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EXCELENTÍSSIMO SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA DO


JUIZADO FEDERAL DA SUBSEÇAO DE PARAGOMINAS/PA.

KISIANE GONÇALVES DA SILVA, brasileira, convivente, agricultora, RG


8980767 SSP/PA, CPF 071.141.232-48, residente e domiciliada na Vila do Barro
Vermelho, s/n, Zona Rural, Capitão Poço/PA, CEP 68.650-000, nomeia e constitui
como seu procurador o advogado Luiz Mario Araujo de Lima, OAB/PA 7674-A, com
endereço eletrônico email dr.lmlima@gmail.com, com escritório localizado na Rua
José Barros da Silva, 607, Centro, Capitão Poço, CEP 68.650-000, onde recebe
notificações e intimações vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com
fulcro no artigo 282 e seguintes do Código de Processo Civil Brasileiro, bem como,
Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1.991, propor a presente AÇÃO PREVIDENCIÁRIA
DE SALÁRIO MATERNIDADE em face do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO
SOCIAL – INSS, autarquia federal criada pela Lei nº 8.029, artigo 14, de 12 de abril
de 1.990, e pelo Decreto nº 99.350, de 27 de junho de 1.990, com sede na Capital
Federal e representação judicial nos Estados, expor e requerer:

I - DOS FATOS

A parte requereu a concessão do benefício previdenciário de Salário


Maternidade Rural junto ao INSS, em 22/06/2021, conforme demonstra a o
protocolo ora juntado.

O indeferimento do pedido administrativo apresentado pela segurada deu-se


pelo suposto fato de a requerente não comprovar o exercício de atividade rural nos
dez meses anteriores ao requerimento do benefício, tendo sido informado na data de
17/11/2021.

A Autora exerce atividade rural desde sua juventude, haja vista que não tem
qualificação para outro tipo de emprego, vale ressaltar que a mesma sempre
trabalhou em regime de economia familiar, inicialmente com seus pais e em seguida
agora com sua própria família.

Desenvolve, desde sempre a apanha de laranja, limão, pimenta do reino e


plantio de gêneros denominado de ‘roça’ (milho, feijão, abóbora, mandioca, etc), em
pequenas quantidades, suficientes para gerar um pequeno excedente que é vendido
no mercado local.
Também tem criação de aves em sua propriedade, mas em pequena
quantidade, para seu consumo e, algum excedente, para vender

Desta forma a autora é segurada especial, desde seus 11 (onze) anos,


conforme prova através dos documentos juntados, posto que nasceu e vive desde
então na zona rural, e como é natural, tem que ajudar seus pais desde cedo na lida
da agricultura, que sempre remunera muito mal os trabalhadores.

Aos 14 anos de idade formou sua união estável com seu companheiro
ANTONIO DHIONES DE SOUZA BENTO, que também é agricultor e era vizinho da
ora autora.

Pois bem, sendo comprovadamente segurada rural, a mesma entrou com


pedido de benefício de salário maternidade rural, administrativamente, após o
advento de seu filho, ALERRANDRO KAUAN GONÇALVES BENTO, nascido em
16.02.2021.

A requerente, assim como sua mãe fizera, trabalha em regime intermitente,


sem trabalhar em local fixo, realizando serviços de limpeza de árvores frutíferas
(laranja, limão, pimenta, etc...) e também na época de colheita destes produtos
agrícolas, que se estende durante todo um ano.

Frise-se que, copiando as inúmeras famílias paupérrimas deste país, também


tem auxílio do governo através do bolsa família, o que ajuda a complementar sua
escassa renda.

Está provado, a nosso ver, que a Requerente, desde sua infância labuta na
agricultura. Deste modo, a nosso ver, equivocou-se o INSS ao proferir a decisão de
indeferimento, razão pela qual propõe a presente demanda, com o objetivo de ver seu
lídimo direito reconhecido em sede judicial.

Portanto, com todos estes outros documentos juntados, faz-se prova


incondicional de segurada especial da Requerente, tendo direito ao recebimento de
parcelas do salário maternidade rural.

A legislação vigente dá respaldo ao presente pedido, onde o trabalhador


autônomo, a exemplo do segurado especial (produtor, parceiro, meeiro, arrendatário
rural, pescador artesanal e seus assemelhados), que exerça suas atividades,
individualmente ou em regime de economia familiar, com ou sem auxílio eventual de
terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de
dezesseis anos de idade ou a eles equiparados, que trabalhem comprovadamente
com o grupo familiar respectivo, têm o direito ao respectivo benefício. E o valor do
salário-de-benefício não será inferior ao de um salário mínimo nem superior ao do
limite máximo do salário-de-contribuição na data de início do benefício, desde que
comprovado o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua,
no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício.

O conceito de regime de economia familiar está disciplinado pelo § 1º do art.


11 da Lei n. 8.213/91, que dispõe:
Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho
dos membros da família é indispensável à própria subsistência e é exercido em
condições de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de empregados.

II - DO DIREITO

A requerente sempre fez parte dos trabalhadores da zona rural, trabalhando


em regime de economia familiar com o esforço em conjunto de todos para sua
subsistência. A prova material inclusa demonstra a verossimilhança dos fatos
narrados, além de serem documentos revestidos de fé pública, com presunção de
veracidade intrínseca. É certo que são provas descontínuas e que não comprovam
ano a ano o trabalho rural, entretanto, a necessidade é de se demonstrar que a
Recorrente tinha e tem como meio de vida o trabalho rural, o que já traz a ideia de
continuidade, haja vista se o cidadão trabalha na agricultura é porque não tem outra
profissão, posto que, os valores que recebem a título de salário são bem inferiores ao
mínimo. Realidade esta do país todo.

Entretanto a recorrente não teve esta condição, recebendo migalhas pelo seu
desforço físico, apelando neste momento para uma concessão de uma ajuda
governamental, pelo tanto que trabalha na agricultura.

Para fazer jus ao seu pedido de benefício de salário maternidade rural, acerca
do tempo labutado na zona rural através do regime de economia familiar, mister
apresentar um INÍCIO de prova material, para que possa ser confirmado pelas
testemunhas, caso esta Nobre Junta julgue necessário já que a prova material é
vasta e robusta.

Importante ressaltar que, quando a jurisprudência se manifesta acerca da


impossibilidade de comprovação de tempo rural exclusivamente com prova
testemunhal e impõe a existência de um início de prova material, não significa dizer
que deve imprescindivelmente, existir documentação que comprove ano após ano
ininterrupto de labuto rural.

Mas, ao contrário, trata-se de um simples início, ou seja, uma prova sumária,


mínima, que possa proporcionar ao Julgador alguma segurança no sentido de que a
Autora alguma época em sua vida já foi campesina, a fim de dar alguma garantia
material ao Magistrado.

Ressalte-se que, também de acordo com a jurisprudência pátria, as decisões


são no sentido de que a profissão do rurícola ou trabalhador rural traz, em sua
essência, já o aspecto de continuidade e não eventualidade. É o que ensina os
doutrinadores DANIEL MACHADO DA ROCHA e JOSÉ PAULO BALTAZAR JÚNIOR,
no Livro "Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social", pag.
289:Deverá ser observado o disposto no § 3º do art. 55, ou seja, a existência
de indício material. A jurisprudência vem relativizando exigência administrativa
no sentido de que deverá existir um documento por ano de serviço a ser
contado. Tal entendimento merece aplausos, uma vez que é pouco provável que
o segurado exerça, alternadamente, atividades no campo e na cidade.
Usualmente, aquele que migra para a cidade não retorna para a área rural,
ressalvadas situações específicas...
Nesse sentido o entendimento doutrinário e jurisprudencial entende da forma
seguinte:A qualificação de agricultor em atos de registro civil constitui início de
prova material do exercício de atividade rural. A DESCONTINUIDADE DA
PROVA DOCUMENTAL NÃO IMPEDE O RECONHECIMENTO DE TODO
PERÍODO DE TEMPO DE SERVIÇO RURAL POSTULADO, UMA VEZ QUE A
DECLARAÇÃO DO TEMPO DE SERVIÇO RURAL ENVOLVE MAIS DO QUE O
RECONHECIMENTO DO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE AGRÍCOLA, O
RECONHECIMENTO DA CONDIÇÃO DE LAVRADOR, NA QUAL ESTÁ
INTRÍNSECA A IDÉIA DE CONTINUIDADE E NÃO A DE EVENTUALIDADE. Não
há necessidade de comprovação do trabalho rural mês a mês, ou ano a ano,
bastando que o conjunto probatório permita ao Julgador formar convicção
acerca da efetiva prestação laboral rurícola.
Ad cautelam, a jurisprudência orienta com fundamento de que a própria
Carta Magna prevê esta hipótese e, coerentemente, se ela faz menção tácita a esta
situação, não podemos contrariá-la ou interpretá-la de forma distorcida.

III - DO PEDIDO

Diante do exposto, requer:

1. A citação da autarquia ré, na pessoa do seu representante legal, no endereço


retro-mencionado, usando-se para as diligências citatórias e intimatórias os favores
dos artigos 172 e seus parágrafos, 227, 228 e seus parágrafos, todos do Código de
Processo Civil.

2. A condenação da Autarquia Ré a conceder à Requerente o benefício de salário-


maternidade pelo período determinado na legislação previdenciária, conforme o art.
71-A, monetariamente corrigidas desde o respectivo vencimento e acrescidas de
juros de mora, incidentes até a data do efetivo pagamento;

4. A condenação da Autarquia Ré ao pagamento das custas processuais, despesas


emergentes, correção monetária e juros de mora sobre o total da condenação;

5. Fixação dos honorários Advocatícios a serem arbitrados na porcentagem que


melhor entender este Douto Juízo;

6. Os benefícios da Justiça Gratuita, em concordância com a Lei nº 1.060/50 com as


alterações introduzidas pela Lei nº 7288/84, por serem pessoas pobres na acepção
jurídica do termo e não reunirem condições de arcar com as despesas e custas
processuais sem prejuízo de sua própria subsistência, face a declaração de pobreza
ora juntada;
Requer provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos,
especialmente pelo depoimento pessoal do representante legal da Ré, sob pena de
confissão, oitiva de testemunhas, perícias, vistorias, juntada de novos documentos e
demais provas que se fizeram necessárias.

Termos em que, estando ciente de que os valores postulados perante este MM.
Juízo Especial Federal Previdenciário não poderão exceder a sessenta (60) salários
mínimos e, dando-se à causa o valor de R$ 4.400,00 (Quatro mil e quatrocentos
reais).

Termos em que,
Pede deferimento.

Capitão Poço/PA 24 de novembro de 2021

Luiz Mario Araujo de Lima


OAB/PA 7674-A

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