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PMIP VI
TÉCNICAS PROJETIVAS GRÁFICAS
Professores:
Anete Maria Busin Fernandes
Claudinei Affonso
Elisabeth Costa Pinto Brandão
Renato Rochwerger
2º. Semestre
2021
2
SUMÁRIO
A evolução do grafismo 34
Aplicação do HTP 74
Aplicação do Wartegg 78
PARTE I
INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS PROJETIVAS GRÁFICAS
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RESUMO
O objetivo deste trabalho é refletir sobre a importância dos elementos expressivos do desenho
para a elaboração do raciocínio clinico do profissional na interpretação das técnicas projetivas
gráficas. O desenho, assim como o sonho, se vale de elementos pictóricos para favorecer a
manifestação do inconsciente, apresentando-se como elementos aparentemente
insignificantes, e assim facilitadores no desarme da censura e engates para manifestação dos
desejos e conflitos inconscientes. Refletindo sobre esta articulação propomos uma aproximação
do desenho em seu processo de formação, no qual a folha em branco deve ser ocupada
utilizando-se o lápis como instrumento de expressão Os elementos expressivos revelam-se
excelentes dados para tal tipo de abordagem. Propomos considerar o desenho como uma forma
possível de diálogo com as crianças, introduzindo a ideia de que a produção gráfica da criança,
a exemplo da produção onírica, é antes de tudo resultado de um trabalho psíquico e de que
qualquer busca de sentido só será alcançada, se esta puder ser inserida em um diálogo e uma
certa postura de escuta.
Palavras-chave: Psicodiagnóstico; produção gráfica; produção onírica; desenho e linguagem.
ABSTRACT
THE DRAWING AS A PSYCHODIAGNOSIS INSTRUMENT: REFLECTIONS FROM PSYCHOANALYSIS VIEW
The purpose of this paper is to consider the importance of the drawing expressive elements for
the construction of the professional clinical reflections, in order to understand the graphic
projective tests. The drawing, same as a dream, has recourse to the pictorial elements, in order
to benefit the unconscious manifestation, using apparently insignificant elements, that
facilitates control desarmation and a link for the manifestation of the unconscious desires and
conflicts. Deliberating about this articulation we suggest an approximation of the drawing in its
formation process, in which, the white paper must be filled, using the pencil as an expression
instrument. The expressive elements are an excellent datum for this kind of approach. We
suggest considering the drawing as a possible way to dialogue with children, introducing the
idea o that the child’s graphic production, as like the dream production, is primarily a result of
5
psychological work and that any search for meaning will only be achieved if it could be inserted
into a dialogue and a certain posture of listening.
Key words: Psychodiagnostic; graphic and oniric production; drawing and language
INTRODUÇÃO
A psicanálise exerceu forte influência no desenvolvimento e construção dos métodos
projetivos e na compreensão do processo psicodiagnóstico, no entanto o ensino na área das
técnicas projetivas centra-se muitas vezes na aprendizagem das pautas de interpretação dos
instrumentos, correndo o risco de favorecer modelos atomísticos de interpretação, perdendo
de vista o objetivo de alcançar as operações mentais operadas pelo sujeito e que permitiriam ao
psicólogo alcançar o modo de funcionamento psíquico do paciente, objetivo principal de um
processo psicodiagnóstico pautado na psicanálise. Pesquisas sobre técnicas projetivas com
estudos de validação e de padronização são importantes para comprovar cientificamente as
qualidades psicométricas dos instrumentos, identificando características próprias de várias
patologias ou grupos clínicos, no entanto o uso clínico destes instrumentos exige uma
compreensão mais ampla que aquela alcançada pelas pesquisas de traços ou categorias,
exigindo do clínico considerar a produção projetiva como um todo e na singularidade de cada
sujeito. Acreditamos que o conhecimento clínico e teórico da psicanálise poderia contribuir para
o ensino de técnicas de avaliação da personalidade a partir de desenhos. No entanto análise das
produções projetivas gráficas, valiosa ferramenta dentro do processo psicodiagnóstico, quando
feita apenas baseada nos manuais de interpretação dos testes, sem utilizar o raciocínio clínico
do psicólogo que integra as informações obtidas e tendo como pano de fundo um conhecimento
teórico sobre o desenvolvimento e a personalidade, corre o risco de resultar em interpretações
estereotipadas, perdendo seu caráter de rica possibilidade de comunicação, que pode contribuir
para mapear as várias dimensões presentes na construção da subjetividade do paciente,
permitindo um melhor encaminhamento aos profissionais que trabalham no campo da infância.
Pretendo expor neste trabalho o vértice encontrado para integrar estes aspectos e manter a
confiança de que, como psicanalista, é possível contribuir para a formação de psicólogos que
utilizam o desenho no processo psicodiagnóstico da criança. Esta proposta pretende contribuir
para retirar a análise de desenhos do limbo no qual se encontram todas as técnicas de avaliação
psicológica, tratadas em algumas áreas acadêmicas como um conjunto de instrumentos que
retiram o sujeito de sua condição de indivíduo. Trata-se de lutar contra uma desconfiança gerada
pela vulgarização, por vezes, demasiado simplista, dos modos de investigação psicológica, que
correm o risco de catalogar a criança e ao mesmo tempo defender a utilização de desenhos
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Os testes são para mim apenas um meio e não um fim. Utilizo-os num diálogo, durante
o qual procuro apurar um sentido, um sentido, sem dúvida, em função de certo esquema
familiar. E é, pois, ao discurso do sujeito que vou prender-me sobretudo (Mannoni,
1981, p. 84).
Diagnosticar é, neste sentido, interpretar, construir hipóteses que nos permitam dar
conta do trabalho simbólico junto aos conflitos que se estruturam no caminho de
construção da subjetividade, assim como abordar as formações imaginárias que se
apresentam como armadilhas do desejo para a sua satisfação (Sigal, 2000, p. 30).
A criança, por sua vez, não emite, intencionalmente, nenhuma mensagem codificada e
o psicanalista não tem que lhe mostrar alusivamente que sabe decifrar enigmas... É no
transcurso que a criança descobre o que tem para dizer e que por isso pode entrar no
universo do discurso (Diatkine, 2007, p. 35)
A produção de imagens é uma forma de comunicação de afetos que, a partir daquele
que a produz, estimula aquele que as observa a entrar em contato com elas, como uma espécie
de linguagem. Como apreciador de uma arte, podemos simplesmente nos deixar levar por esta
7
linguagem, mas como psicanalistas, temos muitas vezes a função de acolher este código de
linguagem e comunicação e tentar encontrar um sentido. Assim como nos sonhos, temos
imagens que se apresentam, às vezes condensadas, distorcidas, aparentemente desconexas,
mas que podem, a partir de um determinado modelo de escuta, adquirir um sentido.
O sonho, o desenho ou o jogo apresentam-se ao psicanalista como uma espécie de
linguagem cifrada, a ser decifrada por uma certa postura de observação; o grande enigma está
em como desenvolver os processos de decifração. Há sempre o perigo de trabalhar com códigos
unívocos, onde cada símbolo corresponde a um outro, a ele relacionado diretamente, o que
resulta em interpretações estereotipadas e empobrecidas da mente humana, não alcançando
uma visão dinâmica do funcionamento da personalidade, além de desconsiderar o aspecto
transferencial de um diálogo do qual ambos participam e no qual os personagens da dupla
interagem modificando os personagens do desenho.
Tentaremos percorrer o caminho que a psicanálise nos oferece para pensar.
Comecemos com Freud: apesar de incluir no relato do caso Hans o conhecido desenho das
girafas (Freud 1909/1980) ele não trabalhou com desenhos, mas com as imagens dos sonhos.
Além disso, ele também produziu um belíssimo texto no qual a partir de algumas obras e textos
de Leonardo da Vinci (Freud, 1910/1980) tentou formular hipóteses sobre a personalidade do
artista. Freud é pródigo em exemplos de análise, de mitos, produções artísticas, etc.,
representando conflitos típicos de todos nós. Sobre os artistas e suas produções, Freud
(1908/1980) aponta que a criatividade tem como uma de suas fontes o brincar infantil. O poeta
criativo faz o mesmo que a criança ao brincar, cria um mundo de fantasia que é levado muito a
sério e no qual investe muita emoção, sem confundir realidade com fantasia e nisto resulta o
prazer destas experiências. São atividades levadas a sério, mas nas quais se desfruta de uma
liberdade para vivenciar as fantasias, um dos fatores que tornam tão fascinantes tanto os
escritores criativos quanto crianças ao brincar. Ler um livro, ver um filme ou observar uma
brincadeira ou desenho infantil satisfaz nosso anseio por vivenciar esta experiência de
exploração do mundo dos sentimentos e nos mostra como é possível brincar com as fantasias,
sem perder o contato com a realidade ou enlouquecer, muito pelo contrário, elas permitem
crescer e enriquecer-se com tais experiências. É sempre instigante acompanhar uma criança que
se permite desenhar com liberdade, pois nos leva com ela para um passeio no universo das
fantasias infantis. Todos nós mantemos dentro de nós um caminho para a exploração deste
universo: o caminho dos sonhos, a via régia para o inconsciente (Freud, 1900/1980). Ele afirma
que, todo sonho é uma realização disfarçada de um desejo sexual infantil reprimido; uma
formação do inconsciente que se utiliza predominantemente de imagens para expressar-se,
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uma linguagem mais próxima do inconsciente em seu modo mais primário de funcionamento,
possível de surgir à mente durante o sono pela regressão funcional ocasionada pelo estado de
adormecimento. Esta condição, segundo Anzieu (1981) está presente, em parte, também nas
técnicas projetivas pela forma como são configurados os materiais projetivos e pelo tipo de
atividade proposta. Mas evitando uma perspectiva reducionista sobre as contribuições
freudianas devemos destacar que, em seus estudos, Freud destacou a importância do trabalho
de formação dos sonhos, no qual estão agindo concomitantemente, tanto a realização dos
desejos quanto a sua proibição, chamando a atenção para a produção onírica como um modo
de expressão de desejos, que só aparece predominantemente por imagens e enquanto
dormimos ou alucinamos. Outra forma de expressão deste mesmo sonho se revela quando
acordamos (elaboração secundária), além de outras possibilidades como esquecer o sonho,
quando este, apesar de possível de ser sonhado, torna-se inacessível para a vida desperta ou
ainda, os pesadelos que interrompem o sono, etc. O estudo do processo de sonhar permitiu a
Freud elaborar a sua primeira formulação sobre a constituição do aparelho psíquico (Freud,
1900/1980). Este grande preâmbulo pretende colocar em realce que, para além da mera
decifração dos conteúdos dos sonhos, é primordial ao psicanalista estar atento à compreensão
do processo de formação deste sonho e, assim, poder ter acesso ao sonhador e não ao
inconsciente. Esta é a perspectiva sob a qual sugerimos considerar o uso de desenhos no
processo psicodiagnóstico. Tomar o desenho final como resultado de um trabalho psíquico, que
se inicia com as instruções do teste que mobilizam as angústias do sujeito e que o resultado final
do desenho refletirá a forma como este sujeito lidou com estes conteúdos, de acordo com suas
capacidades egóicas. A um analista engajado e consciente de nada serve um manual de
interpretação dos sonhos, pois se é verdade que o sonho utiliza certo simbolismo para expressar
os desejos inconscientes, é também verdade que só a análise do sonhador permitirá
compreender, porque ele precisou sonhar este sonho, deste jeito. Assim deve-se considerar que
além do conteúdo simbólico do sonho, a forma imagética na qual ele se apresenta, temos a
forma como ele é lembrado e, nunca é demais ressaltar, temos as associações despertadas por
cada um dos elementos deste sonho e o mesmo vale para as produções gráficas. É intuito deste
trabalho, alertar para o cuidado que devemos ter quando nos aproximamos de uma técnica
projetiva gráfica e dos manuais de interpretação. Os manuais são úteis para orientar o psicólogo
a respeito dos principais aspectos simbólicos associados aos elementos destas produções
gráficas. Ao interpretar desenhos nos valemos dos significados dos símbolos derivados da
psicanálise, dos folclores, dos estudos dos sonhos, dos mitos e das fantasias. Estes símbolos
funcionam como engates a partir dos quais o inconsciente se vale para alcançar o caminho da
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de todas as folhas e lápis que estão a sua frente, sem poder realmente desenhar. Trata-se de
pura descarga de traços ou há uma elaboração no traçado? O contato com o psicólogo ao longo
dos encontros afeta de que maneira sua produção? Há uma visível preocupação em não deixar
espaços em branco, como se temessem o vazio, ou, ao contrário, restringem-se a um único
espaço da folha? Em que parte da folha se coloca? Quais partes da folha não pode ocupar? Há
alguma modificação ao longo do encontro conosco? Como muda seu desenho? Expande-se ou
restringe-se? Torna-se mais colorido ou cada vez mais sombrio? Comporta-se em relação a seu
desenho na folha como se o espaço disponível fosse muito menor do que aquele que a folha
parece oferecer, ocupando mínimas proporções da mesma, ou seu desenho parece transbordar
o espaço efetivo da folha? Ele se dá conta disso ou desconsidera? Qual elemento do desenho é
reduzido ou ampliado? Como trabalha este espaço? A folha parece dividida em duas partes
distintas (cima/baixo ou direita/esquerda)? O que há de invariante nestas características
formais? É possível detectar variações destas características ao longo da produção gráfica do
sujeito e como articulá-las ao tema do desenho ou ao traçado ou mesmo à relação com o
psicólogo. Como estão as cores, gradações de intensidade cromática? Com que partes do
desenho ele parece insatisfeito, como lida com esta insatisfação (apaga, retoca, reforça) e qual
é o resultado final deste trabalho de acertar este desenho? Queremos salientar que não se trata
de excluir toda referência aos conteúdos temáticos, mas integrá-los aos aspectos expressivos.
Há um ambiente-folha no qual o paciente vai através de seu lápis se colocar (Van Kolck, 1984) e
a forma como o sujeito a utiliza poderá revelar a forma como se coloca no mundo. Estas
questões visam investigar como é feita esta abordagem ao ambiente, usando o instrumento
(lápis) do qual dispõe. Hammer (1991) coloca que estes aspectos expressivos traduzem as
atitudes básicas do indivíduo em relação a si mesmo e ao ambiente assim como a forma como
lida com seus impulsos. Vários autores como Hammer (1991) e Rodulfo (1992) falam de uma
escritura que se revela por detrás de nossos traços no papel ou traços corporais. O que nos
fornece esta escritura no desenho são estes aspectos estruturais do desenho: tamanho; pressão
e qualidade da linha; posição na folha; precisão e grau de completude do desenho;
detalhamento; simetria; proporções; perspectiva; sombreamentos; reforços; correções e
retoques.
Grassano de Piccolo (1974) e Grassano (1977) apresentam trabalhos na área
diagnóstica, e tentam demonstrar como os principais mecanismos de defesa podem aparecer
nas produções gráficas. Grande parte das características levantadas pela autora se referem a
aspectos como: organização guestáltica do desenho (organização, coerência, harmonia),
perspectiva (como forma de expressão do tempo), preenchimento dos espaços na folha, limites
11
REFERÊNCIAS
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publicado em 1961).
12
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Van Kolck, O.L. (1984). Testes projetivos gráficos no diagnóstico psicológico. São Paulo: EPU.
Por acaso vi uma certa carta, num certo casaco, pertencente a um certo homem,
vinda de uma certa dama da distante e maldita Alemanha. Acho que deve ser a
dama que Willi Valentiner mandou para cá para se divertir e com propósitos
“científicos”, “artísticos” e “arqueológicos”... que me deixou zangada e, para lhe
dizer a verdade, enciumada..
Por que tenho que ser tão teimosa e obstinada, a ponto de não
compreender que as cartas, os problemas com as saias, as professoras de...inglês,
as modelos ciganas, as ajudantes de “boa vontade”, as discípulas interessadas na
“arte de pintar” e as mulheres plenipotenciárias, mandadas de lugares distantes,
são simplesmente piadas, e que, lá no fundo, você e eu nos amamos muito?
Mesmo que vivenciemos aventuras intermináveis, rachaduras nas portas,
“referências” a nossas mães e queixas internacionais, acaso não estamos sempre
sabendo que amamos um ao outro? Acho que o que está acontecendo é que sou
meio estúpida e uma tola, porque todas essas coisas aconteceram e se repetiram
nos sete anos que vivemos juntos. Toda esta raiva simplesmente me fez
compreender melhor que eu o amo mais do que a minha própria pele, e que,
embora você não me ame tanto assim, pelo menos me ama um pouquinho – Não
é? Se isto não for verdade, sempre terei a esperança de que possa ser, e isto me
basta...
Ame-me um pouco Eu adoro você
Frieda
1
Doutora em Psicologia Clínica- USP; Membro Efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São
Paulo; Professora do Curso de Especialização em Psicoterapia Psicanalítica- USP.
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Fig. 1 – Frida e Diego Rivera Fig. 2 – O abraço amoroso entre o universo, a terra,
México, eu, Diego e o señor Xoltl
15
que parece estar flutuando no ar. Uma lágrima cai de seu olho, e sua mão está conectada
com seis imagens, que representam fragmentos de associações e sentimentos que pairam
em sua mente em seguida a um aborto. As fitas que ligam as figuras parecem cordões
umbilicais, com a função de mantê-la atada às suas diversas partes e de integrar seus
sentimentos dolorosos. A pintura desesperada de seu diário: “Eu sou a desintegração”
feita anos mais tarde, (fig. 7) confirma o sentimento de instabilidade psíquica e de falta
de coesão. Ela aparece como uma marionete sem vida, em cima de uma coluna clássica,
e partes dela vão caindo: um olho, uma cabeça... Frida desenhou essa pintura por ocasião
da amputação de seu pé, quase no final da vida, mas podemos concluir que sentimentos
dessa ordem já estavam presentes de forma mais contida desde cedo em sua vida, e que
procurava o olhar do outro para lhe dar sustentação.
A pintura representava para ela uma forma de expressar o que a afligia. Quando
ela estava em depressão ou infeliz, Diego a incentivava a pintar. Ele parecia compreender
que esta era a forma pela qual ela poderia transformar seus estados emocionais turbulentos
e reorganizá-los de forma criativa.
O quadro “Alguns golpes” (1935) (fig. 8) mostra a repercussão emocional que a infidelidade
de Diego provocava em Frida: uma mulher ensanguentada jaz numa cama, após ter sido
brutalmente esfaqueada por um homem, que segura ainda a faca. No alto do quadro, vemos
uma referência irônica a tanta violência: “unos cuantos piquetitos!” (alguns golpes!). Os
ferimentos expostos da mulher agonizante expressam de modo claro os danos emocionais
sentidos por Frida. Ela confidenciou a uma amiga que pintou este quadro porque ela mesma
chegou perto de ter sido “morta pela vida” (Herrera, 2002b). Quadros posteriores retrataram
sua imensa dor pelas feridas conjugais: “Memória” (1937) (fig.9), no qual está desenhada
chorando, sem as mãos, com um mastro perfurando seu corpo no lugar do coração, e com
um coração desproporcionalmente grande sangrando aos seus pés. Segundo Kettenmann
(2006), o tamanho do coração simboliza a intensidade da dor e a falta de mãos ilustra seus
sentimentos de incapacidade e desespero, presentes em grande parte de seus
autorretratos...
preferíveis à separação, que a faria sentir-se como uma criança desamparada. Gostaria de
estar imune aos ciúmes, imaginando que assim nada poderia colocar em risco sua união.
Desesperada na busca de contato afetivo, Frida também teve várias relações
extraconjugais, com homens e mulheres. Ela escondia com muito cuidado os
relacionamentos com outros homens, em função dos ciúmes intensos de Diego. Ele
incentivava, no entanto, as manifestações de lesbianismo, que achava “saudáveis” e
“bonitas”. Apesar de todas as decepções e sofrimento com o marido, era a ele quem
dedicava o centro de seu amor. Para Frida, a separação era impensável. Ela preferia contar
com uma fatia pequena do amor de Diego a se sentir perdendo o pedaço de si mesma que
projetava nele.
Por iniciativa de Diego, o casal se divorciou em 1939. O sofrimento de Frida
parecia ter chegado a seu clímax, provocando enorme turbulência emocional, como se
pode ver no quadro “Autorretrato com cabelo cortado” (1940) (fig. 10). Como resposta
ao desespero que a rejeição do marido provocava nela, Frida cortou seus cabelos e se
vestiu de homem. Pedaços de cabelo são pintados por toda a tela, mostrando seu ódio, um
sentimento de fragmentação psíquica e de uma feminilidade despedaçada. No alto do
quadro, os dizeres: “Olha que se te quis foi por causa dos teus cabelos. Agora que estás
careca, já não te quero mais”. Num de seus quadros mais famosos, “As duas Fridas”
(1939) (fig.11). Frida recorre a seu duplo como forma de lidar com a dor: a Frida
Tehuana, sentada à esquerda, apresenta um coração intacto e segura em uma de suas mãos
o retrato de Diego menino. A outra Frida, européia, tem uma artéria sangrando e corre o
risco de esvair em sangue até a morte. As duas Fridas estão de mãos dadas e ligadas por
uma artéria. Representam o lado idealizado e imune à dor, na Frida Tehuana, e o lado que
sofre o desespero e o sentimento de morte psíquica, na Frida européia.
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Frida e Diego se casaram de novo um ano depois, mas a vida conjugal do casal
continuou conturbada: os casos extraconjugais eram frequentes, houve novas tentativas
de pedido de divórcio por parte de Diego e pensamentos de suicídio em Frida. Apesar da
turbulência, continuavam juntos num elo difícil de romper.
As dores físicas que a acompanharam por toda a sua vida desde o grave acidente
que teve quando estava em um bonde aos 18 anos recrudesciam com uma intensidade
atroz nos períodos em que ela estava separada do marido. Seu médico particular, Dr.
Eloesser, relacionou as inúmeras cirurgias a que ela se submeteu a esses períodos de
desolamento. Elas representavam um grito por atenção, e aliviavam seus sentimentos de
desconexão. Ao se sentir abandonada por Diego ou na sua ausência, as crises ocorriam.
Quando ele voltava a estar ao seu lado, ela se recuperava. Em seu Diário, Frida escreveu
tudo o que ele representava para ela: “princípio, construtor, minha criança, meu
namorado, pintor, amante, “meu marido”, minha mãe, meu pai, meu filho, = a mim,
Universo diversidade na unidade” (Fuentes & Lowe, 2005) (p.60). Ao mesmo tempo, há
um grande lamento: “DIEGO Estou só” (p. 79), ou ainda um momento de dura reflexão:
“Porque eu o chamo meu Diego? Ele nunca foi ou será meu. Ele pertence a ele mesmo.”
(p.61)
De que natureza era a força motivadora que impelia Frida em direção a Diego,
apesar de tanto sofrimento? Por que insistir numa relação geradora de contínua decepção
e insegurança? Entre os casos extraconjugais que manteve, houve pessoas seriamente
interessadas nela, com quem estabeleceu um contato mais íntimo. Por que então escolher
indubitavelmente Diego?
Frida parecia buscar nele desesperadamente algo que lhe era imprescindível, e que
ela constantemente sentia lhe escapar, próprio do relacionamento fusional do bebê com a
mãe. Para Freud (1940[1938]1975) a relação da criança muito pequena com a mãe
estabelece para toda a vida o primeiro e mais forte objeto amoroso e é o protótipo de todas
as relações amorosas posteriores. Freud (1914/1975) ressalta ainda que o indivíduo tem
originalmente dois objetos sexuais: ele próprio e a mãe, e isso se manifesta na escolha
objetal que ele faz.
Bollas (1992) se refere ao primeiro objeto materno como um objeto
transformacional, o qual é identificado pelo bebê como o processo da alteração da
experiência do self. Esta identificação surge de um modo de relação simbiótico, por meio
do qual a mãe ajuda a integrar o ser do bebê, do ponto de vista instintivo, cognitivo,
afetivo, ambiental. Certas formas de procura de objeto na vida adulta visam encontrar
esse processo de transformação dos primeiros tempos de vida, experimentado no contato
com a mãe. Podemos imaginar que Frida buscava em Diego estas qualidades
transformadoras de si mesma, e o que se repetia inexoravelmente era o fracasso desta
procura.
A história da infância de Frida nos permite fazer conjecturas a esse respeito. Ela
era a quarta filha do casal Matilde Calderon, mestiça católica devota, e Guilhermo Kahlo,
fotógrafo, nascido na Alemanha. Segundo Matilde, não foi um casamento feliz. O terceiro
filho, único menino, faleceu pouco depois de seu nascimento. Matilde ainda estava em
processo de luto quando nasceu Frida, em seguida a este filho falecido, e onze meses
depois dava à luz Cristina, sua última filha. Há evidências de que Matilde sofreu de
depressão pós-parto por ocasião do nascimento de Frida. Esta última foi entregue para ser
amamentada por uma ama de leite, que foi despedida por abusar do álcool. Uma segunda
ama de leite se encarregou da alimentação do bebê.
As falhas na relação primitiva de Frida com sua mãe são retratadas de forma
dramática em duas de suas obras: no quadro “Meu nascimento” (fig. 14) sua mãe está
morta, o rosto coberto com um lençol, dando à luz o bebê Frida com uma feição que
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parece estar contorcida por um grande esforço. No alto está o quadro da Virgem dos
Lamentos, chorando. Em “Minha ama e eu” (fig. 15), a artista retrata a imagem que lhe
ficou gravada sobre sua relação de amamentação: o rosto da ama está coberto por uma
máscara de ferro, sem que esta olhe para o bebê que está amamentando. Não há contato
entre a boca do bebê e o mamilo da ama. Há uma gota de leite que escorre. O olhar de
Frida parece perdido no seu esforço por sobrevivência...
Os quadros sugerem que houve uma falha na função da materna como “escudo
protetor”, ocasionando o que Masud Khan (1974) considerou como “trauma cumulativo”.
O luto mal elaborado da mãe pelo filho morto e sua depressão nas etapas iniciais
primordiais do desenvolvimento da criança, o nascimento precoce da irmã, funcionaram
para Frida como traumas cumulativos, aos quais se somaram outros que foram
amplificando estas fendas primordiais.
O pai de Frida, Guilherme Kahlo, teve uma profunda influência em sua vida e no
desenvolvimento de suas aptidões artísticas. Era fotógrafo, epiléptico, e compartilhava
com ela seu hobby, a pintura. Sua presença em sua vida possibilitou-lhe introjetar um
objeto bom, acolhedor, um interlocutor que era buscado nas telas e nas tintas com que
expressava seus sentimentos. Sua presença em sua vida possibilitou-lhe introjetar um
objeto bom, acolhedor, um interlocutor que era buscado nas telas e nas tintas com que
expressava seus sentimentos. Para Herrera, (2002a) a doença crônica do pai ensinou a
Frida que a fraqueza traz a atenção das outras pessoas. Muitas vezes em sua vida ela
recorreu às manifestações de doença e fragilidade para conservar Diego perto dela...
Os quadros de Frida nos permitem supor que Frida não se sentiu olhada de fato no
contato com a mãe, o que resultou em um sentimento permanente de carência e vazio.
Como afirma Winnicott (1971/1975), quando o cuidado à criança é suficientemente bom,
o bebê vê a si mesmo ao olhar para a mãe. Isso significa que ela lhe dá a ilusão de que ele
é o centro do mundo, e com isso o ajuda a construir um sentimento de valor e as bases
principais de seu self. Assim, o apaixonamento da mãe pelo bebê, que já se inicia na
gravidez com a preocupação materna primária (Winnicott, 1956/1988), é primordial para
o seu bom desenvolvimento psíquico. O estado de depressão materna, como parece ter
ocorrido na história inicial de Frida, impede com que esse processo se desenvolva de
forma adequada.
Encontramos na relação de Frida com Diego elementos semelhantes aos que ela
retratou em seus quadros sobre a inadequação materna. Ela buscava com desespero o
23
olhar dele, mas ele lhe escapava constantemente, como uma sereia encantadora, mas
fugidia (Levinzon, 2009). Numa compulsão inconsciente à repetição, havia uma busca
incessante de contato com o objeto amoroso, tentando mudar uma história primordial
vivida de forma dramática. Em suas lembranças de Frida, Ella Wolfe contou: “Quando
eu estava sozinha com ela, ela me dizia o quanto era triste a sua vida com Diego. Ela
nunca se acostumou com os casos dele. A cada vez havia uma nova ferida, e ela continuou
sofrendo até o dia em que ela morreu. Diego nunca se importou. Ele disse que fazer sexo
era como urinar. Ele não podia entender porque as pessoas tomavam isso tão seriamente.
Mas ele tinha ciúmes de Frida- um duplo padrão, ‘el gran macho.’ ” (Herrera, 2002a, p.
366) Podemos imaginar que havia tanto em Frida quanto em Diego o desejo inconsciente
de reparar os relacionamentos patogênicos do passado e, como salienta Kernberg (1995),
a tentação de repeti-los em termos de suas necessidades agressivas e vingativas
insatisfeitas. Segundo este autor, cada parceiro tende a induzir no outro características do
antigo objeto edípico ou pré-edípico com quem ele teve conflitos...
Ao descrever relações amorosas que se caracterizam pela constante repetição de
aproximação seguida de rejeição, Defontaine (1995) ressalta que elas reproduzem
ligações objetais solidamente ancoradas no negativo. O que se repete é a patologia da
ligação primária. O sujeito não renuncia à relação, por mais dolorosa que seja, procurando
dominar a situação traumática original: é preciso conservá-la, unicamente com o
propósito de destruí-la. A “patologia do elo amoroso” tem na sua origem uma ferida
narcísica decorrente das experiências de perda e rejeição que não puderam ser elaboradas.
A manutenção de uma relação amorosa com um objeto inacessível pode ser
compreendida ao considerarmos as idéias de Green (1974), que afirma que o que
prevalece é o medo de que o desaparecimento do objeto deixe a pessoa diante do horror
do vazio, e que não haja sua substituição por um bom objeto disponível. Diante da
depressão da mãe, o bebê introjeta uma figura materna distante, quase inanimada. Embora
viva, ela é sentida como morta e mantida como tal, o que vai influenciar decisivamente
seu investimento libidinal objetal e narcisista (Green, 1980/1988). O sujeito se apega a
esta imagem internalizada da mãe morta de tal forma, que resiste em substituí-la por
qualquer outro objeto. É melhor tê-la presente, morta, do que correr o risco de perdê-la e
se deparar com o vazio aterrador. As palavras de Frida são significativas: “Eu amava meu
pai porque ele era muito bom para mim, porque ele me ajudava. Eu amava minha mãe
porque eu a via sofrendo muito... Eu o vi morto; eu não quis vê-la morta” (Campos, 2008,
24
p.85). Podemos pensar que a escolha amorosa de Frida representava uma forma de
permitir com que a imagem dessa mãe, identificada em Diego, permanecesse viva,
embalsamada...
maioria deles ela expressou seus sentimentos de dor, angústia e decepção. Por vezes os
temas da morte e do suicídio eram sugeridos em suas pinturas. Frida criava um olhar para
si própria, que tinha a função de auto-sustentação e reconhecimento de si mesma. Ela era
a pessoa observada, e ao mesmo tempo aquela que olhava atentamente, e por longos
períodos de tempo. Desta forma, ela criava um duplo imaginário, que parecia ter funções
corretivas para a depressão e para a integração de seu self. Assim como o bebê olha para
a mãe e espera ver nela primordialmente o seu próprio reflexo, Frida era, por meio de
seus autorretratos, mãe de si mesma, seu próprio objeto amoroso...
Suas palavras falam por si sós: “Pinto-me porque estou sempre tão só, porque eu
sou o tema que conheço melhor...” (Herrera, 2002a)
RESUMO
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bollas, C. – (1992) A sombra do objeto; psicanálise do conhecido não-pensado. Rio de Janeiro, Imago.
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Defontaine, J. (1995) – Les turbulences de la passion ou la relation d’objet paradoxale. Bull. Société
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em1971).
Zamora, M. (comp.) - (2006) Cartas apaixonadas de Frida Kahlo RJ, José Olympio.
27
Nesse mesmo sentido, Levy (1991)destaca que a quantidade de informações que podem
ser obtidas dos desenhos de uma pessoa depende da “massa aperceptiva” do psicólogo, ou seja,
da sua compreensão, experiência e conjunto de habilidades. Isso na verdade se aplica a todas
as técnicas projetivas – situações de observação controlada, nas quais se estimula
comportamentos verbais e não-verbais do indivíduo por meio de instruções e materiais
ambíguos que lhe permitam compreender a situação a seu modo e responder com os recursos
que costuma usar.
Ocampo (1994) recomenda que o processo de investigação clínica comece pelas
técnicas projetivas gráficas, a menos que o paciente apresente dificuldades de cunho não
psicológico para a realização dos desenhos. Isso se justifica porque de modo geral as técnicas
gráficas provocam menos ansiedade, pois a tarefa é simples e familiar para a maioria dos
2
Adaptado de capítulo de Maria Cecilia de Vilhena Moraes publicado em Villemor-Amaral, A. E.;
Werlang, B. S. G. (orgs). Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2008.
28
sujeitos. Além disso, sua realização é de baixo custo e exige pouco tempo, e de modo geral
aborda aspectos menos sentidos como próprios, o que favorece que o paciente trabalhe mais
aliviado. O caráter não ameaçador desses instrumentos pode, assim, modificar as fantasias com
que o paciente chegou ao exame psicológico e contribuir para uma maior disposição em
estabelecer um bom rapport com o psicólogo.
A autora sugere começar pelas técnicas menos “fechadas”, como o desenho livre, e aos
poucos propor técnicas mais direcionadas, como o HTP. Recomenda ainda que os diferentes
instrumentos gráficos sejam aplicados sucessivamente, a fim de que o conjunto da produção
possa ser considerado como um todo e seja possível acompanhar o desempenho do sujeito ao
longo da sessão, identificando se há uma tendência à organização crescente ou à desorganização
progressiva. Segundo Hammer (1991), a análise da sequência de execução de cada desenho
específico ou da qualidade global dos desenhos em relação aos que os antecedem ou sucedem
permite analisar os aspectos estruturais do conflito e da defesa.
Outra vantagem das técnicas projetivas gráficas é que as tentativas de controle
intelectual e consciente sobre a produção ficam mais evidentes (por exemplo, desenhos de
figuras excessivamente esquemáticas ou estereotipadas) e o aplicador sempre pode solicitar
que o indivíduo faça outro desenho. As técnicas gráficas também detectam com maior precisão
os níveis mais profundos de integração e dissociação da personalidade, da qual refletem
aspectos mais estáveis e mais difíceis de ser modificados (Grassano, 1994).
Os clínicos que de fato conseguem usar desenhos para gerar impressões
diagnósticas e orientações terapêuticas usufruem de uma sólida vantagem
por dispor de uma janela adicional aberta para o mundo interno singular do
cliente. Compreender como usar os desenhos no contexto das avaliações
diagnósticas oferece várias oportunidades de cuidar de áreas problemáticas
que de outra forma não seriam abordadas nos exames verbais de praxe,
podendo ser de grande valor para o planejamento do tratamento futuro.
(OLSTER & CRONE, 2004, p. 22-23).
No contexto da investigação clínica, é importante incluir técnicas de outros tipos na
bateria, pois a patologia muito intensa nos desenhos pode aparecer de modo mais moderado
na produção do indivíduo frente a estímulos de outra natureza. De qualquer forma, o bom
desempenho nas técnicas gráficas sugere bom prognóstico (Ocampo, 1994; Grassano, 1994).
Alguns questionamentos
Um questionamento comum feito a esse tipo de instrumento é a da possível
interferência da habilidade artística na produção do indivíduo. Como afirma Levy (1991), o
treinamento artístico não disfarça os aspectos caracterológicos; combina-se com eles. Basta
29
observar o estilo pessoal revelado na obra de grandes artistas: a intensidade das cores das telas
de Vincent Van Gogh, um artista atormentado pela força de seus sentimentos; o olhar quase
fotográfico de Edgar Degas, que jamais convidava as pessoas ao seu atelier, exceto as modelos
e os marchands; a frieza dos ambientes retratados por René Magritte, que jamais contou à sua
esposa que, aos 14 anos, vira o corpo de sua mãe suicida ser retirado do rio; as representações
de mulheres de Pablo Picasso, em oposição às de Amedeo Modigliani. As obras dos grandes
mestres não contradizem a hipótese projetiva. Pelo contrário, oferecem farto material para o
exercício das habilidades necessárias ao psicólogo clínico que pretende trabalhar com a
interpretação de desenhos.
Outra crítica frequente são os dados inconclusivos comuns nos estudos de validação das
técnicas projetivas gráficas. Levy declara que as tentativas de avaliação da validade e da
fidedignidade desses instrumentos sem dúvida é bem-vinda. Entretanto, é necessário que as
técnicas utilizadas sejam adequadas “à matéria” de que se trata: “de outra forma, o índice de
validade pode se referir não àquilo que está sendo investigado, mas, ao contrário, à ingenuidade
ou à superficialidade da técnica de validação”(Levy, 1991, p. 64).
Porém, conforme declara Trinca (1999), embora desde há muito se venha discutindo a
avaliação das técnicas projetivas, pouca atenção foi dedicada às qualidades da mente e ao
preparo do clínico que as utiliza.
A formação do profissional
31
Augras (1980) vai além, destacando que o psicólogo, embora deva recorrer sempre que
possível às informações da interpretação “clássica”, não deve aceitar nenhum sistema como
dogma, e sim extrair, de cada um, o que pode ser mais interessante para o caso específico que
tenha em mãos. Para trabalhar com o sentido simbólico dos desenhos, o profissional deve
obviamente aceitar os sistemas de psicologia profunda, e também ter uma base filosófica sólida
e um bom conhecimento do material fornecido pelos “sistemas intuitivos” (folclore, mitos
religião). Em síntese, resume a autora: “quem quiser dedicar-se à interpretação dos conteúdos
simbólicos deve ser, antes de tudo, eclético”. (p. 255)
No mesmo sentido, Trinca (1999) enfatiza o papel dos atributos pessoais do profissional,
uma vez que para compreender a dinâmica emocional inconsciente de outra pessoa é necessário
usar a própria sensibilidade e intuição. Para o autor, o requisito fundamental para essa prática
é a mobilidade psíquica do clínico, uma atitude sem preconceitos de se deixar levar no
relacionamento com o examinando que permitirá o aparecimento espontâneo das significações.
A análise da dimensão simbólica da produção do sujeito exige que o profissional tenha
aprendido a usar canais de comunicação que permitam alcançar a subjetividade e que melhor
se adaptem às peculiaridades de cada examinando, e a compreender a linguagem pré-verbal e
não-verbal expressa no comportamento observável. Acima de tudo, não se pode perder de vista
a compreensão psicológica global do indivíduo e a subordinação do processo diagnóstico ao
pensamento clínico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Janeiro: Campus, 1986.
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Marcel Aristides Ferrada Silva. São Paulo, PioneiraThomson Learning, 2002.
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O processo diagnóstico e as técnicas projetivas. Tradução de Miriam Felzenszwalb. São Paulo:
Martins Fontes, 1994.
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Paulo: Casa do Psicólogo, 1991.
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dos desenhos projetivos. Tradução de Eva Nick. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1991.
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George Schlesinger. 11ª ed. São Paulo: Summus Editorial, 1980.
11. OCAMPO, Maria Luisa Siquier e colaboradores. O processo diagnóstico e as técnicas projetivas.
Tradução de Miriam Felzenszwalb. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
12. OSTER, Gerald D.; CRONE, Patricia G. Using Drawings in Assessment and Therapy. 2nd ed. New
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(orgs). Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2008.
15. TRINCA, Walter. Psicanálise e expansão da consciência: apontamentos para o novo milênio. São
Paulo: Vetor, 1999.
33
PARTE II
SUBSÍDIOS PARA INTERPRETAÇÃO
34
A EVOLUÇÃO DO GRAFISMO
É unânime entre os autores que se dedicaram ao estudo da evolução do grafismo a
constatação do prazer que a criança pequena sente ao desenhar, rabiscar, pintar. Quando
observamos uma criança envolvida desse tipo de atividade, fica evidente a participação de todo
seu corpo nessa forma de expressão: deita-se sobre a folha de papel, sorri, faz caretas, mexe os
pés, eventualmente agira as mãos ou olha para cima, pensativa. O que acontece, ao longo do
caminho do desenvolvimento, que faz com que a maioria dos adultos abandone esse modo de
expressão?
Comecemos pelo princípio. A expressão gráfica tem sua origem no gesto. Trata-se, na
verdade, do registro de um gesto e sua origem é casual. A partir do momento em que a criança
percebe que um gesto deixa uma marca, seja na areia onde apoiou a mão, na janela embaçada
do carro, onde passou o dedo, na papinha que derrubou sobre a mesa, inicia-se um período de
intenso intercâmbio entre a repetição do gesto e a experimentação de novas possibilidades de
registro. A criança começa, então, a repetir e experimentar outros gestos para observar a marca
que produzem. Não se pode, neste ponto, falar em desenho. A criança não tem a intenção de
representar algo do mundo, mas apenas observar os efeitos provocados por seus movimentos.
Aos poucos ela passa a utilizar instrumentos que diferenciam e ampliam essas possibilidades de
registro – o lápis, o giz de cera, a tinta – para desespero das mães que se deparam com a falta
de limites dessa experimentação: o traço inicia-se no papel, continua sobre a mesa, estende-se
pelas paredes… Nas palavras de Derdyk,
Aos poucos, a criança vai se dando conta dos limites do papel, das relações figura-fundo,
parte-todo. Segundo Derdyk, “o prazer motor aos poucos alia-se ao prazer visual” (idem,
ibidem).
O crescente desenvolvimento motor permite o comando do movimento. A mão não
mais guia o movimento dos olhos – os olhos passam a comandar o movimento da mão. A criança
experimenta traços longos, curtos, movimentos amplos, contínuos, descontínuos… Observa
seus registros, modifica-os, combina-os. E um dia, olhando para algo que produziu no papel,
associa-o a algo que vê ou conhece. Percebe, então, que pode representar, através de sua
produção, as coisas de si, as coisas do mundo. Este é o ponto a partir do qual passa
35
Assim, após uma sucessão de desenhos “incorretos” – do ponto de vista da criança que
desejava uma produção realista – ela passa a acreditar que simplesmente não sabe desenhar.
Está estabelecido um critério de valor que discrimina os bons desenhos dos maus desenhos. E
ela conclui que só sabe fazer os maus.
Não se trata, portanto, de uma simples questão de desenhar ou não. Isto é apenas o
reflexo de uma postura que acaba por distanciar o homem do mundo que o cerca, pelo uso de
conceitos que não mais o vinculam às impressões sensoriais, que poderiam alimentá-los e
dinamizá-los.
Lowenfeld e Brittain (1977) apontam o fracasso de nosso sistema educacional pelo tipo
de indivíduo que ele forma e valoriza: o que é capaz de regurgitar fragmentos de informações
através da ênfase nas habilidades avaliadas pelos testes de inteligência, em detrimento de
outras tantas faculdades intelectuais humanas, principalmente as associadas aos sentidos.
Estar capacitado a reunir determinadas letras na sequência adequada para
que se leia coelho não constitui uma compreensão do que seja um coelho.
Para conhecer realmente um coelho, a criança deve poder tocá-lo, sentir o
contato de sua pele, observar como mexe o focinho, alimentá-lo e aprender
seus hábitos. É a interação dos símbolos, do eu e do ambiente que fornece os
elementos necessários aos processos intelectuais abstratos. (LOWENFELD
&BRITTAIN, 1977, p. 16)
De fato, não se pode considerar o sistema educacional à parte do sistema social ao qual
serve e sustenta. Ele representa as expectativas do grupo e forma indivíduos conforme se
espera. A compartimentalização do conhecimento, a desvinculação entre vivência e
representação abstrata, entre o que se sabe e o que se vive, não são privilégio de nossas escolas,
caracterizando, sim, toda uma visão de mundo própria da civilização ocidental.
39
INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
▪ 4 –5 anos: amplo uso dos desenhos para contar histórias e expressar sentimentos.
▪ 5 a 6 anos: início dos desenhos de paisagens (associados à própria ampliação dos horizontes
da criança). Identificação do “chão” com a borda inferior do papel e o “céu” com a borda
superior.
▪ 9-11 anos: intensa busca de realismo na expressão gráfica, principalmente pelo acréscimo
de detalhes. Paralelamente aumenta a crítica quanto à própria realização. Temas
diferenciados de acordo com a idade:
meninos: carros, carros de corrida, cenas de guerra com torpedos, mísseis, armas,
foguetes; super-heróis, letras compactas, imagens estranhas ou bizarras.
meninas: flores em vasos, paisagens com montanhas e cachoeiras refletidas em lagos,
meninas com olhos grandes, cílios compridos, cabelos elaborados, cinturas finas, pés
pequenos e mãos para trás.
▪ 10-12 anos: conflito entre percepção e conceito. Estagnação do desenho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
3
Adaptado de capítulo de Maria Cecilia de Vilhena Moraes publicado em Villemor-Amaral, A. E.;
Werlang, B. S. G. (orgs). Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2008.
42
John Buck (1948) sistematizou os dados das técnicas desenvolvidas por Koch e
Machover e acrescentou o desenho da casa. Posteriormente, Emmanuel Hammer
introduziu o HTP cromático no procedimento, visando investigar a personalidade em um nível
mais profundo do que o possibilitado pela produção acromática(Hammer, 1991).
A tarefa de desenhar os três temaspode ser considerada como um tipo de teste
situacional no qual o sujeito enfrenta não só o problema de desenhar o tema indicado, como
também com o de orientar-se, adaptar-se e comportar-se numa situação específica. Para isso,
ele mostrará um comportamento verbal, expressivo e motor. Esses comportamentos, assim
como o próprio desenho, fornecem os dados para a análise psicológica (Levy, 1991).
Princípios de interpretação
A produção pode ser analisada sob três perspectivas: adaptativa, expressiva e projetiva
(Van Kolck, 1984). A diferenciação em três perspectivas é puramente didática, uma vez que os
três aspectos são inseparáveis. Da mesma forma, os vários desenhos devem ser analisados em
conjunto, procurando-se padrões característicos da produção do sujeito.
A perspectiva adaptativa avalia a adequação do sujeito à tarefa, considerando a
qualidade da produção tanto em termos formais de correspondência ao grupo etário e
sociocultural ao qual o indivíduo pertence, quanto à compatibilidade entre o que foi solicitado
e o que foi produzido. De modo geral, os problemas de adaptação se devem a recursos
intelectuais insuficientes, problemas orgânicos, patologias mais graves ou problemas
emocionais intensos.
A perspectiva expressiva analisa o estilo próprio do sujeito. Como destaca Hammer
(1991), nossos músculos não mentem; a análise volta-se para a expressão psicomotora do
indivíduo, levando em conta também os comportamentos não-verbais apresentados durante a
realização da tarefa.Considerando que a folha em branco representa o ambiente delimitado
imposto ao sujeito (Van Kolck, 1984), o modo como o indivíduo o utiliza revelará sua orientação
geral em relação ao mundo e a si próprio. Os aspectos expressivos revelam características
estáveis do indivíduo, como as atitudes básicas em relação a si e ao ambiente, o grau de energia
de que dispõe e como a investe, o controle na expressão dos impulsos e os recursos cognitivos
potenciais e efetivamente usados para dar conta das tarefas propostas (Hammer, 1991).
A perspectiva projetiva concentra-se no modo como o tema é tratado e avalia a
atribuição de qualidades às situações e objetos representados, o que permite identificar áreas
de conflito mais significativas (Van Kolck, 1984). Aqui a atenção se volta para as diferentes partes
representadas e a análise se fundamenta no aspecto simbólico dos elementos analisados.
Adaptação temática
Verificar, de acordo com o tema do desenho proposto pelo aplicador, se a produção está
de acordo como as instruções e se pode ser considerada:
Convencional: indica que o indivíduo captou o consenso social, é capz de ver e entender o
mundo com os outros, tem capacidade de adaptação.
Original: o indivíduo é capaz de captar o consenso, mas possui mais recursos criativos,
permitindo-se uma abordagem mais pessoal.
Fantasista: há uma ligação entre a produção do indivíduo e o que foi solicitado, mas esta ligação
não é direta. Indica uso da fantasia como fuga da realidade e fonte de gratificação. O tema pode
dar indícios de áreas bastante valorizadas pelo individuo ou de intensa mobilização, caso seja
muito frequente ou, em caso contrário, áreas em relação às quais deseja distância, não quer
entrar e, contato.
Bizarra: não há ligação entre o que o sujeito desenhou e o que foi solicitado, ou ela é muito
remota. A produção em desacordo com as instruções pode ser decorrente de:
- não entendimento das instruções ou estereotipia devido a limitações dos recursos
intelectuais ou baixo nível cultural.
- tema associado a conflito, com consequente modificação para evitar o contato, ou
seja, presença de defesas atuantes.
- tema modificado como forma de crítica à situação e ao aplicador (ironia, cinismo).
- tema modificado por ruptura das defesas, quando o próprio contato com a realidade
fica comprometido.
Aspectos simbólicos da tríade Casa-Árvore-Pessoa
A experiência tem demonstrado que os temas: árvore, casa e pessoa são os preferidos
pelas crianças quando são solicitados desenhos livres. Em pesquisa realizada na Inglaterra,
Griffiths, citado por Hammer (1991), constatou que a figura humana é objeto mais desenhado
espontaneamente pelas crianças pequenas, seguida da casa e depois da árvore.
O HTP parte do pressuposto de que existe, no homem, uma tendência a ver o mundo de
modo antropomórfico. Assim, ele tende a atribuir a sua visão a outros habitantes do mundo, o
que permite identificar-se com eles e não apenas com seus pares humanos. Nesse sentido, a
46
casa, a árvore e a pessoa desenhadas no HTP não deixam de ser representações da imagem que
o indivíduo tem de si.
A Casa suscita associações à vida familiar e doméstica, tanto para crianças quanto para
adultos. O clima geral (ou atmosfera) do desenho é bastante indicativo de como o indivíduo
sente o seu ambiente. Segundo Hammer (1991), a casa representa mais frequentemente o
autorretrato com elementos de fantasia, ego, contato com a realidade, acessibilidade e também
a percepção da situação doméstica. Para a avaliação da integridade do ego, especial atenção
deve ser dada à solidez das paredes; o grau de uso da fantasia e da ideação pode ser indicado
pela proporção entre a área do corpo da casa e a do telhado. As aberturas para o mundo,
representadas pelas portas e janelas, são boas indicações da disponibilidade do indivíduo para
a interação social. Os elementos acessórios, como chaminés, jardineiras, grades de proteção,
também devem ser considerados em seus aspectos simbólicos, procurando-se compreender a
que servem e identificar os conflitos ou necessidades que podem ter motivado sua inclusão. Por
ser o primeiro da série, muitas vezes o desenho da casa apresenta poucos detalhes ou tamanho
pequeno, ou é desenhado no canto superior esquerdo da folha. Essas produções podem indicar
uma atitude de cautela decorrente da falta de referências quanto ao que virá em seguida. Caso
essas características apareçam somente nesse primeiro desenho da casa, a importância da
produção no quadro geral será menor, devendo-se enfatizar a própria atitude do indivíduo
frente a uma situação sobre a qual não tem controle.
A Árvore, por sua condição mais básica, natural e vegetativa, favorece a projeção de
sentimentos mais profundos da personalidade e do self em um nível mais primitivo. Como a
relação entre o indivíduo e a árvore não é tão evidente, esse desenho favorece também a
atribuição de sentimentos mais profundos, negativos ou perturbadores com menos exigência
de manobras defensivas do ego (Hammer, 1991). A Árvore tem alto valor simbólico e o emprego
universal de seu simbolismo foi constatado por autores de diferentes áreas como Carl Gustav
Jung (1991), Joseph Campbell (1990), Sir James G. Frazer(1986), apenas para citar alguns. Nossa
identificação com a árvore pode ser observada pelo uso metafórico de seu ciclo anual como
representação das fases da vida – observamos na árvore nosso próprio processo de crescimento,
reprodução e morte, e também a possibilidade de recuperação. Jung considera a árvore como
um motivo presente em sonhos, mitos e lendas de várias culturas, podendo assumir diferentes
significados: evolução, crescimento físico ou amadurecimento psicológico. Além disso, esse
tema está intimamente relacionado com o simbolismo da cruz, uma forma esquematizada de
árvore. Desenhar uma cruz é representar a si mesmo; a árvore é simbolismo do homem
enquanto ser vertical e representa o crescimento e a evolução, graças à proeminência do eixo
47
vertical em sua estrutura, em oposição ao simbolismo dos animais, mais associado à vida
instintiva. Expressões como “me senti podado” ou “ele resgatou suas raízes” ou a primeira frase
da obra Ricardo III de William Shakespeare, “o inverno da nossa desesperança” (também título
de uma obra de John Steinbeck) remetem à nossa identificação com a árvore e o ciclo das
estações. Para a avaliação da integridade do ego, especial atenção deve ser dada à solidez do
tronco; o grau de uso da fantasia e da ideação pode ser indicado pela proporção entre tronco e
copa. As diferentes possibilidades de interagir com o mundo são indicadas pelas ramificações
dos galhos. Elementos acessórios, como flores, frutos, nós na superfície do tronco, também
devem ser considerados em seus aspectos simbólicos, procurando-se compreender a que
servem e identificar os conflitos ou necessidades que podem ter motivado sua inclusão.
O desenho da Pessoa nitidamente tem características de “humanidade” com as quais o
indivíduo prontamente se identifica. Geralmente o desenho da pessoa gera protestos e
reclamações por parte de sujeitos adultos. Não se pode negar que se trata de um desenho mais
difícil de fazer do que o de uma casa ou de uma árvore. Há mais detalhes, as dificuldades com
as proporções ficam mais evidentes. Porém, é preciso considerar que, como o desenho da
pessoa mobiliza conflitos mais próximos da consciência, é natural que a ansiedade aumente,
assim como as manobras defensivas para contorná-la. Por esses motivos, o desenho da pessoa
tende a ter uma qualidade inferior à dos dois desenhos anteriores.
O desenho da pessoa é determinado por fatores psicodinâmicos nucleares resultantes
do conceito de imagem corporal - a imagem física em sua estrutura, e em grande parte
inconsciente, do tipo de pessoa que se é que cada um de nós leva em seu aparelho psíquico.
Essa imagem se baseia em parte nas convenções, em parte nas sensações e estrutura somática,
e em parte na transposição simbólica das atitudes em características somáticas. É construída a
partir de todas as imagens, sensações e emoções pelos quais o corpo passa ao longo da vida,
constituindo o estrato inconsciente das representações corporais (Schilder, 1981). Por esse
motivo,esse desenho manifesta mais prontamente a visão de si mesmo mais próxima da
consciência e a relação com o ambiente. Para a avaliação da integridade do ego, especial
atenção deve ser dada à integridade do corpo, à delimitação clara dos seus limites em relação
ao ambiente que o circunda; o grau de valorização dos processos ideacionais em oposição aos
emocionais pode ser identificado pela proporção entre cabeça e tronco. As diferentes
possibilidades de interagir com o mundo são indicadas pelas mãos e braços; a disponibilidade
para entrar em contato com conteúdos internos ou externos é expressa pelo tamanho e
qualidade dos olhos, entre outros. Elementos acessórios, como bolsas, cintos ou anéis, também
48
que pisamos, assim como a concepção habitual de inferno. Entendemos também que nossos
sentimentos vêem “de baixo”, e precisam ser controlados pela cabeça: “me subiu uma raiva e
perdi a cabeça”. Também as metas a alcançar são representadas como escaladas no eixo
vertical: “ele quer subir na vida”, “ela tem metas muito altas”, “ele é uma alpinista social”.
O eixo horizontal indica progressão e a dimensão temporal, o que pode ser constatado
em expressões como “ele parece que não avança, não sai do lugar” (permanecer no ponto de
origem, à esquerda) ou em “não coloque os bois à frente do carro” (a ação precipitada, para a
direita)ou ainda em “é preciso enxergar mais longe” (ter uma visão do futuro).
Esse simbolismo, apresentado aqui de modo extremamente conciso, aplica-se
também aos três temas do HTP, o que permite compará-los: uma área inferior, de base,
que constitui o apoio do objeto na realidade prática, representada mais claramente
pelos pés da figura humana e pelas raízes da árvore ou área de apoio da árvore e da casa
sobre o solo; uma área intermediária, de estrutura sólida, que assegura a sustentação
do objeto e que representa características mais estáveis do objeto (paredes da casa,
corpo da pessoa, tronco da árvore); uma área superior, menos estável, mais móvel ou
fluida (telhado da casa, copa da árvore, cabeça e feições da figura humana).
Considerando o simbolismo do espaço proposto por Pulver, essas três áreas
corresponderiam, respectivamente, à (1) área corporal, do inconsciente, da matéria; (2)
a área do ego, que assegura a integridade do indivíduo, e de suas relações tanto com as
pulsões como com as demandas do ambiente, do qual se diferencia; (3) a área dos
processos de ideação, do pensamento, da imaginação. Nos desenhos, a harmonia dessas
três áreas, sua articulação e proporções adequadas indicam uma personalidade
integrada que faz pleno uso de seus recursos internos. Mais preocupantes são as
produções em que justamente a parte “estrutural” dos desenhos se mostra
comprometida (paredes em ruínas ou a ponto de desabar, delimitação incerta ou
irregular do corpo da pessoa ou do tronco da árvore). Os aspectos de integridade e
harmonia são particularmente importantes na análise das defesas desenvolvida por
Grassano (1994, 1996), abordada a seguir.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ANZIEU, Didier. Os métodos projetivos. Tradução de Maria Lucia do Eirado Silva. 5ª ed. Rio de
Janeiro: Campus, 1986.
2. AUGRAS, Monique. A dimensão simbólica: o simbolismo nos testes psicológicos. 3ª ed. Petrópolis:
Vozes, 1980.
3. BUCK, John N. H-T-P: casa-árvore-pessoa, técnica projetiva de desenho: manual e guia de
interpretação. Tradução de Renato Cury Tardivo; revisão de Iraí Cristina Boccato Alves. 1ª ed.
São Paulo: Vetor, 2003.
4. CAMPBELL, Joseph. O poder do mito. Tradução de Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Palas Atena,
1990.
5. FRAZER, Sir James G. O ramo de ouro. Edição de texto de Mary Douglas. Resumido e ilustrado
por Sabine MacCormack. Tradução de Waltensir Dutra. São Paulo: Círculo do Livro, 1986, por
cortesia de Zahar Editores.
6. GRASSANO, Elsa. Indicadores psicopatológicos nas técnicas projetivas. Tradução de Leila Salomão
L. P. Cury Tardivo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.
7. _____________. Defesas nos testes gráficos. Em OCAMPO, Maria Luisa Siquier e colaboradores.
O processo diagnóstico e as técnicas projetivas. Tradução de Miriam Felzenszwalb. São Paulo:
Martins Fontes, 1994.
8. HAMMER, Emmanuel. Aplicações clínicas dos desenhos projetivos. Tradução de Eva Nick. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 1991.
9. JUNG, Carl G. O homem e seus símbolos.Tradução de Maria Lúcia Pinho. 17ª ed. Editora Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, 1991.
52
10. OCAMPO, Maria Luisa Siquier e colaboradores. O processo diagnóstico e as técnicas projetivas.
Tradução de Miriam Felzenszwalb. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
11. SCHILDER, Paul. A imagem do corpo. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
12. SILVA, M. C. V. M. A técnica da Casa-Árvore-Pessoa (HTP) de John Buck. Em Villemor-Amaral,
A. E.; Werlang, B. S. G. (orgs). Atualizações em métodos projetivos para avaliação
psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008.
13. VAN KOLCK, Odette Lourenção. Testes projetivos gráficos no diagnóstico psicológico. São Paulo:
EPU, 1984.
4
Adaptado de HAMMER, E. Advances in projective drawing interpretation. Springfield, IL (USA):Charles C.
Thomas Publisher Ltd., 1997. pp. 219-220.
53
Direção do desenho
- da esquerda para a direita: movimento construtivo natural.
- da direita para a esquerda:
Nota: verificar se o sujeito é canhoto.
Desvalorização do personagem
Indicada por:
• Negação: supressão simples do personagem. Eventualmente ocorre que falte o próprio
sujeito. Deve-se pensar na possibilidade de lhe desagradar seu sexo ou idade,
desejando ser outro. É necessário descobrir com quem se identificou a criança, sob
cujos traços estaria representada.
• Escotomização: omissão de uma parte do personagem (braços ou mãos, detalhes do
rosto).
• Tamanho menor que os demais
• Colocado por último, frequentemente na beira da página, como se a princípio não
pretendesse colocá-lo na página.
• Feito com menos cuidado ou menos detalhes que os demais.
• Sem nome, enquanto os outros têm.
• Muito raramente é identificado com o sujeito.
Relação à distância
A dificuldade que o sujeito encontra para estabelecer boas relações com os outros membros
da família pode evidenciar-se no desenho por uma efetiva separação. Aquele que o
representa encontra-se longe de um personagem valorizado ou de todos os personagens.
Eventualmente a separação é indicada por traços que dividem as diferentes partes do
desenho.
Símbolos animais
Rivalidade fraterna
Reações agressivas indiretas: Mais frequente. A censura do ego, que impede a expressão
declarada da agressividade, obriga essa tendência a manifestar-se de forma indireta.
• Eliminação do rival: É o grau mais intenso dessa desvalorização. Equivale a uma
negação da existência do rival. Outro procedimento é colocar-se com a idade que tinha
antes de o irmão nascer (regressão).
• Desenho de uma só criança: Como no caso anterior, indica imaturidade, já que a
criança não é capaz de aceitar as inevitáveis frustrações de viver em uma família com
mais irmãos, adotando então o mecanismo da negação, que simplesmente afasta o
que o molesta.
• Desenho sem criança: Identifica-se com um dos pais, frequentemente com o do mesmo
sexo. Indica egoísmo e imaturidade.
• Desvalorização do rival: A rivalidade fraterna se expressa de forma mais moderada, em
função do princípio da realidade e da constituição de um superego, depreciando o
rival, mas aceitando sua existência.
• Reações agressivas assumidas por um animal: Trata-se de uma simbolização, modo
primitivo de pensamento que substitui o pensamento racional quando existe
regressão.
Reações depressivas:
• Eliminação de si mesmo: É raro que essa eliminação seja completa.
• Desvalorização de si mesmo
Reações regressivas e a identificação com um bebê
Ocorre com certa frequência (35 em 100 casos), em todas as faixas de idade (6 a 15 anos).
Conflitos edípicos
Na amostra do autor, a maioria das crianças desenha os personagens vestidos e não mais
nus. O contrário, de um modo geral, é indício de imaturidade ou mesmo deficiência
intelectual.
De modo geral, pode-se dizer que o apego à mãe é conservador e regressivo, já que ela
simboliza proteção, segurança, amor e alimentação, em qualquer idade. Mesmo adulto, em
situações adversas, a tendência é voltar para a mãe. Já o apego ao pai é progressivo, na
medida em que o pai representa, na família, o elemento dinâmico que obriga a avançar,
progredir.
59
Situação edipiana:
• Valorização x desvalorização do genitor do mesmo sexo
• Valorização x desvalorização do genitor do sexo oposto
• Figura de identificação
• Atitude frente ao casal
• Eliminação do genitor do mesmo sexo
• Agressividade contra o genitor do mesmo sexo
• Agressividade simbolizada por um animal
• Defesas
isolamento: desenho de barreiras que separam os personagens
relação à distância: presença de espaços vazios, relação
distanciada
inibição: personagens rígidos, isolados uns dos outros, ordem
hierárquica
formação reativa: sentimentos contrários aos sentimentos
originais ou situação ambivalente.
Auto-imagem
I. ASPECTOS GERAIS
A. Aspectos Formais
1. Uso do espaço
amplo: indica abundância vivencial; a pessoa está aberta às impressões sensoriais, quase se
deixando subjugar por elas. Demonstra interesse, atividade e entusiasmo.
restrito: pode indicar estreiteza, escassez de sentimentos e de fantasia, pouco estímulo,
inatividade. Entretanto, se o desenho for bem elaborado e com sensibilidade ao estímulo,
pode indicar capacidade de concentração e objetividade.
2. Localização
O uso dos quadrantes deve ser interpretado com cautela, já que os estímulos estão
localizados em quadrantes específicos. Se o sujeito se atém ao quadrante do estímulo, a
interpretação deve ser a de uso restrito do espaço. Porém, se houver tendência sistemática
a usar hemicampos específicos, a interpretação é a habitual:
lado esquerdo:indivíduo mais passivo, contemplativo, sentimental.
lado direito: indivíduo mais voltado para atividade, futuro, realização.
metade inferior: indivíduo prático, mais voltado para a realidade concreta.
metade superior: tendência a sonhar, fantasiar, idealizar.
3. Expansões
Estão associadas à atitude frente às limitações impostas pelo ambiente externo, que
correspondem aos limites físicos do próprio campo. É interessante verificar em quais campos,
especificamente, as expansões ocorrem.
ausência: indivíduo adaptado, que não se ressente das limitações impostas pelo meio.
natural: o sujeito interrompe o desenho ao atingir o limite do campo. Indica ressentimento
frente às limitações impostas pelo meio, com tendência à acomodação.
gráfica: implica na presença de limites restritivos que o indivíduo deseja romper. Traduz-se,
graficamente, pela continuação da linha além dos limites do campo.
dinâmica: o indivíduo, apesar de interromper o desenho ao atingir o limite do campo, dá a
impressão de movimento, como se o desenho continuasse para além do limite. Indica
capacidade de lidar criativamente com as limitações impostas pelo meio e de adaptar-se
adequadamente.
4. Flexibilidade do traçado
61
CAMPO 1
EU
Qualidades formais redondo, pequeno, central
Simbolismo início, centro, momento, abandono
Área mobilizada encontro consigo mesmo, centralização
Hipótese autoconfiança, desenraizamento
Sensibilidade
redondo
Estímulo orgânico, portanto associado a aspectos mais afetivos e emocionais. A
sensibilidade se traduz pelos desenhos de representações da natureza, de caráter
animado, indicando responsividade afetiva, estrutura emocional.
A insensibilidade, evidenciada por desenhos de objetos manufaturados ou técnicos,
revela uma atitude mais racional, intelectualizada. "masculina".
pequeno
Ênfase na pequenez, através de um desenho pequeno, pode indicar baixo
autoconceito ou um certo detalhismo.
A insensibilidade a este aspecto pode indicar que o indivíduo está mais voltado para
aspectos essenciais em detrimento das trivialidades, se as demais características
tiverem sido adequadamente percebidas.
central
Colocar o ponto como centro do desenho significa que o indivíduo assume seu centro,
sua individualidade. A multiplicação de pontos implica-se num "apagar-se", diluir-se
em meio aos demais.
Sequência
1º lugar Confiança em si, capacidade de atenção e concentração, consciência de
suas possibilidades e limitações.
preterido Labilidade, indivíduo desenraizado de si mesmo, dificuldade em se colocar,
sem muita consciência de suas possibilidades e limitações. Desenhado em
7º ou 8º lugar, indica imaturidade.
Conteúdos mais frequentes
Pode servir como ponto de partida de representações centrífugas (raios) ou centrípetas
(alvo), ou ainda círculos concêntricos ou interseção de diagonais. Essas seriam
representações tipicamente "masculinas". Representações "femininas", indicando
caráter mais emocional, seriam flor, pingos de chuva, nariz de animal ou de bichinho de
pelúcia.
64
CAMPO 2
AFETIVIDADE E CONTATO
Qualidades formais curvo, pontas arredondadas, fora do centro
Simbolismo germe vital, emoção, excitação que revitaliza ou ameaça a vida,
adaptação
Área mobilizada fantasias do indivíduo e sua sensibilidade, grau de empatia com os
demais, afetividade
Hipótese excitável - apático; afetuoso - frio; aberto - fechado - bloqueado
Sensibilidade
curvilíneo, leve
Estímulo orgânico, esperando-se, portanto, representações de natureza animada. Tais
desenhos indicam responsividade emocional, possibilidades de contatos afetivos
significativos. A localização sugere leveza e fantasia, o que é captado por respostas
atmosféricas ou de caráter mais contemplativo.
Desenhos de objetos manufaturados ou técnicos (vaso, garrafa) ou de caráter abstrato
(riscos, rabiscos, letras) captam menos o aspecto sugerido, indicando menor
envolvimento emocional, contato mais frio ou superficial.
Sequência
preferido
Desejo de manter um contato intenso com os outros, possibilidade de manter contatos
afetivos.
preterido
Receio de enfrentar a própria afetividade
Conteúdos mais frequentes
O estímulo pode ser usado para representar a sobrancelha de uma pessoa, pássaro,
verme, serpente, linha do ombro, mecha de cabelo, nariz, montanha, fumaça, nuvens.
65
CAMPO 3
CRESCIMENTO DO EU
Qualidades formais estímulos retos, equidistantes, crescimento regular, perifericamente
localizados
Simbolismo intensificação, prosperidade, exagero (hybris), ampliação, profundeza.
Área mobilizada constância, ambição, aspirações, metas e objetivos do sujeito
Hipótese ajustado - desajustado; ambicioso - depressivo; constante -
inconstante, amplo - restrito
Sensibilidade
reto, ascendente, regular, equidistante
Estímulo técnico, sugerindo representações de objetos manufaturados ou abstrações
(gráficos, histogramas). É importante captar a noção de crescimento, ascensão, progressão.
A presença de elementos orgânicos associados aos técnicos sugere a capacidade de se
entusiasmar. O modo como a continuação do desenho se desenvolve pode indicar
disciplina, método, constância (escada), oscilação ou certa inconstância de propósitos
(altos e baixos, mudanças de direção) ou imediatismo (ascensão imediata). Representações
em perspectiva não são consideradas como sensíveis ao crescimento (postes, árvores,
prédios, etc.).
Sequência
preferido
Indivíduo ambicioso, esforçado, persistente.
preterido
Sentimentos de menos-valia, certa tendência depressiva, infantilismo, labilidade
(ausência de um sentido definido).
Conteúdos mais frequentes
Escada, gráfico, árvores ou postes alinhados, circo, prédios.
66
CAMPO 4
ANGÚSTIA E CRIATIVIDADE
Qualidades formais quadrado, preto, no campo superior direito
Simbolismo ameaça, escuridão, noite, sonho, medo, culpa, morte.
Área mobilizada como o indivíduo lida com seus sentimentos de angústia,
ansiedade e disfóricos, de um modo geral; possibilidade de
utilização de recursos criativos.
Hipótese consciente - inconsciente; consolidado - ameaçado; sóbrio -
fantástico
Sensibilidade
retilíneo, escuro, pesado
Estímulo técnico, sugerindo representações de objetos manufaturados ou abstrações.
São consideradas sensíveis ao estímulo as respostas que mantêm o quadrado e a
noção de peso. São índices de criatividade as representações que atenuam o peso,
sem negá-lo (soquete de luz). São consideradas respostas insensíveis ao estímulo
respostas que transformam o quadrado em redondo (olhos, sol) ou em algo leve
(cristal de neve). Linhas livres e soltas indicam labilidade e superficialidade das
emoções.
Sequência
preferido
Necessidade de apoio, falta de auto-sustentação, invasão da fantasia sem sustentação
do ego (principalmente em respostas orgânicas).
preterido
Autocontrole, adaptação, indivíduo mais consciente; inibição da criatividade e
repressão; dificuldade em entrar em contato com seus conteúdos internos, suas
próprias angústias.
Nota: As diferentes interpretações estão associadas à sensibilidade/insensibilidade ao
estímulo.
Conteúdos mais frequentes
Chaminé, túnel, pipa, janela, xadrez.
67
CAMPO 5
VITALIDADE
Qualidades formais reto, linhas antagônicas, perifericamente localizado
Simbolismo oposição como resistência, afirmação.
Área mobilizada força para transpor obstáculos, lidar com situações de frustração;
controle sobre o impulso, formas de canalização e expressão.
Hipótese força vital - fraqueza; ativo - passivo; decidido - indeciso;
controlado - impulsivo
Sensibilidade
reto, em oposição, orientado
Estímulo técnico, sugerindo representações de objetos manufaturados ou abstrações.
Também deve ser levada em conta, de alguma forma, a noção de antagonismo e
oposição de forças. Respostas que ignorem esses aspectos indicam passividade,
repressão dos impulsos ou outra forma de controle acentuado sobre os mesmos. São
consideradas sensíveis ao estímulo respostas de instrumentos, armas, veículos, etc.
Especial atenção à integração das duas linhas do estímulo entre si (índice de integração
impulso-controle).
Sequência
preferido
Vitalidade, capacidade de tomar decisões, impulsividade, oposição.
preterido
Falta de vitalidade, passividade, indecisão, autocontrole ou repressão dos impulsos.
Nota: As diferentes interpretações estão associadas à sensibilidade/insensibilidade ao
estímulo.
Conteúdos mais frequentes
O campo 5 é particularmente rico para a exploração do desenho, uma vez que configura
a relação dinâmica entre impulso e controle. A linha que parte do campo esquerdo
representa o impulso, a força vital, enquanto a linha que se interpõe representa o
obstáculo ou o controle sobre sua expressão. O conteúdo do desenho frequentemente
indica o modo pelo qual o conteúdo se expressa. Elementos agressivos que lançam o
impulso para cima e para a direita revelam sua expressão no ambiente, e o grau de êxito
em sua canalização. Se a "descarga" é orientada para a esquerda e para baixo, pode
indicar introversão ou auto-agressividade. O impulso pode se manifestar de modo mais
atenuado (sorvete), canalizado para alguma atividade ou meta (lápis, livros, pincel), ou
de modo mais direto (espada, faca, fuzil). Há representações que indicam o bloqueio do
impulso (a área posterior à linha de "obstáculo" não é explorada).
68
CAMPO 6
CONTROLE RACIONAL, INTEGRAÇÃO, REALIZAÇÃO
Qualidades formais reto, em ângulo reto, desigual, descentrado
Simbolismo oposição como separação, articulação.
Área mobilizada como o indivíduo utiliza seu potencial criativo, seu senso de
improvisação.; grau de esforço em busca da realização.
Hipótese integrado - desintegrado; racional - ingênuo; concentrado - difuso
Sensibilidade
retilíneo, separado
Estímulo técnico, mobilizando aspectos mais intelectuais. A disposição das linhas
representa um desafio: tornar o fragmentado em inteiro. A sensibilidade ao estímulo
revela-se primeiro por seu caráter técnico e também pela integração das duas linhas
em uma mesma representação.
Sequência
preferido
Atitude racional e formal; o indivíduo avalia-se pelo que produz.; atitude objetiva
(desenho sensível ao estímulo) ou de "fachada" (desenho insensível ao estímulo).
preterido
Atitude subjetiva, envolvimento (desenho insensível ao estímulo); indivíduo que não
necessita de reforço social (desenho sensível ao estímulo).
Conteúdos mais frequentes
Os conteúdos mais frequentes e que melhor representam as qualidades do estímulo são
representações de veículos, casas, livros, caixas, cubos, que integram as duas linhas. É
particularmente interessante interpretar o campo 6 em conjunto com o campo 3
(articulação entre aspirações e ação efetiva para atingi-las).
69
CAMPO 7
SENSUALIDADE E SEXUALIDADE
Qualidades formais pontilhado, semicircular, periférico.
Simbolismo pressentimento, aperfeiçoamento.
Área mobilizada sensibilidade, dedicação, gosto, tato; características afetivo-
emocionais, explorando aspectos da sensibilidade e sexualidade.
Hipótese sensível - rude; delicado - grosseiro
Sensibilidade
curvilíneo, delicado
Estímulo orgânico, sendo esperadas as representações da natureza. São consideradas
sensíveis as representações que mantêm a suavidade e sutileza do estímulo (flor,
borboleta) ou ainda as que sugerem radiação, comunicação (raios de sol, da lua). Tais
representações sugerem sinceridade, abertura espontânea, sensibilidade, psique
impressionável (positiva ou negativamente). As representações insensíveis aos
estímulos são aquelas que permanecem intelectualmente destacadas, mantendo uma
certa atitude de apreciação estética (ornamentos, flores estilizadas), ou ainda as que
neutralizam o estímulo (bola, roda, união dos pontos do estímulo). Tais respostas
indicam uma defesa em relação aos sentimentos, desvios da emoção ou emotividade
camuflada.
Sequência
preferido
Desejo de envolvimento erótico; desejo de envolvimento específico; capacidade de se
entregar,; distanciamento da realidade prática, atitudes místicas.
preterido
Deve ser interpretado com cautela, já que é muito frequente a realização do campo 7
em 8º lugar. O conteúdo do desenho poderá indicar se se trata de indivíduo mais
objetivo e realista ou rude, duro. Pode revelar também imaturidade e repressão da
sexualidade.
Conteúdos mais frequentes
Círculo pontilhado, flor, fruta, pegadas, colar, anel, base do seio, contorno de animal,
nariz, sol.
70
CAMPO 8
PROTEÇÃO E AFILIAÇÃO
Qualidades formais curvo, na parte superior, grande
Simbolismo ligação, recolhimento, harmonia.
Área mobilizada base afetiva, equilíbrio; grau de empatia com os demais,
relacionamento interpessoal, no sentido de proteger e ser
protegido, partilhar normas e valores com o grupo social.
Hipótese relacionável - endurecido; harmonioso - desarmonioso;
amadurecido - infantil.
Sensibilidade
curvilíneo, envolvente, protetor
Estímulo orgânico, sendo esperadas as representações da natureza. São sensíveis
também as representações de objetos nos quais a noção de proteção esteja, de
alguma forma, sugerida.
Sequência
preferido
Capacidade de ser leal, de se comprometer; equilíbrio, ajustamento de valores,
dependência.
preterido (desenhado em 7º ou 8º lugar em sequência não-rígida)
Evasão, ambivalência; evita comprometer-se; negação da dependência.
Conteúdos mais frequentes
guarda-chuva; sol, montanha, lua, rosto, arco-íris, chapéu, frutas.
71
RELAÇÃO ESTÍMULO-DESENHO
ESTÍMULOS TÉCNICOS: 3, 4, 5, 6
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Atitude pouco realista, pouco prática; Características masculinas da personalidade;
tendências emocionais ou estéticas predomínio das funções conscientes;
predominantes; feminilidade. objetividade.
ESTÍMULOS COMPLEXOS: 3, 5, 6, 7
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Insipidez intelectual; falta de dinamismo, Capacidade organizadora e construtiva;
atividade reduzida. inteligência analitico-sintética; atenção
penetrante, engenhosidade, eficiência.
ESTÍMULOS RETOS: 3, 5, 6
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Predomínio do inconsciente, controle Predomínio das funções intelectuais, firmeza,
defeituoso, inconsistência. caráter sério.
ESTÍMULOS ORIENTADOS: 3, 5
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Fraca auto-afirmação.; reserva, placidez, Forte impulso vital; auto-segurança; ímpeto.
inibição.
ESTÍMULOS SOLTOS: 1, 2
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Constrangimento, inibição, rigidez. Vivacidade, espontaneidade, flexibilidade.
ESTÍMULOS ESTÁTICOS: 4
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Sensibilidade muito refinada, instabilidade. Consistência, afinidade com a realidade
concreta.
ESTÍMULOS AMPLOS: 8
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Sinal de problemas (desajustamento) Franqueza, calor, doçura, acomodação fácil.
ESTÍMULOS DINÂMICOS: 5
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Quietude, despretensão; fuga aos conflitos. Vivacidade, audácia; ambição, competição.
ESTÍMULOS ORGÂNICOS: 1, 2, 7, 8
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Deficiência emocional; retraimento da vida Características "femininas": sensibilidade,
afetiva, inibição. adaptabilidade; predomínio dos impulsos
viscero-emocionais.
ESTÍMULOS SIMPLES: 1, 2, 4, 8
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Tendência à complicação, à tensão, à Atitude natural, descansada; espontaneidade..
insegurança.
ESTÍMULOS CURVOS
2, 7, 8
INSENSIBILIDADE AFINIDADE
Rigidez, austeridade, superintelectualização. Suavidade, flexibilidade, afetividade,
integração à vida.
72
PARTE III
INSTRUÇÕES PARA APLICAÇÃO
73
HTP
1. HTP: FASE ACROMÁTICA
Material: lápis nº 2
papel sulfite
borracha
Ponha uma folha de papel sulfite, na horizontal, em frente ao examinando e diga: “Faça o
desenho de uma casa.”
Depois de terminado o desenho, guarde o desenho da casa, ponha outra folha de papel sulfite,
na vertical, em frente ao examinando e diga: “Faça o desenho de uma árvore.” Depois de
terminado o desenho, guarde o desenho da árvore, ponha outra folha de papel sulfite, na
vertical, em frente ao examinando e diga: “Faça o desenho de uma pessoa.”
2. HTP: INQUÉRITO
Ponha os três desenhos sobre a mesa e peça ao examinado que fale um pouco de cada um,
estimulando-o com perguntas gerais:
Fale um pouco dessa pessoa. Quem ela poderia ser, o que ela está fazendo ou sentindo...
Fale um pouco dessa árvore. Que árvore é essa, onde ela está...
Fale um pouco dessa casa. Que casa é essa, onde ela fica...
Após o examinando comentar todos os desenhos, complemente com estas perguntas, se julgar
necessário:
Pessoa:
Sexo, idade, se é alguém real ou imaginário.
Onde a pessoa está?
O que ela está fazendo?
O que ela está sentindo?
Qual parte do corpo essa pessoa mais gosta?
Qual parte do corpo essa pessoa menos gosta?
Do que essa pessoa mais precisa?
Como está o tempo no desenho?
Árvore:
Que tipo de árvore é?
Que idade ela tem?
Onde a árvore está?
Ela está sozinha ou existem outras por perto?
A árvore está viva ou morta?
Se estiver morta, o que provocou sua morte?
Se estiver viva, alguma parte está morta? O que provocou?
Do que essa árvore mais precisa?
Como está o tempo no desenho?
Casa:
Que casa é essa? Pensou na casa de alguém?
Do que ela é feita? Onde fica?
Alguém mora nessa casa? Quem?
Ela está sozinha ou existem outras Por perto?
Do que essa casa mais precisa?
Como está o tempo no desenho?
75
Ponha os três desenhos sobre a mesa e peça ao examinando que fale um pouco sobre cada um
deles.
Casos especiais:
1. Se o sujeito fizer uma árvore do tipo bananeira, pinheiro ou coqueiro nas duas fases, peça
uma “árvore convencional” ou “comum”.
2. Se o sujeito fizer a pessoa do mesmo sexo nas duas fases, peça que desenhe uma pessoa do
outro sexo.
3. Se o sujeito fizer apenas o rosto ou busto da pessoa nas duas fases, peça que desenhe uma
pessoa inteira.
Obs: deixe que o sujeito desenhe com o material que preferir. Caso ocorram os casos 2. e 3.,
peça um único desenho que atenda a ambas as exigências (uma pessoa inteira, do sexo não
desenhado).
76
Instruções: Pede-se ao sujeito que desenhe uma família de sua invenção. O autor acredita que
esta ordem favoreça a liberdade de projeção, permitindo melhor exploração da personalidade
profunda. Uma vez executado o desenho, procede-se ao seguinte inquérito:
1. Onde estão essas pessoas?
2. O que elas estão fazendo aí?
3. Diga-me o nome das pessoas, começando pela primeira que você desenhou.
4. Diga-me o sexo, a idade e o papel na família de cada personagem.
5. Qual é a melhor pessoa nessa família? Por quê?
6. Qual é a pior pessoa nessa família? Por quê?
7. Qual é a pessoa mais feliz? Por quê?
8. Qual é a pessoa menos feliz? Por quê?
9. Quem você prefere nessa família?
10.Uma das crianças se comportou mal. Qual? Que castigo teria?
11.A família vai passear numa festa bonita. Não podem ir todos. Quem fica?
12.Se você fizesse parte dessa família, quem você seria? Por quê?
13.Que outra pessoa você gostaria de ser?
14.Você gostou do seu desenho?
15.Você mudaria alguma coisa nele? O quê?
Caso o sujeito desenhe uma família muito diferente da sua, pode-se repetir o procedimento
solicitando que desenhe a própria família.
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Material: lápis nº 2
papel sulfite
borracha
material para colorir (giz de cera, lápis de cor, canetas hidrográficas)
Ponha uma folha de papel sulfite, na horizontal, em frente ao examinando e diga: “Desenhe sua
família para mim. Mas em lugar de desenhar as pessoas, desenhe algo que as represente: um
objeto, animal, planta, o que você quiser.”
Material: lápis nº 2
papel sulfite
borracha
material para colorir (giz de cera, lápis de cor, canetas hidrográficas)
Ofereça uma folha de papel sulfite na horizontal e diga: “Faça um desenho para mim.” Depois
de terminado o desenho, diga: “Agora conte uma história sobre este desenho.” Faça inquérito
se necessário, para completar a história ou esclarecer algum ponto obscuro. Repita este
procedimento por mais 4 vezes, até ter um total de 5 desenhos com 5 histórias.
78
Material:
lápis preto nº 2
borracha
folha de respostas
Instruções:
Forneça a folha de respostas ao examinando. Nas aplicações coletivas, tenha em mãos
uma folha de respostas para mostrar o que for necessário. Diga:
Aqui há 8 quadrados, cada um com linhas ou sinais; eles são como desenhos que foram
começados mas não foram terminados. Você deve completar os desenhos da melhor maneira
que puder, desenhando o que quiser, sem se preocupar com a qualidade artística do seu desenho.
Nesta prova não há desenhos certos ou errados, feios ou bonitos. Desenhe na ordem que quiser
e anote a sequência no quadradinho vazio acima de cada desenho (mostre), à medida que for
desenhando. Você pode usar o lápis e a borracha à vontade.
Uma vez terminados os desenhos, peça ao examinando que dê um título a cada um deles, e que
anote, também, qual o desenho de que mais gostou, de qual gostou menos, qual foi o mais fácil
de fazer e qual foi o mais difícil. Peça, ainda, que anote outras ideias que pensou em desenhar,
mas não desenhou, e em quais quadrados. Esclareça para o examinando que, nessa etapa, ele
não usará os números da sequência em que desenhou, e sim os números impressos acima de
cada quadrado (mostre). Nas aplicações coletivas, essas instruções são dadas com a explicação
inicial da tarefa.
Caso especial: se o examinando desenhar 4 ou mais desenhos abstratos, dê para ele outra folha
de respostas, quando ele terminar a etapa descrita acima, e peça que faça desenhos figurativos.
Se julgar necessário, esclareça que não se trata de um problema com os desenhos que ele fez,
e sim que a interpretação fica mais rica com desenhos figurativos.
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Local e data
Participante ou responsável
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Nome Assinatura
Alunos envolvidos
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Nome Assinatura
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Nome Assinatura
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Nome Assinatura
Professor responsável
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Nome Assinatura
CRP:
80
PARTE IV
ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO
81
I. DADOS INFORMATIVOS
Nome do colaborador(a): somente as iniciais
Idade:
Gênero:
Escolaridade:
Profissão:
Estado civil:
Constelação familiar: