Você está na página 1de 26

J.C.O.

Aula T06
Defeitos planares,
solidificação e
crescimento de grão

Docentes: Prof. Albano Cavaleiro


Prof. João Carlos Oliveira

Departamento de Engenharia Mecânica da


Universidade de Coimbra
Ano letivo: 2021/2022
Licenciatura Engenharia Mecânica, 1º ano, 1º semestre
2021/2022 A.C. J.C.O.
Estrutura e Propriedades dos Materiais
J.C.O.

➢ Fronteiras de grão

➢ Solidificação
Índice

➢ Nucleação e crescimento

➢ Maclas e falhas de empilhamento

➢ Defeitos volumétricos

T06 - 2 2021/2022 A.C. J.C.O.


Defeitos nas estrutura cristalina
J.C.O.

Classificação dos defeitos cristalinos Os defeitos são usualmente


classificados de acordo com a sua
Defeitos cristalinos geometria ou dimensão.

Defeitos Defeitos Defeitos Defeitos


pontuais Lineares Planares Volumétricos

Lacunas Deslocações Fronteiras Poros


Intersticial em cunha de grão
Fissuras
Substitucional Deslocações Maclas Inclusões
Schottky parafuso Falhas de Precipitados
Frenkel empilhamento

T06 - 3 2021/2022 A.C. J.C.O.


Fronteiras de grão
J.C.O.

Fronteiras de grão

➢ Superfície de separação entre dois cristais de um


material policristalino: fronteiras entre cristais (grãos). Fronteira de grão

▪ Os cristais adjacentes têm orientações diferentes em


Grão
três dimensões.
▪ Os átomos que estão na região da fronteira de grão
não ocupam posições regulares da estrutura cristalina.
▪ Nessas regiões a rede é imperfeita: defeito cristalino. Fronteira
de grão
▪ Os átomos nas fronteiras de grão estão menos
Grão
organizados e por isso encontram-se estados
energéticos mais elevados.
➢ Constituem um entrave ao movimento de deslocações. Grão

➢ São canais preferenciais para a difusão atómica

T06 - 4 2021/2022 A.C. J.C.O.


Fronteiras de grão
J.C.O.

Tipos de fronteiras de grão


➢ Num material policristalino, o grau de ➢ Quando o desalinhamento entre dois
desalinhamento entre dois cristais pode cristais vizinhos é baixo (< 15º), a
assumir qualquer valor.
fronteira de grão consiste numa serie
𝜶 𝜶 < 𝟏𝟓º de deslocações alinhadas.

Fronteira
de baixo
ângulo

T06 - 5 2021/2022 A.C. J.C.O.


Fronteiras de grão
J.C.O.

Tipos de fronteiras de grão


Imagem STEM de uma deslocação numa fronteira de grão de baixo Angulo no SrTiO3

https://www.jeol.co.jp/en/words/emterms/search_result.html?keyword=dislocation

➢ Nas fronteiras de baixo ângulo são ➢ As fronteiras de grãos com


constituídas por series de deslocações em elevado desalinhamento entre as
cunho que acomodam o pequeno redes dos grãos vizinhos
desalinhamento entre os cristãos (grãos) implicam maiores zonas de
deformação.

T06 - 6 2021/2022 A.C. J.C.O.


Fronteiras de grão
J.C.O.

Fronteira de grão e deslocações

➢ O que é que acontece quando


uma deslocação encontra uma
fronteira de grão?
▪ As fronteiras de grãos constituem um obstáculo ao
movimento das deslocações que se acumulam nas
fronteiras de grão.

➢ A diminuição do tamanho de grão (d) aumenta a


resistência de um material:
Equação de Hall-Petch
𝜎𝑦 = 𝜎0 + 𝑘𝑑 −1/2 em que 𝜎0 𝑒 𝑘 são
constantes do material

▪ Em materiais policristalinos com reduzido tamanho


de grão as deslocações só se deslocam a curta
distância, até encontrar uma fronteira de grão, o
que limita a deformação plástica do material.

T06 - 7 2021/2022 A.C. J.C.O.


Solidificação
J.C.O.

Como cresce um material cristalino ?


➢ Durante a solidificação formam-se núcleos que
depois crescem até impingirem uns nos outros
Líquido

Sólido

1. Formação dos primeiros 2. Crescimento livre


embriões a T=Tsolidificação (geometria perfeita)

➢ Cada núcleo acaba por dar


origem a um grão.

3. Obstrução ao crescimento 4. Metal policristalino ➢ No fim os grãos ocupam


de alguns cristais (estado sólido)
todo o volume do material

T06 - 8 2021/2022 A.C. J.C.O.


Solidificação
J.C.O.

Origem da solidificação
➢ A transformação de um metal do estado líquido para o estado sólido (solidificação)
ocorre devido à conversão de matéria para um estado termodinamicamente mais
estável, de menor energia livre de Gibbs (G)
➢ Se a transformação for acompanhada por uma variação pequena de volume:

𝐺 =𝐻 −𝑇×𝑆 com: H = Entalpia, T = temperatura,


S = Entropia

➢ Quando a energia de Gibbs decresce numa transformação


Eneria livre de Gibbs

𝜟𝑮𝒗 ou reação (𝜟𝑮 < 0) esta ocorre espontaneamente.

GSólido Questão - Quando se cria uma superfície de


um sólido, consome-se energia (energia de
𝜟𝑻 superfície):
𝑆𝑜𝑏𝑒𝑎𝑟𝑟𝑒𝑓𝑒𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
• logo o valor de ΔG não é tão grande
GLíquido como indicado no gráfico
Sólido Líquido

Temperatura 𝑇𝑒 = Temperatura de equilíbrio

T06 - 9 2021/2022 A.C. J.C.O.


Solidificação
J.C.O.

Nucleação na fase liquida


80
𝛥𝐺𝑠 = 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎
𝜟𝑮 = 𝜟𝑮𝒗 + 𝜟𝑮𝒔 60 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒 𝑑𝑒 𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒

➢ Considerando o embrião como 40


esférico (menor superfície para

G (10-15J)
20 𝜟𝑮 = 𝜟𝑮𝒗 + 𝜟𝑮𝒔
máximo volume)
0
Líquido 2 4 6 8 10 12 14 16 18
𝜟𝑮𝒔 ∝ 𝒓𝟐 -20 Raio dos
𝜟𝑮𝒗 -40
embriões (nm)

∝ 𝒓𝟑
-60
𝛥𝐺𝑣 = 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎
𝟒𝝅 𝒓𝟑 𝜟𝑻 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑒 𝑑𝑒 𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒
𝜟𝑮𝒗 = − 𝑳𝒗 𝜟𝑻 = Te - Tarref. = sobrearrefecimento
𝟑 𝑻𝑬 Lv = calor latente de fusão
(energia /unidade volume)
𝜟𝑮𝒔 = 𝟒𝝅𝒓𝟐 𝜸𝑺𝑳
𝟒𝝅 𝒓𝟑 𝜟𝑻
𝜸𝑺𝑳 = Tensão superficial sólido / ⇒ 𝜟𝑮 = − 𝑳𝒗 + 𝟒𝝅𝒓𝟐 𝜸𝑺𝑳
líquido (energia de superfície)
𝟑 𝑻𝑬

T06 - 10 2021/2022 A.C. J.C.O.


Solidificação
J.C.O.

Energia de ativação para a nucleação


𝜕Δ𝐺 4𝜋Δ𝑇𝐿𝑣 2 2𝛾𝑆𝐿 𝑇𝐸
➢ 𝜕𝑟 = 0 ⇒−
𝑇𝐸
𝑟𝑐 + 8𝜋𝛾𝑆𝐿 𝑟𝑐 = 0 ⇒ 𝑟𝑐 =
𝐿𝑣 Δ𝑇
18 16𝜋𝛾𝑆𝐿 3
⇒ 𝛥𝐺𝑐 =
14 3 𝐿𝑣 𝛥𝑇 2
10

6 ➢ 𝜟𝑻 ⇒ 𝒓𝒄
G

𝜟𝑮𝒄 𝜟𝑮𝒄 Mais núcleos


2

-2 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 Raio dos
𝒓𝒄 𝒓𝒄 embriões Menor tamanho
-6
de grão
-10 ⇆ ⟶
Embriões Núcleos Nota: aumento de 𝜟𝑻
implica diminuição de T

T06 - 11 2021/2022 A.C. J.C.O.


Solidificação
J.C.O.

Tipos de nucleação

➢ Nucleação homogénea

G
▪ Formam-se núcleos do metal puro 𝜟𝑮𝒄,𝒉𝒐𝒎
somente no interior da fase líquida.
𝜟𝑮𝒄,𝒉𝒆𝒕
▪ Os agregados metálicos que se formam 0
no líquido possuem a mesma estrutura r
𝑟𝑐
que a fase solida do metal elementar.
➢ Nucleação heterogénea
▪ A nucleação ocorre mais facilmente nas superfícies ou
interfaces do que no interior do líquido. Líquido Sólido
▪ A energia de ativação para a nucleação (𝛥𝐺𝑐 ) é menor Impureza
quando um núcleo é formado numa superfície ou
interface pré-existente : a energia superficial é reduzida.

➢ A nucleação heterogénea é responsável pela solidificação


dos materiais com pouco sobrearrefecimento (alguns graus)

T06 - 12 2021/2022 A.C. J.C.O.


Solidificação
J.C.O.

Processo de nucleação e crescimento


➢ Crescimento de grão
▪ O crescimento de grão inicia-se logo que um embrião exceda o tamanha crítico e
se torne num núcleo.
▪ O crescimento ocorre por difusão na fase líquida e é ativado com a temperatura.
▪ A nucleação pode continuar a ocorrer simultaneamente com a crescimento de grão.

➢ Curva da velocidade de transformação em


função da temperatura de sobrearrefecimento:
𝑇𝑒
▪ 𝑇 perto de 𝑇𝑒 : baixa taxa de nucleação e alta Taxa de
crescimento

Temperatura
velocidade de crescimento → microestrutura de grão

T
final com poucos grãos de grandes dimensões
(grosseira) Taxa de
transformação
▪ 𝑇 mais baixa: maior taxa de nucleação e
Taxa de
menor velocidade de cresciment → nucleação
microestrutura final com muitos grãos de
reduzida dimensão (fina) Taxa (velocidade)

T06 - 13 2021/2022 A.C. J.C.O.


Solidificação
J.C.O.

Al puro Aço

Amorfo

Cristalino
Ferro fundido Ouro

T06 - 14 2021/2022 A.C. J.C.O.


Nucleação e crescimento no estado sólido
J.C.O.

Transformação de fase no estado sólido


➢ Os processos de nucleação e crescimento
também ocorrem no estado sólido
▪ O crescimento ocorre por difusão atómica de
longo distância.
▪ A difusão envolve normalmente vários passos (na
fase mãe, através das fronteiras de grão,…) Ligação página WEB

➢ Fração transformada 1.0

f, fração transformada
▪ A fração transformada f pode ser medida em
função do tempo a temperatura constante.
▪ f é apresentada em função do logaritmo do 0.5
tempo, obtendo-se uma curva em forma de “S”.
𝒇 = 1 − exp −𝑘𝑡 𝑛 Equação de Avrami
𝑡0.5
0
com k e n constantes independentes do tempo. Nucleação crescimento
Logaritmo do tempo, t)

T06 - 15 2021/2022 A.C. J.C.O.


Nucleação e crescimento no estado sólido
J.C.O.

Crescimento de grão no estado sólido


➢ As fronteiras de grão são áreas de maior energia, os
átomos não se encontram perfeitamente empacotados:
▪ A energia do material pode ser diminuída pela redução
das fronteiras de grão → aumento do tamanho de grão.
▪ O crescimento de grão envolve o movimento das
fronteiras de grão: os grãos de maiores dimensões
crescem á custa dos mais pequenos.

➢ Termodinamicamente, os materiais policristalinos


tendem a aumentar o seu tamanho de grão.
▪ A transformação ocorre por difusão dos
átomos pelo que é favorecida pelo
aumento da temperatura.
▪ Em muitos tratamentos térmicos a alta
temperatura ocorre crescimento de grão
que deve ser cuidadosamente controlado.
Crescimento de grão na alumina sinterizada a
1350 ºC durante 15 e 30 horas

T06 - 16 2021/2022 A.C. J.C.O.


Nucleação e crescimento no estado sólido
J.C.O.

Latão deformado a frio 3 segundos a 580 ºC: 4 segundos a 580 ºC:


(33 % CW) início da recristalização avanço da recristalização

➢ Recristalização:
formação de novos
grãos livres de tensões
e deslocações e
aproximadamente
equiaxiais
▪ Os novos grãos
formam-se como 8 segundos a 580 ºC: 15 minutos a 580 ºC: 10 minutos a 700 ºC:
recristalização completa crescimento de grão maior crescimento
núcleos muito
pequenos que
crescem até consumir
completamente ao
material inicial
(difusão de curto
alcance).

Micrografias óticas dos diferentes estágios de recristalização e crescimento de grão de uma


ligado latão (ampliação x 70), J. E. Burke, General Electric Company

T06 - 17 2021/2022 A.C. J.C.O.


Defeitos planares
J.C.O.

Maclas: fronteira de grão coerente

➢ A macla é um tipo especial de fronteira


de grão em que os átomos de um lado
ocupam posições especulares em
relação aos átomos do outro lado da
fronteira.
➢ A macla ocorre num plano definido e
numa direção específica, dependendo
da estrutura cristalina

T06 - 18 2021/2022 A.C. J.C.O.


Defeitos planares
J.C.O.

C
➢ Falhas de empilhamento: interrupção na A
B C
sequencia de empilhamento dos planos atómicos
A B
▪ Exemplo: a sequência de empilhamento C A
dos planos compactos da estrutura CFC é: B B
…ABCABCABC… A A
C C
▪ Falha de empilhamento: B B
…ABCABABCA… A A

➢ Fronteiras entre fases: fronteiras entre duas fases que diferem na


composição química.

Coerente Parcialmente coerente Incoerente

T06 - 19 2021/2022 A.C. J.C.O.


Defeitos nas estrutura cristalina
J.C.O.

Classificação dos defeitos cristalinos Os defeitos são usualmente


classificados de acordo com a sua
Defeitos cristalinos geometria ou dimensão.

Defeitos Defeitos Defeitos Defeitos


pontuais Lineares Planares Volumétricos

Lacunas Deslocações Fronteiras Poros


Intersticial em cunha de grão
Fissuras
Substitucional Deslocações Maclas Inclusões
Schottky parafuso Falhas de Precipitados
Frenkel empilhamento

T06 - 20 2021/2022 A.C. J.C.O.


Defeitos volumétricos
J.C.O.

Porosidade / fissuras

➢ Região do material não ocupada por


matéria no estado sólido (espaços
vazios dentro do material).
▪ Os poros formam-se muitas vezes
durante o processamento
(solidificação, sinterização a partir de
pós, soldadura…)
Superfície do ferro após sinterização a partir de
pós. Porosidade residual
▪ Os poros estão muitas vezes associados á
presença ou formação de gases.
➢ Classificação dos poros em função do
seu tamanho (IUPAC):

▪ Materiais nanoporosos: não se


enquadram na definição da IUPAC

T06 - 21 2021/2022 A.C. J.C.O.


Defeitos volumétricos
J.C.O.

Porosidade na alumina Luz incidente

Alumina porosa Alumina densa

Translúcido Opaco
(denso) (poroso)

Resistência à flexão (103 psi)


Resistência à flexão (MPa)

Influencia da
porosidade na
resistência á
flexão da
alumina á
temperatura
ambiente
Alumina (Al2O3) processada
por métodos diferentes Porosidade (fração volumétrica)

T06 - 22 2021/2022 A.C. J.C.O.


Defeitos volumétricos
J.C.O.

Inclusões / precipitados

➢ Inclusões: impurezas
estranhas ao cristal
cuja composição
difere da do material.
Inclusões de óxido de cobre (Cu2O) em Sulfetos de manganês
cobre de alta pureza (99,26%)
laminado a frio e recozido a 800 °C. (MnS) em aço rápido

➢ Os precipitados são
aglomerados de
partículas cuja
composição é
diferente da matriz

Precepitados de Al 2Cu numa liga de aluminío (V65)

T06 - 23 2021/2022 A.C. J.C.O.


Defeitos volumétricos
J.C.O.

Precipitados nas ligas de alumínio


➢ Os precipitados são responsáveis pelo
endurecimento nas ligas de alumínio permitindo
a produção de ligas com alta resistência para a
indústria aeronáutica (aviões).

1 min 1h 1 dia 1 mês 1 ano


Tensão limite elástico (MPa)

Tensão limite elástico (psi)

Tempo de tratamento (h)

Micrografias de alta resolução mostrando a morfologia dos precipitados numa


liga de Al tratada a diferentes temperaturas (em cima 180 e em baixo 250 ºC)

T06 - 24 2021/2022 A.C. J.C.O.


Perguntas e dúvidas
J.C.O.

T06 - 25 2021/2022 A.C. J.C.O.


Contatos
J.C.O.

João Carlos Barbas de Oliveira


Dep. Eng. Mecânica, FCTUC
Rua Luis Reis Santos
3030-788 Coimbra
Tel. 239 790745 / 239 790700
Via e-mail: epm@dem.uc.pt
Gabinetes: Grupo de Materiais, Ala norte

T06 - 26 2021/2022 A.C. J.C.O.

Você também pode gostar