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FACULDADE UNLEYA

PÓS GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA VETERINÁRIA

YOHANA IANSEN

USO DE CÉLULAS TRONCO NO TRATAMENTO DE INJÚRIAS RENAIS E


HEPÁTICAS EM ANIMAIS DE COMPANHIA

BRASÍLIA - DF
2017
FACULDADE UNLEYA
PÓS GRADUAÇÃO EM FARMACOLOGIA E TERAPÊUTICA VETERINÁRIA

YOHANA IANSEN

USO DE CÉLULAS TRONCO NO TRATAMENTO DE INJÚRIAS RENAIS E


HEPÁTICAS EM ANIMAIS DE COMPANHIA

Projeto apresentado como requisito parcial para


obtenção do título de especialista em Farmacologia
e Terapêutica Veterinária da Faculdade Unileya.

Orientadora: Iracema Gomes de Araújo.

BRASÍLIA – DF
2017
RESUMO

As insuficiências hepática e renal são de alta casuística e difícil tratamento dentro da


clínica de pequenos animais. Em casos avançados o rim e o fígado podem perder a
sua funcionalidade total fazendo com que o paciente necessite de transplante de
órgão. A aplicação terapêutica de células tronco vem ganhando espaço dentro da
Medicina Veterinária por mostrar-se seguro e eficaz. Células tronco podem ser
embrionárias ou adultas, dependendo do seu local de origem. Tratam-se de células
não especificas até receberem um estímulo do ambiente e se especializarem, por
conta disso as células tronco induzem a regeneração de tecidos. Vários estudos
vêm mostrando que a terapia com células tronco pode retardar e/ou reverter o
processo de fibrose e progressão da doença. Nesse contexto o objetivo desse
trabalho é relatar dois casos de aplicação terapêutica de células tronco
mesenquimais por via endovenosa em pacientes com insuficiência renal ou
hepática.

Palavras-chave: Células tronco. Insuficiência renal. Insuficiência hepática. Transplante.


ABSTRACT

The hepatic and renal insufficiencies are high casuistic and difficult to treat within the
small animal clinic. In advanced cases the kidney and liver may lose their full
functionality causing the patient to require organ transplantation. The therapeutic
application of stem cells has been gaining ground in Veterinary Medicine because it
is safe and effective. Stem cells may be embryonic or adult, depending on their place
of origin. They are non-specific cells until they receive an environmental stimulus and
specialize, because of that the stem cells induce the regeneration of tissues. Several
studies have shown that stem cell therapy can slow and / or reverse the process of
fibrosis and disease progression. In this context, the objective of this study is to
report two cases of intravenous mesenchymal stem cell therapy in patients with renal
or hepatic insufficiency.

Keywords: Stem cells. Renal insufficiency. Hepatic insufficiency. Transplant.


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – KIT DE APLICAÇÃO DE CÉLULAS TRONCO DO LABORATÓRIO


REGENERA®..............................................................................................................17
FIGURA 2 – ANIMAL COM ACESSO VENOSO RECEBENDO SOLUÇÃO
FISIOLÓGICA A 0,9%.................................................................................................18
FIGURA 3 – DESCONGELAMENTO DAS CÉLULAS TRONCO EM BANHO MARIA
A 37º CELSIUS...........................................................................................................19
FIGURA 5 - HOMOGEINIZAÇÃO FINAL COM SOLUÇÃO FISIOLÓGICA...............19

FIGURA 6 - APLICAÇÃO INTRAVENOSA DAS CÉLULAS TRONCO COM


SERINGA
40X12 ........................................................................................................................20
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
..........................................................................................................8
2 REVISÃO DE LITERATURA
....................................................................................9
2.1 SISTEMA
URINÁRIO..............................................................................................9
2.2 INSUFICIÊNCIA
RENAL ......................................................................................10
2.2.1 Insuficiência Renal
Aguda ......................................................................11
2.2.2 Insuficiência Renal
Crônica ....................................................................12
2.3 SISTEMA
HEPÁTICO ..........................................................................................13
2.3.1 Insuficiência
Hepática .............................................................................14
3 RELATO DE
CASOS...............................................................................................15
3.1 CASO UM ............................................................................................................15
3.2 CASO DOIS .........................................................................................................20
4 TERAPÊUTICA UTILIZADA NO TRATAMENTO DE INSUFICIENCIA RENAL E
HEPÁTICA ................................................................................................................21
4.1 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA
RENAL .......................................................21
4.1.1
Fluidoterapia ...........................................................................................21
4.1.2 Diuréticos ...............................................................................................22
4.1.3 Distúrbio gastrointestinal ........................................................................23
4.2 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA
HEPÁTICA ................................................24
4.2.1
Fluidoterapia ...........................................................................................24
4.2.2 Corticoterapia .........................................................................................25
4.2.3 Azatioprina .............................................................................................25
4.2.4
Colchicina ...............................................................................................25
4.2.5 Ácido Ursodesoxicólico ..........................................................................25
4.2.6
Silimarina ................................................................................................26
4.2.7
Espironolactona ......................................................................................26
4.2.8 Dieta .......................................................................................................26
4.3 USO DE CÉLULAS TRONCO NO TRATAMENTO DE INJÚRIAS RENAIS E
HEPÁTICAS ..............................................................................................................27
4.3.1 Células tronco
mesenquimais .................................................................29
4.3.2 Diferenciação das células tronco dentro do
organismo............................30
4.3.3 Células tronco no tratamento de Insuficiência
hepática ..........................31
4.3.4 Células tronco no tratamento de insuficiência
renal ................................32
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................33
6 REFERÊNCIAS ......................................................................................................35
8

1 INTRODUÇÃO

As células tronco vêm ganhando cada vez mais atenção na área científica e
no conhecimento popular, pois desde a década de 90 diversas descobertas foram
realizadas no que se trata da utilização de células tronco para o tratamento de
doenças hereditárias, autoimunes e naquelas em que há baixa perspectiva
terapêutica (DEL CARLO, MONTEIRO E ARGÔLO NETO, 2008).

Em todos os animais vertebrados encontram-se dois tipos de células tronco:


as embrionárias (CTE) e as adultas, também chamadas de somáticas (CTS).
Resumidamente as células tronco são células especiais pluripotentes que possuem
as seguintes características: proliferação indefinida, auto renovação, produção de
diferentes linhagens de células e regeneração tecidual (OLIVEIRA, 2008).

As CTE são obtidas do zigoto e da cavidade interna do pré-embrião


(blastocisto) (SILVEIRA et al, 2006). Nos últimos anos novas técnicas de coletas
foram desenvolvidas e a técnica atualmente utilizada coleta células tronco de pré-
embriões incapazes de implantar-se ou nidar-se, entretanto diversos países proíbem
as pesquisas utilizando células tronco provenientes de embriões de humanos devido
às questões éticas e religiosas (YAMANAKA, 2007).

Já as CTS são células não diferenciadas presentes nos tecidos adultos e


possuem a capacidade de auto renovação e diferenciação morfológica
(PITTENGERT, 1999). Estas podem ser encontradas no cordão umbical e medula
óssea dos pacientes (SILVEIRA, 2006). Por consequência dessas características as
CTS realizam a manutenção de órgãos e tecidos do organismo (MINGUELL et al,
2000).

As células tronco pluripotentes induzidas também são uma alternativa, essas


células originárias das células tronco somáticas são geneticamente modificadas e
reprogramadas através de mecanismos de transfecção celular gerando exemplares
semelhantes às células tronco embrionárias (TAKAHASHI, 2007).

Os cães passaram a ser modelos de estudo de como as células tronco


reagiriam no tratamento de doenças em humanos devido as questões religiosas e
éticas que circundam esse assunto, em contrapartida muitos avanços foram feitos
9

dentro da Medicina Veterinária a partir da utilização de células tronco (NAKAGE E


SANTANA, 2006).

Dentro da Medicina Veterinária há diversas formas de utilização das células


tronco como por exemplo: no tratamento de injúrias nos tendões, ligamentos,
cartilagens, rins, fígado, problemas reprodutivos, articulares, entre outros (FORTIER
E TRAVIS, 2011).

Com relação a nefrologia e hepatologia o uso mais comum de células tronco é


para a redução de injúrias ou terapia de substituição e vários estudos demonstraram
que a utilização de células tronco mesenquimais trazem benefícios palpáveis para
os pacientes animais e humanos com comprometimento funcional desses órgãos
(BRUNO et al, 2012; QUIMBY et al, 2011). Estudos demonstraram que
administração de células tronco expandidas in vitro melhoram a insuficiência renal
aguda (IRA) e a insuficiência hepática crônica, retardando e/ou revertendo o
processo de fibrose e restaurando a funcionalidade orgânica (PICINICH et al, 2007).

O objetivo desse artigo é relatar a utilização de células tronco no tratamento


de insuficiência renal e hepática em dois animais, ressaltando também a terapêutica
medicamentosa e os resultados dessa opção de tratamento.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 SISTEMA URINÁRIO

O sistema urinário é composto por um par de rins, ureteres (transporte da


urina dos rins até a bexiga urinária), bexiga urinária (armazenamento da urina) e
uretra (transporta a urina da bexiga urinária até o meio externo (DYCE et al., 2004).

De acordo com Ellenport (1986) os rins são glândulas vermelho-


acastanhadas, de consistência firme e forma e tamanho variável de acordo com a
espécie, estando localizados na região abdominal, um em cada lado da coluna
vertebral, são relativamente grandes e extremamente vascularizados recebendo
cerca de 20% do débito cardíaco. As células funcionais dos rins são os néfrons.

Os rins executam funções primordiais dentro da homeostase do organismo


através da eliminação de substâncias indesejadas, regulação da volemia, regulação
do volume plasmático (GUYTON, 1992), regulação da osmolaridade plasmática,
10

regulação do equilíbrio ácido-base, manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico,


excreção de metabólitos, produção de substâncias bioativas (prostaglandinas,
adenosina, entre outros) e do metabolismo de substâncias como a insulina
(CAMARGO, 2002).

Para que essas funções essenciais do sistema renal aconteçam os rins


executam os três processos fundamentais descritos abaixo:

I) Filtração glomerular: os rins filtram as substâncias de baixo peso molecular


do plasma sanguíneo;
II) Reabsorção tubular: os rins escolhem as substâncias que devem voltar a
circulação sistêmica e as devolve para o meio interno;
III) Secreção tubular: eliminação das substâncias que devem ser excretadas.

Pode-se avaliar a função renal através de exames que apresentem os níveis


de concentração de ureia, creatinina e resíduos nitrogenados do catabolismo de
proteínas (OSBORNE E FINCO, 1983).

Tendo em conta a dimensão da importância organoléptica dos rins é sabido


que, quando há uma enfermidade que os afete, várias alterações ocorrem no
funcionamento do organismo, gerando sinais clínicos não apenas em âmbito renal
(RUFATO E REZENDE-LAGO, 2011).

2.2 INSUFICIÊNCIA RENAL

Os termos doença renal, insuficiência renal, falência renal, azotemia e uremia


são empregados como sinônimos para descrever processos patológicos renais,
entretanto eles diferem entre si e consequentemente o seu tratamento também é
diferente (POLZIN et al., 2005).
As doenças renais podem afetar os glomérulos, os túbulos, o tecido intersticial
e/ou os vasos sanguíneos, essas enfermidades podem ser de origem congênita,
infecciosa, tóxica, imunomediada, traumática ou decorrente de desequilíbrios
eletrolíticos (POLZIN, 2008).
Resumidamente a falência renal é o termo utilizado para designar a disfunção
máxima do órgão, a azotemia descreve a perda de 65 a 75% dos néfrons e a
insuficiência renal designa quadros em que há perda da função renal, entretanto
11

ainda há a tentativa de compensação através da ativação de mecanismos de


hipertrofia e hiperplasia dos néfrons (POLZIN et al., 2005; McGROTTY, 2008).
Não há necessidade de que todos os néfrons presentes nos rins estejam em
pleno funcionamento para que o organismo esteja em homeostase, por isso
definimos um animal com insuficiência renal (IR) quando há perda de três quartos ou
mais da capacidade funcional de ambos os rins (OSBORNE e POLZIN, 1995).

A determinação das causas da IR ainda são complexas em consequência da


interdependência dos componentes vascular e tubular dos néfrons. Contudo sabe-se
que o processo básico de progressão da IR é em resposta a injuria causada aos
glomérulos, túbulos, tecido intersticial ou a vasculatura renal (SPARGOS, 1994;
GRAUER, 2007). A IR pode ser primária ou secundária, na primária os néfrons vão
degenerando-se com o passar do tempo e na secundária essa degeneração ocorre
devido à um agente agressor. A IR também pode ser classificada em aguda ou
crônica (POLZIN, 2008).

2.2.1 Insuficiência Renal Aguda

A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é o indício de que a função renal está


decaindo ocasionando dificuldade na excreção de resíduos metabólicos, na
regulação do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-base (MELCHERT et al., 2007). Os
sinais clínicos da IRA são inespecíficos e incluem letargia, depressão, êmese e
diarreia (SILVA et al., 2008). Nesta fase ainda não é possível observar alterações de
cor ou quantidade de urina. No exame físico encontra-se depressão, hipotermia,
estomatite, aumento do tamanho do rim na palpação. Nos exames clínicos nota-se:
aumento da ureia, creatinina e fósforo; acidose metabólica e hipercalemia (AIELLO,
2001; MEAK, 2003).

No que diz respeito ao tratamento faz-se necessária a fluidoterapia seja com


Ringer Lactato para animais que não apresentem hipercalemia ou solução fisiológica
para os que apresentam. Quando o animal apresenta acidose metabólica
recomenda-se um uso de bicarbonato em conjunto com a fluidoterapia. Deve-se
monitorar a pressão venosa do animal para que não ocorra superidratação. Deve-se,
também, recorrer a uma terapia diurética para a promoção do fluxo urinário se o
animal estiver bem hidratado e apresentar uma produção urinária inferior a 20mL/Kg/
12

dia. A hemodiálise é indicada para casos em que a produção urinária não se


reestabelece apenas com o uso de medicações (AIELLO, 2001).

2.2.2 Insuficiência Renal Crônica

Atualmente, o terno Insuficiência Renal Crônica (IRC) é utilizado para


designar uma síndrome clínica que evolui por um longo período de tempo (mais de 3
meses) caracterizada pelas alterações morfofuncionais irreversíveis no parênquima
renal (POLZIN & OSBORNE, 1992; SENIOR, 1994), podendo-se notar uma perda
de até 50% do filtrado glomerular em relação ao seu volume normal (WAKI et al.,
2010).

Manifestações clínicas dessa doença acontecem apenas quando há o


comprometimento de 67 a 75% dos néfrons. Etiologicamente a IRC pode ser de
origem congênita ou adquirida, podendo ocorrer em todas as faixar etárias sendo
mais comum nos idosos. No estudo realizado por Rubin (1997) constatou-se que a
idade média de diagnóstico nos cães é de 6,5 – 7 anos e de 7-7,4 nos gatos.

Os sinais clínicos observados são poliúria e polidipsia compensatória em


consequência da incapacidade renal em concentrar urina, melena, êmese, tremores
musculares decorrentes do acúmulo de substâncias tóxicas. Nos exames
laboratoriais observa-se aumento da concentração de ureia, creatinina e fósforo;
alterações eletrolíticas, acidose metabólica, hipoalbuminemia, anemia não
regenerativa e aumento da concentração de amilase e lipase (LUSTOSA E KOGICA,
2003). Exames de imagem e biópsias também podem auxiliar no diagnóstico
juntamente com o exame físico, clínico e a anamnese (SANDERSON, 2009).

Quando realizado um Raio X pode verificar-se a diminuição do tamanho renal,


mineralização renal e redução da densidade óssea. Já no exame ultrassonográfico
revela-se aumento na ecogenicidade dos rins, pouco definição do limite córtico-
medular, redução de tamanho e contornos renais irregulares (SILVA, MAMPRIM E
VULCANO, 2008).

O prognóstico, na maioria das vezes, é desfavorável, pois, normalmente, o


tratamento indicado para a IRC é apenas paliativo, visando a melhora na qualidade
de vida do animal e um aumento da sobrevida, que pode variar de meses a anos
(RUFATO E REZENDE-LAGO, 2011).
13

2.3 SISTEMA HEPÁTICO

O fígado corresponde entre 2 e 5% do peso corporal e é a maior glândula


isolada do organismo, está localizada na parte interna da porção intratorácica do
abdômen e é constituído por seis lobos: lateral esquerdo, medial esquerdo,
quadrado, medial direito, lateral direito e caudato (LOPES et al., 2007). Geralmente
possui uma coloração vermelho-acastanhado, macio e de consistência friável (DYCE
et al, 2004). Entre 20 e 25% do débito cardíaco é destinado a irrigação do fígado
(ROTHUIZEN, 2001). As células funcionais do fígado são denominadas hepatócitos.

Este órgão desempenha funções de elevado grau de importância para o


organismo, como: produção de bile; armazenamento de glicose sob a forma de
glicogênio; metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos; destruição das
hemácias velhas ou anormais; síntese de proteínas, fatores imunológicos e de
coagulação e de substâncias transportadoras de oxigênio e gorduras; além de sua
ação desintoxicante do organismo (RIBEIRO et al., 2009). O fígado também possui
uma capacidade auto regenerativa notável (CENTER, 1996). Rothuizen (2001)
esclarece que essa capacidade regenerativa do fígado é regulada por fatores de
crescimento como, por exemplo, a insulina, sendo possível a remoção de 80% do
fígado sem que alterações clínicas notáveis.

Tendo consciência de que o fígado desempenha inúmeras importantes


funções dentro organismo foram desenvolvidas técnicas para mensuração do
desempenho bem como diagnóstico de possíveis lesões no mesmo. Thrall (2015)
afirma que os exames laboratoriais devem ser divididos em: I) testes que mensuram
lesões nos hepatócitos; II) testes que detectam colestase e III) testes que avaliam a
função hepática.

A dosagem dos níveis séricos de alanina aminotransferase (ALT), de


aspartato aminotransferase (AST) são os exemplos mais comuns de exames que
mensuram lesões nos hepatócitos. A ALT é uma enzima que se encontra livre no
plasma da célula e quando há rompimento celular esta é liberada na corrente
sanguínea. Já o AST promove a catalisação de transaminação reversível de
aspartato e 2-cetoglutarato em oxalacetato e glutamato, sendo considerada uma
enzima de fase aguda (GONZALEZ E SILVA, 2006).
14

Durante a colestase o fluxo biliar fica comprometido parcial ou totalmente e


durante este processo há o extravasamento de enzimas para a corrente sanguínea,
como a glutamil transferase (GGT) e a fosfatase alcalina (BATISTA, 2016).

Já para a avaliação da função hepática pode-se dosar os níveis de bilirrubina


que se origina da degradação dos eritrócitos pelo sistema reticulo-endotelial; de
amônia que se eleva em caso de doença hepática devido a dificuldade do fígado de
metabolizar a ureia; de albumina embora a hipoalbuminemia só seja detectada em
exames quando já existe comprometimento de 60-80% da função hepática; de
colesterol; entre outros (GONZALEZ E SILVA, 2006; BATISTA, 2016).

2.3.1 Insuficiência Hepática

A Insuficiência Hepática (IH) pode ser definida como a perda da capacidade


do fígado em realizar as suas funções biológicas (PINFILDI, 2010). Na maior parte
das vezes a etiologia da IH está relacionada com doenças infecciosas, congênitas,
intoxicações, doenças autoimunes, iatrogênicas ou idiopáticas, como: leptospirose;
hepatite viral canina; hepatite medicamentosa; desvio porto sistêmico congênito;
intoxicação por cobre, plantas, pesticidas e herbicidas; obstruções biliares e
neoplasias (JOHNSON, 1997; WATSON, 2004).

Os sinais clínicos mais recorrentes são: anorexia, êmese, diarreia, polidipsia,


poliúria, perda de peso, icterícia, hemorragia e ascite; entretanto esses sinais são
inespecíficos tornando necessária a realização de exames laboratoriais como
hemograma, dosagem de enzimas hepáticas, ultrassonografia e biópsia (HOWES,
2011).

A evolução da doença hepática leva ao aparecimento de várias complicações


devido a incapacidade funcional do fígado, como: encefalopatia hepática, ascite,
úlceras gastrointestinais, sepse, sendo que a gravidade dessas consequências varia
de acordo com a etiologia da IH (OLIVEIRA E MATTIOLLI, 2010).
No que diz respeito ao diagnóstico Nelson et al. (2006) esclarece que no
hemograma poucas são as alterações das células que sugiram lesão hepatobiliar. Já
no exame bioquímico as enzimas hepáticas alanina aminotransferase (ALT),
aspartato aminotransferase (AST), fosfatase alcalina, glutamil transferase (GGT)
15

elevadas; bilirrubina total, albumina, nitrogênio da ureia, glicose e colesterol baixos


são indicadores de problemas hepáticos (TILLEY et al., 2003).
O protocolo de tratamento instituído é corticoesteroides, azatioprina,
colchicina, ácido ursodesoxicólico, silimarina e dieta nutricional adequada aos
animais hepatopatas (PINFILDI, 2010; OLIVEIRA E MATTIOLLI, 2010; HOWES,
2011).

3 RELATO DE CASOS

3.1 CASO UM

Um canídeo da raça Maltes, fêmea, 8 meses, 4,2 kg, chegou a clínica


veterinária Ekovet no mês de novembro de 2016, apresentando êmese, diarreia,
polidpsia e perda de peso. Coletou-se sangue para a realização do hemograma e
bioquímico. Os resultados do exame bioquímicos apresentaram hiperglicemia (181
mg/dL), fosfatase alcalina em 1303,0 UI/L, hiperfosfatemia (7.1 mg/dL), aumento nos
níveis de A.L.T. (108,4 U/L); já o hemograma apresentou-se normal.

Prescreveu-se Hepvet® meio comprimido BID, por trinta dias, medicamento


utilizado para auxiliar o organismo no metabolismo de gorduras e proteínas; Citrato
K® meio comprimido BID, por trinta dias, indicado para suplementação de potássio;
e a ração Hepatic® entre 100 e 120gr divididos, em três refeições durante o dia. O
tutor foi orientado para que não fornecesse qualquer outro tipo de alimentação para
o cão.

Após trinta dias o animal retornou a clínica apresentando ganho de 500gr de


peso, no exame bioquímico apresentou melhora nos níveis de glicemia (116,0
mg/dL), níveis de fosfatase alcalina (843,0 U/L) e A.L.T (127,00 U/L) elevados,
colesterol (315,0 mg/dL) e triglicerídeos (801,4 mg/dL) alterados e hiperfosfatemia
(7,1 mg/dL). O resultado do hemograma permaneceu sem alterações consideráveis.

Tendo em consideração os resultados ainda não satisfatórios dos exames


instituiu-se o protocolo de tratamento com colchicina 0,03mg/kg SID, silimarina 70
mg/kg BID, ácido ursodesoxólico 5mg/kg BID e ração Hepatic®.

O animal veio para reconsulta cerca de 40 dias depois da implantação do


novo protocolo de tratamento, novos exames foram realizados e apresentaram os
16

seguintes resultados: fosfatase alcalina em 876 U/L, leve elevação nos níveis de
fosfato sérico (6,3 mg/dL), A.S.T em 127,00 U/L, cortisol em 5,60 mcg/dL.

A este ponto o tratamento com células tronco fora recomendado à tutora do


animal. Explicou-se as vantagens e possíveis desvantagens do tratamento, os
custos, a forma de aplicação, etc. Entretanto a tutora optou por permanecer com
supracitado.

Após três meses se passarem e o animal permanecer neste protocolo de


tratamento a cadela foi trazida para consulta e realização de exames que mostraram
alterações como: nível de colesterol estava elevado (363,0 mg/dL) assim como a
fosfatase alcalina (1154,00 U/I), o nível de triiodotironina (T3) (53,73 ng/dL) e o de
cortisol (5,26 mc/dL). Uma ultrassonografia também foi realizada, o laudo apresenta
fígado aumentado, com bordos, forma e contorno preservado; ecogenicidade
aumentada difusamente; vesícula biliar normodistendida preenchida por conteúdo
anecogênico e ecogênico; sugestivo de esteatose hepática. Depois da obtenção do
resultado explicou-se, novamente, a possibilidade da realização de tratamento com
células tronco, porém, a tutora decidiu encaminhar o animal a outro veterinário para
uma segunda opinião.

No mês agosto de 2017 a tutora retornou a clínica e aceitou o protocolo de


tratamento com células tronco tendo em vista o longo período de tratamento da
cadela sem que se obtivesse resultados satisfatórios. O animal foi encaminhado
para mais uma bateria de exames. No exame bioquímico notou-se aumento na
dosagem de bilirrubinas 4,20 mg%, gama-glutamiltransferase (182,0 UI/L), A.L.T
(104 U/L), triglicerídeos (380 mg/dL), fosfatase alcalina (450,0 UI/L), colesterol (449
mg/dL) e fósforo (7,8 mg/dL). No exame ultrassonográfico o resultado foi o mesmo
do anteriormente realizado.

As células tronco mesenquimais foram encomendadas do laboratório


Regenera ™, situado em São Paulo, que as envia em caráter emergencial,
embebidos em nitrogênio líquido (Figura 1). O método de aplicação escolhido foi o
intravenoso, para tanto obteve-se um acesso venoso de segurança onde o animal
ficou em fluidoterapia com Solução Fisiológica 0,9% enquanto realizava-se o
processo de preparação das células tronco como mostra a Figura 2.
17

Figura 1: Kit de aplicação de células tronco do Laboratório Regenera®

Fonte: O AUTOR, 2017.

Figura 2 – Animal com acesso venoso recebendo solução fisiológica a 0,9%

Fonte: O AUTOR, 2017.

Primeiramente descongelou-se o criotubo em banho maria em água a 37º


graus Celsius por dois minutos (Figura 3), então a solução descongelada foi
transferida para a solução de descongelamento (Figura 4) e centrifugada a 1200
RPM por 5 minutos. Após a finalização do tempo de centrifugação o sobrenadante
18

foi rejeitado e adicionou-se a solução de lavagem 1 no precipitado homogenizando-o


delicadamente.

Figura 3: Descongelamento das células tronco em banho maria a 37º Celsius

Fonte: O AUTOR, 2017.

Figura 4: Transferência do líquido do criotubo para a solução de descongelamento

Fonte: O AUTOR, 2017.


19

O criotubo foi novamente levado para centrifugação a 1200RPM por cinco


minutos. Ao fim na centrifugação o sobrenadante foi rejeitado e adicionou-se a
solução de lavagem 2 efetuando o mesmo processo de homogeneização do
precipitado. Esta solução foi encaminhada a centrifuga a1200 RPM por cinco
minutos. Tendo finalizado esse processo foi adicionada a solução fisiológica ao
precipitado homogeneizando-o para aplicação (Figura 5). Com uma seringa e agulha
40x12 aspirou-se todo o conteúdo do tubo e injetou-se no acesso venoso
anteriormente obtido (Figura 6).

Figura 5: Homogeneização final com solução fisiológica.

Fonte: O AUTOR, 2017.


20

Figura 6: Aplicação intravenosa das células tronco com seringa 40x12

Fonte: O AUTOR, 2017.

O animal ficou em observação por 24 horas e foi encaminhado para casa.


Após trinta dias repetiu-se o exame bioquímico que se apresentou normal. O animal
está sendo acompanhado semanalmente, não apresentou efeitos colaterais,
permanece assintomático, não houve aparecimento de neoplasias benignas ou
malignas.

3.2 CASO DOIS

Felino, macho, 10 anos, SRD, chegou a clínica Ekovet em setembro de 2015


com um quadro clínico de poliuria, polidipsia, êmese e diarreia. No exame físico
apenas notou-se leve aumento do rim a palpação. O felino realizou um hemograma
que não apresentou anormalidades e um exame bioquímico com aumento nos níveis
de ureia (68 mg/dL), de creatinina (1,34 mg/dL) e de A.L.T (216 UI/L). No exame
ultrassonográfico observou-se o rim com tamanho diminuído e contorno irregular,
definição corticomedular reduzida bilateralmente, cortical espessa e hiperecoica;
sugestivo de IRC.
21

A tutora do animal foi informada a respeito da possibilidade de tratamento


com células tronco, das suas vantagens, possíveis desvantagens, custo e
funcionamento. A mesma aceitou este protocolo de tratamento e o procedimento foi
realizado poucos dias depois seguindo o mesmo processo exemplificado no caso
um.

O animal foi acompanhado semanalmente e após trinta dias do procedimento


os resultados dos exames foram normais. O felino não teve efeitos colaterais,
reações adversas e também não apresentou o crescimento de neoplasias benignas
ou malignas, até o presente momento continua assintomático.

4 TERAPÊUTICA UTILIZADA NO TRATAMENTO DE INSUFICIÊNCIA RENAL E


HEPÁTICA

4.1 TERAPÊUTICA DA INSUFICÊNCIA RENAL

O protocolo de tratamento utilizado na IRC tem por objetivo corrigir ou


minimizar os distúrbios hidroeletrolíticos, hídrico, ácido-básico, endócrino e
nutricional (RUBIN, 1997).

4.1.1 Fluidoterapia

A fluidoterapia visa a restauração do volume, a normalização da composição


dos líquidos corporais, a manutenção do equilíbrio dos eletrólitos e líquidos externos,
corrigindo a perda de líquidos (ETTINGER e FELDMAN, 1997).

A administração de líquidos intravenosos é a preferida, especialmente


quando há a necessidade de rápida expansão do volume. Tanto a via intraperitoneal
como a subcutânea podem também ser empregadas, mas a absorção pelo tecido
subcutâneo é lenta (POLZIN, 2004).

A IR causa desidratação isotônica que pode ser definida como quando ocorre
a perda de água e eletrólitos de forma equilibrada. Para o tratamento da IR utiliza-se
o Ringer Lactato que é um fluído de reposição da classe dos cristaloides
(MONTIANI-FERREIRA & PACHALY, 2000).
O Ringer Lactato é uma solução isotônica que possui sódio na sua
constituição, mesmo assim tem a sua composição semelhante a do plasma
22

sanguíneo. Possui as mesmas características da solução fisiológica 0,9%, porém é


mais completo, pois contém uma mistura de eletrólitos. Este é amplamente utilizado
para a correção de deficiências na concentração plasmática. Também o utilizam
quando há acidose metabólica, pois o lactato é convertido no fígado gerando
bicarbonato e alcalinizando o sangue (VIANA, 2011).
Outra opção de fluidoterapia para animais com IR é a utilização de Solução
fisiológica 0,9% juntamente com bicarbonato (MEAK, 2003).

4.1.2 Diuréticos

A terapia diurética tem como objetivo aumentar a natriurese e,


consequentemente, a diurese que ocorre de formas variadas de acordo com o
mecanismo de ação do fármaco administrado. Os diuréticos são utilizados com o
intuito de aumentar a excreção de sódio, porém, estes também são capazes de
alterar a excreção de outros íons (K+, H+, Ca2+, Mg2+, Cl-, HCO3- e fosfatos)
influenciando na hemodinâmica renal (WAKI, 2010).

A administração de diuréticos deve ser amplamente monitorada pelo médico


veterinário, pois a depleção do volume sanguíneo induzida pelos diuréticos pode
levar a efeitos colaterais (SENIOR, 1994).

O fármaco diurético mais amplamente utilizado nos casos de IR é a


furosemida que está classificado como um diurético de alça. Os diuréticos de alça
agem bloqueando o transporte de sódio existente no ramo espesso da alça de
Henle, inibindo a reabsorção de cerca de 25% do sódio presente no filtrado
ocasionando natriurese e diurese (OSBORNE E FINCO, 1994).

Na IR acontece a redução no ritmo de filtração glomerular e da distribuição da


droga no seu sítio de ação, sendo assim uma dose maior deve ser administrada
para que o fármaco apresente a ação desejada. Para cães com insuficiência renal,
recomenda-se uma dose inicial de 2 mg/Kg que deverá ser aumentada a cada hora
(na razão de 2 mg/Kg) ao longo de três horas consecutivas para tentar induzir
diurese nesses pacientes (até a dose máxima de aproximadamente 6-8 mg/Kg ser
atingida) (MEAK, 2003).

4.1.3 Distúrbios gastrointestinais


23

O manejo nutricional aplicado no caso de IR é composto por administração


de alimentos aquecidos várias vezes ao dia, tendo como objetivo reduzir os sinais
clínicos da uremia através da diminuição dos compostos tóxicos derivados do
catabolismo proteico; minimizar distúrbios eletrolíticos, vitamínicos e minerais;
fornecendo a quantidade adequada de proteínas, calorias e minerais.
Desde 1948 fala-se sobre dietas hipoprotéicas para animais em quadros
clínicos de IR tendo como objetivo a redução da produção de toxinas urêmicas
desacelerando, também, a progressão da lesão renal (OSBORNE E FINCO, 1995).
A restrição de proteínas na dieta é recomendada com hiperazotemia moderada, ou
seja, creatinina sérica acima de 2,5mg/dLe de ureia sérica acima de 170mg/Dl
(COWGILL, 1995). Recomenda-se 1,6-2 g/kg/dia de proteína de alto valor biológico
para cães com IR (CASE et al.,1995).
Na IR ocorre a retenção de fósforo fato que é importante no desenvolvimento
do hiperparatireoidismo secundário, na calcificação dos tecidos moles e na
progressão da IR (BROWN, 1998). Atualmente, recomenda-se um nível dietético de
fósforo de 0,25 % na matéria seca para cães e de 0,3- 0,4 % para os gatos
(MORAILLON & WOLTER, 1995).
A restrição de sódio é recomendada para animais com IR mesmo quando não
apresentam sinais de hipertensão (LEWIS et al., 1994) e tem por objetivo a
prevenção da retenção de água e sódio. As quantidades de sódio recomendadas de
cães e gatos variam entre 0,1 a 0,3% da matéria seca da dieta (LUSTOZA E
COGIKA, 2003).
A hipopotassemia pode ocorrer em cães com IRC, mas é um achado mais
comum em gatos, acarretando em quadros de polimiopatia generalizada e
ventroflexão do pescoço (SPARKES, 1998). A suplementação de potássico é
indicada quando os níveis séricos estão abaixo de 4mEq/L. Felinos com IRC
apresentam melhora clínica notável com a reposição de potássio na dose 2-6mEq/L
(MEAK, 2003).
Em união com essa estratégia também aconselha-se a administração de
medicações como antagonistas dos receptores de H², protetores de mucosa,
antieméticos e estimulantes de apetite (RUBIN, 1997).
Na classe dos antagonistas dos receptores de H² pode-se administrar
ranitidina 3,5 mg/kg, BID, VO para o alívio da gastrite urêmica. Dentre os protetores
da mucosa gástrica recomenda-se sucralfato na dose de 0,5 – 1 mg/animal TID, VO
24

para os cães e na dose de 0,25 mg/animal, TID, VO para os gatos. A


metoclopramida é o antiemético mais utilizado, sendo indicado na dose de 0,2 –
0,5mg/kg, TID ou QID, por via oral, subcutânea ou intravenosa (SENIOR, 1994;
PAPICH, 2000). O diazepan pode ser utilizado como estimulante de apetite,
entretanto estudos mostram que seu uso pode causar necrose hepática (SPARKES,
1998).

4.2 TERAPÊUTICA DA INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA

O protocolo terapêutico mais amplamente utilizado para o tratamento de


insuficiência hepática é composto por manejo dietético, fluidoterapia,
corticoesteroides, azatioprina, colchicina, ácido ursodesoxicólico, silimarina e
espironolactona.

4.2.1 Fluidoterapia
Perdas hidroeletrolíticas e ácido-básicas são comuns dentro da IH devido ao
quadro de êmese e diarreia, por isso faz-se necessária a reposição, manutenção e
expansão do volume vascular para que haja uma perfusão adequada evitando que o
animal desenvolva encefalopatia hepática, choque hipovolêmico ou IR (ETTINGER
& FELDMAN, 2005) e para que o rim seja capaz de eliminar os metabólitos tóxicos
(GULFORD, et al., 2000).
Pinfildi (2010) exemplifica que para hidratação da manutenção deve-se
administrar solução de Ringer com Lactato e para pacientes com ascite Solução
Fisiológica a 0,45%; para prevenção de hipocalemia adiciona-se 20 a 30 mEq de
KCl para cada litro de fluido de manutenção; para equilíbrio ácido base utiliza-se
Solução salina a 0,45% ou 0,9% e NaHCO³ para tratamento de acidose metabólica
grave e para prevenção ou controle da hipoglicemia administra-se dextrose a 50%
até que se obtenha o resultado desejado.

4.2.2 Corticoesteroides
Os corticoesteroides apresentam ação anti-inflamatória, antifibrótica e
colerético, além de estimularem o apetite. Em contrapartida esses medicamentos
podem causar sangramentos no trato gastrointestinal, hiperadrenocorticismo
25

iatrogênico e seus efeitos mineralocorticoides causam retenção de líquidos


agravando o quadro de ascite (PINFILDI, 2010).

A corticoterapia é indicada nos casos em que haja evidência clínica e


bioquímica da persistência da injúria hepática, principalmente no início da doença
onde a fibrose é mínima (JOHNSON, 1997). Esses fármacos passam a ser
contraindicados quando fibrose terminal ou hepatite medicamentosa (HOWES,
2011).

4.2.3 Azatioprina

Esse fármaco é um antimetabólito com efeitos anti-inflamatório,


imunomodulador e antifibrótico e o seu principal efeito adverso está relacionado ao
fato de que esse fármaco causa supressão da medula óssea. A sua principal
indicação é para casos crônicos, e a dose recomendada é de 1-2 mg/kg/dia, VO,
SID, para indução e a mesma dose em dias alternados para manutenção
(ANDRADE E CAMARGO, 2008; WATSON E BUNCH, 2010).

4.2.4 Colchicina

A colchicina possui efeito anti-inflamatório e também inibe a produção de


colágeno auxiliando na redução da fibrose retardando a evolução da doença. Pode
apresentar efeitos colaterais como vômito, diarreia e neutropenia. O efeito é dose-
dependente sendo sua dose inicial de 0,03 mg/kg, VO, SID (ROTHUIZEN E
MEYER, 2004).

4.2.5 Ácido Ursodesoxicólico

Trata-se de um ácido biliar hidrofílico sintético com efeito citoprotetor por


reduzir a apoptose e necrose dos hepatócitos; fluidifica o escoamento da bile intra-
hepática e tem efeito imunomodulador devido a inibição de processos inflamatórios
(ANDRADE E CAMARGO, 2008). Watson e Bunch (2010) constataram que o ácido
ursodesoxicólico possui propriedades antioxidantes e que atua sinergicamente com
a S-adenosina e a vitamina E. A dose comumente utilizada em casos de IH é de
10-15 mg/kg, VO, SID, junto com a alimentação (HOWES, 2011).

4.2.6 Silimarina
26

A Sylubum marianum é um antitóxico muito usado no tratamento de IHC, os


agentes são flavonoides, sendo a silibina o mais eficaz. Poucos estudos foram
realizados a respeito do uso da silimaria no tratamento de insuficiência hepática,
entretanto Júnior (2010) afirma que a dose a ser administrada é de 20-50 mg/kg,
VO, SID.

4.2.7 Espironolactona

O uso de diuréticos como a espironolactona deve iniciar 7 dias após o início


da dieta restritiva quando essa não for suficiente para solucionar o problema da
ascite. Esse fármaco é o primeiro da classe dos diuréticos a ser escolhido por ser
poupador de potássio, sua ação dá-se através da interferência na absorção de
sódio no túbulo contorcido distal por inibição competitiva da ação da aldosterona,
ligando-se diretamente ao receptor desta (PAPICH, 2009). A dose recomendada é
de 0,5-2 mg/kg, VO, BID ou TID dependendo da gravidade do caso (PINFILDI,
2010).

4.2.8 Dieta

O manejo dietético é a primeira medida a ser tomada em casos de IH


juntamente com medicações de suporte até que o fígado torne a funcionar
adequadamente. Não existe uma receita dietética perfeita para todos os casos
devendo ser adequada ao caso e aos sinais apresentados. Sabe-se que dieta deve
ser de alta digestibilidade e densidade calórica, ter alto valor biológico, níveis
elevados de proteínas e palatável (NELSON E COUTO, 2006).

Com relação a proteínas esta torna-se ponto chave na dieta, pois o seu
excesso causa encefalopatia hepática e o seu déficit hipoalbuminemia (RIBEIRO et
al., 2009). A proteína fornecida ao hepatopata deve ser de fácil digestão e alto valor
biológico como carne de frango ou peixe, queijo de soja, derivados lácteos, por
exemplo. A quantidade recomendada diariamente é de 2-2,5g/kg (BRUNETTO et
al., 2007).

O carboidrato deve ser dado na dose de 5-8 g/kg/dia para aumentar a


densidade calórica (BRUNETTO et al., 2007). Arroz e massas são indicadas como
uma boa fonte de carboidratos evitando que ocorra o catabolismo de proteínas
musculares (REIBEIR et al., 2009).
27

Os lipídios são utilizados prioritariamente para aumentar a palatabilidade do


alimento fornecido, e só devem ser restringidos em casos de esteatorreia. A
quantidade preconizada de lipídios por dia é de 2-3 g/kg/dia (BICHARD E
SHERDING, 2008).

Vitaminas e minerais também devem ser suplementados tendo em conta que


animais com insuficiência hepática não ingerem e não absorvem o suficiente, além
da sua demanda fisiológica ser maior. A vitamina B colabora no processo de
regeneração celular; a vitamina E tem efeito antioxidante e pode ser suplementada
em 500 mg/dia; a vitamina K deve ser suplementada em casos de colestase com
possibilidade de hemorragias na dose de 1-3mg/kg/dia (NELSON E COUTO, 2006).
A deficiência de zinco é pronunciada na IH o que influencia no metabolismo de
amônia, a suplementação do zinco pode ser feita na forma de gluconato de zinco
(3mg/dia) ou na forma de sulfato de zinco (2mg/dia).

4.3 USO DE CÉLULAS TRONCO NA TERAPÊUTICA DE INJÚRIAS RENAIS E


HEPÁTICAS

As terapias baseadas na utilização de células tronco para regeneração de


tecidos têm mostrado grande potencial terapêutico (JANZ, 2016). O aumento da
expectativa de vida dos animais traz consigo a necessidade de melhora da
qualidade de vida, assim buscam-se alternativas para o tratamento de lesões,
doenças ou envelhecimento celular (SOARES E SANTOS, 2008).

Muitos estudos estão sendo realizados a cerca deste assunto que desde a
década de 90 vem ganhando mais atenção das mídias e da população. Grande
parte desta atenção se dá pelos motivos éticos e religiosos que envolvem o
transplante de células tronco (DEL CARLO et al., 2008).

Anteriormente acreditava-se que apenas células tronco embrionárias seriam


capazes de regenerar ou substituir tecidos (BRAUN E PRANKE, 2006). Porém,
atualmente, sabe-se que as células tronco adultas também possuem essa
capacidade, fato que reduziu a dificuldade em obtê-las bem como os empasses
ético-religiosos (BERTASSOLLI et al., 2013).

Entretanto, no Brasil, a Lei Federal 11.105 de 24 de março de 2005 permite a


terapia e pesquisa com células tronco embrionárias provenientes de embriões
28

humanos cultivados in vitro, que sejam inviáveis e estejam congelados há mais de


três anos (TAEUCHI E TANNURI, 2006). Esta lei põem o Brasil em destaque no
cenário científico pelo fato de regulamentar os estudos e aplicações de células
tronco.

Células tronco são, por definição, um tipo especial de célula com capacidade
de auto renovação através de sucessivas divisões mitóticas originando diferentes
tipos celulares especializados (SEGURA et al., 2007; BYDLOWSKI et al., 2009;
SEMEDO, 2009). Estas células são não-específicas até que recebam estímulo
ambiental para que se diferenciem em uma célula especializada (SCARBOTTO E
TOMAZ, 2015).

Existem dois grandes grupos que dividem as células tronco de acordo com o
seu local de origem: células tronco embrionárias (CTE) quando derivadas da massa
celular interna do blastocisto; e células tronco adultas, também chamadas de
células tronco somáticas (CTS), que estão localizadas em várias partes do
organismo (VOGEL, 2000).

As CTE são obtidas do zigoto e da cavidade interna do pré-embrião


(blastocisto) (SILVEIRA et al, 2006). Nos últimos anos novas técnicas de coletas
foram desenvolvidas e a técnica atualmente utilizada coleta células tronco de pré-
embriões incapazes de implantar-se ou nidar-se, entretanto diversos países proíbem
as pesquisas utilizando células tronco provenientes de embriões de humanos devido
às questões éticas e religiosas (YAMANAKA, 2007).

Já as CTS são células não diferenciadas presentes nos tecidos adultos e


possuem a capacidade de auto renovação e diferenciação morfológica
(PITTENGER, 1999). Estas podem ser encontradas no cordão umbical e medula
óssea dos pacientes (SILVEIRA, 2006). Por consequência dessas características as
CTS realizam a manutenção de órgãos e tecidos do organismo (MINGUELL et al,
2000).

Outra forma de divisão das células tronco é levando em consideração o grau


de plasticidade, ou seja, o seu potencial de diferenciação em tecidos variados, assim
as células tronco podem ser classificadas em totipotentes, pluripotentes e
multipotentes (JANZ, 2016).
29

Totipotentes são as células tronco capazes de originar qualquer tecido do


organismo, mesmo as dos anexos embrionários. Pluripotentes são capazes de
formar todos os tipos de células originárias das camadas germinativas endoderma,
ectoderma e mesoderma, mas não as dos anexos embrionários. As multipotentes,
por sua vez, têm sua capacidade mais limitada a originar células do tipo de tecido
em que residem (BRAUN E PRANKE, 2006).

As CTS são encontradas juntamente com outras células já diferenciadas em


um tecido ou órgão e podem se regenerar e se diferenciar em células especializadas
desse tecido, ou seja, geralmente as CTS regeneram o tecido onde estão
localizadas (DIAS, 2015).

Embora muitas sejam as vantagens da utilização de células tronco no


tratamento de diversas enfermidades existem fatores que restringem esse uso como
por exemplo a possibilidade de desenvolvimento de teratomas e teratocarcinomas
(ATERMAN, 1992). As células tronco devem sofrem a indução da transformação
ainda em laboratório, pois, quando transplantadas em estado nativo, proliferam-se
descontroladamente formando tumores. Outro fator limitante é o uso dessa terapia
em paciente portadores de doenças genéticas (EITELVEN et al., 2017).

4.3.1 Células tronco mesenquimais

As células tronco mesenquimais (CTM) foram primeiramente descritas por


Friedenstein e seus colaboradores em 1975, são descritas como multipotentes
(VALENTINI et al., 2010), podem ser isoladas da medula óssea, tecido adiposo, rim,
membrana sinovial, músculos, derme, cordão umbilical, dente decíduo, placenta,
fígado, baço e timo (MEIRELLES et al., 2006). Em cães e gatos as CTM podem ser
obtidas da medula óssea, da epífise dos ossos longos e regiões do íleo (MIGLINO et
al., 2006).

Apenas uma faixa entre 0,001 a 0,1% de todas as células medulares


correspondem CTS, contudo estas podem ser isoladas e expandidas com facilidade
e eficiência e, também, diferenciadas em várias células específicas (MULLER,
2013).

As CTM possuem muitas moléculas bioativas como moléculas de adesão,


proteínas de matriz celular, citocinas e receptores de fatores de crescimento; que
30

permitem que essas células interajam com as demais células do organismo


(BERTASSOLI et al., 2013). Essas moléculas modulam a resposta inflamatória,
angiogênese e a mitose das células responsáveis pela reparação tecidual
(CARPLAN, 2009).

O cultivo das CTS é feito selecionando as células com adesão ao plástico e,


quando cultivadas em baixa densidade, a formação de colônias é rápida,
presumindo-se que estas sejam derivadas de uma única célula precursora (DEANS
E MOSELEY, 2000).
Na microscopia de luz as CTS mostram-se de formato fibroblastoide,
alongado, fusiformes e pontiagudas; com núcleos eucromáticos, ovais, grandes,
centrais e com bastante citoplasma (TAGAMI et al, 2003; SEGURA et al., 2013).
Após o isolamento in vitro, as CTS mostram-se capazes de diferenciar-se em
vários tecidos do organismo (LEE et al., 2010) como osteoblastos, adipócitos,
condrócitos, tenócitos, cardiomiócitos, entre outros, desde que induzidas (KUMAR et
al., 2007). Kohyama et al. (2001) afirmou sem seus estudos que as CTS podem
diferenciar-se até em neurônios.

4.3.2 Diferenciação das células tronco somáticas dentro do organismo


A diferenciação celular das CTS está subordinada ao estimulo do ambiente
em que esta foi inserida. Tais estímulos decorrem da ação de peptídeos,
denominados fatores de crescimento (FT), que regulam a atividade celular. Os FT
podem ser produzidos autocrinamente ou liberados através da membrana
plasmática de células adjacentes.
A forma de ação dos FC sobre as CTS ainda não está totalmente esclarecida,
mas sabe-se que as CTS diferenciam-se no tipo celular tecidual em que se
encontram por intermédio do estímulo dos FC. Atualmente acredita-se que a
plasticidade das CTS se dá por transdiferenciação, diferenciação e também fusão
celular. Na fusão celular a CTA adquire o mesmo padrão de expressão gênica que a
célula adulta a qual se fundiu (JACKSON, SNYDER E GOODELL., 2004;
MEIRELLES et al., 2006).

4.3.3 Células tronco no tratamento de insuficiência hepática


31

Muito tem se falado a respeito da utilização das células tronco para a


regeneração hepática. Embora o fígado possua uma alta capacidade regenerativa,
algumas lesões, quando em estágios crônicos, não são passíveis de regeneração
(SOARES E SANTOS, 2008).
O primeiro estudo sobre a utilização de células tronco na regeneração
hepática foi realizado por Petersen et al., 1999. Nesse estudo os autores utilizaram
2-acetilaminofluoreno para bloquear a proliferação de células ovais. Fêmeas murinas
previamente irradiadas receberam da medula óssea de machos não tratados,
quando os fígados dos animais transplantados apresentaram células marcadas
positivamente para o cromossomo Y, sugerindo a existência de uma população de
células ronco na medula óssea capaz de migrar para o tecido hepático danificado.
CT isoladas de vários tecidos têm sido usada para reparação hepática, como
por exemplo as provenientes da medula óssea, membrana amniótica, líquido
amniótico, células de fígado em várias fases de desenvolvimento intrauterino
(PEREIRA, 2016).
Em estudos realizados por Lyra et al. (2007) utilizando células tronco de
medula óssea em camundongos com cirrose hepática induzida, obteve como
resultado a redução significativa da fibrose, tanto no caso de administração direto no
lobo hepático quanto na administração endovenosa.
Em outra pesquisa Oertel et al. (2008) descobriram que células isoladas de
fígado embrionário de rato com 14 dias de gestação foram capazes de reconstituir
24% da massa do fígado de animais submetidos a hepatectomia de dois terços do
fígado. Carandina et al. (2012) observaram melhora significativa na ultrassonografia
hepática de um canino após apenas uma aplicação de células tronco via
intravenosa, com redução da fibrose.
Vários modelos de transplantes celulares tem mostrado que hepatócitos
podem passam por uma expansão clonal significativa, também esclarecem que os
hepatócitos são as células tronco do fígado, por isso o fígado tem alta capacidade
de regeneração (BRAUN E PRANKE, 2006). Quando há uma lesão hepática mais
grava as células ovais (células tronco facultativas) presentes na árvore biliar intra-
hepática são recrutadas são recrutadas. Essas células ovais fazem com que o
epitélio biliar e o lóbulo cresçam antes que essas células diferenciem-se em
hepatócitos. Uma terceira população de células tronco hepática está presente na
medula óssea (GROMPE, 2003).
32

No que diz respeito a regeneração hepática através do transplante de células


tronco sabe-se que as CT hepáticas são classificadas em: células responsáveis pelo
turnover do tecido; células responsáveis pela resposta à hepatectomia parcial;
células responsáveis pela regeneração dependente do progenitor; células com
capacidade de repovoamento e células que resultam em fenótipos dos hepatócitos
pela reconstituição do órgão de acordo com o dano causado. Acredita-se que vários
tipos de células e diferentes mecanismo são utilizados para a reconstituição do
órgão, variando de acordo com a lesão (MOORE, PERSAUD E SHIOTA, 2000).
Sendo assim, estudiosos afirmam que células tronco da medula óssea podem
originar as células epiteliais inclusive hepatócitos (GROMPE, 2003; BRAUN E
PRANKE, 2006; PEREIRA, 2016).

4.3.3 Uso de células tronco no tratamento de insuficiência renal


A IR ocasiona a perda progressiva da função renal evoluindo para quadros de
fibrose e cicatrização. Não existe protocolos medicamentosos capazes de reverter
casos de IRC, apenas busca-se a qualidade de vida e o aumento da sobrevida do
animal, através da interrupção ou redução da velocidade de evolução da perda da
função renal. Nas fases avançadas opta-se por diálise ou transplante de órgão
(LOPES, 2010).
Como alternativa a transplante de órgão existe o transplante de células
tronco. Oliver et al. (2004) relataram a existência de um nicho de células tronco nos
rins localizadas na papila renal. Quando há uma lesão no tecido as CTA presentes
no nicho recebem sinais do ambiente (quimiocinas), ativam-se e migram para o local
lesado. O mecanismo de regeneração tecidual decorrente das células tronco mais
aceito atualmente é a secreção de fatores tróficos que modulam a resposta
imunológica e auxiliam na proliferação celular (COSTA, 2011).
Oliveira et al. (2010) realizaram uma pesquisa utilizando células tronco para o
tratamento de IRC em ratos os quais foram observados por 10 semanas. As células
tronco implantadas nesses animais cessaram e reverteram o processo fibrótico
renal. Estudos que utilizam as CTM observou-se a diminuição significativa dos
níveis de creatinina e ureia sérica, queda da pressão sanguínea, colesterol total,
albumina sérica e aumento do hematócrito e no rim observou-se a diminuição das
áreas de fibrose.
33

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As insuficiências hepática e renal estão entre os casos de maior casuística


dentro da clínica de pequenos animais. Na maior parte das vezes quando o quadro
de insuficiência agrava-se não encontram-se opções terapêuticas, apenas busca-se
aumentar a qualidade da sobrevida do animal. Entretanto, nos últimos anos, a
terapia com células tronco vem ganhando espaço e mostrando eficaz e segura para
o tratamento de tais enfermidades.

A terapia medicamentosa para a insuficiência renal baseia-se em diuréticos,


fluidoterapia e dieta adequada, porém quando a doença progride opta-se por diálise
ou transplante de órgão. Já a terapêutica na insuficiência hepática engloba manejo
nutricional, corticoesteroides, fluidoterapia e a união dos fármacos azatioprina,
colchicina, silimaria, ácido ursodesoxicólico e espironolactona. Embora o fígado
possua a característica de auto renovação algumas injúrias são irreversíveis.

Como alternativa ao tratamento medicamentoso existe o transplante de


células tronco mesenquimais que é grandemente eficaz devido a capacidade dessas
células de se diferenciarem em células de diversos tecidos de acordo com os
estímulos recebidos das células adultas adjacentes do local do implante. Os dois
casos relatados mostram resultados satisfatórios, pois a terapia com células tronco
reverteu o processo de evolução da doença tornando os animais assintomáticos e
clinicamente saudáveis.

O uso terapêutico de células tronco ainda demanda muito estudo, contudo já


tem se mostrado eficaz e seguro para o tratamento de injúrias renais e hepáticas.
34

6 REFERÊNCIAS

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Merck de Veterinária. São Paulo: Editora Roca, p. 933 – 946, 2001.

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de terapêutica veterinária. São Paulo: Roca, cap.12, p.291-295, 2008.

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BATISTA, C. Indicadores de lesão e função hepática. Dissertação, UFRS, 2016.

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35

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