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LAMARTINE, Juvenal

* dep. fed. RN 1906-1926; sen.1927; gov. RN 1928-1930.

Juvenal Lamartine de Faria nasceu na fazenda Rolinha em Serra Negra do Norte


(RN) no dia 9 de agosto de 1874, filho de Clementino Monteiro de Faria e de Paulina
Monteiro de Faria. Seu pai foi chefe político de Serra Negra do Norte, presidente da
intendência municipal e deputado estadual de 1907 a 1909.
Em 1880 casou-se com Silvina Bezerra de Araújo Galvão, filha de Silvino Bezerra, chefe
político de Acari (RN), na região do Seridó, que foi várias vezes deputado provincial e
depois vice-governador no governo Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, líder do
Partido Republicano do Rio Grande do Norte. Em 1897 formou-se bacharel em ciências
jurídicas e sociais pela Faculdade do Recife, e em 1898 Pedro Velho nomeou-o vice-diretor
do Colégio Ateneu e chamou-o para ser redator do jornal A República, órgão oficial do
partido. Nesse mesmo ano foi nomeado juiz de direito de Acari, cargo que exerceria até
1905.
Em 1903, indicado por Pedro Velho, foi eleito vice-governador do Rio Grande do Norte na
chapa do Partido Republicano Federal liderada por Augusto Tavares de Lira. Empossado o
novo governo em 25 de março de 1904, renunciou à vice-governança em 1905 e foi eleito
deputado federal. A partir de então seria reeleito continuamente até 1926. Na Câmara, fez
parte das Comissões de Marinha e Guerra, de Constituição e Justiça, de Instrução Pública, e
das comissões especiais do Código Civil. Na Comissão de Constituição e Justiça destacou-
se pela defesa do voto feminino. Fez parte também da Mesa da Câmara. Em 1926 foi o
principal responsável pela introdução do voto feminino na Constituição do estado do Rio
Grande do Norte, oito anos antes de a Constituição Federal de 1934 ter incorporado o
mesmo direito.
Enquanto exercia o mandato de deputado federal, em 1923, junto com seu primo José
Augusto Bezerra de Medeiros, neto de José Bernardo de Medeiros, conseguiu reorganizar a
chamada “facção do Seridó” do Partido Republicano. Apoiados pelo presidente da
República Artur Bernardes, conseguiram destituir Ferreira Chaves da chefia do partido e
indicar José Augusto para governador do Rio Grande do Norte na sucessão de Antônio de
Sousa (1920-1924). A partir da nova composição política, foi escolhido e eleito senador em
1927. No Senado fez parte da Comissão de Diplomacia e Tratados.
Ainda em 1927 foi eleito governador do Rio Grande do Norte, sucessão de José Augusto
(1924-1928), sendo empossado em 1º de janeiro de 1928. Embora sobre seu governo
incidissem sobremaneira os efeitos dos juros do empréstimo contratado em 1909 pelo então
governador Alberto Maranhão, sua administração foi bastante dinâmica. Procurou
incentivar a pecuária, bem como diversificar e aumentar a produção agrícola do estado por
meio da introdução de novos cultivos e de incentivos ao crédito. Procurou abrir novas
estradas em colaboração com a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS) de
modo a melhor escoar os produtos agrícolas. Cuidou também da educação rural,
construindo 49 escolas no interior e subvencionando escolas particulares, o que fez duplicar
as matrículas no estado, segundo Itamar de Souza.
Por outro lado, percebendo sua liderança ser ameaçada tanto pelos partidários de João Café
Filho quanto pela Aliança Liberal, passou a perseguir duramente a oposição, expulsando e
mandando agredir seus adversários, bem como manipulando os resultados eleitorais.
Segundo Café Filho, teria mandado queimar as atas das eleições municipais de 1928 em
Natal, compondo “a bico de pena” toda a Câmara apenas com seus correligionários. Com a
vitória da Revolução de 1930, seguiu em exílio para a Europa, transitando entre a França e
a Alemanha, de onde só voltaria em 1933. Nesse mesmo ano, durante a interventoria de
Mário Leopoldo Pereira da Câmara, seu filho Otávio de Lamartine Faria foi morto pela
polícia militar do estado.
Em 1945 organizou a União Democrática Nacional (UDN) no Grande do Norte, sendo
escolhido seu presidente de honra. Foi também candidato a senador constituinte, mas saiu
derrotado. Foi colaborador do jornal A Tribuna da Imprensa e, tendo sido um dos
fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IHGRN),
colaborou também com a revista do Instituto.
Faleceu em Natal em 18 de abril de 1956.
De seu casamento com Silvina Bezerra de Araújo Galvão, teve dez filhos. Note-se que
Dinarte Mariz passou a pertencer ao mesmo grupo familiar após o casamento de suas duas
irmãs com dois irmãos de Juvenal. Dinarte Mariz foi senador pelo Rio Grande do Norte de
1955 a 1956, governador do estado de 1956 a 1961 e novamente senador de 1963 a 1984.
Juvenal e Dinarte eram tios de Morton Mariz Faria, e tios-avós da filha deste, Vilma de
Faria, que foi deputada constituinte pelo Rio Grande do Norte em 1987-1988, prefeita de
Natal em 1989-1993 e 1997-2002, e governadora do Rio Grande do Norte a partir de 2003.
Juvenal Lamartine publicou O meu governo (1933). Como obras póstumas, foram
publicadas Patriarcas seridoenses (1965) e Velhos costumes do meu sertão (1965).

Renato Amado Peixoto

FONTES: CASCUDO, L. Governo; FARIA, J. Meu governo; MAIA, A.


Parlamentares; MEDEIROS, J. Rio Grande do Norte; SENADO. Anais
(29/11/1974); SOUZA, I. República; SPINELLI, J. Oligarquia.
LIRA, João de
* jornalista; sen. RN 1915-1930.

João de Lira Tavares nasceu em Goiana (PE) no dia 23 de novembro de 1871, filho
de Feliciano Pereira de Lira Tavares e de Maria Rosalina de Albuquerque Vasconcelos. Seu
irmão, Augusto Tavares de Lira, foi governador do Rio Grande do Norte de 1904 a 1906,
ministro da Justiça de 1906 a 1909, senador de 1910 a 1914, ministro da Viação e Obras
Públicas de 1914 a 1918 e ministro do Tribunal de Contas da União de 1918 a 1941.
Em 1876 a família mudou-se para a cidade de Macaíba (RN), onde já residiam três irmãos
de seu pai, todos casados com filhas de Fabrício Gomes Pedrosa, fundador da cidade e um
dos homens mais ricos do Rio Grande do Norte. João de Lira cursou até o segundo ano do
Ginásio Rio-Grandense em Natal, mas teve de abandonar os estudos para trabalhar como
caixeiro em uma firma comercial de Macaíba, na qual se tornou depois guarda-livros e
chefe de escritório. Em 1888 foi um dos fundadores da Libertadora Norte-Rio-Grandense.
No ano seguinte, foi um dos signatários da ata de fundação do Partido Republicano no Rio
Grande do Norte.
Em 1890, já após a proclamação da República (15/11/1889), mudou-se para Natal, onde
continuou engajado no Partido Republicano, chefiado por Pedro Velho de Albuquerque
Maranhão, e se tornou colaborador do jornal A República. Em 1894 alistou-se como o
soldado nº 1 do Batalhão Patriótico Silva Jardim, formado com o objetivo de defender o
governo Pedro Velho, e foi nomeado administrador dos Correios no Rio Grande do Norte.
Por conta da firma comercial em que trabalhava, que possuía filiais em Pernambuco e na
Paraíba, foi transferido para Recife em 1895. Aí colaborou na Gazeta da Tarde, tornou-se
membro da Associação Comercial e fundou a Associação dos Guarda-Livros, categoria
com a qual manteria vínculos por toda a vida. Após 1902 transferiu-se para a cidade da
Paraíba, hoje João Pessoa, onde passou a lecionar corografia e história do Brasil, na Escola
Normal, e contabilidade, no Liceu Paraibano. Nessa escola, junto com outros professores,
fundou em 1905 o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano. Foi também redator do jornal
A União, criou O Tempo, que circulou em 1906, e editou durante vários anos o Almanaque
da Paraíba.
Foi eleito deputado estadual na Paraíba nas legislaturas 1904-1907 e 1908-1911, o que o
levou a abandonar definitivamente a profissão comercial em 1908. Em 1913, a convite do
governador João Pereira de Castro Pinto, participou da fundação da Universidade Popular
da Paraíba. No ano seguinte, atendendo à solicitação do ministro da Fazenda, Rivadávia
Correia, viajou pela primeira vez ao Rio de Janeiro, então capital federal, para tomar parte
na comissão de reorganização da contabilidade do Tesouro Nacional. Retornou à cidade
logo depois, como representante do Instituto Histórico e Geográfico no I Congresso de
História Nacional.
Em 1915 foi eleito senador pelo Rio Grande do Norte na legenda do Partido Republicano
Federal, passando a representar a facção ligada ao legado político de Pedro Velho,
comandada por seu irmão Tavares de Lira. Ainda que sua permanência no Senado tenha
sido ameaçada por sucessivas crises ligadas à perda de poder de sua facção no partido,
acabou sendo reeleito em 1918 e em 1927. No Senado, foi reconduzido sucessivamente à
Comissão de Finanças, a partir de onde se bateu desde 1916 pela fiscalização das
sociedades anônimas, pelo reconhecimento de uma classe de contadores públicos e pela
regularização da profissão de contabilista. Em 1922 foi o criador da Tabela Lira, que
cuidava de organizar a remuneração dos servidores públicos.
Faleceu no Rio de Janeiro em 31 de dezembro de 1930, cerca de dois meses depois do
triunfo da Revolução de 1930, que fechou as casas legislativas em todo o país e
interrompeu seu mandato de senador.
Era casado com Rosa Amélia de Lira Tavares, com quem teve 12 filhos, dos quais quatro
se destacaram na vida pública: Aurélio de Lira Tavares foi comandante do IV Exército de
1964 a 1965, ministro do Exército de 1967 a 1968, membro da junta militar que governou o
Brasil de agosto a outubro de 1969 e embaixador do Brasil na França de 1970 a 1974;
Roberto Tavares de Lira foi ministro da Educação e Cultura em 1962, durante o governo de
João Goulart; Paulo Lira foi ministro interino da Fazenda de junho a agosto de 1944 e chefe
do Gabinete Civil da Presidência da República durante o governo de Nereu Ramos, de
novembro de 1955 a janeiro de 1956; e João Lira Filho foi ministro do Tribunal de Contas
do Distrito Federal (1949-1960) e depois do Estado da Guanabara (1960-1966) e reitor da
Universidade do Estado da Guanabara (UEG), de 1967 a 1971.
Publicou as seguintes obras: Modesta homenagem ao Dr. Antônio Simeão dos Santos Leal
(1904), Ligeiras notas – estudo sobre as leis orçamentárias do estado da Paraíba (1905),
Aos meus colegas da Assembleia Legislativa (1905), Traços biográficos do coronel
Graciliano Fontino Lordão (1907), A Paraíba (1910), Notas históricas sobre Portugal
(1910), Apontamentos para a História territorial da Paraíba (1911), Estudo sobre a
Revolução Praieira (1911), Pontos de história pátria (1912), Pleito eleitoral - sucessão
presidencial (1912), A contabilidade e sua influência na administração pública (1913), O
dia 24 de maio na história da Paraíba (1914), Discurso pronunciado na Assembleia
Legislativa da Paraíba (1914), A contabilidade (1914), Economia e finanças dos estados
(1914), Discursos (1917), Cifras e notas – economia e finanças do Brasil (1925).

Renato Amado Peixoto

FONTES: ALEGRIA, L. Assim; BARBOSA, S. Pequeno; BITTENCOURT, L. Homens;


CARNEIRO, R. Homenagem; GUIMARÃES, L. História; INST. HIST. GEO
PARAIBANO. Memorial; LYRA, S. Rosas; NISKIER, A. Sempre; Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro; Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Sessão magna comemorativa do 93º aniversário; Revista Brasileira de Contabilidade
(n.30); SOUSA, E. Meio; SOUZA, I. República.
MARANHÃO, Alberto
* gov. RN 1900-1904; dep. fed. 1904-1908; gov. RN 1908-1914; dep. fed. RN 1915-
1929.
Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba a 2 de outubro
de 1872, filho de Amaro Bezerra de Albuquerque Maranhão e de Feliciana Maria da
Silva Pedrosa. Seu avô, o comerciante e senhor de engenho Fabrício Gomes Pedrosa, foi
o fundador da cidade de Macaíba e era uma das maiores fortunas do Rio Grande do
Norte. Vários de seus irmãos exerceram cargos de destaque na Primeira República:
Pedro Velho de Albuquerque Maranhão foi o principal líder político do Rio Grande do
Norte, presidente do Partido Republicano, governador do estado de novembro a
dezembro de 1899 e de setembro a novembro de 1890, deputado federal de 1891 a 1892,
novamente governador de fevereiro de 1892 a março de 1896, novamente deputado
federal em 1896 e senador de 1896 a 1907; Augusto Severo de Albuquerque Maranhão,
além de inventor e pioneiro da navegação aérea, foi deputado federal de 1893 a 1902; e
Fabrício Gomes de Albuquerque Maranhão foi presidente da intendência de
Canguaretama (RN) de 1893 a 1913 e deputado estadual de 1894 a 1912.
Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito do Recife em 1892 e nesse mesmo ano foi
nomeado promotor público de Macaíba (RN). De 1892 a 1896 foi secretário de Governo
de Pedro Velho. Em 1895 casou-se com a sobrinha Inês Barreto de Albuquerque
Maranhão, filha de Juvino César Pais Barreto, pioneiro da industrialização no Rio
Grande do Norte, e de sua irmã Inês Augusta de Albuquerque Maranhão Pais Barreto.
Em 1898 foi beneficiado pela reforma da Constituição Estadual de 1892, feita pelo então
governador Joaquim Ferreira Chaves, que lhe permitiria ser seu sucessor no governo com
apenas 26 anos. De fato, foi eleito governador do Rio Grande do Norte na legenda do
Partido Republicano Federal e tomou posse em 25 de março em 1900. Em sua
administração terminou a construção do Teatro Carlos Gomes, hoje Alberto Maranhão, e
iniciou, a partir da morte de seu irmão Augusto Severo em 1902, a monumentalização de
sua família no espaço e no território do Rio Grande do Norte, agregando suas
representações ao imaginário da sociedade civil. Assim, tornou feriado estadual o dia da
morte do irmão e mudou o nome do município de Vila do Triunfo para Augusto Severo.
Continuou também com a prática de assegurar os contratos do governo para os familiares
e correligionários. Segundo ele próprio afirmou, na prática o estado continuava sendo
governado por seu irmão Pedro Velho, como relata Luís da Câmara Cascudo.
Após encerrar o governo e 25 de março de 1904, foi eleito deputado federal pelo Rio
Grande do Norte na legenda do Partido Republicano Federal, substituindo Augusto
Tavares de Lira – genro de seu irmão Pedro Velho –, que, por sua vez, o substituiu no
governo do estado. Foi reeleito deputado federal em 1906. Na Câmara, fez parte da
Comissão de Diplomacia.
Em 1908 foi de novo eleito governador do Rio Grande do Norte na legenda do Partido
Republicano Federal. Em 1909 contratou um empréstimo externo em Paris de modo a
poder operar as grandes transformações na capital que havia planejado – note-se que esse
empréstimo só terminou de ser pago em 1954. Introduziu a luz elétrica em Natal, instalou
o serviço de bondes elétricos, saneou, pavimentou e embelezou ruas, constituiu o serviço
de remoção e incineração de lixo, refez a canalização de água. Construiu o Hospital
Juvino Barreto, hoje Onofre Lopes, a Casa de Detenção, a Escola Normal, e reconstruiu
o Teatro Carlos Gomes. Na verdade, remodelou a capital do estado, construindo bairros
completamente novos e planejados, aos quais deu o nome de Tirol e Petrópolis (em
homenagem a Pedro Velho). Numerosas outras instalações foram também construídas no
interior. Todas essas obras e serviços foram mais uma vez contratados com familiares e
correligionários, beneficiados ainda com a monopolização de importantes setores da
economia, segundo Itamar de Souza.
Como em 1913 o fenômeno da “política das salvações” se estendeu ao Rio
Grande do Norte com o lançamento da candidatura a governador de Leônidas Hermes da
Fonseca, filho do presidente da República, apoiado pelo Partido Republicano
Constitucional, Alberto Maranhão não conseguiu fazer novamente de Tavares de Lira
seu sucessor. Foi então obrigado a apoiar Ferreira Chaves, que, uma vez eleito e
empossado em 1914, passou a desmontar todo o aparato que havia possibilitado aos
“pedrovelhistas” dominar a cena política do estado. O novo governador extinguiu vários
cargos públicos e suspendeu os contratos que beneficiavam os “pedrovelhistas”, entre os
quais o monopólio do sal e da carne verde. Em 1916 reformou a lei eleitoral do estado,
tornando inelegíveis para o cargo de governador os parentes consanguíneos e afins, até o
terceiro grau, do governador em exercício ou do governador anterior; e inelegíveis para
deputado os magistrados, governadores, funcionários federais remunerados e o chefe de
polícia.
Assim, Alberto Maranhão teve que se contentar com a Câmara dos Deputados. Foi eleito
deputado federal em 1915 pelo Rio Grande do Norte na legenda do Partido Republicano
Federal, e reeleito continuamente até 1929. Contudo, essa continuidade foi mantida a
duras penas, já que pelo menos quatro grandes crises ameaçaram seu decrescente poder
político e a posição dos “pedrovelhistas” no partido.
A primeira crise aconteceu em 1918, quando Ferreira Chaves rompeu
definitivamente com os “pedrovelhistas”, impedindo Tavares de Lira de voltar ao
governo do estado. Ferreira Chaves denunciou então publicamente os abusos das
administrações de Tavares de Lira e de Alberto Maranhão. A segunda crise ocorreu em
1923, quando da ascensão da facção do Seridó no partido. Nesse momento Ferreira
Chaves foi destituído do comando partidário, e José Augusto Bezerra de Medeiros selou
um acordo, chancelado pelo presidente da República Artur Bernardes, pelo qual os
candidatos e seus mandatos seriam preservados desde que “não criassem embaraços à
política e aos interesses do estado”, de acordo com José Antônio Spinelli.
A terceira crise foi a de 1927, quando a facção do Seridó ameaçou novamente Alberto
Maranhão e João de Lira Tavares, irmão de Augusto Tavares de Lira, de não serem
incluídos na chapa do partido. Essa questão teve de ser resolvida diretamente pela
intervenção do presidente da República Washington Luís, que assegurou o acordo que
garantiu a candidatura dos dois “pedrovelhistas”. Na quarta crise, em 1930, Alberto
Maranhão cedeu finalmente sua posição no partido, sendo-lhe garantida como
recompensa a nomeação de delegado comercial do Rio Grande do Norte no Rio de
Janeiro, cargo que exerceu de janeiro até outubro de 1930.
Além da política, Alberto Maranhão dedicou-se ao jornalismo. Até 1900 foi um dos
redatores do jornal A República. Durante o período em que esteve na Câmara, em 1919,
foi um dos redatores do jornal A Opinião. Após a Revolução de 1930, retirou-se para sua
propriedade em Parati (RJ), abandonando a política. Seu filho Juvino César Pais Barreto
Neto, usando o nome de Juvino Barreto Maranhão, foi prefeito de Parati, enquanto ele
próprio foi nesse período inspetor do Instituto de Açúcar e do Álcool.
Faleceu em Angra dos Reis (RJ) a 1º de fevereiro de 1944.
De seu casamento com Inês Barreto de Albuquerque Maranhão, além do já citado Juvino
Barreto Maranhão, teve mais sete filhos.
Publicou Na Câmara e na imprensa (1918) e Quatro discursos históricos (1918).

Renato Amado Peixoto

FONTES: CASCUDO, L. Governo; MAIA, A. Parlamentares; NONATO, R. Bacharéis;


Ordem (2/2/1944); SOUZA, I. República; SPINELLI, J. Da Oligarquia.
MONTEIRO, Augusto
*magistrado; dep. fed. RN 1912-1914.

Augusto Carlos de Vasconcelos Monteiro nasceu em Goianinha (RN) no dia 12 de


outubro de 1881, filho de Matias Carlos de Vasconcelos Monteiro e de Genuína Adelaide
de Vasconcelos Monteiro.
Ingressou na Escola Militar do Ceará em 1897, mas desistiu de continuar os estudos e
retornou ao Rio Grande do Norte, onde completou os preparatórios no Ateneu Norte-Rio-
Grandense, em Natal. Em 1898 ingressou na Faculdade de Direito do Recife, concluindo o
curso em 1902. Em janeiro de 1903, de volta ao estado natal, foi nomeado promotor
público de Canguaretama. Em novembro de 1906 assumiu o posto de juiz de direito de
Acari e em 1907 foi removido para Caicó. Ali exerceu a magistratura até 1911, dirigindo a
seção local do Partido Republicano em sintonia com a corrente “pedrovelhista”, que dava
continuidade às orientações de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, chefe político
falecido em 1907.
No início de 1912 foi eleito deputado federal pelo Rio Grande do Norte. Terminado o
mandato em 1914, em abril do ano seguinte foi nomeado prefeito do Alto-Acre, então um
dos quatro departamentos em que estava divido o Acre, por influência de Augusto Tavares
de Lira, que fora responsável pela reorganização administrativa do território quando
ministro da Justiça e Negócios Interiores. Ocupou a prefeitura até janeiro de 1919, quando,
em viagem do Acre para Natal, morreu na cidade de Belém, vitimado pela gripe espanhola,
no dia 9 de março de 1919.
Foi casado duas vezes: a primeira com Amália Adelaide Simonetti de Vasconcelos
Monteiro, com quem teve três filhos, e a segunda com Maria Vale Monteiro, com quem
teve duas filhas.
Renato Amado Peixoto

FONTES:CALIXTO, V. Resumo; CÂMARA, J. Aspecto (p.104-167);


CENTENO, C. Dever; LIRA, C. Tavares; SOARES, A. Dicionário.
MONTEIRO, Tobias
* jornalista; sen. RN 1921-1923.

Tobias do Rego Monteiro nasceu em Natal no dia 29 de julho de 1866, filho de


Jesuíno Rodolfo do Rego Monteiro e de Maria Inácia do Rego Monteiro.
Transferiu-se em 1886 para o Rio de Janeiro, a capital do Império, para cursar a Faculdade
de Medicina com o auxílio de uma pensão que lhe foi atribuída pela Assembleia Provincial
do Rio Grande do Norte. A pensão fora votada por iniciativa de seu protetor, José Bernardo
de Medeiros, chefe político da região do Seridó e um dos líderes do Partido Liberal.
Indicado pelo conselheiro Manuel Pinto de Sousa Dantas, ligou-se profissional e
politicamente a Rui Barbosa, interrompendo o curso de medicina no quarto ano para
secretariá-lo e trabalhar como jornalista. Após a proclamação da República (15/11/1889),
quando Rui Barbosa se tornou ministro da Fazenda do governo provisório, tornou-se seu
oficial de gabinete e, por indicação do jurista, trabalhou também no Diário Oficial.
Em 1892, quando Pedro Velho de Albuquerque Maranhão assumiu o governo do Rio
Grande do Norte, sua vaga de deputado federal foi reivindicada por José Bernardo para
Janúncio da Nóbrega Filho. Contudo, Pedro Velho indicou seu irmão, Augusto Severo de
Albuquerque Maranhão, que venceu a eleição, mas não foi homologado pelo Congresso
Nacional. Marcadas novas eleições para 1893, Tobias Monteiro foi então convocado para
enfrentar Augusto Severo em nome da oposição unida, mas foi derrotado. Nesse ano,
quando os inimigos de Pedro Velho cogitaram derrubá-lo à força, Tobias Monteiro foi
contra a ideia.
Quando da Revolta da Armada (1893-1894), era secretário do Jornal do Brasil, no Rio de
Janeiro. Na ocasião, acompanhou Rui Barbosa, redator-chefe desse periódico, ao exílio em
Buenos Aires. Na volta, sabendo de uma ordem de prisão contra Rui Barbosa, avisou-o e
escondeu-se em um navio que o deixou na Bahia, onde foi preso dois meses depois. Em
1894 voltou a se candidatar a deputado federal pelo Rio Grande do Norte contra a chapa
“pedrovelhista” e foi novamente derrotado. Em 1897 apoiou a fundação do Partido
Republicano Constitucional no Rio Grande do Norte, sendo eleito delegado da agremiação
na capital federal.
Redator político do Jornal do Comércio entre 1894 e 1902, tornou-se um dos mais
influentes e prestigiosos jornalistas do país. Redator da coluna “Várias”, que desde o
Segundo Reinado tinha o poder de derrubar ministérios, apoiou os governos dos presidentes
Prudente de Morais (1894-1898) e Campos Sales (1898-1902). Em 1898 foi enviado como
correspondente para acompanhar a viagem que Campos Sales fez à Europa em busca de um
acordo com os bancos credores do Brasil antes de sua posse na presidência. Deixando o
Jornal do Comércio em 1902, aceitou o cargo de secretário geral do Centro Industrial do
Brasil. Tornou-se depois diretor de um estabelecimento bancário e consultor de
investimentos.
Seu retorno à vida política ocorreu anos depois, no começo da década de 1920. Em 1921,
foi eleito senador pelo Rio Grande do Norte na legenda do Partido Republicano, vindo a
ocupar a vaga aberta pela indicação do senador Joaquim Ferreira Chaves Filho para o
Ministério da Marinha e depois para o Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores. Essa
composição teria sido expressamente articulada pelo próprio presidente da República,
Epitácio Pessoa.
Em 1923, acontecimentos ligados à sucessão no governo do Rio Grande do Norte levaram
Tobias Monteiro a renunciar ao mandato. Naquele ano, Ferreira Chaves havia obtido a
indicação do Partido Republicano para concorrer pela terceira vez à chefia do Executivo
estadual. Entretanto, a chamada “facção do Seridó” – reorganizada pelos deputados Juvenal
Lamartine de Faria e José Augusto Bezerra de Medeiros, neto de José Bernardo, e apoiada
pelo presidente Artur Bernardes – conseguiu demover Ferreira Chaves de suas pretensões e
indicar José Augusto para governador. Por conseguinte, Ferreira Chaves voltou para o
Senado, ocupando a vaga de Tobias Monteiro.
Como escritor, Tobias Monteiro recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia
Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Além dos jornais já citados, colaborou em A
República, Gazeta da Tarde, Correio Paulista, O País e Diário de Notícias. Foi ainda sócio
honorário do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.
Faleceu em Petrópolis (RJ) no dia 4 de agosto de 1952.
Publicou O Sr. Campos Sales na Europa, notas de um jornalista (1900); Cartas sem título
(1902); Do Rio ao Paraná (1903); Pesquisa e depoimentos para a história (1913);
Funcionários e doutores (1917); As origens da guerra e o dever do Brasil (1918); História
do Império: a elaboração da Independência (1927); História do Império: o Primeiro
Reinado (1939). Sobre sua vida e obra foram publicados Tobias Monteiro, jornalista e
historiador (1942) e Tobias Monteiro (1966?).

Renato Amado Peixoto

FONTES: CARDOSO, R. Memórias; CASCUDO, L. História; MEDEIROS, J. Rio


Grande do Norte; SOUZA, E. Tobias; SOUZA, I. República; SPINELLI, J. Da
oligarquia.

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