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LIVRO
PATRIMÔNIO
CONTADO
ALCÂNTARA,
CULTURA
E EDUCAÇÃO
Promoção
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional – IPHAN/MA.
Apoio
Cyclone Space
Prefeitura Municipal de Alcântara
Universidade Federal do Maranhão-UFMA
PREFÁCIO 5
RECAPITULANDO 6
GLOSSÁRIO 116
Caros alunos,
CAPÍTULO I
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que era
Diarinho, rd e fe ito árvore, ou será
eu ho je u m susto, estava ve
a a qu ela ca ra . Acho que ele
Artur me d nada bo gente
? N ã o se i, mas não estava po r qu e se rá que tem tanta
amare lo , o
ra r, fo i só u m susto. Agora bo m , va m os investigar! Faland
já vai sa rtur ficar eu pai.
e po r a qu i? Assim que o A iga çõ es so br e a família do m es
doent st nho mais parent
o d e co nt in u ar minhas inve er o sa be r se te
nisso, tenh m, eu qu ão. Eu
o qu e po r a qu i esteja tudo be re lógi o ve io pa rar na minha m ha
Mesm d ireitinho como o o d ar unia fugidin
e en te nd er r se co ns ig
na região m para ve família
es pe ra nd o a s aulas voltare lg u ém te m a lguma notícia da
estava ber se a
o de Côrtes, sa
e ir até São Joã mas
de meu pai por
lá.
te m po lo ng e d a escola é bom,
las, esse vendo
ã , en fi m , re começam as au os en qu a nt o estou na aula,
a nh en tem
Am
sa u d a d e d a mamãe. Pelo m ce qu e vo a , mas nas férias
dá mais o tempo pa re
m eu s a m ig os todos os dias,
os ho.
bem devagarzin s, ela disse que
vem pra
dia que passa ne ss es te m po ara
st a nt e co m m amãe no telefone pra lá nas férias de julho. Tom
Falei ba ndarem ltar pra
ou va i pe d ir prós tios me ma m eu s a m igos da escola e vo inda
cá , r a
vá pr a lá , assim vou reve m po r a qu i, tem noites que
que eu stumei be se minha
sa . N a ve rd ade eu me aco z em qu a nd o. Já nem sei mais estou
ca ve im, diz que já
u m po u qu in ho , mas é só de ã e el a ri d e m é
choro
qu i. Q u a nd o falo com mam qu e nã o, se r alcantarense
casa não é a nse. Eu ach o
el a , como alcantare outro.
faland o co m o
qu e fa lar de um jeito ou de eu levo
do titia disse que
mais complicado r d e cr io u la , -
m u ito aos en saios de tambo , ch ei a d e flor es rosas e ama
Tenho ido a saia lind a agora,
pr a co re ir a , até me deu um A rt u r, el e é como um irmão são
jeito
a se nã o tenh o brigado com o. Eu te nh o irmãos, mas já
relas. Qu mas é meu mel
hor amig
ch e à s ve ze s,
me en
Tchau!
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A professora de Ana fez uma pergun- uma menina que está prestes a completar
ta bastante complicada: o que é identidade 12 anos e que fala português. Ela nasceu
brasileira? Será que ela existe? Ana ficou bas- em São Paulo, o que faz dela uma paulis-
tante intrigada com a questão e respondeu tana, mas toda sua família é maranhense
à professora que identidade é o que somos. de Alcântara. Ana é estudante e filha de
Vamos deixar um pouco de lado a iden- Maria e de Joaquim; ela gosta de brincar
tidade brasileira e vamos pensar na nossa no banhado e adora peixe frito. Não é alta,
identidade individual. Quando Ana che- mas está crescendo muito, tem os cabelos
gou a Alcântara, ninguém a conhecia, e foi castanhos e cacheados, que herdou de sua
preciso que ela se apresentasse para que os mãe, junto com a braveza; o nariz se pare-
outros soubessem quem ela era. Ela contou ce com o do pai.
a todos o seu nome e sobrenome, de onde Ainda poderíamos falar muito sobre
tinha vindo, quantos anos tinha, ou seja, foi Ana. Veja quantas características nós já te-
se identificando para seus novos amigos. mos aí. Tudo isso é a identidade de nossa
Se fôssemos identificar Ana, o que diría- personagem. Nossa identidade serve para
mos? Podemos começar dizendo que ela é sermos reconhecidos e nos reconhecermos.
Quando a aula acabou, Ana reencontrou José e, animada, foi contando ao amigo como
fora seu dia. Até que a escola podia ser bem legal. Depois de falarem sobre a aula de geo-
grafia e a volta às aulas, Ana relembrou José que tinham de descobrir o que estava deixan-
do tanta gente doente em Tapuitapera. — Você adora um mistério! Vai querer mexer com
a Mãe d’Água, né, Ana?
— Só quero saber o que dona Dalma queria dizer — disse
Ana franzindo a testa.
— E a nossa ida a São João de Côrtes pra
achar a família de seu pai? Já se esqueceu disso
— perguntou José em tom de desafio. — Claro
que não! Mas temos um problema: o que vou
dizer pra titia e titio? São João é longe, temos
que pensar num grande plano.
— Êh-hêin, num vai ser fácil.
Em Tapuitapera, Artur esperava ansioso
pela chegada dos dois. Queria saber todas as
novidades. Ao encontrá-los ficou chateado de
saber que estudaria em sala separada da prima.
Os três ficaram um bom tempo conversando
em frente à igreja. Depois de muito bate-papo,
Ana resolveu dar início a seu plano.
— Artur, o que você comeu um dia
antes de adoecer? — questionou Ana,
fazendo voz de detetive.
— Sei lá, acho que a mesma coisa
que você. O almoço que mamãe fez
e a janta, só isso.
— Que estranho, por que
será que eu não passei mal, só
você?
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o me
Diarinho, esto u co m m edo. Artur nã
i, o
nt e fi ca nd o doente por aqu a . S er á qu e Lá todo mund
Tem muita ge coincidênci ssível! Deve ser
uma
d o m u nd o a cha que é só tem po ? I m po
escuta, to
a co is a es tr agada ao mesmo so nu m te m re za que resolva,
comendo algum on a Dalma disse
que pra is
m a s se d
maldição, então
o que podemos
fazer?
o se tin ha m ais gente doente, va
mos sabend médico da
Sã o P a u lo , nós nunca ficáva mos direto para o hospita4 o ão era
Em
u m d e nó s ficava doente ía m a s lo go fi ca va tudo bem. N esse
quando pavam, a pud
rem éd io s, m eu s pais se preocu . Nunca pensei que uma doenç e iden-
uns
que todos se en
volvem ra falou d
como aqui, em ta m bé m se ja o que a professo
ão. Talvez isso a identidade d
aqui.
ser uma maldiç os d oe ntes é mos
de tratar l do ano estáva
tidade, esse jeito comuni d a d e, no fina
unidade.
fo i d if íc il pa ra todos aqui na stião, a maior aqui da com vez
Este a no a
nd o pr a fe st a de São Seb o d e ta m bo r e pela primeira
nos prepara apresentaçã de tudo quanto
é canto
ta va m u ito a nsiosa, ia ter e vi nh a ge nte um
Eu es
a r co m o gru po. Disseram qu pr a fe st a , m a s daí aconteceu
eu ia danç m até recolhido
as jóias e sua filha aca
baram
st a . J á tin ha a d a fest eira
pra fe e a prim
cid en te d e ca rro na estrada a a cabou cancelad
a.
a e a fest essa
falecendo,foi um
a tragédia
d e no vo co m os meninos e d
Vou falar finalmente
qu e é pa rt e da maldição? ra vo u d or m ir que amanhã
Será ar. Ago
r que me ajud
vez eles vão te co la: eu, José e Art
ur!
pr a es
vamos os três
Tchau!
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É muito comum escutarmos sobre os na Europa uma grande corrida pela con-
quilombos do Brasil nas aulas de história e, quista de colônias, a chamada Expansão
por isso, pode parecer que estamos falando Ultramarina, por isso, territórios que fica-
de algo que ficou num passado bem distan- vam desocupados e sem domínio eram,
te. Ana sempre acha esquisito quando sua normalmente, invadidos por outras nações.
bisavó diz que eles são quilombolas. Bisavó Todos queriam ampliar seus mercados e
Nena bem que tenta explicar, dizendo que obter novos produtos para comercialização.
ser quilombola é mais que ser escravo fugi- Para ocupar o Brasil, a Coroa portuguesa
do, é um modo de vida. Mas o que ela quer dividiu o território brasileiro em grandes
dizer com isso? faixas horizontais, as capitanias hereditá-
Em 1740, quando o Brasil era uma co- rias, e doou-as a nobres portugueses. Esses
lônia de Portugal, o Conselho Ultramari- homens eram chamados de donatários, e
no (órgão português, criado em 1642, para era responsabilidade deles administrar seu
cuidar dos negócios relativos às colônias do pedaço de terra, cuidando da segurança,
país) definiu quilombo como “toda a ha- da arrecadação de impostos e da sua distri-
bitação de negros fugidos que passem de buição entre outros portugueses, para que a
cinco, em parte despovoada, ainda que não terra se tornasse produtiva. Os donatários
tenham ranchos levantados nem se achem não eram proprietários das terras, já que
pilões neles”. A palavra quilombo tem ori- tudo pertencia a Coroa portuguesa, mas era
gem africana, é uma derivação de kilombo, deles o lucro nelas obtido. Muitas das capi-
que significa uma sociedade formada por tanias hereditárias deram origem aos esta-
pessoas de vários grupos étnicos, desenrai- dos brasileiros que hoje conhecemos.
zada de suas comunidades. As terras que os donatários doavam a
Como podemos ver, a presença de qui- outros portugueses eram latifúndios, cha-
lombos no Brasil é muito antiga. Ninguém mados sesmarias. Naquela época, uma via-
sabe ao certo a data em que se formou o pri- gem de Portugal ao Brasil era algo muito
meiro quilombo. O primeiro registro que se complicado e cheio de perigos. Os viajantes
tem é de 1630, mas acredita-se que a exis- passavam vários meses em alto-mar, vul-
tência de grupos quilombolas é anterior a neráveis a todo tipo de doença e ao mau
essa data. tempo. Portanto, ocupar um território tão
Quando a colonização no Brasil teve grande como o Brasil, não era tarefa fácil
realmente início, em 1535, a palavra de or- para Portugal, uma nação que tinha poucos
dem era ocupar o território para protegê-lo habitantes. Como conseguir tornar as terras
de possíveis invasores. brasileiras produtivas e ocupar definitiva-
Como sabemos, naquele período existia mente o território, se a população de Por-
2 PRESERVANDO BENS
ARQUEOLÓGICOS
CAPÍTULO III
O Forasteiro
Mal o sol nasceu e Ana já estava cutucando Artur na cama. o primo a olhava descrente
do que estava acontecendo. Não era possível que ela quisesse ir ao poço tão cedo! Como ele
já conhecia a prima, tratou de levantar, evitando uma briga. Mas não foi só Ana que teve a
ideia de acordar bem cedinho. Por alguma razão que os dois desconheciam toda a comuni-
dade estava de pé, em fervorosa reunião na porta da igreja. Tia Inês e tio Ribamar também
estavam lá.
— O que será que tá acontecendo? — indagou a menina enquanto calçava a sandália e
se dirigia à porta.
— Aonde você vai? — Dizia Artur ainda semiacordado.
— Vou ver o que tá acontecendo, claro!
Artur deixou a prima ir sozinha. Aquela não era hora de se meter em assunto de adultos.
Algumas vezes, por alguns segundos, ele desejava que Ana desaparecesse e que tudo voltas-
se a ser como antes. Foi comer algo na cozinha e esperar que as notícias chegassem até ele.
Nem foi preciso muita espera, a água do café acabava de começar a ferver quando a menina
voltou correndo.
— Não foi só a gente que percebeu que tinha alguma coisa estranha acontecendo no
poço! Agora todo mundo tá achando que o poço tá amaldiçoado e decidiram que ninguém
mais pode ir até lá.
Na noite anterior, uma criança bem pequena havia passado muito mal, não morrera por
pouco, conseguiram que urna ambulância chegasse a tempo de socorrê-la. Com o barulho
da sirene, muitos na comunidade acordaram para ver o que estava acontecendo. E foi assim
que começou a reunião, na qual resolveram interditar o poço. Ana não se conformava com
o fato de não poder continuar com a investigação. Tia Inês, ao ver a agitação da sobrinha,
avisou bem séria:
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Sem saber, Ana, Artur e José estavam quilombos, fazendas coloniais, campos de
fazendo trabalho de arqueólogo ao ca- batalha etc.
varem em busca de objetos ao redor do Hoje, nós temos no Brasil quatro tipos
poço. A arqueologia é a ciência que estuda de arqueologia: arqueologia histórica, et-
o passado por meio de vestígios e restos noarqueologia, arqueologia subaquática e
materiais dos habitantes da terra. O local arqueologia de contrato. Cada uma tem
de trabalho dos arqueólogos se chama “sí- suas especificidades e metodologia.
tio arqueológico”. A arqueologia histórica estuda, prin-
O primeiro passo do estudo de um cipalmente, os vestígios deixados após
arqueólogo é identificar um sítio arqueo- a chegada dos portugueses no Brasil, ou
lógico, fazer uma pesquisa do local, ela- seja, depois de 1500. O seu objetivo é en-
borar um projeto de trabalho e, só então, tender como viviam e como se relacio-
escavar a terra procurando nela estruturas navam índios, europeus e africanos. O
de construções, restos de objetos, sobras arqueólogo histórico, além de fazer esca-
de alimento, enfim, tudo que possa con- vações e coletar materiais, também utiliza
tar como um determinado grupo vivia. documentos escritos, mapas, fotografias
Após a escavação, o que foi encontrado é e qualquer recurso que possa enriquecer
documentado, às vezes, fotografado, para sua pesquisa. Por meio da análise dos do-
então se iniciar a fase de estudos. Os ves- cumentos e objetos, o arqueólogo tenta
tígios são detalhadamente analisados de recontar a história.
forma a se estabelecer uma relação entre Além disso, os arqueólogos históricos
eles e os antigos habitantes do lugar. ajudam nos projetos de restauração. Tal-
No Brasil, a arqueologia é muito uti- vez você já tenha visto um arqueólogo
lizada com o objetivo de conhecermos ai em Alcântara pois, antes de toda obra
não somente a história que está em docu- de restauro, é feita uma análise arqueo-
mentos e nos livros, mas também a his- lógica. O arqueólogo ajuda a encontrar
tória deixada pelos índios que habitavam antigas fundações que mostrem como o
o país antes da chegada dos portugueses, prédio era, e também objetos ou restos
ou mesmo a ocupação dos negros no país. de alimentos, que podem estar no pátio,
Ou seja, toda história que não está regis- ao redor do prédio e algumas vezes nas
trada. Portanto, hoje, são feitas muitas es- próprias paredes, que ajudem a entender
cavações em locais onde estavam antigos como e por quem aquele lugar era ocu-
Mais Mistérios
Carlos quase não dormiu aquela noite, e não foi apenas pela falta de hábito de dor-
mir em redes ou pelo calor abafado que fazia, mas porque ele sabia que o segredo dos
meninos teria de ser revelado, até porque era importante levar as peças que eles haviam
encontrado para uma análise. O dia raiava enquanto Carlos explicava a Ana e Artur
que precisava dos objetos encontrados e que iria contar o que havia acontecido. Artur
tinha os olhos cheios de lágrimas, sabia que o castigo não seria leve. Ana pediu a Carlos
que José fosse poupado, que ele contasse que na noite do incêndio estavam apenas ela
e o primo.
Acordo feito, Carlos sentou-se à mesa do café da manhã com Ribamar e Inês para
contar tudo o que havia ocorrido. Os dois aguardavam lá fora. Era possível escutar gri-
tos e exclamações. Artur também gritava, mas era com Ana, culpava a prima por toda
aquela confusão. Ele não estava de todo errado, Ana com sua curiosidade imensa não
sossegava enquanto não descobrisse o que ela queria.
— Ana! Artur! Venham já aqui! gritou tia Inês bastante impaciente.
Cabisbaixos, os dois se dirigiam à cozinha esperando o pior. A bronca foi longa e
bastante dura. O castigo era um velho conhecido dos meninos: um mês sem sair de
casa para brincar. Mas, dessa vez, os tios também elogiaram a dupla pela coragem, se
não fosse por eles o mistério do poço continuaria sem solução. Tio Ribamar encerrou
sua fala da seguinte forma:
— E tem mais, Carlos ficou de voltar aqui com o arqueólogo do Iphan e também
com um pessoal da universidade que trabalha com lixo, e vocês dois, já que não vão
sair pra brincar, vão servir de guia pra eles, quem sabe assim vocês não tomam juízo e
aprendem alguma coisa. Agora, Artur, vá cuidar dos animais no quintal e você, Ana,
passa uma vassoura na casa e entrega pro Carlos as coisas que vocês acharam.
Os dois concordaram com tudo e obedeceram prontamente, sem nada questionar.
Carlos ficou com pena dos meninos, mas percebeu que Ana sorria com os olhos, não
parecia nada triste. Quando a menina lhe entregou o saco com as peças, ela murmurou
baixinho:
— Obrigada.
Carlos, que já era desajeitado, ficou sem entender nada. Por que ela estaria agrade-
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A construção do Tambor
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Que texto mais complicado! Ana e Artur bem sabiam o que era tambor de
crioula, mas lendo tudo aquilo ali no texto, perceberam quantas coisas poderiam
ser ditas sobre o tambor de crioula. Então, era isso que os pesquisadores do Iphan
faziam. Ana devolveu tudo a Carlos e pediu para ele que, quando ele voltasse,
mostrasse a ela os outros textos feitos para a exposição. Carlos disse que havia
mais dois outros pesquisadores fazendo esse trabalho, mas prometeu mais do que
os meninos poderiam imaginar, disse que quando a exposição estivesse pronta
levaria os dois para vê-la na sede de Alcântara, no Museu Casa Histórica. Os me-
ninos foram dormir eufóricos com a novidade.
Pela manhã, Carlos já havia partido quando eles acordaram, Ana estava com
olhinhos tristonhos, mas Artur tratou de animá-la. Conhecendo a prima como ele
conhecia, sabia que o que mais a deixava feliz era um mistério.
— Ana, você parece que já se esqueceu da luz que vimos lá no poço. Ainda não
descobrimos o que era aquilo. Além do mais, enquanto o pessoal da universidade
não vem pra ver a história do lixo próximo ao poço, a gente podia pensar num
plano.
Os olhos da menina brilharam, Artur estava certo, ainda havia muita coisa para
desvendar. Ana abraçou o primo e foi tomar o café da manhã toda animada, já
pensando em uma forma de resolver o problema do lixo. Artur sentiu-se o herói
daquela manhã e, para Ana, ele realmente havia sido.
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1. Qual foi o castigo dado aos meninos Faça agora seu próprio glossário escre-
por terem ido ao poço de madrugada vendo a definição das palavras: “arte-
e causado um incêndio? O que Ana são”, “brincantes” e “matéria-prima”.
achou do castigo?
2. Em sua opinião, por que Carlos teve de
Trabalhando o quadro explicativo
revelar o segredo dos meninos e Levar
embora as peças por eles encontradas? 1. Após a leitura do quadro explicativo,
responda qual a importância do lphan
3. Explique por que uma pesquisa como
para a preservação do patrimônio cul-
a que Carlos está fazendo é importante
tural do Brasil.
para a preservação do patrimônio cul-
tural de Alcântara. 2. Quais são as formas utilizadas pelo
lphan para preservar o patrimônio?
4. Em sua comunidade, provavelmente,
Você acha que elas são eficientes?
existem artesãos, conte que tipo de ar-
tesanato eles produzem e quais são as 3. Se você fosse um funcionário do lphan,
matérias-prima utilizadas. qual seria sua proposta para preservar
o patrimônio de sua comunidade?
5. Escolha um artesanato e, com base no
Você faria entrevistas, exposições, uti-
texto que Carlos escreveu sobre o tam-
lizaria as leis de proteção, enfim, o que
bor de crioula, faça o seu próprio texto.
você faria? Escreva sua proposta deta-
Lembre-se de contar com detalhes to-
lhadamente e explique por que você
das as etapas da produção do artesana-
acha que ela funcionaria.
to escolhido. Imagine que esse texto é
para uma exposição, portanto deve ser 4. Qual a importância da comunidade na
o mais detalhado possível. preservação patrimonial? Você acha
que é possível preservar um patrimô-
nio sem que a comunidade participe?
CAPÍTULO V
Estavam todos ansiosos para começarem a campanha contra o lixo, mas ainda
faltava tomar uma decisão, onde colocariam as lixeiras? Todos os meninos que-
riam dar uma opinião, Ana tentou liderar, mas quem disse que conseguiu, todos
falavam sem parar. André, um menino da sala de Ana, tomou a palavra e disse
que deveriam ter critérios para tornar essa decisão. Ana concordou com André,
José quis dar sua opinião também, já que não sabiam que critérios usariam, o
melhor seria pedir ajuda para a professora. E foi o que fizeram. A professora disse
aos meninos que deveriam pensar em lugares que muita gente frequentasse, um
bom jeito de descobrir quais locais estavam precisando de lixeiras era ver onde
tinha lixo espalhado pelo chão. Até que não era tão complicado assim.
Ao voltarem da escola, já detectaram um ponto para colocar a lixeira: o local
onde se esperava o transporte. Muita gente ficava por ali esperando carro de
linha ou o transporte escolar, havia também um bar bem na frente. No chão, es-
palhavam-se pacotes de biscoito, papel, embalagens de plástico e garrafas. André,
que havia assumido a liderança da campanha contra o lixo, foi logo dizendo que
aquele era um bom lugar. Todos concordaram, inclusive Ana. José estava achan-
do esse tal de André muito metido, sempre querendo chamar a atenção. José co-
chichou no ouvido de Ana. — Achei que você é que ia comandar essa campanha,
mas, pelo jeito, você vai deixar esse menino fazer tudo, né? - Fica quieto, José, se
ele tá certo eu vou concordar, acho ele bem legal — respondeu Ana olhando com
admiração para André.
José não podia acreditar que Ana, que sempre queria liderar e decidir tudo,
deixaria que aquele André tomasse conta da campanha que tinha sido ideia dela!
Ana não dava a menor atenção para José, estava ao lado de André adorando as
sugestões que ele dava. Artur percebeu que o amigo estava emburrado.
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Vou brincar!
Tchau!
A chegada de Carlos marcou a manhã seguinte. Dessa vez, o pesquisador não estava
mais tão perdido, ao chegar foi direto à casa de Ribamar. Ana avistou-o de longe e saiu
correndo em sua direção. Ele não vinha sozinho, estava acompanhado do tal arqueólogo,
que, para a surpresa de Ana, não era um homem como ela imaginava, mas sim uma mu-
lher bonita com um sorriso simpático.
— Oi, Carlos! Vocês vão ficar aqui em casa?
— Eu vou, mas a Júlia vai ficar acampada, ela gosta assim.
— Acampada em uma barraca? Mas por quê? — interrogava Ana.
— Eu prefiro, assim fico sossegada, posso ler até tarde sem incomodar os outros —
respondeu Júlia.
Júlia também trabalhava no Iphan, era técnica assim como Carlos. Ana estava deslum-
brada com a tal arqueóloga, na sua imaginação arqueólogos deviam ser pessoas estranhas
que viviam cheias de terra, mas Júlia era linda e tinha o maior sorriso que ela já tinha
visto. Artur, vendo o movimento, foi logo cumprimentar Carlos. Assim como Ana, se
espantou com a beleza da arqueóloga e se colocou à disposição para qualquer coisa que
eles precisassem.
O que os dois mais precisavam naquele momento era de um bom copo de água fresca
para matar o calor. Ao menos dessa vez Carlos estava de bermuda, sandálias e camisa de
manga curta. Júlia parecia mais habituada ao calor, quase não demonstrava cansaço.
— Nossa, meninos, como Tapuitapera mudou, tá tão limpinha! — exclamou Carlos
surpreso ao ver que não havia uma sujeirinha no chão.
Ana e Artur trataram de interar Carlos das novidades, e só nessa conversa foi pelo me-
nos uma hora. Júlia e Carlos estavam sentados na cozinha, quando tio Ribamar e tia Inês
chegaram, o pesquisador apresentou a colega e disse que ela iria examinar os vestígios
encontrados ao lado do poço.
— Pois é, boa parte do que o Carlos me levou são pedaços de porcelana portuguesa do
século XVII, e os ossos são de animais. Gostaria de ver o que mais posso encontrar por
lá — explicava a arqueóloga.
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Meu glossário
Pensando na arqueologia, escreva o
significado da palavra: “escavação”.
4 TUDO É PATRIMÔNIO
CAPÍTULO VII
Notícias de longe
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94
?
Queridos Artur
e José,
nd o d e sa u d a des de mim, né
tão morre vocês
m ? I m a gino que vocês já es a d es d e vo cê s. Queria que
Oi, tudo be muitas sau d
a d m ito , ta m bém estou com
Eu e.
comigo agora! ver a minha mã
estivessem aqui melhor cois a d o m u nd o re
, mas
tá tu d o m uito bom, foi a d es d el a . A viagem foi longa
i es d a qui
Por aqu
a qu e es ta va com tantas sau u m . V im d e São Luís até a
Nem eu sabi que nem senti ca
nsaço nenh
nh or legal, ele tam a.
bém ia
va tã o fe liz o. Er a u m se
eu esta o de banc r a filh
er sa nd o co m o meu vizinh d e mim , er a ele quem ia reve
co nv ntrário
ém, mas, ao co ei na cidade
já vi
reencontrar algu ss im qu e en tr
e enorme, a ria tinha mais
gente do
P a u lo é m esmo uma cidad e só na ro d ov iá m sei
São
ca rr os po r to dos os lados, P a u lo ! É en gr a çado que já ne
milhões de pera. Eu gosto
de São
aqui. Nos prim
eiros dias,
to d a T a pu ita nh ei tu d o po r vam
que em
in ha ca sa ou se é aí, estra
os ca rr os pa ss ando atrapalha
se aqui é m ra dormir,
fa lt a d o ba ru lho do mato pa vez.
senti costumei outra m
meu sono, m a s já m e a
a nd a r d es ca lç a. Aqui está u
lor e de e teve
m es to u se nt indo falta do ca rro, ca ch ec ol e luvas! Mamã
Eu també té usando go rno, porque o qu quando
e eu tinha
de ba te r os dentes, estou a sa co d e in ve
frio um ca ais e
calças novas e e eu cresci dem
de me comprar pequ eno. El a m e d is se qu
a d e, a s mangas só iam
m u ito a ve rd
aqui já estava qu eta velha perceb
i que er
a m in ha ja
coloquei quarto,
do braço. os dividindo o
até a metade , en tã o, es ta m im
tá m or a nd o com uma amiga m es m o ba irro . Isso é bom, ass
Mamãe es mas é no estão diferentes
e me
a is na no ss a antiga casa, . El es ta m bé m o
não é m
co nt ra r to d os os meus amigos se . Fi ca m m e perguntando com
eu pude reen ma maranh en acredita-
qu e a go ra eu falo como u ne nh u m pr édio, eles não ,
dissera m
a nd o eu disse que não
tin ha
qu e em ca sa tínhamos porcos
é tudo aí. Q u banhado e melhor
tei qu e a gente brincava no d e sa ir d a qu i, eu tinha uma e
on es
ram. C
is . El es d eram risada. Ant , a L ív ia , co nversamos muito
galinhas e bo pra mim
ss im co m o vo cês são agora
amiga, a
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Os objetos nos contam histórias e nos mesmo, também podemos supor que eles
revelam modos de vida. Pela observação sejam produzidos por perto, então deve ser
dos objetos, podemos entender como as um local que vive da agricultura e que está
pessoas que os possuem vivem, pois eles na zona rural. Os pilões eram também usa-
são resultados de processos históricos, de dos por muitas sociedades africanas, o que
encontro entre culturas e da interação entre nos leva a pensar que estamos falando de
o homem e a natureza. um local com a presença de afro-brasilei-
Quando Ana recebeu de sua mãe o re- ros. Uma rede pendurada, nos conta que as
lógio de bolso que era de seu pai, a meni- pessoas daquele lugar também devem ter
na achou aquilo muito estranho. Por que tido contato com indígenas, já que as redes
seu pai teria um relógio de bolso de prata? são muito usadas pelos índios.
Aquele objeto era antigo. Olhando para ele, Como vimos, os objetos têm história.
podíamos saber que era de outra época e Devemos olhar tudo para obter o máximo
que deveria ter pertencido a uma família de informação possível, tentar saber do que
rica. eles são feitos, como são feitos, para que
Se observarmos uma casa comum em são utilizados, se são novos ou antigos. Os
Alcântara e seus objetos, o que podemos objetos são uma forma de sabermos como
saber? Imaginemos que somos pesquisado- as sociedades interagem, quais são seus há-
res e queremos saber como vivem os alcan- bitos e conhecermos, assim, parte de sua
tarenses e qual sua história. Para descobrir história.
isso só podemos olhar uma casa. Será que Os pesquisadores de diversas áreas,
isso é possível? como a história, a arqueologia e a antropo-
Numa casa, encontramos uma mençaba logia, utilizam objetos em suas pesquisas
e um cofo guardando mantimentos, isso para entenderem melhor as sociedades das
nos diz que por perto deve ter gente que faz quais tais objetos faziam parte. José e Artur,
artesanato com palha de tucum. Depois, ao visitarem o Museu Casa Histórico, pu-
encontramos uma bilha, e podemos imagi- deram perceber como os objetos espalha-
nar que também se usa a cerâmica e que, dos pelo casarão eram capazes de levá-los a
muito provavelmente, é um hábito buscar uma viagem no tempo. Apenas pela obser-
água no poço. Um pilão no quintal, nos diz vação do mobiliário, era possível Levantar
que ali deve ser um local onde se prepara muitas hipóteses de como viviam as famí-
os alimentos em casa; não se compra, por lias ricas de Alcântara. Portanto, a preser-
exemplo, a farinha já industrializada em sa- vação e o estudo dos objetos é uma forma
quinhos no supermercado. Por imaginar- de preservação da história.
mos que os alimentos são preparados ali
O Retorno
Santa Tereza atendeu aos pedidos de José, e dezembro chegou. Inês e Ribamar arruma-
vam as coisas para partir para Sede de Alcântara, todos pretendiam esperar Ana e Maria
no porto do Jacaré. José, é claro, insistiu tanto que resolveram levá-lo também. Embora os
meninos estivessem ansiosos, era tia Inês quem estava mais feliz, por reencontrar sua prima
Maria. Já fazia mais de vinte anos que as duas não se viam, quando crianças eram assim
como Ana, José e Artur, grudadas, mais do que primas eram grandes amigas. Inês ficou em
Alcântara e Maria resolveu tentar a vida em São Paulo. Inês tinha tanta coisa para contar,
tantos abraços para dar, que talvez fosse preciso uma outra vida para matar aquela saudade.
No carro de linha, Artur e José se impressionaram, Inês que era uma mulher sempre tão
forte chorava sorrindo durante toda a viagem. Artur pensou que a mãe havia enlouquecido,
mas que nada, era só felicidade. No caminho, todos foram em silêncio, ensaiando o que
diriam no exato momento do reencontro, queriam ter as palavras certas e o melhor dos
abraços.
Elas viriam na lancha da tarde, a última que saía de São Luís. O carro de linha chegou
à Sede de Alcântara ao meio-dia, no desembarque já foram informados de que a lancha
acabara de deixar São Luís, ainda tinham uma hora para esperar. Desceram até o porto, os
adultos sentaram para beber uma água de coco, Artur e José foram ver os barcos e os caran-
guejinhos saindo e entrando dos buracos feitos na lama. Ana adorava aqueles bichinhos. Os
guarás também estavam lá, para dar as boas vindas. Infelizmente, também havia muito lixo
embaixo do píer que levava até o porto. Era preciso um trabalho como o que tinham feito
em Tapuitapera, se não aquele mangue ao lado estaria condenado.
Para matar o tempo, os meninos ficaram bolando estratégias para combater o lixo ali.
Aquilo certamente deveria causar uma má impressão aos turistas e, também, muitos danos
ao meio ambiente. No fundo nenhum dos dois prestava muita atenção nas palavras que
dizia, tinham os olhos fixos no horizonte.
Artur se lembrou da primeira vez que foi esperar Ana, ela não passava de uma prima dis-
tante que vinha de São Paulo. Estava igualmente ansioso. José suava por tudo, enfim saberia
o resultado daquele beijo em segredo. Andavam de lá pra cá e de cá pra lá, até que a lancha
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Ana, Artur e José perceberam que exis- nessa categoria tudo aquilo que tem ma-
tem vários tipos de patrimônios e que eles terialidade, ou seja, que se pode tocar. Por
podem ser bem diferentes entre si, por exemplo, edificações, igrejas, quadros, es-
exemplo, a manifestação cultural do tam- culturas, mobiliário, livros etc. Dentro da
bor de crioula e a igreja da matriz. Agora categoria de bens materiais, ainda os divi-
que já vimos como o lphan funciona, va- dimos em dois outros grupos, os móveis
mos ver também que instrumentos legais e os imóveis. É fácil distinguir os dois, os
ele tem à sua disposição e como são traba- bens materiais móveis são os que podem
lhados os diferentes tipos de patrimônio. se mover, que podem ser transportados,
Ao longo do tempo, patrimônio cul- como um quadro ou uma mesa de jantar.
tural significou diversas coisas. Antiga- Os bens materiais imóveis são os que não
mente se determinava o valor de um ob- saem do lugar, como uma casa, uma igre-
jeto pelo seu tempo de existência: quanto ja, um terreiro.
mais velho, mais valioso. Quando o go- O nome bem imaterial, ou patrimô-
verno passou a tomar conta do patrimô- nio imaterial parece estranho, mas tam-
nio cultural no Brasil, em 1937, os bens bém é simples de entender. Nem sempre
que eram protegidos deveriam ter uma o valor de um bem está manifestado em
importância histórica ou artística. O re- algo material; um exemplo é o tambor de
sultado foi o tombamento de casarões crioula. O valor e a importância do tam-
coloniais e igrejas barrocas. Foi um perío- bor de crioula não estão no tambor ou
do da preservação patrimonial que ficou nas roupas, mas na manifestação em si.
conhecido como “pedra e cal”, pois só se Estão na dança, nos espaços de socializa-
tombavam edificações. Durante a década ção, nos brincantes, na musicalidade, na
de 1980, muitos estudiosos começaram a importância histórica que essa manifesta-
questionar esses critérios com as seguin- ção tem para seus participantes. Ou seja,
tes perguntas: valor histórico e artístico não existe um objeto a ser preservado, por
para quem? E os grupos do Brasil que têm isso, é um bem imaterial. Outro exemplo
outros tipos de patrimônio que não são pode ser a forma de se fazer um instru-
casas ou igrejas? Como protegê-los? mento musical, de se organizar uma festa,
Depois de muita discussão e estudos, o de se preparar uma comida, enfim as vá-
patrimônio passou a ser pensado em duas rias formas que temos para expressar nos-
categorias: bem material e bem imaterial, sa cultura e identidade. Imagine um bolo
cada um com sua forma de preservação. de que você gosta muito e que seja muito
Entender o que é um patrimônio ma- tradicional em sua comunidade. Como
terial parece simples, e de fato é. Entra fazer para que ele não deixe de existir?
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