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Benildo Álvaro Muitano

AS CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA

PARENTESCO E FAMÍLIA

(Licenciatura em Ensino de Química)

Universidade Rovuma

Lichinga

2021
2

Benildo Álvaro Muitano

AS CORRENTES TEÓRICAS DA ANTROPOLOGIA


PARENTESCO E FAMÍLIA
(Licenciatura em Ensino de Química)

Trabalho de investigação realizado no âmbito da


cadeira de Antropologia Cultural de
Moçambique, Para fins avaliativos, a ser
submetido no Departamento de Ciências,
Tecnologia, Engenharia e Matemática
recomentada pela: Msc. Manuela Manuel.

Universidade Rovuma
Lichinga
2021
3

Índice
1.Introdução...........................................................................................................................5

1.1.Objectivos........................................................................................................................5

1.1.2.Geral:.............................................................................................................................5

1.1.3.Especifico......................................................................................................................5

1.1.4.Metodologia..................................................................................................................5

2.Principais correntes na antropologia...................................................................................6

3.O Parentesco e a Família...................................................................................................10

3.1.Parentesco......................................................................................................................10

3.2.Laços de Parantesco.......................................................................................................10

3.3.Descendência..................................................................................................................10

3.4.Descendência unilateral dupla........................................................................................11

4.Nomenclatura de parente ou terminologa de parentesco..................................................11

4.1.Clã..................................................................................................................................11

4.2.Simbologia de parentesco..............................................................................................12

4.2.1.Tabela de simbologia de parentesco...........................................................................12

5.Família...............................................................................................................................13

5.1.Quanto às regras de residência, a família pode ser........................................................13

5.2.Quanto ao número de cônjuges, a família pode ser:......................................................13

5.3.Quanto à relação de poder, a família pode classificar-se em:........................................14

5.4.Quanto ao parentesco, a família pode adquirir as seguintes classificações:..................14

6.Importância social da família............................................................................................16

6.1.Identificação do núcleo social inicial.............................................................................16

6.2.Socialização primária.....................................................................................................17

6.3.Socialização secundária.................................................................................................17

7. Tipologia familiar ou composições familiares.................................................................17

8.Casamento.........................................................................................................................18
4

8.1.Casamento civil..............................................................................................................18

8.2. Casamento religioso......................................................................................................18

8.3.casamento tradicional.....................................................................................................19

9.Conclusão..........................................................................................................................20

10.Referência Bibliográficas................................................................................................21
5

1.Introdução
A antropologia desenvolveu-se graças a existência de diversas correntes antropológicas que se
debruçaram sobre diversos temas referentes à ciência antropológica: o evolucionismo, o
difusionismo, o funcionalismo assim como o estruturalismo. A teoria psicanalítica de
Sigmund Freud (1856-1939) foi uma das influências fundamentais nesse movimento da
antropologia cultural norte-americana, que ficou para a história da antropologia como
Culturalismo ou, movimento de cultura-personalidade. O sistema de parentesco baseia-se no
fato de um indivíduo pertencer, simultaneamente, a duas famílias: à que nasceu (de
orientação) e à que constituiu (de procriação).

1.1.Objectivos

1.1.2.Geral:
 Descrever as correntes antropológicas.

1.1.3.Especifico:

 Identificar os principais expoentes de cada corrente;


 Identificar as principais características das correntes;
 Definir o parentesco.

1.1.4.Metodologia
O presente trabalho se caracterizou por ser bibliográfico, desenvolvido a partir de materiais
elaborados e publicados por inúmeros autores escolhidos para ajudar na elaboração deste
trabalho para partir da questão que objectivou a suscitar reflexões sobre o tema.
2.Principais correntes na antropologia
Correntes Características Principais defensores Essência da corrente
Como afirma Lelatine (2003) evolucionismo foi A principal ideia do evolucionismo
época em que a antropologia emergiu como Edward Burnett Tylor (1832-1917) consistia em defender que a cultura e as
ciência, segunda metade do século XIX, foi Lewis Henry Morgan (1818-1889) sociedades evoluem, tal como as
marcada pelo triunfo das ideias evolucionistas espécies e os organismos, a partir de
saídas dos escritos de Herbert Spencer, Charles formas mais simples até chegarem a
Darwin, Alfred Wallace (1823-1913) e outros que outras mais complexas. Tanto Tylor
como eles alimentaram a corrente evolucionista e como Morgan afirmavam que as
Evolucionismo progressivista dessa época. Colonialismo e a sociedades passam por estádios de
ideologia dos administradores coloniais, uma vez evolução até chegarem às formas mais
que continha uma escala hierarquizada de complexas da vida social. Acreditavam
instituições e valores culturais, no topo da qual se também que era possível encontrar
encontravam os valores da “civilização” europeia ainda no século XIX sociedades em
(Kuper 1996:112), legitimando assim a diferentes estádios e graus de evolução.
colonização “civilizadora”.

O difusionismo tornou-se popular, nos finais do Grafton Elliot Smith (1871-1937), A ideia central desta corrente era a de
século XIX, quando o evolucionismo era ainda William James Perry (1887-1949) que as civilizações mais “avançadas”,
uma teoria influente, e constituiu um domínio das e das quais a Europa representava o
teorias evolucionistas. Existiram duas escolas William Halse Rivers Rivers expoente máximo, tinham a sua origem
7

Difusionismo principais: uma na Alemanha-Áustria e outra na (1864-1922). no velho Egipto, considerado uma
Grã-Bretanha. civilização avançada devido ao facto de
nela se ter desenvolvido a prática da
agricultura muito cedo e de esta ter
levado ao desenvolvimento de formas
de religião, arquitectura e arte muito
“avançada”.
8

Segundo JORDÃO (2004) a nossa espécie não Bronislaw Kasper Malinowski


O funcionalismo é um ramo da
era, nesse aspecto, diferente das outras. Essas (1884-1942)
antropologia e das ciências sociais que
necessidades básicas eram a nutrição, reprodução, Alfred Reginald Radcliffe-Brown
procura explicar aspectos da sociedade
conforto corporal, segurança, relaxamento (e (1881-1995)
em termos de funções. Essa corrente
outras do mesmo género).
defende que cada instituição exerce
O funcionalismo opõe-se ao evolucionismo e ao
uma função específica na sociedade e o
difusionismo priviligiando, já não uma
seu mau funcionamento significa um
abordagem diacrónica (ao longo do tempo), mas
desregramento da própria sociedade. A
sim uma abordagem sincrónica da sociedade.
sua interpretação de sociedade está
Funcionalismo Trata-se de compreender como funciona uma
diretamente relacionada com o estudo
sociedade. Para isso, o conhecimento da sua
do facto social, que, segundo Émile
história pode ser útil, mas não necessário. Para se
Durkheim, apresenta características
compreender como funciona uma língua, estuda-
específicas: exterioridade e a
se a gramática, a fonética, a fonologia, etc.; mas
coercitividade.
não é necessário estudar a história das palavras.
9

O estruturalismo de Lévi-Strauss procurava Segundo Lévi-Strauss, a cultura


descobrir a origem desse mesmo sistema, assim Claude Lévi-Strauss (1908-2009), corrompe as estruturas elementares da
como provar a universalidade dessa origem, a mente, sobretudo por parte das
qual segundo ele se ancorava na estrutura sociedades complexas com culturas
profunda da mente humana. quentes onde as mudanças constantes
Estruturalism dos hábitos, dos valores e das tradições
o sujeitam as estruturas mentais
inconscientes dos indivíduos à
racionalização das suas actuações,
provocando uma corrupção das suas
estruturas mentais.
Ralph Linton (1893-1953)
O "Culturalismo" foi uma abordagem ontológica Segundo ZNANIECKI (1919) Na
Abram Kardiner (1891-1981)
e epistemológica que visa eliminar os dualismos, sociologia, antropologia e filosofia,
como a crença de que a natureza e a cultura são Culturalismo é a corrente que defende a
Culturalismo
realidades opostas. importância central da cultura como
uma força organizadora nos assuntos
Esta abordagem permitiu-lhe "definir fenômenos
humanos.
sociais em termos culturais".
3.O Parentesco e a Família

3.1.Parentesco
De acordo com Augé (2003) o parentesco é o vínculo por consanguinidade, adopção, aliança
(através do casamento), afinidade ou qualquer relação estável de afectividade. Trata-se,
portanto, de vínculos podendo ser ou não biológicos e que se organizam de acordo com linhas
que permitem medir/qualificar diversos graus de parentesco.

Duas pessoas podem estar emparentadas de três formas básicas: por consanguinidade, por
afinidade ou por adopção. O parentesco por consanguinidade estabelece-se através de um
vínculo de sangue, quando existe pelo menos um ascendente em comum. A proximidade deste
parentesco mede-se de acordo com o número de gerações que separam ambos os pais (AUGÉ,
2003).

Segundo SANTOS (2002) parentesco no sentido restrito “refere-se aos laços de sangue, mas
num sentido mais amplo, também aplica-se aos laços de afinidade ou de casamento
(parentesco por afinidade ou por casamento) ”.

3.2.Laços de Parentesco
É a relação que decorre da posição ocupada pelo sujeito no sistema de parentesco. Pode-se
falar de três tipos de laços de parentesco:

 Laço de sangue (descendência);


 Laço de afinidade (matrimónio ou casamento);
 Laço fictício (Adopção).

3.3.Descendência
Relação do sujeito com os seus parentes de sangue. Embora o critério de descendência seja
biológico, em Moçambique a descendência obedece à critérios culturais (de descendência
unilateral). Por exemplo, um indivíduo é sempre filho de uma mãe e um pai, mas na zona
norte de Moçambique leva-se em consideração a descendência matrilinear, enquanto no sul
considera-se a descendência patrilinear. Nas sociedades europeias a descendência é dos dois
progenitores (descendência bilateral).

A descendência matrilinear é também conhecida como descendência uterina, a patrilinear tem


também a designação de descendência agnática, enquanto a descendência bilateral (de ambos
os progenitores) é denominada cognática.
11

3.4.Descendência unilateral dupla


Acontece em sociedades que não consideram como preponderante a linhagem matrilinear
nem a patrilinear, porém, orientam-se pela linhagem patrilinear para uns propósitos (ex:
realização de funerais, delegação da herança), e orientam-se pela linhagem matrilinear para
outros propósitos (ex: o cuidado de crianças, a atribuição de apelidos).

4.Nomenclatura de parente ou terminologia de parentesco


É o sistema de denominações das posições relativas aos laços de sangue e de afinidade.
Exemplos de nomenclaturas de parentesco: pai, mãe, irmão, primo, esposa, cunhado, sogra,
enteado, filho, neto e sobrinha. Importa significar que a nomenclatura de parentesco pode ser
descritiva e classificatória.

A nomenclatura de parentesco descritiva é aquela em quye se usa um termo diferente para


designar a cada um dos parentes. Exemplo: papá (pai biológico), mamã (mãe biológica), mana
(irmã biológica mais velha).

A nomenclatura de parentesco classificatória é aquela em que se emprega indistintamente o


mesmo termo para designar a um grupo de pessoas com quem se tem um laço de parentesco.
Por exemplo, quando se aplica o termo “mamã” para designar à mãe biológica, à irmã da mãe,
ou à madrasta. Também estamos perante a nomenclatura de parentesco classificatória quando
se trata como irmão, ao próprio irmão biológico, ao primo ou ao filho de uma madrasta.

4.1.Clã
Grupo de pessoas dotado de nome e de descendência unilateral, isto é, que deriva de um
ancestral comum e que segue regras de descendência matrilinear/uterina ou
patrilinear/agnática e jamais de ambas simultaneamente.

Os clãs do sul de Moçambique que seguem a descendência agnática ou patrilinear são


designados patriclãs, enquanto os do norte do país que se orientam pela descendência uterina
ou matrilinear denominam-se matriclãs.

4.2.Simbologia de parentesco
A simbologia adotada inclui um triângulo para o homem e um círculo para a mulher. Estes
símbolos não possuem nenhum preenchimento. Entretanto, o gráfico sempre analisa os laços
de parentesco a partir de um EGO (masculino ou feminino), e este símbolo, para melhor
visualização, é diferenciado com o seguinte preenchimento:
12

Os dois principais tipos de relação são representados da seguinte forma:

4.2.1.Tabela de simbologia de parentesco

Parentes Abreviaturas Utilização


Father Pai Fa F PAI
Mother Mãe Mo M MAE
Husband Marido Hu H MAR
Wife Esposa Wi W ESA
Brother Irmão Br B IRO
Sister Irmã Si Z IRA
Son Filho So S FIO
Daugther Filha Da D FIA
Child Criança Ch C CRI
Spouse Esposo Sp - ESO
Parents Pais Pa P PAS
Sibling Irmãos Sb - IRS
In-law Afim La - AFI

Para o entendimento das sociedades simples, o sistema de parentesco é um tópico bastante


estudado, pois oferece “aspectos mais regulares e recorrentes, permitindo a construção, o teste
de generalizações e o entendimento da estrutura social das sociedades simples” (ALVES e
SANTOS, p. 166).

O sistema de parentesco baseia-se no fato de um indivíduo pertencer, simultaneamente, a duas


famílias: à que nasceu (de orientação) e à que constituiu (de procriação).

5.Família
No sentido mais restrito é o conjunto de pessoas que vivem sob o mesmo tecto. Mas no
sentido lato, a família é o conjunto das sucessivas gerações descendentes de antepassados
comuns; já na linguagem do senso comum costuma dizer-se que a família é a célula básica da
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sociedade. Por família, também, pode-se entender como o conjunto de parentes por
consanguinidade ou por aliança ou afinidade.

Para BERNARDI, existe um tipo de classificação da família que se vale dos seguintes
critérios:

 Regras de residência;
 Número de cônjuges;
 Relação de poder e parentesco.

5.1.Quanto às regras de residência, a família pode ser:

 Patrilocal: aquela que estabelece uma residência conjunta entre um casal e os pais do
homem. Geralmente nas sociedades meridionais de Moçambique há uma tendência de
as famílias estabelecerem residências patrilocais devido à estrutura e natureza do
poder que se centra nas mãos dos homens;
 Matrilocal: aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da
mulher. Com frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde
há uma tendência de as famílias estabelecerem residências matrilocais;
 Neolocal: é a família cujo casal tem uma residência independente da dos pais de
ambos os cônjuges. Este tipo de residência é mais frequente em sociedades
urbanizadas onde o estilo de vida exige uma autonomia das famílias.

5.2.Quanto ao número de cônjuges, a família pode ser:


 Monogâmica: quando a união é de um só homem com uma só mulher;
 Poligâmica: é a união de um só marid com várias esposas ou de uma mulher com
vários maridos;
 Poligínica: é a família em que o homem é quem pratica a poligamia, isto é, a união de
um marido com várias esposas;
 Poliândrica: é a família em que a mulher é quem pratica a poligamia, ou seja, a união
de uma mulher com vários esposos.

5.3.Quanto à relação de poder, a família pode classificar-se em:


 Patriarcal ou patrilinear: é a família cujo poder é exercido pelo marido. As famílias
patriarcais abundam no sul de Moçambique, sendo que o patriarcado como uma
relação de poder incide também no casamento, na sucessão, na herança e na estrutura
social das famílias;
14

 Matriarcal ou matrilinear: é a família cujo poder é exercido pela mulher. As famílias


matriarcais abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce o poder
indirectamente através do seu irmão do sexo masculino. É este a quem cabe zelar pela
orientação da vida dos filhos da irmã, cuidar pela iniciação desses filhos e legar-lhes a
sua herança em caso de morte. O papel do pai biológico é quase que passivo, pelo que
quando o filho porta-se mal ou comete uma infracção, o pai remete a solução dessa
situação ao tio materno do filho, isto é, ao irmão da mãe do filho.

5.4.Quanto ao parentesco, a família pode adquirir as seguintes classificações:


 Nuclear: é a família constituída pelo marido, esposa e os filhos resultantes dessa união,
todos morando juntos numa residência neolocal. A família nuclear pode ser de
orientação, aquela da qual cada um de nós proveio e a família nuclear de procriação,
que é a que cada um de nós funda ou estabelece;
 Alargada ou extensa: este tipo de família constitui-se por um casal, os filhos e os
familiares colaterais (sobrinhos, netos, primos, irmãos), todos vivendo numa mesma
residência patrilocal, matrilocal ou neolocal;
 Reconstituída: composta por um homem divorciado ou viúvo com os filhos e uma
mulher (a madrasta), ou por uma mulher divorciada ou viúva com os filhos e um
homem (o padrasto), ou ainda, por um homem e uma mulher, ambos divorciados ou
viúvos vivendo juntos com os respectivos filhos;
 Monoparental: aquela composta só pelo pai solteiro ou viúvo e os filhos, ou só pela
mãe solteira ou viúva e os filhos.

A família, diz Robert Rowland (1997) é consequência das relações de parentesco, é um grupo
doméstico co-residente e com limites variáveis segundo os contextos culturais. Alguns tipos
de família são:

 Família nuclear: grupo de parentes formado pelos pais e os filhos, que residem juntos,
e os filhos tendem a herdar dos pais;
 Família extensa ou “souche” (alargada);
 Família de orientação: aquela onde um nasce e aprende a ser criança;
 Família de procriação: aquela que formamos no momento do nosso casamento,
quando um se casa e tem filhos.
15

Neste ponto também devemos pensar a linhagem ou clã, algo mais permanente que a família
nuclear. A pertença ao mesmo é por adscrição de nascimento. Leva associada uma relação
genealógica dos descendentes de um antepassado comum.

Após a fixação do grupo etno-linguistico bantu na região onde hoje é Moçambique, desde
cerca de 1700 anos, a base fundamental da economia consistia na agricultura de cereais,
principalmente de mapira e mexoeira. A produção agrícola, que determinava relações de
produção permanentes, era feita pelas mulheres da aldeia, que produziam para a família
alargada (clã). Sendo assim, como produtoras, as mulheres detinham certa autoridade e
controle sobre os celeiros, mas não controlavam bens mais valiosos e duradouros, como o
gado, por exemplo. A caça e a pesca, por sua vez, eram praticadas pelos homens e tinham
como finalidade complementar a dieta alimentar. Não configuravam, no entanto, relações de
produção tão duráveis quanto na agricultura.

De acordo com GARCIA (2001), em Moçambique assim como noutras sociedades africanas,
a unidade fundamental das sociedades é a família extensa, que funciona como elemento
mítico -espiritual, social e até juridicamente solidário. Aquelas estruturas possuem um
carácter intensamente comunitário; desempenhando o indivíduo funções com importância
colectiva; o seu interesse é subordinado ao geral. O comunitarismo faz ainda parte da religião,
das formas de vida económica e da existência de inúmeras sociedades especiais (no espaço
entre família e a tribo). Visto que as famílias moçambicanas são no geral colectivistas, onde o
papel de cada um dos membros está bem definido e, um possível erro de um dos membros
pode ser analisado como sendo um erro de toda família no geral.

Conforme AGHASSIANETALL (2003), as famílias podem ser classificadas em:

Filiação unilinear ou unilateral: quando o parentesco só é transmitido aos filhos de um casal


legítimo por um dos pais, com exclusão do outro. Quando o pai transmite o parentesco, a
filiação é patrilinear; quando é a mãe que o transmite, a filiação é matrilinear.

A filiação unilateral ou unilinear segundo o autor subdivide em:

 Filiação patrilinear ou Agnática.

De acordo com AGHASSIAN, et all (2003), os filhos fazem parte do grupo de parentesco do
pai, o que significa que os pais transmitem o parentesco.

A WILSA Moçambique (1998) sustenta que a patrilinearidade é frequente no sul e centro de


Moçambique.
16

Nas sociedades patrilineares a linha de perpetuação de grupos de parentesco passa


exclusivamente através dos homens. Tal como se verifica nas regiões centro e norte dos pais
como a WILSA já havia identificado como sendo regiões que apresentam o sistema
Patrilinear e como e o caso das regiões sul e centro os homens tem tido mais valor em relação
ao homem. a defende que nas sociedades patrilineares a importância social dos homens é
maior do que das mulheres.

A patrilinearidade é mais frequente nas sociedades onde as actividades económicas


masculinas são decisivas e o seu papel social é sobrevalorizado.

A filiação patrilinear é a forma mais comum da filiação unilinear. Neste sistema de filiação e
organização patrilinear, os membros de um grupo de parentesco unem-se pela ligação a um
antepassado comum masculino através de uma linha de ascendência - descendência que cruza
as diferentes gerações somente através de parentes masculinos.

6.Importância social da família


A importância social da família se dá por esta ser o principal agente de socialização e
reproduzir padrões culturais no indivíduo. Ela “inculca” modos de pensar e atuar que se
transformam em hábitos. A família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção e a
socialização dos indivíduos. Esta, por sua vez, vem sendo apontada como elemento-chave não
só para a “sobrevivência” dos indivíduos, mas também para a proteção e a socialização,
transmissão do capital cultural, do capital econômico e da propriedade do grupo, bem como
para ampliar as relações de gênero e de solidariedade entre as gerações. Na família, destacam-
se três momentos importantes de socialização de seus membros.

6.1.Identificação do núcleo social inicial


Identificação dos pais como primeiro núcleo social da criança, pois esses apresentam uma
grande influência no seu processo de desenvolvimento cognitivo, social e psicológico. É a
relação com os pais que constitui a base referencial de todas as outras, por serem responsáveis
em transmitir as primeiras informações e interpretações sobre o mundo.

6.2.Socialização primária
Nessa socialização, a família é o agente mais importante no processo de internalização e
aprendizagem, pois fornece o marco para a definição e conservação das diferenças humanas,
dando forma aos papéis sociais básicos. Na primeira socialização é como o processo pelo qual
17

uma ordem social e cultural é “mediatizada” por outros significados, e, através da


identificação destes, sucede-se a interiorização do mundo social no qual se nasce.

6.3.Socialização secundária
Ocorre quando o sujeito entra em contato com grupos extrafamiliares, sem desmerecer a força
significativa da sedimentação das normas e valores que foram apreendidos através da
socialização primária. Nesse período outras relações sociais colaboram para o
desenvolvimento de crianças e adolescentes, em especial, as relações vividas na escola e nos
grupos de colegas (já na adolescência). Quando a família deixa de cumprir suas funções
básicas juntos aos seus membros, acaba gerando custos sociais e financeiros adicionais, na
medida em que iniciativas públicas e privadas compensatórias, que nem sempre são eficazes,
tornam-se necessárias para cobrir as demandas dali originadas. Não obstante a formação de
profissionais deve estar atenta à consideração de interdisciplinaridade da área de estudos da
família e todas as dimensões da mesma devem ser consideradas, desde as relações
interpessoais até sua inserção na sociedade mais ampla.

7. Tipologia familiar ou composições familiares


Segundo KASLOW apud MINUCHIN (1990) a classificação mais utilizada pelos estudos de
psicologia e sociologia é a Classificação de Kaslow de composição familiar, que consiste no
arranjo dos membros que compõem esta família. Segundo o autor, a família pode ser
classificada em:

a) Família nuclear, incluindo duas gerações com filhos biológicos;

Família nuclear é aquela composta de um homem e uma mulher que coabitam e mantêm um
relacionamento sexual socialmente aprovado, tendo pelo menos um filho.

b) Famílias extensas, incluindo três ou quatro gerações;

As famílias extensas são compostas pelo núcleo familiar e agregados que coabitam a mesma
unidade doméstica. De certo modo, a família extensa foi substituída pela família nuclear,
especialmente, nos grandes centros urbanos. Além disso, difundiram-se novos arranjos
familiares desvinculados da união lega.

c) Famílias adotivas, que podem ser bi-raciais ou multiraciais;


18

A possibilidade da adoção disposta no Código Civil Brasileiro, faz com que a composição da
família adotiva se tornasse realidade. Esta é composta por um homem e mulher cujo filho não
apresenta laços de consangüinidade.

d) Casais;

A família dita “casal” é aquela em que o homem e mulher se enlaçam via matrimônio, mas
não concebem nem adotam filhos.

8.Casamento
De acordo com o BOLETIM DA REPÚBLICA, existem três tipos de casamentos:
 Casamento civil,
 Religioso e
 Tradicional

8.1.Casamento civil
O casamento civil é um contrato entre duas pessoas tradicionalmente com o objectivo de
constituir uma família. A definição exata varia historicamente e entre as culturas, mas, até há
pouco tempo e na maioria dos países, era uma união socialmente sancionada entre um homem
e uma mulher (com ou sem filhos) mediante comunhão de vida e bens. Até ao século XIX, o
casamento era visto nas sociedades ocidentais meramente como um acordo comercial entre
duas famílias sem que os dois intervenientes tivessem muito voto na matéria. O romantismo
veio alterar esta imagem e passou-se então a existir o conceito de casar por amor.

8.2. Casamento religioso


Um casamento religioso ou matrimónio religioso é uma celebração em que se estabelece o
vínculo matrimonial segundo as regras de uma determinada religião. Submete-se tão-somente
às regras da respectiva religião e não depende do seu reconhecimento pelo Estado ou pela lei
civil para ser válido no âmbito da religião em questão.

8.3.casamento tradicional
O casamento clássico é ideal para casais conservadores e que gostam de manter a tradição.
São noivos que respeitam os pré-requisitos da cerimónia e Copo-d´àgua e que se preocupam
com as questões de protocolo e etiqueta do casamento como um todo.

O casamento religioso e tradicional só podem ser celebrados por quem tiver a capacidade
matrimonial exigida por lei.
19

Neste tipo de casamentos a capacidade matrimonial dos nubentes é comprovada por meio de
processo preliminar de publicações, organizado nas repartições do registo civil a requerimento
dos nubentes ou do dignatário religioso, nos termos da lei de registo. Verificada no despacho
final do processo preliminar de publicações a inexistência de impedimentos à realização do
casamento, o funcionário do registo civil extrai o certificado matrimonial, que é remetido ao
dignatário religioso e sem o qual o casamento não pode ser celebrado.

O consentimento dos pais, legais representantes ou tutor, relativo ao nubente menor, pode ser
prestado na presença de duas testemunhas perante o dignatário religioso, o qual lavra auto de
ocorrência, assinando-o todos os intervenientes.

Para a realização do casamento religioso é indispensável a presença:

 Dos nubentes ou de um deles e o procurador do outro;


 Do signatário religioso competente para a celebração do acto; e
 De duas testemunhas

Para a realização do casamento tradicional é indispensável à presença:

 Dos contraentes;
 Da autoridade comunitária; e
 De duas testemunhas.
20

9.Conclusão

O funcionalismo opõe-se ao evolucionismo e ao difusionismo priviligiando, já não uma


abordagem diacrónica (ao longo do tempo), mas sim uma abordagem sincrónica da sociedade.
Trata-se de compreender como funciona uma sociedade. Para isso, o conhecimento da sua
história pode ser útil, mas não necessário. Para se compreender como funciona uma língua,
estuda-se a gramática, a fonética, a fonologia, etc.; mas não é necessário estudar a história das
palavras. Dois são os pólos mais salientes do funcionalismo: o funcionalismo de Bronislaw
Malinowski e o funcionalismo de Radcliffe-Brown.
21

10.Referência Bibliográficas
MARCONI, Marina de Andrade; PRESOTTO, Zélia Maria Neves. Antropologia: uma
introdução. 6ª ed., São Paulo: 2006 .

ERICKENS, Thomas Hylland. NIELSEN. História da Antropologia. 4ª ed. Editora Vozes,


Petrópolis, R J, 2010.

SANTOS, Armindo dos. Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia Socal.


Universiadade Aberta, 2002.

BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etnoantropoloógicos, pgs 289-294.

MINUCHIN S. Famílias: Funcionamento e tratamento. Porto Alegre: Editora Artes Médicas,


1990.

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