Conheci Pola há um ano e meio, e desde o primeiro minuto gostei dela.
Mas, apesar de tudo (até dos presentes que mandei), ela não me dava bola. Não adiantava. Ela estava apaixonada pelo pilantra do Aurélio. Se eu quisesse ter Pola para mim precisava afastar o bandido − que a cercava de mimos − e também os outros, o Dibinho e o Cássio, seu primo. Então, bolei um plano de primeira: eu mataria Dibinho, coitado, tão fraquinho! E, usando minha autoridade e meus informantes, espalharia o boato de que o matador fora o Aurélio. Cássio, quando soubesse disso, mataria Aurélio. E fugiria para aquele fim de mundo onde mora sua família. Eu então ficaria com Pola e com a grana dos dois mortos. Com um pouco mais de sorte, punha toda a polícia no rastro de Cássio, e pegaria o dinheiro dele também. No dia 24 de janeiro comecei a agir. Liguei para Dibinho, disse a ele que tinha umas informações quentes e marquei um encontro para dali a uma hora. Era o tempo que eu precisava para entrar no apartamento de Cássio e pegar uma coisinha qualquer para plantar no elevador onde o Dibinho ia morrer. Então fui até o apartamento e Cassio estava lá, quase que ele me viu, foi por pouco. Esperei ele sair para eu entrar. Logo depois fui para o local marcado, e Dibinho estava lá me esperando. Coitado! Mal sabia o que o esperava. Contei a ele as informações, que claro era tudo parte do meu plano. Percebia pelo seu semblante o quanto estava intrigado, ele então me disse que iria resolver algumas coisas, e nessa hora tudo iria acontecer, não tinha como meu plano dar errado, tudo estava caminhando conforme planejei. Entramos no elevador e num piscar de olhos ele já estava caído no chão ensanguentado, coloquei a prova coletada do apartamento de Cassio e fui embora, o mais rápido possível, para ninguém perceber. No mesmo dia se espalhou a notícia de que Dibinho havia sido morto. Na verdade assassinado pelas minhas mãos, o que as pessoas jamais imaginariam. Diferente do que imaginei, as pessoas suspeitaram de Aurélio, insinuaram até que ele havia plantado provas na cena do crime com a intenção de incriminar Cassio. Com tudo isso, Cassio se revoltou e matou Aurélio. Meu plano estava indo bem, só faltava conquistar o coração de Pola. Com Dibinho e Aurélio mortos e Cassio preso por ter sido incriminado, o caminho estava livre. No dia seguinte levei a ela flores lindas, as que ela mais gostava, o que a deixou encantada. Nos dias seguintes nos encontramos várias vezes. Ela estava mesmo afim de mim e tudo estava indo bem, até que Pola recebeu uma ligação anônima que a deixou cheia de segredos. Desde então, Pola não era mais a mesma, demonstrava desconfiança e passou a me investigar discretamente, com perguntas insinuantes, além de vasculhar minhas coisas, o que a flagrei fazendo várias vezes. Depois de tanto empenho para ficar com ela, nada podia dar errado, então lhe perguntei o que a preocupava tanto. Estava tão apaixonado que nem pude perceber o quanto Pola era esperta. Desde aquele telefonema anônimo que ela recebeu, passou a me investigar discretamente, mas mal sabia eu que ela tinha em suas mãos uma prova incontestável, ou seja, uma filmagem que provava meu encontro com Dibinho no local e na data de sua morte. Então as coisas saíram do controle e por incrível que pareça tudo aquilo era uma armadilha. Não consegui me conter, já era tarde demais para me explicar. De repente me vi atrás das grades, mas o pior foi ver o quanto o coração de Pola estava frio. Sim, com minhas atitudes egoístas acabei por destruir os sonhos, a esperança e a confiança da minha amada. Senti-me culpado e muito arrependido por tudo isso, pois ela revelou que sempre me amou, portanto nada disso era necessário. Já eu estava tão cego de amores que acabei por transformar o amor dela por mim numa triste decepção. Não vou resistir em pagar pelos meus crimes e espero que um dia Pola possa me perdoar e quem sabe ainda vivermos esse amor.