pela qual alguém se estima, torna-se ainda mais injusto. Ainda: mais
injusta de todas [as causas] ocorre quando se é orgulhoso sem nenhum
motivo” (p. 143-144).
Veneração (ou respeito): para Descartes (As Paixões da Alma,
art.: 162) “a veneração ou o respeito é uma inclinação da alma não
somente no sentido de estimar o objeto que venera, mas também de
submeter-se com temor a esse objeto, no sentido de esforçar-se para
torna-lo favorável [aos seus interesses]. Assim, somente temos
veneração pelas causas livres que julgamos capazes de nos fazer bem
ou mal, sem que saibamos qual de ambos nos será produzido” (p. 149).
Desdém: Descartes (As Paixões da Alma, art.: 163) afirma: “isso a
que nomeio desdém é a inclinação que tem a alma de desprezar uma
causa livre, julgando que, bem que por sua natureza essa causa possa
fazer bem ou mal, ela não é suficientemente forte a ponto de não poder
nos causar nem um nem outro. O movimento dos espíritos que excita o
desprezo é composto daqueles que excitam a admiração e a segurança
ou a audácia” (p. 149).
Segundo Grupo:
Amor: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 79), “o amor é
uma emoção da alma causada pelo movimento dos espíritos
[animados], que o incitam a unir-se voluntariamente aos objetos que
lhe parecem convenientes” (p. 89-90).
Afeição: no artigo 83 de As Paixões da Alma, Descartes compara
três tipos de amor: “pode-se, me parece, com melhor razão, distinguir o
amor pela estima que se tem por quem se ama em comparação a
estima por si mesmo. Pois, quando se estima o objeto de amor menos
do que a si mesmo, tem-se por ele somente uma simples afeição; (...)”
( p. 92).
Amizade: “quando se estima em igualdade consigo mesmo,
denomina-se amizade (...)” (p. 92).
Devoção: “e quando se estima acima [de si mesmo], a paixão que
se tem pode ser denominada devoção” (p. 92).
Atração: “chamamos normalmente de bem ou mal àquilo que
nossos sentidos interiores ou nossa razão nos fazem julgar conveniente
ou contrário à nossa natureza; porém chamamos de bom ou feio àquilo
que nos é representado por nossos sentidos exteriores, principalmente
pelo sentido da visão, o qual em si mesmo é mais considerado do que
todos os outros. Daí nascem duas espécies de amor, a saber, aquela
que se tem pelas coisas belas, à qual pode-se dar o nome de atração,
afim de não confundi-la com a outra, nem tampouco com o desejo ao
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Terceiro Grupo:
Ódio: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 157), “o ódio é
uma emoção da alma causada pelos espíritos [animados], que incitam a
alma a querer se separar dos objetos que se apresentam a ela como
perigosos” (p. 90).
Horror: Ao tecer considerações sobre as paixões despertadas pelas
coisas boas/mas (produzidas por nossos sentidos interiores) e pelas
coisas belas/feias (produzidas por nossos sentidos exteriores),
Descartes (As Paixões da Alma, art.: 85), considera que “daí nascem, da
mesma forma, duas espécies de ódio, uma das quais se reporta às
coisas más, a outra às coisas que são feias e essa última pode ser
chamada de horror ou aversão, afim de distingui-la. Contudo, o que é
notável é que as paixões de atração e horror têm o hábito de ser mais
violentas do que as outras espécies de amor ou de ódio, devido ao fato
de que aquilo que vem à alma através dos sentidos a toca mais
poderosamente do que aquilo que lhe é representado pela razão; e,
entretanto, elas têm ordinariamente menor grau de verdade: de forma
que, de todas as paixões, essas são as que mais nos iludem, e, assim,
deve-se tomar maior cuidado com elas” (p. 94)
Quarto Grupo:
Desejo: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 86), “a paixão
do desejo é uma agitação da alma causada pelos espíritos [animados],
que a dispõem a querer para o futuro as coisas que se lhe representam
ser convenientes. Assim, não se deseja somente a presença do bem
ausente, mas também a conservação do [bem] presente e, mais ainda,
a ausência do mal, tanto daquele que já sofremos, quanto daquele que
cremos poder nos afligir no futuro” (p. 95).
Esperança: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 165), “a
esperança é uma disposição da alma a se persuadir que aquilo que ela
deseja acontecerá, que é causada por um movimento particular dos
espíritos, a saber, aquele movimento gerado pela alegria e pelo desejo
misturados em conjunto (...)” (p. 150).
Temor: “e o temor é outra disposição da alma que a persuade que
não ocorrerá [aquilo que se deseja]. E é necessário notar que, mesmo
que essas duas paixões [esperança e temor] sejam contrárias, pode
acontecer de ocorrerem em conjunto, a saber, quando alguém se
representa, ao mesmo tempo, diversas razões, em que algumas fazem
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Quinto Grupo:
Alegria: “A alegria é uma agradável emoção da alma, que consiste
no prazer que ela tem do bem que as impressões do cérebro lhe
representam como boas. Digo que é nessa emoção que consiste o gozo
do bem” (As Paixões da Alma, art.: 91, p. 98).
Escárnio: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 178), “” (p.
157).
Satisfação interior: no artigo 66 d’As Paixões da Alma, Descartes
considera que “podemos também considerar a causa do bem e do mal,
tanto presente quanto passado. E o bem que foi realizado por nós
mesmos nos dá ma satisfação interior, que é a mais doce de todas as
paixões” (p. 82). “A satisfação que têm sempre aqueles que seguem
constantemente a virtude é um hábito em sua alma que se denomina
tranqüilidade e repouso de consciência. Porém aquela que ocorre
novamente quando se realizou recentemente alguma ação que se pensa
ser boa é uma paixão, a saber, uma espécie de alegria, que creio ser a
mais doce de todas, visto que sua causa depende de nós mesmos” (As
Paixões da Alma, art.: 190, p. 163).
Favor [ou benevolência]: para Descartes (As Paixões da Alma,
art.: 192), “o favor [ou benevolência] é propriamente um desejo de ver
chegar o bem a alguém por quem se tem boa vontade; mas não me
sirvo, aqui, dessa palavra para significar esta vontade no sentido em
que ela é excitada em nós por alguma boa ação daquele por quem nós
temos simpatia. Pois somos naturalmente levados a amar aqueles que
fazem coisas que estimamos, ainda que não nos advenha nenhum bem.
O favor, nesse sentido, é uma espécie de amor, não de desejo, ainda
que exista o desejo de ver o bem sempre acompanhar aquele por quem
temos consideração. O favor está normalmente ligado à piedade, devido
às desgraças que vemos chegarem aos infelizes e que nos fazem refletir
ainda mais sobre seus méritos” (p. 165).
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Sexto Grupo:
Tristeza: “A tristeza é um langor desagradável que consiste no
incômodo que a alma recebe do mal, ou da falta daquilo que as
impressões do cérebro representam como sendo necessárias. Há
também a tristeza intelectual que não é a paixão, mas que não deixa de
estar acompanhada” (p. 99).
Piedade: para Descartes (As Paixões da Alma, art.: 185), “a
piedade é uma espécie de tristeza misturada com o amor ou com a boa
vontade em relação àqueles que vemos sofrer algum mal do qual
consideramos indignos. Assim, é contrária à inveja em razão de seu
objeto e ao escárnio em razão da maneira como considera [os fatos]”
(p. 161).
Remorso: o mal que excita o remorso é considerado por Descartes
como a mais amarga de todas as paixões (As Paixões da Alma, art.: 63,
p. 82); essa paixão seria produzida a partir do mal causado por nós a
nós mesmos ou aos outros, tanto no presente quanto no passado. “O
remorso é diretamente contrário à satisfação de si mesmo e consiste em
uma espécie de tristeza que aparece quando se crê ter feito alguma má
ação, e é uma paixão muito amarga porque sua causa vem apenas de
nós mesmos” (As Paixões da Alma, art.: 191, p. 164).
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1
O termo musica reservata, segundo Bukofzer, “deriva provavelmente da fiel
observância da letra” (BUKOFZER,1986, p. 20). Uma diferença essencial entre a
representação musical dos afetos na Renascença e no Barroco está em que, naquela
eram representadas palavras isoladas e os músicos preferiam as paixões mais
brandas, enquanto que neste, eram preferidas as paixões extremas (desde a dor
dilacerante até o júbilo eufórico), também no Barroco era representado o afeto geral
do texto e não termos ou versos isolados.
2
Neste sentido, a Teoria dos Afetos é distinta da expressão patética do romantismo,
em que se busca expressar as transformações de estados de alma do artista; assim, a
teoria dos afetos busca ‘representar’ as paixões, enquanto que o romântico busca
expressá-las, isto é, substituí-las pelos meios musicais. Patético – do grego:
pathétikós,ê,ón ‘acessível às impressões exteriores; capaz de sentir, sensível; que
sente as impressões de modo passivo; passivo (gram.); comovente, próprio para
comover’, pelo lat. pathetìcus,a,um ‘tocante, impressivo’; f.hist. 1720 pathêtico, 1789
pathetico, 1813 pathético.
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RETÓRICA
consenso sobre isso. A lista de categorias abaixo é dada por Buelow (in:
GROVE, p. 795-800):
¾ Figuras de repetição melodia
¾ Figuras com base em imitação fugal
¾ Figuras formadas por estruturas dissonantes
¾ Figuras de intervalos
¾ Figuras de Hypotyposis (também denominada
“madrigalismo”) – “descrição de uma cena ou situação com
cores tão vivas, que faz o ouvinte ou leitor ter a sensação de
que as presencia pessoalmente; gr. hupotúpósis,eós ‘esboço;
exposição sumária, definição geral; modelo, exemplo; figura de
retórica’, pelo lat. hypotypósis,is ‘evidência’ [fig. de retórica];
f.hist. 1713 hypotyposis, 1813 hypotypósis” (Houaiss).
¾ Figuras sonoras
¾ Figuras formadas por silêncio