Morais - Jose - Criar - Leitores - para - Professores e Educadores - Parte - 3

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~A APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA COMEGA, COMO NA que se tenha, se nao a nogio, pelo menos do de fonema. nao sirva \cia dessa aprendizagem. Até aa pesquisa cient ser, Mas no é Sa tem mostrado isso m (© PAPEL CAUSAL DA CONSCIENCIA DOS FONEMAS NA APRENDIZAGEM DA LEITURA Entre outros resultados, verificou-se, comparando criancas ‘com 0 mesmo tempo de ensino da leitura, que leem melhor aquelas que se beneficiaram de atividades destinadas a faz6- -Jas tomar consciéncia dos fonemas e conhecer as correspon déncias entre grafemas e fonemas Mais importante ainda, © treino das competéncias fonémicas tem efeitos postivos diretos no desempenho da letura, tanto na leltura de pala- vras escritas isoladas como na leitura de texto, HA pouco mais de trinta anos, ainda se acreditava que, simples fato de a crianca ser confrontada com sequén- pel cias constitufdas de letras, ela se tornaria, pouco a pouco, consciente dos fonemas. Que no haveria necessidade de ajudé-la a analisar as expresses da fala em fonemas. Segundo essa ideia, bastaria dar & crianga palavras escritas, textos, e ela, por si mesma, acabaria por encontrar seu caminho, Contudo, muitos estudos mostraram, sem deixar quaisquer diividas, que essa Ideia 6 errada. A simples expo- sigtio co material escrito ndo é suficiente para que a crianca descubra o principio alfabético, Em um desses estudos, realizado na Australia, portan- lés, mostraram-seas criancas (pré-leitoras) palavras escritas, como PAR e MAR (adaptadas ao portugues; esse exemplo 6 obviamente ficticio), fot-lhes dito como se pronun- clavam e pedido que memorizassem a associacéo entre cada palavra e sua promtincia, Em seguida, procedeu-se ao que chamamos tarefa de transferéncia. Fo-thes apresentada a palavra escrita PAZ e pedido que dissessem se ela devia ser pronunciada como “paz” ou como “mas toemi 36 © raciocinio que esta na base desse estudo ¢ muito simples. Seas criangas tivessem intuido apart do parinicial que, dada a partitha das letras finais (‘ar’), P devia corres- ponder ao fonema ipl, entao seria de esperar que fizessem, a escolha correta, Porém, ni fot isso o que aconteceu, As riangas responderam ao acaso. No entanto, quando 0 mesmo "jogo" fol feito de maneira a evidenciar a segmen- tagdo em palavras ou mesmo em sflabas em vez de fonemas, no houve dificuldade. Os resultados desse estuddo mostram que as criangas nao teriam difculdade nenhuma em compreender um sistema, de escrita em que 0s caracteres representassem sflabas ou palavras. Silabas e palavras sto unidades diseretas, que podemos pronunciar separadamente umas das outras. Mas 03 fonemas ndo sao pronuncidveis separaiamente! O leitor poderia objetar que esta tltima afirmagéo no correta, visto que é possivel pronunciar as vogais isola- damente. Mas, nesse caso, elas funcionam como silabas. Combinadas com uma consoante na mesma sflaba, as vogas funcionam como fonemas. E justamente porque os fonemas, no nivel de abstracao. em que tém de ser concebidos ou intuidos como unidades ites da silaba no so pronunciavels separadamente, que se tora dificil relacioné-los com letras, as quai fisi camente, visual ne, io unidades separadas (na escrita Impressa) ou separdveis (na e quando a crianga reencontra em PAZ o P que jé tinha visto em PAR, como nao associout oP ao fonema /pl, que, para ele, nfo existe na sua mente, éincapaz de escolher corretamente centre as prontincias paz” e “mas” cursiva). Assim, mesmo Uma série de experiéncias posteriores revelou que as ccriancas s6 tem sucesso na tarefa de transferéncia quando so previamente treinadas a analisar uma palavra em fonemas ea ‘ssociar fonemas ¢ letras, Todas as criancas que aprenderam fessas duas tarefas com alguns exemplos foram, depois, capazes de aplicar essas operacdes a outros exemplos, isto mas. Veremos mais ¢,envolvendo outras letras ¢ outros adiante algumas maneiras de ajudar as criangas a analisar palavras em fonemas, Por ora, é importante reter a ideia de que a ertanga pré-leitora tem de ser ajudada explicttamente, com exercicios apropriados, a tomar consciéncia dos fonemas, e que, uma vez adquirida a consciéncia de certos fonemas, esta pode ge- neralizar-se a outros fonemas que a crianca ainda nfo tenha abstraido. ‘Todos os professores ja ouviram falar na conseiéncia fonolégica’ e alguns podem interrogar-se sobre se é a mesma nogdo que a consciéncia fonémica. Na realidade, no 6 embora haja autores que se refiram & consciéncia fonol6- gica pensando na consciéncia dos fonemas. Anogéo de cons ciéncia fonolégica abrange a consciéncia de toda e qualquer uunidade au propriedade fonolégiea ~ por exemplo, a conscién- cia das sflabas ou da rima* entre duas palavras, ¢ no s6 a conscinela dos fonemas. A consciéncia fonémica é, portanto, uma forma de consciéncia fonolégica, a que é funclo: mente mais importante porque ela intervém na aprendi- zagem da leitura em um sistema alfabético de escrita, A cons: cincia das sflabas e da rima pode desenvolver-se fora da aprendizagem da leitura. 38 COMO ESTIMULAR E DESENVOLVER A CONSCIENCIA DOS FONEMAS: ‘Muitos estudos mostraram que o método de ensino da leitura ingluencia a tomada de conscéncia dos fonemas e sua manipu- Jaco intencional em tarefas experimentais. Os métodos que insistem na andlise explicita da fala, em fonemas e na aprendizagem das. correspondéncias grafema-fonema, que sao chamados métodos fonicos* na li- teratura internacional, mostraram desempenhos muito superiores aos obtidos pelas criangas ensinadas com mé- todos ditos globais, isto é, que tratam as palavras como uni- ‘dades nao segmentévets. Um desses estudds foi realizado na Bélgica com criangas francéfonas, no fim do primeiro ano de escolaridade. Uti lizou-se uma tarefa de inversdo, quer de fonemas, quer de si- Jabas. Um exemplo ficticio em portugues, para a inversto de silabas sera transformar“catou’ em...Em qué? Experimente, Isso mesmo:em’ yuca” Em média,o grupode método fantco no fol melhor do que o grupo de método global, Para ainvers2o de fonemas, o portuguésbrastleiro nao se presta tanto quanto o francés se quisermos que o item apre- sentado eo item de resposta sejam ambos palevras. No entanto, um exemplo quase perfeito seria transformar “dla” em. Em. ‘qué? Em ‘ald’ Ou ‘ire’ em "Art Nessa tarefa.o grupo fico foi ‘rés vezese mela superior ao grupo global, confirmano aidela de que um método de tipo fonico & cructal para suscltar na cranga ‘desenvolvimento dashabilidades de manipulacao de jonemas. Pode objetar-se que naleitura ena escrita nao se recorre a operagées mentais como a inverstio de unidades. De fato, 39 assim é Essa tarefa nao se encontra tal e qual na leitura. Ela serve apenas como indicador, ndo sé da capacidade da crianga em representar e manipular mentalmente os fonemas, mas também da facilidade de evocacéo, da quall- dade, da robustez dessas representagées, Tais representa- ‘ces, na leitura, devem ser facilmente evocadas e manter-se tempo suficiente na memoria fonol6gica da crianga para que ela possa integrar, fundir os fonemas que correspondem aos sgrafemas sucessivos de uma sflaba ou palavra A subiragio de fonema tem uma relagdo muito direta com a ‘aprendtzagem da escrita. Nessa tarefa, pede-se & crianga que tire o primetro som, o primeiro pedacinho de uma palavra ~ or exemplo, da palavra “bola’, e que diga apenas 0 que fica ‘Agora com “pato’, sem 0 primetro pedacinho da.. “ato”, néo 6? Essa tarefa implica uma segmentagdo que ¢ indispensavel durante a aprendizagem da escrita ~ para escrever “mar’ a crianga tem de representar separadamente o /m iniclal a fim de poder procurar, no set conhecimento das correspon- déncias fonema-grafema, a letra“m’, Por outro lado, a adicéo de fonema intervém na aprendi- zagem da leitara — ler “mar” em vez. de “me-ar” implica fant ‘1 integrar o fonema /m/, e n&o a silaba“me",com a vogal”-2" ou a rima “-ar"? Repare que a tarefa chamada de inverstio supde a intervengio de ambas as operagées, Subtragdo ¢ adigdo so necessérias, respectivamente, antes ¢ depois da 3 Rima no sentido utlizado aqul, ¢ uma unidade da slaba sua part fal (Ger Glosséri) e nto arelacdo derima entre duas palavras como se encon- ‘amapoesia 40 ‘operacao de inverséo da ordem dos fonemas. Assim, embora na leitura e na escrita no haja ~ nem deva haver ~ inver- sbes, essa tarefa, justamente por ser muito exigente namant- pUlagdo intencional de fonemas, consti um born indicadar de capacidades que séo cruciais na aprendizagem da leitura edaescrita Uma confirmagto da tmportancia de verifcara preseniga conjunta das habilidades de subtracaoe de adigio na cianga estdno fato de as criongus dsléxicas (dislexia’)terem péssimos resultados na tarefa de inversdio, mesmo quando jé nao apre~ sentam grande dificuldade em realizar tarefas de subtracao ou de adigéo isoladas. ‘A representacéo consciente dos fonemas na maior par- te das criangas disléxicas parece nao ser de uma qualidade que permita fazer répida e corretamente as operagoes de conversio grafemma-fonema e fonema-grafema, necessarias para uma leitura e uma escrita eficientes das palavras, Voltamos as competéncias basicas da aprendizagem da leitura. A identifiongdo das letras, que supde a atencio aos .gos visuais que as distinguem umas das outras e o conhe- cimento da maneira de pronunci-las, ¢ a consciénda dos fonemas, que se concretiza em habilidades de manipulacao dessas unidades, sto competéncias que, pela sua importéncla paraa aprendizagem da leitura, tem de ser adquiridas -e ensl- rnadas — no comeco desse processo.f uma tarefa para os profes- sores e - por que no? ~ também para os pais adequada- mente informados e instrufdos, “al A IMPORTANCIA DE CONHECER AS LETRAS E OS SEUS VALORES Tanto 0s nomes das letras, que as criancas vo aprendendo or sua propria s cas (seus valores fonolégicos - valor fonolégico da letra’) ‘fo, na tealidade, palavras novas para a crianca. Néo é facil ‘memorizar a relagdo entre cada letra, que pode, alids, tomar formas visuais diferentes, e o seu valor. Até porque muitos desses valores se assemelham e distingul-los requer da ccrlanga uma boa atencgo auditiva A dificuldade relacionada com a prontincia do valor da letra junta-se uma dificuldade de discriminagdo visual da forma da letra Por exemplo, hé uma tendéncia natural para const- derar como equivalentes duias formas que s6 diferem pela orientacgo para a esquerda ou para a direita (formas em espelhouma daoutra), Uma xfcaracom a asa para direitaou com a asa paraa esquerda é a mesma xicara. Mas nos pares de letras b-d e p-g, cada letra tem sua identidade propria, Sabe-se que as criancas que ainda nfo aprenderam o nosso alfabeto out os adultos que nao tiveram oportunidade de aprendé-Io tém tendéncia a consideraras letras nos pares bed" e*p" eq" como o mesmo “objeto” Com a pritica da utilizagéo do alfabeto, essa dificuldade desaparece, mas nfo deve estranhar-se que ela persista durante algum tempo. A existéncia desses pares ndo é a tinica dificuldade que se coloca a discriminagéo das letras, Nos pares b” e“p" ed” e“q! as letras 56 se distinguem pelo fato dea parte curva encostar linha vertical em cima ou embaixo. Outras letras so pare- Cidas ~por exemplo, “mn” e“nf,“u" e"vassim como’ em letra impressa, mas na escrita cursiva). Nesse processa dle facéo, como a inaneira de pronuncié- (nao 42 ‘aprendizagem a identificagio das Jetras, uma atividade cuja utilidade tem sido confirmada ¢ saa execugdo manual pela crfanca, demaneira que elarelacione opadréomotordaescrita da letra com sua forma visual e com set valor fonoldgico. De modo geral, na vida cotidiana, durante um passeio, é mats do que aconselhavel mostrar & crianga as letras que estdo nos eseritos que nos rodetam, verificar que éla é capaa de distingui-las e de pronunciar seus ‘sons” ou valores E do maior interesse. Cada valor de letra que a crianca aprende vai ser muito util para que el: dos fonemas na fala e necessario para comecar a decod ficaras palavras eseritas come consciéncis Como podemos entéo aproveitar este conhecimento prévio: 0 dos valores fonolégicos das letras, para suscitar @ descoberta dos fonemas? PEQUENOS EXERCICIOS PARA, A PARTIR DAS LETRAS E DOS SEUS VALORES, CHEGAR AOS FONEMAS © leitor ~ protessora, professor, mae ou pai ~ jé sabla ou sabe agora que fonema néo é som e que a crianga ainda no tem a intulgéo carreta do que ¢ 0 fonema s6 porque se tornou capaz de pronunciat valor fonolégico da letra ow do grafema correspondente. No entanto, ele pode sentir-se insatisfeito, porque nfo encontrou até aqui sugest6es para que fazer de maneira que a crianga venha a ser capaz de Tepresentar mentalmente os fonemas, Sua questo &:"Afina, se fonema no é som, como é que vou fazer para que o meu aluno descubra o que na fala corresponde geralmente 2 letra, que’gato' tem quatro dos tais fonemas (ig-a-t-w)? ‘A resposta a essa questo no é facil. O professor encontra-a em materials de ensino apropriados mente, também hé muitos que no so apropriados), na formagéo que Ihe deve ou deveria ter sido ministrada, ¢ até em toda a experiéncia que vai adquirindo porque uma crianga € diferente da outra, embora com umas se va apren- dendo como ¢ melhor proceder com as outras. E possivel, no entanto, indicar aqui alguns tipos de ativi- ino ou explicitacdo do fonema Suponhamos que conhega os sons das letras “a’,“i"e “p’ Podemos pa’ e, 20 mesmo tempo, dizerthe que “a” se pronuncia Jal e "pa" se pronuncia /pal.Em seguida, acres- centamos 0 par‘t'e ‘pi dizendo que “t’se pronuncia fl e*pi" se pronuncia /pi!. Chamamos sua tengo para a diferenca de som e de articulacdo entre os dois membros de cada par. ‘Mostramos, por exemplo, como a forma da boca é diferente quando se pronuncia“a’ow“s"e como temos de feché-la para pronunciarmos tanto “pa” quantopi’ E sobretudo a diferenca entre a vogal isolada e a vogal ‘depois da consoante que deve ser mostrada a crianga. Por isso, os pares “a’ ~*pa"e“!"~“pi" devem ser “trabalhados" separa- damente, um de cada vez, de maneira que ela compreenda que a diferenca entre os dois sons tem uma contrapartida nna diferenca entre a letra da vogal isolada e a sequéncia de letras que contémamesma letra mais outraletra, equeé esta Ultima letra que deve representar a diferenca que ela ouve e que sente ao articular o par. Em vez de /p/, que € uma consoante aclusiva, potlemos utilizar uma fricativa, como /ff, que &a nica das consoantes fricativas surdas que tem uma relacao biunivoca com o 44 graferna: de fato, ff 6a nica maneira de lero grafema ‘f, que 6a tinica maneira de transcrever 0 fonema if. Mostramos & ctianga a letra “I” e pronunciamos seu som (‘E.). Podemos até arrastar esse som (fff...) fazendo assim desaparecer completamente ou quase a vogal neutra, reduzida, com que terminam os sons dos valores fonolégicos das consoantes oclusivas. Isso constitu! uma vantagem, jé que 0 problema & fazer aparecer o fonema que esté escondido no som correspon- dente ao valor fonoligico. Quando a crianga vé “fa” ¢ ouve “fiffaaaa’, a colocamos mais perto de aprender o fonema € de se tornar capaz de ler ela mesma etc. do que quando Ihe dizemos que “fa"é “fo-a’. Repare que aquilo que & possivel fazer com a conscante fricativa surda /f/ - arrasté-la para que a fricgao apareca laramente ~ no podemos fazer com a consoante acii- sivas esta pode ser repetida, masndo arrastada Fazendowma analogia com a fabricagio de doces, aquela fricativa surda se presta para juntar 0s ovos a0 agiicar, neste caso a vogal (‘a‘)& consoante quea precede (‘), asflaba). Hé de feto, alguma semelhanga para fazer um novo som. 6a consoante que melhc emesclar bet re fazer um creme juntar quendo éasoma dedois sons. Voltando ao nosso exercicio, em que a crianga vé “fa € ouve “ffffsaaa’, Trabalha-se ‘a’ - fal “fa” ~/fal, como antes se trabalhou “a" —/a/e pa” ~ /pal. Depots, como na experién- cia australiana que descrevernos anteriormente, apre- sentam-se 0 “i” a crfanca, ela se lembra bern qu e~ agora vemn seu primetro passoauténtico n escritaalfabética-,depots,o“f” epede-sea criancaqueleia. Se tudo 0 que descrevemos foi benfefto, pode ser que a crianga~ “aad firme nas suas pemas, sem nada em que possa segurar as maios, tal como na marcha - diga “ff” Mas tudo pode ter sido feito nas regras da arte, a ctlanga ser superinteligente olhar para nds surpresa, aténita. £ que essa apreensdo do fonemaassociadoa consoante estaafuséocom a vogal parecem faceis, mas nao so, Em geral, nao sal certo Jogo na primeira tentativa, Recomecemos entéo, com paciéncia, Com muita com- preenstio, assem comiseragonavozenosorriso. Acrianca nao tem culpa de seus antepassados terem inventado essa colsa incrivel que é 0 alfabeto. Na verdade, estamos a pedir- he que redescubra o principio subjacente @ maior invencdo ‘que a humanidade jamais realizou. E, se segunda vez ainda nfo der resultado, deixemos a crianga em paz ¢ recome- ‘cemos em outra ocasiao, Experimentando com outra con- ©, apesar soante, seguindo o mesmo procedimento. E se continuar a :ndo dar o efeito esperado, tentemos outro procedimento. No primeiro procedimento, ao passar-se de ‘a’ ~ e 8 leitura pedida def’ o que se fez foi manter constante a consoante e variar a vogal. No segundo procedimento, que agora sugerimos, depois de “trabalhados" os pares ‘pa /pal, “fa [fal epi’ /pil, apresente-se “ff para leitura, Neste caso, tanto a consoante como a vogal mudam, mas a estrutura fonolégica’ CV (consoante-vogal) de cada sflaba se mantém, Pode ser que, para a crianga, a mudanga de estrutura seja ‘mais problemética do que a mudanca deambos os segmentos. Senenhum desses procedimentos der resultado,a tl coisaa fazer € desistir ou repreender a crianga.E importante manter uma boa relagdo com o aluno. Alguns estudos tm mostrado que acriancaprogride mais rapidamentenaaq atta” a 46 das competéncias fonémicas quando se explica ela, de intcio, ‘que essa atividade com letras e sons néo é uma simples brin- cadeira, que vai servir para aprender a ler e permitir que, com ‘tempo, ela venhaa ser capaz de ler todas as palavras todos 6s livros que encontrar. A adesdo da crianga é tdo essencial ‘quanto a pacténcia do aduito, importante nao esquecer que chegar a ler “f", como no exemplo que demas, implica ter, de alge modo, a intuigélo do fonema /fi, que nfo se reduz a um som; implica asso- lar o fonema /ff& letra “fe implica ainda fundir esse fone |, que corresponde a letra “’ E muita coisa. Mas 2 aprendizagem da marcha também & complexa. Acasa esquecemos todas as tentativas, todos os ajustamentos que (os nossos fihos tiveram de fazer para consegulrem dar 0 primetro passo sem ajuda e sem cafrem? Existe, obviamente, uma diferenga fundamental entre a aquisiggo da marcha ea aprendizagem da leiture. A marcha esta programada nos genes; a consciéncia dos fonemas nao esta. Mas aestrutura fonolégica da fala esta, e 6 por isso que a humanidade conseguiu inventar 0 alfabeto. E cada erianga maa outro, que aprende a ler vat ter de reinventar e aprender a u principio alfabético, com a ajuda paciente do professor. RECOMENDAGOES AOS PROFESSORES 0 professor deve comecar por verlfcar se todas as criancas reconhecem as formas visuais das letras e conhecem os seus vallores fonoidgicos, ou pelo menos das letras com que val trabalhar logo de infcio. Algumas j& as conhecem, outras 3 tergo de aprendé-las para no ficarem para tris. Nao devemos nos esquecer da enorme variabilidade interindivi- dual do conhecimento das letras, que constitui um primeira sinal de que as criangas nao retinem todas as mesmas cond bes para progredirem na leitura. ‘Uma atividade muito util é a da transferéneia da rela~ ‘edo letra-fonema (recorde-se do exercicio que descrevemos anterformente criado por um pesquisador australiano), ‘As operaces de manipulagto de fonemas que descrevemos, como a subtracdo € a adicdo, deverdo intervir na explici- ‘tagao do proceso que permitira as eriancas escolher a alter- nativa correta Nessa fase, ndo é bom fazer miltiplos exercicios variando aspalavras eas|etras.Orisco de taisvarlagdes € quea crianga se perca no meio de muito material. Para comecer, é melhor limitar essa atividade 20 caso mais elementar: duas pala- vras que diferem pela consoante inicia, na fala e na escrita, seguidas de duas outras palavras eseritas que partilham uma ‘das consoantes com o primeiro par. Em um primeito momento, o ensino ¢ o teste da transfe- réncla podem ser realizados com todos os alunos da tarma no quattro de uma atividede colettva comeca-se por fazé-los copiar o par de palavras escritas nos seus préprios caclernas, sem pressa, para que todos ;possam reparar na diferenca fsica entre asletrascriticas; para verificar se memorizaram as palavras orals corres- pondentes, pode-se pedir a todos que cubram avista com ag mos e, a seguir, cada um, por sta vez, olha e nomela as palavras que o professor escreve no quadra tomando a precaugio de variara posigio delas a esquerda e& direita; 48 na fase de transferéncia (escolher no par de palavras escritas a que thes apresentada oralmente), a mesma ‘técnica pode ser utilizada. Em um segundo momento, as criangas que néio responderam corretamente ou que deram indicios de terem acertado por ‘acaso podem ser testadas individualmente, depois de terem. recebido um treino mais intenso sobre a segmentacto de sflabas em fonemas e a aprendizagem das correspondéncias, entre as leas ¢ seus fonemas correspondentes. De fato, € muito provavel que as sessbes coletivas sejam insuficientes, Mas, 0 que o professor observa na primeira sesso coletiva permite-Ihe saber quais criangas ja conhecem o principio alfabético, quais as que nao esto Jonge de descobri-loe quais asque precisaréo cle mats ajuda. Uma coisa é certa: todas terdo de chegar Ia! Para muitas criangas, mais do que tuma pequena sesséo di vie dual poderd ser necessaria. Tudo somado, dois ou trés dias para o trabalho coletivo e uma diizia de dias para o trabalho individual, sem roubar demasiado tempo de outras ativi- dades, deverdo ser suficientes, pelo menos para a grande maioria dos alunos. Os exercicios de segmentagio de uma palavra monos- silébica (procurar pronunciar na ordem os seus fonemas sucessivos ~ 0s seus"pequenos sons’) e de adicao de fonemas poder, entio, serintroduzidos individualmentedemaneira ico e sem apresen= taco simultnea de material escrito. Esses exercicios tém_ agora um objetivo diferente do que esta na base do teste de transferéncia, Trata-se de ajudara crianga nao s6.a consotidar ‘mais sistemitica, varlando 0 fonema 49 sua redescoberta do principio alfabético, mas também, sobre- tudo, treinar operacées que serao exigidas com precisiio ¢ rapidez crescentes no procedimento de decodificaggo das palavras escritas. O essencial, para resumir, é nao esquecer que, se nés quetemos que 0 aprendlz de leitor entre rapidamente na casa da leitura, precisamos mostrar-Ihe qual é a chave da porta e como ele pode utilizé-la, No inicio do primeiro ano de escolaridade, néo hé tarefa mais urgente do que esta Nao se esqueca, professor (ndio se esquecam, pai e mae): 6 primetro passo no caminho da aprendizagem da leitura é a ‘compreensdo do prine(pio alfabetico. Alguém ja viu uma crianga, comecar a correr sem primeito ter dado um passo e depois, outro e outro? Hé quem queira que a crianca se ponha logo a ler palavras € frases, isto é, que ela corra antes de saber andar, mas'sso ¢ impossivel: ela cai ¢ esfola o nariz, Primeiro a crlanga engatinha, depois anda ¢ s6 mais tarde corre. Professor, voce pode dizer isso aqueles pais que, porventura, ‘nao estejam contentes com sta preocupacéo em ensinar-Ihe as letras e o que elas representam. No fim destas “Recomendacées aos professor -se endlerecar também algumas palavras s mies e aos pais, Baseadios no que aprenderam aqui, ndo tenham receio de brincar com seu filho ou sua fiha, dizendo-the palavras muito curtas e simples, cu mesmo silabas isoladas que sequer so palavras, mostrando-Ihe 20 mesmo tempo como elas se escrevem em letras impressas separadas, chamando sua atengdo para a maneira como as pronuncla, ¢, depois, com pares contrastados (falva; fa/vi; atalave tc), procure 50 que ela descubra 0 que hé de comum, o que ha de diferente em cada par. ‘Como nao tem sentido falar em fonema & crlanca,o que podemn dizer-the é“Olha aqui, owve isto, fae ‘f comecam da mesma maneira (fff) e terminam de maneira difere 0 diferentes, toma um beliscdo (tingid, claro), vo {escreve ‘a, fai também tem’ai, mas tem mais alguma coisa, repara na minha boca, nao ¢ 56a 6 fifa Primeiro coloca a boca assim para dizer ‘ff. ¢ dificil? Deixa, fago eu, po! 6 como se diz, essa letra. A mesma letra, a mesma maneira de dizer (se quiser falar em. som pode, nao vai fazer mal a crianga), a mesma letra ‘f em ‘fa, em ‘B.! e em ‘fa’ (chegou. talvez. o momento de botar outra consoante) ¢ agora olha € ouve:‘va'— ‘vit ndo é'ta' nem ‘ft. Viu, ouvin?® ‘Nao digo mais;agora éentre pai oumde e crianca.Ensinar: no é uma atividade em sentido tinico, Supde uma interagao que nao 6 inteiramente previsivel A esse respelto, conto uma historia tal como ela me foi contada. Antes de uma partida importante da selesfo brasileira na Copa do Mundo de futebol, 0 técnico instrufra assim os jogadores: quando ele +0) te entrega a bola, avanca pela lateral, passa atras (para o zagueiro), que desmarca aquele (um dos ponteiros), € tu, chegando perto da area, #6 tens de colocar na cabeca dele (0 centroavante). Algném teria perguntado: e, entretanto, © que faz o outro time?

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