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Dados bibliográficos:

DEYON, Pierre. “Políticas e práticas do Mercantilismo”. In: O Mercantilismo. São


Paulo: Perspectiva, 1973. cap. 1, p. 14 - 44.

Tema:

No primeiro capítulo de “O Mercantilismo”, Pierre Deyon explica as origens e define


os princípios da prática econômica que dá nome a obra. Ao mesmo tempo, o autor
destaca os principais países que a adotaram, descrevendo todas as ações e
circunstâncias que os favoreceram, além de as características próprias que cada um
desenvolveu e adicionou a esse período.

Conteúdo:

“Todas as grandes monarquias europeias do século XVI, com maior ou menor


felicidade, maior ou menor continuidade, enveredaram por esta via do
intervencionismo econômico.” (DEYON, 1973, p. 17)

“É aos movimentos monetários que os governos dedicaram, talvez, maior atenção. Em


toda parte, quer-se acabar com as saídas de numerário.” (DEYON, 1973, p. 18)

“Os maiores espíritos do século hesitam entre a teoria quantitativista da moeda e a da


balança comercial.” (DEYON, 1973, p. 20)

Para Deyon, o mercantilismo foi um modelo baseado nos sistemas manufatureiro e


agrícola e em uma concepção do poder estatal. No mais, intervencionismo estatal,
metalismo, protecionismo e balança comercial favorável são expressões fundamentais
para entender conjunto de medidas em questão, segundo o autor francês.

“A aspereza das competições internacionais em que se viram envolvidos os dois países


excitou seu jovem nacionalismo econômico.” (DEYON, 1973, p. 21)

“A modernização do aparelho de Estado contribuiu igualmente para os progressos da


prática mercantilista.” (DEYON, 1973, p. 22)

“As circunstâncias conjunturais constituem um último elemento favorável, trazem uma


justificação suplementar às teses mercantilistas.” (DEYON, 1973, p. 23)

“[...] o esforço de Colbert é um plano de reconstrução, de restabelecimento nacional,


tanto quanto um serviço do Rei.” (DEYON, 1973, p. 23)

“Assim, a prosperidade de um Estado não poderia ser edificada senão a expensas de


seus vizinhos; a esta “guerra de prata” Colbert concitava a França e incitava seu
soberano.” (DEYON, 1973, p. 25)
“Mas a arma essencial desta competição internacional é o desenvolvimento da
marinha, a multiplicação das manufaturas e das companhias de comércio, às quais
Colbert devota cuidados atentos.” (DEYON, 1973, p. 25)

“Colbert, um gênio ou um medíocre nocivo? Nem um, nem outro, mas um homem de
seu tempo e de seu país, um ministro desta poderosa monarquia administrativa, cuja
grandeza não podia conformar-se com a decadência comercial e industrial. Num
momento e num país onde tudo conspirava para desviar os filhos da burguesia das
atividades econômicas [...] ele tentou dar ao país o sentido do labor, da eficácia e da
empresa.” (DEYON, 1973, p. 29)

Com relação a França, como é de conhecimento comum, o mercantilismo esteve


voltado para o desenvolvimento de manufaturas de luxo para atender a nobreza e o
mercado espanhol. Da mesma forma, procurou expandir suas companhias de comércio,
bem como a construção naval. O principal aplicador do sistema mercantilista na França
foi o ministro das finanças Jean-Baptiste Colbert, a quem Deyon cita inúmeras vezes.
O historiador empreende uma análise minuciosa das políticas desenvolvidas por
Colbert, a fim de pontuar seus acertamentos e imprecisões. A conclusão dessa fração
do capítulo esclarece os motivos pelos quais a França, apesar de notória, teve menor
sucesso em comparação à Inglaterra.

“Na Inglaterra, mais ainda que na França, o mercantilismo é uma criação contínua,
empírica e nacional.” (DEYON, 1973, p. 29)

“[...] o conselho privado se associa em 1622 a uma comissão de peritos, de mercadores


e de banqueiros, para discutir as causas dos prejuízos das vendas têxteis, Suas
conclusões e suas proposições constituem um resumo de todas as práticas
mercantilistas. As grandes companhias comerciais, de seu lado, prepararam e
favoreceram a adoção dos Atos de Navegação. [...] Não mais sob os Stuarts que sob
o Protetorado, o Estado não está às ordens dos mercadores, mas consulta, inspira-se
antes de decidir ou de arbitrar.” (DEYON, 1973, p. 30)

“O mercantilismo inglês se beneficia da precocidade das instituições políticas e


sociais, da qualidade da informação e da reflexão teórica no país, evolui, se adapta,
se aperfeiçoa, e ajuda a Inglaterra a assumir, na Europa, uma verdadeira supremacia
marítima e comercial e, talvez, já a supremacia industrial.” (DEYON, 1973, p. 30)

“Como em todos os outros países da Europa, o mercantilismo adquiriu na Inglaterra


três formas essenciais: proteção, da moeda e dos estoques de metais preciosos,
proteção da produção, encorajamentos e favores à marinha e ao comércio nacional.”
(DEYON, 1973, p. 30)

“A tarefa do governo não era mais regulamentar o movimento das espécies, mas
orientar e dirigir as correntes do comércio para garantir um saldo positivo.”
(DEYON, 1973, p. 31)

Quanto à política mercantilista inglesa, seus primórdios datam da ascensão dos Tudor.
O mercantilismo inglês se fortaleceu ao longo do século XVII, também priorizando a
produção interna e dificultando a entrada de produtos estrangeiros através dos Atos de
Navegação, em 1651. A principal disrupção da Inglaterra foi tomar ações legais
favoráveis ao saldo positivo da balança comercial. Entendendo que o volume de
mercadorias vendidas deveria ser sempre superior ao volume de mercadorias
compradas, os britânicos começaram a regular o comércio colonial.

“Somente há política mercantilista eficaz nos séculos XVII e XVIII, onde um poder
central é capaz de dominar os particularismos e os egoísmos, de impor uma arbitragem
aos interesses opostos, de conciliar as reivindicações dos negociantes e dos
produtores. Somente há política mercantilista eficaz onde os empreendedores são
capazes de responder às proposições do governo, onde existe um embrião de burguesia
nacional, o esboço, ao menos para certos produtos, de um mercado nacional, e as
bases geográficas de uma relativa autarquia. É isto que demonstra um rápido exame
da política econômica de alguns Estados europeus.” (DEYON, 1973, p. 36)

“É conveniente evocar em primeiro lugar, porque sua situação é muito especial, o caso
das Províncias Unidas, e sobretudo da Holanda. Não há neste país na idade clássica
nem escola nem teórico mercantilista; isto já é revelador. Mas a República se
singulariza ainda pela liberdade que concede, quase desde sua constitui-ção, aos
movimentos internacionais das espécies e das moedas.” (DEYON, 1973, p. 36)

“Toda a história da Europa nos séculos XVII e XVIII ilustra esta incapacidade de um
Estado frágil, dependente ou muito pequeno para conduzir uma política eficaz de
intervenção e de desenvolvimento econômico.” (DEYON, 1973, p. 38)

“O mercantilismo é, antes de tudo, um serviço da política, uma administração do -


tesouro real, um instrumento de grandeza política e militar. O dirigismo econômico do
Estado clássico corresponde a motivações financeiras, é um sistema de produção, de
riqueza e não de distribuição.” (DEYON, 1973, p. 43)

Nas últimas subdivisões do capítulo, são colocadas experiências mercantilistas de


outros Estados europeus. Há destaque para a Holanda, que possuía características
menos regulatórias e de liberdade comercial, relativamente aos vizinhos. Sobre os
demais, Deyon diz que os governos débeis não conseguiram conduzir a modelos
eficazes. Nessa seção, há um reforço sobre as características desse conjunto de
procedimentos, que só é praticável dentro de um sistema político centralizador como o
Absolutismo.

Comentários/Conclusão:

Considerando-se que “O Mercantilismo” é um estudo histórico, é notável o cuidado no


levantamento de dados. Em todas as seções do capítulo, a cronologia dos fatos
essenciais e os temas comuns e díspares nas experiências dos países foram realçados,
o que facilitou a compreensão da mensagem principal do texto. Ao final da leitura,
entende-se que cada uma das nações mencionadas, em consequência de suas condições
específicas, produziu um tipo diferente do modelo econômico, ramificados de um
conjunto de fundamentos básicos.

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