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Acadêmica do curso de Psicologia da UNI- Abstract: This article is characterized as a review of the philosophy
PAR, participante do PIC. Email: lucimei- of Sartre and other existential philosophers, and a deepening of the
re_assis@hotmail.com
concept of existential angst, and its manifestation in contemporary
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Acadêmica do curso de Psicologia da UNI- psychotherapy. This research aims to provide a greater understanding
PAR, participante do PIC. Email: cervinha- to the topic being discussed in this article: existential angst. It will be
ni@hotmail.com presented below the psychotherapeutic relationship in a phenomeno-
logical-existential, the manifestation of distress in this relationship and
understanding of anxiety as a contemporary emergence. With the de-
velopment of such an article it is noted that the angst is configured as
a phenomenon belonging to the human condition, which has strong ex-
pressive contours in contemporary times.
Keywords: Existential angst, Psychotherapy and modernity.
Recebido em março/2011
Aceito em maio/2011
tia é exatamente esta ausência de qualquer ter- meio a nossas ocupações do dia-a-dia, nos so-
ritório previamente estabelecido. brevém certo tédio. (WERLE, 2003)
Sendo a liberdade uma realidade on- Por não haver um objeto determinado
tológica da existência humana, essa outorga ao que angustie o homem, a angústia manifesta o
homem a responsabilidade por suas escolhas, nada. Enfim, nos angustiamos, mas não conse-
não podendo atribuí-la a mais ninguém, a não guimos identificar o objeto de nossa angústia.
ser a si próprio. O homem se vê impelido a fazer Para Heidegger (s/d apud WERLE, 2003), o
escolhas para si mesmo, porém em completo nada se coloca por si mesmo na angústia, não
desamparo, precursor da angústia, já que se precisa ser criado, mas se revela na angústia e
reconhecendo livre o homem se sabe como o ao mesmo tempo a provoca, ele é a causa e o
único responsável por aquilo que escolhe o que efeito ao mesmo tempo (WERLE, 2003).
faz com que se movimente num constante recri- Entende-se então que a angústia não
ar de sua existência. No entanto, tal movimento, representa o medo da morte pela morte, mas
por mais apreensivo que pareça, não deve ser representa a consciência de ter que viver mes-
confundido com o temor (SARTRE, 1987). mo diante da iminência da morte, da finitude. O
A angústia, de acordo com Werle (2003), paradoxo da angústia reside no movimento do
não deve ser tomada como um mero temor, pois homem em direção a um constante e inquietante
esse é entendido como um estágio mais suave devir e, ao mesmo tempo, desvela a inseguran-
da angústia. O medo é uma disposição central ça do mesmo em relação ao amanhã, o qual não
da existência pelo fato de manifestar o mundo conhece (ANGERAMI, 2000).
no ato de fuga de si mesmo do sujeito. Embora o O que angustia o homem é um nada
homem tema por algo objetivo no mundo, o seu que nadifica constantemente, ou seja, uma ex-
temor, não é o objeto fora dele, mas ele mes- istência que sempre se faz circundante e incom-
mo, ou seja, é como se o medo se voltasse para pleta. Pode-se dizer então que o fenômeno da
quem teme e não para o que se teme. O temor é angústia coloca a existência humana diante de
sempre um fenômeno privado, embora também si mesma, fazendo com que o ser existente no
possamos temer pelo outro, ao assumirmos o mundo alcance uma situação concreta de tran-
medo dele, o qual, a princípio, não é nosso. scendência, ou seja, que esse possa ultrapas-
Corroborando com o pensamento aci- sar a si mesmo (WERLE, 2003). No conceito de
ma, Kierkegaard (s/d apud ANGERAMI, 2000) angústia, Heidegger (s/d apud WERLE, 2003)
diz que o medo se distingue da angústia pela localiza a real possibilidade de virada da existên-
existência de algo concreto no mundo, que pa- cia humana, a possibilidade de o homem sair da
rece dizer ao homem o que temer, todavia, na inautenticidade, na qual ele geralmente vive, e
angústia o que se sente é um mal estar, uma in- assumir a autenticidade.
segurança do homem consigo mesmo, com sua Todavia, Rojas (1996 apud ANGERAMI,
própria existência inacabada e ainda por fazer, 2000) declara que a exacerbação da angústia
portanto, um nada, o qual remete a esse homem pode torná-la patológica, à medida que paralisa
sua condição de ser livre. O caráter arrebatador a ação humana, dificultando o crescimento e o
da angústia traz em seu bojo a gratuidade da ex- desenvolvimento do homem que a vivencia. Em
istência humana, ou seja, não há coisa alguma termos de psicoterapia, essa deve ser olhada
que possa justificá-la no mundo, esta é então não como um sintoma, mas sim como um fenô-
contingente, existimos, mas poderíamos não ex- meno que auxilie a compreender o projeto que
istir. se apresenta em forma de sofrimento.
A diferença entre a angústia e o temor re- Angerami (2000) escreve que assim
side justamente no fato de que a angústia é mais como uma pessoa não é capaz de reviver uma
abrangente do que o temor, o qual é direcionado mesma situação, também não pode reviver a
a um ente determinado da nossa existência, ao angústia sentida e, tampouco, reproduzi-la e/ ou
passo que o objeto da angústia, ao qual ela se generalizá-la a outrem que a vivencie, pois sua
dirige, é completamente indeterminado, isto é, vivência é peculiar a cada um que se escolhe
o simples fato de estar no mundo é motivo de estar no mundo, de diferentes maneiras.
angústia para o humano. Nessa, segundo Werle Essas diferentes maneiras de se colocar
(2003), não sabemos diante de que nos angus- no mundo esbarram tanto nas escolhas realiza-
tiamos; ela começa a se apresentar quando, em das pelos homens que neste habitam, quanto
ização, a qual tem o seu aparecimento impedido aproximando-se do tédio patológico. (ANGERA-
na contemporaneidade que preza pela homoge- MI, 1999)
neização e massificação dos Homens. Na vivência do tédio há um comprometi-
Contrapondo a ideologia de alienação do mento na temporalidade, já que as instâncias de
sujeito, Heidegger (2000 apud DANTAS, 2009) tempo são sentidas como longas e insignifican-
traz o pensamento meditante e a serenidade, os tes, seja passado, presente ou futuro estes nada
quais se caracterizam por uma postura mais leve representam para o sujeito entediado.
do homem em deixar as coisas virem à luz dos Muitos buscam a saída do desespero por
acontecimentos, isto é, o homem sente-se ab- meio do entorpecimento de drogas e em proces-
sorto pela abertura de sua existência e se move sos de alienação. Contudo, essas buscas não
a favor daquilo que quer para seu ser. alcançam seus fins e os sujeitos deparam-se
Todavia, Angerami (1999) menciona que cada vez mais com o absurdo da própria ex-
o desespero do homem contemporâneo apre- istência, ou seja, seu caráter contingente e in-
senta diversas facetas de dor, mas que precisa- certo. Entretanto, Angerami (1999) nos trás que
mente é a ausência do Outro o que mais o an- somente assumindo projetos possíveis e verda-
gustia. Pautando-se no pressuposto de que para deiramente significativos é que o indivíduo tende
o existencialismo a vida é absurda, ou seja, não a ultrapassar o tédio. É o sentido que damos a
tem um sentido de ser a priori, o sujeito busca vida o que nos mantém vivos.
por realizações significativas que visem dar sen-
tido e cor a sua existência. Portanto, entende-se Sem ação concreta não se sai deste aniquila-
que o sentido da vida encontra-se no fato de que mento existencial que é o tédio: se você está
o homem existe a partir de seus projetos, real- explodindo silenciosamente, então é melhor
izações e relações estabelecidas com o Outro. viver, sair da solidão [...] Ir de encontro às
pessoas, tentar novas possibilidades, outros
Desse modo, se explica o porquê do de-
trabalhos, outro casamento, outros ambien-
sespero do homem contemporâneo relacionar- tes (ANGERAMI, 1999 p. 26).
se à existência do Outro, já que o significado
desse está diretamente relacionado com sua O sentimento diante a não realização
presença e ausência, embora, Angerami (1999) de uma série de possibilidades vitais, diante o
afirme que na ausência esse Outro se torna mui- próprio tédio e da dúvida perante a própria vida
to mais presente do que em situações de pre- é caracterizado como a angústia existencial.
sença física real. O Outro existe dando também Essa é libertária, pois ao constatarmos nossa
significação a minha própria existência, já que acomodação diante determinadas situações da
esse não é somente aquele que eu vejo, mas ai- vida buscamos a transformação a fim de que a
nda é aquele que me vê. Diante disso, a solidão angústia seja esvaída. Diante disso, entende-se
é considerada como a configuração extremada que a angústia amplia a possibilidade de tomada
da ausência do Outro e em como eu me rela- de consciência da própria condição humana do
ciono com esse Outro que se faz presente na ser, o qual se difere dos demais seres existentes
própria ausência, confirmando em mim a neces- pela condição de ser livre e, portanto, dono dos
sidade de me relacionar com outros, que não eu. seus próprios atos. “Minha angústia me leva ao
No entanto, a tomada de consciência da encontro da minha libertação ao tirar-me do qui-
condição de ser só, leva o sujeito à percepção etismo” (ANGERAMI, 1999 p. 30).
de que por ser só, é dele que depende suas es- A libertação ocorre quando, após o sofri-
colhas e a resolução de seus conflitos, é a partir mento e as crises existenciais os quais tem como
de então que esse toma a frente de sua vida, precursora a angústia diante o existir, no qual,
assumindo-se como responsável por essa. Con- segundo Angerami (2000), o homem assume
statar-se responsável pela própria existência que algo precisa e pode ser feito para que possa
requer o conhecimento de que há sempre algo ser liberto, usufruindo e ampliando as possibili-
por fazer, porém ainda que a existência humana dades de existência. Ao assumir a condição de
caracterize-se como uma totalização em curso, ser livre, o homem se reconhece como sendo o
uma constante inacabada, a sensação de não único Ser que pode atribuir significado ao mun-
estar exercendo as possibilidades vitais e de es- do, ou seja, o mundo só existe pelo e através do
tar parado na vida provocam o tédio existencial, homem e o homem só se sabe homem, quando
o qual pode tornar-se excessivamente doloroso, situado no mundo.
qual fenômeno está sendo manifestado nesse poderá se deparar com as reais possibilidades
sujeito e auxiliá-lo a refletir sobre escolhas e que vem negligenciando, bem como vislumbrá-
possibilidades. las, caso ainda não tenha feito, e a partir da to-
Essa prática psicoterápica, conforme mada de consciência dessas possibilidades, op-
Nicolau (2007) tem como foco captar a pessoa tar e então, decidir-se permanecer paralisado ou
no mundo e não uma suposta patologia que, assumir sua liberdade e escolher o agir atuante
caso exista, é vista como uma vivência inautên- (ANGERAMI e FEIJOO, 1999).
tica do sujeito que escolhe não assumir suas O fenômeno da angústia, uma vez mani-
escolhas frente ao mundo, a qual não deve ser festo em psicoterapia, necessita ser compreen-
explicada e sim compreendida em psicoterapia, dido a partir do cliente, isto é, de acordo com
para que cônscio de suas ações o sujeito tenha Angerami (2000) é de fundamental importância
a oportunidade de transcendê-las e experenciar que o psicoterapeuta se preocupe em questionar
outras vivências com mais propriedade e auten- como o cliente sente e vivencia esse fenômeno.
ticidade. O encontro psicoterapêutico significa Para tanto, a escuta deve-se voltar para aquilo
auxílio ao Outro que se alegra, teme e sofre e que o cliente sente quando diz estar angustiado,
que necessita ser ouvido em sua dor, sem críti- ou seja, estar atento à maneira como descreve e
cas ou julgamentos. Ou seja, “tem-se como pre- vivencia a angústia, suas sensações, sintomas e
tensão ajudar o cliente a descobrir o seu poder medos decorrentes dela.
de auto-criação e aceitar a liberdade de ser ca- Alguns clientes relatam a angústia como
paz de usar as suas próprias capacidades para sendo o medo da não realização das possibili-
existir, conforme ele próprio nos esclarece” (ER- dades existentes. Outros, por sua vez, trazem o
THAL, 1999, p. 25). medo de ficarem enredados pela angústia, pois
A angústia existencial, a partir de relatos alegam não encontrarem saída para o sofrimen-
de Angerami e Feijoo (1999), é manifestada pelo to. Há aqueles ainda que temem morrer e por
sujeito, em contexto psicoterápico existencial, isso deixam de viver, como se pudessem evitar a
na tentativa de encontrar justificativas para não morte ao optar por uma existência inerte. Nesse
se permitir lançar ao devir. A partir de Heidegger caso não se fala de uma angústia própria da re-
(1989 apud ANGERAMI E FEIJOO, 1999), a an- alidade humana, mas sim de uma angústia que
gústia é decorrente do temor experienciado pelo prende, sufoca e impede o cliente de viver ple-
sujeito ao ter de escolher dentre possibilidades namente (ANGERAMI, 2000).
futuras, ou seja, refere-se à vivência do temor A reflexão efetuada em psicoterapia a
diante a possibilidade de escolher sem a certe- respeito da angústia como escreve Angerami
za de que se está optando pela melhor direção, (2000), intenta levar o cliente ao reconhecimento
uma vez que, ao eleger algo diversas possibili- de sua atual situação e a visualizar-se respon-
dades são abandonadas. sável pelos seus atos e que assim assuma uma
A angústia é, por vezes, expressa pelo postura autêntica e decisiva sobre sua existên-
cliente em psicoterapia por meio de condutas cia. Entende-se que uma vez que o cliente diz
paralisantes, que o aprisionam e o impedem de querer modificar sua existência, esse necessita
seguir determinados caminhos e tomar certas ser o seu legislador, tomando para si as rédeas
atitudes. Isso porque ele acredita que não es- de seu caminho à medida que se apropria de um
colhendo, não corre riscos, bem como assume o querer ou de um não querer para sua existên-
controle do tempo. Ressalta-se que para não es- cia. Empodera-se de seu poder de escolha, de
colher o sujeito constrói inúmeras justificativas, decisão.
seja pelo Outro que o impede de realizar, seja
por medo ou pânico (ANGERAMI e FEIJOO, CONSIDERAÇÕES FINAIS
1999). Entretanto, essa não escolha não se faz
verdadeira, já que até mesmo essa é uma ati- A guisa de finalizar este estudo considera-
tude de decisão. se a angústia existencial como um fenômeno
Ao psicoterapeuta cabe atuar com o pertencente à condição humana, emergente
cliente angustiado, o qual não encontra alter- do nada e do caráter contingente da existência.
nativas que se diferem de suas condutas, de Portanto, observou-se que a angústia se diferen-
maneira a promover a ampliação da vivência cia do medo por não ter esta um objeto temido
de angústia, pois é a partir dessa que o sujeito e sim um existir que se faz angustiante pela re-