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Segredos de uma noiva em fuga
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Segredos de uma noiva em fuga
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Segredos de uma noiva em fuga

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A emoção da fuga
A Srta. Annie Andrews está finalmente livre para se casar com o homem que ama. Com sua irmã superprotetora fora do país em lua de mel, nada pode impedir sua fuga para Gretna Green - nada, a menos que ela seja sequestrada pelo cavalheiro errado.

A doçura da rendição
Quando Jordan Holloway, o Conde de Ashbourne, prometeu cuidar da cunhada de seu melhor amigo, ele não imaginava que ela pudesse ser tão difícil. Mas quando ele a sequestra para sua casa de campo na tentativa de evitar uma nova fuga, ele descobre que a beleza sedutora sabe como lutar. Para piorar a situação, ele está preso no papel de honrado protetor... quando o que ele realmente quer é ele próprio fugir com ela.
LanguagePortuguês
PublisherEditora Bezz
Release dateAug 17, 2018
ISBN9788554288044
Segredos de uma noiva em fuga

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    Segredos de uma noiva em fuga - Valerie Bowman

    AUTORA

    Elogios a Valerie Bowman e a

    Segredos de uma Noiva em Fuga

    "Uma leitura sensual, peculiar e completamente divertida. Segredos de uma Noiva em Fuga é tudo o que um romance deve ser. Reserve algumas horas para este livro... assim que começar a lê-lo, não irá parar!"

    — Sarah MacLean, autora best-seller do New York Times

    ***

    Valerie Bowman escreve histórias fabulosas e sensuais — com certeza é uma autora de romances de época que merece destaque!

    — Kieran Kramer, autora best-seller do USA Today

    ***

    Com seu diálogo brilhante, personagens intensos e estilo de escrita seguro, Valerie Bowman se estabeleceu instantaneamente como uma escritora de romances com grande apelo. Esta história envolvente e docemente romântica é simplesmente deliciosa demais para se perder.

    ***

    Inteligente, divertido e fantástico!

    Para Marcus,

    por ser o único.

    Com todo o meu amor.

    CAPÍTULO 1

    Londres, final de setembro de 1816

    Annie Andrews estava na metade da lateral da casa de Arthur Eggleston, na cidade — escalando plantas trepadeiras muito convenientes e resistentes — quando o som delator dos cascos de um cavalo a deteve. Ela apertou os olhos com força. Oh, isso não era nada bom.

    Apesar do fato de estar no beco na parte de trás da casa e tudo estar escuro feito breu, ela acabara de ser descoberta. Ela sabia disso.

    Por favor, que seja apenas um criado!

    Entretanto, mesmo enquanto assim o desejava, ela sabia que isso não seria possível. Um criado a cavalo no beco? Não.

    E as chances de ser Tia Clarissa também eram decididamente baixas. Annie havia se assegurado de que a senhora estivesse inebriada e adormecida antes mesmo da tentativa de pequena fuga desta noite. Além disso, Tia Clarissa tinha pavor de cavalos.

    Annie mordeu o lábio. Lentamente virou a cabeça.

    Ela engoliu em seco.

    Era pior que um empregado. Muito pior.

    — Está perdida?

    A voz masculina arrogante atravessou o ar fresco da noite.

    Jordan Holloway, o Conde de Ashbourne, passou a perna por cima da sela e desceu do cavalo.

    Diabos! Absolutamente não havia nenhuma forma plausível de explicar isso. Annie ergueu o queixo em uma tentativa de manter sua dignidade. Tanto quanto se poderia ao estar precariamente agarrada a uma planta trepadeira.

    A lua espiava por trás das nuvens, lançando um pouco de seu brilho na cena enquanto Lorde Ashbourne subia os degraus e aproximava-se dela, seus braços cruzados sobre o peito. Recostou-se contra a balaustrada de pedra, cruzou as pernas de forma despretensiosa, os pés calçados com botas, e observou-a com um olhar zombeteiro em seu belo rosto — demasiado belo se a perguntassem. O homem certamente possuía um metro e oitenta e oito de altura, tendo ombros largos, quadris estreitos, nariz reto, traços escuros nas sobrancelhas, cabelos escuros e desgrenhados, e os mais incomuns olhos cinzentos.

    — Se não é a noiva fujona! — Ele sorriu — O que você está aprontando agora, Srtª Andrews?

    Annie rangeu os dentes. Ela odiava quando Lorde Ashbourne a chamava por aquele ridículo nome. A noiva fujona. Hmpf. Como melhor amigo de seu novo cunhado, Lorde Ashbourne recentemente se envolvera em sua busca após um infeliz incidente no qual fugira com Arthur para Gretna Green, na primavera passada. Mas isso foi há meses e as coisas eram diferentes agora. Hãn... Apesar das atuais circunstâncias. E é tão típico de Lorde Ashbourne zombar dela enquanto ela está em uma posição que não permite chutá-lo ou, pelo menos, lançar-lhe um olhar condenatório. É extremamente difícil praguejar enquanto se está empoleirada em uma planta.

    Com as palmas das mãos suadas, Annie apertou ainda mais a planta trepadeira e reuniu toda a indignação possível.

    — Isso não é da sua conta.

    Mal acabara de proferir as palavras, ela percebera o quão ridículas eram.

    — Como você sabia que eu estava aqui?

    — Digamos que tenha sido um palpite. Mas, antes de ajudá-la a sair dessa situação... ridícula — ele fez uma pausa —, insisto que você me diga o exato motivo de estar fazendo isso.

    Com um sopro, Annie afastou de sua boca uma folha errante.

    — Eu não preciso de sua ajuda, Lorde Ashbourne. Sou plenamente capaz de...

    Ela olhou para baixo. Era uma queda de pelo menos um metro e meio até o alpendre abaixo. Bastaria saltar. Ela soltou-se da planta trepadeira, mas descobriu, para seu espanto, que a bainha de seu vestido ficou presa nos arbustos.

    Lorde Ashbourne meneou a cabeça.

    — Falando sério, Srtª Andrews, por quê?

    Ela deu um suspiro, ainda tentando manter o mínimo de dignidade. Oh, muito bem. Alguma explicação deveria ser dada.

    — Não é tão ruim quanto parece. Eu apenas queria chamar a atenção de Arthur. Pretendia jogar uma pedra na janela dele e...

    — Um bilhete em sua porta não seria suficiente?

    Lorde Ashbourne zombara sem titubear.

    Annie cerrou os dentes. Por que, ah, por que ela sempre estava nas piores condições quando Lorde Ashbourne aparecia? Era um fenômeno, na verdade.

    — E Tia Clarissa? — Lorde Ashbourne continuou — Ela está dormindo, não é mesmo? Após tomar uma boa dose de vinho do Porto?

    Annie mordeu o lábio.

    — Xerez.

    Como amiga, Tia Clarissa era muito divertida. Porém, não era uma dama de companhia adequada. A mulher nutria imoderado apreço a destilados, em uma variedade de formas.

    — Como eu suspeitava. Bem, não há outra escolha.

    Lorde Ashbourne descruzou as pernas e deu um passo em direção a ela, levantando os braços para arrancá-la da planta trepadeira como uma pequena e tola uva.

    Mal o fizera, a porta dos fundos se abriu. Um raio de luz de vela espalhou-se pelo alpendre. Os olhos de Annie se arregalaram. Puro terror comprimia seu peito.

    Ela respirou fundo. Quem a descobrira? Que não seja...

    Lorde Ashbourne não esperou. Rapidamente a agarrou pela cintura e a puxou. Ela soltou um pequeno grito antes de cair em seus braços e deslizar pela sua frente, seu corpo contra o dele.

    E assim Annie ficou completamente enredada nos braços de Lorde Ashbourne, quando Arthur Eggleston, o homem que Annie amava, o homem com quem Annie pretendia se casar, subitamente adentrara o alpendre dos fundos.

    O primeiro instinto de Jordan foi repousar a forma delicada de Srtaª Andrews no alpendre e romper o contato.

    Ela era uma encrenqueira de dezenove anos propensa a colocar sua reputação em risco. A pequena caprichosa tinha sido nada além de um problema desde que sua irmã, Lily, e seu melhor amigo, Devon, foram ao continente em sua viagem de lua de mel. Ambos imploraram a Jordan que ficasse de olho na jovem. Parecia que a Srtª Andrews precisaria de mais de uma dama de companhia, especialmente agora que sua parente mais próxima e única companhia apropriada, a tia excêntrica de Devon, Clarissa, nutria demasiada afeição às garrafas.

    Jordan passara a última semana seguindo os passos de Srtª Andrews e garantindo que ela não fizesse papel de tola em sua obstinada busca por aquele paspalho, Arthur Eggleston. Mas parecia que quanto mais perto Jordan a observava, mais escandalosas suas travessuras se tornavam, culminando particularmente na pequena e notória loucura desta noite.

    Ela tinha cerca de um metro e sessenta, grande volume de cachos castanhos e revoltos, nariz impertinente, cálidos olhos escuros e propensão para problemas. Impulsiva foi a palavra que prontamente veio à mente. E enquanto Jordan contava mentalmente os dias até que Lily e Devon voltassem para que tomassem conta da garota por conta própria, ele teve que admitir uma espécie de relutante admiração por Annie. As coisas nunca ficavam maçantes quando a Srtª Andrews estava envolvida. Isso ele não podia negar.

    Naquele momento, seu corpo ágil pressionado contra o dele o fazia sentir coisas que não deveria. Ele precisava tirá-la de seus braços. Imediatamente.

    Eggleston limpou a garganta e a sanidade voltou à mente de Jordan com sede de vingança. Rapidamente, ele soltou os braços de Srtª Andrews de seu pescoço e a fez deslizar pelo seu corpo até que estivesse em pé no alpendre, próxima a ele, um olhar de desapontamento em seu belo rosto.

    Braços cruzados sobre o peito, Eggleston lançou um olhar a ambos, uma expressão levemente perturbada no rosto.

    — Srtª Andrews, Lorde Ashbourne. O que significa isso?

    Annie se afastou rapidamente de Jordan, sua respiração estava ofegante. Colocou os braços para trás e não olhou nos olhos dele.

    — Arthur. Estávamos apenas...

    Annie mordeu o lábio. Esse era seu gesto denunciador. Jordan havia jogado cartas o suficiente para aprender a analisar o comportamento de uma pessoa. E a última semana na companhia de Srtª Andrews o ensinou que, quando aprontava, ela mordiscava os rosados lábios com seus perfeitos e alvos dentes. Era um tanto adorável, na verdade. E extremamente conveniente para ele.

    Ela olhou para longe. Outro gesto denunciador.

    — Digo... Eu vim para...

    Ela parou, obviamente faltavam-lhe palavras.

    — Anne — disse Eggleston, dando-lhe um olhar severo. — Para seu próprio bem e em nome de sua reputação, fingirei que não vi isso.

    Jordan lutou contra o desejo de revirar os olhos. Em primeiro lugar, esse era o mesmo homem que quase destruiu a reputação de Annie na última primavera. Sua preocupação era um pouco tardia demais para o gosto de Jordan. Em segundo lugar, se Annie fosse noiva de Jordan e ele a visse nos braços de outro rapaz, ele agrediria o homem no exato momento. Obviamente, esse idiota não é ciumento o suficiente para dar um soco nele. É melhor deixar isso a critério da curiosidade de Arthur Eggleston.

    Para o próprio bem de Eggleston, é claro.

    Annie engoliu em seco.

    — Sim, Arthur. Você tem razão. Isso não irá acontecer novamente.

    — Fico feliz em ouvir isso. Posso acompanhá-la até em casa? — Eggleston perguntou a Annie, dando uma olhada em Jordan.

    — Não é necessário. Eu estava prestes a acompanhá-la, Eggleston — Jordan respondeu com um sorriso.

    Annie assentiu.

    — Sim, eu vou ficar bem.

    — Tudo bem — Eggleston continuou, olhando para ambos com desdém. — Então, a visitarei amanhã, Anne, para o nosso costumeiro passeio à tarde no parque.

    Annie mordeu o lábio.

    — Sim. Apreciarei muito isso.

    — Boa noite.

    Arthur deu meia-volta, retornou à casa e fechou a porta em um retumbante estampido.

    A lufada de ar da porta desgrenhou os cachos de Annie. Ela colocou as mãos nos quadris e olhou para a porta, ignorando completamente Jordan.

    — Ele não parecia nem um pouco ciumento, não é mesmo? Da próxima vez, vou ter que te beijar.

    CAPÍTULO 2

    Lorde Ashbourne quase arrastou Annie pela rua até o alpendre nos fundos da própria casa dela. Ele retomaria sua montaria mais tarde. Felizmente, a casa de Colton não ficava longe. Ele abriu a porta de trás com um empurrão, puxou-a para a escura cozinha e a rodopiou para longe dele.

    Annie envolveu a cintura com os próprios braços. Agora que estava sozinha com Lorde Ashbourne novamente, desejava afundar-se no chão. Aquele comentário sobre o beijo simplesmente escapara de sua boca. Como muitas vezes acontecia. Mas ela não quis dizer isso... de verdade. Embora fazer ciúmes em Arthur fosse uma ideia que merecia ser explorada. Com hesitação, ela olhou para Lorde Ashbourne.

    Ela sempre fazia papel de idiota na presença do conde. Sempre. E para piorar a situação, ele parecia estar muito mais presente nos últimos dias.

    — Que diabos você pensa que está fazendo? — Lorde Ashbourne perguntou, limpando a poeira das mangas de seu sobretudo cor azul-meia-noite. — Você tem ideia do que esse incidente poderia ter feito à sua reputação?

    Annie endireitou os ombros e levantou o queixo. Duas ações que muitas vezes parecia compelida a fazer na presença de Lorde Ashbourne.

    — Não que eu espere que você acredite em mim, mas eu realmente não tinha intenção de escalar para dentro da janela de Arthur.

    Lorde Ashbourne lançou-lhe um olhar duvidoso.

    — Fico feliz em ouvir isso.

    — Isso seria muito escandaloso — ela continuou. — E apesar da insistência de minha irmã, eu cuido da minha reputação.

    Lorde Ashbourne estreitou os olhos em direção a ela.

    — Deixe-me ver se entendi direito. Você acredita que escalar a lateral de uma casa no meio da noite consiste em cuidar da sua reputação?

    Ela jogou as mãos para o alto.

    — Eu não esperava ser pega, obviamente.

    — Entendo. Mas isso dificilmente explica o motivo de você escalar os arbustos, em primeiro lugar.

    Annie cruzou as mãos serenamente.

    — Como você sabe, Arthur e eu estamos cortejando e...

    Lorde Ashbourne levantou a mão para interrompê-la.

    — Cortejando? É assim que você chama? O que eu sei é que você tem feito papel de tola, perseguindo Eggleston enquanto ele notadamente demonstra pouco interesse.

    Annie engoliu em seco. Essa doeu. Mas ela não pretendia permitir que o arrogante Lorde Ashbourne percebesse isso.

    — Não espero que você entenda, Lorde Ashbourne, mas Arthur e eu estamos apaixonados.

    — Perdoe-me por isso, Srtª Andrews, mas ouso dizer que se o Sr. Eggleston retribuísse a afeição, você não precisaria escalar a lateral de sua casa para atrair sua atenção. Você não é Romeu. E se alguém tivesse que fazer coisas insanas como escalar a parede de uma casa, esse alguém seria ele, e não você. Se alguém que não Eggleston tivesse visto isso, você seria uma pária agora.

    Annie retraiu-se. Por que Lorde Ashbourne tinha que apresentar argumentos tão bons?

    — Admito, foi uma péssima ação. Eu deveria ter pensado mais sobre isso antes de...

    Ela olhou para as pontas dos sapatos, convencida de que seu rosto apresentava um constrangedor tom de rosa.

    — É que Arthur não tem agido da maneira que eu esperava e...

    Oh, essa explicação era irremediavelmente inadequada. Ela simplesmente deveria parar de falar.

    Lorde Ashbourne repousou uma das mãos sobre o balcão da cozinha e se aproximou dela como se estivesse falando com um idiota.

    — Você não vê nada de errado nisso? Se Eggleston te ama, por que você precisaria fazer papel de tola para ele?

    A parte do tola doeu também. Annie cerrou os dentes.

    Na primavera passada, Arthur estava ansioso para se casar com ela. Sim, era verdade que o fato de ela não ter dote veio a conhecimento público e suas afeições se esfriaram temporariamente. Mas isso foi por causa dos receios do pai dele, e não de Arthur. Eles se encontraram novamente e fugiram para Gretna Green, porém, sem sucesso.

    Agora, meses depois, ela recebera um dote indecentemente grande, graças ao seu novo cunhado, mas Arthur parecia não estar com pressa. Ele a acompanhava em um passeio pelo parque todas as tardes e a visitava, mas não demonstrava interesse em pedir sua mão formalmente. Annie estava convencida de que era uma combinação do medo de Arthur em relação a Lorde Colton, que obviamente não o aceitava, e do seu desejo de agradar o próprio pai, que obviamente não a aceitava. E não ajudou em nada o fato de que Arthur passava uma excessiva quantidade de tempo acompanhando sua irmã solteirona aos eventos da sociedade. Ela suspirou.

    O problema era que Arthur tendia a ouvir quem estivesse próximo a ele no momento, e sempre que Annie o convencia de que deveriam se casar, ele voltava para casa e falava com seu pai, e seu pai o convencia a manter as opções em aberto. Afinal de contas, Arthur tinha apenas vinte e dois anos de idade e não precisava se casar tão rápido. Era tudo o que Annie podia fazer para dissuadir Arthur de dar ouvidos a seu pai.

    Mas apesar de tudo isso, Arthur a amava. Ela sabia disso. Ele disse a ela. Ele foi o único homem a oferecer tanta atenção a ela, a dizer que ela era linda, que sempre pensava nela como algo mais do que apenas uma boa amiga. E ela não pretendia abrir mão dele.

    Além disso, Lorde Ashbourne não poderia entender.  Ele poderia conseguir qualquer mulher no país — bem, qualquer mulher, menos ela — em um estalar de seus belos dedos. Nada sabia sobre os rigores no mercado de casamento ou seu relacionamento com Arthur.

    Bem. Isso não era toda a verdade. Além do infeliz incidente desta noite, Lorde Ashbourne sabia de uma coisa sobre seu relacionamento com Sr. Eggleston. A única coisa que ela desesperadamente desejava que ele não soubesse. Que ela havia fugido com ele. Outro suspiro. Mais uma vez, uma idiota na presença de Lorde Ashbourne. Sem. Falha.

    Annie apertou as mãos.

    — Sinto muito por qualquer inconveniente que tenha causado a você, Lorde Ashbourne, mas você deveria saber melhor do que ninguém que, de fato, o Sr. Eggleston está interessado.

    Ele estendeu a mão e apanhou uma folha do cabelo dela. — Se estiver se referindo à sua viagem não aconselhada a Gretna Green na primavera passada, sim, eu me lembro.

    Annie encolheu-se. Oh, agora ela tinha certeza que seu rosto apresentava um luminoso tom de rosa. Tão rosa quanto o acabamento de seu chapéu favorito.

    Lorde Ashbourne colocou o chapéu com firmeza sobre a cabeça.

    — Partirei agora. Nenhum dano foi feito, felizmente, mas se algo assim acontecer novamente, serei forçado a informar Tia Clarissa.

    Annie escondeu o sorriso. Tia Clarissa mal conseguia calçar seus sapatos nos pés corretos, muito menos coibir Annie a fazer exatamente o que ela quisesse.

    Lorde Ashbourne abriu a porta dos fundos e falou por cima do ombro:

    — Srtª Andrews, por favor. Cuide da sua reputação. Se não pelo seu próprio bem, pelo bem de sua irmã.

    — Considerarei tudo o que me disse, senhor — Annie respondeu.

    Não, ela não o faria. Mas assentiu enquanto o observava ir embora. Então, ela fechou a porta atrás dele, trancou-a e pressionou as costas contra ela. Ela soltou um longo suspiro. Assim como Lily, Lorde Ashbourne não entendia. Não é que Annie não cuidasse de sua reputação. Ela simplesmente preferia seguir seu coração ao invés de coisas bobas como regras e restrições da sociedade.

    Ela espiou pela janela para ver Lorde Ashbourne saltando por cima de sua montaria. Ela estreitou os olhos e levou um dedo à bochecha. Talvez não fosse coincidência o fato de Lorde Ashbourne encontrar-se onde quer que ela estivesse ultimamente. Ela apenas precisaria ter mais cuidado para não ser tão tola em sua companhia. O homem era... imponente. Com as pontas dos dedos, tocou o local na cintura onde suas fortes mãos haviam permanecido minutos antes. Um arrepio percorreu-a.

    Lorde Ashbourne era um famoso libertino, um descarado atraente, um solteirão convicto, e o melhor e mais antigo amigo de seu cunhado. Vivia de modo desregrado e fazia o que bem queria. Ele era bonito, charmoso e completamente o oposto do que Annie procurava em um companheiro.

    Mas, oh céus, ser pressionada contra ele ao ser retirada daquelas plantas havia sido... delicioso.

    CAPÍTULO 3

    — Arthur! Pare a carruagem!

    A bela cabeça loira de Arthur girou. De modo prestativo, ele puxou as rédeas, apoiou os pés calçados com botas contra o piso de madeira, e gritou:

    — Ôa!

    A carruagem sacudiu bruscamente, solavancando o caminho de cascalho do Hyde Park, e parou fazendo um som abafado.

    — Por que paramos? — ele perguntou, respirando pesadamente.

    Com uma das mãos sobre o chapéu, Annie gesticulou freneticamente com a outra na direção dos arbustos pelos quais acabaram de passar em seu passeio vespertino pelo parque.

    — Eu vi uma raposa.

    — Uma raposa? — os olhos de Arthur estavam arregalados. Ele meneou a cabeça — Não creio que uma raposa seja motivo para...

    — Shhh — Annie pressionou um dedo contra os lábios. — Não podemos assustar a pobre criatura.

    Sentando-se com uma postura ereta, ela colocou as apertadas luvas de pelica. Felizmente, Arthur não mencionou o episódio da noite anterior envolvendo Lorde Ashbourne. Ele parecia bastante satisfeito em fingir que nada acontecera, e isso a deixava imensamente grata. Ela passou a maior parte do passeio tentando fazer com que Arthur a beijasse. Tendo falhado miseravelmente, havia deixado sua atenção vaguear quando avistara um vislumbre de uma radiante pelagem vermelha por trás dos arbustos ao passarem apressadamente por eles.

    Esticando o pescoço, Annie manteve os olhos fixos na raposinha que vira agachada nas sebes à distância. Um punhado de frutos miúdos marcava a localização do pequeno animal.

    Annie começou a descer a lateral da carruagem.

    Arthur colocou a mão sobre o ombro dela para impedi-la.

    — Ei, escute. Você realmente acha que deveria...

    Annie desvencilhou-se de sua mão e saltou para o chão.

    — Ele pode estar ferido, Arthur. Preciso vê-lo.

    Com ar de decepção, Arthur calou-se e observou Annie caminhar na ponta dos pés sobre a grama em direção à sebe. Ele emitiu um som de reprovação em direção aos cavalos que, estando alertas pelo cheiro da raposa, contraíram as orelhas e alargaram as narinas.

    Quando chegou perto o suficiente, Annie se abaixou, levantou as saias e rastejou, apoiando as mãos e os joelhos na grama, em direção à raposa. Sua pequena cabeça com bigodes surgiu por trás dos frutos e inclinou-se para o lado em curiosidade.

    Annie observou a raposa com cuidado. Ela já havia resgatado tantos animais perdidos que sabia dizer quando algum deles estava doente ou infectado pela raiva. Esse animal parecia perfeitamente saudável. E ele era apenas um filhote. Ela franziu a testa. Um filhote que não parecia estar com medo de um humano. Algo raro.

    Então, um raio de sol reluziu sobre uma peça de metal e a raposa coxeou, arrastando uma pequena armadilha que estava presa à sua miúda pata. Annie respirou fundo e virou a cabeça em direção à carruagem.

    — Oh, Arthur, era o que eu suspeitava. Ele está ferido.

    Voltando os olhos para o minúsculo animal, ela lentamente retirou a luva, pôs a mão em concha e a ofereceu para a raposa em demonstração de que não faria mal algum a ele.

    — Pobre animalzinho. Deixe-me ajudá-lo, querido.

    Ela olhou a armadilha com cautela. Estava um pouco enferrujada. Talvez forçar os dentes do mecanismo fosse o suficiente para abri-lo. Ela se abaixou, as mãos apoiadas na terra macia, para dar uma boa olhada na engenhoca.

    Por outro lado, tentar abri-la com força poderia ferir ainda mais a pata da raposa. Ela estalou os dedos.

    — Um grampo de cabelo, é lógico!

    Ela arrancou um grampo da parte de trás de seu penteado, pouco se importando com o cacho escuro e indisciplinado que se soltara, e cuidadosamente o inseriu na dobradiça na parte lateral da armadilha. Com a fronte franzida, pôs a língua para fora, concentrada em seu trabalho.

    Ela empurrou o grampo na dobradiça o máximo que pôde e, então, lentamente, o girou de um lado para o outro.

    O suor escorria por sua testa. A raposa lançou-lhe um olhar doloroso, piscando seus pequenos olhos cor de xerez.

    — Não se preocupe, querido. Eu vou conseguir. Eu vou...

    A dobradiça se abriu com um clique. A raposa saltou para trás e, em seguida, ficou imóvel, olhando para ela. Suas orelhas se empertigaram e seus bigodes se contraíram. Ele lambeu a pata.

    Annie se aproximou. A raposa olhou para ela.

    Ela se aproximou um pouco mais. Os olhos da raposa se moveram de um lado para o outro.

    Ela estendeu uma das mãos. Lentamente. Lentamente.

    A raposa a cheirou.

    Finalmente, Annie se aproximou o suficiente para pegar a pequena raposa em seus braços, com cuidado para não tocar em sua pata ferida. A princípio, o animal tentou escapar, mas ela o acariciou com carinho e o chamou com voz suave. Por fim, ele se acomodou em seus braços, permitindo que ela o abraçasse.

    Ela levantou-se e retornou para a carruagem.

    — Consegui pegá-lo — disse alegremente para Arthur. — Mas a pata do coitadinho ficou presa em uma armadilha. Quem seria capaz de fazer uma coisa dessas? E em um parque público, onde as crianças podem tropeçar e se machucar também.

    — Realmente, quem seria capaz? — Arthur meneou a cabeça, um olhar inescrutável em seu rosto.

    Ela voltou para a carruagem com a raposa em seus braços.

    Arthur descera da carruagem e estava pronto para ajudá-la a subir.

    — Você não pretende ficar com essa coisa, não é mesmo?

    Annie piscou surpresa.

    — Eu pretendo levá-lo para casa e cuidar de sua pata. Tenho uma receita de cataplasma para tais ocasiões. Isso e uma atadura vão ajudá-lo a se recuperar muito mais rapidamente.

    Arthur franziu a testa.

    — Você realmente acha isso sensato?

    — O que quer dizer?

    Arthur colocou a mão sobre o quadril.

    — Certamente levar um animal selvagem para casa contraria as regras do decoro.

    Annie olhou para a raposa.

    — Mas ele.. — cuidadosamente, virou o animal e olhou para baixo — sim, ele precisa de ajuda.

    Arthur deu-lhe um olhar duvidoso. Ele ajudou Annie a se sentar, a raposa aninhada em seus braços.

    — Não sei se recomendaria isso. Sem mencionar que uma raposa dessas deveria estar fugindo de uma matilha, e não recebendo cuidados em uma casa em Londres.

    Annie ficou boquiaberta.

    — Sendo caçado? Você não pode estar falando sério, Arthur. Por favor, me diga que não aprova esse esporte horrível.

    Arthur acomodou-se no assento ao lado dela e desviou o olhar em desconforto.

    — Muito bem. Leve-o para casa, se assim o quiser.

    Annie endireitou os ombros e assentiu.

    — Obrigada. Isso é exatamente o que pretendo fazer.

    Ela abraçou o filhote, tentando enxergar melhor sua pata ferida.

    Arthur riu.

    — Agora que você precisa tomar conta da raposa, pelo menos não estará tão determinada a me pedir uma chance de tomar as rédeas.

    Novamente, emitiu um som de crítica em direção aos cavalos e dirigiu-se para a entrada do parque, enquanto Annie ponderava sobre o rumo dos acontecimentos daquela tarde. Era verdade. Após o fracasso da tentativa de ser beijada, Annie voltara sua atenção a convencer Arthur a permitir que ela guiasse o faetonte de seu pai. Ele disse não. Novamente. Annie suspirou. Arthur tinha a impressão errada de que ela não sabia guiar uma carruagem. O fato era que seus cavalariços passaram horas ensinando-a na casa de campo, quando era mais nova. Seus pais sempre estiveram muito mais preocupados com Lily e sua educação, sua beleza, suas futuras perspectivas. Eles deixaram que sua filha mais nova se tornasse um completo moleque. E é exatamente isso o que ela fez. Todo garoto que ela já conheceu a tratou como uma amiga rebelde. É por isso que ela amava tanto Arthur. Ele fora o primeiro homem a elogiar sua beleza. O primeiro homem a tratá-la como uma garota. Mas isso significava que Arthur também não percebia do que ela era capaz. Se ela tivesse a chance de conduzir a carruagem, os passeios vespertinos não seriam um completo desperdício. Embora hoje, pelo menos, ela tenha salvado uma raposa.

    — Já que você tocou no assunto, Arthur, me permite guiar a carruagem no passeio de amanhã? Eu realmente sou...

    Ele estufou o peito.

    — Já discutimos isso, Anne. Nem todo mundo consegue dar conta de uma parelha como essa.

    Annie deu um sorriso desanimado e olhou para o outro lado. Arthur estava totalmente certo; não era algo que qualquer um pudesse dar conta. Arthur não estava fazendo um trabalho particularmente bom no momento. Ela retraiu-se. Na verdade, a posição de suas mãos nas rédeas estava totalmente errada. Mas não seria educado da parte dela tecer um comentário a esse respeito. Como segundo filho de um barão, Arthur era alto, loiro e tinha olhos azuis como os

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