FÉ para salvação ao contrário de
obras meritórias”. Eles argumentam a partir de Romanos
3.27 que a fé exclui o orgulho. Então você não precisa dizer
que a fé é um dom a fim de eliminar o orgulho, a soberba e
a auto-confiança.
Minha resposta tem duas partes. Primeiro, eu não me sinto
dirigido pela lógica para chamar a fé de dom com o objetivo
de cortar meu orgulho; eu me sinto dirigido pela exegese. O
Novo Testamento ensina que nós estamos mortos em nossos
pecados e devemos ser chamados de forma eficaz. A fé
ordenanda também deve ser criada se alguém tem de ser
salvo. Eu não insisto nesta ideia porque eu acho que é um
bom meio de destruir o orgulho. A Bíblia ENSINA isto. E isto
ajuda a sobrepujar o orgulho.

Em segundo lugar, eu acho que a razão pela qual uma


genuína fé neotestamentária elimina nossa vaidade é que é
uma confiança em Deus; não apenas pela provisão da
salvação na cruz, mas também por aplicar a salvação em
meu coração. Em outras palavras, minha fé não diz apenas
“Eu escolho crer em Cristo”. Ela também diz “Eu escolho
crer que Deus Pai me levou a Cristo e me deu o desejo de
crer em Cristo” (João 6.44,65). Ou, falando de outra maneira,
a fé repousa em toda a verdade bíblica, não apenas em uma
parte dela. A fé elimina todo orgulho, soberba e auto-
confiança precisamente a ponto de que é uma fé que Deus
fez por nós o que não poderíamos fazer por nós mesmos – o
que inclui a vontade de crer. A fé crê num Deus que fez tudo
na salvação, não apenas uma parte da salvação. E a
salvação inclui nosso chamado eficaz que criou nossa fé.

Você estava se afogando e o Filho de Deus jogou um tubo de


respiração ao seu lado. Você nadou vigorosamente até ele, e
pôde chegar à margem, então você deveria agradecê-lo.
Você não ganha crédito algum pelo tubo de respiração.

Mas suponha que você tem sido um inimigo de longa data


dele, e você estava morto no fundo de um lago. Ele te
encontrou, te trouxe à superfície e se esforçou tanto para te
trazer à vida, que terminou exausto ao seu lado e morreu.
Então, suponha que, quando você se ajoelhou sobre o corpo,
com lágrimas de amor descendo por sua face, você ouve
uma voz vinda do céu dizendo: “Este é meu Filho amado, em
quem me comprazo. Levante-se, meu Filho!”. Ele se levanta
e aproxima-se, te olha com a mais profunda afeição que
você já viu. Toma sua mão e lhe puxa firme e gentilmente
para seu lado e diz: “Siga-me, e eu farei todas as coisas
cooperarem para seu bem pelo resto de sua vida”.

Qual é a sua ideia de como você foi salvo? Pode ser que
muitos dos problemas de sua vida se devem ao fato de que
você nunca entendeu como foi salvo – ou talvez você nunca
foi salvo?

3. As doutrinas da soberania de Deus tendem a produzir


humildade, submissão e paciência entre todos que as
abraçam. Efésios 4.1-2 diz “ Rogo-vos, pois, eu, o preso do
Senhor, que andeis como é digno da vocação com que
fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com
longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor”.
Uma das razões pelas quais um chamado altíssimo produz
uma caminhada submissa é que a decisão de Deus de nos
chamar ao Seu Reino não se deve a absolutamente nada em
nós mesmos.

Uma vez que está gravada em seu coração a certeza de que


Deus o escolheu para a salvação antes que você cresse ou
tivesse feito alguma coisa pra isso, sua tendência a se
orgulhar ante as outras pessoas será cortada pela raiz “Que
tens tu que não tenhas recebido?”, Paulo diz. “E, se o
recebeste, por que te glorias, como se não o houveras
recebido?” (1 Coríntios 4.7).

Uma criança que ganhou dois carrinhos de Natal pode


rebaixar seu irmão que ganhou apenas uma carrinho SE
seus pais baseassem nos merecimentos dos filhos ou nas
decisões das próprias crianças. Mas se as escolhas foram
feitas sem levar em conta qualquer merecimento das
crianças, se as escolhas deles foram feitas por sabedoria e
bons propósitos que estão além da capacidade das crianças
em entender, então humilhar o irmão é proibido. O meio
mais humilhante de ser tratado em todo o mundo é ser
tratado com absoluta misericórdia.

4. Se a doutrina da soberania de Deus é verdadeira, então


Ele realmente pode cumprir sua aliança de escrever Sua lei
em nossos corações (Jeremias 31.33), nos fazer caminhar
nos Seus estatutos (Ezequiel 36.27) e nos conformar à
imagem de Seu Filho (Romanos 8.29). Se Deus desse o
poder final à nossa auto-determinação, Ele talvez não fosse
capaz de cumprir Suas promessas de que um dia haveriam
pessoas que realmente O obedeceriam.

Se todas as pessoas no mundo realmente tivessem o poder


de determinação final e decidissem usá-lo para se rebelar
contra Deus, Ele nada poderia fazer sobre isso. O único meio
que a promessa de Deus de um povo com novos corações
de obediência pode ser garantida é dizer que Deus
sobrepujará a auto-determinação pecaminosa das pessoas,
dará a elas novas corações e as fará caminhar em Seus
caminhos. E assim, a doutrina do chamado eficaz de Deus,
baseada em sua eleição incondicional é o grande
fundamento da nossa confiança de que Ele cumprirá para
nós as promessas da nova aliança: “ E lhes darei um mesmo
coração, e um só caminho, para que me temam todos os
dias” (Jeremias 32.39).
5. Também a promessa missionária de que um dia haverão
crentes de toda tribo, língua, povo e nação adorando a Deus
no Reino – esta promessa não teria garantia se a salvação
repousasse definitivamente nas mãos da auto-determinação
dos seres humanos. O fato de Deus ter o direito e o poder de
chamar eficazmente quem Ele desejar, de todo grupo étnico
da Terra, é a sólida fundação de nossa confiança de que a
Grande Comissão não será frustrada pela dureza do coração
humano. As doutrinas da graça são a dinamite de Deus nos
lugares difíceis da evangelização mundial.

6. A soberania de Deus na salvação fortifica a verdadeira


segurança do crente. Se você acredita que Deus te escolheu
desde toda eternidade, que Ele te predestinou para partilhar
a glória de seu Filho e que Ele então trabalhou
miraculosamente para te chamar da morte para a vida,
fazendo você crer em Cristo, então sua confiança de que Ele
é por você e completará a obra de Sua salvação, que foi
planejada eras atrás, é simplesmente tremenda.

Mas se você apenas acredita que Deus definiu um caminho


geral de salvação sem qualquer indivíduos particulares em
vista e que, assim, você poderia ser parte desta salvação ou
não, então sua segurança descansará numa fundação
fraquíssima. Eu tenho como algo muito precioso saber
através de Deus que minha vida eterna é baseada em Sua
decisão pessoal eterna de me dar uma porção na glória de
Seu Filho e que minha grande fé é parte de Seu esforço
onipotente para cumprir este propósito para mim. Que
segurança maior pode existir?

7. O trabalho do pregador é indispensável e invencível.


Paulo diz em 2 Timóteo 2.10: “ Portanto, tudo sofro por amor
dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação
que está em Cristo Jesus com glória eterna”.

Os escolhidos definitivamente OBTERÃO salvação: aos que


conheceu de antemão, a estes também predestinou; aos
que predestinou, a estes também chamou; aos que chamou,
a estes também justificou e aos que justificou, a estes
também glorificou. Ninguém pode enganar os escolhidos
(Mateus 24.24). Portanto, a pregação é invencível.

Entretanto, Deus ordenou que a forma pela qual os eleitos


serão preservados do erro e da incredulidade e também
obter salvação é através da pregação da palavra e por
oração. Assim, Paulo diz que ele tudo sofre por amor dos
escolhidos, para que eles alcancem a salvação. A pregação
de Paulo é o meio escolhido por Deus para preservar a fé
dos eleitos pela edificação da palavra. A pregação aos
eleitos é indispensável – está a forma ordenada por Deus
para sustentá-los até o fim; e a pregação é invencível – a
ovelha sempre ouve a voz do verdadeiro pastor e responde.

9. A não ser que você aceite a doutrina da eleição


incondicional, da predestinação e do chamado eficaz, você
nunca compreenderá plenamente o significado da graça e
nunca dará a Deus a glória da qual Ele é digno.

Nós a chamamos de “graça soberana” porque graça não é


meramente uma oferta de salvação; é também um poder
que salva. Paulo deixa isto muito claro em Efésios 2.5,6.
“Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou
juntamente com Cristo (PELA GRAÇA SOIS SALVOS), e nos
ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos
lugares celestiais, em Cristo Jesus”. A razão de Paulo inserir
esses parênteses foi ensinar-nos que a graça é um poder
que ressuscita os mortos e, portanto, é TOTALMENTE
imerecida.

Nós nunca sentiremos a maravilha completa da graça até


que desistamos da nossa ideia de que damos a palavra final
em nossa salvação. Nunca seremos sinceros em relação à
soberania de Deus em nossas vida se daremos a Ele toda a
glória por nossa salvação até que reconheçamos que somos
tão inúteis que Ele teve de fazer tudo.

Lucas nos conta uma história sobre Herodes no livro de Atos.


Um dia, ele vestiu seus trajes reais, tomou seu lugar no
trono e fez um discurso aos visitantes de Sidom e Tiro. O
povo, querendo agradar Herodes, começou a gritar “voz de
Deus, não de homem”. Lucas diz que imediatamente um
anjo do Senhor o feriu, porque ele não deu glória a Deus; ele
foi comido por vermes e morreu (Atos 12.23).

Diante disso, eu pergunto: se a ira de Deus se voltou contra


um homem que não deu glórias a Ele por algo tão pequeno
como o dom da oratória, quão grande é o perigo sobre as
cabeças daqueles que se recusam a glorificar o Senhor pelo
muito maior dom da fé?

Traduzido por: Josaías Cardoso Ribeiro Jr

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