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Farmacologia e Terapêutica das

Doenças Infecciosas,
Parasitárias e Oncologia em
Medicina Veterinária

Brasília-DF.
Elaboração

Carolina Elisabetta Martins Maccariello

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação................................................................................................................................... 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................... 5

Introdução...................................................................................................................................... 7

Unidade i
AGENTES ANTIMICROBIANOS................................................................................................................. 9

Capítulo 1
Antibióticos.......................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 2
Quimioterápicos................................................................................................................. 29

Capítulo 3
Fármacos tuberculostáticos........................................................................................... 37

CAPÍTULO 4
Indicações gerais de agentes antimicrobianos............................................................ 40

Unidade iI
FÁRMACOS ANTIMICÓTICOS............................................................................................................... 43

Capítulo 1
Antibióticos antifúngicos................................................................................................ 43

Capítulo 2
Agentes antifúngicos sintéticos...................................................................................... 47

Unidade iII
ANTIVIRAIS.......................................................................................................................................... 52

Capítulo 1
Inibidores da síntese de ácidos nucleicos...................................................................... 53

Capítulo 2
Imunomoduladores.......................................................................................................... 55

Unidade iV
ANTIPARASITÁRIOS............................................................................................................................... 58

Capítulo 1
Agentes contra nematoides............................................................................................. 58
Capítulo 2
Agentes contra cestoides................................................................................................ 64

Capítulo 3
Agentes contra trematóides............................................................................................ 65

Capítulo 4
Agentes contra ectoparasitas......................................................................................... 66

Capítulo 5
Agentes contra protozoários......................................................................................... 70

Unidade V
Antineoplásicos.............................................................................................................................. 73

Capítulo 1
Agentes alquilantes........................................................................................................... 74

Capítulo 2
Antimetabólitos.................................................................................................................. 78

Capítulo 3
Antibióticos........................................................................................................................ 81

Capítulo 4
Derivados vegetais (alcaloides da vinca)....................................................................... 83

Capítulo 5
Hormônios......................................................................................................................... 85

Capítulo 6
Recentes descobertas em oncologia veterinária......................................................... 86

Para (não) finalizar....................................................................................................................... 92

Referências..................................................................................................................................... 94
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Iniciamos dando as boas-vindas aos alunos e apresentando o caderno de estudos e pesquisa da
disciplina farmacologia e terapêutica das doenças infecciosas e parasitárias, e oncologia em medicina
veterinária. Neste módulo estudaremos os fármacos mais utilizados em medicina veterinária para
o tratamento das diversas doenças infecciosas e parasitárias que atingem os animais. Além disso,
estudaremos também o comportamento farmacológico e terapêutico dos fármacos antineoplásicos
utilizados na clínica veterinária e os novos caminhos que estão se abrindo para que possamos chegar
a uma terapêutica cada vez mais eficaz no controle das neoplasias.

Teremos a oportunidade também de conhecer e refletir sobre as perspectivas futuras da terapêutica


antimicrobiana, antiparasitária e oncológica, o que é de grande importância para o desenvolvimento
do conhecimento teórico e para o estímulo de novas pesquisas no sentido de dar subsídios a uma
prática terapêutica cada vez mais eficaz, menos invasiva e com o mínimo de complicações tanto para
os animais como para os seres humanos.

Objetivos
»» Apresentar as principais características farmacológicas desses agentes, e seus
principais usos, indicações e efeitos adversos observados na prática veterinária.

»» Conhecer a importância fundamental para a instituição da terapêutica adequada


para cada caso clínico.

»» Conhecer o paciente e de cada caso individualmente, em conjunto com os


conhecimentos farmacológicos para o sucesso terapêutico.

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AGENTES Unidade i
ANTIMICROBIANOS

Considerações gerais
Os agentes antimicrobianos se classificam, de acordo com a sua origem, em dois tipos distintos: os
antibióticos e os quimioterápicos.

Os antibióticos são substâncias isoladas a partir de compostos produzidos por micro-organismos


como fungos e actinomicetos, ao passo que os quimioterápicos são substâncias sintéticas.

Capítulo 1
Antibióticos

Antibióticos Beta-lactâmicos

Penicilinas
Foram extraídas inicialmente do fungo Penicilium notatum e, atualmente, a maioria delas é
semissintética.

Mecanismo de ação

As penicilinas caracterizam-se por serem bactericidas por inibição da síntese de mucopeptídeos de


parede celular (Figura 1).

A síntese de proteínas ocorre nos ribossomas, que são estruturas nucleoproteicas citoplasmáticas.
Os ribossomas diferem nos eucariotas e procariotas, fornecendo a base para a ação antimicrobiana
seletiva de alguns antibióticos.

As drogas desse grupo são mais ativas contra bactérias em multiplicação. Podem ser divididas em
dois grupos: as naturais que correspondem à benzilpenicilina e derivados e as semissintéticas que
compreendem todas as demais.

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UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Figura 1: Esquema com representação de uma camada única de peptidoglicano de uma célula bacteriana (p.
ex.. Staphylococcus aureus), mostrando o local de ação dos antibióticos beta-lactâmicos. No Staphylococcus
aureus, as ligações cruzadas peptídicas consistem em cinco resíduos de glicina. As bactérias Gram-positivas
possuem diversas camadas de peptidoglicano. (NAMA, ácido N-acetilmurâmico; NAG, N-acetilglicosamina).

Cadeia lateral
de tetrapeptídeo

Os Beta-lactâmicos Ligações
impedem a ligação dos cruzadas
peptídeos de ligação peptídicas
cruzada às cadeias laterais
de tetrapeptídeos.
Fonte: Rang et al., 2003.

Resistência bacteriana

Ocorre principalmente pela produção de enzimas chamadas de beta-lactamases. Tais enzimas


destroem o anel beta-lactâmico dos fármacos levando à sua inativação.

Uma associação feita comumente na terapêutica antimicrobiana é do clavulanato de potássio


(também chamado ácido clavulânico) à amoxicilina.

O ácido clavulânico liga-se de forma irreversível às beta-lactamases, inibindo essas enzimas


bacterianas que inativam a amoxicilina. Com isso, expande-se o espectro antimicrobiano da
penicilina, abrangendo bactérias resistentes à amoxicilina. O ácido clavulânico não possui ação
antibacteriana própria, sendo utilizada a relação clavulanato:amoxicilina de 1:4.

O texto Uma nova abordagem sobre a resistência microbiana aponta um


novo caminho a ser pesquisado para a elucidação da importantíssima questão da
resistência microbiana. Esse arquivo está disponível em <http://www.microbiologia.
ufrj.br/informativo/novidades-sobre-microbiologia/312-uma-nova-abordagem-
sobre-resistencia-a-antimicrobianos>.

Historicamente consideramos a resistência a antimicrobianos


apenas no contexto clínico, focando no enorme potencial

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AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

de disseminação de microrganismos resistentes que o uso


indiscriminado de antibióticos provoca. De fato, os altos índices
de resistência observados em bactérias patogênicas são um dos
maiores desafios da microbiologia médica para o século XXI.

Observando o desenvolvimento histórico da resistência aos diferentes antibióticos,


fica claro que a incorporação de uma nova droga no plantel de medicamentos
disponíveis para o tratamento de doenças infecciosas logo é seguida pela emergência
de cepas resistentes. Um dos mecanismos que pode levar a isso é a ocorrência
de mutações pontuais do DNA da bactéria, que, ao acaso, podem conferir uma
vantagem e assim possibilitar a seleção da cepa resistente, assim que essa entrar em
contato com o antibiótico.

No entanto, a resistência observada para a maior parte dos antibióticos não se


estabelece dessa forma, sendo, ao contrário, incorporada pronta a partir de outras
bactérias, através de elementos genéticos móveis. Pesquisas com o objetivo de
identificar a origem desses genes apontam que uma possível fonte são bactérias
produtoras de antibióticos na natureza, o que é bastante racional, uma vez que
estas necessitam de mecanismos para se proteger do próprio antimicrobiano que
produzem. Mas, surpreendentemente, muitos genes de resistência são também
oriundos de bactérias que não produzem, nem tiveram contato com concentrações
potencialmente ativas de antibióticos. Esse cenário é intrigante porque levanta
questões como: que funções biológicas teriam esses genes nas suas bactérias de
origem, se não para protegê-las de antimicrobianos? Quantos outros genes, ainda
desconhecidos em bactérias ambientais, podem a qualquer momento emergir
codificando um novo mecanismo contra medicamentos antimicrobianos? Que
bactérias são estas, que atuam como silenciosos reservatórios de mecanismos de
resistência na natureza?

Possivelmente, ferramentas de metagenômica e sequenciamento de alta


performance irão nos aproximar dessas respostas nos próximos anos. Essa abordagem
nova, que integra microbiologia médica e ambiental, será certamente valiosa para a
compreensão da dinâmica do desenvolvimento da resistência aos antimicrobianos
em patógenos humanos e do papel do meio ambiente nesse processo.

Classificação química e espectro antimicrobiano

Benzilpenicilinas: Seu espectro de ação é reduzido, com exceção da penicilina V. Não são
resistentes à ação do suco gástrico.

Isoxazolipenicilinas: Sua característica principal é sua resistência à beta-lactamases. Sendo


assim, são indicadas apenas nas infecções por bactéria produtoras de beta-lactamases, como no
caso do staphylococcus.

Aminopenicilinas: diferem-se das anteriores por terem amplo espectro e possuírem resistência
ao suco gástrico. A amoxicilina é a mais viável em medicina veterinária devido ao fato de não sofrer

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UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

alteração pelo suco gástrico e poder ser administrada em intervalos maiores que as demais drogas
desse grupo.

Penicilinas anti-pseudomonas: Constituem um grupo novo de drogas. São utilizadas no


tratamento de infecções hospitalares graves em humanos, produzidas por Gram-negativos. Seu uso
deve ser evitado em medicina veterinária, por ser um dos poucos grupos de drogas eficientes para
tratar esse tipo de infecção.

Farmacocinética

Absorção e distribuição

A absorção pelas vias parenterais é rápida. Pela via oral só devem ser administradas as penicilinas
ácido-resistentes.

Essas substâncias apresentam ampla distribuição nos líquidos corporais, chegando até as articulações,
cavidades pleural e pericárdica, bile, saliva, leite e placenta. Por serem insolúveis em lipídios, não
penetram nas células dos mamíferos. Desse modo, não atravessam a barreira hematoencefálica,
a não ser que as meninges estejam inflamadas, nesse caso alcançam rapidamente concentrações
terapêuticas eficazes no líquido encefalorraquidiano (LER).

Eliminação

A eliminação da maioria das penicilinas é principalmente renal e ocorre rapidamente, sendo 90%
eliminados por secreção tubular e uma pequena parte eliminada pela bile e pelo leite. A meia-vida
plasmática relativamente curta constitui um problema potencial no uso clínico da benzilpenicilina,
todavia, como a penicilina atua impedindo a síntese da parede celular nos microrganismos em
divisão, a exposição intermitente, mais do que contínua, pode representar uma vantagem.

O tempo de eliminação pode ser diminuído associando-se a penicilina à probenecida, droga que
bloqueia sua secreção tubular. Porém com o desenvolvimento das penicilinas de depósito (penicilinas
G procaina e benzatina) esse recurso se tornou desnecessário.

Efeitos adversos

Em medicina veterinária os efeitos colaterais são raros, sendo as penicilinas, consideradas drogas
muito seguras.

Porém, tem sido observado em algumas espécies de aves, em cobaios, chinchilas, tartarugas e
cobras, uma grande sensibilidade à penicilina G procaína.

Os efeitos indesejáveis consistem em reações de hipersensibilidade causadas pelos produtos de


degradação da penicilina, que ao se combinar com a proteína do hospedeiro, tornando-se antigênicos.
Nesse caso são comuns a ocorrência de erupções cutâneas e febre.

Quando administradas topicamente e depois utilizadas por via parenteral, pode ocorrer sensibilização
do indivíduo, levando até a um choque anafilático.

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AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

A administração intratecal não é aconselhável, particularmente no caso da benzilpenicilina, visto


que pode causar convulsão.

As penicilinas, particularmente as de amplo espectro administradas por via oral, alteram a


microbiota bacteriana no intestino. Este efeito pode estar associado a distúrbios gastrintestinais e,
em alguns casos, favorece a infecção por microrganismos não sensíveis à penicilina.

De forma geral, as penicilinas de depósito são mais perigosas no caso de algum efeito colateral
ocorrer. Isso porque, uma vez injetadas no organismo, permanecem por tempo prolongado,
dificultando assim, a reversão desses efeitos.

Cuidados na administração

Devemos ter cuidado com as apresentações veterinárias que associam penicilinas à estreptomicina,
pois a maioria delas apresenta erros de formulação fazendo com que se administre subdoses de
penicilina ou doses elevadas de estreptomicina.

Devemos prestar atenção às apresentações que associam mais de uma penicilina G. Nesses casos a
dose deve ser sempre calculada a partir da substância que possui maior meia vida plasmática.

Dosagens das penicilinas mais utilizadas em


medicina veterinária

Tabela 1: Penicilinas naturais (1ª geração)

Base Dose

Penicilina G cristalina
(sódica* ou potássica) 20.000 a 40.000 U/Kg, 6/6 hs - IM, IV.
*Apenas disponível no mercado na forma de associações.

Penicilina G benzatina 40.000 U/Kg, 72hs - IM.

Tabela 2: Penicilina biossintética (1ª geração)

Base Dose

Penicilina V 10 mg/Kg, 6/6hs - VO

Tabela 3: Penicilina Semi-Sintéticas (Resistentes às penicilinases) (1ª geração)

Base Dose

Oxacilina 22 – 40 mg/Kg, 8/8hs - VO

Dicloxacilina 11 – 55 mg/Kg, 8/8 hs - IM, IV, VO

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UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Tabela 4: Penicilinas Naturais Associadas (1ª geração)

Base Dose
Penicilina G benzatina (600.000 U), Penicilina G procaína (300.000
U), Penicilina G potássica (300.000 U), sulfato de dihidroestreptomicina 1 ml da solução, IM, em dose única.
(250 mg) e sulfato de estreptomicina (250 mg)
Penicilina G sódica (500.000 U), Penicilina G procaína (2.500.000
U), Sulfato de Dihidroestreptomicina (3g), Tripsina (10.000 NFU), 0,5 ml da solução, 24/24 hs – IM, por 3 a 5 dias.
Quimiotripsina (5.000 NFU)

Tabela 5: Penicilinas de 2ª Geração

Base Dose
Ampicilina sódica 20 a 30 mg/Kg, 6 - 8/8 hs - IV, IM
Ampicilina sódica + 20 a 30 mg/Kg, 6 –8/8 hs - IV, IM
Ampicilina trihidratada 20 a 40 mg/Kg, 8/8 hs – VO
Amoxicilina trihidratada 10 a 20 mg/Kg, 8 – 12/12 hs - IM, SC, VO.

Tabela 6: Penicilinas de 3ª Geração

Base Dose
Carbenicilina dissódica 40 – 50 mg/Kg (até 100 mg/Kg), 6 – 8/8 hs - IV, IM, SC.
Ticarcilina 33 – 50 mg/Kg, 4 – 6 hs, IV, IM.

Cefalosporinas e Cefamicinas
As cefalosporinas N e C, são quimicamente relacionadas à penicilina e foram as primeiras isoladas
do fungo Cephalosporidium acremonium. A cefalosporina P, é um antibiótico esteroide.

As cefamicinas (alguns autores classificam como cefalosporinas de 2ª geração) são antibióticos


beta-lactâmicos produzidos por microrganismos do gênero Streptomyces.

As cefalosporinas de amplo espectro semissintéticas foram produzidas pela adição de diferentes


cadeias laterais ao núcleo da cefalosporina C. Esses agentes são hidrossolúveis e relativamente
estáveis em meio ácido.

Sua aplicação é limitada em medicina veterinária, em parte devido ao seu alto custo.

Mecanismo de ação

O mecanismo de ação desses agentes é idêntico ao das penicilinas, consistindo na interferência da


síntese de peptidoglicanos bacterianos.

Resistência bacteriana

A resistência a esse grupo de fármacos aumentou em decorrência de beta-lactamases codificadas


por plasmídios ou cromossomas. Quase todas as bactérias Gram-negativas apresentam um gene
cromossômicos que codifica uma beta-lactamase. Sendo mais ativa na hidrólise das cefalosporinas

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AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

do que das penicilinas, Em diversos microrganismos, a ocorrência de uma mutação numa única
etapa pode resultar na produção constitutiva de altos níveis dessa enzima. Além disso, ocorre
resistência se houver menor penetração do fármaco em consequência de alterações nas proteínas
da membrana externa ou de mutações nas proteínas dos sítios de ligação.

Classificação química e espectro antimicrobiano

As cefalosporinas são classificadas em gerações, de acordo com seu espectro de ação e distribuição.
Sendo assim, as de 1ª geração possuem espectro reduzido, atuando basicamente contra gram-positivos.
As de 2ª e 3ª geração possuem amplo espectro, porém as de 3ª geração apresentam melhor atuação
contra gram-negativos. As de 4ª geração, são mais resistentes à destruição pelas beta-lactamases.

Farmacocinética

Absorção e distribuição

Algumas cefalosporinas podem ser administradas por via oral, porém a maioria é administrada
por via parenteral, pela via intramuscular (que pode ser dolorosa com alguns agentes) ou por
via intravenosa. Após a sua absorção, exibem ampla distribuição pelo corpo. Algumas, como a
cefoperazona, cefotaxima, cefuroxima e ceftriaxona, também atravessam a barreira hematoencefálica.

Eliminação

A excreção ocorre principalmente através dos rins, em grande parte por secreção tubular; todavia,
40% da ceftriaxona e 75% da cefoperazona são eliminadas na bile.

Efeitos adversos

Os efeitos adversos são raros em medicina veterinária. Quando ocorrem, podem-se observar
reações de hipersensibilidade muito semelhantes às que ocorrem com a penicilina. Verifica- se a
ocorrência de algumas reações cruzadas; assim, cerca de 10% dos indivíduos sensíveis à penicilina
irão apresentar reações alérgicas às cefalosporinas.

Pode ocorrer diarréia com as cefalosporinas orais. A aplicação intramuscular é dolorosa, podendo
surgir abscessos estéreis ou apenas irritação local.

Dosagens das cefalosporinas mais utilizadas

Tabela 7: Cefalosporinas de 1ª Geração

Base Dose
Cefalotina 20 – 40 mg/Kg, 6 – 8/8 hs – IV
Cefazolina 20 – 25 mg/Kg, 4 – 8/8 hs - IV, IM.
Cães: 10 – 30 mg/Kg, 6 – 12/12 hs, VO
Cefalexina Piodermite: 22-35 mg/Kg, 12/12 hs, VO
Gatos: 15-20 mg/Kg, 12/12 hs, VO
Cefadroxil 15 - 30 mg/Kg, 8 –12/12 hs, VO

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UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Tabela 8: Cefalosporinas de 2ª Geração

Base Dose
Cefoxitina 25 – 40 mg/Kg, 8/8 hs - IV, IM.

Tabela 9: Cefalosporinas de 3ª Geração

Base Dose
Cefotaxima 20 – 40 mg/Kg, 6/6 hs - IV, IM.
Cefoperazona 30 mg/Kg, 6 – 8/8 hs - IV, IM.

Carbapenens
O imipenem, antibiótico mais utilizado nesse grupo, atua da mesma forma que os outros
beta-lactâmicos. Apresenta espectro de atividade antimicrobiana muito ampla, sendo ativo
contra numerosos microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos, tanto aeróbicos quanto
anaeróbicos. Além de ser um antibiótico que deve ter seu uso reservado para combater infecções
resistentes a outros beta-lactâmicos, é uma droga cara, o que restringe seu uso em medicina
veterinária.

Resistência bacteriana

O imipenem era originalmente resistente a todas as beta-lactamases, sendo utilizado principalmente


no combate a infecções por Pseudomonas aeruginosa e infecções hospitalares produzidas por
diversos agentes.

Atualmente, alguns microrganismos apresentam genes cromossômicos que codificam


beta-lactamases capazes de hidrolisar o imipenem.

Farmacocinética

Absorção e distribuição

Não é absorvido pelo trato gastrointestinal, sendo administrado por via intramuscular ou
endovenosa. Sua distribuição é ampla, porém não atravessa a barreira hemotocefálica.

Eliminação

A sua eliminação é feita, em torno de 75 % por via renal. Os 25% restantes ainda não está
bem definido.

Efeitos adversos

Os efeitos adversos assemelham-se aos observados com outros beta-lactâmicos, sendo a náusea e os
vômitos os mais frequentes. Pode ocorrer neurotoxicidade em concentrações plasmáticas elevadas.

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AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

Monobactâmicos
O principal monobactâmico é o aztreonam, um beta-lactâmico monocíclico simples, que é resistente à
maioria das beta-lactamases. Este fármaco possui um espectro de ação muito específico, mostrando-se
ativo apenas contra bastonetes aeróbicos Gram-negativos, incluindo pseudomonas, Neisseria
meningitidis e Haemophilus influenzae. Sendo assim, não exerce nenhuma ação contra microrganismos
Gram-positivos ou anaeróbicos. Seu uso também não é comum em medicina veterinária.

É administrado por via parenteral e apresenta meia-vida plasmática de 2 horas. Em geral, os


efeitos adversos assemelham-se aos de outros antibióticos beta-lactâmicos. Porém, o aztreonam
não apresenta necessariamente reação cruzada imunológica com a penicilina e seus produtos e
geralmente não provoca reações alérgicas em indivíduos sensíveis à penicilina.

Aminoglicosídeos

Mecanismo de ação e espectro antimicrobiano


Os aminoglicosídeos são bactericidas, sendo potencializado por agentes que interferem na síntese
da parede celular e atuam somente contra aeróbios Gram-negativos.

Eles inibem a síntese de proteínas bacterianas na unidade 30s dos ribossomos. Sua passagem pela
membrana celular depende, em parte, do transporte ativo oxigênio-dependente por um sistema
transportador poliamínico (figura 2). O cloranfenicol bloqueia esse sistema de transporte.

O efeito é dose dependente e possui uma atividade residual, o que explica a possibilidade de
administrá-los com intervalos grandes entre as doses.

Figura 2: Desenho esquemático das subunidades 50s e 30s do ribossomo bacteriano, onde ocorre a síntese de
proteínas bacterianas. A seta com a descrição indica o local onde os antibióticos inibem o processo.

O códon-anticódon
anormal resulta em
Subunidade 50s  leitura incorreta da
mensagem.
Subunidade 30s 

Fonte: adaptado de Rang et al, 2003.

Resistência bacteriana
A resistência ocorre através de vários mecanismos diferentes, sendo o mais importante deles a
inativação por enzimas microbianas, das quais nove ou mais foram identificadas. Esta resistência

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UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

ocorre rapidamente quando esquemas posológicos inadequados ocorrem, como quando são
administradas subdoses ou quando se administra as doses com intervalos muito longos.

A amicacina foi desenvolvida como substrato inadequado para essas enzimas, porém, alguns
microrganismos desenvolveram enzimas que também são capazes de inativar este agente. A
resistência em decorrência da impossibilidade de passagem do fármaco pela membrana celular
pode ser superada, em grande parte, pelo uso concomitante de penicilina e/ou vancomicina.

Farmacocinética

Absorção e distribuição

Os aminoglicosídios não são absorvidos no trato gastrintestinal e, em geral, são administrados


por via intramuscular ou intravenosa à exceção da neomicina que jamais deve ser administrada
parenteralmente, devido a sua grande toxicidade. Podem também ser administradas por via oral,
subcutânea, tópica, oftálmica, intramamária ou por nebulização. Com exceção da gentamicina, os
aminoglicosídeos têm pouquíssima absorção intestinal. São drogas que necessitam de transporte
ativo para atravessar a membrana celular, sendo assim são mais eficientes em doses intermitentes
que em doses contínuas (infusão endovenosa).

Esses fármacos não atravessam a barreira hematoencefálica, não penetram no humor vítreo do
olho nem alcançam concentrações elevadas nas secreções e líquidos corporais. Os fármacos atingem
concentrações elevadas nos líquidos articular e pleural e podem atravessar a placenta.

Eliminação

A meia-vida plasmática é de 2-3 horas. A eliminação ocorre quase totalmente por filtração
glomerular no rim. Se houver comprometimento da função renal, verifica-se um rápido acúmulo
do fármaco, com consequente aumento dos efeitos tóxicos. Como os efeitos tóxicos estão
relacionados com a dose, em casos de pacientes portadores de insuficiência renal deve-se realizar
um ajuste da dose. Em recém-nascidos a meia-vida plasmática dos aminoglicosídeos aumenta
assim, também devemos ajustar a dose nesses casos.

Efeitos adversos
Os aminoglicosídeos podem produzir graves efeitos tóxicos. Esses efeitos estão relacionados com
a dose e podem aumentar com a duração prolongada do tratamento. Os principais efeitos são a
ototoxicidade e a nefrotoxicidade.

A ototoxicidade envolve a lesão progressiva e destruição das células sensoriais da cóclea e do


órgão vestibular. As lesões geralmente são irreversíveis. Nesses casos pode ocorrer vertigem, ataxia
e perda do equilíbrio no caso de lesão vestibular e em distúrbios auditivos, incluindo surdez, no caso
de lesão coclear.

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AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

Qualquer aminoglicosídio pode produzir ambos os tipos de efeitos, porém a estreptomicina e a


gentamicina têm mais tendência a interferir na função vestibular, enquanto a neomicina e a amicacina
afetam principalmente a audição. A netilmicina é menos ototóxica do que outros aminoglicosídios,
sendo preferida quando existe a necessidade de uso prolongado. A ototoxicidade é potencializada
pelo uso concomitante de outros agentes ototóxicos (por exemplo, diuréticos de alça).

A nefrotoxicidade consiste em lesão dos túbulos renais, que pode ser revertida com a interrupção
do tratamento. A nefrotoxicidade tem mais tendência a ocorrer em pacientes com doença renal
preexistente ou em condições nas quais o volume urinário encontra-se reduzido.

Devemos tomar cuidado com o uso concomitante de outros agentes nefrotóxicos (por exemplo,
cefalosporinas). Como a eliminação desses fármacos é renal, a sua ação nefrotóxica pode
comprometer a sua própria excreção. Desse modo, as concentrações plasmáticas devem ser
monitoradas regularmente.

A paralisia causada por bloqueio neuromuscular constitui uma reação tóxica rara, porém grave,
que habitualmente só é observada quando os agentes são administrados concomitantemente com
bloqueadores neuromusculares. A paralisia ocorre devido à inibição da captação do íon Cálcio,
necessária para a liberação da acetilcolina por exocitose.

Dosagens

Tabela10: Aminoglicosídeos mais utilizados em medicina veterinária.

Base Dose
Estreptomicina e
8 – 15 mg/Kg, 8 – 12/12 hs, IM, SC.
Dihidroestreptomicina
Amicacina 4 – 10 mg/Kg, 8 – 12/12 hs, IM, SC.
Neomicina 10 – 20 mg/Kg, 6 – 12/12 hs, VO.
Cães: 2 – 4 mg/Kg, 6 – 8/8 hs,
ou 9-14 mg/Kg, 24/24 hs, IV, IM, SC.
Gentamicina
Gatos: 3 mg/Kg, 8/8 hs,
ou 5-8 mg Kg, 24/24 hs, IV, IM, SC.
Tobramicina 1 – 2 mg/Kg, 6 – 8/8 hs, IV, IM.
Netilmicina 4 – 8 mg/Kg, 8 – 12/12 hs, IV, IM.

Macrolídeos

Mecanismo de ação
Os macrolídeos inibem a síntese de proteínas bacterianas através de um efeito sobre a translocação
(figura 3). Sua ação pode ser bactericida ou bacteriostática, dependendo da concentração

19
UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

alcançada e do tipo de microorganismo. Os fármacos ligam-se à subunidade 50s do ribossoma


bacteriano, e o sítio de ligação é o mesmo que o de outros antibióticos, como é o caso do
cloranfenicol e da clindamicina, de modo que os três tipos de agentes podem competir se forem
administrados concomitantemente.

Figura 3: Desenho esquemático das subunidades 50s e 30s do ribossomo bacteriano, onde ocorre a
síntese de proteínas bacterianas. A seta com a descrição indica o local onde os antibióticos
inibem o processo.

Inibição da translocação

Fonte: a daptado de Rang et al., 2003.

Resistência bacteriana
Pode ocorrer resistência, em virtude de uma alteração controlada por plasmídios no sítio de ligação
da eritromicina no ribossoma bacteriano.

Farmacocinética

Absorção e distribuição

Os macrolídios são administrados geralmente por via oral. A eritromicina também pode ser
administrada por via parenteral, embora as injeções endovenosas possam ser acompanhadas de
tromboflebite local. Todas sofrem rápida difusão na maioria dos tecidos, porém não atravessam a
barreira hematoencefálica e têm pouca penetração no líquido sinovial.

A meia-vida plasmática da eritromicina é de cerca de 90 minutos, enquanto a da claritromicina é


três vezes maior, e a da azitromicina, 8-16 vezes maior.

Eliminação

A eritromicina é metabolizada em sua maior parte pelo fígado. A azitromicina mostra-se mais
resistente à inativação pelo fígado e a claritromicina é convertida em metabólito ativo. A principal
via de eliminação é a bile.

20
AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

Efeitos adversos
O efeito colateral mais comum são distúrbios gastrintestinais, porém não são graves. Devemos evitar
o uso em ruminantes, roedores, coelhos e equinos adultos, devido a possibilidade maior de enterites
e diarreia. No caso da eritromicina, podem ocorrer reações de hipersensibilidade, como erupções
cutâneas e febre, distúrbios transitórios da audição e, raramente, icterícia colestática quando um
tratamento se prolonga por mais de duas semanas. Não devemos utilizar azitromicina em gatos
devido a sua sensibilidade, podendo causar mielossupressão. A azitromicina não é indicada para
grandes animais.

Dosagens
Tabela 11: Macrolídeos mais utilizados em medicina veterinária.

Base Dose
Eritromicina (base, estolato) 10 – 20 mg/Kg, 8 – 12/12 hs, VO
Azitromicina Cães - 10 mg/Kg, 24/24 hs, VO, por 7 dias
Claritromicina Cães, gatos e potros - 7,5 mg/Kg, 12/12 hs, VO

Lincosamidas
As lincosamidas sao bacteriostaticas ou bactericidas, dependendo da concentração. Possuem
atividade contra muitos Gram-positivos e Bacteroides spp. São representadas pela lincomicina e
clindamicina, a última apresenta maior atividade in vitro e maior absorção oral.

A Clindamicina é um bacteriostático que pode ser utilizado contra Streptococcus e Staphylococcus


resistentes a penicilina e contra bactérias anaeróbias, como espécies de Bacteroides. É utilizada na
profilaxia da endocardite quando as penicilinas não são indicadas.

Mecanismo de ação
Seu mecanismo de ação envolve a inibição da síntese de proteínas na unidade 50s dos ribossomos
bacterianos. O mecanismo é semelhante ao dos macrolídios e do cloranfenicol desse modo os
antibióticos desses grupos não devem ser associados.

Resistência bacteriana
O uso repetido desses fármacos determina um rápido aparecimento de resistência bacteriana.

Farmacocinética

Absorção, distribuição e eliminação

A clindamicina pode ser administrada por via oral ou por via parenteral. Distribui-se amplamente
pelos tecidos (incluindo os ossos) e líquidos corporais, porém não atravessa a barreira

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UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

hematoencefálica. Ocorre captação ativa do fármaco nos leucócitos. A meia-vida é de 21 horas.


Parte do fármaco é metabolizada no fígado, e os metabólitos, que são ativos, são excretados na
bile e na urina.

As lincosamidas possuem uma característica única, pois atingem concentrações elevadíssimas no


leite, podendo ser maiores que no plasma. Sendo assim são drogas indicadas para o tratamento de
mamites, porém são contra indicadas para ruminantes.

Efeitos adversos

Os efeitos adversos consistem principalmente em distúrbios gastrintestinais. Pode ocorrer uma


condição potencialmente letal, a colite pseudomembranosa, que consiste em inflamação aguda
do cólon, em virtude de uma toxina necrosante produzida por um microrganismo resistente à
clindamicina, o Clostridium difficile, que pode fazer parte da microbiota fecal normal. A vancomicina
administrada por via oral e o metronidazol mostram-se eficazes no tratamento dessa afecção. È
necessário observar o aparecimento de diarréia durante o tratamento e caso ocorra, o tratamento
deve ser suspenso.

Dosagens

Tabela 12: lincosamidas mais utilizadas em medicina veterinária.

Base Dose

5 – 10 mg/Kg, 8/8 hs, VO ou


Clindamicina
3 – 5 mg/Kg, 8 – 12/12 hs, IM, IV

15 – 25 mg/Kg, q 8 – 12h, PO
Lincomicina
10 – 20 mg/Kg, q 12 – 24h, IM, IV

Tetraciclinas
As tetraciclinas são antibióticos de amplo espectro. O grupo inclui a tetraciclina, a oxitetraciclina, a
doxiciclina e a minociclina.

Mecanismo de ação e espectro antibacteriano


As tetraciclinas atuam ao inibir a síntese de proteínas após a sua captação pelas bactérias sensíveis
por transporte ativo (figura 4).

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AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

Figura 4: Desenho esquemático das subunidades 50s e 30s do ribossomo bacteriano, onde ocorre a síntese de
proteínas bacterianas. A seta com a descrição indica o local onde os antibióticos inibem o processo.

Competição com o tRNA


pelo sítio A

Fonte: adaptado de Rang et al., 2003.

As tetraciclinas são bacteriostáticas, não tendo efeito bactericida. O espectro de ação é muito
amplo e inclui bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, espiroquetas e protozoários (erlichia
e anaplasma).

O uso da azitromicina para o tratamento de erlichiose canina vem sendo estudado,


apresentando ótimos resultados. No artigo Comparação entre tratamentos contra
erliquiose canina em animais com os sintomas da afecção. Foi evidenciada uma
eficácia maior do tratamento com a azitromicina em comparação com a doxiciclina.
Artigo disponível em <http://www.eventosufrpe.com.br/jepex2009/cd/resumos/
R0943-2.pdf>
A erliquiose canina, recentemente confirmada como zoonose, é
também conhecida como doença do cão rastreador, pancitopenia
canina tropical, febre hemorrágica canina e tifo canino. O vetor
e reservatório da Ehrlichia canis é o carrapato Rhipicephalus
sanguineus.

A resposta ao tratamento geralmente é positiva, com exceção dos


cães com Erliquiose Crônica grave. Vários são os medicamentos
que podem ser utilizados, como a tetraciclina, doxiciclina,
cloranfenicol e o dipropionato de imidocarb, sendo que a
recuperação depende da severidade do caso clínico e do período
em que se inicia a medicação

A doxiciclina constitui a droga de escolha para o tratamento da


erliquiose canina, em uma dosagem de 2,5 a 5 mg/kg, via oral, a
cada 12 horas por duas a três semanas. O cloranfenicol também
pode ser usado como opção de tratamento em cães que não
estejam com citopenia. Segundo o observado no presente estudo,
a Azitromicina, terapêutica que não tem eficácia comprovada no
tratamento da erliquiose, superou em termo de efetividade o
tratamento com a doxiciclina.

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UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Resistência bacteriana
Existem, atualmente, diversas cepas que se tornaram resistentes a esses agentes, diminuindo a sua
utilidade. A resistência é transmitida principalmente através de plasmídios. Os genes que controlam
a resistência às tetraciclinas estão estreitamente associados aos genes para a resistência a outros
antibióticos. Sendo assim, os microrganismos ao adquirirem resistência às tetraciclinas, podem
tornar-se simultaneamente resistentes a diversos fármacos.

Farmacocinética

Absorção e distribuição

Em geral, as tetraciclinas são administradas por via oral, mas também podem ser administradas
por via parenteral. A absorção da maioria das preparações pelo intestino é irregular e incompleta,
porém é melhor na ausência de alimento. Como as tetraciclinas são quelantes de íons metálicos
(cálcio, magnésio, ferro, alumínio), formando complexos não absorvíveis, ocorre diminuição da
absorção na presença de leite, certos antiácidos e preparações de ferro. A minociclina e a doxiciclina
possuem uma melhor absorção que as demais tetraciclinas.

As tetraciclinas são amplamente disseminadas pelos tecidos e líquidos corporais, inclusive na


urina e próstata. Elas se acumulam no fígado, baço, medula óssea, ossos e dentes. As meninges
não precisam estar inflamadas para a passagem das tetraciclinas para o líquido cefraloraquidiano.
As concentrações encontradas no líquido sinovial se aproximam com as do plasma. Elas também
atravessam a placenta e são encontradas em concentrações relativamente altas no leite materno.

Eliminação

A principal via de eliminação das trtraciclinas é renal, com exceção da doxiciclina. As tetraciclinas
também se concentram no fígado e são eliminadas pela bile. Após a excreção pela bile, elas são
parcialmente reabsorvidas pelo intestino. A eliminação pelo trato intestinal ocorre mesmo quando
são administradas por via parenteral.

A doxiciclina quando administrada nas doses recomendadas, não se acumula no organismo de


pacientes com insuficiência renal. O fármaco é eliminado pelas fezes, sendo assim é uma das drogas
mais seguras para ser utilizada em pacientes com problemas renais.

Efeitos adversos
Os efeitos colaterais mais comuns consistem em distúrbios gastrintestinais provocados, inicialmente,
por irritação direta e, posteriormente, pela modificação da microbiota intestinal.

Pode ocorrer deficiência do complexo da vitamina B, bem como supra-infecção. Como dito
anteriormente, por serem quelantes de cálcio, as tetraciclinas depositam-se nos ossos e dentes em
crescimento, causando manchas e, algumas vezes, hipoplasia dentária e deformidades ósseas. Desse

24
AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

modo, não devem ser administradas em filhotes, gestantes ou em fêmeas em lactação. Um risco
importante observado em gestantes é a ocorrência de hepatotoxicidade.

Há relatos de fototoxicidade (sensibilização à luz solar), particularmente com a administração de


demeclociclina.

A minociclina pode produzir distúrbios vestibulares relacionados à dose (tonteira e náusea). As


tetraciclinas em altas doses podem diminuir a síntese de proteínas nas células hospedeiras, podendo
resultar em lesão renal. Além disso, o tratamento por períodos longos pode causar distúrbios de
medula óssea.

Dosagens

Tabela 13: Tetraciclinas mais utilizadas em medicina veterinária.

Base Dose
Tetraciclina 15 – 20 mg/Kg, 6 – 8/8 hs, VO.
20 mg/Kg, 12/12 hs, VO
Oxitetraciclina
10 mg/Kg, 12/12 hs, IV, IM
Doxiciclina 3 – 5 mg/Kg, 12/12 hs, VO
Minociclina 3 – 5 mg/Kg, 12/12 hs, VO

Cloranfenicol

Mecanismo de ação
O cloranfenicol foi originalmente isolado de culturas de Streptomyces. O mecanismo de ação
consiste em inibição da síntese proteica (figura 5). O cloranfenicol liga-se à subunidade 50s do
ribossoma bacteriano, no mesmo local que a eritromicina e clindamicina.

Figura 5: Desenho esquemático das subunidades 50s e 30s do ribossomo bacteriano, onde ocorre a síntese de
proteínas bacterianas. As setas com a descrição indicam o local onde os antibióticos inibem o processo.

Inibição da transpeptidação.

Sítio de ação de fármacos


utilizados apenas como
instrumento experimental,
pois afetam também células
de mamíferos
(ex: puromicina).

Fonte: adaptado de Rang et al., 2003.

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UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Resistência bacteriana

O cloranfenicol possui amplo espectro de atividade antimicrobiana, incluindo microrganismos


Gram-negativos e Gram-positivos, bem como riquétsias. E bacteriostático para a maioria dos
microrganismos, porém bactericida para H. influenzae. A resistência, que é mediada por plasmídios,
é causada pela produção de cloranfenicol acetiltransferase.

Farmacocinética

Absorção e distribuição

Quando administrado por via oral, o cloranfenicol sofre absorção rápida e completa e atinge
concentrações máximas no plasma dentro de 2 horas. Além disso, pode ser administrado por
via parenteral. Distribui-se amplamente pelos tecidos e líquidos corporais, incluindo o LER,
onde sua concentração pode atingir níveis equivalentes a 60% dos níveis sanguíneos. No plasma,
30-50% do cloranfenicol encontram-se ligados às proteínas. Em ruminantes, além do risco natural
de inibição da flora ruminal, quando utilizado por via oral, a droga normalmente é inativada
no rúmen.

Eliminação

Cerca de 10% são excretados em sua forma inalterada na urina, sendo o restante inativado no fígado.

Efeitos adversos

O efeito adverso mais importante do cloranfenicol consiste em grave depressão da medula óssea,
resultando em pancitopenia (diminuição de todos os elementos figurados do sangue). Esse efeito,
apesar de raro, pode ocorrer até mesmo com doses muito baixas, em alguns indivíduos.

O cloranfenicol deve ser utilizado com muita cautela em recém-nascidos. Em humanos a inativação
e a excreção inadequadas do fármaco podem levar ao desenvolvimento da “síndrome do bebê
cinzento”. Os sintomas incluem vômitos, diarréia, flacidez, baixa temperatura e pigmentação
acinzentada. A taxa de mortalidade, nesses casos é de 40%. Se a sua administração for essencial,
é preciso determinar as concentrações plasmáticas, devendo- se ajustar a dose de acordo com
os níveis alcançados. Podem ocorrer reações de hipersensibilidade, e também distúrbios
gastrintestinais.

Os felinos tem grande possibilidade de se intoxicar com o fármaco, devido a sua natural insuficiência
da glicorunil-transferase. Nos equinos a meia-vida plasmática é muito curta, sendo desaconselhado
seu uso, no caso de infecções sérias. Apesar dessas particularidades as doses fixadas para gatos
e quinos estão descritas na tabela 14. O fármaco, no entanto, só deve ser administrado em gatos
quando não houver a possibilidade do uso de outros antimicrobianos.

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AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

Dosagens

Tabela 14: Dose do cloranfenicol em medicina veterinária.

Base Dose

Cães: 40 - 50 mg/Kg, 8/8 hs, VO, IV, IM, SC.


Cloranfenicol Gatos: 12,5 - 20 mg/Kg, 12/12 hs, VO, IV, IM, SC.
Equinos: 35-50 mg/Kg, 6-8/8 hs, VO.

Vancomicina

Mecanismo de ação e espectro antimicrobiano

A vancomicina é o principal antibiótico glicopeptídico. É bactericida (exceto contra os


estreptococos) e atua ao inibir a síntese da parede celular. Seu uso é restrito a poucos casos. O
fármaco mostra-se eficaz principalmente contra bactérias Gram-positivas e tem sido utilizada
contra estafilococos resistentes à meticilina. Além disso, mostra-se valiosa nas infecções
estafilocócicas graves em pacientes alérgicos tanto às penicilinas quanto às cefalosporinas,
bem como em algumas formas de endocardite. A vancomicina pode ser utilizada também, no
tratamento da colite pseudomembranosa.

Farmacocinética

Vias de administração, absorção e distribuição

A vancomicina, que não é absorvida pelo intestino, é somente administrada por via oral no
tratamento da infecção gastrintestinal por C. difficile. Para uso parenteral, é administrada por via
intravenosa (não deve ser administrada por via intramuscular) e apresenta meia-vida plasmática de
cerca de 8 horas.

Eliminação

O seu metabolismo é hepático e a excreção é renal.

Efeitos adversos

Os efeitos indesejáveis consistem em febre, erupções cutâneas e flebite no local da injeção.


Podem ocorrer ototoxicidade e nefrotoxicidade em altas doses. Podem ser observadas reações de
hipersensibilidade variando de manifestações cutâneas a anafilaxia.

27
UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Dosagens

Tabela 15: Doses da vancomicina em medicina veterinária.

Base Dose
20 mg/Kg, 12/12 hs, IV, diluída em pelo menos 200 ml de soro glicosado.
Vancomicina
5 – 10 mg/Kg, 12/12 hs, VO

Polimixinas
Os antibióticos da polimixina em uso incluem a polimixina B e a colistina (polimixina E).

Mecanismo de ação e espectro antimicrobiano


Exibem propriedades detergentes catiônicas, e seu mecanismo de ação envolve a interação com o
fosfolipídio da membrana celular e a desagregação de sua estrutura.

Exercem ação seletiva e rapidamente bactericida sobre bacilos Gram-positivos, particularmente


pseudomonas e microrganismos coliformes.

Farmacocinética

Vias de administração, absorção e distribuição

Não são absorvidas pelo trato gastrintestinal. Por via tópica e intramamária são muito pouco
absorvidas (devido a esse fato são seguras quando administradas por via tópica).

Se administradas parenteralmente, demonstram distribuição restrita, não atravessando as principais


barreiras do organismo. O local de metabolismo é desconhecido.

No Brasil apenas estão disponíveis apresentações de uso tópico da polimixina B. A colistina pode ser
encontrada apenas como aditivo alimentar.

Eliminação

A principal via é a renal. Sendo assim, pacientes com distúrbios renais tem ainda maior possibilidade
de apresentar efeitos adversos.

Efeitos adversos
Devido à sua extrema toxicidade quando administradas por via parenteral, seu uso é restrito a
infecções de pele, otológicas e oftálmicas. Quando administradas topicamente, não apresentam
efeitos adversos importantes. Os principais efeitos adversos observados quando administrados
parenteralmente são neurotoxicidade e nefrotoxicidade, além de hipersensibilidade.

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CAPÍTULO 2
Quimioterápicos

Sulfonamidas
As sulfonamidas foram os primeiros fármacos a serem utilizados para combater uma infecção
sistêmica e foram sintetizadas a partir de um corante chamado prontosil. Após a descoberta, foram
desenvolvidas numerosas sulfonamidas. Algumas delas continuam sendo utilizadas na terapêutica
antimicrobiana atualmente.

Entre os exemplos de sulfonamidas de uso clínico, destacam-se: a sulfadiazina, a sulfadimidina,


o sulfametoxazol (de ação curta), a sulfametopirazina (de ação longa), a sulfassalazina (pouco
absorvida pelo trato gastrintestinal e o sulfametoxazol (administrado com trimetoprima).

Mecanismo de ação e espectro antimicrobiano


A sulfanilamida é um análogo estrutural do ácido p-aminobenzóico (PABA), que é essencial para a
síntese de ácido fólico nas bactérias. O folato é necessário para a síntese dos precursores do DNA e
do RNA tanto nas bactérias quanto nos mamíferos; todavia, os mamíferos obtêm o ácido fólico em
sua dieta, enquanto as bactérias precisam sintetizá-lo.

As sulfonamidas atuam por intermédio de inibição competitiva (ou antagonismo metabólico) com
o PABA pela enzima diidropteroato sintetase, e o efeito da sulfonamida pode ser superado pela
adição de PABA em excesso. Este é o motivo pelo qual alguns anestésicos locais, como, por exemplo,
a procaína, que são ésteres do PABA podem antagonizar o efeito antibacteriano desses agentes.

A ação das sulfonamidas é bacteriostática. Possui amplo espectro de ação, sendo mais eficientes no
tratamento de infecções agudas. A sensibilidade bacteriana é variável devido à resistência, mas de
maneira geral atuam contra Gram-positivos, Gram-negativos e também contra Toxoplasma, Eimeria
e Nocardia.

A sua ação é anulada pela presença de pus e produtos de degradação tecidual, pois contêm timidina
e purinas, que podem ser utilizadas pelas bactérias para escapar da necessidade de ácido fólico.

Na prática clínica, as sulfonamidas têm sido indicadas para o tratamento de infecções cutâneas,
gastrointestinais e urinárias.

Trimetoprima (sinérgico), antagonistas e interações


medicamentosas

Trimetroprima

É um fármaco bactericida e o principal sinérgico das sulfonamidas. Inibe a síntese da díidrofolase-


-redutase o que determina, em associação com uma sulfonamida, um bloqueio sequencial da via

29
UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

metabólica bacteriana. É interessante ressaltar que a trimetropima é pouco eficiente em ruminantes,


devido à sua meia-vida ser muito baixa nessas espécies. É utilizada no tratamento da toxoplasmose
em associação com a sulfadiazina.

Antagonistas

Todos os fármacos que tenham PABA ou moléculas similares em suas fórmulas possuem efeito
antagônico ao das sulfonamidas. Entre eles podemos destacar: os anestésicos locais, vitaminas do
complexo B, cafeína e teofilina.

Interações medicamentosas

Indometacina, fenilbutazona e salicilatos – reduzem a meia vida plasmática das sulfonamidas.

Antiácidos – diminuem a biodisponibilidade das sulfonamidas.

Anticonvulsivantes e digitálicos – seus efeitos são potencializados pelas sulfonamidas.

Ferro e metais pesados – incompatibilidade química (precipitação).

Ciclosporinas – aumentam o risco de nefrotoxicidade.

Resistência bacteriana
A resistência bacteriana é comum, e ocorreu principalmente devido ao seu uso de modo excessivo e
muitas vezes desnecessário ao longo dos anos.

Há bactérias que possuem resistência natural a esses fármacos, como é o caso do gênero Leptospira,
que não precisam sintetizar seu próprio ácido fólico.

Existe também a adaptação enzimática, em que as bactérias passam a utilizar vias metabólicas
alternativas para a obtenção de metabólitos essenciais. Essa adaptação é mediada por plasmídios.

Farmacocinética

Vias de administração, absorção e distribuição

As sulfonamidas são, em sua maioria, rapidamente absorvidas pelo trato gastrintestinal e alcançam
concentrações máximas no plasma em 4-6 horas. A principal via de administração é a via oral. Porém,
essa via não é indicada para herbívoros adultos, pois as sulfas reduzem a flora do trato gastrointestinal,
podendo determinar sérios problemas metabólicos para o animal. Desse modo, só estão indicadas
quando o objetivo terapêutico é a redução da flora microbiana do trato gastrointestinal.

As vias parenterais não são muito utilizadas devido à grande incidência de efeitos adversos. A
endovenosa pode ser utilizada com cautela e em infecções graves. Pode-se iniciar o tratamento

30
AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

com uma sulfa sistêmica que favorece elevados níveis plasmáticos rapidamente, e depois continuar
o tratamento por via oral. É necessário ter muito cuidado na administração endovenosa, devendo
ser esta feita bem lentamente (com duração mínima de 10 minutos), e tendo sempre certeza de
que o fármaco está indo para dentro da veia, pois ao sair da veia o fármaco causa irritação e até
necrose tecidual.

As vias intrauterina e intra-mamária já foram utilizadas com algum sucesso, dependendo da


susceptibilidade do micro-organismo, porém atualmente as sulfas não constituem a primeira
escolha nesses casos.

As sulfas de uso tópico são utilizadas com mais segurança, pois são pouco absorvidas e não irritam
tecidos lesados. São indicadas principalmente para uso oftalmológico (sulfacetamida) e em
queimaduras (mafenida e sulfadiazina de prata).

Os fármacos penetram nos exsudatos inflamatórios e atravessam a barreira placentária, bem como
a barreira hematoencefálica. As sulfonamidas são inativadas principalmente no fígado. Porém uma
parte desses fármacos é eliminada em sua forma inalterada.

Eliminação

A eliminação é principalmente renal, mas também ocorre pelas fezes, bile, leite, suor e lágrimas.

Efeitos adversos
São contraindicadas em pacientes com insuficiência hepática ou renal e discrasias sanguíneas. Em
altas doses podem ser teratogênicas, devendo ser evitado seu uso em gestantes.

Em cães pode ocorrer cianose em decorrência da metemoglobinemia, opacidade do cristalino,


ceratoconjuntivite seca, náuseas, vômitos, e poliartrites. Em ruminantes, é mais comum se observar
icterícia e neurite periférica. Em aves pode ocorrer redução do ganho de peso e da postura, ovos com
casca defeituosa, e lesões renais e hepática.

Os efeitos adversos graves que exigem a interrupção da terapia incluem hepatite, reações de
hipersensibilidade (exantemas, febre, reações anafiláticas), depressão da medula óssea e cristalúria.
Esta última é resultado da precipitação dos metabólitos acetilados na urina.

A cristalúria ocorre principalmente quando administramos sulfas pouco solúveis, levando o


paciente a apresentar hematúria e obstruções dos túbulos renais. Esse efeito grave ocorre quando o
pH urinário encontra-se ácido e o consumo de água diminui.

Cuidados para a prescrição das sulfonamidas


Prescrever apenas em infecções agudas.

Ter certeza de que o agente infeccioso é suscetível.

31
UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Prescrever que o paciente beba água em grandes quantidades, se necessário manter hidratação
parenteral ou forçar o consumo de água. Desse modo, estimula-se a função renal, diminuindo o
risco de cristalúria.

Ter certeza da ausência de lesões hepáticas ou renais.

Preferir, no tratamento de carnívoros, as de meia-vida plasmática longa e alta solubilidade.

Fornecer doses dobradas nas primeiras 24 horas, para atingir níveis plasmáticos ideais mais
rapidamente.

Suspender o tratamento imediatamente, caso ocorram sintomas de intoxicação, principalmente


micção frequente e hematúria.

Dosagens
Tabela 16: Sulfonamidas mais utilizadas em Medicina Veterinária.

Base Dose
Sulfadiazina de prata Tópico
Sulfacetamida sódica Tópico (apresentações sempre associadas a outros agentes antimicrobianos).
Mafenida Tópico
Sulfametoxazol + Trimetoprima 15 mg/Kg, IV, VO, 12/12 hs,
Sulfadiazina + Trimetoprima 15 mg/Kg, IV, VO, 12/12 hs. 14 a 21 dias

Quinolonas

Classificação e espectro antimicrobiano


As quinolonas são classificadas em dois grupos, as de 1ª e 2ª geração.

Primeira geração: possuem espectro reduzido, apenas contra Gram-negativos. São mais indicadas
nos casos de infecção urinária e como aditivos para rações de suínos e aves, porém atualmente estão
em desuso.

Pertencem a esse grupo os ácidos nalixídico, oxolínico e pipemídico.

Segunda geração: também chamadas de fluoroquinolonas. Agem predominantemente contra


Gram-negativos, porém atuam razoavelmente contra Gram-positivos. São antimicrobianos de
primeira escolha para infecções urinárias e gastrointestinais causadas por Gram-negativos. Além
disso, constituem uma boa alternativa em algumas infecções cutâneas, ósseas, articulares e de tecidos
moles. Exibem excelente atividade contra as Enterobacterias (os bacilos Gram-negativos entéricos),
incluindo muitos micro-organismos resistentes às penicilinas, cefalosporinas e aminoglicosídeos,
sendo também eficazes contra H. influenzae, N. gonorrhoeae produtora de penicilinase, espécies de
Campylobacter e pseudomonas.

32
AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

Pertencem a esse grupo a enrofloxacina, danofloxacina, norfloxacina, ciprofloxacina, ofloxacina,


rosoxacina, esparfloxacina, lomefloxacina, floroxacina, perfloxacina e aminofloxacina.

Mecanismo de ação
As quinolonas são bactericidas, por inibição da síntese do DNA bacteriano. Esses agentes inibem
a topoisomerase II (uma DNA girase), enzima que produz uma superespiral negativa no DNA,
permitindo, assim, a transcrição ou replicação (Figura 6).

Figura 6: Diagrama esquemático da dupla hélice (à esquerda) e da dupla hélice na forma superespiralada
(à direita). A DNA girase desenrola a superespiral positiva induzida por RNA (não mostrado) e introduz uma
superespiral negativa.

Fonte: adaptado de Rang et al., 2003.

Resistência bacteriana
A resistência é transmitida principalmente por plasmídios, e, visto que os genes que controlam
a resistência às quinolonas estão estreitamente associados aos genes para a resistência de outros
antibióticos, os micro-organismos podem tornar-se simultaneamente resistentes às demais quinolonas.
Alguns autores citam a possibilidade de haver resistência cruzada também com cefalosporinas,
tetraciclinas e com o cloranfenicol. Já foram verificadas cepas resistentes de S. aureus e P. aeruginosa.

Farmacocinética

Vias de administração, absorção e distribuição

As fluoroquinolonas administradas por via oral são bem absorvidas, porém exigem 2 horas de
jejum prévio. Podem ser administradas também por via SC, IM e EV. Devemos ter cuidado com
algumas apresentações injetáveis da enrofloxacina, pois, quando administradas por via SC, podem
causar abscessos. Esse fato ocorre principalmente quando o fármaco é administrado por descuido
na via intradérmica.

33
UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

A meia-vida da ciprofloxacina e da norfloxacina é de 3 horas, enquanto a da ofloxacina é de 5 horas,


e a da perfloxacina, de 10 horas. Os fármacos concentram-se em muitos tecidos, particularmente
nos rins, na próstata e no pulmão. Todas as quinolonas concentram-se nos fagócitos.

A maioria não atravessa a barreira hematoencefálica, à exceção da perfloxacina e da ofloxacina,


que alcançam concentrações no líquido cefaloraquidiano de 40 e 90% (da encontrada no plasma),
respectivamente.

Os antiácidos, contendo alumínio e magnésio, interferem na absorção das quinolonas.

Eliminação

As concentrações encontradas na urina são elevadas. Devido a esse aspecto, são especialmente
indicadas para o tratamento de infecções do sistema urinário.

As quinolonas sofrem metabolismo parcial hepático e são eliminadas pelos rins.

Efeitos adversos
Podem ocorrer distúrbios gastrintestinais, erupções cutâneas, fotossensibilização e cristalúria (em
indivíduos desidratados), porém essas reações ao uso das quinolonas são raras.

As quinolonas devem ser evitadas em animais jovens, devido à possibilidade de artropatias, com
lesões irreversíveis na cartilagem. Desse modo, o uso das quinolonas é contraindicado em filhotes
em fase de crescimento. No caso dos cães, deve ser utilizada, somente após os 8 meses e em raças
grandes após um ano de idade.

Também são contraindicadas em gestantes, podendo levar a lesões na cartilagem dos fetos e ao aborto.

Além disso, ocorrem sintomas do SNC como cefaleia e tonteira. Com menos frequência, leva a
convulsões, que têm sido associadas a patologias preexistentes do SNC ou ao uso concomitante de
teofilina ou de anti-inflamatórios não esteroides.

As quinolonas de primeira geração são extremamente tóxicas para caninos, felinos e carnívoros
de um modo geral, não devendo ser utilizadas de modo algum nessas espécies. Esses fármacos são
neurotóxicos para essas espécies e levam, na maioria dos casos, ao óbito do animal.

Dosagens

Tabela 17: Quinolonas mais utilizadas em medicina veterinária.

Base Dose
2,5 a 5,0 mg/Kg, 12/12 hs, VO, IM.
Enrofloxacina
5,0 mg/Kg, 24/24 hs, VO, IM.
Norfloxacina 22 mg/Kg, 12/12 hs, VO
Ciprofloxacina 5 – 15 mg/Kg, 12/12hs, VO

34
AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

Derivados dos Nitrofuranos


Os nitrofuranos possuem amplo espectro de ação. Seu mecanismo de ação ainda não está bem
esclarecido, porém sabe-se que atuam nos sistemas enzimáticos das bactérias. Raramente ocorre
resistência a estes fármacos. Os antimicrobianos desse grupo são: a nitrofurantoína, a furazolidona
e a nitrofurazona.

Nitrofurantoína

Espectro antimicrobiano e uso clínico

A nitrofurantoína possui ação bacteriostática e alta atividade em ambientes ácidos. Atua


principalmente contra Gram-negativos.

É utilizada como antisséptico urinário, principalmente em cães. Pode também ser utilizada em
equinos com infecções baixas do sistema urinário produzidas por micro-organismos sensíveis.
Porém deve ser utilizada somente em casos de infecções leves e nas subclínicas.

Farmacocinética

Absorção, distribuição e eliminação

Apresenta rápida absorção pelo trato gastrintestinal, principalmente na presença de alimentos. A


distribuição é ampla no organismo, chegando até o líquido cefaloraquidiano e feto. A eliminação
ocorre por via renal e as concentrações urinárias são elevadas. Devido a esse fato, é indicada como
antisséptico urinário, como vimos anteriormente.

Contra indicações e efeitos adversos

O fármaco é contra indicado no terço final da gravidez, em recém-nascidos e na insuficiência renal.


Reduz a atividade das fluoroquinolonas, quando administrados consecutivamente.

Os efeitos tóxicos são raros e estão relacionados ao uso sistêmico e incluem diáteses hemorrágicas
com trombocitopenia, anemia, aumento do tempo de sangramento, efeitos ao nível de SNC, anorexia
e vômitos.

Furazolidona
Atualmente, a furazolidona não é considerada um fármaco de primeira escolha em situação alguma.
Em Medicina Veterinária ela é utilizada adicionada à ração, como promotora de crescimento.
Existem apresentações comerciais do fármaco para o tratamento de mamites, porém sua eficiência
não está comprovada.

As características farmacocinéticas não foram bem estudadas, mas sabe-se que a furazolidona
é absorvida pelo trato gastrintestinal, porém não ocorre distribuição adequada do fármaco no
organismo para que se utilize no tratamento de infecções sistêmicas.

35
UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Nitrofurazona
É utilizada, com relativo sucesso, no tratamento tópico de feridas contaminadas. Possui a vantagem
de ser inócua aos tecidos e ocorre uma frequência baixa de resistência bacteriana a esse fármaco. A
nitrofurazona também pode ser utilizada em lavagens uterinas.

Dosagens

Tabela 18: doses dos derivados nitrofurânicos mais utilizados em medicina veterinária

Base Dose
Nitrofurazona Tópico
Cães: 4,4 mg/Kg, 8/8 hs, VO
Nitrofurantoína
Gatos: 4,0 mg/Kg, 6/6 hs, VO
Furazolidona 2 – 4 mg/Kg, 12/12 hs, VO

36
Capítulo 3
Fármacos tuberculostáticos

Isoniazida

Mecanismo de ação e indicação


A Isoniazida é um derivado sintético do ácido isonicotínico. Age inibindo a síntese do ácido
micólico, um componente importante da parede de micobactérias, não atuando contra outros tipos
de bactérias. É bacteriostática para o bacilo em repouso e bactericida para os que estão em processo
de divisão.

Farmacocinética
O fármaco é rapidamente absorvido tanto por via oral como pelas vias parenterais. Atinge níveis
adequados em todos os tecidos e líquidos do organismo. É metabolizada no fígado e a eliminação
é renal.

Reações adversas
As mais frequentes incluem erupções cutâneas, febre, icterícia e neurite periférica. Raramente
pode ocorrer artrite, alterações hematológicas e convulsões em indivíduos predispostos. A neurite
periférica pode ser evitada com a administração concomitante de piridoxina.

Rifampicina

Mecanismo de ação e indicações


A rifampicina é um antibiótico derivado semissintético da rifamicina B. As rifamicinas são substâncias
derivadas do Nocardia mediterranei. O fármaco age contra Mycobacterium leprae, M.tuberculosis,
diversas outras micobactérias, e também contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. O M.
fortuitum é resistente. É utilizada também no tratamento de infecção por Rhodococcus equi.

O mecanismo de ação é a inibição da biossíntese do RNA bacteriano. Embora tenha ação contra
diversas bactérias, sua utilização é quase exclusiva para o tratamento da hanseníase e da tuberculose,
em associação com a estreptomicina e isoniazida, pois é muito rápida a emergência de resistência
bacteriana. A causa mais comum de resistência bacteriana é a mutação na subunidade beta da RNA
polimerase, em que ocorre a ligação da rifampicina.

37
UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

Farmacocinética
A rifampicina é bem absorvida pelo trato gastrintestinal, porém absorção se torna reduzida quando
é administrada com alimentos. Tem ampla distribuição orgânica incluindo o sistema nervoso.
Atravessa a barreira placentária e é encontrada no leite materno. A metabolização é hepática. A
eliminação ocorre pelas fezes e urina.

Contraindicações e efeitos adversos


A rifampicina é teratogênica sendo contraindicada em gestantes e também em indivíduos portadores
de hepatopatias. Após a administração oral, os líquidos orgânicos ficam alaranjados, e podem
ocorrer alterações no trato gantrointestinal. Quando administrada pela via endovenosa, pode levar
à anorexia e depressão do SNC.

A terapêutica em casos de infecções por micobactérias deve ser escolhida com


critério, uma vez que a ocorrência de resistência bacteriana é grande. Portanto, é
de grande importância o conhecimento da sensibilidade do agente envolvido e
atualmente, em muitos casos, a associação de fármacos é a melhor escolha.

Os textos apresentados nos mostram alguns estudos sobre a questão.

Resumo do artigo Perfil de sensibilidade ao triclosan de isolados clínicos de


Mycobacterium tuberculosis resistentes à isoniazida (GAUTÉRIO et al., 2008).

Triclosan é um biocida amplamente utilizado na comunidade e nos


hospitais. Um dos alvos do triclosan é uma enoil-redutase que está
presente no Mycobacterium tuberculosis, sendo também o principal
alvo da isoniazida (INH), um importante fármaco utilizado para o
tratamento da tuberculose. O uso de biocidas que compartilham
alvos similares com antimicrobianos de uso humano podem gerar
resistência cruzada com estes e devem ter o seu uso criteriosamente
avaliado. Neste estudo, determinou-se a concentração mínima
inibitória (CMI) do triclosan e INH para 46 isolados clínicos de
M. tuberculosis previamente identificados como resistentes a
INH, tendo sido observados altos níveis de resistência para INH e
sensibilidade ao triclosan para todas as cepas.

Resumo do artigo Tratamento da tuberculose bovina com isoniazida


(LANGENEGGER et al., 1981).

Em um rebanho de 210 bovinos de raça holandesa, a tuberculinização


intradérmica revelou 149 reagentes positivos (70,9%). A tuberculose
manifestou-se, por sintomas clínicos, em 21 animais (14.1%) e foi
cofirmada por exames anátomohistopatológicos e pelo isolamento
de Mycobacterium bovis. O tratamento da doença foi realizado com
isoniazida pura cristalizada, administrada por via oral, em doses
de 25 mg/kg/dia, sendo as primeiras 60 doses aplicadas em dias

38
AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

consecutivos e outras 60 em dias alternados, 3 vezes por semana.


Durante a medicação morreram 5 bovinos dos clinicamente
doentes e que eram portadores de lesões tuberculosas evoluídas;
os demais recuperaram- se lentamente. A eficiência do tratamento
terapêutico foi controlada durante 3 anos através de: a) exames
necroscópicos e bacteriológicos de 28 animais que morreram por
causasintercorrentes; em 8 bovinos necropsiados foram encontradas
lesões tuberculosas encarquilhadas, envoltas ou invadidas por
intensa reação de tecido conjuntivo fibrótico; a cultura direta e a
inoculação de material suspeito em cobaio foram negativas em
todos os casos, b) tuberculinizações, a intervalos de 2, depois de
3 a 4 meses, iniciadas um mês após o término da medicação, que
permitiram acompanhar a dessensibilização alérgica durante 2
anos e 4 meses. A média do aumento da espessura da dobra da pele
no ponto de inoculação da tuberculina dos 149 animais, que antes
da medicação com isoniazida era de 7,5 mm, caiu progressivamente
até 1,4 mm. Na última havia apenas 5 bovinos com reações acima de
3 mm. Considerando estes e os 5 animais que morreram durante a
medicação como não curados, a eficiência terapêutica da isoniazida
foi de 93,28%.

Resumo do artigo Dermatite micobacteriana atípica em gato: relato de caso


(LARSSON et al., 2006).

Relata-se, pela primeira vez no Brasil, um caso de dermatite


decorrente de infecção por micobactéria atípica do complexo
Mycobacterium fortuitum-peregrinum, em espécie felina, sem raça
definida, fêmea, com cinco anos de idade. Há oito meses, evoluía
com lesões maculares equimóticas, nodulares, erosadas, ulceradas,
acompanhadas de fístulas exsudativas, com intenso prurido e
algia. Evidenciou-se a presença de micobactéria do complexo
Mycobacterium fortuitum-peregrinum (grupo IV de Runyon)
identificada após evidenciação histopatológica, cultivo bacteriano
e por testes bioquímicos. Após dois meses de terapia sistêmica com
enrofloxacina (5mg/kg/Bid/VO) e tópica (triclosan e rifamicina),
houve involução das lesões, com efeitos colaterais discretos.

39
CAPÍTULO 4
Indicações gerais de agentes
antimicrobianos

Tabelas de indicações

Agentes infecciosos e respectivas sugestões de antimicrobianos de primeira e segunda escolha utilizados na


terapêutica veterinária.

40
AGENTES ANTIMICROBIANOS │ UNIDADE I

O texto Bacteriocinas antibióticos do futuro nos apresenta um novo grupo de


antimicrobianos que vem sendo estudado, ampliando nossa visão para o que pode
ser um futuro promissor da terapia antimicrobiana. Texto disponível em <http://

41
UNIDADE I │ AGENTES ANTIMICROBIANOS

www.microbiologia.ufrj.br/informativo/novidades-sobre-microbiologia/541-
bacteriocinas-antibioticos-do-futuro>.

A identificação e o desenvolvimento da antibiótico-terapia


representam a principal conquista científica do século XX
em termos de impacto sobre a morbidade e a mortalidade
humanas. Entretanto, vários problemas têm surgido que limitam
esses benefícios iniciais. Entre eles, destaca-se o surgimento de
patógenos multirresistentes às drogas de uso corrente. Além
disso, o número de novas drogas desenvolvidas, que poderiam
ser utilizadas no tratamento de infecções causadas por esses
patógenos multirresistentes, tem se mostrado limitado. Como
consequência, há a necessidade de desenvolvimento de novos
agentes antimicrobianos que possam ser usados clinicamente,
em substituição ou em paralelo aos antibióticos convencionais.
As alternativas que têm sido investigadas incluem compostos
derivados de plantas, bacteriófagos e peptídeos antimicrobianos
de uma variedade de fontes. Uma opção que não pode mais
ser ignorada é um subgrupo de peptídeos antimicrobianos
conhecidos como bacteriocinas. As bacteriocinas são proteínas
ou peptídeos bacterianos produzidos ao nível dos ribossomos e
com atividade inibitória contra outras bactérias. Elas formam um
grupo heterogêneo de substâncias, atualmente, divididas em
peptídeos que sofrem uma extensiva modificação pós-tradução
(classe I) e peptídeos cujos ácidos aminados não são modificados
(classes II e IV).

Algumas bacteriocinas exibem uma marcante atividade contra


microrganismos patogênicos, incluindo estirpes multirresistentes, e
os seus mecanismos de ação são distintos daqueles apresentados
pelos quimioterápicos. Embora algumas bacteriocinas exibam um
amplo espectro de ação, podendo ser utilizadas no controle de
infecções de diversas etiologias, bacteriocinas potentes com estreito
espectro de ação também têm sido descritas e que controlam
certos patógenos-alvo sem afetarem negativamente a microbiota
anfibiôntica. Embora a resistência a bacteriocinas também possa
eventualmente surgir, ela pode ser minimizada por meio do estudo
detalhado do mecanismo de ação de cada bacteriocina e por meio
da engenharia de peptídeos, mediante a qual novas variantes
podem ser construídas, apresentando solubilidade, estabilidade
e potência ampliadas e espectro de ação estendido para incluir,
inclusive, espécies patogênicas de bactérias Gram-negativas, tais
como Shigella, Pseudomonas e Salmonella spp.9

42
FÁRMACOS Unidade iI
ANTIMICÓTICOS

Os fármacos antimicóticos dividem-se em antibióticos antifúngicos e antifúngicos sintéticos.


Os antibióticos são, como dito anteriormente, fármacos desenvolvidos a partir de substâncias
produzidas por micro-organismos como fungos e actinomicetos.

Capítulo 1
Antibióticos antifúngicos

Anfotericina B

Mecanismo de ação e espectro antifúngico


A anfotericina B tem efeito fungicida ligando-se às membranas celulares e interferindo na
permeabilidade e nas funções de transporte. Ela cria um poro na membrana celular do fungo,
formando um canal iônico transmembrana. Uma das consequências disso consiste na perda de
potássio do meio intracelular. A anfotericina B apresenta seletividade às membranas dos fungos e de
alguns protozoários e liga-se, em menor grau, às células de mamíferos, não havendo ligação alguma
em células bacterianas. A especificidade relativa para os fungos pode ocorrer devido ao fármaco
ter um maior tropismo pelo ergosterol (o esterol da membrana dos fungos) do que pelo colesterol,
que constitui o principal esterol da membrana plasmática das células de animais. A anfotericina B,
devido à sua elevada toxicidade tem sido reservada para o tratamento de casos graves de micoses
sistêmicas, como nos casos de histoplasmose, esporotricose, aspergilose, criptococose, blastomicose
e nocardiose. O fármaco tem sido empregado também no tratamento de leishmaniose visceral com
efeitos promissores.

Farmacocinética

Vias de administração, absorção e distribuição

Quando administrada por via oral, a anfotericina B é pouco absorvida. Sendo assim, só é administrada
por esta via no tratamento de infecções fúngicas do trato gastrintestinal. O fármaco também é pouco
absorvido pela pele e mucosas, podendo ser administrado topicamente.

43
UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTIMICÓTICOS

Para as infecções sistêmicas, é administrada na forma de suspensão por injeção endovenosa lenta. Os
efeitos colaterais significativos levaram ao desenvolvimento de novas apresentações que pudessem
reduzir os efeitos colaterais do fármaco. Desse modo foram utilizados lipossomas de circulação
prolongada, contendo a anfotericina B. Essa formulação acarretou efeitos colaterais mais brandos
do que a formulação original.

A anfotericina apresenta elevado tropismo por proteínas, sendo encontrada em concentrações


bastante elevadas nos exsudados inflamatórios. Em condições normais, praticamente não atravessa
a barreira hematoencefálica, porém a sua penetração pode aumentar quando as meninges estão
inflamadas. A anfotericina B em associação com flucitosina, aplicada por via endovenosa, mostra-se
eficaz nos casos de meningite criptocócica.

Eliminação

O fármaco é excretado muito lentamente pelo rim, e são encontrados traços na urina durante 2
meses ou mais após a interrupção do tratamento.

Efeitos adversos
A toxicidade renal constitui o efeito adverso mais comum e mais grave da anfotericina B, atingindo
80 % dos pacientes. Geralmente, há recuperação após a interrupção do tratamento; porém, em
alguns casos, pode permanecer algum comprometimento da filtração glomerular.

A hipocalemia ocorre em 25% dos pacientes, exigindo suplementação com cloreto de potássio.
Além disso, podem ocorrer hipomagnesemia e anemia. Outros efeitos adversos consistem em
comprometimento da função hepática, trombocitopenia e reações anafiláticas.

A aplicação endovenosa geralmente provoca calafrios, febre, zumbido e cefaleia. Em humanos, um


em cada cinco pacientes apresentam emese.

Além disso, o fármaco é irritante para o endotélio das veias, podendo causar tromboflebite local
após injeção endovenosa. As injeções intratecais podem causar neurotoxicidade. As preparações
encapsuladas em lipossomas e complexadas com lipídios causam menos reações adversas, porém
seu custo é consideravelmente mais elevado.

Interações medicamentosas
A anfotericina B potencializa o efeito antifúngico da flucitosina. Não deve ser associada a digitálicos,
pois leva a grave hipocalemia. Ocorre aumento da nefrotoxicidade se utilizados diuréticos depletores
de potássio concomitantemente com a anfotericina B. Potencializa ainda, os efeitos depressores de
medula óssea quando administrada com outras drogas que possam causar discrasias sanguíneas.

Trecho do artigo Eficiência terapêutica das formulações lipídicas de anfotericina


B. Artigo disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v42n2/a03v42n2.pdf>.

A anfotericina B, fármaco descoberto em 1953, ainda permanece


como substância fungicida de escolha no tratamento da maioria das

44
FÁRMACOS ANTIMICÓTICOS │ UNIDADE II

micoses sistêmicas que acometem pacientes imunocomprometidos.


Mesmo com a sua toxicidade e a introdução de antifúngicos
azólicos sistêmicos na década de 1980, a potência, o espectro de
ação e os quase 50 anos de experiência clínica asseguram sua
efetividade tanto para o tratamento das infecções fúngicas quanto
para a profilaxia fúngica sistêmica em pacientes neutropênicos. Sua
eficácia tem sido julgada a cada medicamento antifúngico novo
apresentado aos profissionais de saúde e, por esta razão, numerosas
tentativas para reduzir sua nefrotoxicidade específica surgiram nos
últimos anos. Adicionalmente, a necessidade de se instituírem
tratamentos agressivos para as micoses sistêmicas invasivas com
dosagens necessariamente mais altas motivou o desenvolvimento
de diferentes veículos para a administração de anfotericina B.
Dentre eles, o encapsulamento de base lipossômica, a formação
de complexos lipídicos e dispersões coloidais destacam-se com os
melhores resultados na diminuição da toxicidade e aumento da
eficácia terapêutica. Vêm sendo desenvolvidos diversos trabalhos
direcionados ao desenvolvimento de preparações lipídicas como
veículo para anfotericina B, tendo como intuito a utilização dos
mecanismos farmacocinéticos dessas formulações a fim de
melhorar a distribuição do fármaco nos órgãos-alvo.

Nistatina
A nistatina é um antibiótico macrolídio poliênico de estrutura semelhante à da anfotericina B, com
o mesmo mecanismo de ação. Praticamente, não ocorre nenhuma absorção pelas mucosas do corpo
ou a partir da pele. O uso do fármaco limita-se a infecções fúngicas da pele e de mucosas por
Candida albicans.

Griseofulvina

Mecanismo de ação e espectro antifúngico


A griseofulvina possui ação fungistática e espectro limitado, sendo utilizada exclusivamente para
dermatófitos. Foi isolada de culturas de Penicillium griseofulvum. Sua atuação consiste em interagir
com os microtúbulos e inibir a mitose.

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

A griseofulvina é administrada por via oral e é bastante lipossolúvel. A sua absorção pode ser
otimizada ao administrarmos o fármaco junto com gorduras, ou utilizando as apresentações

45
UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTIMICÓTICOS

ultramicrocristalinizadas. Devemos ter atenção ao administrarmos essas apresentações, pois a dose


indicada deve ser reduzida pela metade.

As concentrações plasmáticas máximas são alcançadas em cerca de 5 horas. A griseofulvina é


captada seletivamente pela pele recém-formada e concentra-se na queratina. A fração do fármaco
que não é absorvido é eliminada nas fezes, apenas 1% da fração absorvida aparece na urina e o
restante fica impregnado na pele.

A griseofulvina pode ser administrada no tratamento de infecções da pele ou das unhas por
dermatófitos. A ação do fármaco depende da impregnação da pele das camadas mais profundas
para as mais superficiais, portanto o tratamento deve ter uma duração mínima de 40 dias.

Efeitos adversos
Os efeitos adversos associados à griseofulvina são pouco frequentes em animais, porém raramente o
fármaco pode causar distúrbios gastrintestinais, cefaleia e leucopenia discreta. Os animais tratados não
devem ser expostos ao sol, pois pode ocorrer fotossensibilidade. Além disso, podem ocorrer reações
alérgicas (exantemas e febre). O fármaco é contraindicado para gatas gestantes, pois determina o
nascimento de filhotes com fenda palatina.

46
Capítulo 2
Agentes antifúngicos sintéticos

Os azóis – Imidazóis e triazóis

Mecanismo de ação e espectro antifúngico


Os azóis incluem duas classes de fármacos: os imidazóis e os triazóis. As duas classes possuem o
mesmo espectro e mecanismo de ação, diferenciando-se pelo fato de os triazóis sistêmicos serem
metabolizados mais lentamente e apresentarem menos efeitos colaterais. Os imidazóis mais
utilizados em Medicina Veterinária são: o clotrimazol, o miconazol, o cetoconazol e o econazol. E os
triazóis são o itraconazol e o fluconazol.

Seu mecanismo de ação consiste em inibir enzimas fúngicas responsáveis pela conversão do
lanosterol em ergosterol, o principal esterol encontrado na membrana celular dos fungos. A depleção
de ergosterol altera a fluidez da membrana. O efeito final consiste em inibição da replicação. Os
azóis também inibem a transformação das células leveduriformes de Candida em hifas, a forma
invasiva e patogênica do parasita. A depleção do ergosterol da membrana reduz os sítios de ligação
da anfotericina B.

Cetoconazol

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

O cetoconazol foi o primeiro do grupo a ser administrado por via oral no tratamento das infecções
fúngicas sistêmicas.

Atualmente sua indicação principal é o tratamento da Malassezia. O fármaco tem boa atuação
contra diversos outros fungos, como nas dermatomicoses, porém não apresenta grandes vantagens
sobre a griseofulvina, além de ser mais caro e mais tóxico. Além disso, é comum a ocorrência de
recidiva após tratamento aparentemente bem sucedido.

O cetoconazol é bem absorvido por via oral, mas é solúvel em pH baixo, sendo indicada sua
administração nos intervalos entre as refeições. Distribui-se amplamente por todos os tecidos e
líquidos teciduais, porém não atinge concentrações terapêuticas no sistema nervoso central (SNC),
a não ser que sejam administradas altas doses.

É inativado no fígado e excretado na bile e na urina. A meia-vida plasmática é de 8 horas.

47
UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTIMICÓTICOS

Contraindicações, efeitos adversos e interações


medicamentosas

A principal contraindicação do fármaco é a gravidez, por ser teratogênico. Também não deve ser
administrado na lactação, em casos de trombocitopenia e insuficiência hepática.

O principal risco de cetoconazol é a hepatotoxicidade, que é rara, mas que pode ser fatal. Pode
ocorrer sem qualquer evidência clínica e evoluir até mesmo após a interrupção do tratamento.
Outros efeitos colaterais observados consistem em distúrbios gastrintestinais, prurido, erupção
cutânea e exantema, também podendo ocorrer tontura sonolência e fotofobia.

Podem ocorrer interações adversas com outros fármacos. A ciclosporina causa elevação das
concentrações plasmáticas do cetoconazol, o inverso também pode ocorrer ou a concentração de
ambos pode aumentar. A rifampicina, os antagonistas dos receptores de histamina H¹ e os antiácidos
diminuem a absorção do cetoconazol.

Miconazol

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

O miconazol pode ser administrado por via oral no tratamento de infecções fúngicas do trato
gastrintestinal. Além disso, pode ser administrado topicamente. O fármaco atinge rapidamente o
estrato córneo na pele e persiste por 4 dias após a aplicação. Menos de 1% vai para o sangue. Possui
meia vida plasmática curta devendo ser administrado a cada 8 horas. É inativado no fígado.

Contraindicações, efeitos adversos e


interações medicamentosas

Os efeitos indesejáveis são relativamente raros, e os mais comuns consistem em distúrbios


gastrintestinais, embora se tenha relatado também a ocorrência de prurido, discrasias sanguíneas
e hiponatremia.

Itraconazol

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

A principal via de administração é a oral. É altamente lipossolúvel e sua absorção depende do


pH gástrico, sendo recomendada sua administração com alimentos. Existe uma formulação em
que o fármaco é retido dentro de bolsas de P-ciclodextrina. Nesta forma, o itraconazol pode ser
administrado por via intravenosa, superando, assim, o problema de sua absorção variável pelo trato
gastrintestinal. Quando administrado por via oral, a meia-vida é de 36 horas e os níveis terapêuticos
na pele persistem por 2 a 4 semanas, após o fim do tratamento.

48
FÁRMACOS ANTIMICÓTICOS │ UNIDADE II

O itraconazol não ultrapassa a barreira hematoencefálica. Seu metabolismo é hepático e é eliminado


na urina.

Contraindicações, efeitos adversos e


interações medicamentosas

O itraconazol, assim como o cetoconazol é teratogênico sendo contra indicado em gestantes.


Devemos ter atenção quando administramos em gatos, pois nessa espécie os efeitos colaterais
são mais evidentes e dose-dependentes, podendo ocorrer perda de peso e lesão renal mais grave,
além de hepatotoxicidade e icterícia. O itraconazol é, atualmente, o fármaco de escolha para tratar
esporotricose em gatos. Sendo assim, devemos ter os cuidados necessários na administração e
monitorar a função renal e hepática.

Os efeitos adversos mais comunmente observados são distúrbios gastrintestinais, cefaleia e tontura.
Os efeitos indesejáveis raros incluem hepatotoxicidade e hipocalemia. Foi relatada a ocorrência de
reações cutâneas alérgicas

Ocorrem, também, interações farmacológicas semelhantes àquelas descritas para o cetoconazol.

Fluconazol

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

O fluconazol pode ser administrado por via oral ou por via intravenosa. Atinge concentrações
elevadas no LER e nos humores oculares e pode constituir o fármaco de primeira escolha na maioria
dos tipos de meningite fúngica. Também alcança boa distribuição na mucosa vaginal, na saliva, na
pele e nas unhas. Em Medicina Veterinária tem indicação para Cândida, Histoplasma, Blastomyces
e Criptococcus. Sua eliminação é 90% renal, 10% é eliminado nas fezes.

Contraindicações, efeitos adversos e


interações medicamentosas

O fármaco é contraindicado em animais com nefropatias ou hepatopatias e sua segurança na


gravidez não está comprovada, não devendo ser prescrito para gestantes e fêmeas em lactação.

Os efeitos indesejáveis, que geralmente são leves, consistem em distúrbios gastrointestinais, cefaleia
e dor abdominal. Foram observadas lesões cutâneas esfoliativas em alguns indivíduos e raramente
pode ocorrer hepatite. O fluconazol, nas doses habitualmente administradas, não produz a inibição
do metabolismo hepático de outros fármacos.

Flucitosina
Mecanismo de ação e espectro antifúngico
A flucitosina é convertida no antimetabólito 5-fluorouracil nas células dos fungos, mas não nas
células humanas. O 5-fluorouracil inibe a timidilato sintetase e, portanto a síntese de DNA.

49
UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTIMICÓTICOS

Podem surgir rapidamente mutantes resistentes, de modo que a flucitosina não deve ser utilizada
isoladamente.

O fármaco mostra-se ativo, principalmente, contra Cryptococcus e Candida.

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e


eliminação

Em geral, a flucitosina é administrada por infusão intravenosa, mas também pode ser utilizada
por via oral. Distribui- se amplamente por todos os líquidos corporais, incluindo o LCR. Cerca de
90% do fármaco é eliminado de modo inalterado pelos rins, e a meia-vida plasmática é de 3 a 5
horas. É preciso reduzir a dose na presença de comprometimento da função renal.

Quando administrada isoladamente, é comum o aparecimento de resistência ao fármaco. Desse


modo, a flucitosina é habitualmente combinada com a anfotericina no tratamento de infecções
graves, como a meningite criptocócica.

Contraindicações, efeitos adversos e


interações medicamentosas

A flucitosina não deve ser utilizada em pacientes com insuficiência renal ou hepática, discrasias
sanguíneas e gestantes.

Os efeitos adversos são raros. Podem ocorrer distúrbios gastrintestinais, anemia, neutropenia,
trombocitopenia e alopecia, porém esses efeitos são habitualmente leves e revertidos com a
interrupção do tratamento. Foi relatado que o uracil diminui os efeitos tóxicos sobre a medula
óssea, sem afetar a ação antimicótica. Também já foi relatada a ocorrência de hepatite.

Terbinafina

Mecanismo de ação e espectro antifúngico

A terbinafina é um dos mais recentes antimicóticos. Ainda não foram realizados estudos de sua
eficácia em animais, Porém devido aos bons resultados terapêuticos e poucos efeitos adversos em
humanos é interessante conhecermos suas propriedades farmacológicas e terapêuticas.

O fármaco tem ação fungicida contra uma ampla variedade de patógenos cutâneos. Atua ao inibir
seletivamente a enzima esqualeno epoxidase, que está envolvida na síntese de ergosterol a partir do
esqualeno na parede celular dos fungos. O acúmulo de esqualeno no interior da célula é tóxico para
o fungo.

50
FÁRMACOS ANTIMICÓTICOS │ UNIDADE II

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição


e eliminação

A terbinafina é utilizada no tratamento de infecções fúngicas das unhas. Quando administrada por
via oral, sofre rápida absorção e é captada pela pele, unhas e tecido adiposo. Quando administrada
topicamente, penetra na pele e nas mucosas. É metabolizada no fígado, e os metabólitos são
excretados na urina. Quando administrada topicamente, a terbinafina penetra na pele e nas mucosas.

Contraindicações, efeitos adversos e


interações medicamentosas
Em cerca de 10% dos indivíduos, são observados efeitos indesejáveis, que costumam ser leves.
Incluem distúrbios gastrintestinais, exantema, prurido, cefaleia e tonteira. Foi relatada a ocorrência
de dores articulares e musculares e, mais raramente, hepatite.

Antifúngicos de uso tópico


O clotrimazol, o econazol, o tioconazol e o sulconazol são imidazóis utilizados apenas por via tópica.
São largamente utilizados em medicina humana, porém, em geral, não têem indicações importantes
na clínica veterinária. O Tolciclato, também utilizado comunmente em humanos; em veterinária, é
indicado apenas para tratamento de otites causadas ou agravadas por Malassezia pachydermatis.

51
ANTIVIRAIS Unidade iII

Considerações gerais
Em Medicina Veterinária, devemos sempre instituir as medidas profiláticas necessárias para evitar as
doenças virais. Devem ser seguidos corretamente os protocolos vacinais para as diferentes espécies
e ter especial cuidado no manejo. Esses cuidados incluem o isolamento dos animais infectados,
descarte e desinfecção correta de material infectado.

De um modo geral, o uso de antivirais é extremamente caro, o que inviabiliza, em muitos casos, seu
uso na clínica veterinária.

Em bovinos, em geral, é realizada a profilaxia. O tratamento, mesmo o sintomático, acaba sendo


caro, porém é instituído dependendo do caso.

Em equinos, em geral, realiza-se tratamento sintomático.

Nos animais de companhia, a profilaxia realizada para prevenção de doenças virais também é de
extrema importância. Quando as infecções ocorrem, geralmente o tratamento é sintomático. Nas
doenças virais em cães, como na Cinomose, Parvovirose e Coronavirose, entre outras, não há um
medicamento que atue diretamente no vírus causador da infecção.

Em gatos, existem casos em que se utiliza antivirais como tratamento.

Na infecção por herpes vírus, por exemplo, o tratamento consiste no uso do interferon e
suplementação com l-lisina. Pode-se utilizar o aciclovir ou idoxuridina em apresentação oftálmica,
quando o paciente apresenta conjuntivite causada por herpes vírus.

52
Capítulo 1
Inibidores da síntese de ácidos nucleicos

Aciclovir

Espectro, indicações, mecanismo de ação e


resistência viral
O aciclovir foi o primeiro antiviral seletivo utilizado com sucesso na medicina humana. Em
veterinária, não é muito usado devido ao seu alto custo. Ainda assim, é utilizado em alguns casos,
em animais de companhia e, principalmente, em gatos.

O fármaco é um derivado da guanosina, e possui alta especificidade contra o herpes vírus simples e
o vírus varicela-zoster. O aciclovir exerce, também, efeito contra o citomegalovírus, um herpes vírus
que pode afetar o feto e afetar, principalmente indivíduos com respostas imunológicas diminuídas
(devido a doenças ou agentes imunossupressores).

O herpes vírus é o mais suscetível ao aciclovir e pode causar herpes simples, conjuntivite, úlceras
bucais, infecções genitais e, raramente, porém de forma muito grave, encefalite. Em pacientes
imunocomprometidos, o herpes vírus é muito mais agressivo.

O aciclovir é fosforilado em monofosfato pela timidina quinase viral. Sendo assim, o fármaco é
ativado apenas nas células infectadas. Então, as quinases das células do hospedeiro convertem o
monofosfato em trifosfato. O trifosfato do aciclovir inibe a DNA polimerase viral, interrompendo a
cadeia de nucleotídios. O fármaco é trinta vezes mais potente contra a enzima do herpesvirus do que
contra a enzima do hospedeiro.

O trifosfato do aciclovir sofre degradação bastante rápida no interior das células do hospedeiro,
presumivelmente por fosfatases celulares. Foi relatado o desenvolvimento de resistência ocasionada
por alterações dos genes virais que codificam a timidina quinase ou a DNA polimerase.

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição


e eliminação

O aciclovir pode ser administrado por via oral, intravenosa ou tópica. Quando administrado
por via oral, apenas 20% é absorvido. O fármaco distribui-se amplamente, inclusive no líquido
cefaloraquidiano, atingindo concentrações que correspondem a 50% das concentrações plasmáticas.

A eliminação é feita por via renal.

53
UNIDADE III │ ANTIVIRAIS

Efeitos colaterais e contraindicações


Os efeitos colaterais do uso do aciclovir são, em geral, relacionados ao trato gastrointestinal,
como náuseas, vômitos, diarreia e dores abdominais. Podem ocorrer também erupções cutâneas,
que desaparecem espontaneamente com a descontinuação do tratamento. Além disso, já foram
observados fadiga e distúrbios neurológicos.

Também podem ocorrer aumento da ureia e creatinina e ainda pequenos decréscimos nos índices
hematológicos.

O uso do aciclovir é contra indicado em pacientes gestantes, lactentes e insuficientes renais.

Idoxuridina
O fármaco bloqueia a DNA polimerase, inibindo a replicação do herpes vírus simples na córnea,
ajudando no processo de cicatrização da ceratite herpetica. É utilizado em medicina humana e,
também, pode ser administrado em animais.

Seu uso é apenas tópico, devido aos seus efeitos tóxicos sobre a medula óssea, fígado e rins, quando
utilizado por outras vias.

54
Capítulo 2
Imunomoduladores

Os imunomoduladores são fármacos que atuam melhorando a resposta imunológica aos vírus ou
que utilizam um mecanismo imunológico para combater uma infecção viral.

Imunoglobulina
A imunoglobulina misturada contém anticorpos contra diversos vírus patogênicos. Os anticorpos
agem no envelope viral e podem “neutralizar” alguns vírus e impedir a sua fixação nas células
do hospedeiro.

Quando utilizada antes do aparecimento dos sinais e sintomas, pode atenuar ou evitar o sarampo, a
hepatite infecciosa, a rubéola, a raiva ou a poliomielite. Existem globulinas hiperimunes, específicas
contra a hepatite B, a herpes-zoster e a raiva.

Em Medicina Veterinária, a imunoglobulina humana, principalmente IgG, tem sido utilizada no


tratamento da anemia auto imune hemolítica e na trombocitopenia imunomediada em cães.

Posologia de 0,4 a 0,5 mg/kg/dia por 5 dias, IV.

Interferon
Os Interferons (IFNs) constituem uma família de proteínas induzíveis, que são sintetizados por
células de mamíferos. Atualmente são produzidos pela tecnologia do DNA recombinante. Constituem
uma família de hormônios envolvidos no crescimento celular e na regulação e modulação das
reações imunes.

Indicações e mecanismo de ação


O IFN tem sido utilizado na clínica veterinária no tratamento da infecção pelos vírus da leucemia felina
(Felv/VLF) e também contra o vírus da rinotraqueite infecciosa bovina em bezerros desmamados.
Quando utilizados para quimioterapia antiviral, os IFNs atuam, em parte, ao aumentar a resposta
imune do hospedeiro.

Tem se observado que gatos tratados com interferon humano tiveram melhora clínica e os valores
do hematócrito retornaram ao normal, porém não preveniu o óbito.

Os IFNs atuam ao induzir, nos ribossomas das células do hospedeiro, a produção de enzimas que
inibem a tradução do mRNA viral em proteínas virais, interrompendo, assim, a reprodução dos
vírus. Estudos in vitro têm demonstrado a inibição da replicação de grande parte dos vírus.

55
UNIDADE III │ ANTIVIRAIS

Farmacocinética

Via de administração e distribuição

Os Interferons podem ser administrados por via endovenosa e intramuscular. Os IFNs distribuem-se
bem no organismo e não atravessam a barreira hematoencefálica.

Efeitos colaterais e contraindicações


Os efeitos indesejáveis são comuns e consistem em febre, cansaço, cefaleia e mialgia. As injeções
repetidas causam mal-estar crônico. Além disso, podem ocorrer depressão da medula óssea,
exantemas, alopecia e distúrbios da função cardiovascular, tireoidiana e hepática.

Adamantanaminas
Inibe o desnudamento de mixovirus. Tem ação efetiva contra o vírus da Influenza A e do vírus da
doença de Aujeszky em suínos.

Os efeitos colaterais consistem em alterações no SNC.

O texto retirado do artigo Doença de aujeszky: revisão de literatura nos mostra


um exemplo de como a prevenção tem um papel primordial na abordagem de
doenças virais em Medicina Veterinária. O artigo encontra-se disponível em <http://
www.revista.inf.br/veterinaria10/revisao/edic-vi-n10-RL35.pdf>.

O agente etiológico é um herpesvírus suíno tipo 1, ou vírus da


Doença de Aujeszky (VDA), classificado na família Herpesviridae,
subfamília Alphaherpesvirinae, gênero Varicellovirus (ROIZMAN;
PELLET, 2001). Os hospedeiros primários do VDA são os suínos
domésticos e silvestres, embora o vírus possa infectar outras
espécies de mamíferos domésticos, entre os quais gatos, cães
e bovinos. Nessas espécies, o vírus produz encefalite de curso
agudo fatal, o que reduz a importância epidemiológica desses
hospedeiros na manutenção e disseminação da enfermidade
(KLUGE et al., 1999; SOBESTIANSKY et al., 1999).

Após a infecção primária, o vírus migra para gânglios nervosos,


via terminações nervosas periféricas, podendo estabelecer
infecção latente ou invadir o Sistema Nervoso Central (SNC).
O estabelecimento de latência torna o animal uma fonte de
disseminação viral durante toda a vida (SOBESTIANSKY et al., 1999).

Em animais jovens, predominam sinais neurológicos com a taxa de


mortalidade aproximando-se dos 100%. Em leitões não imunes,
a enfermidade caracteriza-se por sinais de comprometimento
neurológico e respiratório e em adultos caracteriza-se por

56
ANTIVIRAIS │ UNIDADE III

febre, taxas variáveis de aborto, reabsorção fetal, dificuldade


respiratória e, eventualmente, vômitos. A mortalidade nessa
faixa etária é, geralmente, baixa. Assim, as perdas relacionadas à
DA são decorrentes das altas taxas de mortalidade e morbidade
de leitões, queda da produtividade de reprodutores e redução
do desenvolvimento dos animais em crescimento e terminação
(KLUGE et al., 1999; SOBESTIANSKY et al., 1999).

A vacinação de suínos contra a Doença de Aujeszky é uma prática


comum na maioria dos países com ocorrência endêmica da
doença. Embora a imunidade induzida pela vacinação de suínos
não impeça a excreção viral após infecção, a utilização de vacinas
contra esta enfermidade tem como objetivo não só proteger os
suínos contra as manifestações clínicas da doença, mas também
prevenir o estabelecimento da infecção ou, se esta ocorrer, reduzir
a eliminação viral (CUNHA, 2004).

No Brasil, o uso é regulado por órgãos oficiais e só é permitido em


situação de foco (MAPA, 1985).

57
ANTIPARASITÁRIOS Unidade iV

Capítulo 1
Agentes contra nematoides

Benzimidazóis

Espectro e mecanismo de ação


Os benzimidazóis são agentes anti-helmínticos de amplo espectro, e constituem um dos principais
grupos utilizados na clínica veterinária. Esse grupo inclui o mebendazol, o tiabendazol e o
albendazol, o fenbendazol e o oxibendazol.

Possuem ação inibitória sobre a fumarato-redutase, levando à quebra na produção de energia dos
helmintos, e consequentemente paralisia e morte do parasita. A ação desses fármacos é 250-400
vezes mais potente nos helmintos do que no tecido dos mamíferos. O efeito leva tempo para se
manifestar, e os vermes podem ser expelidos apenas depois de vários dias.

Mebendazol

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

É administrado em dose única para oxiúros e duas vezes ao dia, durante três dias, para infestações
por ancilóstomos e nematoides. Deve ser repetido após 15 dias por não atingir as larvas teciduais. É
amplamente utilizado na clínica veterinária por ser um fármaco eficiente e barato.

O mebendazol é, em geral, administrado por via oral tendo apenas 10% de sua dose absorvida. Sua
absorção é otimizada quando administrado com gorduras. O metabolismo é rápido, e os produtos
são eliminados na urina e na bile dentro de 24 a 48 horas.

Efeitos adversos

O uso do mebendazol apresenta poucos efeitos adversos, sendo mais comum a ocorrência de
distúrbios gastrintestinais.

58
ANTIPARASITÁRIOS │ UNIDADE IV

Tiabendazol

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

O tiabendazol é também administrado por via oral e é rapidamente absorvido pelo trato
gastrintestinal. Sua eliminação é feita por meio da urina sob a forma conjugada.

Sua posologia costuma ser: administrar duas vezes ao dia, durante três dias, para infestações por
estrongiloides, e por um período de até cinco dias para infestações por ancilóstoma e nematoides.

Contraindicações e efeitos adversos

Costuma ser classificado como um fármaco seguro na gestação, porém alguns autores têm relatado
a ocorrência de toxemia em cabras.

Os efeitos adversos do tiabendazol não são raros, e ocorrem mais em cães, especialmente os da
raça Dachshund que são particularmente sensíveis. Os mais comuns consistem em distúrbios
gastrintestinais, embora já se tenha relatada a ocorrência de letargia, podendo ocorrer também
reações alérgicas (febre, exantema). Raramente pode ocorrer necrólise epidérmica tóxica,
principalmente quando se realiza tratamentos prolongados e doses altas. Devido á sua toxicidade,
atualmente, seu uso tem sido evitado.

Albendazol

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

O albendazol é administrado por via oral e sofre rápida absorção e metabolismo a sulfóxido e sulfona,
que provavelmente são responsáveis pelas suas ações anti-helmínticas. A concentração plasmática
do metabólito ativo é 100 vezes maior que a do mebendazol.

Contraindicações e efeitos adversos

O fármaco não deve ser administrado em bezerros lactentes e em vacas nos primeiros 45 dias de
gestação e lactantes.

Os efeitos adversos consistem, em geral, em distúrbios gastrintestinais, porém não são muito
comuns. Cães podem apresentar anorexia e gatos, uma discreta letargia.

É o anti-helmíntico de escolha para ruminantes.

Oxibendazol
É o mais utilizado para equinos, porém não deve ser administrado em cavalos com cólica, debilitados,
com toxemia ou doenças infecciosas. É um fármaco seguro para éguas em gestação.

59
UNIDADE IV │ ANTIPARASITÁRIOS

Fenbendazol
O fármaco é utilizado amplamente em equinos, bovinos, cães e animais silvestres, por ter baixíssima
toxicidade e alta eficiência anti-helmíntica. Os carnívoros devem ser tratados por três dias seguidos.
Uma pequena fração do fármaco é absorvida.

Imidatiazóis

Levamisol

Espectro, indicações e mecanismo de ação

O fármaco é eficaz nas infecções por nematoides gastrintestinais e pulmonares, sendo o fármaco de
escolha para os pulmonares. O levamisol apresenta também uma ação imunoestimulante. É capaz
de estimular a fagocitose e restaurar o número de linfócitos T.

Age inibindo as colinesterases e bloqueando a fumarato-redutase, bloqueando as junções


neuromusculares. Os vermes paralisados são então eliminados nas fezes. O fármaco não possui
ação contra os ovos.

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

O fármaco, que é administrado por via oral, sofre rápida absorção e distribui-se amplamente.
Atravessa a barreira hematoencefálica. O levamisol é metabolizado no fígado a metabólitos inativos.
Sua eliminação é principalmente renal, uma pequena parte é eliminada nas fezes e no leite.

Contraindicações, efeitos adversos e


interações medicamentosas

O fármaco é contra indicado em lactantes, animais extremamente debilitados e com insuficiência


renal ou hepática. Devemos adiar a aplicação em animais que foram vacinados ou sofreram algum
tipo de estresse. Também não pode ser administrado em equinos, pois a DL50 nessa espécie é apenas
o dobro da dose terapêutica (7,5 mg/Kg). Carnívoros também são suscetíveis a efeitos adversos,
sendo assim o levamisol é usado apenas como imunoestimulante em baixas doses (2 mg/Kg). As
aves são mais resistentes.

Os efeitos adversos observados são, em geral, excitação e sialorreia, nas doses terapêuticas. Nunca
devemos usar doses mais altas, pois o fármaco é extremamente tóxico, causando sintomas graves
como convulsões, dispneia, hiperestesia e micção e evacuação invonluntárias.

Sua toxicidade é aumentada quando administrada com drogas nicotínicas e inibidores da


colinesterase. A associação com o cloranfenicol pode ser fatal. Quando administrado junto com a
vacina contra Brucella abortus, aumenta sua eficiência.

60
ANTIPARASITÁRIOS │ UNIDADE IV

Febantel
O fármaco, quando é metabolizado, produz substâncias semelhantes ao febendazol. No Brasil, só
existem apresentações em associação com outros anti-helmínticos.

Avermectinas

Espectro, indicações e mecanismo de ação

As avermectinas fazem parte de um grupo de substâncias obtidas a partir de um actinomiceto.


Apresenta potente atividade anti-helmíntica, incluindo em seu espectro de ação as filarioses,
oncocercoses, Ascaris e Trichuris. Além disso, também têm ação contra bernes, miíases e sarnas,
sendo, atualmente, a ivermectina o fármaco de escolha para o tratamento das sarnas sarcóptica,
otodécica e demodécica.

A ação das avermectinas, provavelmente, consiste na sua ligação aos canais de cloreto ativados por
glutamato, encontrados nas células nervosas e musculares dos helmintos. Essa ação causa uma
hiperpolarização, devido ao aumento da permeabilidade da membrana ao cloreto, resultando na
paralisia do parasito.

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e


eliminação

As avermectinas, em geral, são administradas por via oral. Podemos encontrar a moxdectina em
spot on (aplicação tópica), em associação com a imidacloprida, para cães e gatos.

A absorção é rápida e a distribuição ocorre amplamente no organismo e em doses normais não


chega ao SNC.

O metabolismo é hepático e a eliminação ocorre primariamente pelas fezes, pequena quantidade é


eliminada pela urina.

Contraindicações e efeitos adversos

São contra indicadas em cães pastores e seus mestiços (como o Collie e Old English Sheepdog). Essas
raças possuem uma maior permeabilidade na barreira hematoencefálica, desse modo o fármaco
chega ao SNC, causando intoxicação.

Os efeitos adversos não são comuns, geralmente as avermectinas são bem toleradas. Quando
ocorrem consistem em erupções cutâneas, febre, vertigem, cefaleia e dor muscular e articular.

61
UNIDADE IV │ ANTIPARASITÁRIOS

Outros agentes contra nematoides

Pirantel

Espectro, indicações e mecanismo de ação

Possui amplo espectro de ação contra nematoides gastrointestinais, principalmente Ancylostoma


e ascarídeos. Sua eficácia contra larvas e formas imaturas é irregular. É um fármaco ainda muito
utilizado em cães, gatos e cavalos. Em bovinos, tem sido substituído por anti-helmínticos de
amplo espectro.

O pirantel atua despolarizando a junção neuromuscular dos helmintos, causando espasmo e


paralisia.

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

Administração é realizada por via oral, ocorrendo pouca absorção pelo trato gastrintestinal. É mais
eficaz em monogástricos, devido ao pH gástrico que favorece a absorção do fármaco. O metabolismo
é hepático e a eliminação ocorre de maneira quase exclusiva pelas fezes.

Efeitos adversos

Em geral, o pirantel é considerado um fármaco seguro. Os efeitos adversos quando ocorrem são
leves e consistem em desconforto abdominal e distúrbios gastrintestinais. Também podem ocorrer
tonteira e febre.

Piperazina

Espectro, indicações e mecanismo de ação

A piperazina é um dos fármacos mais antigos utilizados em Medicina Veterinária e atualmente pode
ser utilizada em porcos, aves, bovinos, ovinos, cães e gatos. Porém o uso do fármaco vem sendo
substituído pelos benzimidazóis que possuem amplo espectro e são mais modernos.

O fármaco atua apenas contra infecções por ascarídeos e por oxiúros. No tratamento de infecções
por ascarídeos, é eficaz em dose única. Para os oxiúros, o tratamento tem duração de 7 dias e as
doses são menores.

Seu mecanismo de ação consiste em inibir reversivelmente a transmissão neuromuscular do verme,


provavelmente ao atuar como o ácido gama-aminobutírico (GABA), o neurotransmissor inibitório
dos canais de cloreto regulados por GABA no músculo do nematoide. Os vermes paralisados são
expelidos vivos, sendo assim é comum a reinfestação.

62
ANTIPARASITÁRIOS │ UNIDADE IV

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

A piperazina é administrada por via oral, e parte do fármaco é absorvido. Ocorre metabolismo parcial
no fígado e o restante é eliminado pelos rins em sua forma inalterada. O fármaco é totalmente
eliminado em um a três dias após a administração. Porém, nas aves de postura, podemos detectar
resíduos nos ovos até 17 dias após a administração do fármaco.

Efeitos adversos

São incomuns, podendo ocorrer distúrbios gastrintestinais. Em alguns pacientes foram observados
urticária, broncoespasmo, tonteira, parestesias, vertigem e incoordenação.

Arsenamida Sódica
O fármaco é utilizado exclusivamente no tratamento da dirofilariose canina, tendo efeito apenas
contra os vermes adultos.

A droga tem como efeitos colaterais hepato e nefrotoxicidade, sendo assim é contra indicada em
animais que já apresentem alguma alteração hepática ou renal. Seu uso deve ser descontinuado
imediatamente em casos de vômito, hematúria e icterícia.

Outra desvantagem do fármaco é seu grande efeito sobre os vermes adultos, o que pode levar a
embolia e morte do hospedeiro, devido à morte de muitos vermes simultaneamente.

Milbemicina Oxima
Atua de maneira similar às avermectinas. Sua principal indicação é a prevenção da dirofilariose,
por meio da administração mensal do fármaco. Tem ação também contra Ancylostoma, Toxocara
e Trichuris.

Há poucos casos de efeitos colaterais com seu uso, sendo considerada uma droga segura.

63
Capítulo 2
Agentes contra cestoides

Praziquantel
Espectro e mecanismo de ação
O praziquantel é um fármaco anti-helmíntico de amplo espectro. Trata-se do fármaco de escolha
para o tratamento de todas as espécies de esquistossomas em humanos. Também é eficaz nos casos
de teníases e cisticercose, Dipilidium e Equinococcus. O fármaco atua contra os vermes adultos e
também contra as formas imaturas e cercárias.

Seu mecanismo de ação tem correlação com o aumento da permeabilidade ao cálcio, causando
contração da musculatura, paralisia e morte do parasita. O fármaco também é capaz de tornar o
parasita suscetível às respostas imunes do hospedeiro.

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição e eliminação

O fármaco é administrado por via oral e sofre rápida absorção. Grande parte do fármaco é rapidamente
metabolizada pelo fígado e os metabólitos são eliminados na urina.

Efeitos adversos
É considerado um fármaco seguro. Os efeitos adversos, quando ocorrem, costumam ser anorexia,
letargia e vômitos em cães, e salivação e diarreia em gatos. Não deve ser administrado em cães com
menos de 4 semanas e em gatos com menos de 6.

Nitroscanato
É uma substância nova não tendo nenhum parentesco com qualquer outro grupo dos anti-
helmínticos conhecidos. Tem amplo espectro de ação, atuando contra cestoides (Dipylidium,
Echinococcus e Taenia). E também contra Toxocara, Ancilostomas e estrongiloides.

O fármaco é bem absorvido após administração oral. Seu metabolismo é feito por via hepática e a
eliminação é renal. Já foi verificado o aumento de enzimas hepáticas com seu uso em doses terapêuticas.

Niclosamida
A niclosamida, apesar de ser um fármaco seguro, com poucos efeitos colaterais, está praticamente
em desuso devido a seu espectro de ação reduzido. O fármaco tem ação apenas em tênias, e não tem
ação contra as formas imaturas. Por essa razão, vem sendo substituído pelo praziquantel.

64
Capítulo 3
Agentes contra trematóides

Nitroxinil
É indicado no tratamento e controle da Fasciola hepatica, porém só atua contra a forma adulta do
parasito. Também age contra Haemonchus, Bunostomum e Oesophagostomum em bovinos, ovinos
e caprinos. Além disso, tem ação contra o Oestrus ovis, o “bicho da cabeça” dos ovinos.

O nitroxinil age desacoplando a fosforilação oxidativa, o que interfere na obtenção de energia e mata
os parasitos por inanição.

O fármaco determina aumento do metabolismo do hospedeiro, mas, em geral, é bem tolerado, não
ocasionando efeitos adversos sérios. Deixa resíduos na carne, sendo o período de carência de 30 dias.

Rafoxanida
O fármaco atua contra a Fasciola hepática, tendo efeito em todas as fases de desenvolvimento do
parasita. A via de administração é oral e é bem absorvida e distribuída. O metabolismo é hepático e
a eliminação renal.

A rafoxanida é um pouco mais tóxica que o nitroxinil, podendo causar lesões oculares, anorexia e
diarreia. O fármaco não pode ser administrado em vacas lactantes.

65
Capítulo 4
Agentes contra ectoparasitas

Organofosforados
As principais substâncias dessa classe, comercializadas para uso veterinário são: o triclorfon,
malation, clorpirifós, coumafós, diazinon, diclórvos, dimetoato e fention.

Mecanismo de ação e espectro antiparasitário


Os organofosforados agem inibindo irreversivelmente as acetilcolinesterases do parasito,
interferindo nas transmissões neuromusculares, sendo parasiticida.

Essas substâncias atuam contra uma ampla variedade de ecto e endoparasitas. mNo entanto, devido
à altíssima toxicidade, encontram-se praticamente em desuso. Ainda existem várias apresentações
no mercado, principalmente as tópicas para o tratamento de infestações por carrapatos, sarnas
e piolhos e também contra bernes e miíases. Porém quando usadas topicamente causam sérias
intoxicações, principalmente quando a área de aplicação possui tecidos lesados. Isso ocorre porque,
grande parte é absorvida pela pele, mesmo estando íntegra.

Efeitos adversos
As intoxicações por organofosforados causam alterações no sistema nervoso autônomo. Os sintomas
em geral incluem: cólica, diarreia, tremores musculares, ataxia, sialorreia e broncoespasmo. Além
disso, podemos observar miose, que consiste em sinal patognomônico de intoxicação.

O antídoto é a atropina, que deve ser administrada por via subcutânea o mais rápido possível, na
dose de 0,2 mg/Kg. O uso da atropina deve ser feito com muita cautela porque, como é um fármaco
parassimpatolítico, também é passível de causar intoxicações. A atropina é contra indicada em
equinos, pois causa diminuição da motilidade e íleo paralítico. Seu uso em ruminantes deve ser
evitado por causar, também, diminuição da motilidade.

Carbamatos
São substâncias que agem inibindo reversivelmente as colinesterases.

Os carbamatos são menos passíveis de causar intoxicações que os organofosforados, mas quando
ocorrem a sintomatologia é a mesma. Os carbamatos não consistem em tratamento de escolha para
ectoparasitoses em pequenos animais, porém em grandes animais ainda são bastante utilizados
devido ao seu baixo custo. Têm indicação para o tratamento de infestações por Anocentor nitens

66
ANTIPARASITÁRIOS │ UNIDADE IV

(carrapato da orelha dos equinos). Nesses casos, utiliza-se uma apresentação com o propoxur em
associação com um organofosforado (coumafós).

Imidinas (Amitraz)
Seu mecanismo de ação consiste em inibir a enzima monoaminoxidase (MAO) e interagir com
receptores adrenérgicos, deprimindo o SNC do parasito.

É utilizado para tratar infestações por carrapatos, sarnas e piolhos.

O amitraz é contraindicado em equinos por causar nessa espécie efeitos adversos severos como o
íleo-paralítico.

Quando ocorre intoxicação, esta é caracterizada principalmente pela depressão do SNC, ocorrendo
sintomas tais como sedação, perda dos reflexos, letargia e incoordenação motora.

Em recente estudo retrospectivo sobre as causas mais comuns


das intoxicações em cães e gatos, 13,9% foram causados por
pesticidas, dentre eles, 39,3% por organofosforados, 35,7% por
carbamatos e 25% por amitraz (XAVIER et al., 2002).

O amitraz causa intoxicação frequente, mas considerada de baixa


letalidade, porém diluições, vias de administração incorretas e
distúrbios preexistentes do animal como cardiopatia ou diabetes
podem complicar seriamente o quadro clínico desta intoxicação.

Os textos apresentados acima e a seguir foram retirados de um estudo realizado em


gatos, o qual sugere o uso do amitraz como alternativa terapêutica para o tratamento
de sarnas nessa espécie. O estudo sugere ainda que as alterações observadas nos
felinos avaliados sejam as mesmas que podem ocorrer nas demais espécies em que
o fármaco possui indicação (cães, bovinos, ovinos e suínos). O arquivo encontra-se
disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=33137417>.

O amitraz é um inseticida do grupo das formamidinas muito


utilizado como acaricida e carrapaticida em medicina veterinária.
O presente trabalho teve como objetivo analisar as alterações
induzidas com o uso do amitraz por via tópica, através de banho,
em concentração terapêutica de 0,05%, avaliando-se a frequência
cardíaca, o eletrocardiograma, a pressão arterial sistólica, a
frequência respiratória, a temperatura retal, o diâmetro pupilar e
o grau de sedação, além da dosagem da concentração de glicose,
insulina e cortisol. As alterações observadas foram diminuição da
pressão arterial, hipotermia, vômito, salivação, midríase, grau de
sedação leve e aumento no nível de glicose.

Alguns animais, individualmente, em alguns momentos, também


apresentaram arritmia sinusal. Apesar de ter ocorrido diminuição
da frequência cardíaca e pressão arterial sistólica e aumento no

67
UNIDADE IV │ ANTIPARASITÁRIOS

nível de glicose, esses valores estavam dentro da normalidade


referida para a espécie felina.

O trabalho demonstrou que a utilização do amitraz por via tópica


em concentração terapêutica é segura em gatos hígidos e, assim
como ocorre em outras espécies, o seu uso deve ser contraindicado
em gatos diabéticos, com problemas cardíacos e hipotérmicos.

Piretroides
Sua principal ação consiste em alterar a ação da bomba de sódio e potássio nas células nervosas,
induzindo a uma paralisia temporária do parasito.

São muito utilizados em aves, sendo a primeira escolha contra ectoparasitos nessas espécies.

Em geral são substâncias pouco tóxicas, sendo observadas reações de hipersensibilidade.

Monossulfeto de tetraetiltiuram
Também chamado de monossulfiram é absorvido, após sua aplicação, pela pele e metabolizado pelo
fígado. Depois de sofrer metabolismo, gera metabólito semelhante aos carbamatos. Sendo assim,
apresenta ação e efeitos adversos semelhantes.

Pode ser utilizado apenas para o tratamento da escabiose. Porém, está em desuso em medicina
veterinária, devido à dificuldade de aplicação, necessidade de vários dias para se atingir eficiência
terapêutica, e baixa eficácia do tratamento. Atualmente, o fármaco de escolha para o tratamento da
escabiose, assim como o da sarna otodécica e demodécica são as avermectinas, por via oral, como
vimos anteriormente.

Fipronil
O Fipronil é altamente efetivo contra pulgas, piolhos e carrapatos. Seu mecanismo de ação baseia-se
no bloqueio pré e pós-sináptico da passagem dos íons cloro pelos neurotransmissores GABA,
matando os parasitas por hiper-excitação.

Uma particularidade do fármaco é sua afinidade por gordura. Sendo assim, ele é absorvido e
constantemente eliminado junto à secreção sebácea sobre a pele e pelo dos animais, o que resulta
em seu longo período de efeito residual. Pode ser administrado em gestantes e em recém-nascidos.

Nitempiram
Esse fármaco atua bloqueando os receptores nicotínicos de acetilcolina, provocando a paralisia e
morte das pulgas.

68
ANTIPARASITÁRIOS │ UNIDADE IV

Após a administração por via oral, é rapidamente absorvido a partir do trato gastrointestinal.
As concentrações sanguíneas máximas são alcançadas entre 15 minutos e uma hora após a
administração. Mais de 90% do princípio ativo é eliminado por via urinária, dentro de 24 horas, em
cães, e 72 horas em gatos, principalmente na forma de molécula não metabolizada. Sendo assim, é
um pulicida potente e eficaz, porém não apresenta efeito residual.

É interessante começar o tratamento com o nitempiram e continuar com o fipronil, uma vez ao mês,
para prevenir novas reinfestações.

Também é o fármaco de escolha na clínica veterinária para eliminar miíases e bernes, pois as larvas
saem vivas da área lesionada, diminuindo a reação inflamatória local, com baixíssima incidência de
efeitos adversos. Pode ser administrado em gestantes e em filhotes acima de 4 semanas.

Lufenuron
Seu mecanismo de ação bloqueia a síntese de quitina, o principal componente do exoesqueleto dos
artrópodes, evitando assim com que o inseto consiga eclodir do ovo.

O lufenuron não tem ação sobre a pulga adulta, porém interrompe o ciclo de vida do inseto. As fezes
produzidas pelas pulgas expostas ao fármaco exercem ação larvicida sobre as larvas do ambiente,
pois as pulgas alimentam-se de fezes produzidas por elas próprias.

Também é interessante associar o lufenuron ao fipronil, assim realizamos o controle das pulgas no
animal e no ambiente.

69
Capítulo 5
Agentes contra protozoários

Considerações gerais
Diversos tipos de coccidiostáticos são adicionados às rações de aves como tratamento preventivo,
pois esses parasitos constituem os maiores causadores de morte nessas espécies. Quando o
indivíduo parasitado começa a apresentar sintomas os níveis de parasitos no organismo
já estão muito elevados tornando-se difícil e caro o seu tratamento. Os principais agentes
coccidiostáticos utilizados são: clopidol, nicarbazina, nitrofurazona, toltrazuril,maduramicina
e narazina.

É importante ressaltar que essas substâncias são extremamente tóxicas para equinos, podendo ser
fatal mesmo em pequenas quantidades.

Metronidazol

Indicações e mecanismo de ação

Age principalmente contra Giardia, Entamoeba e Trichomonas. Seu mecanismo de ação consiste
na inibição da síntese de ácido desoxirribonucleico e na degradação do DNA.

Farmacocinética

Via de administração, absorção, distribuição


e eliminação

O fármaco é bem absorvido por via oral, principalmente na presença de alimentos. O metronidazol
distribui-se rapidamente por todos os tecidos, atingindo altas concentrações nos líquidos corporais,
incluindo LER. Parte do fármaco é metabolizado no fígado, enquanto a maior parte é eliminada por
via renal.

Efeitos adversos e contraindicações

São observados poucos efeitos adversos com o uso de doses terapêuticas. Há maior incidência
de efeitos colaterais nos carnívoros. Nesses casos, podem ocorrer letargia, anorexia, distúrbios
gastrointestinais, além de neutropenia e hepatotoxicidade. O fármaco é contra indicado em
gestantes, animais debilitados e portadores de insuficiência renal ou hepática.

70
ANTIPARASITÁRIOS │ UNIDADE IV

Pirimetamina
Seu mecanismo de ação é o mesmo da trimetoprima. Em humanos, pode ser utilizada no tratamento
da malária; porém, na clínica veterinária, sua única indicação é o tratamento da toxoplasmose, em
associação com sulfonamidas.

A farmacocinética é similar a das sulfonamidas. A pirimetamina é menos eficaz e mais tóxica que
a trimetoprima. Seu uso pode levar a deficiência de ácido fólico também no hospedeiro, levando a
sintomas como anorexia, emese, letargia e depressão da medula óssea. Esse efeito é revertido com a
administração de ácido fólico na dose de 5 mg/Kg/dia.

Amprólio
O fármaco é um análogo estrutural da vitamina B1 (tiamina). É indicado para tratamento e
prevenção de eimerioses e age causando deficiência de tiamina no parasito. Porém, não possui
muita seletividade e, quando administrada por períodos longos, causa deficiência de tiamina no
hospedeiro. Os sintomas observados são: sinais neurológicos, anorexia, letargia, diarreia e emese.

Nesses casos, devemos administrar tiamina na dose de 1-10 mg/Kg/dia, IM ou EV.

Dipropionato de imidocarb
O imidocarb atua provocando alterações morfológicas e funcionais do núcleo e do citoplasma do
parasito.

Seus efeitos colaterais são semelhantes aos do diminazeno, porém possui maior eficácia terapêutica.
Seu espectro de ação engloba todas as bebesias e também Erlichia e Anaplasma.

O fármaco é recomendado na dosagem de 5 a 7 mg/kg, por via intramuscular ou subcutânea, sendo


recomendadas duas aplicações com um intervalo de quatorze dias.

Os efeitos colaterais que podem ser observados com o tratamento com imidocarb ou diminazeno
são: depressão, vocalização contínua, opistótono, ataxia, rigidez extensora, nistagmo e convulsões,
salivação transitória, diarreia, dispneia, lacrimejamento, depressão e vômitos. Também podem
apresentar dor no local da aplicação.

Para evitar efeitos colinérgicos, recomenda-se o uso do sulfato de atropina, na dosagem de 0,04mg/
kg, dez minutos antes da aplicação do imidocarb.

O trecho a seguir nos coloca diante de uma questão importante na terapêutica


antiparasitária veterinária, na qual alguns estudos sugerem que, em certos
casos, a erradicação total da infecção não é a melhor alternativa. Texto
disponível em: <http://www.qualittas.com.br/principal/uploads/documentos/
BabesioseCaninaJanaynaCardosoGuimaraes.pdf>.

71
UNIDADE IV │ ANTIPARASITÁRIOS

Estudos têm demonstrado que o dipropionato de imidocarb


causa a eliminação completa do agente do organismo animal,
ele impede a perpetuação do estímulo antigênico, o que faz com
que a proteção seja limitada, e os animais tornem-se suscetíveis a
novas infecções. Nestas condições, a persistência de uma infecção
residual seria desejável para que houvesse uma estimulação
antigênica periódica, bem como a manutenção de um título
adequado de anticorpos, os quais, em conjunto, promoveriam
proteção prolongada. Portanto, o uso de medicamentos
antibióticos, como a doxiciclina, poderia ter essa finalidade, pois
não causariam a extinção completa do agente, apenas limitariam
a infecção. (BRANDÃO; HAGIWARA, 2002).

Aceturato de diminazeno
O aceturato de diminazeno interfere na glicólise aeróbica e também na síntese de DNA do parasita,
ocasionando dilatação da membrana de organelas, dissolução do citoplasma e destruição do núcleo.

Seu espectro de ação inclui as pequenas babesias. Nas grandes atua apenas inibindo sua
multiplicação. Deve ser utilizado em associação com tetraciclinas para tratar anaplasmose e
erliquiose. É recomendado na dosagem de 3,5 mg/kg, por via intramuscular ou subcutânea, sendo
efetivo para o tratamento da B. canis em dose única e para o tratamento da B. gibsoni, em dose a ser
repetida após 24 horas.

O fármaco possui altos índices de toxicidade, provocando sintomas nervosos semelhantes aos
apresentados pelo imidocarb. Também pode causar degeneração hepática e renal.

Primaquina
O fármaco age interrompendo a função mitocondrial do parasita. Na clínica veterinária, é utilizado
no tratamento de babesiose em gatos.

É administrado por via oral. Pode ocorrer emese em alguns casos.

72
Antineoplásicos Unidade V

Indicações gerais da quimioterapia


A terapia com agentes antineoplásicos é indicada nos seguintes casos:

»» controle de neoplasias sistêmicas como linfomas ou tumores malignos que geram


metástases;

»» tratamento de tumores que não possuem indicação cirúrgica;

»» tratamento prévio à cirurgia ou a radioterapia;

»» tratamento de micrometástases de um tumor removido cirurgicamente, que podem


gerar novas metástases.

Esquemas de tratamento
O tratamento com combinações de vários agentes antineoplásicos aumenta a citotoxicidade contra
as células cancerosas, sem aumentar necessariamente a toxicidade geral. Assim, por exemplo, o
metotrexato, com toxicidade principalmente mielossupressora, pode ser utilizado em um esquema
com vincristina, que exibe principalmente neurotoxicidade. Os poucos fármacos com baixa
mielotoxicidade, como a cisplatina e a bleomicina, são candidatos apropriados para esquemas de
combinações. O tratamento com combinações de fármacos também diminui a possibilidade de
desenvolvimento de resistência a agentes individuais.

Com frequência, os fármacos são administrados em altas doses de modo intermitente, em vários
cursos, com intervalo de 2 a 3 semanas entre eles, em vez da administração contínua de pequenas
doses, visto que isso permite a regeneração da medula óssea durante os intervalos. Além disso, foi
constatado que a mesma dose total de um agente é mais eficaz quando administrada em uma ou
duas grandes doses do que em múltiplas doses pequenas.

73
Capítulo 1
Agentes alquilantes

Mecanismo geral de ação


Seu principal efeito é observado durante a síntese de DNA. A maioria apresenta dois grupos
alquilantes e pode formar ligações cruzadas entre dois sítios nucleofílicos. A ligação cruzada pode
causar replicação defeituosa por meio do pareamento de alquil-guanina com timina. O dano ao
DNA desencadeia o processo de apoptose.

Efeitos adversos gerais


Todos os agentes alquilantes deprimem a função da medula óssea e causam distúrbios gastrintestinais.
Com o uso prolongado já foi observada depressão da gametogênese (particularmente nos homens),
resultando em esterilidade, aumento do risco de desenvolvimento de leucemia não-linfocítica aguda
e outras neoplasias malignas.

Ciclofosfamida

Indicações

A ciclofosfamida é um agente alquilante comumente utilizado em Medicina Veterinária tanto em


neoplasias como em doenças autoimunes. A ciclofosfamida exerce um efeito pronunciado sobre os
linfócitos e pode ser utilizada como agente imunossupressor. Sendo assim, seu uso é indicado nos
casos de neoplasias linforreticulares, sarcomas e carcinomas de pulmão e mama.

Farmacocinética

Em geral, a ciclofosfamida é administrada por via oral ou por injeção intravenosa, mas também
pode ser administrada por via intramuscular. É inativa até ser metabolizada no fígado, local
em que é ativada a aldofosfamida, então convertida em mostarda de fosforamida (a molécula
citotóxica) e acroleína.

Como sofre fosforilação de enzimas microssomais hepáticas, seu grau de toxicidade aumenta na
presença de fármacos que ativem o sistema microssomal hepático (cloranfenicol e barbitúricos)
e se torna menos tóxica na presença de corticosteroides, por exemplo, que inibem a ação
desse sistema.

74
Antineoplásicos │ UNIDADE V

Efeitos tóxicos
Os efeitos tóxicos importantes consistem em náusea e vômitos, depressão da medula óssea e cistite
hemorrágica. Este último efeito é decorrente do metabólito acroleína e pode ser atenuado por
meio de aumento na ingestão de líquidos e administração de compostos doadores de sulfidrila,
como a N-acetilcisteína. Esses agentes interagem especificamente com a acroleína, formando um
composto atóxico.

Bussulfano
O bussulfano exerce efeito seletivo sobre a medula óssea, reduzindo a formação de granulócitos e
plaquetas, quando administrado em baixas doses, e dos eritrócitos, em doses mais altas. Tem pouco
ou nenhum efeito sobre o tecido linfoide ou o trato gastrintestinal. É utilizado no tratamento da
leucemia granulocítica crônica e desordens mieloproliferativas.

Dacarbazina

Indicações
Tratamento de melanoma maligno metastático, adenocarcinoma renal, sarcomas de tecidos moles,
fibrossarcomas, rabdomiossarcoma, carcinoma medular da tireoide, neuroblastoma, tumores sólidos
e linfoma malignos.

Farmacocinética
A dacarbazina é um pró-fármaco, sua atuação depende de sua ativação pelo fígado. O composto
resultante é clivado na célula- alvo, liberando um derivado alquilante.

A absorção por via oral é lenta e variável, sendo assim é preferencialmente administrada por via
endovenosa. Uma parte chega ao LER. A eliminação é renal e biliar.

Cuidados na administração
Principalmente em pacientes com depressão da medula óssea, insuficiência renal ou hepática, é
importante manter adequada alimentação e hidratação. Evitar sempre exposição excessiva ao sol.
É eliminada no leite, recomenda-se descontinuar a amamentação. É necessário ajuste de dose para
insuficiência renal e hepática.

Efeitos adversos
Os mais comuns são náusea, vômito e diarreia. Também já foram observados: alopecia, febre,
mialgia, anorexia, mielossupressão, leucopenia, trombocitopenia, parestesia, reações anafiláticas
e hipocalemia.

75
UNIDADE V │ ANTINEOPLÁSICOS

Mais raramente pode ocorrer: hipotensão ortostática, polineuropatia, convulsões, visão turva,
trombose da veia hepática, necrose hepatocelular, hepatotoxicidade, reações de fotossensibilidade,
hemorragia cerebral, estomatite, fraqueza generalizada.

Interações medicamentosas
A carbamazepina aumenta o metabolismo da dacarbazina, diminuindo seus efeitos terapêuticos.

Clorambucil

Indicações

Tratamento paliativo de leucemia linfocítica crônica, linfomas, carcinomas de mama, ovário e


testículo, coriocarcinoma.

Como imunossupressor: síndrome nefrótica, uveite e meningoencefalite associados com doença


de Behcet, trombocitemia, policitemia verdadeira, síndrome hipereosinofílica, dermatomiosite,
sarcoidose e artrite reumatoide.

Farmacocinética

A absorção após administração oral é rápida e o fármaco é completamente absorvido no trato


gastrintestinal. Apresenta biodisponibilidade diminuída por alimentos. Liga-se extensamente a
tecidos e proteínas plasmáticas, principalmente à albumina (99%). Atravessa a placenta.

Sofre biotransformação hepática, originando vários metabólitos, dos quais pelo menos a mostarda
do ácido fenilacético é ativa. Também sofre degradação espontânea, formando derivados mono
e diidroxilados.

É eliminado pela urina.

Efeitos adversos

Pode ocorrer supressão da medula óssea (leucopenia, trombocitopenia e anemia), náusea, vômito,
diarreia e ulceração na cavidade oral.

Mais raramente foram observados: agitação, ataxia, confusão mental, febre, convulsões,
alteração cromossômica em homens, esterilidade reversível e permanente em ambos os sexos,
hepatotoxicidade, necrose hepática, fraqueza, tremor, contração muscular, neuropatia periférica,
fibrose pulmonar, neoplasias secundárias, incidência aumentada de leucemia mielógena aguda
e hipersensibilidade.

76
Antineoplásicos │ UNIDADE V

Cisplatina

Mecanismo de ação
O fármaco age mudando a conformação do DNA por intermédio de ligações cruzadas intra-
filamentos, em particular com guanina e citosina, inibindo sua síntese. Também pode ligar-se a
bases, formando pares anormais que determinam desenrolamento do DNA.

A cisplatina tem sido classificada como agente alquilante não-específico sobre o ciclo celular.
Embora cause imunossupressão, a estimulação da resposta imune do hospedeiro contra o tumor
pode contribuir para a sua ação antineoplásica. Também possui propriedades mutagênicas. A
cisplatina não tem exibido resistência cruzada com outros agentes alquilantes.

Indicações
É indicada nos osteossarcomas, linfoma e carcinomas.

Farmacocinética
A ligação a proteínas plasmáticas (albumina, transferrina e gama-globulina) é superior a 90%.
Quantidades mínimas chegam ao SNC. Há alta captação em rins, fígado, ovários, útero e pulmões.
Os metabólitos estão extensamente ligados a proteínas e possuem atividade citotóxica mínima, mas
a fração não ligada à proteína (inalterada) é citotóxica. Excreta-se em mais de 90% na urina e em
10% na bile.

A inibição do DNA persiste por vários dias após a administração. A platina pode ser detectada nos
tecidos 4 meses ou mais após a dose.

A hemodiálise, mesmo quando iniciada 4 horas após superdosagem, parece ter pouco efeito na
remoção da platina, devido ao alto grau de ligação às proteínas.

Efeitos adversos
Apresenta baixa mielotoxicidade, mas provoca náusea e vômitos intensos e pode ser nefrotóxica.
Não deve ser utilizada em gatos, pois é extremamente tóxica para essa espécie.

77
Capítulo 2
Antimetabólitos

Mecanismo de ação geral


Os antimetabólitos são substâncias antagonistas aos metabólitos naturais do organismo que são
necessários para a síntese de DNA e RNA.

Metotrexato (antagonista do ácido fólico)


O metotrexato age inibindo irreversivelmente a diidrofolato redutase, enzima que reduz o ácido
fólico para sua forma ativa, a coenzima ácido tetraidrofólico. Essa inibição interfere na síntese de
DNA e na reprodução celular. Sua ação pode ser revertida pela administração de ácido folínico, que
contorna o bloqueio da enzima e recompõe o depósito de folato.

Indicações
Tem indicação no câncer de mama, cabeça, pescoço, pele e ovário, linfomas, sarcoma osteogênico,
carcinoma colo-retal, leucemias, carcinoma de esôfago e estômago, carcinoma de pulmão, tratamento
gestacional de coriocarcinoma, corioadenoma.

Como imunossupressor: tratamento de artrite reumatoide, lúpus eritrematoso sistêmico e psoríase


severa.

Farmacocinética
Pode ser administrado por vias oral, intramuscular, intravenosa e intratecal. Quando administradas
doses maiores que 100 mg/m2, requer o uso concomitante de ácido folínico e alcalinização da
urina. A presença de alimentos pode retardar a absorção. Ácido folínico deve ser administrado
concomitantemente ou após 24 da administração de metotrexato.

A absorção oral é excelente em doses inferiores a 30 mg/m2 e em doses maiores, é incompleta. Por
via intramuscular, é absorvida por completo, independentemente da dose.

O início do efeito terapêutico pode levar de 7 a 10 dias para mielosupressão e de 3 a 6 semanas


para artrite reumatoide. Atravessa a placenta e se distribui no epitélio intestinal, fígado, rins e
também em líquidos de ascite e derrames pleurais. No LER, há menos de 3% do fármaco. É pouco
metabolizado no fígado. A eliminação é renal como fármaco íntegro (80%-90%) e pela bile.

Efeitos adversos
Podem ocorrer: encefalopatia, convulsões, febre, leucopenia, trombocitopenia, azotemia, insuficiência
renal, náuseas, diarreia, anorexia, fotossensibilidade, despigmentação ou hiperpigmentação

78
Antineoplásicos │ UNIDADE V

da pele, diabetes, cistite, hepatotoxicidade, reações anafiláticas e diminuição da resistência


a infecções.

Fluorouracil (análogo da pirimidina)


Quando sofre conversão enzimática ao metabólito 5-monofosfato nucleotídeo, inibe a enzima
timidilato sintetase. O resultado final é a depleção de desoxitimidina trifosfato, precursor necessário
à síntese de DNA. Além disso, é incorporado diretamente em cadeias de DNA e RNA, perturbando
suas funções. Como resultado, ocorre morte celular, especialmente de células que proliferam
mais rapidamente.

Indicações
Carcinoma colo-retal, gástrico, pancreático e de mama, em pacientes considerados incuráveis por
cirurgia ou outros tratamentos. Carcinoma prostático, de bexiga, do epitélio ovariano, cervical,
endometrial, anal, esofágico. Tumores metastáticos de carcinoma de pele, hepáticos, de cabeça
e pescoço e hepatoblastoma. Carcinoma adrenocortical, vulvar, peniano, tumores carcinoides
gastrintestinais e neuroendócrinos em terapia combinada.

Na forma tópica, o fármaco é indicado para tratamento de condições pré-cancerosas da pele e no


carcinoma de célula basal não sensível a outros fármacos.

Farmacocinética
A absorção por via oral é muito variável, com biodisponibilidade variando de 0 a 80%. Por via
tópica, a absorção sistêmica é mínima (6%), com início de ação em 2 a 3 dias. Após administração
intravenosa, o fármaco é distribuído nos tecidos e fluidos extracelulares, incluindo, mucosa
intestinal, medula óssea e fígado. Atravessa a barreira hematoencefálica e a placenta.

A eliminação ocorre principalmente por via respiratória (aproximadamente 90% como dióxido de
carbono em 8 a 12 horas) e em menor proporção por via renal.

Efeitos adversos
Podem ocorrer dermatite, alopecia, náuseas, vômitos, anorexia, diarreia, granulocitopenia,
trombocitopenia e, mais raramente, neurotoxicidade central.

O fármaco é contraindicado em gatos.

Citarabina (análogo da citidina)


A citarabina entra na célula em processo mediado por carreador, sendo então convertida no composto
ativo: trifosfato de aracitidina. Compete com o substrato normal (trifosfato de desoxicitidina - dCTP)
pela enzima DNA polimerase, inibindo-a, o que resulta em diminuição da síntese de DNA.

79
UNIDADE V │ ANTINEOPLÁSICOS

Está disponível em formulação convencional e lipossomal.

Indicações
Citarabina convencional: tratamento de leucemia não-linfocítica aguda e leucemia mielocítica
crônica (fase blástica).

Citarabina lipossomal: tratamento de meningite linfomatosa.

Farmacocinética

Citarabina convencional

A via oral não é utilizada, devido à presença de enzima inativadora no trato gastrintestinal.

Após administração intravenosa, a concentração plasmática cai rapidamente e as concentrações


cerebrospinais correspondem a 40-50% da concentração plasmática após infusão intravenosa
contínua.

Utilizando via subcutânea, o pico é atingido entre 20 e 60 minutos. Aproximadamente 15% da dose
são ligados a proteínas plasmáticas. É rápida e amplamente distribuída aos tecidos. É eliminada
na urina.

Citarabina lipossomal

Administra-se por via intratecal. Metaboliza-se no plasma a metabólito inativo. É eliminada na urina.

Efeitos adversos
Os principais efeitos adversos observados são mielossupressão (granulocitopenia, anemia),
disfunção hepática, conjuntivite, ceratite córnea, erupção cutânea, náusea, vômitos e diarreia.

Na citarabina lipossomal, a araquinoidite química é o efeito adverso mais comum. Pode incluir dor
no pescoço, rigidez na nuca, cefaleia, febre, náusea, vômito, dor nas costas e, raramente, anafilaxia.

Gencitabina (análogo da citidina)


A gencitabina, um novo análogo promissor da citidina, apresenta menos ações indesejáveis que a
citarabina, podendo ocorrer síndrome semelhante à influenza e mielotoxicidade leve.

80
Capítulo 3
Antibióticos

Essa classe de antineoplásicos é assim designada por serem substâncias isoladas de culturas de
fungos do gênero Streptomyces.

Doxorrubicina

Mecanismo de ação
Intercala-se na dupla hélice do DNA, formando complexo ternário com topoisomerase II e DNA.
A estabilização do complexo de clivagem inibe nova ligação do DNA e provoca quebras na dupla
hélice. Também inibe diretamente a topoisomerase II, interage com as membranas celulares e
mitocondriais, perturba a transmissão de sinais intracelulares e forma radicais livres. Finalmente,
desencadeia o processo de morte celular por apoptose.

Farmacocinética
É pouco absorvida por via oral, razão pela qual é administrada por via endovenosa. É distribuída
rapidamente ao fígado, baço, rim, pulmão e coração. Não atravessa a barreira hematoencefálica.
Sofre metabolismo hepático, produzindo vários metabólitos, entre os quais um ativo,
o doxorrubicinol.

É eliminada principalmente pela bile, 50% na forma integra e 23% como doxorrubicinol; menos de
10% da droga são eliminados pela urina.

Efeitos adversos
Alopecia, náusea, vômito, ulceração e necrose do cólon, anorexia, diarreia, mielossupressão (60 a
80% dos pacientes desenvolvem leucopenia). A ocorrência de infecções oportunistas é frequente,
destacando-se candidíase, citomegalovirose, herpes simplex e pneumonia.

Bleomicinas

Mecanismo de ação
Inibe a incorporação de timidina no DNA, diminuindo sua síntese. Além disso, liga-se ao DNA,
causando quebras de suas hélices. Há inibição menor na síntese de RNA e proteínas.

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UNIDADE V │ ANTINEOPLÁSICOS

Indicações
Tratamento de carcinoma testicular, linfomas, carcinoma celular escamoso, melanomas, sarcomas.

Farmacocinética
A absorção por vias intramuscular e intrapleural produz nível sérico correspondente a 30% do obtido
com administração intravenosa. Administração por vias intraperitonial e subcutânea induz níveis
equivalentes aos da via intravenosa. É distribuída para o fígado, rins, intestino, pele e pulmão. Não
atravessa a barreira hematoencefálica. Sofre, em parte, metabolismo hepático. Cerca de 50% a 70%
do fármaco são eliminados, de forma íntegra, na urina.

Efeitos adversos
Diferentemente da maioria dos agentes antineoplásicos, a bleomicina provoca pouca mielossupressão.
Seu efeito tóxico mais grave consiste em fibrose pulmonar, que é observada em 10% dos pacientes
tratados, sendo fatal em 1% dos casos. Também podem ocorrer reações alérgicas.

82
Capítulo 4
Derivados vegetais (alcaloides da vinca)

Considerações gerais
Os alcaloides da vinca estão naturalmente presentes em ínfimas quantidades na planta Catharanthus
roseus (Vinca rosea Linn).

São agentes antimitótico específico, e agem impedindo a divisão mitótica durante a metáfase ao se
ligar à tubulina, impedindo sua polimerização para formar microtúbulos do feixe mitótico.

Interferem também, na síntese proteica e de ácidos nucleicos por bloquear a utilização do ácido
glutâmico. A interrupção da mitose leva à morte celular. Os microtúbulos também, têm sido
associados à fagocitose e a funções do sistema nervoso central que são interrompidas pelo uso
desses fármacos, explicando reações adversas a eles associadas.

Dentro desse grupo químico existem vários fármacos utilizados como antineoplásicos na medicina
humana, porém em Medicina Veterinária, apenas a vincristina é amplamente empregada.

Vincristina

Indicações
O fármaco é utilizado principalmente no tratamento do tumor venéreo transmissível (TVT), tendo
indicação também para linfomas, neoplasia mamária felina, e alguns sarcomas. Além disso, pode
ser associado a outros fármacos no tratamento de neoplasias hematopoiéticas e linfoides.

Cuidados na administração
Somente deve ser utilizada a via endovenosa. A administração intratecal é fatal. Por ser vesicante,
o fármaco não deve extravazar para fora da luz do vaso durante a aplicação. Evitar contaminação
ocular.

É necessário modificar a dosagem em pacientes com disfunção hepática ou que tenham doença
neuromuscular preexistente; efetuar a contagem de células sanguíneas antes de administrar nova
dose; prevenir nefropatias do ácido úrico, utilizando alopurinol e não administrar em pacientes que
estejam recebendo terapia de radiação. Deve ser realizada profilaxia contra constipação.

Farmacocinética
Após administração endovenosa, deixa a corrente sanguínea rapidamente, sendo distribuída aos
tecidos após 15 a 30 minutos. Penetra pouco a barreira hematoencefálica. Liga-se em 75% a proteínas

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UNIDADE V │ ANTINEOPLÁSICOS

plasmáticas. A metabolização ocorre no fígado pelo citocromo P450. Cerca de 80% são eliminados
pela bile e fezes, e 10 a 20 %, pela urina.

Não se usa a administração por via oral, pois a absorção é muito pequena.

Efeitos adversos
As reações adversas são geralmente reversíveis e dependentes da dose. A administração de doses únicas
semanais pode causar leucopenia, neuropatia periférica, parestesias e constipação, sendo estas reações
de curta duração. Em cães, ainda podemos observar: anorexia, vômitos e diarreia sanguinolenta.

Quando a dosagem é diminuída, os efeitos podem desaparecer. O fracionamento de doses pode


aumentar reações adversas.

Além disso, pode causar danos fetais quando administrada em grávidas. Não se sabe se a droga é
eliminada no leite materno.

84
Capítulo 5
Hormônios

Considerações gerais
Os glicocorticoides, andrógenos, estrógenos e progestágenos são os hormônios esteroides mais
utilizados no tratamento de neoplasias em humanos. Em Medicina Veterinária, apenas os
glicocorticoides tem sua eficácia comprovada no tratamento de algumas síndromes paraneoplásicas.

Prednisona

Indicações
Na clínica veterinária, até o momento, os corticoides não são indicados primariamente para o
tratamento de neoplasias, mas têm sido empregados no controle de síndromes paraneoplásicas.
Sendo assim, a prednisona pode ser empregada na trombocitopenia imunomediada e na anemia
hemolítica auto-imune.

Além disso, os corticoides têm eficácia na redução da inflamação associada a certos tumores e no
estímulo do apetite, o que melhora as condições gerais do paciente.

Efeitos adversos
Com o uso contínuo, leva, em geral, ao hiperadrenocorticismo e à insuficiência adrenocortical
secundária.

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Capítulo 6
Recentes descobertas em
oncologia veterinária

O tratamento de neoplasias, em geral, baseia-se em três modalidades terapêuticas: a cirurgia, a


radioterapia e a quimioterapia, existindo ainda a imunoterapia, a crioterapia e a hipertermia. Cada uma
dessas modalidades possui vantagens e limitações. Sendo assim, o sucesso do tratamento é, em muitos
casos, atingido utilizando-se a combinação de terapias antineoplásicas, baseando-se no conhecimento
farmacológico dos quimioterápicos, no tipo de neoplasia e nas condições gerais do paciente.

Ainda assim, as terapias não são capazes de erradicar por completo as neoplasias, principalmente
devido às grandes limitações destas e das dificuldades do paciente em desenvolver uma resposta
imune adequada que seja capaz de atingir de forma seletiva as células cancerígenas.

As principais limitações atualmente encontradas nos fármacos antineoplásicos são:

»» praticamente todos os agentes antineoplásicos estão dirigidos contra a proliferação


celular;

»» os agentes antineoplásicos atuais consistem, essencialmente, em células killers


inespecíficas, não sendo capazes de reconhecer as alterações particulares que
tornam uma célula maligna;

»» o desenvolvimento de resistência (particularmente a resistência a múltiplos


fármacos) aos agentes antineoplásicos;

»» a eliminação total das células malignas em muitos tumores não é possível com o uso
de doses terapêuticas e a resposta imunológica do paciente, frequentemente, não é
adequada para lidar com as células remanescentes.

A busca de métodos terapêuticos e profiláticos mais eficazes contra o câncer resultou em grande
impacto no entendimento das bases imunológicas da oncologia.

O texto a seguir é uma revisão das mais recentes descobertas realizadas em oncologia veterinária,
e nos mostra como as pesquisas realizadas em imunologia tumoral vêm demonstrando resultados
promissores para uma terapia oncológica eficaz e menos invasiva do que a que dispomos atualmente.

Adaptado de PIEKARZ, C. H.; BIONDO, A. W.; BARROS FILHO, I. R.; RODASKI, S. Imunologia
tumoral como ferramenta na oncologia veterinária. In: Arq. Ciênc. Vet. Zool., v. 9, no. 2, pp. 141-
145, 2006.

Introdução
Uma célula com proliferação descontrolada originará clones destas células alteradas, formando uma
neoplasia. Elas surgem a partir de uma falha na regulação da divisão e sobrevida celular, e podem

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Antineoplásicos │ UNIDADE V

ser resultado de uma exposição a determinados produtos químicos, processos físicos, e agentes
infecciosos. Estas células podem permanecer no local com crescimento restrito, ou desprender-
se e atingir a circulação sanguínea ou linfática, podendo causar metástases (TIZARD, 2004). A
imunidade tumoral é o resultado da interação entre estas várias células tumorais com as do sistema
imune (CULLEN et al., 2002).

As células tumorais em indivíduos imunocompententes podem ser reconhecidas pelo sistema imune
porque muitas vezes apresentam antígenos tumorais específicos, que surgem de mutações de genes
celulares, formando proteínas anormais expressas na superfície celular ou ainda pela expressão
anormal de genes. Mas, muitas vezes, estes antígenos podem não ser exclusivos, podendo aparecer
também em outras células do organismo (CULLEN et al., 2002).

Apesar da importância da vigilância imunológica na gênese tumoral, o caráter antigênico dos


tumores pode ser variável ou, ainda, questionável, visto que neoplasias desenvolvidas geralmente
não são reconhecidas e eliminadas eficientemente pelo sistema imune. Parte da etiologia, que causa
prejuízo a sensibilidade imune, é causada pelo desenvolvimento de mecanismos de escape tumoral
para evitar, reduzir ou eliminar esta resposta imune (WITHROW; MACEWEN, 2001).

Hoje, muitos pesquisadores baseiam-se na ideia de que as respostas que conferem pressão seletiva
sobre as células tumorais, muitas vezes levam a uma seleção de variantes de células tumorais que
escapam do reconhecimento imune (YAMSCHIKOV et al., 2005).

A compreensão destes mecanismos que determinam a tolerância imunológica tem fornecido


oportunidades para o desenvolvimento de intervenções imunomediadas combinadas que melhoram
a resposta imune antitumoral (LAHERU; JAFFEE, 2005).

A imunoterapia das neoplasias compreende tanto a imunização ativa quanto passiva, e a identificação
dos antígenos neoplásicos citados tem impacto sobre essas duas áreas (ROSENBERG, 2001).

Antígenos tumorais
Atualmente, a identificação de antígenos tumorais, os quais a expressão é essencial para a
sobrevivência das células neoplásicas é o novo caminho para prevenir a perda emergente de
variantes antigênicas devido à imunoseleção, principalmente durante a imunoterapia (ANDERSEN
et al., 2005).

Os antígenos tumorais podem ser definidos como sendo substâncias expressas pelas células
neoplásicas capazes de induzir resposta imune específica celular e/ou humoral. Além disso, podem
sugerir o diagnóstico do tumor (CARNEIRO; PRADO, 1998).

Segundo estudos em animais, a resposta imune celular, e não a humoral, foi a responsável pela
rejeição de tumores transplantados ou tecidos alogênicos (geneticamente diferentes). Por isso,
esforços significativos têm sido direcionados rumo à identificação dos antígenos reconhecidos pelos
linfócitos T. A exceção citada e dos anticorpos direcionados contra receptores do fator de crescimento
nas células neoplásicas, pois a administração de anticorpos tem tido um pequeno impacto sobre o
crescimento de tumores sólidos (ROSENBERG, 2001).

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UNIDADE V │ ANTINEOPLÁSICOS

Contudo, a identificação de antígenos tumorais tem permitido o desenvolvimento de imunoterapias


antitumorais específicas, capazes de superar a tolerância periférica contra antígenos tumorais
fracamente imunogênicos não mutados (RODRIGUES-LECOMPTE et al., 2004).

Finalmente, os antígenos tumorais podem ter importância no diagnóstico e prognóstico de tumores,


podendo ser utilizados como marcadores tumorais. Estes podem ser reconhecidos por anticorpos
nos tecidos por imunocitoquímica, imunohistoquímica ou imunofluorescência, ou ainda, no sangue
periférico por técnicas imunoenzimáticas. Um exemplo de marcadores tumorais é o Ki-67, uma
proteína identificada em imprint teciduais por imunocitoquímica e de comprovado valor prognóstico
nos tumores mamarios caninos (ZUCCARI et al., 2004).

Escape tumoral
Muitos fatores como o crescimento progressivo, desregulação gênica e distúrbios metabólicos, podem
atuar como sinais de alarme para recrutar e ativar células da resposta imune inata local, tais como
células dendríticas (DC), macrófagos, neutrófilos e células Natural Killer (NK). Todas estas, por sua
vez, ativam as células T, induzindo a uma resposta imune adaptativa (KHONG; RESTIFO, 2002).

Embora sob algumas condições ocorra uma supressão do crescimento tumoral precoce, vários
mecanismos que fundamentam o escape da neoplasia ao sistema imune têm sido propostos
(MOCELLIN et al., 2004; DUNN et al., 2005). Acredita-se que quando os tumores evoluem,
superando o sistema imune, há uma ação moduladora do fenótipo imunológico tumoral (KHONG;
RESTIFO, 2002), promovendo, assim, a emergência de tumores com reduzida imunogenicidade
(ROSENBERG, 2001).

Esta seleção de células com baixa poder imunogênico é conhecida como “revisão imune do câncer”
(DUNN et al., 2005). Existem basicamente três critérios que são requeridos para a destruição de
tumores já estabelecidos:

I. células imunes com grande capacidade de reconhecimento aos antígenos tumorais


precisam ser geradas, em número suficiente, in vivo;

II. estas células precisam ir até o tumor e infiltrar em seu estroma; e

III. as células imunes precisam ser ativadas no local do tumor para manifestar
mecanismos efetores apropriados tais como lise direta ou secreção de citocinas,
como a interleucina-2 (IL-2), capazes de causar a destruição tumoral (ROSENBERG
et al., 2004).

Entretanto, existe uma variedade de mecanismos ativos que podem limitar respostas efetoras.
Alguns mecanismos dos quais as células imunes utilizam para evadir da detecção e destruição do
sistema imune são:

I. diminuição da expressão de antígeno leucocitário na superfície celular;

II. diminuição da expressão de antígenos tumorais ou seleção de variantes tumorais


com baixa antigenicidade;

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Antineoplásicos │ UNIDADE V

III. falta de moléculas coestimulatórias nas células tumorais; e

IV. produção de citocinas imunossupressoras, incluindo o fator transformador de


crescimento β e a interleucina 10 (RODRIGUEZ-LECOMPTE et al., 2004).

A ativação e a inibição de células T dependem da presença ou ausência de citocinas em seu


microambiente (ROSENBERG, 2001) e, como as próprias células tumorais produzem uma
variedade de citocinas e quimiocinas, elas podem afetar negativamente a maturação e função das
células (KHONG; RESTIFO, 2002). Atualmente, acredita-se que tanto as características locais
do microambiente tumoral como fatores sistêmicos são importantes no mecanismo de evasão
(LAHERU; JAFFEE, 2005).

Um dos exemplos de escape da resposta imune e da progressão tumoral em cães pode ser observado
nos tumores de mama, por meio de um antígeno associado ao tumor denominado RCAS1. Este
antígeno de superfície, ausente nas células normais, se encontra, altamente expresso nos tumores
mamários, e inibe o crescimento de importantes células de defesa como linfócitos T citotóxicos e
NK, além de induzir apoptose e morte celular (OKAMURA et al., 2004).

A expressão deste mesmo antígeno de membrana também é descrita como potencial mecanismo
de escape imune por células do carcinoma gástrico humano (NAKAMURA, 2004). As células
dentríticas também parecem importantes no mecanismo de imunotolerância tumoral.

Dois mecanismos foram criados para escapar do ataque do sistema imune aos próprios
componentes, tolerância central e periférica, ambos controlados e mantidos pelas DC (PACZESNY
et al., 2003). Outro mecanismo importante pode ser a morte celular programada (apoptose) das
células T, quando encontra o tumor (ANDERSEN et al., 2005).

Uma variedade de células tumorais expressam FasL, a qual induz a apoptose de células Fas+-
suscetíveis, como as células T (KHONG; RESTIFO, 2002). A oligomerização do receptor Fas pelo
seu ligante (FasL) ativa uma cascata de sinalização que leva à apoptose das células que possuem
Fas (TAN; HUNZIKER, 2003). Recentemente, uma expressão excessiva do FasL foi apresentada
por favorecer a apoptose do melanoma Fas(+), e esta observação suporta a ideia de que preparando
as células imunes de resposta com células tumorais apoptóticas pode-se melhorar respostas
antitumorais (GYORFFY et al., 2005).

Além destes mecanismos, a diminuição ou perda da regulação do MHC também pode ser efetiva no
escape tumoral (YAMSCHIKOV et al., 2005). A expressão do MHC de classe I é parte de um cenário
convencional para a imunidade antitumoral, pelo qual as células T citotóxicas têm um potencial
para interagir como MHC de classe I da célula tumoral e destruir o tumor via perforina ou Fas-
ligante (Fas-L) (BLANCK, 2004).

Imunoterapia
A imunoterapia é, muitas vezes referida como uma terapia biológica, bioterapia, ou modificação
da resposta biológica. Estas duas últimas referências são utilizadas para substâncias produzidas

89
UNIDADE V │ ANTINEOPLÁSICOS

natural ou sinteticamente, ou para métodos que alteram a relação entre o hospedeiro e o tumor,
com resultado terapêutico benéfico (WITHROW; MACEWEN, 2001).

A imunoterapia antitumoral foi inicialmente focada na elucidação da resposta das células T


citotoxicas (LTc), pois muitos antígenos tumorais são proteínas intracelulares, e os LTc respondem
aos peptídeos apresentados no contexto de MHC de classe I, os quais são mais frequentemente
derivados de proteínas intracelulares (HENDERSON et al., 2005; KNUTSON; DISIS, 2005).

Ao mesmo tempo, anticorpos monoclonais recombinantes também são projetados para “atacar”
antígenos tumorais específicos, e podem destruir células tumorais diretamente por meio de lise
ou carreando um agente citotóxico conjugado (LAHERU; JAFFEE, 2005). Portanto, a evidência
de que linfócitos T citotóxicos, linfócitos T auxiliares e células B podem atuar sinergicamente
para a rejeição imune da neoplasia, tem contribuído para o desenvolvimento da imunoterapia
(MOCELLIN et al., 2004).

Para LAHERU; JAFFEE (2005), os anticorpos monoclonais têm sido a imunoterapia clínica mais
bem-sucedida, pois são usados como ferramentas para diagnóstico, como indicador de prognóstico,
e para o tratamento de muitos cânceres. As vantagens incluem: seu “ataque” específico à célula
tumoral, poupando o tecido normal, sua administração relativamente fácil e seu perfil de baixa
toxicidade. A principal desvantagem inclui a ausência de ativação da célula T, impedindo a destruição
mediada pelas células T citotóxicas e a geração de uma resposta imune de memória.

A modificação da resposta biológica é um método promissor da imunoterapia. Um exemplo é o


uso de citocinas, pois até mesmo grandes tumores invasivos podem regredir completamente sob
uma estimulação imune apropriada pela IL-2, mostrando que realmente e possível tratar o tumor
com sucesso por meio da manipulação imune (ROSENBERG, 2001). A terapia com IL-4, usando
células tumorais geneticamente modificadas, induz potente proteção bem como imunidade tumoral
terapêutica em modelos animais. De maneira interessante, IL-4 transforma as células tumorais
exibindo uma infiltração lesional aumentada pelas células dendríticas, relativas com outras citocinas,
a qual pode resultar em acentuada apresentação cruzada de antígenos tumorais associados (DUNN
et al., 2005). A introdução de DCs preenchidas com antígenos tumorais permite ao sistema imune
responder apropriadamente aos antígenos próprios e promove imunidade antitumoral específica
pela geração de células efetoras que podem atacar e lisar as células tumorais (GYORFFY et al., 2005).
As células NK e as células T citotóxicas (ativadas por citocinas), também têm sido demonstradas,
por meio do uso de IL-2, por terem um potencial terapêutico no tratamento de diferentes neoplasias
em caninos, entre eles adenoma e carcinoma mamários, tumor misto maligno mamário, linfoma e
alguns tipos de sarcomas (FUNK et al., 2005).

Outro modulador importante é o IFN- α, pois segundo Steele e Hauser (2005), ele pode ser um
mediador da atividade antitumoral neste sistema de terapia. Baseados na ideia de que alguns
vírus são conhecidos por destruir células tumorais seletivamente e que o reovírus, em especial, é
conhecido por ser um potente indutor do interferon tipo I, o IFN- α pode desempenhar um papel na
erradicação do tumor no sistema de terapia com reovírus.

Os avanços na biotecnologia recombinante permitiram a projeção e desenvolvimento da modificação


da resposta por intermédio de vacinas contra as neoplasias para imunização ativa e, terapia celular, para

90
Antineoplásicos │ UNIDADE V

tratamentos de transferência adaptativa. Entretanto, ainda não foi desenvolvida uma imunoterapia
consistentemente efetiva para nenhum tipo de malignidade. E ainda não está claro se a falha ocorre
por causa do escape tumoral ou se a ausência de observações de regressões tumorais ocorre devido ao
fato da imunoterapia que está sendo utilizada estar inadequada (KHONG; RESTIFO, 2002).

Várias hipóteses têm surgido para explicar esta falha, e é descrito que os desafios que deverão ser
enfrentados para o desenvolvimento de vacinas anticancerígenas eficazes incluem: a identificação e
caracterização dos antígenos alvos; a definição da resposta imune desejada a ser obtida pela vacina;
e a escolha do sistema de aplicação da vacina mais apropriada (HENDERSON et al., 2005).

De uma forma geral, a vacina contra o câncer pode ser dividida em duas categorias: as constituídas
por células tumorais (ou lisados derivados de células tumorais); e as de antígenos cancerígenos
definidos. Estas são, geralmente, de um antígeno simples que é transportado por um dos sistemas
carreadores que incluem as proteínas recombinantes e vetores virais, peptideos ou células dendríticas
tratadas (HENDERSON et al., 2005).

Um exemplo deste tipo de vacina que tem sido empregada em estudos humanos e animais é o
uso das DCs tratadas que trabalham como carreadoras do adenovírus inativado que, por sua vez,
expressam o antígeno tumoral, funcionando como vetor deste antígeno (RODRIGUEZ-LECOMPTE
et al., 2004). Além disso, casos de melanoma em cães têm sido experimentalmente tratados com a
ativação de macrófagos alveolares caninos, com a produção de anticorpos monoclonais antitumorais
e, recentemente, com a administração do FasL para promover apoptose em células tumorais; todos
sendo considerados de potencial valor na terapia deste tipo tumoral (GYORFFY et al., 2005).

A compreensão da especificidade antigênica, mecanismos supressivos e regulação das células T


regulatórias CD4+ pode ser a chave para o futuro sucesso da imunoterapia do câncer, bem como
para outras doenças imunomediadas (WANG; WANG, 2005). Provavelmente, a disparidade na
origem; estágios de desenvolvimento; e genética individual dos tipos de câncer sejam as principais
causas da limitada ação da imunoterapia atual, agindo somente em poucos tipos de neoplasias
(CHIOU et al., 2005)

91
Para (não) finalizar

O texto apresentado a seguir aborda um tema de grande interesse que é a sensibilidade


individual a fármacos, demonstrando as novas perspectivas das pesquisas genômicas para a
terapêutica e farmacologia veterinária. Texto disponível em: <http://web2.sbg.org.br/congress/
CongressosAnteriores/Pdf_resumos/IIICBGF/CBGF003.pdf>.

A disposição de drogas (absorção, distribuição, metabolização e excreção) pode ser alterada


por fatores relacionados às propriedades físicoquímicas dos fármacos, como o peso molecular,
lipofilicidade, solubilidade e grau de ionização ou por fatores biológicos, como o tempo de trânsito
gastrointestinal, pH luminal, fluxo sanguíneo da mucosa e ligação proteica. A maioria desses
fatores é capaz de alterar a absorção intestinal ou a habilidade dos fármacos em atravessar a
barreira hematoencefálica e hemoplacentária (WANDEL et al., 2002). Porém, Miuzo et al. (2003)
citam que além desses fatores capazes de influenciar a variabilidade interindividual relacionada à
farmacocinética e farmacodinâmica de determinados fármacos, existe a participação de um gene
nesses processos, o gene de resistência múltipla a drogas, MDR1.

O MDR1 (Multi Drug Resistance 1), também conhecido como ABCB1, é responsável pela expressão
de uma proteína transportadora de membrana, da superfamília ATB Binding Cassete (ABC),
denominadas P-glicoproteínas (P-gp).

A P-gp vem ganhando relevância clínica particular em função, justamente, de sua expressão limitar
o acesso das drogas ao cérebro e interferir na absorção intestinal quando da administração por via
oral (MEALY, 2004; LINARDI; NATALINI, 2006), e o consequente reflexo prático de tal evento, em
especial, a toxicidade e a resistência a drogas.

Considerando a interferência do gene MDR1 e a capacidade da P-gp em induzir a resistência a


drogas, estudos farmacogenômicos têm ganhado relevância clínica também no tratamento de certos
tumores. A avaliação genotípica dos pacientes tem se mostrado como uma nova ferramenta para
predizer a capacidade individual sobre a metabolização de drogas (IERI et al., 2004) e o possível
resultado terapêutico esperado naquele paciente frente a um fármaco específico.

Algumas raças de animais são mais sensíveis a determinadas medicações. A sensibilidade à


ivermectina (um antiparasitário amplamente usado na Medicina Veterinária e também na humana)
é um exemplo clássico. Desde a década de 1980 observa-se que mesmo doses muito reduzidas
provocam reações adversas graves em alguns, porém, não em todos os indivíduos, sendo que
algumas raças de cães como o Collie e raças aparentadas (Australian Shepard, Pastor de Shetland,
Border Collie, Bearded Collie) e ainda outras como Old English Sheepdog, Pastor Australiano,
Pastor Alemão, entre outras apresentam maior incidência de intoxicação pelo uso da ivermectina.

A proporção de animais da raça Collie, citada na literatura que apresentam ou não sinais clínicos de
intoxicação, respectivamente, foi de 66% e 33%, aproximadamente.

92
para (não) finalizar

Atualmente correlaciona-se esta sensibilidade aos fármacos a uma mutação de deleção na sequência
genética, denominada mutação MDR1-1Δ ou MDR1-nt230(del4). Estudos mostram que diversas
raças de cães com origem comum, possivelmente de um cão da raça Australian Shepard podem
apresentar essa mutação (FECHT et al., 2007).

A hipótese existente sugere que os portadores de um ou dos dois alelos mutados (heterozigotos e
homozigotos mutados, respectivamente) têm uma maior permeabilidade da barreira hematoencefálica
às moléculas, permitindo a passagem e chegada da ivermectina ao encéfalo e a consequente intoxicação.

Já os indivíduos homozigotos não-mutados apresentam a correta tradução do gene MDR1


em P-gp funcional, o que não permite a passagem das moléculas de ivermectina pela barreira
hematoencefálica, resultando na resistência à intoxicação nesses animais.

Populações de animais aparentemente similares podem apresentar diferentes reações a uma terapia
idêntica. Essa resposta clínica variável pode ser devida, em muitos casos, a fatores genéticos.

Hoje, as avaliações são baseadas apenas no fenótipo dos indivíduos, observando-se a relação entre
as reações medicamentosas e raça, idade, ambiente e sexo. Entretanto, em breve, esta conduta
deverá ceder espaço à triagem genotípica dos pacientes potencialmente em risco.

Com os conhecimentos farmacogenéticos, farmacogenômicos e screening tests é possível identificar


indivíduos com sequências de DNA alterado em vias poligênicas, responsável por determinada reação
adversa a um medicamento específico, o que permitirá modificar a conduta terapêutica em tempo
real, visando à minimização das reações adversas e à maximização dos benefícios terapêuticos.

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Referências
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Koogan, 2004.

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KATZUNG, B. G. Farmacologia básica e clínica. 10. ed. Porto Alegre: Mcgraw-Hill, 2010.

PAPICH, M. G. Manual sauders terapêutico veterinário. 2. ed. São Paulo: MedVet, 2009.

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veterinária. 2. ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 1999.

Sites
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<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/>.

<http://www.scielo.br>.

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