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E. M. MOORE
SINOPSE
“Mas...”
Ela não está mais tão faladora. Agora que ela está com
a cabeça recebendo golpes.
1 No original é Womb Warrior que significa “um bebê que sobreviveu a um aborto”.
jogo minha bolsa em cima da mesa, para que eles possam
percorrer o conteúdo enquanto passo pelos detectores. Juro
por Deus que o guarda que checa minha bolsa lambe os
lábios e acaricia o absorvente que tenho lá. Assustador do
caralho. Ele me dá um sorriso cheio de dentes e eu
praticamente arranco minha bolsa das mãos dele e vou
embora.
Não que você saiba disso pelo olhar em seu rosto agora.
Ele parece convencido como toda merda.
Minha tia e meu tio não têm ideia do por que diabos
estou aqui. Eles acham que estou jogando minha vida fora
em uma escola de merda que não impressionará nenhuma
faculdade. Eles estão errados. Bem, eles estão certos. Rawley
Heights não impressiona ninguém, mas não estou jogando
minha vida fora. Estou me certificando de que realmente
tenha uma. Uma onde eu possa viver sem arrependimentos.
Sem terror. Sem o ‘e se’.
Ela odeia que eu esteja aqui, mas também sei que ela e
meu tio nunca quiseram ter filhos. Eles me acolheram depois
que meus pais morreram porque é isso que você faz, mas eu
nunca me encaixei com a vida de luxo deles, e não preciso
de nenhum vínculo com essa vida aqui. Assim que terminar
aqui, voltarei a ser filha de Kyle e Anna novamente. Voltarei
à vida que deveria estar vivendo esse tempo todo. O que
significa que esta precisa ficar completamente separada da
outra. Elas não podem se misturar. Ninguém pode descobrir
quem eu realmente sou.
Seus olhos ardem com perguntas, mas ele não diz nada,
pois facilmente lê o que pode ver atrás de mim. Eu levanto o
papel alumínio no prato e encontro um monte de biscoitos
de chocolate recheados dentro, juntamente com um cheiro
de queimado bem distinto vindo deles. Empacoto-o de novo
e coloco na mesinha do lado de dentro da porta.
“Eu não tenho pais”, digo a ele. É bom não mentir sobre
isso. Eu até deixei sair uma parte da minha raiva natural por
causa disso.
Ele não faz isso como algo perspicaz, então eu olho para
ele. “Você parece pensar que isso foi engraçado.”
Não.
“Seu pescoço está todo vermelho”, ele observa com uma
voz rouca.
“Casada?”
“Seus caras?”
“OK…”
“Cherry.”
“Apresente-me o que?”
“A menos que você esteja dando o fora”, diz ele. Ele olha
em volta do meu apartamento vazio. Meu estômago aperta.
Pode ser eu, mas acho que ele vê mais do que deveria. Ele é
perspicaz. Ele nunca está apenas olhando para a superfície.
Se Brawler está olhando para você, ele está indo fundo.
“Eu não posso sair”, digo a ele. “Eu moro aqui agora e
não quero mais me mudar de novo.” A ironia que estou
argumentando para ficar nesse buraco de merda não está
perdida para mim. Eu sou provavelmente a única neste
mundo que escolheria esta vida em detrimento da outra
esperando por mim se eu optar por voltar a ela.
3 Associação de pais.
Arrepios se espalharam pelo meu corpo. Passo as
palmas das mãos sobre a pele, tentando acalmar os calafrios,
imaginando quantos alunos da escola fugiram por causa do
que a Heights Crew está fazendo aqui. Se você pensar bem,
é a configuração perfeita. Eles possuem as pessoas aqui. As
lutas mantêm todos na linha e garantem que apenas os mais
fortes sobrevivam. Dá a caras como Rocket a oportunidade
perfeita de escolher as melhores pessoas para se juntar às
fileiras da Heights Crew. Sem mencionar o dinheiro que eles
ganham com tudo isso.
“Você não acha que ela vai saber tudo sobre mim?”
“Se eu não sei nada sobre Cherry, por que eu diria algo
sobre mim? Algo que você poderia levar de volta para ela?”
Eu odeio ter que ser essa outra pessoa. Essa pessoa que
age como se tivesse medo de tudo. Eu quase não tenho medo
de nada. A pior coisa possível já aconteceu comigo, então o
que há para ter medo? A Heights Crew? Por favor. A pior
coisa que eles poderiam fazer comigo é me matar, e quem se
importaria?
Ela não está mais tão faladora. Agora que ela está com
a cabeça sendo socada.
“Estou bonita?”
“Rocket?” Eu pergunto.
“Se você acha que eu vou embora, você não tem ideia do
tipo de pessoa que eu sou.”
“Obviamente, eu não tenho porra”, ele ferve. “Você vem
à cidade usando sacos de lixo extragrandes com essa atitude
humilde. Então, quando você entra no ringue, destrói
Cherry. Ele pode ter escolhido você por causa disso, mas ele
não vai deixar isso passar. Ele vai punir você por isso.” Ele
solta um suspiro, seu olhar severo vacila. “Do que diabos eu
estou falando, porra? Ele estará punindo você, não importa
o quê. Você será temida e odiada. Você será colocada em um
pedestal, mas tratada como merda nas sombras e atrás de
portas fechadas. Você...”
“Eu tenho olhos”, ele fala. “Isso é tudo que preciso.” Ele
respira fundo, checando a porta atrás dele. “Você deveria ir
embora. Diga a seus guardiões que não é seguro para você
aqui. Ou, se eles são uma mentira, que eu suspeito que seja,
você seria esperta em dar o fora. Ficar aqui é estúpido.”
Ele vem até mim para pegar minha mão como ele fez
antes. Ele a leva aos lábios, passando-os pelos meus dedos.
“Você lutou como uma campeã.”
“Você é segurança?”
Ele assente, mas não diz outra palavra. Ele apenas fica
olhando para mim, o que é tão irritante quanto parece.
“Princesa?”
“Você quer dizer que é uma pena que não foi Nevaeh
cuja bunda eu chutei.”
“Eu faço isso”, diz outra voz. Sem nem olhar, eu sei que
é de Brawler. “Ela mora no meu prédio.”
“Como ele vai saber? Não direi nada.” Cada vez mais,
ser a garota de Rocket está irritando meus nervos. Eu
realmente não preciso de uma babá ou de duas babás ou de
alguém que pense que é o meu dono só porque ele gosta do
jeito que eu luto.
“Kyla.”
“Princesa Kyla.”
“Não.”
“Ele disse.”
“Posso entrar?”
Opa.
De jeito nenhum.
De jeito nenhum.
“Vinte e um.”
Por outro lado, outra voz me diz que, como Johnny está
praticamente na mesma posição, ele faz a mesma merda.
Talvez ele tenha matado pessoas inocentes. Talvez ele tenha
arruinado a vida de uma garotinha pela Heights Crew.
Decisões, ações, elas têm consequências. Ninguém pensa até
onde essas consequências podem chegar enquanto estão no
meio dela, mas vai muito além da ação, do momento em que
está. Num segundo, sou apenas uma criança feliz, sem me
importar com o mundo. No próximo, estou com sede de
vingança. Eu viro minha vida inteira de cabeça para baixo.
Preocupo a porra da minha tia e tio. Essas consequências
não ficarão apenas no seu lugar também. Toda decisão que
tomo - e cada uma dessas consequências - agora é uma
consequência da ação do Big Daddy K.
Coloco a mão sobre o estômago para não exagerar,
embora na minha cabeça já esteja lá. Eu odeio estar presa a
ele dessa maneira. Eu só quero terminar tudo e acabar com
isso.
Não sei por que, mas espero que ele seja tão vítima disso
quanto eu. Talvez todo mundo ligado a Heights Crew também
seja uma vítima. De seus arredores. De suas circunstâncias.
De sua educação.
Eu expiro. “Obrigada.”
“Eu também disse que ainda não posso ter você”, ele diz.
“Você acha que eu vou sentar e esperar?”
Eu concordo.
Não sei o que diz sobre mim que entendo o que ele está
fazendo. Eu entendo o código pelo qual todos eles vivem. Não
estou dizendo que concordo com isso. Johnny acha que me
quer, mas não quer. Se ele o fizesse, ele não iria brincar
comigo, e ele não deixaria seu pai dizer alguma coisa idiota
sobre não me tocar até que ele subisse de posto.
“Eu sei”, ele rosna. Ele passa a mão sobre sua barba cor
de cobre.
“Kyla?”
Eu concordo.
Foda-me.
Por outro lado, Brawler sabe como estou presa. Quer ele
saiba a razão disso ou não.
Estou dentro e não estou saindo.
“Como é a aparência?”
“Sim”, diz ele, com voz firme, como se nunca tivesse tido
tanta certeza de algo a vida inteira.
Ele concorda.
“Baby?”
“Oscar?”
Ha. Literalmente.
Minha boca cai. Ainda bem que ele não está olhando
para o meu rosto agora. Sua cabeça está enterrada na dobra
do meu ombro enquanto ele respira fundo. Não pensei que
Johnny fosse do tipo que perguntava se ele poderia beijar.
Eu o tomei como o tipo que apenas pegaria o que queria. Por
que todos esses membros da Crew são tão difíceis de
entender?
“Eu...”
“Eu tenho que ir”, diz Johnny. “Oscar vai ficar com
você.”
“Sério?”
“Sim”, diz ele, sua voz sem desculpas. “Rocket nos deu
as chaves.”
“Sim. Você não vai ouvir muito sobre isso, porque aqui,
a Crew é tudo. Temos um jogo amanhã e, se você notar na
escola, ninguém se importa.”
“E o Heights tem?”
Não é à toa que me senti como se ele fosse como eu. Nós
dois estamos presos. A única diferença é que eu pretendo dar
o fora.
“Ele não quer que você seja como todo mundo.” Após
uma pausa pesada, ele diz: “É novo em folha. Pegamos na
loja de móveis do outro lado da cidade, no caminhão de
Pedro.”
“É bom”, murmuro, olhando e sem saber o que dizer. Eu
não estou acostumada a isso. Seja o que for que Johnny seja,
não posso dizer que ele não é observador... e cuidadoso? Ele
deve ter visto como os meus móveis eram escassos e queria
me dar mais.
“Porra, se eu souber.”
“As lutas?”
Ele concorda.
“Por quê?”
“Esta noite.”
“Sobre?”
Ele é louco.
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“O que faz você pensar que ela iria querer beijar você?”
Johnny pergunta. Em sua pergunta, ciúme, raiva e incerteza
se misturam.
Quando ele não diz mais nada, eu olho para ele. Ele tem
um olhar distante no rosto, como se estivesse se lembrando
de algo. Ou passando por alguma coisa. “Parece que você
sabe disso”, eu digo, hesitante.
“Parabéns.”
“Nada.”
“Eu quero ser eu”, eu digo. Ele nunca saberá isso, mas
eu quero ser eu, não Kyla. Não é o nome que inventei para
vir aqui, mas quero ser a garota dona de si vivendo a vida
que eu deveria ter. Alguém que está no comando de seu
próprio destino. Alguém que teria visto Brawler em uma
academia e teria se interessado imediatamente. Alguém que
teria a escolha de ir até ele.
Ele não tem ideia do quanto eu quero que ele faça isso,
mas não posso. Eu simplesmente não posso. Para mim,
ceder não significa apenas que, se Johnny descobrir, ele
provavelmente nos matará. Ceder significa que estou dizendo
que Brawler é mais importante do que o que eu vim fazer
aqui.
“Então vá embora.”
“Sim?”
“Kyla não tem nada a ver com isso.” Ele aperta minha
mão como se quisesse me proteger disso.
“Não”, diz Mag, a voz severa. “Eu sei que você quer. É
por isso que estou tirando você daqui.”
“Foda-se não.”
Isso é bom, filho, mas você não pode transar com ela até
que eu diga.
“Hum, o que?”
Ele pega uma varinha de detecção de metal preto que
fica sobre uma mesa - a única peça de mobiliário no
corredor.
A pior parte, não sei como vou reagir quando eu ver ele.
Sob tudo isso, eu o vejo pelo monstro que ele é. Pelo cara
que matou duas pessoas inocentes porque lhe convinha.
Eu o odeio.
Eu odeio ele.
“Esta deve ser Kyla?” Ele diz, aquele forte tenor que ouvi
quando entrei enchendo a sala como se ele estivesse
acostumado a isso.
Foda-se.
Um por um, os caras saem da sala. Oscar é o último,
acenando para mim quando sai. Parece que ele está tentando
me dizer algo, mas não tenho ideia do que possa ser.
Ele olha para mim, olhos intensos. “Eu acho... bem, que
há algo de estranho em você.”
Bem, porra.
22
“Seus guardiões?”
“Pais?”
“Mortos.” Eu engulo, minha voz sombria até para meus
próprios ouvidos.
“Ela é.”
Mesmo que essa seja a última coisa que quero fazer, fico
de boca fechada.
“Espere”, diz ele, sua voz alta o suficiente para ouvir logo
acima do motor ronronando.
Porra.
Por outro lado, como ele não tem alma, ele não se
importa. Ele não tem sentimentos existentes dentro dele.
Este é o cara que eu tenho que me sujeitar.
“Eu não sou inocente”, digo a ele, sem saber por que
estou escolhendo comentar essa parte do discurso dele e não
outra coisa.
Oscar pisca, mas ele não se afasta. Ele desliza uma mão
em volta de mim. “Mostrar a você que só porque sou parte
da Crew, não significa que sou como o resto deles.” Ele
engole. “Ou talvez eu esteja apenas me mostrando.”
Oscar ri. “Não vamos mais fingir, cara. Você gosta dela
pra caralho. É obvio. Vocês podem até já ter fodido.” Oscar
olha para mim em busca de confirmação.
Eu juro que paro de respirar. Irracionalmente, eu me
pergunto se Johnny tem escutas nesse lugar. Ou isso é
irracional? Parece exatamente algo que ele faria em um
esforço para me manter segura. Por outro lado, os caras que
ele escolheu para me manter em segurança têm feito mais
do que isso. Eles estão abrindo um caminho e entrando na
minha vida.
“Por quê? Porque você quer Oscar?” Toda vez que ele diz
isso, sua voz soa tão incrédula. Como se eu pudesse querer
Oscar mais que ele.
“Oscar?”
“Eu também não transei com ele. Por que é disso que
estamos falando?” Eu pergunto honestamente. “Não
deveríamos estar discutindo a luta? Você não deveria estar
me dizendo a melhor maneira de derrotar o pessoal de Fonz?
Quem você acha que ela vai enviar para me enfrentar?”
Ele balança a cabeça. “Eu vou falar sobre tudo isso com
você, mas Cristo, Kyla, eu estava como um zumbi do caralho
na semana passada. Não consigo tirar da cabeça que você
estava deitada ao lado dele quando não tenho permissão
para isso, e sinto muito, mas não vou passar por isso até
obter respostas.”
“Johnny?”
Eu engulo. “A torre?”
“Kyla...”
“Kyla.”
Certo? Certo.
“Cadela!”
Isso faz meu coração doer por ele. Sendo pego em tudo
isso, ele não sabe o que são sentimentos verdadeiros. Ele não
conhece a pura felicidade de ter alguém se preocupando com
você, ou a mágoa quando esta pessoa lhe é tirada. Eu acho
que é uma coisa boa que se pode dizer por perder alguém.
Pelo menos você sabe o quanto isso significava quando você
ainda o tinha. Pelo menos, diz que você amou alguém com
tanta energia que faz você querer morrer por dentro quando
eles se vão. Tenho a sensação de que Johnny nunca sentirá
isso.
“Sim”, eu digo.
Justo quando acho que ele vai sair, ele fica enquanto eu
abro a porta, enviando um calor através de mim. Brawler se
levanta da poltrona, seu olhar me olhando duro. Johnny
pressiona uma mão nas minhas costas, me introduzindo
quando a última coisa que quero fazer é confrontar Brawler.
“Adeus baby.”
“Jantar e um filme?”
“Eu disse que não quero falar sobre essa maldita luta.”
Eu concordo.
Do jeito que ele diz família, eu sei que ele não se refere
apenas a ele e ao pai. Ele se refere à própria gangue. É tudo
o que ele tem. Tudo o que ele conhece.
Talvez ele não seja salvável. E mesmo que fosse, ele não
será quando descobrir que eu matei o pai dele.
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“Eu sei que sim”, ele diz, tendo a reação que eu gostaria
que Johnny tivesse tido no outro dia e usando isso para
acalmar meus nervos. Seu olhar diz todo o resto. Me
desculpa por estar nesta bagunça. Me diz que ele espera que
eu não me machuque muito. Me diz que ele gostaria que
fosse ele quem estivesse lutando lá em vez de mim. Em vez
de dizer tudo isso, ele pergunta: “Você se aqueceu?”
“Sim.”
Eu também, no entanto.
Ele vem para mim. Bloqueio seus socos até que ele me
dê um chute no estômago e volto cambaleando. Mesmo com
a adrenalina bombando em mim, essa porra doeu.
Porra!
“Está tudo bem, está tudo bem”, diz uma voz perto do
meu ouvido. Leva muito tempo para descobrir que é Johnny
quem me tem. Ele me traz de volta para o nosso lado do
círculo enquanto Big Daddy K está de pé, caminhando em
direção ao centro.
“Você acha que eles não sabem onde você mora?” Ele
pergunta. “Eles sabem sobre você desde que Big Daddy K
jogou você para os lobos. Este lugar aqui é projetado com
tanta segurança que é basicamente impossível penetrar.
Seria necessário uma bomba para chegar até nós e nenhum
dos caras de Roza é tão inteligente quanto Rocket.”
“Eu sei.” Ele faz uma careta quando vira o braço para
olhar a ferida. “O filho da puta me pegou quando estávamos
entrando no carro.” Ele puxa a camisa por cima da cabeça e
a envolve no ponto de entrada. “Eu acho que foi só de
raspão.”
“Magnum.”
Onde eles estão? Onde eles estão? Eles têm que estar
aqui.
Flashes da briga com armas passam pela minha cabeça.
Pela primeira vez, me permito pensar que as pessoas não
sobrevivem a merdas como essa. Provavelmente há mais
mortos do que vivos. Não era um jogo para nenhum deles lá.
Eles estavam atirando para matar. Eles não se importavam
com quem morreria.
“Kyla?”
Ele.
FIM.