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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA GRANDE DOURADOS

LUIZ HENRIQUE MENEZES DE PAULA MACIEL


RGM: 011.5099

DOS PRINCÍPIOS RECURSAIS

Dourados
2021
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS

INTRODUÇÃO:

Primordial, dentro do Estado democrático de direito, para a compreensão das discussões


e das atividades jurídicas, assim como para um entendimento aprofundado da própria
ciência jurídica dentro das humanidades, o estudo dos princípios que orientam o
ordenamento normativo brasileiro em todas as suas dimensões, sendo eles próprios o
conteúdo valorativo que deve conter em toda norma e comando emitido pelo Estado e
pelas regras regulamentares do convívio social.
No campo doutrinário os princípios podem ser classificados em duas categorias
específicas, a saber: os princípios considerados como informativos e os princípios
denominados fundamentais. O primeiro são princípios considerados axiomáticos e
possuem conteúdo estritamente lógico e técnico. Pode considerar exemplo do princípio
informativo o lógico; jurídico; político e econômico. Os princípios fundamentais, por seu
turno, são aqueles em que o sistema jurídico estará relacionado estritamente á aspectos
ideológicos e políticos. Portanto, são princípios mais ‘‘abertos’’, havendo confronto entre
si e podendo ter o aceite de um em detrimento de outro.
Portanto, tanto os princípios informativos como os fundamentais são incidentes dentro do
processo civil, e regem e orientam os recursos. Dentre os principais princípios que
orientam os recursos são: o da taxatividade; o da singularidade ou da unirrecorribilidade;
o da fungibilidade e por fim o princípio da proibição do reformatio in pejus.

PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE:

O princípio da taxatividade é aquele que, advindo do princípio maior do processo civil,


que é o da legalidade, determina que os recursos só poderão ser criados a partir e por meio
da lei. Ou seja, o cabimento e a forma que se dará ao recurso não fica a cargo das partes,
não dependendo de suas vontades, mas se originam somente da lei. O sistema do Código
Civil elencou os recursos cabíveis em seu artigo 994, não havendo possibilidade de
interpor qualquer outra modalidade de recurso sem ser por estes listados no artigo
mencionado.
Ademais, além de ser taxativo os recursos aptos a serem utilizados em impugnação de
decisão judicial, os recursos têm que ser cabíveis. O cabimento é um requisito de
admissibilidade intrínseca do recurso e está relacionado ao princípio da taxatividade
porque após se confirmar o recurso legalmente existente, deverá se analisar se tal recurso
é adequado ao caso e as circunstâncias concretas da impugnação. Enquanto o princípio
da taxatividade elenca os recursos disponíveis (numerus clausus) o requisito do
cabimento se verificará a adequação e a correlação entre os fatos reais e o remédio
processual certo para o respectivo caso.
Como fora discutido anteriormente, não há recurso sem antes lei que os crie. Nesse
prisma, além daqueles existentes no rol do artigo 994 do Código de Processo Civil, a lei
pode criar demais modalidades recursais, de incidência especial, diferentes daqueles
codificados. É o caso do recurso inominado da Lei dos Juizados Especiais Civis (art.41
do CPC) interposta contra sentença dos juízes especiais; assim como no caso dos
embargos infringentes, disponível na Lei de Execução Fiscal.
PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE OU DA UNIRRECORRIBILIDADE:

O presente principio dispõe que para todo e qualquer pronunciamento de decisão judicial
recorrível cabe uma, e apenas uma, espécie de recurso. Para cada ato judicial recorrível
há um só recurso permitido para impugná-lo.
O Código Processual Civil prevê duas espécies de atos decisórios emitidas pelo juiz: uma
a sentença, é o ato que finaliza, põe fim, á fase de cognição do procedimento comum ou
da extinção da execução, havendo decidido o mérito ou não; a outra é a decisão
interlocutória, que tem por função resolver, durante o percurso do processo, seu
andamento, questão incidente. Para cada ato desses há um remédio recursal singular e
adequado que os recorrentes deverão utilizar para impugnar. Contra sentença o único
recurso previsto é a apelação; contra as decisões interlocutórias previstas no artigo 1015
do CPC só poderá interpor agravo de instrumento; para impugnar decisões monocráticas
do relator em tribunal deverá propor agravo interno; já contra os acórdãos, poderá ser
utilizado o recurso ordinário, ocorrendo o previsto no art. 102, inciso II e art. 105, inciso
II da CF/88; o recurso extraordinário, nos casos hipotéticos expresso no art. 102, inciso
III da CF e o recurso especial, desde que seja o previsto no art. 105, inciso III, também
da CF.
Como toda regra não pode ser absoluta, o princípio da unirrecorribilidade comporta
exceções. Uma delas está prevista no artigo 1029 do CPC que permite a propositura de
recurso especial- para o STJ (matéria de questão federal) - e de recurso extraordinário-
para o STF (questão constitucional) - simultaneamente, tudo para impugnar o mesmo
acórdão em questão. Também, há no artigo 1009, §1°, do CPC, uma liberalidade
concedida à parte para que, após sair prejudicada por uma decisão interlocutória proferida
no percurso do processo, e não cabendo agravo de instrumento, possa suscitar a questão
em sede de preliminar em recurso de apelação ou nas contrarrazões.
Entretanto, mesmo que possa existir variados atos judiciais pronunciados num mesmo
processo e, portanto, considerados por si, são passíveis de variados tipos de recursos, a
regra continua sendo a da unirrecorribilidade e deverá ser buscado, por parte do juiz,
dentro dos processos, a unidade, a essência do princípio da singularidade, devendo cada
ato, quando impugnado, e mesmo que complexo, receber o devido, e único, recurso.

PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE:

Tal princípio foi adquirido pelo processo civil direto do direito material civil na qual é
amplamente utilizado. Fungível é o bem- ou a coisa- que pode ser trocado por outro de
igual espécie, qualidade e quantidade. Diz respeito ao ato de substituição de algo por
outro que nada viole ou desqualifique o bem anterior pelo novo. No direito processual
recursal a fungibilidade se tornou princípio, podendo um recurso, portanto, ser substituído
por outro.
Todavia, não é simples tal substituição dentro dos recursos processuais civis. Se
considerar que, de acordo com o princípio da singularidade, cada decisão judicial possui
um respectivo e adequado recurso, pode se indagar a consistência da fungibilidade.
Ademais, deve-se ater a regra da adstrição do juiz para com os pedidos formulados pelas
partes. O juiz não pode apreciar ou dar procedência á algo diferente do que consta no
pedido, podendo cair em vício ao sentenciar de forma extra petita ou ultra petita. Porém,
o legislador permite, em certos casos, que o magistrado possa conceder algo diferente do
pedido inicialmente sem sobrevir em vício.
Daí que se apreciará o exercício do princípio da fungibilidade. Tal exercício ocorrerá
quando o litigante tiver dificuldade na escolha da medida adequada para o problema que
tiver em questão, quando o juiz confirmar que parte não esteja cometendo erro grosseiro.
Para que se utilize a fungibilidade há de estar presente uma dúvida objetiva, e deve ser
fundamentada. Mesmo com a Codificação mais moderna e atual ainda existem
pronunciamentos judiciais na qual se apresenta séria dúvida objetiva sobre o recurso
adequado. E a parte não pode sair prejudicada, nesses casos, pela dificuldade de
interposição do recurso.
Nelson Nery Junior, doutrinador processualista, define o momento certo que se
configurará a dúvida objetiva, a saber:

‘‘Essa dúvida pode ser de três ordens: a)o próprio código designa uma
decisão interlocutória como sentença ou vice-versa, fazendo-o obscura ou
impropriamente; b) a doutrina e/ou a jurisprudência divergem quanto á classificação de
determinados atos judiciais e, consequentemente, quanto à adequação do respectivo
recurso para ataca-los; c) o juiz profere um pronunciamento em lugar do outro’’.

Por fim, os artigos 277 e 283 do CPC estabelecem que a adoção de um recurso ao invés
do outro, desde que preservados todos os requisitos sobre o conteúdo necessários para o
recurso correto e adequado, cairá em erro de forma, considerando juntamente, também, a
ausência de má-fé ou erro grosseiro. Para os dispositivos mencionados tais aplicações
inadequadas não são anuláveis, devendo ser corrigidas para a devida forma, ao ato
processual correto. Serão anulados somente os atos que não possam ser aproveitados.

PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO REFORMATIO IN PEJUS:

O reformatio in pejus se apresenta toda vez que, no julgamento de um recurso, há o


proferimento de uma decisão majoritariamente desfavorável ao recorrente. Nosso sistema
processual repudia tal prática jurídica. Nesse sentido, o conhecimento e o discussão do
órgão ad quem deverá estar restrito e limitado ao pedido no recurso, sendo vedado o
agravamento da situação da parte que interpôs o recurso.
Visualiza-se que há situações na qual poderá ocorrer a piora no status do recorrente.
Principalmente quando há apreciação de matéria de ordem pública pelo órgão ad quem.
Por exemplo: a falta de uma das condições da ação, ausência de algum pressuposto
processual, a decadência ou a intangibilidade da coisa julgada. Tais vícios devem ser
conhecidos de ofício (menos nas instâncias superiores- extraordinárias), e havendo eles o
tribunal julgará o processo extinto, sem a resolução de mérito, em face do autor, mesmo
que seja ele o próprio recorrente.
Não há norma expressa sobre a vedação do reformatio in pejus no Sistema Processual
Civil Brasileiro, mas o princípio é conhecido e considerado como inerente ao sistema.
Portanto, em síntese, utilizar do recurso para agravar e piorar a situação do recorrente, em
ultima análise, é decidir de forma extra ou ultra petita. Pode-se considerar, ainda, que
há, na violação desse princípio, uma atuação jurisdicional de ofício, além de violar a coisa
julgada ou a preclusão, referente ao objeto daquilo que se transformou definitivamente
para a parte que não recorreu. Pois, no fim, pode-se agravar a situação de uma parte
mediante julgamento do recurso da parte contrária; jamais pelo recurso que a própria parte
interpôs.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

- Novo Curso de direito processual civil, volume 3 : execução, processos no tribunais


e meios de impugnação das decisões / Marcus Vinícius Rios Gonçalves. – 10. Ed. –
São Paulo : Saraiva, 2017.

- Curso de Direito Processual Civil – Execuções forçadas, processos nos tribunais,


recursos e direito intertemporal – vol. III / Humberto Theodoro Júnior. 49. Ed. rev.,
atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016.

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