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Medidas da componente horizontal da Indução

Magnética Terrestre
Engenharia Civil; Engenharia Mecânica – P07 – 2021.1
Raquel Ramos Santos; Thiago Oliveira de Assis;
Entregue a Marcus Vinicius Santos da Silva, professor da disciplina FISD40-P07 - Física Experimental 3

Resumo: Com base nos registros dos experimentos, esse relatório técnico visa estudar o comportamento magnético da terra
associando os resultados obtidos experimentalmente com teorias que alicerçam esse fenômeno, tais como os conceitos de indução e
campo magnético. A etapa inicial desse relatório consiste na introdução aos conceitos físicos necessários para a compreensão do
fenômeno estudado. Então, dados experimentais serão aquisitados, catalogados e gráficos serão elaborados para uma melhor
visualização e análise. O experimento em questão consistiu, inicialmente, na medição dos ângulos de deflexão da bússola para uma
distância constante em relação à bobina, alterando apenas o valor da corrente. Em seguida, o valor da corrente foi fixado como
constante, variando-se, agora, a distância em relação à bobina. Para que, finalmente, fosse possível calcular a componente
horizontal da indução magnética terrestre, que é o objetivo desse relatório.
Palavras-chave: bússola; campo magnético; indução; bobina;

INTRODUÇÃO

Para uma melhor compreensão do comportamento do campo magnético, necessita-se entender o fenômeno da
indução magnética. Para isso, pode-se analisar o funcionamento da bússola, um antigo instrumento que consistem em uma
agulha imantada que pode girar ao redor de um eixo perpendicular à sua direção, com sua ponta descrevendo uma trajetória
circular de ângulo . Devido a esse componente imantado, a indicação do ângulo  reagirá à presença de um outro imã. Ao
deslocar a bússola na mesma direção da agulha, tem-se uma trajetória. Representando um conjunto de trajetórias partindo,
arbitrariamente, de diversos pontos do espaço, obtemos as linhas de força que indicam uma perturbação no meio que
circunda o imã. Por convenção, a orientação dessas linhas tem origem no polo norte em direção ao polo sul do imã como
mostrado na figura a seguir:

A perturbação do meio pode ser mensurada através da grandeza indução magnética ou densidade de fluxo
magnético B. Para quantificação dessa grandeza, sabendo que para girar a agulha em  graus, afastando-o da sua posição
original, deverá ser aplicado um torque externo T proporcional ao seno do ângulo de giro.
Através da introdução de uma constante associada à intensidade da imantação, a expressão acima pode ser representada
pela seguinte igualdade:
E, vetorialmente, da seguinte forma:

Associando o funcionamento do imã à indução magnética terrestre, nota-se que, aproximadamente, num dado lugar
da superfície terrestre, uma bússola tende a procurar sempre a mesma direção. Tal fator indica a existência de uma indução
magnética B para cada ponto da superfície da Terra.
Analisando o a direção e intensidade da indução magnética terrestre mostra que, em aproximação, a terra pode ser
comparada a um grande imã com o polo norte magnético localizado nas coordenadas correspondentes à uma latitude de 73°
N e longitude de 100° 0, já o polo norte magnético possui latitude de 68° S e longitude de 146°. A figura a seguir mostra as
linhas de força do imã análogo à terra e a direção e intensidade de 𝐵𝑇 . É válido salientar que o polo norte magnético
corresponde ao polo sul geográfico e, analogamente, o polo sul magnético corresponde ao polo norte geográfico.

Em uma situação com a presença de um outro imã, a bússola tenderia a se alinhar sobre a indução resultante 𝐵𝑅 .
Em um ponto genérico P, a soma vetorial de B devido ao imã, com 𝐵𝑇 é dada por:

Para analisarmos os efeitos magnéticos em decorrência da corrente elétrica, basta substituirmos o imã permanente
por um fio condutor, retilíneo e de corrente I. Pois, assim, a bússola indicara a presença da indução magnética B que pode
ser representada da seguinte forma:

Nesse caso, a lei de Biot-Savart indica o módulo da contribuição de dB em um ponto P, devido a um elemento de
circuito dl percorrido por uma corrente I:

Nota-se, também, que a indução magnética total B no ponto B devido ao circuito pode ser representada pela soma
vetorial de todas as contribuições infinitesimais de todos os elementos que constituem o circuito, na forma da integral a
seguir:

Agora, para compreender a indução magnética criada por uma espira circular, considera-se a indução magnética B
de uma bobina circular composta por N espiras de um fio condutor percorrido por uma corrente I, com indução magnética a
90° do espaço. Ao aplicar a lei de Biot-Savart chega-se à seguinte expressão:
Por fim, ao colocarmos uma bobina de uma espira, percorrida por uma corrente I, de tal maneira que o seu eixo seja
orientado na direção Oeste Magnético - Leste Magnético, como na figura a seguir:
Em um ponto P do eixo a uma distância X do centro da bobina, a bússola tenderá a se alinhar com a componente horizontal
𝐵𝑅𝐻 correspondente à indução resultante, representada pela seguinte igualdade:
Como representado na figura a seguir:

Sendo assim, podemos calcular 𝐵𝑅𝐻 através do método da tangente com:

E através do método da cotangente chegado à seguinte expressão:

I. EXPERIMENTO
Material utilizado:
 Bancada de medida constituída de uma mesa para a bússola e de um suporte deslizante para a bobina;
 Bússola graduada em graus;
 Bobina de raio médio de 13 cm e 497 espiras;
 Multímetro no modo amperímetro de precisão 0,1 mA;
 Reostato;
 Fonte de tensão;
 Chave inversora;
 Fios.

II. RESULTADOS

SEÇÃO 1: AFERIÇÃO DE MEDIDAS

Foi montada a seguinte configuração:

Figura: Aparato instrumental utilizado no experimento.

Em seguida foi coletado os dados de corrente e angulação da bússola.


Parte I: Medidas com a distância x constante
Para a distância x da bobina mínima (0,105 m), para diferentes valores da corrente I, os valores dos ângulos de deflexão da bússola foram
medidos para ambos os sentidos da corrente.

TABELA I: ÂNGULOS DE DEFLEXÃO DA BÚSSOLA PARA UMA DISTÂNCIA DA BOBINA CONSTANTE


I (A) θ (º) θ’ (º)
0,01045 19 20
0,02005 34 33
0,03170 47 45
0,04200 56 54
0,05190 61 61
0,06390 66 66
0,07185 68 69

Parte II: Medidas com corrente I constante


Para três valores da corrente I constantes e distintos, para diferentes valores da distância x, os valores dos ângulos de deflexão da
bússola foram medidos para ambos os sentidos da corrente. O limite mínimo para as medidas foi de 5º de deflexão.

TABELAS II, III E IV: ÂNGULOS DE DEFLEXÃO DA BÚSSOLA PARA VALORES DE CORRENTE CONSTANTE
I = 0,0703 A
x(m) θ (º) θ’ (º)
0,105 66 68
0,185 30 30
0,24 16 17
0,35 6 5

I = 0,01405 A
x(m) θ (º) θ’ (º)
0,105 76 80
0,185 50 50
0,24 30 30
0,455 6 5

I = 0,02218 A
x(m) θ (º) θ’ (º)
0,105 80 84
0,185 63 62
0,24 43 43
0,35 18 17
0,45 8 8

Parte III: Observação do comportamento do ângulo de deflexão com a variação angular da bobina
Por fim, para a distância x mínima e para uma corrente I constante e igual a 0,0511 A, girou-se a bobina de um pequeno ângulo
ao redor de seu eixo vertical no sentido horário, e depois fez-se o mesmo no sentido anti-horário. Observou-se que quando a bobina é
girada no sentido horário, a bússola gira no sentido anti-horário, e vice-versa. Essa observação será discutida posteriormente na Seção 2
deste tópico.
SEÇÃO 2: TRATAMENO DE DADOS

𝜃+𝜃 ′
- Através da tabela 1, será traçado o gráfico de 𝑡𝑔(𝜃̅) versus I, onde:𝜃̅ =
2

TABELA V: DADOS PARA PLOTAGEM DO GRÁFICO I

I (A) θ (º) θ’ (º) tg(𝜃̅)


0,01045 19 20 0,354
0,02005 34 33 0,662
0,03170 47 45 1,036
0,04200 56 54 1,428
0,05190 61 61 1,804
0,06390 66 66 2,246
0,07185 68 69 2,539

Através do método dos mínimos quadrados foi determinado a reta que melhor se ajusta aos pontos experimentais, indicando
ainda, o valor do coeficiente de determinação do ajuste da reta. Como é de conhecimento que a reta deve passar na origem, pois quando
não há corrente passando pela bobina, assim como também não há deflexão da agulha da bússola (θ e tg(θ) são nulos), o coeficiente linear
da reta é zero. Desse modo, calculando a melhor reta através do método dos mínimos quadrados, tem-se:
∑ 𝑥𝑦
𝑘 = ∑ 𝑖(𝑥𝑖 )2𝑖 , sendo k o coeficiente angular da reta.
𝑖 𝑖

Com os valores da tabela 4, temos k=34,78033 A-1.


I = 34,78033tg(𝜃̅ )

Pela lei de Biot-Savart para o campo magnético gerado pela bobina, tem-se que:
1 𝜇0 𝑅2
𝐵𝑇𝐻 = . . 𝑁. 3
𝑘 2
(𝑅2 + 𝑥 2 )2
Como:
 k = 34,78033 A-1
 μ0 = 4π * 10-7 H/m
 N = 497
 R = 0,13 m
 x = 0,105 m

Assim, o valor de BTH será: BTH = 3,25162 x 10-5 T.

Das medidas registradas na etapa 2, foi construído um gráfico de log(R² + x²) versus log(cotg(θ)). Em seguida, utilizando o
método dos mínimos quadrados, foi encontrado a reta que melhor se ajustou a esses pontos, podendo ser visualizado nos gráficos
seguintes.
 Para I = 0,07030 A:

Gráfico II: log(R²+x²) versus log(cotg(𝜃)) para I = 0,07030 A.

 Para I = 0,01405 A:

Gráfico III: log(R²+x²) versus log(cotg(𝜃)) para I = 0,01405 A.

 Para I = 0,02218 A:

Gráfico IV: log(R²+x²) versus log(cotg(𝜃)) para I = 0,02218 A.

Comparando o valor do coeficiente angular dessas retas com o valor teórico (2/3), temos:
2
𝑌 = 𝑋+𝐾
3
Os coeficientes angulares encontrados com o método dos mínimos quadrados foram:
 Para I = 0,07030 A; α = 0,5033;
 Para I = 0,01405 A; α = 0,5384;
 Para I = 0,02218 A; α = 0,5292.

É possível perceber que os três valores de corrente foram próximos, com uma diferença média de aproximadamente 21% em
relação ao valor teórico. Apesar disso, os valores são aceitáveis e a discrepância observada provavelmente se deve a erros
experimentais/instrumentais e/ou a propagação de erros ao longo da realização dos cálculos.
Com o valor do coeficiente linear da reta obtida, foi calculado o valor correspondente de BTH. Desse modo, temo os coeficientes
lineares encontrados com o método dos mínimos quadrados:
 Para I = 0,07030 A; β = -1,3848;
 Para I = 0,01405 A; β = -1,2239;
 Para I = 0,02218 A; β = -1,1238;

Visto que, ao traçar o gráfico de Y em função de X, deve-se encontrar uma reta com inclinação constante igual a 2/3. No caso
particular onde X = 0, ou seja, θ = 45º, tem-se Y = K, sendo K o coeficiente linear da reta.

Logo:
2
𝜇0 𝑅2 3
(𝑅2 + 𝑥 2) = ( . 𝑁. 𝐼. )
2 𝐵𝑇𝐻
𝜇0 . 𝑁. 𝐼. 𝑅 2
𝐵𝑇𝐻 = 3⁄
2. (𝑅2 + 𝑥 2 ) 2

Assim, temos 3 valores de BTH, já que temos 3 valores de I e, consequentemente, 3 valores de x também. Os valores de x nos
três casos serão obtidos através de interpolação linear das retas anteriores para 𝜃̅= 45º.
São constantes:
 μ0 = 4π * 10-7 H/m
 N = 497
 R = 0,13 m

Para I = 0,07030 A: Para I = 0,01405 A: Para I = 0,02218 A:


x = 0,153 m. x = 0,199 m. x = 0,234 m.
BTH = 4,58432 * 10-5 T. BTH = 5,52097 * 10-6 T. BTH = 6,10247 * 10-6 T.

Tirando-se a média dos três valores obtidos, chega-se ao valor de BTH = 1,91555 * 10-5 T.

Através do primeiro método, foram obtidos valores próximos a partir do método dos mínimos quadrados e a partir
do coeficiente de inclinação da reta. Através do método dos mínimos quadrados, obteve-se BTH = 3,17866 * 10-5, se
aproximando do valor teórico (2 * 10-5 T). Já através do segundo método (corrente constante), foi obtido o valor médio de
1,91555 * 10-5 T, que apresenta uma discrepância de 4,5% em relação ao valor teórico, considerada pequena. Desse modo, é
possível afirmar que o segundo método foi o mais eficiente, pois se aproximou mais do valor real. Calculando o erro
cometido na determinação de BTH medido pelos dois métodos, temo:
 Primeiro método: [(2,0.10-5 - 3,17866 * 10-5) / 2,0.10-5 ] x 100 = 58,93%
 Segundo método: [(2,0.10-5 - 1,91555.10-5) / 2,0.10-5] x 100 = 4,22%

Em seguida foi construído o gráfico de BTH versus x, da origem até a distância máxima usada no experimento. Foi
utilizado apenas o valor médio de corrente (I = 0,01405 A) para o cálculo dos valores de campo magnético.

1 𝜇0 𝑅2
𝐵𝑇𝐻 = . . 𝑁. 3
𝑘 2
(𝑅 2 + 𝑥 2 )2

TABELA VI
x (m) Bth (T)
0,05 2,74408 * 10-5
0,10 1,68063 * 10-5
0,15 9,48102 * 10-6
0,20 5,46300 * 10-6
0,25 3,31412 * 10-6
0,30 2,12145 * 10-6
0,35 1,42464 * 10-7
Gráfico V: B versus x para I = 0,01405 A.
0,45 7,21513 * 10-7
Analisando o gráfico, percebe-se que o campo magnético B apresenta um comportamento similar ao do
exponencial em função da distância x da bobina. Quando a distância x tende ao infinito, o campo magnético B tende a zero e
quando a distância tende a zero, o campo magnético tende ao infinito. Em outras palavras, ao afastar muito a bobina da
bússola, a influência de seu campo magnético se torna praticamente nula, e à medida que se aproxima a bobina da bússola, a
influência de seu campo magnético se torna mais intensa.

A fim de explicar o porquê a indução Bth criada no eixo da bobina aumenta se seu raio diminui, foi seguido os
seguintes paços e análises. Com uma bobina de raio R e N espiras encontra-se a indução magnética em um ponto P situado
no seu eixo, temos:
𝜇0 . 𝐼. 𝑑𝑙. 𝑠𝑒𝑛𝜃
𝑑𝐵 =
4𝜋𝑟 2
1 𝜇0 𝑅2
𝐵 = . . 𝑁. 𝐼. 3
𝑘 2 (𝑅2 + 𝑥 2 )2

É possível perceber que o campo é inversamente proporcional ao raio da espira, quanto menor o raio R, maior será
o valor do campo criado.

Com o objetivo de explicar o porquê do valor encontrado para a deflexão deve ser θ’ = -θ, foi feita as seguintes
análises. Com o sentido da corrente invertido, o campo criado terá sentido contrário ao de antes, por conta da corrente
invertida. Porém, terá mesmo módulo e direção. Através da lei de Biot-Savart, percebe-se que o vetor indução magnética
resultante BRH é simétrico em relação ao anterior, porém o sentido de B se difere, pois, BTH continua o mesmo. Logo, o
ângulo de deflexão θ’ formado entre B TH e BRH tem o mesmo módulo que o anterior, só que agora no outro lado do eixo. Ou
seja, se a agulha da bússola estivesse perfeitamente alinhada com o eixo da bobina (θ 0 = 0º), θ’ seria exatamente igual a -θ.
Os valores de θ’ e -θ tiveram algumas pequenas diferenças. Pode-se explicar por conta de imprecisões na leitura do
amperímetro e da bússola, desalinhamento do eixo da bobina em relação à agulha, influências externas, entre outras razões.

III. CONCLUSÃO

Através dos resultados obtidos, conclui-se que o relatório em questão está de acordo com a teoria que rege os
fenômenos magnéticos da Terra e que o objetivo de calcular o valor da componente horizontal da indução magnética
terrestre local através dos métodos da tangente e cotangente foi atingido com êxito. Além de conseguir dispor gráfica e
matematicamente os dados, de forma a facilitar a compreensão do relatório.

IV. REFERÊNCIAS
[1] TIPLER, Paul A.; MOSCA, Gene. Física para Cientistas e Engenheiros - Vol. 3, 5ª edição. Rio de Janeiro, LTC, 2006.
[2] HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de Física - Vol. 3 - Eletromagnetismo, 10ª
edição. Rio de Janeiro, LTC, 2016.
[3] INSTITUTO DE FÍSICA DA UFBA. Experiência 5: Medidas da Componente Horizontal da Indução Magnética
Terrestre (versão para atividades não presenciais). Versão similar disponível em:
<http://www.fis.ufba.br/sites/fis.ufba.br/files/experiencia05.pdf>. Acesso em: 31/10/2021.
[4] INSTITUTO DE FÍSICA DA UFBA. Anexo IV: Método dos Mínimos Quadrados. Disponível em:
<http://www.fis.ufba.br/sites/fis.ufba.br/files/anexo04_0.pdf>. Acesso em: 31/10/2021

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