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PRIMEIRA REGRA
Isso quer dizer que se o sagrado falar “faça”, você faz. Independente da sua
vontade, da minha vontade, ou até da vontade do sacerdote que te iniciou, que te auxiliou
com suas pendências no destino… Se Exu falar “se afasta dele”, você precisa se afastar,
seja de quem for. Minha pombogira é Maria Mulambo, meu Exu Seu Tranca Rua, meu Erê é
Machadinho, se eles falarem alguma coisa, está falado. Se Èṣù Bará ou Òrìṣà falarem, está
falado. Eles são os ordenantes das nossas vidas. Então é isso que passo para as pessoas
que se iniciam comigo, para que elas tenham uma vida mais plena.
Eu levo isso tão a sério que, nesse momento eu estou na minha sala de jogo
gravando um áudio para este livro e estou ao lado de Oṣetura (o Èṣù do jogo de búzios) e
de Ọ̀ṣùn, que são os deuses do oráculo e muitos sacerdotes esquecem disso.
SEGUNDA REGRA
Você pode me perguntar “Junior, como assim de forma mais humana?”, posso dar
um exemplo: eu estou me alimentando e tenho meu sagrado comigo, tenho todos os meus
assentamentos comigo e falo “Essa comida está tão boa! Eu estou tão bem, recebi meu
pagamento, estou feliz com esse dia… eu estou comendo arroz, feijão, bife e salada! Vou
colocar para meu Exu também, eu lembrei dele”. Essa ligação que você cria com o seu
sagrado é única. Cada um, dependendo da forma como cultua, cria um vínculo e isso
mostra ao sagrado que a pessoa realmente precisa da presença dele ali.
É necessário mostrar que o seu sagrado não está ali para ser um suporte de
correria, de dinheiro, apenas em emergências. Não podemos cultuar nossos deuses apenas
quando precisamos de algo, e sequer lembrar deles quando não precisamos, isso é errado.
Temos sempre que agradecer as coisas boas e ruins, porque no final das contas nada é
completamente bom ou ruim.
O fato de você colocar o seu sagrado em primeiro lugar torna tudo muito melhor.
Quando você ouve seu sagrado e o trata exatamente como gostaria de ser tratado, você
começa a criar um elo. Criar esse elo significa que o Ibá vai mexer? Que você vai ficar rico?
Não! Nossos Exus e Òrìṣà se comunicam conosco pela nossa lealdade e fidelidade a eles.
Quando você pensar em um projeto, a primeira coisa que vai ouvir é aquela voz no
fundo de sua cabeça dizendo “eu acho que não é o momento certo…” e aí você vai
confirmar no jogo de seu Èṣù perguntando: “Eu devo fazer esse investimento? Vai ser bom
e próspero para mim e para minha família a longo prazo?”. E você vai ter a resposta certa.
Acredite na resposta que os búzios vão dar!
Todos os nossos assentamentos de Èṣù, de guardiões - catiços, assim chamados -
possuem a forma oracular para comunicação com eles. Muitas pessoas dentro do
candomblé falam que isso não existe. Se não existe, é apenas para elas, porque pra mim
existe, foi assim que o sagrado me pediu. E a minha trajetória começou com meus
questionamentos, eles são necessários para que entendamos as coisas da melhor forma
possível. Tudo é movido pelo questionamento. Quem responderá às minhas perguntas, já
que os pais de santo não passam as informações? Quem responde é nosso sagrado. Mas,
para isso, precisamos criar uma ligação com ele e não tratá-lo apenas como urgência em
momentos de crise.
Não tem como pensar “Ah, se meu Èṣù quiser, eu vou conseguir”. Èṣù não quer
nada. Òrìṣà não quer nada. Eles são deuses, não precisam do que você quer para que eles
queiram algo. Mas quando você se entrega, quando você coloca seu sagrado em primeiro
plano, você começa a mostrar que não consegue ter escolhas próprias, que você tentou por
muito tempo pensar sozinho(a), porém agora entendeu que sua vida é mais bem guiada por
ele.
Existem pessoas que precisam cultuar o sagrado e outras que não. E você que está
lendo este livro agora é uma das que precisam, porque cada um tem sua necessidade. A
minha necessidade de vida é louvar o nome de Oṣetura e Ọ̀ṣùn, porque eu realizo muitos
jogos e eles são os donos do oráculo. Então, quanto maior a minha ligação com eles, mais
minha intuição aumenta.
Às vezes na hora da consulta sai uma mensagem de que a pessoa está
desacreditada, que ela já foi muito enganada e eu ouço “Junior, fala para ela que aos 13
anos de vida dela aconteceu isso e aquilo”, e aí eu começo a falar: “Olha, Èṣù está aqui
falando que você tem um trauma desde a sua infância, início da adolescência, acredito que
na fase dos seus 13 anos”, e a pessoa desaba questionando “como o senhor sabe disso?”.
Èṣù me pede para mostrar que aquilo é vivo, que ele é vivo e isso me impressiona. Quanto
mais eu vejo que ele é vivo, quanto mais ele se manifesta na vida das pessoas, mais
segurança eu tenho do que falo e faço.
TERCEIRA REGRA
VOCÊ PRECISA TER ÈṢÙ NA SUA CASA, TENHA SEUS DEUSES COM VOCÊ
Nesse momento, parei em frente ao Èṣù do meu portão. E qual o propósito dele?
Ele é responsável pela entrada de nossas casas, ele trata daqueles que entram e saem,
sejam pessoas visíveis ou o que é invisível aos olhos humanos.
Eu não tenho um barracão de santo, ninguém tem a obrigação de ter, mas sim de
cuidar do sagrado, onde quer que estejamos, nós precisamos de Èṣù. Aqui eu tenho Èṣù
Onan e tenho meus guardiões. Estes últimos são ancestrais da terra onde eu vivo, do
Brasil, então todos tem exu e pombogira, essa é uma regra da espiritualidade que me foi
passada e eu aprendi.
Todos nós temos um lado esquerdo e um direito. O lado esquerdo do nosso corpo é
regido pelas grandes mulheres ancestrais, é nosso lado feminino. E o lado direito é o
masculino. Acompanhando essa lógica, temos o mesmo estilo de posicionar esses
guardiões em nossa casa, pois ela precisa de reforço espiritual para aguentar a energia das
pessoas que te procurarão.
Isso quer dizer que agora sua casa está completamente blindada? Não! Às vezes
entra um espírito escondido, tenta fazer arruaça, mas rapidamente nossos vigilantes,
nossos sentinelas, conseguem retirá-lo. Èṣù não dorme. Então, a partir do momento em que
você é iniciado, que tem seus guardiões assentados, é necessário tê-los em sua casa,
mesmo que tenha um cômodo, eles precisam estar com você.
QUARTA REGRA
QUINTA REGRA
SEXTA REGRA
Esta regra deveria ser a primordial. Sim, a sua primeira obrigação é estudar. É
procurar saber sobre Òrìṣà, seja como for, qualquer história, você precisa estar interessado
em estudar e aprender. Saber o que é Òrìṣà, saber como se traz o fragmento dessa energia
para as pessoas é essencial e você precisa ir atrás desse conhecimento.
Hoje eu tenho uma vasta coleção de materiais sobre os mais diversos assuntos
ligados ao sagrado. Materiais sérios, de antropólogos e pessoas respeitadas, que
estudaram para nos passar informações e fundamentos que não são passados com
facilidade. Acredito que se o candomblé se preocupasse com o conhecimento e também
em passá-lo adiante, seria uma religião maravilhosa e eu não sairia dela, já que o que me
fez sair do candomblé foi a dificuldade de acesso ao conhecimento.
Então, sua obrigação é aprender! Seja sobre ervas, sobre jurema, sobre umbanda,
sobre as vertentes de matriz africana. Se possível, aprender sobre cristianismo, sobre
hinduísmo, budismo… quanto mais conhecimento você tem, mais ampla é sua visão de
entendimento do sacral.
Estudar me possibilitou entender hoje é que é Exu e Pombogira e qual necessidade
que eles deixaram aqui na terra. A necessidade de reconhecimento. Todos queremos ser
reconhecidos de alguma forma e assim também foram os guardiões.
Hoje eu tenho um contato maior com Mulambo porque ela falou: “me ouça, se
entregue a mim para que sua vida seja mais equilibrada”. E isso é meu destino. Quando vou
jogar Opele com um Babalawo, sempre cai o Odu Osa Meji, Osa Oṣe, que são Odus que
falam sobre cobranças femininas. Eu sou muito mais cobrado pela parte feminina ancestral,
espiritual que pela parte masculina, então Mulambo vem como uma defensora, pois posso
ser atacado de todos os lados pela espiritualidade feminina, mas eu tenho uma como
representante da minha vida, que pode travar os ataques e me cobrar ao mesmo tempo.
Mesmo com a forma às vezes ríspida com que Mulambo lida comigo, eu entendo
que é para meu melhor caminhar, para que eu tenha um caráter mais limpo, mais ímpar. E
assim ela também vai ser lembrada, pois toda vez que eu falo alguma coisa, eu falo de
Mulambo, e assim o nome dela é exaltado, ela tem essa necessidade.
Alguns deuses possuem essa precisão de reconhecimento. Dona Mulambo é assim,
Seu Tranca Rua é assim. Todos querem deixar um legado, e eles deixaram um legado tão
grande e poderoso que são cultuados até hoje. E nós precisamos entender essa história e
entender os motivos de respeitá-la.
Além de estudar, você precisa procurar se conhecer, saber de onde vem, de onde
vem sua ancestralidade, se você precisa fazer Òrìṣà… Precisa-se entender pra que se faz
Òrìṣà. Algumas pessoas precisam fazer, outras precisam de Èṣù, outras de guardiões,
outras de Egun e outras precisam de tudo. Mas você só saberá disso com certeza quando
começar a estudar.
Muitos vão dizer que é uma mistura de candomblé, umbanda, Ifá, quimbanda mas
não é uma mistura de religiões, é um culto. Nós prezamos o ato de cultuar o sagrado.
Na Bíblia, em Mateus 18:20 fala-se: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos
em meu nome, aí estou eu no meio deles”. E assim também são os guardiões! Você não
precisa ir a um barracão cultuar o seu sagrado, você pode cultuá-lo dentro da sua casa, em
seu quintal, em seu quarto, no seu íntimo… Por que se limita? Por que sua casa não está
pronta? Por que sua vida não está pronta para receber a energia desse deus? Essa energia
é ruim? Não! Essas são as falácias, as mentiras que muitos sacerdotes falam, porque, na
verdade, eles não sabem as explicações.
Então esta regra serve para que você entenda que não pode ser manipulado por
ninguém! A única manipulação que você tem que ter é a do seu próprio sagrado.
SÉTIMA REGRA
Acredito que esta regra fala muito sobre o caráter de cada um. Você não
pode cultuar o sagrado por barganha! Não cultuar o sagrado não quer dizer que você vai
morrer, assim como fazer não quer dizer que vai viver eternamente. Faça o que tiver que
ser feito ao sagrado por amor, nunca por interesse. Muitos dizem “eu tenho que fazer
rìṣà pode ter uma história de riqueza, mas
porque assim vou ficar rico”. Isso não existe! O Ò
passou por muita labuta e sofrimento.
Você chegou até mim, viu meus vídeos em meu canal, leu os textos que posto em
minhas redes sociais, muitos copiados porque achei bonitos e hoje aprendi a dar créditos,
porque antes não sabia e como todo ser humano, sou falho. Até por isso não faço mais
nada por minha conta, é o sagrado que dita as regras da minha vida.
Antigamente, tudo que eu fazia dava errado, porque eu pensava apenas com a
minha cabeça que é muito humana, então eu errava demais. Hoje eu não faço nada sem
perguntar aos meus deuses, não tenho mais esse livre arbítrio, porque vi que funcionou
quando me entreguei por amor. Eu fiz tatuagens com os nomes deles - e ainda vou fazer
mais - simplesmente em agradecimento a eles por ser quem eu sou. Estou aqui escrevendo
um livro e, mesmo que as pessoas não leiam, esse é meu papel… Eu já plantei uma árvore,
preciso deixar meu legado! Eu quero ser lembrado ao longo das gerações e, para isso,
preciso ter um bom caráter e não posso fazer nada pensando na troca.
Eu compro e dou a melhor bebida e os melhores perfumes para dona Mulambo
porque ela merece, eu a enalteço porque ela merece, sempre mereceu. Eu que não
mereço! Talvez, quando eu morra, eu mereça ser lembrado. Então tudo que eu faço é por
necessidade, assim como necessito de água e comida para sobreviver, necessito de dona
Mulambo e meu sagrado. Coloque isso como necessidade de vida e nunca use como troca.
Não entre no sagrado pensando que vai fazer uma coisa para conseguir outra, tenha
caráter para assumir suas responsabilidades, sem jogar nas costas dos outros. Respeite o
sagrado acima de tudo!
Então resumindo a sétima regra: não barganhe com os Òrìṣà. Se você entrar no
mundo deles com a necessidade de barganhar, você será visto como um objeto, porque é
essa visão que você terá deles. E com certeza eles não são objetos.
OITAVA REGRA
Eu ouço muitas pessoas falando “eu vou fazer isso para meu Exu, mas eu sinto que
isso vai ofender a deus”. Primeiro você precisa entender que cada um é seu deus. Quando
você está fazendo a consulta a sua Pombogira, ela é sua deusa. Quando você está
consultando seu guardião, ele é seu deus. Eles são quem vão ditar as regras. Não tem deus
certo. Dessa forma, é fundamental que você seja imparcial com suas crenças religiosas e
acredite naquilo que está fazendo. A fé faz muito bem, ela é ótima, alimenta… mas fé sem
obra é fé desnecessária.
No Brasil existem muitas religiões e muitas misturas de crenças e você precisa ser
neutro no meio disso. Você não é africano, não é chinês, nem europeu. Está bem, algumas
pessoas realmente são, mas naquele momento em que você está aos pés de seu Exu e
Pombogira, você é deles. Então esqueça sua ligação com outras religiões. Naquele
momento sua religião é o seu guardião que você está cuidando.
Se desligue de costumes e dogmas religiosos de outras religiões que você
participou. O intuito dessas regras é que você entenda que é você quem pratica seu culto,
sua religião quem faz é você… Você é templo de seu Òrìṣà e não precisa ir atrás de um
templo, sua casa é o templo dele. A morada de seu Òrìṣà é sagrada, se você o coloca
dentro de sua casa, ela também se torna sagrada. Simples assim.
NONA REGRA
DÉCIMA REGRA
A família é a base do Òrìṣà. A partir do momento em que você cultua seu sagrado,
se cuida e cuida dos seus, vocês vivem muito mais felizes. Não adianta estar bem com
Òrìṣà e não estar bem com seu marido ou sua esposa e seus filhos. Hoje eu tenho esse
entendimento e passo para que vocês não errem como eu errei.
Existem famílias em que as pessoas possuem religiões diferentes e é muito difícil
conviver com alguém que rema para um lado, enquanto você rema para o outro. Então,
cultue seu sagrado e mostre que valeu a pena assentar seu Òrìṣà. Seja sempre em prol da
sua família. Se você está sozinho, seja em prol de você. Mas se você tem uma família,
mostre a diferença que o sagrado fez e faz em sua vida. Seja espelho de seu Òrìṣà.
Òrìṣà é lembrado pelas batalhas em que ele combateu e, principalmente, pelas
vitórias que teve nelas, deixando esse legado para que possamos cultuar. Também tem que
ser assim em seu seio familiar, porque nossa família é nossa descendência.
Quando você dá seu sobrenome ao seu filho, você está passando seu legado e ele
precisa ter orgulho de carregar esse nome com ele! Assim como nós precisamos ter orgulho
de ser de cada Òrìṣà. Eu sou de Ayrà, tenho orgulho disso e quero que ele tenha orgulho
de, mesmo que eu seja pequeno diante do poder dele, que eu faça alguma diferença no
mundo.
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Essas são as regras básicas de como cultuar o seu sagrado, de como nós
praticamos o nosso sagrado. Não é religião, a religião quem faz somos nós, a religião é do
dia-a-dia, é o culto do sagrado.
Depois dessas regras virão fundamentos como o porquê se raspa, a necessidade de
raspar, porque que todo mundo tem que ter Èṣù Bará, porque todo mundo precisa ter
guardião, porque todo mundo precisa se atrelar a uma energia africana, mesmo sendo
brasileiro.
Também não podemos esquecer que existem deuses aqui nesse plano astral, aqui
em nosso território, que são nossos ancestrais, intitulados como caboclos, boiadeiros,
pretos velhos, pombogira e exu… são os deuses daqui e, por isso, não podem ser
esquecidos.
Tudo começou pela África, é sabido disso, mas será que minha descendência está
mais forte na áfrica ou aqui no Brasil? Será que eu cultuando apenas o Òrìṣà minha vida
anda? Será que estou me ligando a energia correta?
Virão muitas coisas além dessas regras. Aguardem!